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XIII Reunião de Antropologia do Mercosul 22 a 25 de Julho de 2019, Porto Alegre (RS) Grupo de Trabalho: "Antropologías de la soberanía y la

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XIII Reunião de Antropologia do Mercosul 22 a 25 de Julho de 2019, Porto Alegre (RS)

Grupo de Trabalho: "Antropologías de la soberanía y la violencia: Estado, poder y agencia en el (des)orden contemporáneo” –

“A geopolítica da “gestão dos ilegalismos”: uma leitura do processo de construção do poder soberano em uma Unidade de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro” –

Eduardo de Oliveira Rodrigues – Universidade Federal Fluminense (UFF)

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Introdução

O presente artigo objetiva debater algumas questões teóricas voltadas para a articulação dos temas da “segurança” e “soberania”, tendo como referência principal o espaço urbano. Tal perspectiva, na sua relação com o empírico, aponta para um olhar atento sobre o Brasil a partir de uma possível leitura das grandes cidades brasileiras enquanto territórios crescentemente delimitados por territorialidades em disputa, onde o controle sobre a gestão da vida e da morte de populações – em especial dos moradores de favelas e periferias pobres – é enredada pelo que chamo de geopolítica dos ilegalismos. A hipótese inicial deste trabalho sugere que em torno das práticas de “gestão dos ilegalismos” (Foucault, 1994) surgem formas específicas de administração e controle diferenciados de territórios pela cidade, capazes de articular o agenciamento de relações a partir de dois movimentos simultaneamente distintos e complementares. O primeiro, de caráter horizontal, diz respeito ao mapeamento das territorialidades entre diferentes atores que configuram distintas assimetrias, descontinuidades e conflitos no espaço urbano através da contínua redefinição das “dobras” do legal-ilegal proposta por Telles (2010). Já o segundo, que parte de uma lógica vertical, procura compreender as escalas de ação inerentes a tais processos, dentro da dimensão supralocal que o local muitas vezes assume (Souza, 2000). Estes dois movimentos, grosso modo, parecem ganhar maior hipertrofia principalmente no tocante ao fenômeno do tráfico de drogas ilícitas na sua relação com os agentes que enredam o “sistema-Estado” (Abrams, 2006), dentro das múltiplas escalas onde tal relação é operada.

No recorte específico do Rio de Janeiro, defendo que a geopolítica dos ilegalismos marca uma linha importante de continuidade entre os diferentes regimes de regulação da vida da população favelada. O contexto de reatualização das práticas policiais frente ao esgotamento da chamada política de “pacificação” tem levado à retomada das chamadas “grandes operações” em favelas, com o agravamento significativo e simultâneo da letalidade e vitimização policial1. Tal quadro sugere, em certo sentido, que a leitura de categorias como “guerra” e “paz” enquanto horizontes contingentes de regimes normativos distintos perde crescentemente seu potencial heurístico. A perda se deve pelo

1 Dados recentes do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam que a nos últimos cinco anos houve uma tendência de aumento geral na letalidade e vitimização policial no estado fluminense. Entre 2014 e 2018, o número de mortes causadas por “intervenção de agentes do Estado” foi de 584 para 1.534, um aumento de 162,6%. Já o número de “policiais mortos em serviço”, para a mesma série histórica, variou de 18 para 32, ou seja, um aumento de 77,7%. Dentro de uma perspectiva comparada na escala nacional, a polícia do Rio de Janeiro matou quase seis vezes mais do que a média brasileira em 2017, enquanto foi vitimada, no mesmo ano, quase dez vezes mais do que o restante do país (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2018). A polícia fluminense, em especial a PMERJ, ocupa com folga o título de polícia que mais mata e mais morre no Brasil.

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entrelaçamento que tais categorias apresentam enquanto resultado de um mesmo processo comum, uma vez que diferentes práticas de controle de territórios na metrópole carioca são emolduradas pelo quadro da referida geopolítica dos ilegalismos em curso.

Neste sentido, o presente artigo propõe encaminhar tal debate através de um texto dividido basicamente em duas partes. Na primeira, proponho um breve resgate do campo de estudos da geopolítica no seu encontro com o urbano, visto enquanto discurso de poder que objetiva o controle de territórios e populações. Na segunda, tal resgate abre caminho para a análise do processo de “pacificação” de uma favela carioca em três momentos distintos: o primeiro, que abarca o período inicial de implemento da UPP, com o relativo enfraquecimento do controle territorial exercido pelos varejistas de drogas ilícitas; o segundo, marcado pela volta de um regime de varejo da droga em uma dinâmica de gestão territorial adaptada à presença permanente da polícia no morro; e o último, por fim, com a volta das grandes operações policiais e a retomada dos enfrentamentos armados. Os dados trabalhados no artigo são fruto de observação participante realizada durante meu mestrado em Geografia ao longo dos anos de 2010-2013 no Morro da Providência, favela localizada no setor geográfico “Centro” da cidade do Rio de Janeiro. Como participo da organização de um pré-vestibular comunitário na Providência desde 2009, tenho acesso permanente ao cotidiano local, o que me permitiu atualizar não só alguns dados pretéritos, como também levantar outros mais recentes sobre a UPP local.

A geopolítica no seu encontro com o urbano: a hipótese da gestão dos ilegalismos2

A geopolítica nunca foi considerada uma ciência. A formação deste campo do saber possui um caráter fundamentalmente instrumental, ou seja, ele reúne um conjunto de saberes e técnicas aplicados para além do mero estudo das relações entre poder e espaço. Na leitura de Costa (1992), a geopolítica se interessa primordialmente pela intervenção prática sobre o espaço em prol da garantia do exercício do poder sobre ele. Dentro de um ponto de vista “arqueológico” (Foucault, 2008a), ela é um campo de saber que compreende práticas, processos, instituições e também formações discursivas que dão aos estudos sobre geopolítica certa regularidade e, consequentemente, delimitam sua especificidade perante outros campos do conhecimento. O seu surgimento remonta à passagem do século XIX para o XX (1899), a partir dos estudos do jurista, geógrafo e 2 Uma versão preliminar deste debate, com maior enfoque sobre a trajetória da geopolítica clássica até os seus desdobramentos atuais na compreensão dos fenômenos urbanos pode ser encontrada em Rodrigues (2018).

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cientista político sueco Rudolf Kjellen. Inicialmente o termo, como aponta Defrages (1994), foi empregado para designar o “fenômeno do Estado” e sua espacialidade, ou seja, ele era utilizado principalmente no estudo das relações que um Estado-nação mantinha com os demais. Em um momento onde a Europa passava por um profundo processo de redefinição de suas fronteiras – com a unificação política de alguns países, fim de impérios, assim como o surgimento de novos Estados, o termo logo transformou-se num campo de estudo cujo principal interesse repousava sobre os conflitos territoriais entre países. Poder-se-ia dizer, em outras palavras, que a geopolítica surgiu originalmente à sombra das necessidades e interesses dos Estados na época. Tal fato deriva do espraiamento dos movimentos nacionais pela Europa no final do século XIX. Cada país foi obrigado a justificar sua política externa perante seus cidadãos, através da construção de um discurso particular que enredasse elementos em prol da defesa nacional contra “projetos ameaçadores de poderes adversos” – ou ainda, contra “projetos ameaçadores de inimigos externos da pátria” (Lacoste, 2008:18). Tais discursos, é importante perceber, tomavam o estrangeiro enquanto o Outro a ser vencido, ou seja, o “inimigo” entrincheirado do outro lado da fronteira.

De modo geral, o estudo da geopolítica pode nos ajudar a revelar uma série de práticas, processos, instituições, técnicas e discursos ligados à dinâmica política do espaço. Seu estudo, todavia, já há algum tempo se libertou das amarras que o prendiam à análise das relações de poder de um determinado Estado projetadas sobre o espaço – ou melhor, sobre o seu território nacional (Lacoste, 2008). Devido a emergência de uma série de novos atores e problemáticas que cada vez mais desafiam a soberania dos Estados-nação contemporâneos (como conflitos étnicos e/ou separatistas no interior dos países, a criminalidade ordinária urbana, conflitos por recursos naturais, conflitos agrários, o tráfico de drogas e de armas em suas múltiplas escalas, “terrorismo”, entre outros), hoje é possível falarmos também de outras dimensões da geopolítica, em especial no seu encontro com o urbano. Ressalto aqui a cidade, pois o processo de administração (violenta ou não) de conflitos toma o seu espaço enquanto lócus principal de reprodução. A maioria da população mundial hoje vive em cidades e a tendência é de aumento das áreas urbanas em todo o mundo. No caso específico do nosso país, a despeito da polêmica sobre o debate “cidade X campo” ou “rural X urbano” (Veiga, 2002; Carlos, 2003; entre outros), a maioria das pessoas hoje são citadinas ou possuem um modo de vida crescentemente ligado a elas. A emergência das chamadas “fobópoles” no Brasil (Souza, 2008) – principalmente através do aumento da sensação de insegurança e dos índices de criminalidade violenta nas últimas décadas – redimensionou o exercício de planejar e gerir cidades, sobretudo as metrópoles

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brasileiras. Em certo sentido, o planejamento e gestão urbano transitam cada vez mais da prancheta de urbanistas, arquitetos e prefeitos para os batalhões das polícias e das Forças Armadas (FFAA)3.

Quando esta problemática é trazida para o recorte das periferias urbanas e favelas, o papel dos ilegalismos surge como elemento importante na compreensão da gestão e controle de territórios. Já há algumas décadas, diferentes trabalhos como Zaluar (1985), Cano (2008), Machado da Silva (2010), Misse (2012), Feltrán (2015), entre tantos outros mostram como diferentes atores estabelecem distintas tipologias de relações com o próprio “sistema-Estado” (Abrams, 2006). Não só do ponto de vista da legitimidade quanto aos usos da violência em nossas cidades, como também pela própria maneira pela qual tais territórios são (re)definidos e gestionados. A noção de “margens do Estado” proposta por Das & Poole (2004) possibilita a construção de um outro olhar sobre o problema, uma vez que certos conjuntos de discursos e práticas estatais categorizados enquanto “ilegais” ou “ilegítimos” – e que, por isso mesmo, seriam sintomas da sua suposta crise ou mesmo enfraquecimento – revelam justamente outras formas possíveis de regulação que também conformam este mesmo Estado. A noção de “margem”, neste sentido, se afasta do problema diagnosticado por Misse (2012) no que diz respeito ao rótulo moralizante comumente empregado para práticas de “violência”, “crime” e “corrupção” – notadamente quando tais práticas são operadas por agentes estatais. Através deste outro olhar, a relação entre categorias como “legal-ilegal” ou “legitimidade-arbitrariedade” tornam-se absolutamente relativas. O problema dos “ilegalismos”, para Foucault (1994), representa assim não um parâmetro “anormal” ou mesmo um conjunto de práticas e discursos “desviantes” da lei, mas sim uma espécie de recurso, ou mesmo uma estratégia política prevista pela própria sociedade: “todo dispositivo legislativo tem poupado espaços protegidos e lucrativos onde a lei pode ser violada, ou ainda ela pode ser ignorada, ou ainda, enfim, onde as infrações são sancionadas” (op. cit. p. 718, tradução livre). Para o autor, grosso modo, o problema dos ilegalismos diz respeito fundamentalmente à gestão diferencial segundo a qual torna-se possível burlar a lei em si mesma.

Nesta mesma perspectiva, Telles & Hirata (2010) argumentam que tal diferenciação dos ilegalismos possui modalidades próprias de operação, que se distinguem pelo nível de incriminação de cada uma dessas atividades ligadas ao comércio do que Misse (2007) chamou de “mercadorias políticas”. Para os autores, tais ilegalismos são capazes de estruturar “campos de força e jogos de poder que se deslocam, fazem e refazem a 3 A militarização do urbano não é um fenômeno exclusivo do Brasil, sendo uma tendência global a emergência de um “urbanismo defensivo” voltado para as preocupações com o controle de territórios e populações. Para um debate sobre o problema nas cidades em ambiente anglo-saxão, ver a coletânea de artigos contida em Graham (2010). Para o caso brasileiro, ver principalmente Souza (2008) e Haesbaert (2014).

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demarcação entre a lei e o extralegal, entre justiça e força, entre acordos pactuados e a violência, entre a ordem e o seu avesso” (Telles & Hirata, 2010 p.41). Ao meu ver, tratar-se-ia, neste caso, não somente de uma dimensão “política dos ilegalismos” como afirmam os autores, mas sim de um fenômeno fundamentalmente geopolítico pelo papel central que o espaço – visto aqui enquanto território pela sua relação intrínseca com o poder (Sacks, 1986; Souza, 1995; Haesbaert, 2014; entre outros) – representa enquanto chave explicativa na compreensão de tais diferenças. Dito de maneira mais precisa, meu argumento é de que a circulação das “mercadorias políticas” imprescinde cada vez mais do domínio e da gestão de diferentes territórios – tanto do ponto de vista mais explícito pelo uso de armamento ostensivo por parte de varejistas de drogas ilícitas, milicianos ou de policiais – como também, como chama atenção Menezes (2018), através do “monitoramento” e “negociação” sobre os regimes de regulação da vida nas favelas cariocas em tempos de “pacificação”. A hipótese de uma geopolítica dos ilegalismos, neste sentido, diz respeito ao fato de formas específicas de gestão diferenciada de territórios urbanos surgirem através da operação destes mesmos agenciamentos, em especial quando pensamos na conjuntura contemporânea da segurança pública do Rio de Janeiro enquanto um cenário de “crise”. Como argumenta Telles (2010), empreender um debate sobre o caráter “legal-ilegal” destes agenciamentos é improfícuo, uma vez que o maior interesse sobre os ilegalismos recai sobre os efeitos que eles trazem na configuração destes territórios, bem como a maneira pela qual o Estado é experienciado materialmente e simbolicamente por estas mesmas populações.

Tentarei demonstrar, na próxima sessão, como a geopolítica dos ilegalismos aparece como uma espécie de “linha de continuidade” ao longo de três pequenas narrativas sobre diferentes momentos da “pacificação” do Morro da Providência. Como dito anteriormente, tal linha costura o tecido social favelado não somente através de movimentos horizontais enredados por algumas territorialidades envolvidas no processo de construção da “paz”. De maneira complementar, ele é operado também através de evoluções verticais que buscam apreender as diferentes escalas de análise do fenômeno4. Os nomes usados na construção da narrativa foram ocultados, dada as diferentes implicações éticas imbricadas no “fazer 4 A leitura dos fenômenos sociais a partir de diferentes escalas de análise é uma questão inerente ao próprio processo de construção do objeto de estudo. Sua escolha implica, necessariamente, em uma forma particular de elaboração do mundo, que é parte integrante do olhar que se lança sobre um dado objeto (Castro, 2014). Como aponta Revel (1998), existe todo um conjunto de tensionamentos entre abordagens que privilegiam escalas “macro” e “micro” na leitura dos fenômenos sociais. Pelos limites deste artigo, não é possível debater tal questão com a atenção devida. Vale dizer que parto da perspectiva inscrita em Ravel (1998) sobre a necessidade de articulação de escalas enquanto prática metodológica e, principalmente, da defesa de Souza (2013) e Grandi (2014) sobre a adoção de uma interpretação construtivista da própria escala a partir do fenômeno estudado, ou seja, de uma “construção social da escala”. Sobre isto, ver, principalmente, a apresentação da coletânea de artigos organizada por Revel (1998), o capítulo 8 de Souza (2013) e a tese de Grandhi (2014).

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etnográfico” aqui proposto. O artigo termina com algumas considerações que sugerem uma pequena relativização do discurso sobre o suposto cenário de “crise” das UPPs na cidade do Rio de Janeiro.

O primeiro ato da paz: silenciar o morro, incendiar a planície

Existe uma espécie de dito popular muito comum nas favelas cariocas que, com algumas variações na forma, traz consigo mais ou menos o seguinte sentido: “quando a favela tá calma, é sinal de perigo”. Naquela manhã do dia 22 de março de 2010, um silêncio profundo desabou sobre a Providência. Era uma segunda-feira, dia de trabalho para boa parte dos seus moradores que, logo cedo, desceram o morro em busca de ganhos nos seus empregos. Na medida em que, naquela segunda-feira, as pessoas deixavam o morro para ganhar a planície, grupamentos do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e da Tropa de Choque (BCHq) da polícia adentraram a Providência dando início à fase de “intervenção tática” do projeto5. Diferentemente de outras ocasiões, naquela manhã nenhum tiro fora disparado. A tomada do morro foi flanqueada pelo silêncio das suas ruas, becos e vielas, bem como pelo desaparecimento da presença ostensiva dos varejistas de drogas armados da sua paisagem. Até mesmo do maior ponto de consumo de drogas local – conhecido como a “cracolândia” da Central – não se teve mais notícia desde então. O primeiro ato da paz pareceu exigir dos seus atores performances muito específicas e relativamente diferentes até então, que foram regidas pelos “rumores”, no sentido empregado por Menezes (2014), sobre a entrada da polícia na antevéspera daquele dia. Aos varejistas, a possibilidade de fuga ou mesmo de recolhimento em esconderijos – conjuntamente com todo o seu estoque de drogas e o seu arsenal de armas. Aos usuários de “crack”, o exílio para outra área que não fosse dentro ou nas imediações da Providência. Aos moradores, por fim, se reservou o direito a um silêncio prolongado, que se encarnou na figura agora permanente de policiais fortemente armados circulando pelo morro ostensivamente:

5 O Decreto-lei estadual 42.787/2011 prevê que a instalação de cada UPP siga basicamente quatro fases distintas. A “Fase 1” compreende a fase de “intervenção tática”, onde são realizadas ações táticas preferencialmente pelo BOPE, BCHq ou pelos Comandos de Policiamento de Área (CPA) com o objetivo de “recuperar o controle sobre áreas ilegalmente subjulgadas por grupos criminosos ostensivamente armados”. Já a “Fase 2”, nomeada “estabilização”, aponta para o período cujo objetivo maior é a efetivação de mandatos de prisão anteriormente expedidos contra varejistas de drogas, além da realização de buscas e apreensões por drogas, armas, carros roubados, etc. A “Fase 3” é quando ocorre a “implementação” da UPP de fato, com a substituição da polícia “regular” pelo policiamento feito pelos policiais “pacificadores”. Por fim, na “Fase 4”, após certo tempo de implantação da UPP, passa-se ao momento de avaliação e monitoramento do projeto, a partir de dados levantados em cada favela sobre os resultados da “pacificação” local.

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“Naquela semana teve menino [do varejo] indo pra outro morro, teve gente ficando, teve de tudo. Mas eles tiveram que “entocar” muita coisa. Teve muita fofoca de que a polícia ia entrar pra ficar, que ia ter UPP aqui. A gente já sabia que ia ter polícia também porque a Providência fica perto do Maracanã, tem a Copa aí chegando, né? Mas não sabia quando ia ser. Quando subiu o BOPE naquele dia, veio imprensa e tudo, daí a gente teve certeza. Mas é aquilo. A polícia tá no morro, mas os meninos [do varejo] tão por aí também. Tem que ficar esperta. J., moradora da Providência

Em conjunto com policiais do 5º Batalhão de Polícia Militar (BPM), foi desenvolvida, ao longo de todo o mês de abril de 2010, a fase de “estabilização” do projeto, com a realização de ações de busca e apreensão de drogas e armas, cumprimento de alguns mandatos de prisão expedidos anteriormente pela justiça, além de obras para a instalação da sede da UPP no prédio onde funciona conjuntamente o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da prefeitura. Durante esse período, ocorreram uma série de denúncias sobre abusos cometidos por parte da polícia quanto à revistas vexatórias, invasão de casas, agressões e até mesmo roubos por parte dos policiais do 5º BPM e do BOPE:

“Eu trabalho de 18h até as 4h da manhã. Aí, pra você ter ideia, eles [policiais do BOPE] chegaram à minha casa 10h da manhã, quase derrubando a porta da minha casa. Eu acordei assustado e fui abrir a porta, já escutando gritos: ‘abre, abre, a polícia está vindo’. Quando abri a porta eram os próprios policiais que estavam gritando. Já me puxaram para fora me acusando de acobertar o tráfico, dizendo que se eles fossem traficantes, eu teria aberto a porta. Porque eles não sabem o que os traficantes fazem, se baterem na sua porta e você não atender. Eu sou trabalhador, não tenho nada a ver com o tráfico. Sempre trabalhei. Já fui operário, gari, vendedor, hoje sou garçom. M., Morador da Providência

Após os 40 dias que compreenderam as fases “1 e 2” do programa, o BOPE se retirou e, finalmente, no dia 26 de abril de 2010, a UPP Providência era inaugurada. O fato marcou não só o início da fase de “implantação” do projeto, como também a principal estratégia do Poder Público para estabelecer um novo regime de gerenciamento sobre um importante enclave territorial do Centro do Rio de Janeiro. A posição geográfica da Providência era muito importante, pois além da proximidade com uma das áreas de maior circulação de pessoas da região metropolitana, o entorno da “Central do Brasil”, ela está contida na área de atuação do projeto “Porto Maravilha” – projeto este que tentou “revitalizar” parte significativa da região portuária da cidade (Sánchez & Broudehoux, 2013). De modo geral, o caso da Providência foi uma das condições necessárias para que a “revitalização” pudesse ser iniciada e desenvolvida, uma vez que, não por acaso, quase seis meses depois do implemento da UPP, as obras do “Porto Maravilha” começaram com a derrubada do viaduto da Perimetral (Rodrigues, 2013).

As diferentes escalas envolvidas na trama da “paz” nos indicam como, desde o início do programa, a dinâmica da geopolítica dos ilegalismos sempre esteve presente no âmbito da “pacificação”. Um ponto que chama atenção é o episódio do incêndio, até hoje não

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totalmente esclarecido, que destruiu um dos maiores centros de comércio popular da cidade, localizado entre o Morro da Providência e a Central do Brasil. O incêndio do “camelódromo da Central” ocorreu, curiosamente, no mesmo dia da inauguração da UPP, na tarde de 26 de abril de 2010, supostamente como consequência de uma explosão ocorrida em uma padaria local. O silêncio do morro, neste sentido, se justapôs ao tumulto de uma planície que se acobertou em chamas. Camelôs em pranto, grito, correria. Muitas pessoas em comunhão para, apesar do mundo, tentar salvar seus últimos víveres em meio a um cenário desorientador de calor e fumaça. Desde qualquer lugar da região se via a coluna negra de fuligem que flutuava sobre a Central do Brasil. A brisa que, volta e meia, durante a tarde, corria desde o porto para o morro, fazia a fumaça ganhar certo movimento no céu, enquanto na terra ela abria caminho para o fogo se alastrar pelos corredores do camelódromo.

Duas horas interruptas de incêndio se passaram até que os bombeiros pudessem chegar à Central. Mesmo assim, os trabalhos de contenção demoraram a ser iniciados. Disseram que o abastecimento de água estava prejudicado naquela tarde, o que impediu o alívio imediato das chamas após a chegada dos primeiros caminhões ao local:

“Olha, esse incêndio eu não sei até hoje o que aconteceu. Disseram que foi um botijão na padaria que explodiu, e que aí foi explodindo os outros lá no 'camelódromo'. O fogo foi muito rápido, pegou em tudo. Eu vi depois os bombeiros, eles demoraram muito a chegar. E, quando eles chegaram, ficaram ali, vendo a coisa toda. E, pra completar, estavam sem água!”

R. Moradora da Providência, que tinha amigos que trabalhavam no “camelódromo” No dia seguinte ao incêndio, o então governador Sérgio Cabral Filho anunciou a demolição das barracas restantes e o desenvolvimento de um projeto para “revitalizar” a área, conforme nota oficial divulgada no sítio do governo do estado na época6. Como o tempo passa rápido, dois dias após o incêndio o ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e Terminais do Estado (CODERTE), Ronaldo Francisco, disse que no lugar do “camelódromo” seria erguido o novo Terminal Rodoviário Américo Fontenelle7, além da “remodelação” de todo o comércio existente no entorno da Central do Brasil8. Essas duas ações eram congruentes com as iniciativas de “revitalização” da Zona Portuária previstas pelo “Porto Maravilha”. A título de exemplo, parte da área onde estava o “camelódromo” passou a ser local de armazenamento de insumos e máquinas usadas na construção de uma das estações do teleférico da Morro da Providência – um dos equipamentos urbanos previstos pelo 6 http://www.rj.gov.br/web/seobras/exibeconteudo?article-id=270957

7 Ao lado do antigo “camelódromo” encontra-se o atual terminal, que é responsável por ligar a cidade do Rio de Janeiro à sua região metropolitana. A ideia era demolir o antigo e construir um terminal maior.

8 http://oglobo.globo.com/rio/paes-quer-revitalizar-area-do-camelodromo-incendiado-perto-da-central-do-brasil-3018330

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projeto. Os antigos camelôs, por outro lado, foram deslocados para um novo prédio em uma área de menor visibilidade nas imediações do acesso ao túnel que liga a região da “Central” aos bairros da Zona Portuária. O prédio, além de estar em uma posição menos privilegiada do ponto de vista do acesso e circulação de pessoas, não possui espaço para comportar todos os trabalhadores que atuavam no antigo “camelódromo”. Mas o problema maior é que muitas pessoas tiveram que deixar a área não por falta de vagas no novo prédio, mas, principalmente, por não terem condições de arcar com os custos de regularização do comércio que a prefeitura exige. A solução encontrada pelos camelôs foi então reterritorializar suas barracas no entorno do antigo camelódromo, onde, desde 2010, o comércio informal de mercadorias acontece (ou não) ao sabor das negociações, tensões e “arregos” (Pires, 2010) para com a Guarda Municipal local.

Não tenho, factualmente, uma confissão testemunhal de alguém que afirme a autoria e que comprove o caráter criminoso e proposital do incêndio da Central. O que existem são, novamente, “rumores” (Menezes, 2014) que atravessaram todo o processo de “pacificação” desde então. No entanto, se o incêndio pode ser lido como um evento capaz de mobilizar tantos agenciamentos distintos pelos seus enredamentos principalmente nas “dobras” dos ilegalismos e nas suas diferentes escalas de análise, é no mínimo curioso perceber como os desdobramentos relatados configuram as primeiras mudanças nas formas de gerir alguns dos territórios que conformam a região da Central do Brasil.

O segundo ato da paz: brincar de gato com o rato que “vende pó no talento”

Com a presença da UPP, um ponto consensual entre diferentes trabalhos que analisaram os impactos do projeto em curto prazo diz respeito tanto ao fim da presença armada dos varejistas de drogas, quanto ao fim ou ao menos redução drástica da letalidade policial (Machado da Silva, 2010; Burgos et alli., 2012; Cano, 2012; Rodrigues & Siqueira, 2013; Leite, 2012; Menezes, 2015; entre outros). A análise de Menezes (2018) vai um pouco além, ao afirmar que a presença permanente da polícia leva de início a um enfraquecimento temporário das redes varejistas. Esta percepção sobre certos ganhos ou perdas de “poder” é compartilhada também, em parte, por diferentes moradores da Providência, que tendem a atrelar o domínio territorial ao uso de armamento ostensivo no cotidiano favelado. A percepção da UPP enquanto “dona do morro” (Cano, 2012), passado algum tempo da presença policial junto aos moradores e varejistas, deve ser, entretanto, relativizada. Digo relativizada pois a construção da soberania sobre um território, ainda mais o território de uma favela “pacificada”, não deve ser pensada em termos de posse mas sim de circulação do poder:

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“Esse pessoal [o tráfico de varejo] era um poder mais monopolizado. Depois com o tempo, com a entrada da UPP, isso aí se modificou também. As armas, antigamente eles tinham esses armamentos pesados que mostravam e as pessoas ficavam com medo. Aí agora, com a entrada da UPP, isso se modificou um pouco porque limitou um pouco o poder dos 'caras'. (...) Mas o tráfico continua mandando, com certeza. Eles dominam ainda sim, apesar de ter um certo limite da parte deles. Não tem mais aquela coisa de fazer 'rebelião'. Mas mandar eles mandam. Se eles mandarem fechar comércio vai ter que fechar. No início ficou aquela coisa mais devagar mas agora voltou a mesma coisa, só que não tem mais armas.” F. - morador da Providência.

Na leitura de Albernaz (2018), policiar é, antes de tudo, uma forma possível de governar e gerir territórios. A polícia possui formas específicas de fazer política (Reiner, 2000), o que sugere ações que se adequam localmente ao problema de como os favelados governam a si e como eles são governados enquanto população pelo próprio Estado. Se, como defende Foucault (2008), as sociedades modernas são simultaneamente disciplinares e biopolíticas, ou seja, se o corpo e a população são tomados enquanto objeto de normatização, é justamente porque o poder não se identifica com uma instituição ou um aparelho em específico, mas sim porque ele é capaz de circular e atravessar todos eles9. O Estado de modo geral ou a UPP de maneira particular não são objetos dotados de racionalidade ou coerência universais. Não é possível delimitá-los claramente a partir de suas instituições e agentes públicos, pois eles não são a fonte, mas sim efeitos ligados a processos dinâmicos e inconclusos de formação sob uma perspectiva performativa, que se opera nas fricções geradas pela construção e desconstrução permanente de realidades da vida cotidiana (Souza Lima, 2015). A lógica de circulação do poder em uma favela “pacificada” cria, neste sentido, formas próprias de gestão e controle de territórios, que se orientam, como defendo, por uma geopolítica dos ilegalismos que é transversal a elas.

Um pequeno episódio em meio a tantos outros ilustra o argumento10. Em um final de tarde quente do verão carioca, havia chegado há pouco na Providência para encontrar um amigo. O morro “fervia” num caldo temperado por cheiro de comida no fogo, maconha no “beck” e esgoto escorrendo pela ladeira que dava acesso ao bar onde conversávamos. Em meio a um gole e outro de cerveja, vendo uma guarnição da UPP a pouco mais de vinte metros de distância, W. dispara: - “É foda, parceiro. Os ‘irmão’ agora tem que vender pó no talento”. A afirmação de W. produziu um breve silêncio entre nós. Sentado ao meu lado, meu amigo só concordou com um olhar de assentimento. W. era um “vapor” do varejo local. Não tinha mais 9 Aqui se inscreve também a crítica feita por Mbembe (2018) aos limites da biopolítica foucauldiana. A morte e não somente a vida acaba assumindo algumas formas próprias de tecnologias de governo quando pensadas principalmente nas “margens do Estado”. Voltaremos a este problema na terceira narrativa da presente sessão do artigo.

10 Por tratar-se de um artigo com limitações de espaço, não é possível explorar todos os impactos da UPP no varejo da droga local e seus efeitos, inclusive em outras escalas de análise, como aquela do projeto de urbanização de favelas “Morar Carioca”. Para uma análise mais aprofundada, ver o capítulo 3 de Rodrigues (2013).

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do que dezesseis anos na época. Antes estudava de manhã mas agora trabalhava no “movimento” sempre durante a tarde/noite. Naquele final de expediente, estava de folga e aproveitou o dia abafado para encontrar meu amigo com sua namorada em uma “vendinha” local. Lá se vendia quase de tudo um pouco, como também cerveja. Meu amigo, que eu conhecera inicialmente como aluno do pré-vestibular onda dava aulas, me chamou para ir junto e nos apresentou. Entre vários assuntos, o cenário da Providência “pós-pacificação” logo se depositou sobre a mesa. Ouvindo seu lamento, quebro o silêncio e pergunto: - “Como assim talento?”. Ele me responde: “Tu tem que ficar na ‘atividade’ porque a polícia tá aí direto. Se der mole, te agarram. Tem polícia que a gente sabe que ‘fecha’, tem outros que não. Tem que vender no ‘sapatinho’, no ‘talento’. Se não, ‘roda’. A namorada de W. aproveita a deixa e esclarece:

“Porra, é descarado já o acordo que a UPP fez com o 'movimento'. É descarado, descarado mesmo! (...) A venda [de drogas] continua, mas as 'bocas' [de fumo] hoje já não são fixas. Algumas são, mas se, por exemplo, aqui tinha uma, ali tinha outra e mais ali tinha outra. Vamos supor que num lugar tinham quatro, uma em cada esquina. Hoje em dia vai ter uma que é fixa e as outras foram para o lado. Elas desceram, foram pra alguns pontos que não são fixos, fica 'rodando'. Fica aquela coisa meio de 'gato e rato': no lugar que a UPP tá a 'boca' não tá. Eles fingem que não estão lá, e a gente finge que não está aqui.”

Aquela tarde de verão celebrava mais ou menos dez meses de instalação da UPP na Providência. Já naquela época, um processo que se consolidou nos meses seguintes foi um novo modo de operação do varejo da droga local, pautado, por um lado, pela maior fluidez das “bocas de fumo”, como também pela periferização do comércio de tóxicos no entorno do morro. O sentido de maior fluidez indica um aumento na mobilidade dos pontos de venda e consumo de drogas, assim como sua pulverização em pequenas “bocas de fumo” espalhadas pela Providência e o seu entorno. É comum observar, desde a “pacificação”, o ritmo acelerado de pessoas entrando e saindo de alguns casebres e cortiços que foram transformados em novas “bocas” nas ruas que dão acesso ao morro. O chamado tráfico do “estica” ganhou muita força nos últimos anos, já que o comércio da droga no interior da favela teve que assumir um novo formato com a presença ostensiva da polícia. O mais interessante é que no mesmo quarteirão onde o comércio de drogas tornou-se mais dinâmico, funcionam a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o Comando Militar do Leste (CML) e a 4ª Delegacia de Polícia (DP).

A exceção de tudo isso são os dias de “baile funk”. Apesar de toda a polêmica envolvida na autorização dos bailes no período “pós-pacificação” (Siqueira et alli., 2012), na Providência, após um período inicial de proibição, eles voltaram a acontecer nos finais de semana como sempre acontecera antes da UPP. Na verdade, a ocorrência ou não do baile é um ótimo indicativo da dinâmica do “arrego” entre os varejistas e o comando da UPP local. Se o baile acontece, é porque a polícia está “arregada” e confrontos e tiroteios são mais difíceis de

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ocorrer. Por outro lado, se o baile não for autorizado, é sinal de algum tipo de problema e provavelmente o “clima” no morro não será um dos melhores11. Seja como for, o dia do baile é uma “situação social” (Gluckman, 1987) que promove mudanças temporárias nos papéis de diferentes atores na Providência. O cair da noite de sábado traz consigo a desterritorialização temporária da polícia “pacificadora” do local da festa. Os policiais tendem a ocupar os acessos das partes mais baixas do morro, com os varejistas se territorializando mais explicitamente durante o período da sua realização. O “desfile de armas” como fuzis, metralhadoras e pistolas volta a acontecer normalmente, bem como funks “proibidões” de alusão ao “Comando Vermelho” e a dinâmica de venda de drogas dentro de um regime semelhante ao de uma “feira livre” também. O baile acontece como de praxe, com pessoas de dentro e de fora do morro no entorno de uma “parede” de caixas de som animadas por DJs ou MCs que se revezam no comando da festa. Após várias horas, com o amanhecer do dia, o cenário de regulação muda e os varejistas fortemente armados desaparecem. As “bocas” reassumem a movimentação anterior e as guarnições da UPP voltam a ocupar suas posições táticas dispensadas pelo comandante local. A infraestrutura para a realização do baile é desmontada e a vida segue, dentro do possível, seu curso normal para varejistas, policiais e moradores do morro.

A concretização de novos acordos quanto ao controle e a gestão do território – e que garantem, por isso mesmo, o fim dos tiroteios e a ocorrência do baile no final de semana, sinalizam assim um dos efeitos da geopolítica local para o cotidiano da Providência.

O terceiro ato da paz: recriar uma morte anunciada

O período de relativa calma no morro pareceu experimentar seu ponto de inflexão a partir do ano de 2013. No dia 8 de março do referido ano, policiais civis realizaram uma enorme operação na Zona Portuária com o objetivo de desarticular o comércio de drogas local. Das quase 50 pessoas presas, 21 eram PMs e o restante varejistas da Providência que atuavam na venda de entorpecentes principalmente no entorno do morro12. Para quem de alguma forma participava do cotidiano da favela, as prisões sempre foram vistas como um risco, dada a intensidade do varejo da droga mesmo após a “pacificação” e a imprevisibilidade que sempre acompanha o quadro da gestão dos ilegalismos. O que, no entanto, foi surpreendente, diz

11 O caso da Providência se assemelha com os exemplos do Santa Marta e da Cidade de Deus etnografados por Menezes (2018). No centro do Rio de Janeiro, existem também diferentes modalidades de “arrego”, que podem englobar tanto a UPP “por cima” (direto no comando), como “por baixo” (a depender de cada guarnição). De uma forma ou de outra, a UPP tornou mais complexa a forma como tais ilegalismos passam a ser operados na gestão “compartilhada” dos territórios das favelas cariocas.

12 http://oglobo.globo.com/rio/quase-50-pessoas-sao-presas-em-megaoperacao-para-reprimir-trafico-na-zona-portuaria-7779376

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respeito ao fato da imprensa ter divulgado que os 21 policiais presos eram da “polícia regular”, quando boa parte deles estava lotada na UPP Providência e não no 5º BPM.

A partir da operação da polícia civil, novos “rumores” de possíveis denúncias sobre o envolvimento de PMs com o varejo local levaram ao reforço do que Menezes (2015) chamou de regime do “campo minado”. O medo, a desconfiança e a sensação de “pisar em ovos” no morro aumentou sensivelmente pela vigilância mais próxima dos policiais sobre os moradores de um lado, e a criação de uma série de “ruídos” nos acordos que eram estabelecidos até então com o varejo por outro. O desgaste do já arranhado verniz da UPP tornou-se ainda mais explícito por dois motivos principais. Em primeiro lugar, pelo embrutecimento nas relações da polícia para com a comunidade, através do retorno progressivo de denúncias quanto a revistas vexatórias, espancamentos, invasões de domicílio, entre outros crimes. Mais do que a violação de diferentes leis, com o decorrer do tempo, o modus operandi da polícia “pacificadora” passou a se referenciar também por ações inscritas no horizonte moral do “esculacho” (Pires, 2011), tão comum no que diz respeito às ações dos policiais “regulares” durante operações em favelas. Um segundo ponto diz respeito ao retorno dos tiroteios, que inclusive trouxeram de volta as “grandes operações” realizadas por forças policiais de fora da Providência. Categorias como “polícia de dentro” e “polícia de fora” (Albernaz, 2018) passaram novamente a ser mobilizadas pelos moradores para se referirem aos PMs lotados na UPP e a outros oriundos dos BPMs regulares13. O novo cenário tornou mais complexo o fechamento de certo acordos entre as forças de segurança e os varejistas, dado, por um lado, pela dinâmica das polícias de “dentro X fora” ter reinserido velhos atores na operação da geopolítica dos ilegalismos local, como também pela mudança do comando e de boa parte do quadro dos “praças” na UPP Providência14. O resultado prático de tudo isso seguiu um quadro mais amplo de inflexões na dinâmica do programa, com a retomada gradual dos confrontos armados e a consequente volta da presença da morte no cotidiano dos morros cariocas “pacificados”.

Um evento que procura sintetizar este último período na Providência foi o assassinato do jovem Eduardo Felipe Santos Victor15. No dia 29 de setembro de 2015, a Providência 13 Falo novamente pois a Providência passou por duas experiências de ocupação permanente de forças de segurança antes da UPP. Inicialmente, entre 2006 e 2010, o morro contou com uma unidade do Grupamento de Policiamento de Áreas Especiais (GPAE). Especificamente em 2008 houve a ocupação paralela por soldados do Exército para a realização de algumas obras do programa “Cimento Social”. Na época, era comum a mobilização de tais categorias por parte dos moradores para se referirem aos policiais de “dentro” e de “fora” da favela.

14 É prática corriqueira na “pacificação” a mudança periódica dos seus quadros entre as unidades do programa. O objetivo da iniciativa, como me esclareceu um ex-praça da UPP Providência durante conversa informal, era evitar justamente o estabelecimento de vínculos promíscuos entre os policiais e os varejistas. Este “praça”, por exemplo, foi transferido da Providência para a UPP Camarista Méier após dois anos de serviços prestados.

15 O nome do jovem não foi ocultado pela ampla repercussão de sua morte, inclusive sendo um dos casos relatados no premiado documentário “Auto de Resistência”, de Natasha Neri e Lula Carvalho, lançado em 2018.

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acordou com forte tiroteio entre policiais da UPP e varejistas na parte baixa do morro. Não houve vítimas de ambos os lados, nem tampouco apreensões de drogas ou armas por parte das forças de segurança. Naquela mesma manhã, mais próximo da hora do almoço, uma guarnição da UPP fazia incursões na parte alta da Providência. A guarnição contava com três policiais portando pistolas e fuzis, sendo que, um deles, não estava devidamente fardado. Em um dos becos do chamado “Cruzeiro”, os PMs surpreenderam Eduardo vindo de encontro a eles. O jovem franzino, de 17 anos, portava nada mais que uma camisa, bermuda, chinelo de borracha e um rádio-transmissor em uma das mãos. Estava desarmado e, ao avistar os policiais, imediatamente levantou as mãos em sinal de rendição. Os policiais não vacilaram: deram uma coronhada com um dos fuzis em Eduardo, o que fez o jovem cambalear e cair no chão, abrindo margem para outro PM desferir um chute no mesmo lado direito do tórax. A violência dos golpes partiu imediatamente três de suas costelas. Eduardo então, ainda deitado e desorientado, foi executado a queima roupa, com um tiro de pistola no peito, desferido de cima para baixo. O laudo cadavérico apontou que a causa da morte foi em decorrência de “ferimento transfixante de tórax com lasceração visceral e hipovolemia consequente”, que significa, em outras palavras, que o disparo transfixou o corpo da vítima dilacerando completamente orgãos vitais como o pulmão e o coração16.

Diante da execução, os três PMs alteraram a cena do crime, ao colocar uma pistola na mão do rapaz e efetuar dois disparos para o alto. A intenção era clara: seria alegado confronto com um varejista local – comprovado pela presença do “radinho”, da pistola e dos resíduos de pólvora na mão de Eduardo – com a transmutação do homicídio doloso em um “auto de resistência”. Foi essa a versão dada pelos PMs na 4ª DP. A novidade na estória, todavia, foi que, desta vez, uma moradora gravou com o celular toda a performance dos PMs. Ao ouvir os gritos de Eduardo e um tiro, ela conseguiu gravar da janela de sua casa um vídeo de pouco mais de dois minutos que não deixa dúvidas sobre a ação dos policiais17. Com a ampla divulgação do material, os três PMs envolvidos diretamente na ação e mais dois que se apresentaram enquanto testemunhas foram detidos e acusados de “fraude processual” e “homicídio”. A ampla revolta dos moradores nos dias que sucederam ao enterro foi acompanhada de um clima de medo na Providência. A moradora que gravou o vídeo recebeu várias ameaças de morte por parte da polícia e foi obrigada a sair do morro. A mãe do rapaz, da mesma forma, também não mora mais lá. Um dos poucos moradores próximos a Eduardo que conversou com a imprensa sobre o homicídio revelou que:

16 Descrição realizada com base em conversas informais com moradores e da análise feita por peritos do laudo cadavérico de Eduardo, divulgado em matéria do “Jornal Extra” em 01/10/2015: https://extra.globo.com/casos-de-policia/com-base-em-laudo-de-necropsia-peritos-afirmam-que-jovem-foi-executado-na-providencia-17656975.html

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“Esse caso só terá uma punição porque um morador teve coragem de filmar. Se não fosse isso, seria mais um caso típico de auto de resistência maquiado por essa polícia corrupta, que está levando ódio para dentro da nossa comunidade. (…) E daí que ele vendia drogas? E daí? Não existe pena de morte no Brasil. Ele foi executado. (…) Ele era um garoto que seria muito fácil de recuperar porque tinha uma boa índole, mas a polícia não pensou se ele poderia ter uma nova chance, eles [polícia] não pensam no social. Eles querem mesmo é matar. Não importa, se tá vendendo drogas, eles matam. É menos um, é assim que eles pensam”.18

O assassinato de Eduardo se relaciona, por um lado, com um problema recorrente há muito tempo no Rio de Janeiro que diz respeito a produção dos “autos de resistência” pela polícia. Como mostra a etnografia de Farias (2014), a ilegibilidade de documentos produzidos pelo próprio Estado – como laudos cadavéricos que deixam ausentes informações relevantes sobre a autópsia de vítimas letais de violência policial, ou ainda a própria versão dos fatos narradas pelos PMs, que ganham contornos de “verdade jurídica” a cada fase do inquérito – são artifícios usados para encobrir execuções sumárias praticadas pela PMERJ em todo o estado.

Por outro, no caso específico da Providência, ele mostra como uma política da morte pode se configurar também enquanto técnica de governo sobre um certo território. Mbembe (2018) nos lembra que a produção da morte em diferentes contextos sociais contemporâneos não assume um papel secundário como na biopolítica foucauldiana. Ao invés de “deixar morrer”, a noção de necropolítica sugere um “fazer morrer” ativo, que se justapõe às noções de disciplina e biopolítica como diferentes tecnologias operadas em prol do controle sobre territórios e populações. O assassinato de Eduardo, para além do horror das circunstâncias ligadas à sua produção, deve ser encarado também enquanto um recurso simbólico que, sobretudo, objetiva articular uma linguagem. Como sugerem Botelho & Magnoni (2017), a violência é uma ação também simbólica, que expressa sentidos e significados abertos a processos de inteligibilidade e interpretação para além de suas causas e objetivos mais imediatos. Ela se inscreve, de modo geral, em um sistema de concepções que diz algo tanto para quem exerce a violência, como também para suas vítimas. Enquanto recurso, sugiro que uma violência brutal como um homicídio informa uma prática operada enquanto moeda de troca dentro da dinâmica aqui debatida. A morte pode não só romper, como também criar novos acordos e negociações entre os sujeitos. Sua presença é circular, por vezes transitória, porém, neste caso, comumente inevitável. Ela é uma mercadoria que também integra a geopolítica dos ilegalismos enquanto mecanismo de gestão e controle de territórios. Após a morte de Eduardo, a Providência passou não só por momentos de novos enfrentamentos armados com a produção de outras mortes. O morro também experimentou períodos de relativa calmaria, sem grandes intervenções por parte da polícia “de fora” e com novos acordos

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firmados com a polícia “de dentro”. A construção da morte e da vida, ou mesmo da “guerra” e da “paz” partem assim de um mesmo princípio cuja fonte é, fundamentalmente, (geo)política.

Considerações finais

Ao longo do artigo, procurei mostrar como a geopolítica dos ilegalismos aparece enquanto uma linha que marca certas continuidades entre três momentos distintos do processo de “pacificação” de uma favela carioca. Sua dinâmica é operada por uma trama de agenciamentos que enredam, simultaneamente, diferentes atores e diferentes escalas de ação. O território aparece enquanto um elemento central neste processo, uma vez que o seu controle é condição necessária para o regime de circulação das “mercadorias políticas” ali presentes. Partindo desta conclusão, penso que uma leitura sobre uma suposta “crise” do processo de “pacificação” precisa ser feita com muito cuidado, uma vez que ela dificulta uma análise mais precisa sobre o que vem acontecendo nas favelas do Rio de Janeiro desde a última década.

É importante reforçar que são inegáveis os ganhos obtidos em curto prazo com as UPPs no tocante à redução da letalidade policial. Como um morador da Providência uma vez me disse, ainda durante os primeiros meses do projeto: “a UPP parece uma polícia que veio salvar a gente da própria polícia”. Mesmo com certo exagero, a fala é sintomática dos benefícios que uma força policial menos letal e relativamente mais previsível pode trazer. Todavia, a perda deste ganho com o retorno dos confrontos armados não pode ser tomada enquanto sinônimo de “crise”. Se acreditarmos que as UPPs estão em “crise”, teremos que, obrigatoriamente, aceitar que algum dia elas estiveram em “êxito”. E como o artigo sugere, existem vários agenciamentos que marcam uma série de continuidades entre os diferentes momentos que marcam o campo da “pacificação” desde o seu início. Continuidades que permitem relativizar não somente a ideia de “crise”, como também a própria ideia de “êxito”.

O problema do “paradigma da crise”, neste sentido, é que tal visão tende a se operar a partir de diferentes dicotomias que reificam ideias como “guerra” e “paz”, vistas, bem do alto e de longe, enquanto campos antagônicos no horizonte político da segurança pública fluminense. Vale dizer, mais precisamente, que tais ideias, longe de serem marcos explicativos satisfatórios, nos convidam a um exercício perigoso e enganoso que tende a enxergá-las enquanto regimes normativos distintos para as favelas cariocas. Ambos, a “guerra” e a “paz”, pelo contrário, estão inseridos em um mesmo universo social que tem como significado comum a geopolítica dos ilegalismos. É sua dinâmica sobre o espaço

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que produz novos pactos sociais capazes de construir a “paz” e até mesmo a “guerra”, para depois serem apontadas novamente outras condições para a retomada de novas formas de administração de conflitos, como acontece em São Paulo, a título de exemplo, nas últimas décadas (Telles & Hirata, 2010; Peres et alli., 2011; Feltrán, 2015). Para além de uma suposta “crise”, o programa das UPPs marca mais um capítulo importante no quadro geral da geopolítica dos ilegalismos na cidade, que anima processos complementares de territorialização e desterritorialização no Rio de Janeiro.

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