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Processo 13644/12.9YYLSB-E.L1-2 Data do documento 25 de fevereiro de 2021 Relator Castelo Branco

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Ampliação do pedido em processo executivo > Obrigação de juros > Prescrição

SUMÁRIO

I) A pretensão de ampliação do pedido constitui uma das modificações objetivas previstas na lei (cfr. artigo 265.º, n.º 2, do CPC), podendo assumir, ainda que não obrigatoriamente, forma articulada.

II) Assim, não tendo o respetivo requerimento de ampliação do pedido de obedecer a um especial ritualismo na forma de apresentação, não tem que ser notificado à contraparte com as formalidades da citação, pelo que, não se verifica nulidade se, encontrando-se cumprido o contraditório, tais formalidades não foram observadas, não sendo caso de aplicação do disposto no artigo 728.º, n.º 4, do CPC.

III) A obrigação de pagamento dos juros de mora é uma consequência directa da mora do devedor, correspondendo à indemnização pelo incumprimento da obrigação principal, sendo acessória desta.

IV) Só há lugar ao pagamento de juros de mora, à taxa legal, se expressamente peticionados, não dispensando a formulação pelo exequente, no processo executivo, em sede própria, do respetivo pedido, no quadro do princípio geral do dispositivo (cfr. arts. 3.º, n.º 1 e 609.º, n.º 1, do CPC).

V) O título executivo é o documento pelo qual o requerente de realização coactiva da prestação demonstra a aquisição de um direito a uma prestação, nos requisitos legalmente prescritos, nele se considerando abrangidos os juros de mora, à taxa legal, da obrigação nele constante (artigo 703.º, n.º 2, do CPC), o que se compatibiliza com o facto de ser em função do título que se determinam o fim e os limites da ação executiva (artigo 10.º, n.º 5, do CPC).

VI) Da omissão de formulação do pedido de pagamento de juros de mora vincendos no requerimento executivo não se retira que a exequente tenha prescindido ou renunciado ao cumprimento da correspondente obrigação pela executada e que estivesse impossibilitada de ulteriormente o peticionar. Tal teria de resultar de expressa declaração nesse sentido, ou de advir, de algum modo, de um facto que inequivocamente o assim revelasse (cfr. artigos 217.º e 218.º do CC), o que não sucedeu.

VII) Não se vislumbra nenhum obstáculo, material ou formal, inarredável à possibilidade de o instituto jurídico da ampliação do pedido, previsto no artigo 265.º, n.º 2, do CPC - disposição de aplicação geral e não específica do processo de declaração - , verificados que sejam os respetivos pressupostos, ter lugar numa ação executiva, sendo que, razões relacionadas com a economia processual, com o denominado

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princípio pro actione – visando a concretização de uma tutela jurisdicional não formalista, efetiva e eficaz, nos termos constitucionalmente consagrados - poderão determinar a aplicação de um tal instituto no âmbito da realização coativa da prestação.

VIII) Se pode o exequente cumular pedidos contra o mesmo executado, com fundamento em títulos diversos, na pendência da execução (cfr. artigos 709.º e 711.º, n.º 1, do CPC), por maioria de razão e, por uma questão de economia processual, há que admitir a ampliação do pedido, nos termos do n.º 2 do artigo 265.º do CPC - quanto ao pagamento de juros vincendos de mora à taxa legal – contra o mesmo executado, quando o título já dado à execução viabiliza e incorpora a exigência da obrigação objeto da ampliação (cfr. artigo 703.º, n.º 2, do CPC) e a execução ainda se encontra pendente, por tal pretensão ocorrer ainda no decurso da discussão verificada na 1.ª instância e, a mesma, traduzindo um pedido qualitativamente idêntico ao pedido de juros de mora vencidos, constitui um mero desenvolvimento da pretensão inicialmente formulada.

IX) Quando não haja prazo para o pagamento da dívida de juros — como sucede com os juros legais —, os juros vão-se vencendo dia-a-dia, constituindo cada obrigação de juros uma obrigação autónoma, sendo aplicável o prazo de prescrição a cada uma delas (e não à dívida global), considerando-se prescritos os juros que se tiverem vencidos para além dos últimos cinco anos (cfr. artigo 310.º, al. d) do CC).

X) A ampliação do âmbito do recurso pelo recorrido só é permitida nos exactos termos do artigo 636.º, n.º s 1 e 2, do CPC, prevenindo o recorrido a hipótese de o recurso interposto pelo recorrente poder ser julgado procedente. A ampliação do âmbito do recurso não é idónea para o recorrido impugnar o sentido da decisão na parte em que ficou vencido sendo, para tal, necessária a interposição de recurso (independente ou subordinado), nos termos previstos no artigo 633.º do CPC.

TEXTO INTEGRAL

Acordam na 2.ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa:

1. Relatório: *

HE, LDA. instaurou em 19-07-2012 contra CAIXA…, autos de execução, para pagamento de quantia certa – de que os presentes constituem o apenso E - , então liquidada, de € 1.965.637,45.

Apresentou como título executivo uma garantia bancária emitida pela executada, que esta não teria honrado.

No requerimento executivo, a exequente exarou o seguinte: - No campo “Tribunal competente, título executivo e factos”: “(…)

Valor da Execução: 1.965.637,45 € (Um Milhão Novecentos e Sessenta e Cinco Mil Seiscentos e Trinta e Sete Euros e Quarenta e Cinco Cêntimos)

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Objecto da Execução: Pagamento de Quantia Certa - Dívida comercial [Cível] Título Executivo: Documento Particular

Factos:

Em 12 de Março de 2008, a Executada prestou, a pedido da DLI – Distribuição e Logística para a DI, S.A. (“…”), uma garantia bancária à primeira solicitação, incondicional e incondicionada, a favor da Exequente, no montante total de € 2.000.000,00 (dois milhões de euros) - cfr. cópia da garantia bancária n.º 000-43.010093-3 que aqui se junta como Doc. 1 e se dá por integralmente reproduzido para todos os legais efeitos. A referida garantia bancária foi prestada por forma a caucionar o bom e pontual pagamento de qualquer aquisição de equipamento informático e/ou prestação de serviços pela DI à Exequente.

Sucede que a DI incumpriu, definitivamente, as obrigações assumidas junto da Exequente, designadamente em virtude do não pagamento, atempado, de facturas relativas a fornecimentos feitos pela Exequente à DI (sendo certo que a dívida da DI à Exequente ascende, actualmente, a mais de 3.8 milhões de euros).

Nestes termos, perante o incumprimento das obrigações da DI, a Exequente, em 16 de Maio de 2012, interpelou a Executada para proceder ao pagamento de parte do montante titulado pela supra referida garantia bancária, mais precisamente do montante de € 1.941.803,80 (um milhão, novecentos e quarenta e um mil oitocentos e três euros e oitenta cêntimos) – cfr. cópia da comunicação de interpelação que aqui se junta como Doc. 2.

Não obstante, até à data, a Executada não procedeu, conforme era sua obrigação - designadamente nos termos do disposto na garantia bancária prestada - ao pagamento de qualquer montante à Exequente. Resulta assim do exposto que a Executada deve à Exequente o montante constante da carta de interpelação remetida, ou seja, € 1.941.803,80 (um milhão, novecentos e quarenta e um mil oitocentos e três euros e oitenta cêntimos). Ao montante em dívida acrescem juros de mora no valor de € 23.833,65, contados desde a data de vencimento da obrigação de pagamento da garantia bancária até à data de entrada do presente requerimento executivo.

O crédito é certo, líquido e exigível, encontrando-se devidamente titulado, pelo que a quantia exequenda ascende, na presente data, a € 1.965.637,45.”

- No campo “Liquidação da obrigação”: “Valor Líquido: € 1.941.803,80

Valor dependente de simples cálculo aritmético: 23.833,65 € Valor NÃO dependente de simples cálculo aritmético: 0,00 € Total: 1.965.637,45 €

Capital em dívida referente ao valor da garantia bancária = € 1.941.803,80

Ao montante de capital em dívida acrescem juros de mora, à taxa legal de 8% aplicável aos juros comerciais, no valor de € 23.833,65, contados desde a data de vencimento da obrigação de pagamento, até à data de entrada do presente requerimento executivo.”

*

Em 10-11-2017 o agente de execução liquidou a quantia exequenda em € 2.720.299,94, sendo € 745 931,97 de “juros comerciais de 20/07/2012 a 10/11/2017”.

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*

A executada reclamou de tal nota de liquidação, alegando que os aludidos juros não constavam no título executivo e não haviam sido requeridos.

*

A exequente respondeu à reclamação, pugnando pela sua improcedência, defendendo que os juros de mora estavam abrangidos pelo título executivo e que a execução abrangia os juros vincendos, que deviam ser calculados a final pelo agente de execução, como foram. Subsidiariamente, requereu que se admitisse a ampliação do pedido quanto aos juros de mora, calculados à taxa legal comercial, vencidos desde a data da apresentação do requerimento executivo até efetivo e integral pagamento, determinando-se, igualmente, o prosseguimento da ação executiva.

*

Por requerimento de 03-01-2018, a executada, notificada do teor de requerimento apresentado pela exequente, veio “ao abrigo do princípio do contraditório, consagrado no art. 3.º do CPC”, reiterou pela “REFORMULAÇÃO DA CONTA ENVIADA À EXECUTADA, SUBTRAINDO AO VALOR ALI APURADO, A IMPORTÂNCIA COMPUTADA A TÍTULO DE JUROS DE MORA VINCENDOS, NÃO COMPREENDIDOS NO TÍTULO EXECUTIVO, NÃO PETICIONADOS NA PRESENTE AÇÃO EXECUTIVA, NEM CONSTANTES DA CAUÇÃO APRESENTADA CONFORME SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO, PROFERIDA NO APENSO B”.

*

Em 13-07-2018, foi proferido despacho do seguinte teor:

“Requerimento ref 27485610 de 28.11.2017 (reclamação da nota do SR AE), requerimento ref 27646271 de 14.12.217 (resposta), req. ref 27775399 de 3.01.2018 e req. 2804555 de 29.1.2018 (requerimento e respostas complementares):

Está em causa a inclusão pelo Sr AE na liquidação da responsabilidade da executada dos juros de mora vencidos a partir da data de apresentação do requerimento executivo, entendendo a executada que os mesmos não deverão ser incluídos, e a exequente que o deverão ser.

A nota de liquidação inclui tais juros (cf nota anexa ás notificações de 24.11.217)

Dispõe o art 703 nº2 do CPC que se consideram abrangidos pelo título executivo os juros de mora, á taxa legal, da obrigação dele constante; complementarmente, dispõe o art 716º nº1 do CPC que sempre que for ilíquida a quantia em divida, o exequente deve especificar os valores que considera compreendidos na prestação devida e concluir o requerimento executivo com um pedido liquido, sendo que quando a execução compreenda juros que continuem a vencer-se, a sua liquidação é feita afinal, pelo agente de execução, em face do titulo e dos documentos que o exequente ofereça em conformidade ou sendo caso disso, em função das taxas legais de juros de mora aplicáveis.

Ou seja, o pedido que o exequente deve formular na p.i. deve abranger os juros vencidos até esse momento. Assim “(…) se o exequente não efectuou no requerimento executivo a liquidação dos juros vencidos, só deverá receber os que se vencerem após a data da instauração da execução (…)” - A acção executiva Anotada e Comentada, Virgínio da Costa Ribeiro e Sergio Rebelo, Almedina, ed 2016 (2º ed), pag 140.

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que ao montante do capital em divida acrescem juros de mora á taxa legal de 8% aplicável aos juros comerciais, no valor de € 23.833,65, contados desde a data de vencimento da obrigação de pagamento até á data do requerimento executivo.

Ou seja, referindo que ao capital acresciam juros de mora á taxa legal, liquidou os juros vencidos, cumprindo o ónus que lhe incumbe nos termos do art 716º nº1 do CPC, o que não significa que prescinda dos juros de mora que se vencessem a partir da data do requerimento executivo. Esses, que não carecem de ser expressamente qualificados no requerimento executivo como vincendos, estarão aliás compreendidos na expressão “ao montante de capital em divida acrescem juros de mora, á taxa legal de 8% aplicável aos juros comerciais (…)” que consta do requerimento executivo.

Nessa sequência, por terem cabimento legal (art 703 nº2 do CPC) devem tais juros ser incluídos na liquidação da responsabilidade da executada, pelo que improcede a reclamação (da nota do Sr AE) que a executada deduziu.

Custas do incidente de reclamação pela reclamante. Notifique”.

*

Desse despacho foi interposto recurso, que foi tramitado no apenso C aos presentes autos e em 11-07-2019 foi proferido acórdão pelo Tribunal da Relação de Lisboa, já transitado em julgado, que julgou a apelação improcedente, revogando o despacho recorrido e, em sua substituição, dando “provimento à reclamação apresentada contra a nota de liquidação elaborada pelo Sr. agente de execução e, em consequência, determina-se que a mesma seja reformulada tendo em consideração o ora decidido, ou seja, dela se excluindo os juros de mora vencidos posteriormente à instauração da execução, se a tal não obstar o que vier a ser decidido pelo tribunal a quo quanto à requerida ampliação do pedido”.

*

Baixando os autos à 1.ª instância, em 24-09-2020 foi proferido o seguinte despacho:

“Atento o teor do Ac. do TRL de 08.10.2019 que consta do apenso C, cabe apreciar o ampliação do pedido exequendo requerida pela exequente na resposta que apresentou em 14.12.2017 à reclamação da executada contra a nota de liquidação elaborada pelo SR AE (ampliação do pedido exequendo quanto aos juros de mora, calculados á taxa legal comercial, vencidos desde a data da apresentação do requerimento executivo até efetivo e integral pagamento), o que, uma vez já observado o contraditório quanto a tal pretensão, conforme req. de 21.02.2020, se passará ora a fazer.(…).

Por requerimento de 14.12.2017 a exequente requereu a ampliação do pedido exequendo quanto aos juros de mora, calculados à taxa legal comercial, vencidos desde a data da apresentação do requerimento executivo até efetivo e integral pagamento.

A parte contraria veio, na sequencia do Acórdão suprarreferido, exercer o contraditório a 21.02.2020, invocando, para além da inadmissibilidade legal, a prescrição.

A exequente respondeu a esta invocação de prescrição por requerimento de 05.03.2020. Cumpre decidir:

Está em causa a pretensão de ampliação do pedido na parte referente quanto aos juros de mora, calculados à taxa legal comercial, vencidos desde a data da apresentação do requerimento executivo até

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efetivo e integral pagamento, ampliação que foi pedida supletivamente no requerimento de resposta à reclamação da nota de liquidação elaborada pelo Sr Ae.

No requerimento executivo da presente execução (cujo titulo é uma garantia bancaria), a exequente não formulou pedido de pagamento de juros de mora vincendos desde a propositura da execução até integral pagamento.

Veio posteriormente, em fase de incidente de reclamação da nota de liquidação elaborada pelo Sr Ae, formular ampliação do pedido executivo relativamente a tais juros vincendos.

A pretensão da exequente decorre do titulo dado à execução (garantia bancaria), reportando-se aos juros vincendos sobre o capital peticionado com base nessa garantia.

Veja-se que nos termos do art 703 nº 2 do CPC consideram-se abrangidos pelo titulo executivo os juros de mora à taxa legal da obrigação nele constante.

Não há duvida, pois, de que embora a obrigação de juros seja autónoma da obrigação de capital, ambas decorrem do mesmo titulo executivo, in casu a garantia bancaria.

Nos termos do artigo 265º, nº 2 do CPC, o pedido pode ser ampliado na réplica e ainda até ao encerramento da discussão e 1ª instância se a ampliação for o desenvolvimento ou a consequência do pedido primitivo. E nos termos do nº 6 é permitida a modificação simultânea do pedido e da causa de pedir, desde que tal não implique convolação para relação jurídica diversa da controvertida.

A questão está em saber se este artigo tem aplicação na ação executiva.

Nos termos do artº 551º, nº 1, do CPC, são subsidiariamente aplicáveis ao processo de execução, com as necessárias adaptações, as disposições reguladoras do processo de declaração que se mostrem compatíveis com a natureza da ação executiva.

Mas na ação executiva não existem aquelas fases do processo, nem se prevê expressamente a “ampliação do pedido”. No entanto, parece-nos que, por maioria de razão, deve ser admitida a “ampliação” requerida, como se tentará demonstrar.

Estabelece o artigo 10º, nº 5, do CPC, que toda a execução tem por base um título, pelo qual se determinam o fim e os limites da ação executiva.

O título executivo é, pois, a base da execução, e por ele se determinam o fim e os limites da ação executiva.

Já vimos que o título dado à execução suporta a pretensão referente aos juros sobre a divida de capital que dele decorre.

Nos termos do artigo 709º CPC, é permitido ao credor cumular execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, contra o mesmo devedor, salvo quando se verifique alguma das circunstâncias referidas nas suas três alíneas.

Por outro lado, preceitua o artigo 711º CPC que enquanto uma execução não for julgada extinta, pode o exequente requerer, no mesmo processo, a execução de outro título, desde que não exista nenhuma das circunstâncias que impedem a cumulação...

Temos, pois, que o exequente pode cumular pedidos (títulos executivos) contra o(s) mesmos(s) executado(s). E esta cumulação tanto pode ser inicial como sucessiva, desde que se verifiquem os respetivos pressupostos, enquanto não estiver extinta a execução. É inicial quando a ação executiva é logo

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instaurada com base em vários títulos. E é sucessiva quando em execução já pendente se requer a junção de novo(s) título(s), assim formulando novo pedido.

No presente caso trata-se de um único título executivo e as obrigações em causa (capital e respetivos juros, designadamente os vincendos ora em questão) podiam ter sido peticionadas em simultâneo na petição, o que não suscitaria qualquer questão de ordem formal.

Ora, se é permitida durante a pendencia da execução a cumulação de pedidos fundados em títulos diferentes (art 711º do CPC), não parece que exista qualquer obstáculo a que o exequente requeira a “ampliação do pedido” com base no mesmo título, ou seja, exigir no mesmo processo, em momentos diferentes, a totalidade da dívida contida no título executivo, por maioria de razão e, até, por uma questão de economia processual.

A requerida ampliação reporta-se a um desenvolvimento do pedido inicialmente formulado e está contido nos limites definidos pelo título executivo.

Adere-se pois à jurisprudência firmada no Ac. do TRC de 22.10.2013, disponível in www.dgsi.pt, cujo sumario é o seguinte “No âmbito duma ação executiva podem ser peticionados juros vincendos (bem como, liquidados juros vencidos) no âmbito de uma ampliação do pedido”.

Sendo legalmente admissível, em nosso entendimento, a pretensão de ampliação do pedido no que respeita aos juros vencidos e vincendos desde a propositura da ação até pagamento, importa agora analisar a exceção de prescrição invocada pela executada, defendendo esta que tendo a exequente interpelado a executada parar pagar a garantia bancaria em 16.05.2012, e sendo o prazo de prescrição dos juros o de cinco anos, quando foi pedida pelo exequente a ampliação do pedido, em 14.12.2017, o respetivo direito já se encontrava prescrito.

A exequente opôs-se, considerando que o prazo de prescrição se interrompeu a 28.11.2017, data em que foi apresentado requerimento no processo onde se reconheceu serem devidos juros de mora após a apresentação da ação executiva, e que ainda que assim não entenda, apenas estariam prescritos os juros desde a propositura da ação até cinco anos antes da formulação de pretensão de ampliação do pedido. Efetivamente, os juros prescrevem no prazo de cinco anos – art 310 al. d) do CC.

Em causa estão os juros desde a propositura da ação, juros que só nascem a partir dessa data, não podendo, pois, o prazo de prescrição sere contado desde data anterior (a da interpelação para pagamento da garantia bancária) como pretende a executada, pois o prazo de prescrição inicia-se à medida que os juros se vão vencendo.

Logo, quando em 14.12.2017 foi requerida a ampliação do pedido no que tange aos juros desde a propositura da ação até integral pagamento, apenas se encontravam prescritos os juros que se venceram entre a data da propositura da ação executiva (19.07.2012) e 14.12.2012 (cinco anos antes do seu pedido). Ao contrario do que pretende a exequente, entendemos que não houve lugar à interrupção do prazo prescricional através da apresentação do requerimento de 28.11.2017, porquanto este requerimento, e designadamente o trecho referido pela exequente (ponto 29 do referido requerimento, que ora se dá por reproduzido para todos os efeitos legais), não contém qualquer reconhecimento inequívoco pela executada da obrigação de pagamento de tais juros, mas tão só a alusão à possibilidade de os mesmos poderem ser pedidos pela exequente noutra ação por inexistir caso julgado quanto a essa matéria.

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Pelo exposto, ao abrigo do disposto no art. 265º, nº 2, do Código de Processo Civil, admito a ampliação do pedido deduzida pelo exequente, mas apenas na parte referente aos juros de mora à taxa legal comercial sobre o capital indicado no requerimento executivo vencidos e vincendos a partir de 14.12.2012 até integral pagamento.

Custas do incidente por exequente e executada na proporção do decaimento (…)”. *

Não se conformando com esta decisão, dela apela a executada, pugnando pela revogação do despacho recorrido - por inadmissibilidade do pedido de ampliação da exequente – e sua substituição por outro que a absolva do pagamento dos juros de mora vencidos após a entrada do requerimento executivo e vincendos, ou pela revogação do despacho recorrido, sendo declarado prescrito o exercício do direito e absolvendo a executada do pagamento dos referidos juros, ou pela declaração de nulidade do despacho recorrido, formulando na alegação que apresentou, as seguintes conclusões:

“A)

1. Vem a CE recorrer do douto despacho proferido em primeira instância, que a condenou a liquidar os juros de mora vencidos, a partir da data de 14/12/2012, até integral pagamento, por considerar que a ampliação do pedido, formulada pela exequente nos autos, é inadmissível, não estando prescrito o exercício do direito (pedido de juros) - no que a recorrente, salvo o imenso respeito devido não pode conceder.

2. No caso concreto, dos autos, o título executivo – Garantia Bancária - não prevê o pagamento de juros. 3. A exequente, como decorre do requerimento executivo, não formulou pedido de pagamento dos juros de mora vincendos,

4. A exequente absteve-se de integrar, por meio de pedido ilíquido, na execução tal crédito vincendo; 5. Como bem observou o Tribunal da Relação de Lisboa: não existia, ou existiu, qualquer impedimento à inclusão desse pedido no formulário eletrónico de requerimento executivo, por parte da exequente.

6. Não se alcança, como a alteração ao pedido inicialmente formulado, no requerimento executivo (no caso, atinente aos juros de mora vincendos que ali não foram pedidos), pela exequente e nas precisas circunstâncias em que o foi, possa ser encarada como uma ampliação do pedido.

7. E muito menos, como possa essa alegada ampliação, ser enquadrada num normal desenvolvimento, ou numa consequência do pedido primitivo - no sentido e para os efeitos em que a lei os consagra - no art. 265.º, n.º 2 CPC.

8. Porque estabelecendo o título executivo os limites e o fim da execução, é manifesto que este, não pode ser utilizado para realizar coativamente outra obrigação, que não aquela que o título documenta.

a. O título executivo é pressuposto indispensável da execução – art.º 10.º, n.º 5 do CPC – porquanto, possibilita o recurso imediato à ação executiva, define o seu fim e fixa os seus limites.

b. o título executivo apresentado à execução - a Garantia Bancária - não prevê o pagamento de juros de mora.

c. Por conseguinte, estabelecendo o título executivo os limites e o fim da execução, é manifesto que este, não pode ser utilizado para realizar coativamente outra obrigação, que não aquela que o título documenta. d. E ainda que se entendesse, que nos termos do art. 703.º, n.º 2 do CPC - conforme perfilha a decisão

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recorrida - estão “abrangidos pelo título executivo os juros de mora, à taxa legal, da obrigação dele constante”, tal nunca implicaria – como veremos - que o exequente não tenha a obrigação de os pedir, na ação executiva!

9. Porque à data do requerimento executivo, a exequente não só renunciou ao pedido dos juros que agora reclama, como demonstrou que aquela era a quantia exequenda que efetivamente pretendia ver cobrada. 10. A própria decisão em crise refere expressamente: “Mas na ação executiva não existem aquelas fases do processo, nem se prevê expressamente a “ampliação do pedido”, não se compreendendo como o argumento “por maioria de razão” possa ser aplicado à matéria em questão, sobremaneira considerando as especificidades do caso concreto.

a. Há a recordar que, nos termos do art.º 751.º, n.º 7 do CPC, o valor da caução fixada nos autos, para garantir os fins da execução, foi no valor de €2.063.919,32.

b. A exequente oportunamente notificada para se pronunciar, quanto à caução proposta pela executada, até deduziu oposição, mas à idoneidade da garantia, nunca impugnou o valor da caução – sentença transitada em julgado, proferida no apenso B, do Proc. Nº….

c. E de acordo com a sentença proferida “(…) a quantia caucionada (montante seguro) ficará afeta à execução (dívida exequenda, juros vencidos, e custas) até à decisão transitada em julgado sobre a oposição à execução.”

d. Motivo pelo qual, tendo presente o teor da sentença proferida no âmbito do incidente de prestação de caução a exequente estava bem ciente do seu pedido formulado e do valor da dívida exequenda, cujo reembolso pedira.

e. Termos em que, tendo presente o teor de art. 751.º, n.º 7 do CPC, sempre improcederia a pretensão da exequente e o entendimento perfilhado pela decisão recorrida.

11. Porque os juros são de acordo com a lei substantiva um direito de carácter disponível, impendendo, simultaneamente, sobre a exequente, sempre que for ilíquida a quantia em dívida, a obrigação de especificar os valores que considera compreendidos na prestação devida e concluir o requerimento com um pedido liquido – a exequente, ao pedir expressamente o pagamento de juros, apenas até à entrada da ação, abdicou de exercer o direito de pedir qualquer crédito de juros (vencidos/vincendos).

a. A obrigação acessória de juros é diferente da obrigação de capital – art.º 561.º CC. Conforme ensina o Professor Antunes Varela: “A obrigação de juros é diversa da obrigação decorrente do crédito principal”. b. A obrigação de juros integra uma indemnização de natureza disponível, sendo mero acessório do capital, acompanhando a natureza deste, incumbindo ao exequente:

i. Pedir a resolução do conflito, enunciando os factos que fundamentam o pedido, face à alegada violação do direito,

ii. Carrear aos autos o respetivo título executivo,

iii. Formular todos os pedidos correspondentes à causa de pedir.

c. Na linha de pensamento do que vem sendo entendido acolhido pela nossa jurisprudência, “O credito de juros não constitui um direito indisponível, e extingue-se pelas causas gerais de extinção das obrigações, estando, como tal, sujeito a prescrição.”

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não podendo a executada ser condenado a pagar um valor a que a exequente renunciou – cf. arts. 609.º e 615°, nº 1, e) do CPC, “ex vi” arts. 551.º, art. 724.º e), f) do CPC;

e. Não podendo o pedido da exequente, vir agora a ser justificado pelo recurso ao teor do art. 703.º, n.º 2 do CPC, conforme perfilha a decisão recorrida, porque o facto de estarem “abrangidos pelo título executivo os juros de mora, à taxa legal, da obrigação dele constante”, não implica que o exequente não tenha de os pedir na ação executiva.

f. Não podemos confundir título executivo e ação executiva.

g. A entender-se, como na decisão recorrida, que um exequente, ao abrigo de uma qualquer ação executiva, poderia executar um título, limitando-se a pedir o capital, abstendo-se de pedir/liquidar juros, pois os mesmos, por força do art.º 703.º, n.º 2 do CPC estariam automaticamente abrangidos pelo título e nessa medida obrigariam o executado ao seu pagamento, independentemente de não terem sido pedidos na ação!

h. Solução inaceitável face aos preceitos legais aplicáveis, da lei substantiva (art.º 561.º do CC – natureza acessória da obrigação de juros), adjetiva (arts. 3.º, n.º 1; 8.º, n.º 2; 10.º, n.º 5; 260.º, arts. 609.º e 615°, nº 1, e) do CPC, “ex vi” arts. 551.º, art. 724.º e), f) todos do CPC) e fundamental (20.º, n.º 4 da CRP).

i. A própria lei esclarece que, “sempre que for ilíquida a quantia em divida, o exequente deve especificar os valores que considera compreendidos na prestação devida e concluir o requerimento executivo com um pedido liquido” - art. 716.º n.º 1 do CPC.

j. Sendo que “quando a execução compreenda juros que continuem a vencer-se, a sua liquidação é feita, a final, pelo agente de execução, em face do titulo e dos documentos que o exequente ofereça em conformidade ou sendo caso disso, em função das taxas legais de juros de mora aplicáveis.” - art. 716.º n.º 2 do CPC.

k. Salvo o devido respeito, existe confusão/contradição, do Tribunal recorrido, com efeito: i. Uma - é a obrigação legal de pedir os juros

ii. Outra - é a obrigação legal de liquidar juros, isto é, a de contabilizar os juros que, depois de expressamente pedidos, é possível contabilizar (juros mora vencidos) e relegar para liquidação futura. l. Como a este propósito bem sintetizou o Venerando Tribunal da Relação de Lisboa, em acórdão apenso a estes autos:

m. Em síntese: não pode ser admitido o exercício do direito do pedido de crédito de juros vencidos (depois da data de apresentação do requerimento executivo) e vincendos (até integral pagamento), quando esse direito não foi exercido em tempo, sem que para tal houvesse impedimento, e a que assim, o exequente expressamente renunciou - dado o caráter disponível da obrigação de juros (561.º CC) e a obrigação de liquidação desses juros a que a exequente estava sujeita (716.º, n.º 1 CPC).

12. Porque o pedido formulado nos autos pela executada em 14/12/2017, não configura uma ampliação de pedido

a. Depois da executada ter reclamado da conta final, elaborada pelo agente de execução, a exequente veio aos autos, pedir subsidiariamente uma alegada “ampliação” do pedido.

b. O que fez, já na fase de pagamento, pretendendo isso sim, alterar o pedido inicialmente formulado: i. já não pretende o pedido inicialmente formulado (de pagamento de capital e juros de mora vencidos até

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à entrada do requerimento executivo – como ali expressamente declarou), ii. pretende agora, um pedido de pagamento de juros, até integral pagamento.

c. Ora, como é manifesto, não se trata aqui de uma ampliação do pedido inicial, mas de uma substituição do pedido inicial.

d. Um pedido formulado nestas circunstâncias concretas, elaborado ao arrepio do inicialmente apresentado, não deve, nem pode ser entendido como uma ampliação.

e. E muito menos, um pedido que visa substituir o primeiro - dada a obrigação de liquidação de juros, a que a exequente estava sujeita (716.º, n.º 1 CPC) e o caráter disponível da obrigação desses mesmos juros (561.º CC) - pode ser entendido como um pedido que é natural desenvolvimento, ou consequência do primeiro!

f. Em boa verdade, a exequente fez o pedido que queria no requerimento executivo - receber capital e especificamente juros de mora, exclusivamente até à entrada do requerimento executivo,

g. Tanto assim é, que não se opôs à idoneidade da caução apresentada pela executada, mas não se opôs ao seu valor,

h. Depois muda de posição,

i. O primeiro pedido já não lhe serve,

j. E tenta fazer outro pedido, travestindo-o de “ampliação”.

k. Não foi seguramente esta situação que o legislador pretendeu tutelar com a redação do art. 265.º, n.º 2 do CPC,

l. Mas antes, proporcionar às partes uma adequada tutela dos seus direitos, na pendência do processo, por forma a que o desenvolvimento da lide lhes não impedisse de alcançar um resultado razoável.

m. Sublinhe-se que é pressuposto da apresentação de uma petição inicial, ou de um requerimento executivo, que o demandante exponha os factos essenciais que constituem a causa de pedir e as razões de direito que servem de fundamento à ação - art 552.º, nº 1, alínea d) do CPC - e formule os correspondentes pedidos,

n. O acesso ao direito e aos tribunais constitucionalmente consagrado é uma garantia que deve ser exercida responsavelmente,

o. Era exigível a qualquer homem médio, colocado na posição da exequente, até mais à exequente – uma empresa de referência, integrada num grande grupo multinacional, apetrechada com todos os meios e recursos técnicos - que antes de apresentar o requerimento executivo, diligenciasse por averiguar os correspondentes pressupostos de facto e direito reclamados e verificar que pedidos eram necessário formular, com vista ao reconhecimento, a final, da titularidade do invocado direito.

p. Não havendo justificação razoável para a não inclusão do pedido, que ora se quer travestir de “ampliado”, no requerimento executivo.

q. Como refere o Tribunal da Relação de Guimarães supra citado, a ampliação do pedido diz apenas respeito a: “factos constitutivos, modificativos ou extintivos que interessam à decisão da causa e que sejam supervenientes ou de que a parte apenas deles tenha conhecimento já depois de ter apresentado os articulados normalmente previstos na lei.”

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invocada “ampliação” do pedido.

s. As circunstâncias que o exequente tinha à data do requerimento executivo, são exatamente as mesmas que hoje tem.

t. Não sendo intenção do legislador, nem desiderato do julgador, permitir um uso manifestamente reprovável do instituto de “ampliação” do pedido, permitindo, como sucede nos autos, “fazer entrar pela janela, aquilo que não se conseguiu fazer entrar pela porta” - em violação dos mais basilares princípios de direito, designadamente da boa fé processual – art. 8.º CPC.

u. A verdade é que basta o recurso às regras da experiência comum, para perceber que, no caso vertente, o pedido de juros – decorrente do requerimento da invocada “ampliação” do pedido – a querer ser feito, tinha de ter sido formulado, logo, no requerimento executivo – em obediência ao principio do ónus das partes, decorrente do art. 5.º do CPC – como bem observou o Tribunal da Relação de Lisboa em apenso a estes autos.

v. Assim não tendo acontecido, não será depois:

i. De a executada ter apresentado caução, nos autos, pelo valor reclamado na execução, sem que a exequente a ele se opusesse – tendo presentes as finalidades da caução (art. 751.º, n.º 7 do CPC);

ii. De a executada ter apresentado os seus embargos à execução e a correspondente decisão ter transitado em julgado;

iii. Do AE ter elaborado nota final de liquidação e a executada dela ter reclamado, iv. Da CE ter liquidado a quantia exequenda (peticionada no requerimento executivo)

v. Que este poderá ser admitido, com o argumento de que representa o normal desenvolvimento, ou a consequência do pedido primitivo.

w. O pedido do direito de crédito a juros vincendos (à data do requerimento executivo não pedidos), a querer ser efetuado, devia ter sido formulado no pedido primitivo, não podendo ser entendidos como normal desenvolvimento/consequência desse pedido – quando:

i. o CPC obriga a que a parte que pretenda a sua cobrança deste crédito, proceda à sua liquidação no requerimento executivo - 716.º, n.º 1 do CPC e,

ii. o CC estipula que a obrigação de juros integra uma indemnização de natureza disponível, sendo mero acessório do capital, acompanhando a natureza deste, importando o seu não pedido, a sua renúncia – 561.º do CC

13. Resultando manifesto que o que se mostra em causa nos autos não é desenvolvimento da lide nem consequência do pedido primitivo, que são, ao fim e ao cabo, as situações tuteladas pelo art.º 265.º, n.º 2 do CPC.

14. Não podendo o art. 265.º, n.º 2 do CPC servir para acobertar pedidos, que no requerimento executivo não encontram amparo, dados os expressos termos em que inicialmente o pedido foi redigido.

15. Sendo até mesmo abusivo, pedir tais juros, mais de cinco anos após ter sido instaurada a execução, quando a eles se renunciou no requerimento executivo – nada, à data, obstando ao seu pedido.

16. Tudo razões pelas quais o pedido formulado nos autos de ampliação é a nosso ver legalmente inadmissível.

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Desembargadores, nos presentes autos - substituindo, em consequência, a decisão recorrida que ordenou o pagamento da importância computada a título de juros de mora vencidos, na presente ação, desde 12/2017.

Sem conceder, por dever de patrocínio e a título subsidiário, da prescrição do exercício do direito,

18. É entendimento acolhido pela nossa jurisprudência, que “O crédito de juros não constitui um direito indisponível, e extingue-se pelas causas gerais de extinção das obrigações, estando, como tal, sujeito a prescrição.”

19. E efetivamente dispõe o art. 298.º, n.º 1 do CC que “Estão sujeitos a prescrição, pelo seu não exercício durante o lapso de tempo estabelecido na lei, os direitos que não sejam indisponíveis ou que a lei não declare isentos de prescrição.”

20. O pedido de pagamento dos juros de mora vincendos está sujeito a prazo prescricional próprio, sendo esse prazo o consagrado no artigo 310.º, al. d), do CC, a saber:

“Prescrevem no prazo de cinco anos: d) Os juros convencionais ou legais, ainda que ilíquidos, e os dividendos das sociedades;”

21. Sendo efeito da prescrição, o previsto no art. 304.º, n.º 1 do CC: “Completada a prescrição, tem o beneficiário a faculdade de recusar o cumprimento da prestação ou de se opor, por qualquer modo, ao exercício do direito prescrito.”

22. Resulta dos autos que:

a. A exequente interpelou a executada para proceder ao pagamento da garantia bancária em 16/05/2012; b. A exequente apresentou a presente execução, em 19/07/2012, por requerimento, ref. citius 8251946, pedindo o capital constante do título executivo acrescido dos juros de mora vencidos, contados desde a data de vencimento da obrigação de pagamento, até à data de entrada do requerimento executivo;

c. A exequente, só por requerimento datado de 14/12/2017, veio requerer a invocada ampliação do pedido executivo (ref. citius 17264006), quanto aos juros que se haviam vencido desde a data da apresentação do requerimento executivo até efetivo e integral pagamento.

23. Em face das datas apuradas, apenas se poderá extrair uma conclusão: na medida em que, na data em que foi apresentado em juízo o pedido subsidiário de “ampliação”, o exercício do direito de crédito ali peticionado, já se encontrava prescrito, uma vez que já tinham decorrido 5 anos, contados do momento em que o direito podia ser exercido pela exequente – pois como se referiu a obrigação de juros tem carater acessório (art. 561.º do CC) à obrigação de capital, razão pela qual assume natureza de direito disponível conforme refere o Supremo Tribunal de Justiça,

24. Ao contrário do que foi decidido no despacho recorrido, tendo a obrigação de juros carater acessório e correspondendo a direito que, em tempo (310.º CC), não foi exercido pela exequente, sempre terá de ser declarada prescrita a faculdade do exercício do direito (304.º, n.º 1 CC),

25. Estando, também por esta via, prejudicado o pedido de “ampliação” apresentado nos autos,

26. Prescrição e todos os factos que a enformam, que à cautela, subsidiariamente aqui se invocam, a fim de ser reconhecida e declarada, nos termos do art. 310.º, al. d), “ex vi” 298.º, n.º 1 do CC, indeferindo-se, em consequência, o pedido de pagamento da importância computada a título de juros de mora vencidos, na presente ação, desde a entrada do requerimento executivo.

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Sem prescindir, da nulidade do despacho recorrido:

27. Sem prejuízo de se considerar que a ampliação do pedido agora decidida em primeira instância, é legalmente inadmissível, por falta de pressupostos de facto e direito, a verdade é que sempre terá de se ter presente que a ampliação do pedido, sendo uma modificação objetiva da instância funciona, na parte do alargamento do pedido como uma nova petição inicial.

28. Tendo presente a norma remissiva do art. 551.º do CPC, que prevê a aplicação subsidiária ao processo de execução, das disposições do processo de declaração e acerca da petição inicial: diz o art. 219.º n. º1 do CPC que “a citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra ele determinada ação e se chama ao processo para se defender”.

29. No ato da citação (art. 227.º do CPC) deverá ser entregue o duplicado da petição inicial e cópia dos documentos que a acompanham comunicando-lhe que fica citado para a ação a que o duplicado se refere. 30. Diz, ainda, o n.º 2 do art. 219.º do CPCivil que “a notificação serve para, em quaisquer outros casos chamar alguém a juízo ou dar conhecimento de um facto”.

31. Revertendo para o caso concreto e ainda que o Tribunal de 1.ª instância considerasse, como considerou, que a ampliação do pedido requerida pela exequente era admissível - no que não se concede e apenas aqui se admite para efeito de elaboração de hipótese meramente académica – tendo presente que tal decisão implica uma modificação objetiva da instância, funcionando na parte do alargamento do pedido, como uma nova petição inicial, a verdade é que:

a. uma vez admitida a ampliação do pedido, sempre teria de ter sido ordenada a notificação da executada, para querendo se opor a este novo pedido, nos termos da que a lei de processo prevê.

b. tanto mais que, a CE, aqui recorrente, já procedeu ao pagamento integral da quantia exequenda.

32. Havendo, no caso, lugar a notificação e não citação pela simples razão de que a executada já foi citada no âmbito deste processo.

33. Omitindo-se a notificação da executada, para querendo, nos termos da lei de processo, opor-se à nova petição da exequente, verifica-se a falta de citação geradora de nulidade principal (arts. 187.º a), 188.º, 1, a) do CPC).

34. A falta de notificação da executada para o exercício do contraditório, no que concerne a este novo requerimento inicial, gera a nulidade dos atos posteriores à entrada do requerimento de ampliação do pedido que deste dependam essencialmente.

35. Ou seja, no caso concreto e atendendo, ainda ao art. 851º do CPC, é nula a execução, na parte que se refere ao montando ampliado, porquanto o despacho recorrido não ordenou a notificação da executada, acompanhada de requerimento da ampliação do pedido, para se opor, querendo, à referida ampliação. 36. Nulidade que aqui se invoca, para todos os legais efeitos, requerendo a V. Exas. seja declarada”. *

A recorrida/exequente contra-alegou, pugnando no sentido de ser negado provimento ao recurso, sendo mantida a decisão recorrida e tendo apresentado as seguintes conclusões:

“1. A Recorrente interpôs recurso de apelação do despacho através do qual o Tribunal a quo admitiu “a ampliação do pedido deduzida pelo exequente, mas apenas na parte referente aos juros de mora à taxa legal comercial sobre o capital indicado no requerimento executivo vencidos e vincendos a partir de

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14.12.2012 até integral pagamento.”

2. Na decisão recorrida, decidiu, e bem, o Tribunal a quo que “se é permitida durante a pendencia da execução a cumulação de pedidos fundados em títulos diferentes (art 711º do CPC), não parece que exista qualquer obstáculo a que o exequente requeira a “ampliação do pedido” com base no mesmo título, ou seja, exigir no mesmo processo, em momentos diferentes, a totalidade da dívida contida no título executivo, por maioria de razão e, até, por uma questão de economia processual.

A requerida ampliação reporta-se a um desenvolvimento do pedido inicialmente formulado e está contido nos limites definidos pelo título executivo.

Adere-se pois à jurisprudência firmada no Ac. do TRC de 22.10.2013, disponível in www.dgsi.pt, cujo sumário é o seguinte “No âmbito duma ação executiva podem ser peticionados juros vincendos (bem como, liquidados juros vencidos) no âmbito de uma ampliação do pedido”.

3. A decisão em causa não é susceptível de recurso, tendo em conta o quadro legal vigente, devendo o mesmo ser julgado inadmissível.

4. Em todo o caso, deve ser negado provimento ao recurso da Recorrente.

5. Em 19 de Julho de 2012, a Recorrida apresentou requerimento executivo contra a Recorrente, cumprindo, como lhe competia, o ónus de liquidação da quantia exequenda – na qual se incluem os juros de mora – até à data da apresentação do requerimento executivo.

6. Após julgamento definitivo da oposição à execução e tendo sido notificada da nota de liquidação do Agente de Execução, a Recorrente deduziu, em 28.11.2017, reclamação da nota de liquidação do Agente de Execução, por entender que os juros de mora vencidos após a apresentação do requerimento executivo não poderiam ser incluídos na mesma.

7. Com efeito, a Recorrente requereu que fosse subtraído ao valor ali apurado a importância computada a título de juros de mora vincendos – i.e., desde a data do requerimento executivo até à data de emissão da nota de liquidação –, em virtude de estes, alegadamente, não estarem compreendidos no título executivo e não terem sido peticionados na presente acção.

8. Em resposta a tal requerimento/reclamação, a Recorrida apresentou, em 14.12.2017, um requerimento, nos termos do qual pugnou pela improcedência da reclamação, e, à cautela, a Recorrida requereu a ampliação do pedido quanto aos juros de mora que se venceram desde a data da apresentação do requerimento executivo até efectivo e integral pagamento.

9. A obrigação de pagamento dos juros é consequência directa da mora do devedor, correspondendo à indemnização pelo incumprimento da obrigação principal.

10. No caso dos autos, verifica-se o seguinte:

i) Em 12.03.2008, a Recorrente prestou, a pedido da DLI – Distribuição e Logística para a Informática, S.A. (“DLI”), uma garantia bancária à primeira solicitação, incondicional e incondicionada, a favor da Recorrida, no montante total de € 2.000.000,00 (dois milhões de euros);

ii) Em 16.05.2012, a Recorrida interpelou a Recorrente para proceder ao pagamento de parte do montante titulado pela referida garantia bancária, mais precisamente do montante de € 1.941.803,80 (um milhão, novecentos e quarenta e um mil oitocentos e três euros e oitenta cêntimos);

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5 (cinco) dias úteis a contar da data da referida solicitação”– ao pagamento de qualquer montante à Recorrida.

11. Resulta, por isso, inequívoco que estamos perante uma obrigação vencida em 23.05.2012.

12. Não tendo a obrigação de pagamento da garantia bancária sido cumprida no seu vencimento (em 23.05.2012), são inequivocamente devidos juros de mora desde tal data (i.e., vencimento da obrigação) até efectivo e integral pagamento.

13. Resulta claríssimo do n.º 2 do artigo 703.º (anterior 46.º) do CPC que, por força da lei, os juros se encontram compreendidos no título executivo.

14. Como bem aponta o Tribunal a quo, “A pretensão da exequente decorre do título dado à execução (garantia bancária), reportando-se aos juros vincendos sobre o capital peticionado com base nessa garantia”, não havendo, assim, dúvida “de que embora a obrigação de juros seja autónoma da obrigação de capital, ambas decorrem do mesmo título executivo, in casu a garantia bancária.”

15. No requerimento executivo, a Recorrida liquidou, como lhe competia, os juros de mora vencidos até tal data, formulando, assim, um pedido líquido, afigurando-se evidente que, no caso dos juros de mora, os mesmos continuaram a vencer-se até efectivo e integral pagamento.

16. A Recorrida jamais renunciou ou abdicou do pedido de pagamento dos juros de mora vencidos após a apresentação do requerimento executivo.

17. Além de, nos termos dos artigos 703.º e 716.º do CPC, se considerarem abrangidos pelo título executivo os juros de mora, sempre a Recorrida poderia, como fez, ampliar o pedido quanto àqueles que se venceram desde a data da apresentação do requerimento executivo até efectivo e integral pagamento. 18. Isto porque, nos termos da lei aplicável e ao abrigo da economia processual, nada obsta a que a referida ampliação do pedido seja, como foi, admitida (o n.º 2 do artigo 265.º do CPC aplica-se ao processo executivo por via do disposto no n.º 1 do artigo 551.º do CPC).

19. No caso dos autos, sendo certo que estamos perante o mesmo título executivo e a mesma causa de pedir, não só a Recorrida estava em tempo (i.e., “até ao encerramento da discussão em 1.ª instância”), como podia, como fez, ampliar o pedido formulado quanto aos juros de mora vencidos após a instauração da acção executiva (por ser, claramente, o desenvolvimento ou a consequência do pedido primitivo). 20. E nem se diga que o título não prevê o pagamento de juros moratórios, pois estamos perante uma obrigação pecuniária vencida, que, por força da lei, vence juros de mora a partir do momento em que a Recorrente entrou em mora, como confessadamente sucedeu.

21. O pedido dos juros de mora vencidos após a instauração da acção executiva é claramente o desenvolvimento e consequência do pedido primitivo (obrigação de pagamento da garantia acrescido dos juros de mora vencidos até à data do requerimento executivo), falecendo em toda a linha a argumentação da Recorrente.

22. “I - Uma das modificações da instância, de caracter objectivo, que a lei permite e a possibilidade de o autor ampliar o pedido ate ao encerramento da discussão em 1 instancia, se a ampliação for o desenvolvimento ou a consequência do pedido primitivo artigo 273, n. 2 do Código de Processo Civil). II - O disposto no artigo 273, n. 2 do Código de Processo Civil e subsidiariamente aplicável, ao processo de execução, por força do disposto no artigo 801 do mesmo diploma, pois que em relação ao processo

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executivo não há disposição expressa relativa a ampliação do pedido.

III - E pois possível que, uma acção executiva em que no pedido inicial se peticiona o pagamento de quantia certa (letras aceites pelo executado e não pagas na data do vencimento), se venha posteriormente, alegando o vencimento de juros, pedir o pagamento destes, o que constitui sem duvida desenvolvimento do pedido primitivo.

IV - Essa ampliação do pedido baseia-se na mesma causa de pedir, no mesmo título executivo, nisso se distinguindo da acumulação sucessiva de pedidos (artigo 54 do Código de Processo Civil) que pressupõe a existência de mais um título.”

23. “No âmbito duma acção executiva podem ser peticionados juros vincendos (bem como, liquidados juros vencidos) no âmbito de uma ampliação do pedido.

(…)

Ora, se pode o exequente cumular pedidos (títulos executivos) contra o(s) mesmos(s) executado(s), sendo que esta cumulação tanto pode ser inicial como sucessiva, verificados que sejam os respetivos pressupostos e, enquanto não estiver extinta a execução, por maioria de razão e, por uma questão de economia processual, há que admitir a ampliação do pedido contra o mesmo executado, quando o título já dado à execução, por um lado, contenha a dívida que depois se liquida (juros vencidos) e por outro, permita, desde o início, a exigência da dívida não vencida.” (realce e sublinhado nossos).

24. “Sendo permitida no processo de execução a cumulação de pedidos ainda que fundados em títulos diferentes, não existe obstáculo a que o exequente requeira a ampliação do pedido, com base no mesmo título.” (realce e sublinhado nossos).

25. A Recorrida tinha, como fez, o direito de ampliar o pedido quanto aos juros de mora que se venceram desde a data da apresentação do requerimento executivo até efectivo e integral pagamento, na medida em que estamos perante a mesma causa de pedir e o mesmo título executivo, não estando, assim, em causa qualquer “substituição do pedido inicial”.

26. Deve, por isso, manter-se a decisão recorrida, que, do ponto de vista adjectivo, admitiu a ampliação do pedido.

27. Quanto à prescrição dos juros de mora, a tese da Recorrente não pode, uma vez mais, vingar.

28. Tendo a Recorrida intentado a presente acção executiva em 19.07.2012 – no âmbito da qual pediu e liquidou os juros de mora vencidos até tal data –, resulta evidente que não decorreu qualquer prazo prescricional,

29. Na medida em que a apresentação do requerimento executivo – sendo um acto que exprime directamente a intenção de exercer o direito, ou melhor, através do qual se exerce efectivamente tal direito – interrompeu o prazo em curso quanto aos juros de mora devidos a partir do vencimento da obrigação principal.

30. E, em todo o caso, a Recorrente, no seu requerimento de 28.11.2017, acaba por reconhecer serem devidos juros de mora após a apresentação da acção executiva, entendendo apenas que os mesmos não podem ser incluídos na nota de liquidação (i.e., “tal resultado não terá a relevância que aparenta, uma vez que não implica a perda do direito do exequente aos juros não pedidos, pois, precisamente por não terem sido pedidos, não há caso julgado sobre essa questão (art. 619º do CPC), podendo se o entender,

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peticionar esses juros em nova ação.”).

31. Assim, existiu igualmente um reconhecimento do direito da Recorrida aos juros de mora, declaração que obsta à verificação da prescrição no caso concreto, porquanto, nos termos do n.º 1 do artigo 325.º do Código Civil, “A prescrição é ainda interrompida pelo reconhecimento do direito, efectuado perante o respectivo titular por aquele contra quem o direito pode ser exercido.”

32. Por esse motivo, entende a Recorrida que não se verifica qualquer prescrição dos juros de mora, nem mesmo quanto aos que se venceram “entre data da propositura da ação executiva (19.07.2012) e 14.12.2012 (cinco anos antes do seu pedido).”

33. Deve, assim, este Tribunal de Recurso rectificar a decisão recorrida nesse sentido, admitindo a ampliação do objecto do recurso, com a consequência de admitir a ampliação do pedido de forma a que sejam incluídos os juros de mora vencidos desde 19.07.2012 até à data do efectivo e integral pagamento. 34. Caso assim não se entenda, o que não se concede e apenas por mero dever de patrocínio se admite, sempre deverá manter-se a decisão recorrida e reconhecer-se que, tendo a Exequente requerido a ampliação do pedido em 14.12.2017, apenas estariam prescritos os juros de mora vencidos entre 19.07.2012 (data da apresentação do requerimento executivo) e 13.12.2012 (i.e., até 5 anos antes do pedido de ampliação formulado em 14.12.2017).

35. Bem andou o Tribunal recorrido ao admitir a ampliação do pedido deduzida pela Exequente/Recorrida. 36. Termos em que se requer a V. Exas. se dignem negar provimento ao recurso interposto pela Recorrente, por falta de fundamento legal, mantendo, assim, a decisão que entendeu pela admissibilidade da ampliação do pedido da Recorrida quanto aos juros de mora”.

*

Em 10-12-2020 foi proferido despacho a admitir o recurso no qual o Tribunal recorrido se pronunciou sobre nulidade nos seguintes termos:

“- Entende-se que o despacho recorrido não se encontra afetado pela invocada nulidade por omissão da notificação da executada para querendo se opor a este novo pedido, o que se consigna para os efeitos previstos no art 641º nº1 do CPC.

O despacho foi precedido de contraditório quanto à pretensão nele apreciada (ampliação do pedido exequendo), e foi exatamente no exercício desse contraditório que a ora recorrente invocou a inadmissibilidade legal da ampliação do pedido e arguiu a exceção de prescrição (cf req. de 21.02.2020 referido no despacho), questões que foram apreciadas no despacho recorrido.

O requerimento de 14.12.2017 onde foi pedida a ampliação do pedido exequendo foi logo notificado à ora recorrente pela contraparte, bem como o requerimento que a contraparte apresentou no apenso D em 20.02.2020 a prescindir do prazo de reclamação para a conferencia e a pedir a remessa imediatos dos autos à primeira instancia no sentido de ser decidida a requerida ampliação do pedido, e foi na sequencia deste ultimo requerimento que a ora recorrente apresentou o requerimento de 21.02.2020 onde se pronunciou sobre a questão (arguindo a inadmissibilidade legal e a prescrição), não se compreendendo, pois, que tendo já apresentado a sua posição quanto ao “novo” pedido, (posição que foi apreciada no despacho recorrido) pretenda ser notificada pelo Tribunal para o mesmo efeito.

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inexistindo, pois, qualquer omissão de notificação prévia ao despacho suscetível de determinar a nulidade deste.”.

*

Foram colhidos os vistos legais. *

2. Questões a decidir:

Sendo o objecto do recurso balizado pelas conclusões do apelante, nos termos preceituados pelos artigos 635º, nº 4, e 639º, nº 1, do CPC - sem prejuízo das questões de que o tribunal deva conhecer oficiosamente e apenas estando adstrito a conhecer das questões suscitadas que sejam relevantes para conhecimento do objeto do recurso - , as questões a decidir são as de saber:

A) Se a decisão recorrida é nula, nos termos do artigo 615.º, n.º 1, al. e) do CPC?

B) Se o despacho recorrido - e os actos subsequentes – é nulo (artigos 187.º, al. a) e 188.º, n.º 1, al. a), 219.º, n.º 2, 227.º e 851.º do CPC), por falta de notificação da executada para, querendo, exercer o contraditório sobre o requerimento de ampliação do pedido de pagamento de juros formulada pela exequente?

C) Se a ampliação do pedido de pagamento de juros formulada pela exequente, deveria ter sido julgada inadmissível?

D) Se deveria o Tribunal recorrido declarado prescrita, nos termos do artigo 310.º, al. d), “ex vi” do artigo 298.º, n.º 1 do CC, a pretensão da exequente de pagamento de importância de juros de mora vencidos, na presente ação, desde a entrada do requerimento executivo?

E) Da ampliação do objeto do recurso pela recorrida – Se a decisão recorrida deve ser alterada, sendo admitida a ampliação do pedido de forma a que sejam incluídos os juros de mora vencidos desde 19-07-2012 até à data do efectivo e integral pagamento?

*

3. Enquadramento de facto: *

São elementos factuais relevantes para a apreciação do recurso os termos processuais constantes do relatório.

*

4. Enquadramento de Direito: *

A) Se a decisão recorrida é nula, nos termos do artigo 615.º, n.º 1, al. e) do CPC?

Na respetiva alegação, a recorrente veio invocar, incidentalmente, que “o pedido do exequente conforma o objeto do processo e condiciona o conteúdo da decisão de mérito, a proferir não podendo a executada ser condenado a pagar um valor que objetivamente, o exequente prescindiu/abdicou de pedir na ação”, aludindo, entre outros, aos normativos dos artigos 609.º e 615°, nº 1, e) do CPC, “ex vi” arts. 551.º, art. 724.º e), f) do CPC.

Nos termos do n.º 1 do artigo 615.º do Código de Processo Civil, relativo às causas de nulidade da sentença, a mesma é nula quando:

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a) Não contenha a assinatura do juiz;

b) Não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão;

c) Os fundamentos estejam em oposição com a decisão ou ocorra alguma ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível;

d) O juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento;

e) O juiz condene em quantidade superior ou em objecto diverso do pedido.

A recorrente não invoca expressamente a ocorrência da aludida nulidade, relativamente ao despacho proferido, mas, ao aludir a que o pedido do exequente conforma o objeto do processo, condicionando a decisão de mérito e ao aludir expressamente à norma do artigo 615.º do CPC, imputa implicitamente à decisão recorrida o cometimento de nulidade.

A questão de saber se o juiz condenou em quantidade superior à pedida ou em objeto diverso do formulado contende com o princípio do dispositivo.

Referia Manuel de Andrade (Noções Elementares de Processo Civil, 1976, p. 372) que “o processo só se inicia sob o impulso da parte, mediante o respectivo pedido"; "as partes é que circunscrevem o thema decidendum. O juiz não tem de saber se, porventura, à situação das partes conviria melhor outra providência que não a solicitada, ou se esta poderia fundar-se noutra causa petendi. Alguns (Calamandrei) falam aqui de correspondência entre o requerido e o pronunciado".

Surpreendem-se, pois, dois sentidos do aludido princípio: o princípio da iniciativa ou impulso processual da parte e o princípio da correspondência ou congruência entre o pedido deduzido e a decisão; não se concebe, na verdade, que, na jurisdição contenciosa cível, não haja correspondência entre o conteúdo da decisão e a vontade expressa pela parte no pedido formulado.

O princípio do pedido tem consagração expressa no n.º 1 do artigo 3.º do CPC: O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a acção pressupõe sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes. É ao demandante/autor que, naturalmente, incumbe definir a sua pretensão, requerendo ao tribunal o meio de tutela jurisdicional adequado a satisfazê-la. Será na petição inicial que o autor deve formular esse pedido – art. 552º/1, e) do CPC –, dizendo "com precisão o que pretende do tribunal – que efeito jurídico quer obter com a acção" (assim, Antunes Varela, Miguel Bezerra e Sampaio e Nora; Manual de Processo Civil, 1985, p. 234, nota 2).

É o pedido, assim formulado, que vinculará o tribunal quanto aos efeitos que pode decretar a final.

Neste sentido, dispõe o art. 609,º, n.º 1, do CPC, a sentença não pode condenar em quantidade superior ou em objecto diverso do que se pedir.

Como salienta Lopes do Rego (“O princípio do dispositivo e os poderes de convolação do juiz no momento da sentença”, in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor José Lebre de Freitas, vol. I, Coimbra Editora, Coimbra, 2013, p. 788) “não suscita, em regra, problema relevante a existência de um limite quantitativo à decisão de mérito”.

Já assim não sucede, porém, relativamente ao limite qualitativo.

“O processo civil é obviamente regido pelo princípio dispositivo: a iniciativa do processo e a conformação do respectivo objecto incumbem às partes; pelo que – para além do processo só se iniciar sob o impulso do

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autor ou requerente – tem este o ónus de delimitar adequadamente o thema decidendum, formulando o respectivo pedido, ou seja, indicando qual o efeito jurídico, emergente da causa de pedir invocada, que pretende obter e especificando qual o tipo de providência jurisdicional requerida, em função da qual se identifica, desde logo, o tipo de acção proposta ou de incidente ou providência cautelar requerida.

Daqui decorre naturalmente um princípio de correspondência ou congruência entre o pedido deduzido e a pronúncia jurisdicional obtida pela parte, devendo o decidido pelo juiz adequar-se às pretensões formuladas, ser com elas harmónico ou congruente, sob pena de se verificar a nulidade da sentença por excesso de pronúncia” (cfr. Lopes do Rego; “O princípio do dispositivo e os poderes de convolação do juiz no momento da sentença”, in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor José Lebre de Freitas, vol. I, Coimbra Editora, Coimbra, 2013, p. 789).

Assim, quanto ao conteúdo, a sentença deve ater-se aos limites definidos pela pretensão formulada na acção, o que é considerado "núcleo irredutível" do princípio do dispositivo (assim, Antunes Varela, Miguel Bezerra e Sampaio e Nora, Ob. Cit., p. 657).

É a essa pretensão assim definida que o tribunal está adstrito, não podendo decretar um outro efeito, alternativo, apesar de legalmente previsto.

Como afirma Paula Costa e Silva, "o acto (postulativo) tem não só uma eficácia vinculante para o tribunal, como também uma função delimitadora da actuação do tribunal"; esse acto tem uma "função constitutiva insubstituível" (Acto e Processo - O Dogma da Irrelevância da Vontade na Interpretação e nos Vícios do Acto Postulativo; Coimbra Editora, 2003, p. 263.).

É o princípio do pedido, como sublinha a mesma Autora, que "determina que o tribunal se encontra vinculado, no momento do proferimento da decisão, ao decretamento das consequências que o autor do acto postulativo lhe requerera. Não pode decidir-se por um maius, nem por um aliud" (ob. Cit., p. 583). Procurando determinar as “exactas balizas” à actuação nesta sede do juiz, admitindo casos de convolação do objecto do pedido para a providência ou efeito jurídico judicialmente decretado, tido como mais adequado aos interesses em confronto e à justa composição do litígio, Lopes do Rego (“O princípio do dispositivo e os poderes de convolação do juiz no momento da sentença”, in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor José Lebre de Freitas, vol. I, Coimbra Editora, Coimbra, 2013, p. 790) identifica, algumas situações particulares, designadamente, as referenciadas nos n.ºs. 2 e 3 do artigo 609.º e do n.º 3 do artigo 376.º do CPC, concluindo, todavia, que inexiste um princípio geral de adequação da sentença ao pedido.

Mas, ao invés, quanto ao pedido, refere o mesmo Autor (ob. Cit., p. 796) que “o que identifica a pretensão material do autor, o efeito jurídico que ele visa alcançar, enquanto elemento individualizador da acção, é o efeito prático-jurídico por ele pretendido e não a exacta caracterização jurídico-normativa da pretensão material, a sua qualificação ou subsunção no âmbito de certa figura ou instituto jurídico, sendo lícito ao tribunal, alterando ou corrigindo tal coloração jurídica, convolar para o decretamento do efeito jurídico adequado à situação litigiosa, sem que tal represente o julgamento de objecto diverso do peticionado”. Contudo, como salienta Lopes do Rego (ob. Cit., p. 796), nesse caso, não será possível ao julgador atribuir ao autor bens ou direitos materialmente diferentes dos peticionados, não sendo de admitir a convolação sempre que entre a pretensão formulada e a que seria adequado decretar judicialmente exista uma

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