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abrigo do disposto no artigo 207. do Código da Propriedade

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Cópias da sentença do 9.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa e do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferidos no processo de registo de marca nacional n.° 231 919.

Jotocar - Indústria de Mobiliário, S. A., vem interpor recurso do despacho do director de serviços do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, de 6 de Novembro de 1991, que concedeu o registo de marca n.° 231 919, Epeda, alegando que a recorrente há cerca de 40 anos comercializa colchões Epeda, uma vez que a detentora da marca internacional n.° 145 784, Epeda, a Epeda Werke Rudolf Platte & Co., autorizou a recorrente a comer- cializar a marca, autorização essa sempre concedida verbalmente.

No entanto, um antigo administrador da recorrente, com pleno conhecimento do acima referido, pediu, em 9 de Outubro de 1985, em nome da empresa que constituiu para esse efeito em 4 de Outubro de 1985, com a denominação Epeda - Empresa Produtora de Equipamentos para Decoração, o registo da marca Epeda para diversos produtos, entre os quais colchões, a fim de negociar a mesma com a recorrente, sendo que a sociedade continua sem actividade.

Mais alega que ao tempo em que tal marca foi requerida ainda vigorava a marca internacional que veio a caducar em Julho de 1991 por falta de apresentação da declaração da intenção de uso por parte da empresa alemã. Tal facto permitiu ao referido antigo administrador Mário Rodrigues obter a concessão da marca n.° 231 919, tendo então entrado em contacto com a recorrente, propondo-lhe a venda da marca por preço exorbitante e ameaçando-a com a venda da marca a outra empresa e que ele próprio iria também comercializar colchões Epeda.

Conclui por isso a recorrente que se trata de um caso de concorrência desleal, pelo que o despacho recorrido viola o disposto nos artigos 212.° e 187.°, n.° 4, do Código de Processo Civil, pelo que deverá ser revogado.

Veio o Instituto Nacional da Propriedade Industrial responder no sentido de, a considerarem-se provados os factos alegados pela recorrente, ser atendido o recurso interposto.

Veio também a sociedade recorrida apresentar articulado em que contesta os factos articulados pela recorrente e requer a sua intervenção principal.

Admite que a recorrente comercializa há mais de 30 anos colchões de molas, produzidos por uma máquina comprada em tempos à firma alemã Platte e Co.

Admite também ter havido negociações em Dezembro de 1991 entre a recorrente e a correspondente no sentido de aquela adquirir os direitos emergentes do registo da marca Epeda, bem como uma das empresas de Mário Rodrigues. No entanto, tais negociações não se chegaram a firmar por não ter sido proferida decisão final relati- vamente à reclamação e recurso dos direitos derivados do registo da marca Epeda em Portugal, face aos direitos concedidos à empresa francesa Epeda, S. A.

Admite também que ainda não iniciou a sua actividade mercantil, pelo que não poderia ter praticado quaisquer actos indiciadores de concorrência desleal relativamente à recorrente.

Alega ainda que o uso da marca Epeda não constitui um direito próprio da recorrente, mas sim da Platte & Co., pelo que a recorrente não tem interesse directo no objecto do despacho recorrido.

Defende-se ainda alegando que a recorrente só poderia obter provimento caso tivesse demonstrado a concorrência desleal, tal como vem definida no artigo 212.° do Código de Processo Civil e que constitui crime previsto e punido pelo artigo 213.° Ora, a respondente jamais foi pronunciada ou condenada pela prática de qualquer crime de concor- rência desleal, nem o poderia ser por se tratar de pessoa colectiva.

Conclui pela manutenção do despacho recorrido. A recorrente veio responder, opondo-se ao pedido de intervenção, admitindo-se a resposta por banda da socie- dade, no âmbito do disposto no artigo 207.° do Código da Propriedade Industrial. Opõe-se igualmente ao pedido de apresentação de prova testemunhal por falta de fundamento legal.

Decidindo:

I - É evidente que a sociedade Epeda pode, ao abrigo do disposto no artigo 207.° do Código da Propriedade In- dustrial, deduzir articulado.

O que não pode é, obviamente, requerer a sua inter- venção principal, além do mais porque tal pedido é desnecessário. Daí que se admita o articulado da Epeda ao abrigo do disposto no artigo 207.° do Código da Proprie- dade Industrial.

Por outro lado, estando em instância de recurso, não pode haver lugar à produção de prova testemunhal. Aliás, o Código da Propriedade Industrial não prevê a produção de prova oral, como resulta, designadamente, do disposto no artigo 207.° do Código da Propriedade Industrial.

Indefere-se, pois, o pedido de inquirição de testemunhas por falta de fundamento legal.

II - Quanto ao fundamento de interposição de recurso. O presente recurso funda-se na concorrência desleal. Dispõe o artigo 187.°, n.°4.°, do Código da Propriedade Industrial que é fundamento de recusa de patente, depósito ou registo o reconhecimento de que o requerente pretende fazer concorrência desleal ou que esta é possível, indepen- dentemente da sua intenção.

Do corpo do artigo 212.° do Código da Propriedade Industrial consta que constitui concorrência desleal todo o acto de concorrência contrário às normas e usos honestos de qualquer ramo de actividade económica.

No primeiro caso estamos perante uma norma aplicável pela Administração que nada tem a ver com a imputação de qualquer ilícito penal, pelo que não há aqui qualquer inconstitucionalidade: se se verificarem factos de onde resulte que é possível a existência de concorrência desleal, então deve ser recusado o registo de marca.

Diferentemente, o artigo 212.° do Código da Propriedade Industrial trata do ilícito penal, exigindo-se aqui o dolo, sendo, aliás, da competência do tribunal criminal, e não do cível, a apreciação de tal matéria.

Aí é óbvio que só as pessoas singulares poderão ser responsabilizadas criminalmente.

Já assim não sucede no caso do artigo 187.°, n.°4.°, do Código da Propriedade Industrial, que, de sentido mais amplo, envolve não só a situação prevista no artigo 212.°, como ainda, independentemente do dolo, a constatação de que, ao dar-se protecção a determinada marca, poder-se-á criar uma situação de concorrência desleal.

Importa, pois, saber quem pode fazer uso deste norma- tivo legal e ainda em que termos se define concorrência desleal.

De acordo com a jurisprudência e doutrina dominantes, o preceito em questão destina-se aos casos em que o nome

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que se pretende registar se confunde com o nome não registado (cf. Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, pp. 306/308 e 244, vol. i).

Aliás, só assim fará sentido a existência deste normativo. O bem jurídico directamente protegido pela norma do artigo 187.°, n.° 4.°, não é uma das várias formas de propriedade industrial tuteladas pelo Código (marca, nome, etc.), mas o próprio estabelecimento em si, que se deve proteger contra a concorrência desleal.

Diferentemente, por exemplo, no disposto no artigo 93.°, n.°4.°, do Código da Propriedade Industrial, tutela-se o direito à marca registada em todas e quaisquer circuns- tâncias, independentemente da verificação de qualquer prejuízo.

Desde que se chegue à conclusão de que há imitação da marca registada por outrem para o mesmo produto, então o registo deve ser recusado. O mesmo se poderá dizer, designadamente, para o nome (artigo 144.°, n.° 7.°, do Código da Propriedade Industrial), em que basta a existên- cia de nomes, designações, que sejam reprodução ou imitação de outros já registados.

No caso do artigo 187.°, n.° 4, do Código da Proprie- dade Industrial, visa-se proteger o titular de um nome não registado ou registado fora da área em que ele bene- ficie da exclusividade ou ainda o utente de um nome cujo registo já caducou, estando tal protecção condicionada à prova de que o requerente do registo pretende fazer concorrência desleal ou de que o registo poderá propiciar essa concorrência, ainda que essa não seja a intenção do requerente.

Como diz Ferrer Correia, enquanto no caso do disposto no artigo 144.°, n.° 7.° do Código da Propriedade Industrial, o titular pode proibir o uso a outrem simplesmente com base no facto objectivo de violação do exclusivismo e independentemente da ocorrência de um dano, no segundo é necessária essa ocorrência ou, pelo menos, a possibilidade de tal ocorrência, que faz presumir que o requerente esteja animado da intenção de fazer tal concorrência.

Daqui se conclui que a recorrente tem legitimidade para, no presente caso, interpor recurso dos autos.

III - Vejamos então se ficam preenchidos os pressu- postos que integram o disposto no artigo 187.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial.

São requisitos deste artigo que o nome a registar seja reprodução ou imitação de sinal congénere correspondente ao estabelecimento de um concorrente susceptível de provocar confusão entre os dois sinais. Se essa confusão acarretar prejuízos para a empresa do recorrente, por poder alienar-lhe a clientela, e se for provável que o requerente venha a aproveitar-se dessa confusão de modo não conforme aos usos honestos e à boa fé do comércio, então há concorrência desleal.

No caso dos autos está provado que há mais de 30 anos que a recorrente comercializa colchões de molas fabricados com máquinas adquiridas à firma alemã Platte e Co., que teve registada em Portugal em seu nome a marca Epeda, com o n.° 145 789, que caducou em 1991.

Está também provado que sempre a Jotocar, que sucedeu à Fábrica Portugal, S. A. R. L., comercializou em Portugal os referidos colchões sob a marca Epeda. Todos estes factos resultam dos documentos a fls. 16 e seguintes dos autos e são, aliás, aceites pela respondente.

Também se mostra assente que um dos sócios da respondente, constituída em 4 de Outubro de 1985 (cf. do- cumento a fls. 130 e segs.), foi administrador da recorrente,

de nome Mário Rodrigues, e que em 9 de Outubro de 1985 requereu a marca n.° 231 919, que só lhe foi concedida em 6 de Novembro de 1991 porque, entretanto, caducou a registada pela empresa alemã.

Está assente, por confissão, que a sociedade respondente não exerceu desde a sua constituição, e até ao presente, qualquer actividade.

É matéria provada que, após ter tido conhecimento de que era titular da marca recorrida, foram efectuadas negociações entre o sócio da respondente Mário e a recorrente, fazendo parte destas negociações a cedência da marca Epeda mediante contrapartida financeira.

Ficou também provado que, caso não se chegasse a acordo, era intenção do sócio gerente da recorrida ceder os direitos da marca a outra empresa ou explorar direc- tamente a marca comercial, para colchões de mola, fabricados ou não pela respondente Epeda.

Estes os factos essenciais que se acham provados. IV - Daqui se conclui que a marca cujo registo se requereu é imitação da usada ou, melhor, é a mesma da usada pela recorrente há mais de 30 anos.

Não pode também haver dúvidas de que o uso da marca pela respondente induz facilmente em erro ou confusão o consumidor, uma vez que nada permite distingui-las.

Portanto, o uso da marca pela requerente é susceptível de provocar confusão entre as duas marcas. Passando a marca Epeda a ser comercializada pela respondente, tal comercialização acarreta um prejuízo à empresa recorrente por poder retirar-lhe a clientela, sendo certo que o requerente, embora ainda não tenha comercializado tais colchões, o venha a fazer, como confessa no documento junto com o seu articulado a fl. 200, aproveitando-se dessa confusão.

Tais actos, quer se consubstanciem na exploração directa quer na cedência dos direitos de marca a outrem (incluindo a recorrente) a troco da compensação pecuniária («bastante superior» à que terá sido sugerida pela recorrente), são obviamente de repudiar porque contrários aos usos honestos do comércio, tudo fazendo presumir que o requerente está animado da intenção de fazer concorrência desleal, usando em seu proveito a marca Epeda, que, como sabia, era usada pela recorrente há mais de 30 anos e da qual vem retirando compensação pecuniária ao longo dos anos.

Face a tudo o que exposto fica, concede-se provimento ao recurso interposto e, consequentemente, revoga-se o despacho recorrido, que concedeu o registo à marca Epeda, n.°231 919, a favor da Epeda, L.da

Custas pela respondente Epeda, L. da

Lisboa, 21 de Dezembro de 1993. - A Juíza de Direito, (Assinatura ilegível.

Está conforme.

Lisboa, 21 de Outubro de 1996. - A Escrivã-Adjunta, (Assinatura ilegível.)

Cópia do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

- Relatório

Jotocar - Indústrias de Mobiliário, S. A., recorreu do despacho do director de serviços do Instituto Nacional da

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Propriedade Industrial que concedeu o registo da marca n.° 231 919, Epeda, requerido pela Epeda - Empresa Produtora de Equipamento para Decoração, L.da

Por sentença do 9.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa foi dado provimento ao recurso.

Dela a presente apelação, tendo a requerente Epeda - Empresa Produtora de Equipamento para Decoração, L.da, na alegação para ela, produzido 68 conclusões, que, sem quebra da sua essência, abordam os seguintes temas:

a) A apelada nunca conseguiu registar a marca Epeda para colchões (conclusões 7 .ª a 14.ª, 21.ª a 23.8);

b) A marca Epeda para colchões tornou-se marca livre a partir de Julho de 1991 (conclusões 5.ª e 6.a);

c) A marca não registada (marca de facto) não é objecto de protecção jurídica (conclusões 1.ª a 4.ª); d) Não há concorrência desleal (conclusões 14.ª, 16.ª

a 20.ª, 26.ª, 40.ª, 50.ª a 68.ª);

e) A situação financeira de pré-falência ou de falên- cia da apelada (conclusões 41.ª a 48.ª).

Douta e extensamente, a apelada pugna pela inalterabi- lidade da sentença recorrida.

O digno procurador-geral distrital emite parecer no sentido da confirmação desta.

II - Documentos juntos com as alegações

1 - Porque as conclusões formuladas pela apelante - que, como é sabido, balizam objectivamente o poder de cognição desta instância de recurso (artigos 684.°, n.° 3, e 690.°, n.° 1, do Código de Processo Civil) - se dirigem prioritária e essencialmente a pôr em crise a decisão de direito - inexistência de concorrência desleal - em que assenta a decisão recorrida, impõe-se que as apreciemos nessa vertente.

Porém, importa focar que as apelante e apelada juntaram, com as respectivas alegações para esta apelação, os documentos a fls. 295 a 305 e 355 (apelante) e 349 a 351 (apelada).

Documentos esses que são fotocópias da correspondência trocada entre a apelada e técnicos de marcas e patentes, de declarações e depoimentos de pessoas ligadas às empresas e de um auto de inquirição em processo de arresto.

Temos para nós que tais documentos são irrelevantes, já que a sua junção é intempestiva.

2 - Com efeito, segundo o disposto no artigo 706.°, n.° l, do Código de Processo Civil:

As partes podem juntar documentos às alegações [...] no caso de a junção apenas se tornar necessária em virtude do julgamento proferido na 1.ª instância. Entendemos que o(s) documento(s) se torna(m) neces- sário(s) só por virtude desse julgamento, quando a decisão se tenha baseado - n a parte aqui com interesse - em preceito jurídico com cuja aplicação as partes justi- ficadamente não tivessem contado - cf., neste sentido, Antunes Varela, Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 115.°, p. 95.

Com a sua habitual e invulgar mestria, Antunes Varela, explicitando o seu pensamento, ensina que «[...] a lei não abrange a hipótese de a parte se afirmar surpreendida com o desfecho da acção (ter perdido, quando esperava obter ganho de causa) e pretender com tal fundamento juntar à alegação documento que já poderia e deveria ter apre- sentado na 1.ª instância. O legislador quis manifestamente cingir-se aos casos em que, pela fundamentação da sentença ou pelo objecto da condenação, se tornou necessário provar factos com cuja relevância a parte não podia razoavelmente contar antes de a decisão ser proferida» - cf. Manual de Processo Civil, pp. 533 e 534; cf., sobre o tema, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 4 de Dezembro de 1979, no Boletim do Ministério da Justiça, n.°292, p. 313, e de 3 de Março de 1989, no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 385, p. 545.

3 - Passando do campo dos princípios à sua aplicação prática ao caso vertente, temos como incontroverso ter a decisão recorrida como único suporte fáctico-jurídico a existência de concorrência desleal (artigo 187.°, n.°4.°, do Código da Propriedade Industrial).

Nem a apelante, diga-se, sustenta agora o contrário, uma vez que o que pretende com a junção dos preditos documentos é precisamente afastar aquela.

Simplesmente, o fundamento jurídico-normativo do recurso interposto para o 9.° Juízo Cível já assentava - e só assentava - n a concorrência desleal potenciada pela concessão do registo.

Daí que a sentença recorrida - servindo-nos das pala- vras de Antunes Varela, Revista, cit., ano 115.°, p. 95 - não tivesse criado, pela primeira vez, a necessidade de junção de tais documentos.

Por tudo isto, entendemos que a junção dos documentos, que ora nos ocupa e preocupa, não resulta -e, note-se bem, não resulta apenas - da posição jurídica assumida na sentença recorrida.

III - Os factos

4 - Posto isto, consideramos provados os seguintes factos:

a) Há mais de 30 anos a recorrente Jotocar -Indús- trias de Mobiliário, S. A., comercializa colchões Epeda;

b) A empresa alemã Epeda - Werke Rudolf Platte GmbH & Co. foi titular em Portugal da marca n.° 145 784, Epeda;

c) O registo desta marca caducou em Julho de 1991; d) A referida Jotocar sucedeu à Fábrica Portugal,

S. A. R. L.;

e) Sempre a Jotocar comercializou em Portugal col- chões da marca Epeda;

f) A Epeda - Empresa Produtora de Equipamento para Decoração, L.da, foi constituída em 4 de Outubro de 1985;

g) Após obter o registo da marca de colchões Epeda, a apelante iniciou negociações com a Jotocar, S. A., a fim de ceder a comercialização de tal marca, mediante contrapartida financeira; h) No caso de se gorarem tais negociações, era

intenção da Epeda ou ceder o uso de tal marca a outra qualquer empresa ou explorar directamente a marca comercial para colchões de molas, fabri- cados ou não por si.

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IV - O direito

5 - Antes de tudo, por a apelante ter resolvido pro- duzir um conjunto numeroso de «conclusões», importa tecer breves comentários sobre a natureza e função destas.

Lapidarmente, Alberto dos Reis assevera que o ónus de concluir (artigo 690.°, n.° 1, do Código de Processo Civil) se satisfaz «pela indicação resumida dos fundamentos por que se pede a alteração ou anulação da sentença ou despacho», ou, mais simplesmente, «pela enunciação abreviada dos fundamentos do recurso» - Código de Processo Civil Anotado, v, p. 359.

Portanto, as conclusões consistem na enunciação, em forma abreviada, dos fundamentos ou razões jurídicas com que se pretende obter o provimento do recurso - cf., neste sentido, Rodrigues Bastos, Notas ao Código de Processo Civil, III, p. 299, e os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 2 de Fevereiro de 1984, no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 334, p. 401, e da Relação de Lisboa, de 8 de Novembro de 1990, na Colectânea de Jurisprudência, v, 109.

Forma abreviada que, seguramente, não corresponde a uma forma resumida de apresentar as conclusões.

De facto, não se trata, nelas, de mencionar, em resumo, os fundamentos do recurso, mas antes de apresentar estes de modo que o tribunal superior, rápida e mais facilmente, apreenda os fundamentos do recurso constantes da parte expositiva da alegação.

Ora, vendo as coisas a esta luz, logo ressalta que as «conclusões» por nós agrupadas nas alíneas a) e b) - cf. relatório deste -, bem como as referentes às nego- ciações (conclusões 37.ª a 39.ª), sendo, como são, meras descrições de factos - dados, aliás, como provados -, não enunciam, em boa verdade, quaisquer fundamentos do recurso.

O mesmo se diga também das «conclusões» referentes a documentos ( 10.ª, 16.ª, 20.ª e 29.ª) e às actuações dos gerentes da apelante (30.ª a 36.ª) e apelada (conclu- sões 24.ª, 25.°, 27.ª e 28.ª), totalmente irrelevantes para a decisão deste recurso.

E para ver que assim é, basta lê-las.

6 - À semelhança do que dissera na sua resposta, a apelante continua a defender que a marca não registada (a marca de facto) não é objecto de protecção jurídica.

Simplesmente, esta afirmação não se mostra minima- mente justificada, revelando-se totalmente infundada.

Efectivamente, sendo certo que só a marca registada goza de protecção específica do direito, certo é também que a marca não registada (ou marca de facto) suscita protecção legal não só no quadro da concorrência desleal (artigos 187.°, n.°4.°, e 212.° do Código da Propriedade Industrial), como também no âmbito da marca notória (artigo 122.°, n.°4.°, do Código da Propriedade Industrial; artigo 6.° da Convenção de Paris) - cf., neste sentido, Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, I, p. 338, Pupo Correia, Direito Comercial, p. 257, e o Acórdão do Su- premo Tribunal de Justiça de 1 de Junho de 1994, Colectânea de Jurisprudência, II, pp. 124-125.

Portanto, o titular de marca de facto goza de alguma protecção jurídica, podendo opor-se ao registo de marca idêntica ou semelhante, no âmbito da concorrência desleal (artigos 187.°, n.°4.°, e 212.° do Código da Propriedade Industrial).

7 - Sem dúvida que a questão nuclear deste recurso gira à volta do instituto da concorrência desleal.

Como se sabe, esta, em toda a sua extensão e intenção, pode conferir uma protecção mesmo a titulares de marcas não registadas (marcas de facto) - cf., neste sentido, Ferrer Correia, Lições, cit., I, p. 338, e Pupo Correia, Direito Comercial, p. 272.

É certo que essa protecção não decorre directamente da existência de um direito específico sobre ela, mas indi- rectamente do instituto da concorrência desleal.

Na verdade, segundo o disposto no n.° 4.° do artigo 187.° do Código da Propriedade Industrial, o registo será recusado quando se reconheça que «o requerente pretende fazer concorrência desleal ou que esta é possível indepen- dentemente da sua intenção».

Entende-se que o bem jurídico directamente protegido não é verdadeiramente nenhum dos tipos legais de propriedade industrial, mas a própria empresa - cf., neste sentido, Ferrer Correia, Revista de Direito e Estudos Sociais, ano 6.° (1950), p. 131.

Por isso, o recurso à concorrência desleal está aberto mesmo a quem não seja titular de qualquer - único aqui com interesse - marca registada.

Daí que o titular de marca de facto possa opor-se ao registo de marca idêntica ou afim, reagindo, deste modo, contra quaisquer actos de concorrência desleal decorrentes do registo.

8 - Como se sabe, na concorrência desleal entra todo o acto ou omissão não conforme aos princípios da boa fé empresarial susceptível de causar prejuízo à empresa de um concorrente, pela captação ou desvio da sua clientela - cf., neste sentido, Ferrer Correia, Op. cit., p. 139, Pupo Correia, Direito Comercial, p. 273, e Carlos Olavo, «Propriedade Industrial», Colectânea de Jurisprudência,

1987, 4, 13.

Sendo assim, logo se vê que a concorrência desleal se pode afirmar, independentemente de se verificar, ou não, por um lado, dano efectivo e, por outro lado, a intenção da empresa concorrente.

Por isso, sempre a situação económica da apelada ou (e) a falta de intenção da apelante - agitadas por esta na sua alegação - se mostrariam aqui inertes.

Aliás, não existem nos articulados do presente processo nem nas alegações para este recurso quaisquer elementos que permitam conhecer da possível operosidade de uma e outra.

9 - Volvendo a nossa atenção para o caso vertente, temos, por um lado, que a utilização pela apelante da marca Epeda para colchões iria claramente provocar confusão no público consumidor.

Com efeito, os colchões Epeda, a serem produzidos e comercializados por ambas as empresas, apareceriam aos olhos do consumidor como produtos idênticos ou aproxi- mados, provindos do mesmo produtor.

Além disso, temos também como certo que a confusão assim estabelecida entre as duas empresas não deixaria de provocar danos à apelada, diminuindo-lhe (ou podendo diminuir-lhe) alguma clientela.

Por outro lado, um tal acto concorrencial não deixaria de constituir uma violação objectiva da consciência ética das empresas deste segmento industrial.

Tanto basta - cremos - para se afirmar a concorrência desleal.

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10 - Demonstrado que se verificam os pressupostos da concorrência desleal, justificada está a bondade da decisão recorrida, ao recusar o registo da predita marca.

E isto, como vimos nos precedentes números, sem que se mostrem desrespeitadas as normas dos artigos 187.°, n.° 4.°, e 212.° do Código da Propriedade Industrial.

V - Decisão 11 - Nos termos expostos, decide-se:

Negar a apelação;

Confirmar a decisão recorrida; Condenar nas custas a apelante.

Transitado, desentranhem-se e entreguem-se os do- cumentos referenciados na parte II, n.° 1, deste.

Lisboa, 7 de Dezembro de 1994. - (Assinaturas ilegí- veis. )

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