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A música e ASC na 1ª metade do século XX: um estudo efetuado a partir de Elisa Baptista de Sousa Pedroso

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

A Música e ASC na 1ª Metade do Século XX:

Um estudo efetuado a partir de Elisa Baptista de

Sousa Pedroso

Dissertação de Mestrado 2.º Ciclo em Ciências da Educação e Especialização em Animação Sociocultural

Maria da Conceição Barros Capela

ORIENTADOR: Prof. Doutor Agostinho da Costa Diniz Gomes

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2 Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Ciências da Educação - Especialização em Animação Sociocultural, sendo apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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3 “ Gasto, efectivamente em música, todo o meu tempo, mas sinto que devemos fazer a nossa vida como se faz uma obra de arte. … Viver à toa sem um fim, sem um interesse elevado, - direi até sem preocupações e sem obstáculos, é vida perdida, - não é viver é vegetar. Com os meus fracos recursos criei uma vida dentro da vida, e essa vida tem na música a sua mais alta existência. É certo que nem tudo são rosas; no entanto, lá diz Tomaz d’ Aquino: o acto principal da força é saber suportar. Sim, se esses fossem os meus préstimos ou méritos, essa vida seria mais útil de maior acção, - serviria melhor o meu país, musicalmente falando. … Vivo para a musica, para a arte, para os artistas, e sinto-me, assim, mais perto de Deus! Porque a musica não acaricia somente os nossos sentidos: o seu destino é mais profundo, mais amplo, mais infinito: purifica os corações, avivando os sentidos nobres e puros, erguendo a alma acima da sua mísera condição. A música – filha do céu, como disse Schubert, é toda essência divina.”

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente os agradecimentos à Instituição UTAD, na individualidade do Reitor, pela possibilidade de apresentação desta investigação. Também à direção do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, Área de Especialização em Animação Sociocultural, pela cordialidade e acolhimento evidenciados durante estes dois anos de trabalho.

O meu agradecimento especial ao meu Orientador, Agostinho da Costa Diniz Gomes, que desde o primeiro momento apostou neste projeto e inteiramente partilhou e apoiou as ideias deste tema. Grata pela disponibilidade e atenção no desenrolar de todo o trabalho escrito.

Os meus agradecimentos são também para os amigos mais próximos, a destacar o professor José António Neves, que de um modo especial me apoiaram incondicionalmente durante este percurso, partilhando comigo ideias, saberes e conselhos.

Também um agradecimento para os colegas/professores e personalidades que tive o privilégio de partilhar experiências musicológicas e atenções no âmbito desta investigação. Incluem-se aqui os entrevistados que deram um grande contributo de forma entusiástica, simpática e amável. Agradecimentos também ao Dr. João Borges de Azevedo e Engenheiro Luís Santos Ferro que preliminarmente proporcionaram informações e foram grandes colaborador nos contatos com figuras que privaram com D. Elisa Pedroso.

Grata pela afetuosidade, simpatia e colaboração de Maria Ofélia Rosa Silva, atual Presidente do Círculo de Cultura Musical do Porto.

Ao meu filho um obrigado em jeito de desculpa pelo tempo que não partilhei com ele a fim de me dedicar a esta investigação.

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RESUMO

Este projeto de investigação tem como temática a Música no âmbito da Animação Sociocultural na 1ª metade do século XX: Um estudo efetuado a partir de Elisa Baptista de Sousa Pedroso. Visa desenvolver um estudo de caso em torno de Elisa de Sousa Pedroso e da sua envolvência na promoção e divulgação da música, através da dinamização de associações e eventos musicais/culturais. Pretende, ainda, perscrutar e compreender a função da música no âmbito da Animação Sociocultural, relacionando a música e a ASC, a partir, da animadora/protagonista, cujo papel é preponderante como pianista e mecenas da Música, durante a primeira metade do século XX em Portugal. A partir de Elisa Baptista de Sousa Pedroso encontrar pontes de ligação com a Animação Sociocultural e as inovações na divulgação e absorvência da música neste período histórico.

Foi traçado um modelo de investigação misto, no entanto, com predominância pelo método qualitativo em que os instrumentos de recolha de dados incidiram em entrevistas e análise de documentos variados (fotos, correspondência, monográficas musicais, registos vários) pertencentes ao espólio de Elisa de Sousa Pedroso e demais literatura publicada.

A dinâmica da cultura musical erudita em Portugal durante o período salazarista gira em torno da atividade de Elisa de Sousa Pedroso, como a bibliografia e as personalidades entrevistadas confirmam. Portugal e colónias viu e ouviu os grandes artistas da época no auge das suas carreiras e os repertórios eruditos de vanguarda através da mão de Elisa de Sousa Pedroso. D. Elisa dinamizou associações e saraus que permitiu intercâmbios culturais/ musicais entre Portugal e a Europa.

A história profere que a animação sociocultural iniciou o seu percurso em Portugal na década de 60, será atrevimento pensarmos contudo que os ambientes culturais impulsionados por Elisa de Sousa Pedroso foram focos de animação cultural?

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ABSTRACT

The theme of this this research project is The Music in the Twentieth Century in Socio cultural Animation: The Associations in Elisa Baptista de Sousa Pedroso. With this project we intend to develop a case study about Elisa de Sousa

Pedroso and its surroundings in the promotion and dissemination of music, through the promotion of associations and musical/cultural events. With this case study we also intends to examine and understand the function of music within the Socio-cultural Animation, linking music and ASC, through this animator/actress whose role is prominent as a pianist and patron of music, during the twentieth century in Portugal. After Elisa Baptista de Sousa Pedroso have found the points of connection with the Socio-cultural Animation, emerged many innovations in the distribution and comprehension of the music in this historical period.

It was planned a mixed model to this research, however, predominantly by the qualitative method in which the instruments of data collection focused on interviews and several documents (photos, letters, monographs of music, several records) belonging to the estate of Eliza de Sousa Pedroso and other published literature.

The dynamics of classical music culture in Portugal, in the period of Salazar, revolves around the activities of Elisa Sousa Pedroso, as the bibliography and the personalities interviewed confirm. Portugal and their colonies saw and heard the best artists of that time, at the peak of their careers, and the repertoires of leading through the hand of Elisa de Sousa Pedroso. Mrs. Elisa stimulated associations and soirees that allowed cultural/musical exchanges between Portugal and the rest of Europe.

The history says that the Sociocultural Animation has started his journey in Portugal in the 60's. However, is daring to think that cultural environments stimulated by Elisa de Sousa Pedroso were centers of cultural activities?

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ÌNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ... i RESUMO ... ii ABSTRACT ...iii ÍNDICE GERAL ... iv ÍNDICE DE FIGURAS ... ix ÍNDICE DE TABELAS ... ix SIGLAS ... x INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO I – PARÂMETROS E METODOLOGIAS DA INVESTIGAÇÃO ... 4

1.1. O Tema, objectivos e sub-questões da Investigação ... 4

1.1.1. Tema ... 4 1.1.2. Objectivos ... 5 1.1.3. Sub-Questões ... 6 1. 2. Metodologia ... 6 1.2.1. Metodologia quantitativa ... 7 1.2.2. Metodologia qualitativa ... 7 1.2.3. Tipo de Estudo ... 9

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1.2.4. Unidades de Análise ... 10

1.3. Técnicas de Recolha de Dados ... 12

1.3.1. Observação ... 13

1.3.2. Entrevistas ... 13

1.3.3. Análise de documentos ... 15

1.4. Pesquisa e Análise dos Resultados ... 15

CAPÍTULO II – A MÚSICA E A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL ... 17

2.1. A Animação Sociocultural ... 17

2.1.1. Campos de ação da Animação Sociocultural ... 17

2.1.2. O Animador ... 22

2.2. A Animação Musical ... 22

2.2.1. A importância da Música ... 22

2.2.2. A Música como âmbito metodológico ... 24

2.2.3.O Animador Musical ... 26

CAPÍTULO III – A MÚSICA NO SÉCULO XX ... 28

3.1. Panorâmica da Música em Portugal no século XX... 29

3.1.1. Antecedentes: Final do século XIX ... 29

3.1.2. Primeira metade século XX ... 30

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3.1.2.2. Os Intérpretes ... 33

3.1.3. Segunda metade do século XX ... 33

3.2. A Música na política Cultural durante a primeira metade do século XX ... 35

3.2.1. A Cultura durante o Estado Novo ... 40

3.3. As Associações de Concertos ... 42

3.3.1. O Associativismo ... 42

3.3.2. Contextualização do Associativismo ... 43

3.3.3. Principais associações na 1ª metade do séc. XX ... 44

3.3.3.1. O Círculo de Cultura Musical ... 45

3.3.3.2. A Juventude Musical Portuguesa ... 53

3.3.3.3. A Sociedade de Concertos de Lisboa ... 56

3.3.3.4. O Orpheon Portuense ... 57

3.3.3.5. A Sonata ... 57

CAPÍTULO IV – ELISA BAPTISTA DE SOUSA PEDROSO ... 59

4.1. Elisa Baptista de Sousa Pedroso (1876-1958) ... 59

4.1.1. Ambiente Familiar ... 61

4.1.2. Personalidade ... 62

4.1.3. Atividade como Pianista ... 64

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4.1.5. Curiosidades ... 74

4.1.5.1. Data de Nascimento ... 744

4.1.5.2. Quinta dos Grilos E.N. N.º 7, em Carnaxide ... 744

4.1.5.3. Terra Natal ... 755

4.1.5.4. Concurso ... 755

4.1.5.5. Jardim Maria Elisa Baptista de Sousa Pedroso (Lisboa) ... 77

4.1.6. O Diário de Elisa Pedroso, “Os Papagaios” e a sua Sala de Música ... 77

4.2. Âmbito da obra de Elisa de Sousa Pedroso ... 81

4.2.1. Elisa de Sousa Pedroso e a politica ... 83

4.2.2. Mecenato/Associativismos ... 84

4.2.3. Condecorações/ Distinções: ... 85

4.2.4. Livros publicados ... 86

4.2.5. Obras dedicadas ... 88

4.2.6. Homenagens ... 89

CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ... 91

5.1. Reflexões no âmbito da ASC ... 91

5.2. Notas sobre as Entrevistas ... 96

5.2.1. Nella Maissa ... 97

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viii 5.2.3. Vasco Barbosa ... 98 5.2.4. Fernanda Mella ... 99 5.2.5. Henrique Fernandes ... 100 CONCLUSÃO ... 102 Linhas de procedimento ... 102

Novos contributos para o conhecimento ... 103

Considerações de ordem prática ... Erro! Marcador não definido.

BIBLIOGRAFIA ... Erro! Marcador não definido.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura nº 1 e 2 - Fotografias de Elisa Baptista de Sousa Pedroso ... 61

Figura n.º 3 - Portas autografadas da coleção particular do CCM do Porto (EEP) ... 68

Figura n.º 4 - Autografo de Carlo Bonssotti 1947 ... 70

Figura n.º 5 - Autografo de Maurice Sandoz 24 de XI de 19 ... 70

Figura n.º6 - Autografo da violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia, 14 VI 1949 .. 70

Figura n.º 7 - Autografo do Compositor e maestro Paul Hindemith, 4 Dez. 1954 ... 70

Figura n.º 8 - Busto de Elisa de Sousa Pedroso - 1936 (EEP) ... 71

Figura n.º 9 - Duas das portas autografadas do CCM do Porto (EEP) ... 71

Figura n.º 10 - Fotografia e autografo de Hans da Benda ... 72

Figura n.º 11 - Fotografia e autografo de François Joseph Broos ... 72

Figura n.º 12 - Carta de Maria de Freitas Branco (pianista), (EEP) ... 73

Figura n.º 13 - Carta de Gininha, aluna Regina de Vasconcelos (EEP) ... 73

Figura n.º 14 e 15 - Condecorações de Elisa de Sousa Pedroso (EEP) ... 86

Figura n.º 16 - Dedicatória de Vasco Barbosa (EEP) ... 99

Figura nº 17 – Fotografia autografada de M. Fernanda Mella pertencente ao EEP ... 100

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela n.º 1- Orientações para as entrevistas ... 14

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SIGLAS

ASC – Animação Sociocultural CCM – Círculo de Cultura Musical ESP – Elisa de Sousa Pedroso

EBSP – Elisa Baptista de Sousa Pedroso JMP – Juventude Musical Portuguesa

BCCM – Boletim do Círculo de Cultura Musical AM – Arte Musical

EEP – Espólio Elisa Pedroso GM – Gazeta Musical

FCMCB/CRMVR – Fundação Comendador Manuel Correia Botelho/ Conservatório

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INTRODUÇÃO

Todo o trabalho de investigação tem correntes de pensamento que o precedem e influenciam. A importância da música e animação sociocultural é hoje fundamentada e preconizada social e politicamente. A fundamentação do estudo apesar de abordagens diversificadas seguiu neste caso delimitações pela vertente em que o direcionamos e tendo em conta a sua especificidade.

Os diferentes processos que caraterizam os universos musicais e culturais foram ao longo dos tempos alargando-se bem como a categorização de conceitos subjacentes. As políticas e dinâmicas culturais foram criando diferentes universos sociais e produtos musicais, mas também o uso da música no exercício do poder foi sendo diversificada e globalizante.

Para muitos autores a música não é só uma forma de arte mas também ciência. Como arte ela deve ser apreciada emocionalmente, como ciência compreendida inteletualmente. A criação do mundo teve de ser acompanhada de movimento e, deste modo, de som, daí que a música tenha tido uma grande importância mágica para os povos primitivos. Mas, apesar de todas as variantes e formas ocorridas ao longo da história, a música com o seu significado transcendente, teve um carácter evolutivo nos sistemas de ensino e uma importância decisiva no desenvolvimento do ser humano. Para Candé, “A

música é uma antiga sabedoria colectiva, cuja longa história se confunde com as das sociedades humanas” (2003, p.5).

A temática desta investigação aborda a Música e Animação Sociocultural na 1ª metade do Século XX: Um estudo efetuado a partir de Elisa Baptista de Sousa Pedroso. Pensamos que é de todo pertinente dado a importância da música na formação do ser humano e esta como metodologia e técnica no âmbito da animação sociocultural. Esta perspetiva do passado ajuda a compreender melhor o presente e a preparar o futuro.

Se é certo que a música é uma arte, uma forma de expressão que potencia o caráter social do ser humano, não é menos certo que em muitos casos é o perfil individual

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2 de certas pessoas que mais a enaltecem e enobrecem surgindo estas personagens como “pivots” de determinadas realizações socioculturais de relevante importância.

Assim, os propósitos desta investigação prendem-se com a pertinência da personalidade de Elisa de Sousa Pedroso, figura incontornável da primeira metade do século XX, de forma que seja condignamente referenciada no panorama da História da Música em Portugal, mas também no contexto do Associativismo, âmbito privilegiado da Animação Sociocultural.

Durante a primeira metade do século XX, a pianista e mecenas da música Elisa de Sousa Pedroso, proporcionou a uma elite lisboeta, e posteriormente alargou o âmbito a outras cidades portuguesas no continente e colónias portuguesas, a interação com a música dos grandes compositores europeus e a interpretação dos melhores artistas que vinham a Portugal. Foi, também, grande divulgadora da música portuguesa no estrangeiro e principalmente em Espanha.

Neste sentido, pode dizer-se que ela animou espaços e tempos dentro e fora de Portugal funcionando como interface das culturas estrangeiras

“Como animadora da vida musical portuguesa, a Senhora D. Elisa de Sousa Pedroso tem desenvolvido larga e fecunda actividade, quer promovendo concertos e outras manifestações de carácter musical, quer presidindo, na sua residência, a notáveis serões em que se reúnem os principais vultos da arte e da literatura nacional e as maiores celebridades estrangeiras que visitam Portugal” (Eduardo Libório, 1938: MS-EEP).

A realização deste projeto reflete o interesse por um período histórico que coincide com o período do Estado Novo em Portugal, em que com todos os seus condicionalismos políticos, nele se vislumbram os antecedentes da Animação Sociocultural em Portugal, a par do que vinha a ocorrer noutros países da Europa, tais como a França, Espanha ….

O interesse sobre o tema exposto neste trabalho de investigação, foi manifestado pelo conhecimento de um espólio desconhecido do público, que não se encontra estudado e catalogado, revelador de ações que antecederam a ASC e que só o não foram devido aos condicionalismos políticos deste período. O mesmo aviva no panorama da História da Música uma personagem de extrema importância que na literatura atual é abreviada.

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3 Muitas das citações, menções que incluem apenas o autor e, eventualmente, a data são informações escritas que se encontram em documentos não editados e pertencentes ao espólio de Elisa de Sousa Pedroso. Este é pertença do Círculo de Cultura Musical do Porto, Delegação que continua em atividade, fundada pela pianista e professora Maria Adelaide Diogo de Freitas Gonçalves e cuja actual presidente é Maria Ofélia Rosa Silva. Muitos destes documentos estão a ser digitalizados pelo Conservatório Regional de Música de Vila Real. Os mesmos encontram-se na sua mediateca para consulta do público em suporte de CD.

Deste espólio, constam as portadas do seu palacete, autografadas pelos principais músicos e intelectuais portugueses e estrangeiros; correspondência, monografias diversas e didáticas, partituras, fotos …. Nas fotografias do seu espólio a maioria têm dedicatórias dos grandes artistas que privaram com ela. A título de exemplo cita-se "À Exma. Senhora

Dona Elisa Pedroso, com muita amizade e a maior admiração pela sua extraordinária obra de cultura musical”. (Leonor Alves de Sousa Prado, Fotografia: EEP).

A preocupação desta investigação incidiu em termos de contextualização histórica na primeira metade do século XX, pelo que não se pretende justificar a dimensão histórica da animação sociocultural mas a possibilidade de focos de animação num contexto de elites sociais e culturais, enquanto ações que podemos caraterizar de antecedentes da ASC.

No primeiro capítulo apresenta-se o percurso metodológico, evidenciando as principais fontes de estudo e âmbito do mesmo. O segundo capítulo prende-se com a contextualização do estudo de caso no âmbito da animação sociocultural e abrangência na área da música. No terceiro capítulo o objectivo foi contextualizar em termos históricos o objecto de estudo. Segue-se a vida e obra de Elisa de Sousa Pedroso. Conclui-se este trabalho com algumas apreciações/conclusões sobre o estudo em causa.

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CAPÍTULO

I

PARÂMETROS

E

METODOLOGIAS

DA

INVESTIGAÇÃO

“Uma investigação é, por definição, algo que se procura. É um caminhar para um melhor conhecimento e deve ser aceite como tal, com todas as hesitações, os desvios e as incertezas que isto implica” (Quivy e Campenhoudt, 1992: 29).

Nota Introdutória

Neste capítulo apresentamos os procedimentos metodológicos desta investigação: referimos os objectivos, as sub-questões, os métodos de investigação, o tipo de estudo, a unidade de análise e técnicas de recolha de dados.

A fundamentação de uma investigação remete-nos para uma conceptualização da mesma. Investigar é procurar aquilo que não sabemos, trazer à luz da ribalta algo de novo ou com uma roupagem nova. Os métodos e técnicas de investigação tornam mais fácil ao investigador a produção do conhecimento científico, que nem sempre tem de ser verdadeiramente novo, mas que pode progredir nesse campo de acção, ou seja, que possa contribuir para novas visões das práticas e dos fenómenos em estudo, neste caso no âmbito das Ciências Sociais.

1.1. O Tema, objectivos e sub-questões da Investigação 1.1.1. Tema

Todo o trabalho de investigação, segundo Adebo, citado por Fortin, “é uma

situação que necessita de uma solução, de um melhoramento ou de uma modificação”

(2003, p.48). Nesta medida, o investigador “começa por encontrar ou delimitar um

campo de interesse preciso” (2003: 49).

Assim, pretende-se apresentar uma investigação no âmbito das Ciências da Educação cujo tema se relaciona com a dinamização de atividades musicais, em contexto

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5 associativo. Desta forma, é de relevância a apresentação de um estudo de caso obre Elisa Baptista de Sousa Pedroso, personagem que durante o período salazarista foi grande mecenas e “embaixadora” da música em Portugal. Impulsionou várias associações culturais/musicais durante este período e dinamizou saraus/tertúlias culturais no seu palacete.

Os nossos interesses musicais levam-nos a relacionar a Música e a Animação Sociocultural num período que se circunscreve à primeira metade do século XX, uma vez que nesta época histórica se situa a acção de Elisa Baptista de Sousa Pedroso e o seu envolvimento em diferentes associações musicais.

“ A casa da Srª Dona Elisa de Sousa Pedroso é o verdadeiro centro musical de Lisboa, onde acorrem os principais vultos da música certos de que encontram a animadora incansável e o coração de oiro, sempre ajudando, sempre procurando o Bem, desfazendo o Mal e, acima de tudo, facilitando o caminho dos que pretendem rasgar novos horizontes, cultivar, ensinar, difundir as novas formas e os aspectos novos da mais expansiva das Artes” (Luís de Freitas Branco, MS, EEP).

1.1.2. Objetivos

Tendo como pressupostos o que atrás referimos, pleiteamos como relevantes para o trabalho os seguintes objetivos:

- Identificar qual a importância de Elisa de Sousa Pedroso na animação musical durante a primeira metade do século XX em Portugal;

- Verificar qual o papel do Círculo de Cultura Musical na pessoa de Elisa de Sousa Pedroso, fundadora e presidente vitalícia, na dinamização da cultura musical durante o século XX;

- Perceber em que medida Elisa de Sousa Pedroso e a atividade do Círculo de Cultura Musical marcaram a animação musical no período em causa;

- Em que medida os saraus na casa de D. Elisa foram recontos de animação sociocultural e/ou animação cultural.

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6

1.1.3. Sub-Questões

Tendo como pano de fundo as questões, outras sub-questões se levantam tais como:

1 - Quais as motivações de Elisa de Sousa Pedroso na dinamização e divulgação da cultura musical durante o período salazarista?

2 - Qual a relação entre a atividade de Elisa de Sousa Pedroso e o poder político?

3 - Qual a importância dos saraus/ tertúlias musicais de realização frequente em casa de Elisa de Sousa Pedroso?

4 - Que tipo de dinâmica musical o Círculo de Cultura Musical proporcionava aos sócios e público em geral?

5 - De que forma as atividades artísticas/musicais do século XX contribuíram para a animação sociocultural?

6 – Poderemos interpretar os Saraus como antecedentes da ASC?

1. 2. Metodologia

Para estudar qualquer fenómeno é necessário definir o/ou os métodos, de modo a conseguir a veracidade ou não do problema formulado dando corpo às proposições apresentadas, ou seja, traçar um caminho. Nesse sentido Fortin reforça,

“A cada tipo de estudo corresponde um desenho que especifica as actividades que permitiram obter respostas fiáveis às questões de investigação (…) o desenho deverá mostrar como a situação será estruturada a fim de que os dados sejam colhidos com a menor contaminação possível por factores externos que possam fornecer outras explicações que não as previstas” (2003: 133). Na pluralidade de processos metodológicos, o enfoque desta investigação científica enquadra-se no paradigma interpretativo.

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7 Neste paradigma do conhecimento, a finalidade é compreender e interpretar a realidade, os significados das pessoas, perceções, intenções, ações. Deste modo, o diálogo com pessoas que privaram com D. Elisa e viveram parte de uma época em que o estudo se enquadra pareceu-nos ser o melhor caminho para fundamentar as nossas questões.

Em Ciências Sociais podemos usar uma variedade de métodos para que os objetivos de estudo sejam construídos e verificados. Nesta investigação foi utilizada uma multiplicidade de casos, combinando a metodologia quantitativa e qualitativa.

1.2.1. Metodologia quantitativa

A metodologia quantitativa caracteriza-se por uma orientação para a quantificação dos fenómenos, utilização de métodos controlados, objetividade dos dados, deste modo, realçando-se, a ausência da preocupação com a subjetividade, bem como, a possibilidade de se operacionalizar generalizações.

O enfoque quantitativo permite a aquisição de uma quantidade substancial de informação com deduções estatísticas e de forma a provar teorias e possibilitando a generalização dos resultados.

Uma crítica frequente às metodologias quantitativas, especialmente quando associadas a posições positivistas, diz respeito à ausência de problematização do papel social do investigador, e dos efeitos sociais ou políticos da investigação, mascarados pela objetividade das técnicas utilizadas e pelo raciocínio lógico e matemático utilizado; por outro lado, na medida em que frequentemente não atendem à perspetiva do sujeito, é criticada a sua falta de validade interna, ou seja, ambiguidade quanto àquilo que é medido (Serapioni, 2000).

1.2.2. Metodologia qualitativa

Na metodologia qualitativa, a procura do conhecimento centra-se na complexidade, descrição e compreensão do processo mais que nos resultados. A preocupação do investigador centra-se não só na obtenção dos resultados mas também no processo. O trabalho reflete instrumentos de registos sistemáticos do objeto de estudo e

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8 maior reflexão na interpretação dos significados. Esta metodologia recorre à observação participante, entrevistas, ou seja, obtenção de dados de forma direta. Foi nesta vertente que encaminhamos o presente estudo.

No enfoque qualitativo o investigador valoriza a qualidade social da realidade, assentando na observação dos fenómenos no contexto natural e significados das descrições do mundo social dos indivíduos e/ou especificidades dos grupos sociais estudados. Neste âmbito, existe maior relação entre o investigador e o objeto de estudo. Exige portanto uma análise aprofundada da qualidade dos fenómenos estudados em detrimentos da medição dos resultados.

Contudo e apesar de uma melhor compreensão das realidades sociais complexas e subjetivas tem como limitações a impossibilidade de efetuar generalizações podendo apenas apontar analogias. Nesta perspetiva, a fiabilidade dos resultados é posta em causa devido à complexidade das realidades e à subjetividade. Salienta-se ainda a possibilidade de desvios da investigação quando o investigador conduz o trabalho no sentido dos seus interesses.

Vários autores são unânimes ao referirem que o modelo qualitativo descreve, compreende e explica, e no âmbito das ciências sociais o conhecimento deve atingir três dimensões: a simbólica, a histórica e a concreta.

O método de investigação qualitativa tem por objetivo, segundo Fortin, “uma

abordagem de investigação utilizada para o desenvolvimento do conhecimento a descrever ou interpretar, mais do que avaliar” (2003: 22).

Pensamos que a pluralidade de paradigmas de investigação é defensável face à multiplicidade de fenómenos nas ciências sociais, ao nível da sua descrição, compreensão e interpretação. Esta investigação enquadra-se mais no paradigma qualitativo, ou seja, âmbito interpretativo, pois incidiu sobre a descrição das relações históricas de Elisa de Sousa Pedroso como “animadora” cultural.

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1.2.3. Tipo de Estudo

O investigador escolhe um tipo de estudo, desenho que estrutura as atividades a realizar. Nesse sentido Fortin reforça,

“A cada tipo de estudo corresponde um desenho que especifica as actividades que permitiram obter respostas fiáveis às questões de investigação ou às hipóteses. (…) o desenho deverá mostrar como a situação será estruturada a fim de que os dados sejam colhidos com a menor contaminação possível por factores externos que possam fornecer outras explicações que não as previstas” (2003:133).

O investigador tem ao seu dispor um conjunto de tipos de estudo, sendo eles: descritivo, etnográfico, experimental, de caso, inquérito, entre outros. Ainda para Fortin (2003), o investigador não seleciona o tipo de estudo de forma aleatória, mas a partir de um nível de conhecimento existente num domínio particular.

O método de investigação escolhido foi o estudo de caso, é um processo específico para o desenvolvimento de uma investigação qualitativa que se concentra sobre o estudo de um determinado contexto, individuo ou de um acontecimento específico (o caso). Para Fortin “O estudo de caso consiste numa investigação

aprofundada de um indivíduo, de uma família, de um grupo ou de uma organização”

(2003:164).

O Estudo de caso remete-nos para uma abordagem metodológica de investigação especialmente adequada para procurar compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos específicos. Deste modo, Ponte considera que o estudo de caso

“É uma investigação que se assume como particularista, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir a que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de interesse” (2006:2).

Quando se opta pelo estudo de caso remetemo-nos para uma situação singular e/ou complexa, desenvolvemos uma compreensão profunda do caso.

Esta metodologia tem um forte cunho descritivo e baseia-se fortemente no trabalho de campo. Visa conhecer em profundidade os “como” e os “porquês”, que caraterizam o objeto de estudo. Nesta metodologia os resultados são bastante realistas, no

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10 entanto, os mesmos não são generalizáveis e a validade interna do estudo pode ser limitada devido à subjetividade do observador.

A vertente e aplicação da investigação deste projeto é histórica, pretende reconstruir a evolução de um dado fenómeno durante um certo período de tempo.

Quando nos debatemos no período histórico com questões políticas importantes não significa que essas sejam de importância na investigação mas que sejam um complemento para a reflexão do período em causa e de que forma influenciaram o desenrolar neste caso concreto. É de pensar que as vivências de Elisa Pedroso decorrem num período de práticas políticas demasiado “quentes” e com grande influência no empenhamento da prática social. Segundo Humberto Eco

“ Por um lado, pode dizer-se que todo o trabalho cientifico, na medida em que contribui para o desenvolvimento do conhecimento alheio, tem sempre um valor politico positivo…mas, por outro, deve dizer-se com toda a segurança que qualquer empreendimento politico com a possibilidade de sucesso deve ter uma base de seriedade cientifica” (1995:56).

Esta não pretende ser uma tese “política”.

Assim, investigar o percurso de vida de Elisa de Sousa Pedroso conduziu-nos a um caso de vida que permite justificar os objetivos pretendidos, contextualizando no período histórico, e antevê-lo como antecedentes da ASC.

1.2.4. Unidades de Análise

O investigador centra-se na seleção das unidades de análise, sendo estas: população e amostra; espaço e tempo da investigação.

No que diz respeito à população alvo e amostra é importante salientar que para Fortin, “as características da população definem o grupo de sujeitos que serão incluídos

no estudo e precisam os critérios de selecção” (2003: 133). Quanto à amostra o

investigador escolhe o tamanho e o método de amostragem adequado. Fortin reforça a ideia de que “este é um factor importante na determinação dos resultados significativos

do ponto de vista estatísticos” (2003: 133). Também Ghiglione e Matalon, citado por

(24)

11

constituem forem escolhidas por um processo tal que todos os membros da população tenham a mesma probabilidade de fazer parte da amostra.” (2006: 20). Pacheco elucida

que quanto à amostra esta é parte da população que se almeja estudar e que esta seja representativa.

O investigador toma em linha de conta o contexto de estudo e a sua acessibilidade, de acordo com Fortin “o investigador define o meio onde o estudo será conduzido e

justifica a sua escolha” (2003: 132). Não menos importante para o investigador é para

Fortin, “… obter a colaboração e as autorizações necessárias de investigação e de ética” (2003: 132).

A grande abordagem desta investigação integra-se na primeira metade do século XX. No entanto, a personalidade em investigação nasceu no final do século XIX. Por outro lado, a grande manifestação e/ou pólo de “animação” enquadra-se no período histórico da criação da Associação “Círculo de Cultura Musical” que nasce em 1934 e prolonga-se um pouco para alem da sua morte 1958, ou seja década de 70, data que se extingue esta associação em Lisboa e todo o espólio de Elisa de Sousa Pedroso vai para as instalações do Círculo de Cultura Musical do Porto, única delegação ainda em funcionamento à data atual.

Alguns dos recursos humanos recorrentes foram: Presidentes de associações (CCM, JMP…); Idosos conhecedores dos saraus de Elisa de Sousa Pedroso; Historiadores e Investigadores.

Quanto à acessibilidade das fontes, as fontes primárias que constituem o espólio não são de todo acessíveis, mas foram tomadas como primeira opção de trabalho. Foram adotadas como fontes secundárias outros suportes documentais da época, artigos de revistas e jornais, livros e outro tipo de documentos vários, bem como as entrevistas. Consideramos como fontes primárias nesta investigação as entrevistas com pessoas que privaram com Elisa Pedroso. Para Humberto Eco “o problema, quando se recorre a

fontes de segunda mão (declarando-o), é verificar mais de uma e ver se uma certa citação, ou referência a um facto ou a uma opinião, são confirmados por diferentes autores” (1995: 76).

(25)

12 As fontes documentais mais utilizadas nesta investigação prenderam-se com fontes escritas não oficiais, ou seja, a imprensa, as revistas e publicações periódicas, livros e documentos do espólio. Distinguiríamos (de entre) as revistas de ordem geral das revistas especializadas, a propensão para o uso das revistas técnicas e científicas, mais relacionadas com o campo de estudo, a registar a Arte Musical, Boletim do Círculo de Cultura Musical, Gazeta Musical, de entre as mais significativas que neste período floresceram com intensidade.

A recorrência a documentos intermediários foi menos frequente, no entanto, foi patrocinada a consulta de dicionários, enciclopédias, programas de concertos, bibliografias. Não foi descurado o uso das novas tecnologias e a consulta constante na internet.

1.3. Técnicas de Recolha de Dados

O investigador seleciona as técnicas de recolha de dados através dos quais pode obter dados objetivos/ concretos, cujo grau de fidelidade e validade são irrevogáveis, e/ ou dados subjetivos que serão obtidos pela observação, entrevista ou questionários, entre outros que são fornecidos pelo investigador ou pelos sujeitos. As técnicas de recolha de dados podem passar pela observação participante; observação direta; notas de campo, diário; entrevista semi-estruturadas; documentos (escritos, fotografia, música, objetos…); histórias de vida e questionários.

Fortin refere ainda que,

“Os dados podem ser colhidos de diversas formas junto dos sujeitos. Cabe ao investigador determinar o tipo de instrumentos de medida que melhor convém ao objectivo do estudo, às questões de investigação colocadas ou às hipóteses formuladas” (2003: 240).

Levando em linha de conta as unidades de análise estabelecidas consideramos que as técnicas de recolha e análise de dados mais adequadas são: Observação, Entrevistas, consulta de periódicos, análise de documentos, estudo do espólio de Elisa de Sousa Pedroso.

(26)

13

1.3.1. Observação

A observação capta “os comportamentos no momento em que eles se produzem e

em si mesmos” (Quivy e Campenhoudt, 1992: 197) se for direta. No entanto, esta

observação foi feita através de segundos intervenientes (pessoas que privaram com Elisa de Sousa Pedroso), o que lhe dá um caráter de indireta.

Segundo Quivy e Campenhoudt, “as observações sociológicas incidem sobre os

comportamentos dos actores, na medida em que manifestam sistemas de relações sociais, bem como os fundamentos culturais e ideológicos que lhes subjazem” (1992: 197).

Tentamos observar e analisar com acuidade as informações escritas sobre Elisa Pedroso, e ainda as pertinentes palavras dos entrevistados e/ou pessoas que conheciam a história de D. Elisa.

1.3.2. Entrevistas

A entrevista permite ao investigador recolher de forma direta informações e elementos ricos e matizados (Quivy e Campenhoudt, 1992). Para Ruquoy,

“Os investigadores foram-se interessando cada vez mais pelo indivíduo, pela sua forma de ver o mundo, pelas suas intenções, pelas suas crenças. Para esta abordagem em profundidade do ser humano, a entrevista tornou-se um instrumento primordial. (2005: 84) O mesmo autor também acrescenta que, o aparecimento e desenvolvimento de novos métodos de análise dos dados qualitativos atribuíram uma maior legitimidade a estes e, portanto, ao uso da entrevista” (2005: 84).

Foram realizadas entrevistas exploratórias para ajudar na problemática da investigação:

- A presidente do Círculo de Cultura Musical do Porto, D. Ofélia Diogo, que para além do seu contacto desde pequena com D. Elisa e a atividade do Círculo, teve um papel chave no acesso ao espólio de Elisa de Sousa Pedroso.

- O Dr. João de Azevedo ex- bibliotecário do Teatro de S. Carlos e conhecedor do referido espólio enquanto o mesmo esteve à guarda do último presidente do Círculo de Cultura Musical em Lisboa. Foi o organizador em dossier dos documentos do referido espólio antes de o mesmo ser enviado para a delegação do Círculo Cultural do Porto.

(27)

14 Estas entrevistas exploratórias foram um dos primeiros contactos com o terreno, permitiram conduzir e delinear o trabalho de investigação. As mesmas não surgem como anexo do trabalho, mas foram fundamentais na tomada de consciência da dimensão e dos aspetos do objeto de estudo, bem como nos horizontes das leituras a seguir.

Foram realizadas entrevistas estruturadas e semi-estruturada, tendo presente a confirmação dos objetivos da investigação. Deste modo, não foram pré-estabelecidas perguntas, mas abordados os tópicos relativos à história de vida em causa. Esses tópicos foram sendo abordados ao longo das entrevistas livremente e no desenrolar da conversa. Uma das vantagens encontradas nas entrevistas elaboradas confirmam o que Quivy e Campenhoudt referem: “…permite recolher os testemunhos e interpretações dos

interlocutores, respeitando os seus próprios quadros de referência – a sua linguagem e as suas categorias mentais” (2005: 88).

Questões abordadas nas entrevistas:

Tabela n.º 1- Orientações para as entrevistas

Participação e regularidade dos concertos do CCM Actividade do Círculo de Cultura Musical

Papel de Elisa Pedroso no CCM

Que actividades culturais ocorriam no CCM

Que outras actividades culturais/musicais decorriam em paralelo com as do CCM Em que consistiam os Saraus de ESP

Objectivos e interesses destes encontros em casa de ESP Que contornos políticos emergiam

Convites e selecção de frequentadores dos Saraus Âmbito Social, cultural e educativo dos Saraus

(28)

15

1.3.3. Análise de documentos

Foram consultados todos os documentos que evidenciavam informação relacionada com o objeto de estudo. De entre estes há a registar: documentos manuscritos, impressos, pessoais e outros existentes no espólio Elisa de Sousa Pedroso. Foram encontradas limitações no acesso a todos os documentos existentes no referido espólio e outro problema encontrado trata-se de documentação não organizada e catalogada e deste modo não publicada.

A recolha de documentação pré-existente incidiu em periódicos específicos e de natureza geral, bem como a análise e estudo de conteúdo de outros documentos. Procedeu-se ainda à análise das entrevistas e dos registos/ notas de campo do diálogo estabelecido com outros intervenientes.

1.4. Pesquisa e Análise dos Resultados

Uma vez a informação recolhida o investigador analisa os resultados e interpreta-os. Esses resultados segundo Fortin “devem demonstrar uma certa lógica em relação às

questões de investigação (…)” (2003: 331). A análise de conteúdo é a expressão usada

para designar o conjunto de técnicas usadas para tratamento da informação recolhida.

A análise de conteúdo possibilita tratar de forma metódica informações e testemunhos que apresentam um grau de profundidade e complexidade e apresenta um campo de aplicação bastante vasto (Quivy e Campenhoudt, 1992).

Foram realizadas: Análises dos registos de observação; Análises de entrevistas; Análises de documentos vários (artigos de revista, artigos de jornais, biografias, livros ou parte de livros, legislação, documentos de arquivo mais prioritariamente do espólio de ESP).

Segundo Afonso,

“O tratamento da informação qualitativa é um processo muito mais ambíguo, moroso, reflexivo, que se concretiza numa lógica de crescimento e aperfeiçoamento. A formação do dispositivo não é prévia ao tratamento dos dados. Pelo contrário, constrói-se e consolida-se à medida que os dados vão sendo organizados e trabalhados no processo analítico e interpretativo” (2005: 77).

(29)

16 Pretenderam-se destacar no campo da investigação os caminhos que melhor conduziram a resultados significativos neste âmbito de estudo. E, de que formas foram trilhados os caminhos, esses caminhos até chegar às conclusões da investigação.

(30)

17

CAPÍTULO II – A MÚSICA E A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL

“A D. Elisa Pedroso, grande animadora da vida musical portuguesa, oferece cordialmente.”

José Sequeira (26.2.1955, EEP)

Nota Introdutória

Neste capítulo pretendeu-se abordar a conceptualização da animação sociocultural e “animação musical”. Pareceu-nos importante refletir sobre a importância da música como estratégia da animação sociocultural e a pertinência de conceitos que sustentam esta perspetiva.

É de todo pertinente focar os aspetos que rodeiam o animador e este como agente importante quando tem formação na área musical bem como a delineação de planos de trabalho de animação globalizante quando usa processos musicais.

2.1. A Animação Sociocultural

2.1.1. Campos de ação da Animação Sociocultural

“A D. Elisa Pedroso, l’incomparable animatrice et protectrice dês arts, avec toute la respectuese gratitude de son grand admiration et ami” (Broos, 1953, Fotografia:

EEP).1

É pertinente expor a concepção de Animação Sociocultural numa perspetiva sincrónica fazendo a ponte com o trabalho específico a investigar. De notar que animação apreende múltiplas aceções e conceções. A estas diferenças assistem fatores geográficos, históricos ou práticas profissionais ou institucionais implementadas. A Animação Sociocultural assegura-se como um conjunto de práticas interventivas a nível educativo, cultural e social, correspondendo à triade enunciada por Lopes (2008).

1

A D. Elisa Pedroso, a incomparável animadora e protetora das artes, com todo o respeito e gratidão, do seu grande admirador e amigo.

(31)

18 Segundo o mesmo autor

“Animação Sociocultural coincide com uma concepção definida pela UNESCO (1977), que a toma por um conjunto de práticas sociais que visam estimular a iniciativa e a participação das populações no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sócio-política em que estão integrados” (2008: 95).

Estando presente a dimensão tridimensional, atrás referida, da Animação Sociocultural, ou seja, o social, o cultural e o educativo, que a carateriza naquilo que é a sua essência.

Na opinião de Lopes e Peres,

“A Animação Sociocultural é uma tecnologia educativa que, baseada num conjunto de práticas sociais e assente numa pedagogia participativa, tem por finalidade actuar em diferentes sectores com o fim de promover a participação das pessoas com vista ao seu desenvolvimento social e cultural, criando espaços para a comunicação interpessoal e a promoção comunitária” (2008: 299). Mais acrescentam que,

“A animação sociocultural, na sua intervenção, potencia e educação em diferentes contextos (educação formal, não-formal, informal), a cultura (difusão cultural, animação cultural, recreio, animação teatral, etc.) e a sociedade (integração, socialização, relação, comunicação, etc.)” (2008: 300).

Sousa e Fontes são da mesma opinião, “…a Animação é um conjunto de acções

que tendem a oferecer ao indivíduo a possibilidade de se converter no seu próprio desenvolvimento e da sua comunidade” (2011: 200). Os mesmos autores aditam “Animar é ajudar a crescer, uma vez que se assume como um estimulo para a vida física, mental e emocional das pessoas” (2011: 200).

A Animação Sociocultural apoia-se no conhecimento e teorias específicas das outras disciplinas e na premissa da edificação da pessoa através da interação de práticas coletivas sociais. Sousa e Fontes dizem-nos que,

“A Animação Sociocultural coloca em contacto as pessoas, favorece relações,

suscita e estimula trocas, promove contactos” (2011: 200). Os mesmos autores reforçam, “Participar implica desenvolver-se social e culturalmente, sendo também estes dois aspectos basilares na estrutura explicativa da Animação Sociocultural” (2011: 200).

(32)

19 Para Sousa e Fontes a “Animação Sociocultural é uma acção, uma intervenção,

uma actuação, mais do que isso, é uma actividade ou prática social desenvolvida conjuntamente pelo agente e pelos destinatários” (2011: 201) e cuja prática é um meio de

realizar intervenção.

Devido ao seu teor pragmático, a ASC é transversal a todas as atividades humanas, aos seus níveis etários e às comunidades. É difícil precisar os limites da animação sociocultural, bem como traçar os seus contornos. A abordagem do conceito assenta na comunicação interpessoal, utilização de pedagogias ativas e não diretivas, defesa da autonomia dos intervenientes enquanto agentes da sua própria história, filosofia do projeto na aproximação de públicos e obras (Santos, 1998) “A animação ganha

particular importância quando se enquadra em contextos organizativos estruturados, como as autarquias, as fundações, os organismos estatais e as associações” (idem: 250).

A Animação Sociocultural tem adquirido protagonismo ao longo dos últimos anos, surgindo organismos e associações que realizam actividades de animação. Para incremento deste campo de ação tem contribuído o surgimento de cursos ao nível do ensino secundário, profissional e mesmo universitário, com o consequente surgimento de técnicos especializados de grau superior ou não para desenvolverem este campo de ação. As ações de formação, seminários, congressos nesta área evidenciam o dinamismo dos animadores e a sua proliferação. Ander-Egg assegura, “os animadores socioculturais,

profissionais e voluntários, assumiram uma grande importância dentro de uma variadíssima gama de associações” (2008: 21). O mesmo autor vai mais longe quando

refere que “a animação sociocultural transformou-se, também, num sopro de ar fresco e

renovador que penetrou – e em alguns casos impregnou – a praxis social e a praxis educativa” (2008: 21). Corroboramos com o mesmo entusiasmo quando Ander-Egg

afirma “Animar é dar vida; o animador é incitador de vida. Não se pode utilizar para

animar, o que não leva vida” (2008: 24).

A Animação Sociocultural tem diversas dimensões, sendo que para M Pose “A

dimensão cultural da animação tem origem, possivelmente, num moldar do conceito amplo de cultura, imaginada e criada no quotidiano, não vinculada estritamente às artes, senão aos valores, aos hábitos e às atitudes sociais” (2008: 54). Para o mesmo autor é

(33)

20 necessário distinguir animação cultural de animação sociocultural. Esta última implica um compromisso social. M. Pose é peremptória quando afirma que “é redutor a

concepção de uma prática da animação sociocultural tradicionalmente decorre como oposição à cultura elitista como a maioria dos autores reverenciam” (2008: 55).

Segundo M. Pose, “ A defesa de uma cultura popular foi nota comum da primeira

política da animação sociocultural e hoje em dia não nos parece oportuno ligá-la estreita e unicamente a este conceito …” (2008: 56). Refletindo, quer nos parecer que

este posicionamento não deverá ser balizado pelo tempo, no tempo, pois surgem em tempos difíceis para a democracia. Toda a atividade cultural seria um sérmen de Animação Sociocultural que, quiça em latência, foi mantendo a chama viva da participação, da cultura democrática, restrita é certo, mas importante para novos rumos e novas interpretações da pedagogia social e da ação social.

Na opinião de Caride,

“Os direitos culturais dão à Animação Sociocultural a possibilidade de afirmar a sua identidade como uma prática social e cultural transformadora, pelo menos numa dupla direcção: de um lado, a que supõe ampliar o direito à cultura e aos benefícios morais e materiais que derivam do acesso às criações científicas, artísticas e intelectuais, próprias e exteriores; de outro, a que invoca uma participação plena e activa dos cidadãos na vida cultural das comunidades a que pertencem, cada vez mais realçada pela dificuldade que implica conciliar o poder dos mercados com o dos estados, a iniciativa privada com a pública, a cultura tradicional com as indústrias culturais de marcas novas, ou o local com o global” (2011: 26).

De salientar a perspetiva de Caride quanto ao papel das políticas culturais nos diferentes âmbitos e citando Bayardo, “não basta reconhecer os direitos dos indivíduos,

visto a diversidade cultural os tornar objecto de diferentes necessidades e aspirações colectivas conformadas com a vida social” (2011: 27). Este autor corrobora que a

importância da diversidade cultural nas suas diferentes necessidades e aspirações coletivas em que a animação sociocultural tem pleno direito de envolvimento no garante dos direitos culturais aos cidadãos e comunidades nas suas respetivas identidades e contemplando a sua diversidade. A animação Sociocultural tem como marca de identidade a participação no desenvolvimento social e cultural dos indivíduos e/ou das comunidades, permitindo a melhoria da vida das pessoas assente na democracia cultural, mas também na democracia da cultura que se constitui como um elemento de formação através da educação estética, tornando o ser humano mais sensível a tudo o que o rodeia e

(34)

21 logicamente às grandes questões sociais, partindo das culturais, promovendo performances educativas emergentes da educação não formal e informal muitas vezes em intereção com as referências que provem da educação formal.

Perante a realidade do estudo de caso desta investigação, parece-nos pertinente a distinção entre a animação sociocultural e animação cultural, a qual nos encaminha para uma compreensão das realidades vividas, no sentido de sua compreensão, no contexto do paradigma da ASC. Na opinião de Lopes (2011) a animação cultural é um processo difuso de uma ação cultural, apresentando uma metodologia onde se ambiciona dar vida aos produtos culturais e artísticos. Animação sociocultural tem como perspetiva uma intervenção assente nas dimensões social, cultural e educativa. Segundo o mesmo autor, na animação cultural o cidadão assiste passivamente ao desenrolar das atividades, ou seja, é apenas recetor dos produtos culturais. Esta perspetiva da animação cultural assenta na difusão das artes e da cultura, tendo o animador um papel importante de aproximar os públicos dos criadores. Na opinião de Lopes (2011) animação cultural e animação sociocultural remete-nos para formas de intervenção distintas. Estamos plenamente de acordo, só que entendemos que não são contrárias, antes convivem, confluem e em certos momentos, em tolerância são quase a mesma coisa.

Nesta medida, a ação desenvolvida em Animação Sociocultural no período salazarista, período de tempo sobre o qual é feito o nosso estudo, funcionará como um pseudo antecedente da ASC ou como um período de antecedência de ASC em latência. E entendemos assim, porque são os seres humanos que fazem e sustentam as ditaduras, os que fazem e sustentam as democracias, mas também os que resistem mais ou menos clandestinamente. Esta questão não pode pôr-se a preto e branco. Pelo meio há o cinza menos escuro, o mais escuro e todos os tons intermédios.

Os seres humanos carecem todos de liberdade e é nas artes que ela mais se evidencia de uma forma encapotada. O Círculo Cultural Musical, por exemplo, permite contatos, vivências, reflexões profundas e importantes para a melhoria, a autonomia, desenvolvimentos das sociedades.

(35)

22

2.1.2. O Animador

Parece de todo pertinente compreender a função do animador corroborando com as ideias de Maia,

“O animador deve ser capaz proporcionar às sociedades um envolvimento social e cultural que propicie a criação de ideia, princípios, normas que ajudem a descrever, explicar, antecipar, valorizar o seu complexo processo de integração na realidade. No domínio da imaginação humana deve estar sempre presente um pensamento crítico, reformador e consciente” (2008: 327).

Para outros autores, o Animador cultural surge como um agente que promove um bem cultural e artístico, e desta forma, encontra-se associado à difusão da arte e da cultura junto da população (Lopes, 2011). Para Lopes este papel de animador cultural tende a dar lugar no plano operativo ao Animador sociocultural, o qual confere à cultura uma dimensão social e educativa, possibilitando aos cidadãos serem protagonistas do seu próprio desenvolvimento. Usando a mesma fonte, é relevante expor as funções que distinguem estes dois animadores: Para Lopes, o animador cultural tem como função gerir o produto cultural e artístico, ou seja, “Difundir a cultura e a arte, promover o

debate em torno de correntes e opções estéticas”. O animador sociocultural é um

“potenciador de relações interpessoais”; tem ainda como função segundo o mesmo autor, “coordenar e planificar e acções e programas de intervenção, contribuir para o

desenvolvimento e autonomia do ser humano. Centra-se no processo” (2011: 193).

Podemos afirmar que Elisa Baptista de Sousa Pedroso foi uma animadora cultural de acordo com as definições e funções expostas? É certo que pesam a seu favor toda a dinâmica defendida na difusão e divulgação da cultural musical, quer no domínio dos seus saraus quer no campo da ação das associações que liderou.

2.2. Animação Musical

2.2.1. A importância da Música

“Não sei de onde vem a música, mas é uma parte muito importante da vida dos seres humanos. A música fará sempre parte das nossas vidas.”

(36)

23 Podemos admitir que a música é um privilégio do ser humano. Desde que o homem se conhece como tal que se descerrou em simultâneo com música. O canto e o grito dos pássaros, o barulho da nascente ou do vento,… o homem adaptou todos os fenómenos sonoros indistintamente. É difícil imaginar um mundo sem música. Para muitos músicos/compositores, a música é um requisito humano, tal como o ar que respiramos ou os alimentos que ingerimos. Música, é, um conceito difícil de descrever e ao longo dos séculos muitas definições foram criadas sobre ela. Começou por ser uma forma de comunicação, e durante longos anos permaneceu oração, passou a ser ciência, sempre foi arte, divertimento, … transformou-se numa linguagem universal.

A música tem um papel muito importante no processo de formação dos indivíduos.

Não existe nenhuma atividade expressiva que rodeia a vida humana tão completa como a música. Desde o aparecimento do homem que a música é de indissociável presença no universo humano. A música converteu-se sem sombra de dúvida na manifestação cultural mais omnipresente na vida do homem atual. (Ventosa, 2001).

Para o mesmo autor, não existe atividade humana que não seja acompanhada pela sua correspondente expressão musical. Ventosa afirma mesmo “ Si la luz es «la sombra

de Dios» en palabras de uno de los mayores físicos de nuestro tiempo, la música bien podríamos decir que es la sombra del hombre”2 (2001: 9).

Como a criação musical, a pedagogia sofre atualmente a influência de certas tendências gerais. Antes de mais nada, o ensino musical deve ser mais vivo que no passado a fim de interessar o aluno numa atividade construtiva que não empalideça demasiado em comparação com a vida trepidante tal como ela se apresenta agora, na rua e em cada casa onde a rádio e a televisão dão exemplos duma vida intensa. Novos métodos de ensino musical preconizam, com esse fim, estudos menos analíticos, mais globais que no passado. As aquisições da ciência psicológica que tomou uma importância

2

“Se a luz é a «sombra de Deus» nas palavras de um dos maiores físicos do nosso tempo, a música bem podemos dizer que é a sombra do homem”

(37)

24 incontestável na educação, permitem reagir contra os erros do último século. Por isso, a tendência de colocar a educação musical ao alcance de toda a gente. Por outro lado, começa-se cedo, frequentemente já nas escolas do pré-escolar. No nosso entender, esta formação deveria ser consistente nos currículos e abrangente em termos de alcance de idade.

Ao contrário do compositor, o pedagogo tem consciência das suas responsabilidades. Assim, procura estabelecer bases psicológicas para o seu ensino. Bases mais largas, mais vivas que antigamente. Encontra-la-á, em grande parte, na própria natureza do ser humano, porque a música e o homem estão indissoluvelmente unidos. … Por outro lado, os educadores sabem até que ponto a música pode ser um elemento de cultura humana. Para Grandes associações de professores de música acentuam atualmente o valor estrutural da música (Willems,1959).

Para Willems “o valor humano da cultura musical está na razão directa do valor

dos laços que unem a música à natureza humana” (1958: 19). Esta luta por uma cultura

musical e importância na natureza humana é uma constante ao longo da humanidade. Para o mesmo autor, a arte e a vida são consubstanciais, e mais especificamente “

Quando esta união da música e da vida, por um lado, e, por outro, da música e do ser humano, for melhor realizada, o valor cultural da música deixará de ser um logro”

(1958: 20).

Pensamos que urge a necessidade de contempla a filosofia da antiguidade grega, na qual a música fazia parte da formação do indivíduo ao longo de todo o seu percurso escolar.

2.2.2. A Música como âmbito metodológico

“A minha ideia é que há música à nossa volta, o mundo está cheio de música e cada um tira para si simplesmente aquela de que precisa”

(38)

25 A par de coletividades musicais, surgem ao longo dos tempos, sociedades Filarmónicas, tunas e bandas semelhantes, bem como outras associações populares confiadas a conjuntos instrumentais. Exerciam ação positiva na instrução musical do povo na segunda metade do século XIX, até que um decreto de 1937 reduziu o seu número a oito.

Na opinião de João Furtado Coelho “Estas Sociedades não eram apenas

«agências de magníficos concertos». Eram pólos de superior convívio artístico e intelectual dos seus Directores, uma parte dos seus sócios e os próprios artistas” (Paes:

122).

Importa salientar ainda neste espaço de ideias a importância da música que segundo Pinto,

“ … Não há nenhum país, não há nenhuma zona do globo onde não se tenha aproveitado o folclore como pretexto para as mais variadas combinações e arranjos musicais. (…) Em todos os tempos o povo se deixou influenciar pelas produções das diferentes escolas musicais cultas, alternando e deturpando, a seu modo, os respectivos temas. Um exemplo desse fenómeno temo-lo nós em Portugal, no Alentejo, onde imensas melodias populares derivam directamente das produções das escola religiosas musicais ali florescentes em determinado período histórico. … Raros são os compositores do passado e do presente que não se tenham deixado imbuir mais ou menos fortemente dos contornos da melodia popular anónima (. ..)” (1959: 101).

Nesta estratégia da animação sociocultural virada para o desenvolvimento pessoal e comunitário as colectividades musicais e associações de concerto tomam um papel de extrema importância.

Ao mesmo tempo que se realizam espectáculos com entradas pagas, destinados a uma população anónima, existiram agremiações cujos membros formam um público de indivíduos identificados, unidos por solicitações comuns.

O Círculo de Cultura Musical criado em 1934 por Elisa de Sousa Pedroso foi uma das Associações mais importante na promoção de concertos musicais durante o século XX. Foi responsável por diversas estreias em Portugal e pela vinda de grandes intérpretes, maestros e compositores de renome a nível internacional, bem como pela vinda de companhias de ópera e de dança.

(39)

26 Segundo João de Freitas Branco, no que concerne à iniciativa particular do gosto musical,

“ Elisa de Sousa Pedroso não se limitava ao papel de animadora e patrocinadora, por isso ela própria era pianista de mérito. Levou a públicos estrangeiros a mensagem de compositores portugueses. … O seu Círculo de Cultura Musical marcou uma data na história da música portuguesa quando, depois de exercer em Lisboa e no Porto funções análogas às que desempenhavam há mais tempo a Sociedade de Concertos e o Opheon, alargou o seu âmbito a outras cidades metropolitanas e, sobretudo, quando se tornou a primeira associação musical com delegações permanentes em territórios insular e ultramarino” (2005: 307).

2.2.3. O Animador Musical

Paulo Lameiro na abordagem sobre o compositor António Vitorino de Almeida conota-o como animador musical. Após a alusão ao seu campo de ação como compositor, pianista, comentador televisivo, escritor comunicador por excelência, acrescenta “Vitorino é um animador musical por Excelência” (1997: 387). O mesmo autor faz ainda referência à Criação do Departamento de Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa em que era estruturado em: Pedagogia, Musicologia e Animação Musical. Esta última deixou de existir após a reformulação do curso. Lameiro no mesmo artigo refere,

“A diversidade crescente de públicos e práticas culturais provoca igual número de novas e distintas gramáticas musicais. O animador é antes de mais um «interface» entre essas diferentes práticas e gramáticas musicais tornando visíveis algumas das suas relações mais significativas. Além disso é também um canal que não só estabelece comunicação com as diferentes práticas musicais entre si, mas também entre cada uma delas e outras áreas do saber. O animador não privilegia as arquitecturas musicais individualmente mas os cruzamentos de dados que potenciem nova informação” (1997: 388).

Para Lameiro, Vitorino de Almeida surpreende e fascina o público porque toca bem no mesmo palco uma sonata de Beethoven, improvisa sobre um tema de Chopin ou o hino do Benfica, sem preconceitos ou dissensão com a marcha do Benfica, “ilumina as

plateias mais diversas levando-as à descoberta das estruturas básicas da linguagem musical” (1997: 388). Vai mais longe na capacidade de Vitorino neste âmbito como

animador, “É a sua imaginação prodigiosamente fértil, aliada ao permanente humor que

o caracteriza, que lhe permite em poucos minutos abordar com todo o tipo de públicos os conceitos mais complexos da música académica” (1997: 388). Os elogios de Lameiro a

(40)

27 este personagem são muitos, no entanto salienta-se o seu entendimento sobre a capacidade de um animador como o considera.

“Mas a eficácia sua comunicação resulta também de um enorme gosto que tem por estar em companhia de pessoas. Trata a plateia como uma grande sala de amigos com quem gosta de conversa e para quem gosta de tocar. É essa confiança, transmitida pelo brilho dos olhos, a sinceridade das gargalhadas e o humor familiar dos comentários, que cativa os seus públicos” (1997: 388).

As suas afirmações vão mesmo no sentido da sua capacidade de cativar todo o tipo de públicos, “Nestes incluem-se todas as gerações” (idem: 389).

Podemos pegar nesta ideia de animador musical para entendermos a diferença entre compositor, instrumentista ou intérprete e animador musical.

Imagem

Tabela n.º 1- Orientações para as entrevistas
Figura nº 1 e 2 - Fotografias de Elisa Baptista de Sousa Pedroso
Figura n.º 3 - Portas autografadas da coleção particular do CCM do Porto (EEP)
Figura n.º 7 - Autografo do Compositor e maestro  Paul Hindemith, 4  Dez. 1954
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Referências

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