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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A VIDA UNIVERSITÁRIA E IDENTIDADE DISCENTE

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A VIDA UNIVERSITÁRIA E

IDENTIDADE DISCENTE

Ariane Franco Lopes da Silva1 - UFFS/CIERS-ed Lísia Regina Ferreira Michels2 - UFFS Marisol Vieira Melo3 - UFFS Grupo de Trabalho – Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: CNPq/CAPES Resumo

A pesquisa investiga as representações sociais sobre vida universitária e identidade discente de 63 estudantes universitários do terceiro e do sexto semestres do Curso de Pedagogia de uma universidade federal no estado de Santa Catarina. Com o suporte da teoria das representações sociais idealizada por Serge Moscovici (1978, 2001, 2003), o objetivo da pesquisa é identificar os desejos, motivações, desafios e expectativas em relação ao curso, compreender a cultura universitária e acessar o que se pensa sobre ser universitário. A pesquisa toma como foco a perspectiva do aluno e os possíveis efeitos deste modo de ver a experiência universitária no seu desempenho acadêmico e nas decisões acerca de sua permanência ou não no curso. Inicialmente, foi aplicado um questionário de perfil. Em seguida, foi aplicado o teste de associação livre de palavras (ALP) com temas indutores relativos à identidade discente e à universidade. Posteriormente, os sujeitos participaram do teste de complemento de frases, responderam a uma questão sobre o relacionamento com colegas de classe e participaram do teste de identificação de imagens, associando afirmativas sobre temas relativos à vida universitária a diferentes níveis de satisfação expressos por três

emotions. As respostas a esses instrumentos foram tratadas pela análise de conteúdo proposta

por Bardin (1977), exceto os dados obtidos com a ALP que foram tratados pelo software Evoc (2000). Foi possível observar que a vida universitária esteve associada à dimensão profissional e formativa na turma do terceiro semestre, mas que a dimensão afetiva e social sobressaiu à dimensão profissional e formativa na turma do sexto semestre. Este estudo contribuiu para a compreensão das diferentes representações em construção sobre a vida

1

PhD em Educação, University of Cambridge - Inglaterra. Pós-Doutora em Educação, Psicologia da Educação: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora Adjunta da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Pesquisadora Associada da Fundação Carlos Chagas - CIERS-ed. E-mail: ariane.l.silva@uffs.edu.br.

2

Doutora em Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor Adjunto da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Realiza estudos em Psicologia da Educação com a temática da inclusão. E-mail: lisia.michels@uffs.edu.br.

3

Doutora em Educação, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP). Professora Adjunta da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Realiza estudos em Educação Matemática com a temática da formação de professores que ensinam matemática.E-mail: marisol.melo@uffs.edu.br.

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universitária e a identidade discente e dos possíveis fatores que impactam na evasão e os que colaboram para a permanência na universidade.

Palavras-chave: Representações sociais. Vida universitária. Identidade discente. Evasão universitária. Permanência na universidade.

Introdução

O movimento de expansão do acesso ao ensino superior público brasileiro foi iniciado no ano de 2003 com a criação de novas universidades federais. Em 2007, foi implantado um programa do Governo Federal de apoio aos planos de reestruturação e expansão das universidades federais do Brasil, conhecido como REUNI. Nesta perspectiva de expansão e interiorização do Ensino Superior Público, 17 universidades federais foram implantadas, totalizando 63 instituições. Dentre estas, destaca-se a universidade onde foi desenvolvida a presente pesquisa. Entretanto, os dados de evasão são preocupantes, com aproximadamente 70%, no ano de 2010, e 35%, em 2013. Apesar da diminuição da evasão, segundo o Relatório de Evasão nos Cursos de Graduação (2014), o nível continua expressivo, o que merece um estudo mais aprofundado sobre essa problemática e suas possíveis causas. Entende-se que, para o êxito da política de expansão universitária, não basta facilitar o acesso do jovem à universidade, mas é preciso também mantê-lo inserido na instituição e oferecer uma educação e formação profissional de qualidade. Portanto, faz-se necessário investigar com maior profundidade o que os estudantes pensam sobre a vida universitária e sobre a sua identidade discente e identificar os desejos, motivações, desafios e expectativas em relação ao curso. Pois, parte-se do princípio que esse pensar, assim como as expectativas e necessidades elencadas pelos sujeitos, tenham um efeito no seu desempenho acadêmico, na maneira como interagem com colegas e professores e, possivelmente, na sua permanência no curso.

A evasão pode ser compreendida a partir de três esferas: o comportamento e as particularidades do estudante, a instituição de ensino com suas características e estruturas, e a própria sociedade nas suas maneiras de acolher os cursos de graduação (ADACHI, 2009). A problemática da evasão será tratada segundo a primeira das esferas identificadas por Adachi (2009), ou seja, o comportamento e as particularidades dos estudantes. Portanto, a pesquisa propõe tomar como foco a perspectiva do aluno universitário sobre a sua vida acadêmica, sobre sua identidade discente e sobre a universidade e procurar compreender os possíveis efeitos deste modo de ver a experiência universitária no desempenho acadêmico e na evasão.

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O presente estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla que tem por objetivo compreender as representações sociais de universidade, de ser estudante e de vida universitária construídas por estudantes, ingressantes e concluintes, matriculados nos nove semestres do Curso de Pedagogia de uma universidade federal. Entretanto, essa pesquisa traz um recorte desse estudo maior, apresentando os resultados de algumas etapas da pesquisa obtidos com o terceiro e o sexto semestres do curso de pedagogia. A proposta é desenvolver uma investigação qualitativa e comparativa dos resultados obtidos nas turmas desses dois semestres.

A análise das representações sociais sobre os tópicos elencados acima nos permite explicar o contexto em que foram produzidas essas representações, suas estruturas e a organização de seus elementos. Permite também compreender como esses estudantes articulam os conhecimentos de senso comum sobre ser estudante, com os adquiridos na universidade sobre ser acadêmico. Nesse sentido, a identidade discente torna-se um tema de reflexão e debate, pois ela teria um impacto não só na formação acadêmica como também no desenvolvimento social e profissional dos estudantes. A construção dessa identidade poderia também contribuir para a vivência acadêmica e para o enfrentamento dos desafios que ela impõe aos estudantes. A forma como eles percebem a identidade discente e os valores atribuídos à experiência acadêmica poderiam estar implicados nos níveis de evasão, que são atualmente bastante expressivos. A vida universitária, os hábitos de estudos e as formas de relacionamento dos estudantes com seus pares e professores tornam-se temas de reflexão e debate, pois teriam um impacto nos processos de formação.

Parte-se do pressuposto que acessar o que esses sujeitos pensam sobre a vida universitária, sobre universidade e sobre a sua identidade discente auxiliará na compreensão dos fatores que podem estar contribuindo para a permanência e para a desistência na instituição de ensino superior. Portanto, a pesquisa levanta questões consideradas importantes para se compreender melhor a passagem pela universidade, identificando os pontos positivos e os problemáticos e sugerindo alternativas e soluções: Como os alunos em diferentes fases do Curso de Pedagogia se identificam com a vida acadêmica? Como é construída a identidade discente? Como os estudantes percebem a relação entre seus pares em sala de aula? Como enxergam a sua universidade e as implicações do curso superior na vida profissional?

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Referencial teórico

A Teoria das Representações Sociais, idealizada por Serge Moscovici (1978, 2001, 2003) oferece o suporte teórico e metodológico para esse estudo. As representações sociais são definidas como “um conjunto de conceitos, proposições e explicações originados na vida cotidiana no curso das comunicações interpessoais” (MOSCOVICI, 1978, p. 181) e têm suas origens nas relações entre as pessoas, sendo portanto, enraizadas nos contextos sociais que as engendram. Assim, com referência ao uso da teoria para explicar fenômenos sociais, é importante considerar a condição de produção das representações e conhecer quem as produziu (JODELET, 2001).

Segundo Moscovici (2003), no processo de ancoragem das representações, objetos, pessoas e fatos sociais são classificados em categorias pré-existentes, quando recebem um nome e valores lhes são atribuídos. Já no processo de objetivação, é possível observar como as representações se concretizam em imagens e palavras, pois elas “reproduzem visivelmente um complexo de ideias” (MOSCOVICI, 2003, p. 72). Nesse sentido, podemos supor que as falas sobre ser universitário, sobre vida universitária e sobre universidade podem nos indicar formas de objetivação e apontar sobre quais categorias e saberes elas estão ancoradas. Para o autor, essas representações sociais guiam as práticas dos sujeitos. Conhecê-las torna-se, portanto, um passo importante para que se possa compreender as ações e os comportamentos humanos e iniciar um processo de reflexão com o objetivo de transformar tanto as representações quanto as atitudes diante dos objetos sociais.

Sá (1996) lembra que as representações sociais têm a função de guiar as práticas profissionais, as relações sociais, as atitudes e os comportamentos dos sujeitos. Segundo o autor, as representações sociais também têm uma função identitária, pois permitem que os indivíduos se localizem em seus grupos de pertença. Outra importante função é propiciar a comunicação social nas tentativas de explicar a realidade. Por fim, elas possuem uma função justificatória, importante para explicar e justificar as condutas e as tomadas de decisão. Por essa razão, o entendimento que os estudantes de pedagogia têm de ser universitário, de vida universitária e de universidade podem revelar as concepções compartilhadas por eles sobre ser acadêmico, sobre estudar, sobre o impacto da experiência universitária na sua vida social e profissional. Elas podem revelar também a dinâmica da relação dos estudantes com seus pares e professores, assim como as expectativas, desejos e desafios dos estudantes com relação aos cursos universitários.

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Os trabalhos de Abric (1994) são bastante pertinentes para essa pesquisa, pois enfatizam a dimensão estrutural das representações sociais e seu funcionamento. Para o autor, as representações possuem um núcleo central, ou seja, elementos que lhe oferecem definição e estabilidade. Compondo as representações, existem também elementos periféricos que, tendo relação com o contexto social e as especificidades da vida de cada sujeito, são instáveis e sujeitos a alterações. Identificar o núcleo central e os elementos que compõem as periferias das representações pode auxiliar as reflexões acerca dos fatores culturais e dos condicionantes sociais que conferem às representações sua atual configuração. Vistas como um todo, centralidade e periferia guiam comportamentos e julgamentos acerca dos problemas enfrentados durante a vida universitária.

Metodologia

Os participantes da pesquisa foram selecionados segundo o semestre em que se encontram: 36 alunos do 3º semestre e 27 do 6º semestre do Curso de Pedagogia de uma universidade federal. A coleta de dados utilizou uma metodologia multifacetada composta por um questionário com perguntas sobre o perfil dos respondentes, sua identidade, gênero e atividades profissionais. Foi aplicado também o teste de associação livre de palavras (ALP) com onde os sujeitos foram requisitados a escrever quatro palavras que lhes vierem à mente após alguns termos indutores: ser acadêmico/universitário; universidade. Em um segundo momento, os sujeitos participaram do teste de complemento de frases: A vida de um

universitário é... Depois, foram convidados a responder a seguinte questão: Em sala de aula, como o universitário deve se comportar em relação aos seus colegas? Logo após, foi

aplicado o teste de identificação de imagens, onde deveriam relacionar afirmativas sobre temas relativos à vida universitária a diferentes níveis de satisfação, ou estados de espírito, expressos por três emotions: o primeiro com um sorriso, o segundo com uma expressão neutra e o terceiro com uma expressão triste. A questão analisada neste estudo foi a seguinte:

Selecione a imagem que melhor representa a vida acadêmica.

As respostas ao complemento de frase, à questão e à escolha das imagens (emotions) foram tratadas pela análise de conteúdo proposta por Bardin (1977). Os dados obtidos com a ALP foram tratados pelo software Evoc (2000), segundo os estudos de Vergés (1992). A utilização de distintos procedimentos para a obtenção de dados deve favorecer uma análise mais ampla dos temas de pesquisa e contribuir para a compreensão do sentido completo da mensagem (BAUER; GASKELL, 2008). Espera-se que o cruzamento dos diferentes dados

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dos alunos dos diferentes semestres permita identificar as possíveis modificações introduzidas nessas representações ao longo do curso.

Os dados do questionário de perfil foram computados e observados em termos de frequência e grau de significância. Eles são importantes para a investigação com uma perspectiva psicossocial, pois podem indicar prováveis ancoragens das representações. A análise da ALP permite o acesso aos conteúdos simbólicos das representações e a visualização da organização dos elementos em núcleo central e periferias. O caráter espontâneo e a dimensão projetiva da técnica permitem o acesso à dimensão simbólica, revelando aspectos implícitos e latentes não revelados nas falas e nos textos discursivos. Na etapa do complemento de uma frase inacabada, e da questão sobre como se comportar em relação aos seus colegas têm como propósito observar os hábitos, eventos e atitudes elencados pelos sujeitos como típicos de ser estudante universitário e obter informações sobre como são compreendidas as interações entre os estudantes, que hábitos e comportamentos são valorizados e quais os códigos de comportamento social e os saberes existentes nos grupos sobre como essas relações devem ocorrer. Por fim, nos emotions os sujeitos poderão expressar os aspectos mais emotivos da vida universitária, pois as faces remetem aos estados de espírito, ao sentimentos de felicidade e bem estar, ou aos de tristeza e desconforto. Os dados obtidos com esse instrumento podem nos informar acerca da atmosfera da vida acadêmica, e trazer elementos para que se reflita sobre a cultura universitária dentro do programa de expansão universitária e o que é necessário manter ou alterar para tornar essa experiência bastante mais rica para os estudantes.

Resultados

Os dados coletados com a aplicação do questionário aos sujeitos do terceiro semestre indicam que a média de idade é de 21,4 anos e que a maior parte deles tem entre 18 e 19 anos. Com relação ao sexto semestre, a média de idade é de 25,2 anos, sendo que a maior parte encontra-se na faixa etária entre 19 e 24 anos de idade. Todos são do sexo feminino. Com relação ao trabalho, 25 sujeitos do terceiro semestre têm uma profissão e 8 não trabalham. Das que trabalham, 19 são estagiárias ou segundas professoras em escolas e creches da região, e 6 exercem atividades na área comercial. No sexto semestre, 19 trabalham e 7 não trabalham. Das que trabalham, 10 estão em escolas ou creches e 9 em atividades comerciais. Foi possível constatar que a maior parte dos estudantes exerce uma atividade na área da educação.

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A Tabela 1 abaixo traz os resultados do teste da associação livre de palavras (ALP), tratados pelo software Evoc (2000), após o termo indutor ser universitário/acadêmico, para o terceiro semestre.

Tabela 1 – ALP (EVOC): ser universitário/acadêmico – 3o semestre.

Rang ‹ 2,5 Rang ‹ 2,5 F ›=4 conhecimento estudar pesquisa 5 13 8 2,200 1,615 2,125 Aprender buscar dedicação futuro leitura 4 6 5 5 9 2,500 2,833 2,600 3,600 2,556 F ‹=3 cansaço questionador responsabilidade sono 3 3 3 3 2,333 2,333 1,667 2,333 Profissão 3 2,666

Fonte: Dados organizados pelas autoras.

A palavra estudar foi pronunciada com maior frequência e mais prontamente pelos sujeitos do terceiro semestre, compondo o núcleo central dessa representação. Ela esteve acompanhada dos termos pesquisa e conhecimento, indicando um conjunto organizado e coerente de ideias sobre ser universitário e sobre a ação de estudar. Na primeira periferia das representações, observou-se os termos leitura, buscar, futuro e dedicação. Em conjunto, elas parecem expressar as atividades que sustentam o estudar e os esforços envolvidos na vida acadêmica. Na segunda periferia, temos as palavras sono e cansaço que comunicam as dificuldades dos estudantes no gerenciamento do tempo dedicado aos estudos e ao trabalho. Na última periferia encontramos o termo profissão. Em contraste com os elementos centrais, as periferias revelam os elementos mais relacionados às circunstâncias e aos contextos de vida atuais, e que por essa razão, podem se alterar facilmente. Vemos que estudar é central para a identidade discente, e que a profissão, apesar de ser mencionada, ainda não é.

A Tabela 2 traz os resultados do teste da associação livre de palavras (ALP), tratados pelo software Evoc (2000), após o termo indutor ser universitário/acadêmico para o sexto semestre. Observa-se que o termo estudar veio acompanhado do termo esforço, o que pode denotar que estudar é um desafio, e provoca uma certa preocupação. Nas primeiras duas periferias, encontramos os termos dedicação, conhecimento, amor e comprometimento, e na última periferia os termos correria, persistência e sono. As periferias estão repletas de termos de dupla significação. Por um lado, ser estudante está relacionado à dedicação e a uma atividade de que se gosta, e por outro aos problemas, desafios e obstáculos a serem enfrentados.

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Tabela 2 – ALP (EVOC): ser universitário/acadêmico – 6o semestre. Rang ‹ 2,5 Rang › 2,5 F ›=4 esforço estudar 4 14 2,250 1,429 conhecimento dedicação 5 8 2,600 3,000 F ‹=3 amor aprendizagem comprometimento lotação 3 3 3 3 2,333 2,333 1,667 2,333 correria evolução persistência sono 3 3 3 3 3,333 2,667 3,333 3,667 Fonte: Dados organizados pelas autoras.

A comparação dos resultados das turmas dos dois semestres parece sugerir uma diferença de sentido das representações de ser universitário, pois os diferentes elementos que compõem as periferias agregam novos sentidos e significados ao núcleo central. Enquanto no terceiro semestre os elementos giram em torno das atividades de estudo que envolvem pesquisa, a referência à profissão, ainda que na última periferia, parece sugerir uma consequência do ato de estudar. A passagem pela universidade estaria, então, associada ao estudo e à profissão futura. No sexto semestre, os problemas do dia-a-dia impregnam essa representação com questões de organização e gerência do tempo e das dificuldades de se dedicar ao estudo. As expressões persistência, correria, amor e comprometimento dão suporte a essa interpretação. Esse resultado nos faz refletir sobre o problema do acúmulo de atividades no período diurno, como o trabalho, que dificulta a vida acadêmica e as atividades de estudo. A expressão sono também suporta essa interpretação. Apesar da correria e do cansaço, os sujeitos falam que é preciso persistir e continuar a estudar. Possivelmente, as referências ao acúmulo de atividades e à falta de tempo para os estudos, além de comporem os elementos que dão sentido à identidade discente, nos informam também sobre fatores que possivelmente estão relacionados à evasão.

Os resultados do teste da associação livre de palavras, após o termo indutor

universidade, mostram o termo oportunidade como elemento nuclear da representação de

universidade para a turma do terceiro semestre. Ele veio acompanhado de palavras como

estudo e sonho no primeiro quadrante. Como um todo, isto significa um desejo de estudar que

foi realizado. A palavra longe pode estar associada à distância ou àquilo que está fora do alcance, conforme se observa da Tabela 3.

Tabela 3 – ALP (EVOC): Universidade – 3o semestre.

Rang ‹ 2,5 Rang › 2,5 F ›=4 estudo longe oportunidade sonho 4 4 7 4 2,250 1,250 2,000 2,000 colegas conhecimento futuro professores realização 5 12 4 4 4 2,800 2,500 2,750 3,250 2,750

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F ‹=3 conquista orgulho pedagogia 3 3 3 2,000 1,667 2,000 esforço qualidade 3 3 2,667 3,000

Fonte: Dados organizados pelas autoras.

Quando acompanhada da palavra conhecimento, colegas, orgulho e conquista, o terceiro semestre imprime uma significação ao termo oportunidade do núcleo central. Para esse grupo, trata-se de uma chance de aquisição de conhecimento, que aparece com bastante frequência, mas também uma oportunidade de fazer amigos. Pode estar revelando também a oportunidade de ingressar na universidade federal, recém implantada na região. A universidade foi implantada com o fator escola pública, dando prioridade aos estudantes oriundos da escola pública. Na última periferia, encontram-se os termos esforço e qualidade. Possivelmente, para essa turma, a universidade oferece a oportunidade de estudar, de ampliar conhecimentos, e que a qualidade do ensino desponta como o seu diferencial.

Tabela 4 – ALP (EVOC): Universidade – 6o semestre.

Rang ‹ 2,5 Rang › 2,5 F ›=4 distante oportunidade poeira 6 4 6 1,333 2,000 2,167 amigos diversidade 7 4 2,714 3,000 F

‹=3 gratuito 3 2,333 conhecimento conquista 3 3

2,333 2,667 Fonte: Dados organizados pelas autoras.

Como um todo, observa-se uma representação semelhante entre os grupos do terceiro semestre e do sexto. Vemos na Tabela 4 que os estudantes possivelmente compreendem estar na universidade como algo positivo expresso pela palavra oportunidade. Entretanto, a palavra

distante retoma a questão de acesso à instituição, e as dificuldades que isso gera aos

estudantes. Quando analisamos os elementos que compõem as periferias, observa-se as especificidades dos grupos. Os termos encontrados nas periferias do sexto semestre trazem significações diferentes. As palavras amigos, diversidade e gratuito ajudam a entender o que esse grupo entende por oportunidade que apareceu como o núcleo central. Neste caso, a oportunidade emerge distante do elemento conhecimento, que está na última periferia. A expressão oportunidade está mais atrelada ao aspecto social da universidade. Possivelmente, para essa turma, a universidade tem um forte caráter social, que inclui o diferente, expresso pela palavra diversidade.

A análise dos resultados da etapa de completar uma afirmativa “A vida de um acadêmico é...” gerou três categorias. Essas categorias agruparam os julgamentos e as avaliações produzidas pelos sujeitos sobre como é a vida de um estudante universitário em

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termos do valor atribuído a essa vida, suas expectativas, desafios e necessidades. Os aspectos positivos foram classificados na categoria 1, com comentários que valorizavam a experiência universitária e seus benefícios para os estudantes. Os aspectos intermediários foram classificados na categoria 2, com expressões mistas ou equilibradas sobre as dimensões positivas e negativas da experiência acadêmica. Por fim, os aspectos negativos foram classificados na categoria 3, com expressões que faziam referência, mais especificamente, aos problemas e necessidades dos estudantes durante o curso.

Para os sujeitos do terceiro semestre, as primeiras análises indicam que os aspectos negativos, agrupados na categoria 3 foram os de maior ocorrência (52%), trazendo expressões como sacrifícios, corrida, cansativa e difícil. Em seguida, temos a categoria 1 (47%), que agrupa expressões valorativas como tranquila, envolve estudos e conhecimentos, instigante e

maravilhosa. A categoria 2 (1%) foi a menos frequente e apresentou uma opinião mista,

apontando para uma dimensão positiva e uma negativa, mas sem explicita-las: cheia de altos

e baixos.

Para os sujeitos do sexto semestre, as análises mostram que os aspectos negativos, agrupados na categoria 3, também apresentaram maior incidência (58%), com expressões como corrida, difícil, cansativa, falta de tempo e sofrida. A categoria 1 (35,5%) possui expressões de carga positiva como conhecimentos, boa, agradável, sonho e desafiante. Como no grupo anterior, a categoria 2 com opiniões mistas e sem um posicionamento claro, teve a menor frequência (6,5%): montanha russa, satisfatória e cheia de incertezas. Esses resultados indicam que os estudantes salientam os aspectos negativos da vida estudantil e que a questão da falta de tempo emergiu, nas duas turmas, como o principal obstáculo ao seu desempenho como estudante. O fato de muitos estudantes trabalharem no período diurno parece ser um fator que complica o andamento da vida acadêmica, limitando o tempo de dedicação aos estudos.

A análise das respostas à questão Em sala de aula, como um universitário deve se

comportar em relação aos seus colegas?, pela turma do terceiro semestre, gerou 69 índices de

significação, que foram classificados em três categorias temáticas. As categorias eram excludentes, e cada resposta poderia ter mais de um índice de significação. Na primeira categoria, O outro (66,66%), foram agrupadas expressões como não invadir o espaço do

outro, respeitar as diferenças e ser compreensivo. A segunda categoria, Cooperar (21,73%),

reuniu expressões como ajudar, auxiliar e colaborar. A terceira categoria, Amizade (11,59%), congregou expressões como colegas e amigo. Portanto, para essa turma, a identificação do

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outro como um sujeito diferente e que merece respeito faz emergir representações sobre essa relação que se ancora no ideal de harmonia.

A análise das respostas a essa questão pela turma do sexto semestre gerou 49 índices que foram classificados em seis categorias temáticas: Respeito (44,89%), Qualidades (16,32%), Amizade (14,28%), Outro (12,24%), Ajudar (8,16%) e Troca (4,08%). A categoria

Respeito foi a mais frequente (44,89%) e agrupou expressões como respeitando as diferenças, respeitando a fala. A segunda maior categoria, Qualidades, trouxe expressões como honestidade, bondade e humildade. A terceira categoria, Amizade, contém expressões como amigo e colega, e a quarta, Outro, trouxe expressões como ouvir o outro. As duas últimas

categorias foram pouco expressivas, mas continham expressões como cooperar e dialogar, respectivamente. O que esses dados parecem indicar é que, para o sexto semestre, existe um número maior de opiniões sobre como se comportar em relação aos colegas de classe e essa pulverização de ideias pode estar associada a um maior tempo de permanência na universidade e mais experiências de convivência com colegas de classe. Nesse sentido, a ampliação do tempo e das interações sociais entre os pares pode ter favorecido os laços de afetividade que estão expressos na preocupação com a colaboração e diálogo entre os estudantes.

Como um todo, os hábitos e comportamentos valorizados têm a ver com a manutenção de uma harmonia e com tentativas de evitar conflitos. Possivelmente, um bom relacionamento esteja associado a não haver divergências de opiniões, debates e controvérsias. Os resultados podem indicar que o valor atribuído às relações humanas em sala de aula é o de confluência de ideias e da preservação de uma atmosfera de harmonia. Esses dados levantam outras questões relativas aos problemas de evasão e suas possíveis causas. Como a relação harmônica ficou muito valorizada nos dois grupos pesquisados, seria possível prever que os sujeitos que não se enquadram nesses valores e comportamentos se sintam menos dispostos a continuar no curso. Entretanto, outras pesquisas sobre esse tema devem ser desenvolvidas a fim de que se possa afirmar com maior segurança que existe uma relação entre relacionamento social na sala de aula e o sentido de pertença a um grupo e a evasão.

No estudo dos emotions, os sujeitos foram requisitados a escolher uma das três imagens que melhor representasse a vida universitária e que justificarem suas escolhas. A questão era a seguinte: Escolha uma imagem que melhor representa a vida universitária. Após a questão havia a seleção dos três emotions que representam três diferentes níveis de

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satisfação ou felicidade: muito satisfeito, intermediário e pouco satisfeito. A Tabela 5 traz os resultados obtidos com o terceiro e com o sexto semestres.

Tabela 5 – Estudo dos emotions: Selecione a imagem melhor representa a vida universitária.

semestres

Face 1 Face 2 Face 3

total

3 34.61 65.38 - 26

6 45.94 54.05 - 37

TOTAL 63

Fonte: As autoras.

Foi possível perceber que, no grupo do terceiro semestre, há uma maior disparidade de escolha entre as faces 1 e 2, predominando a face 2. Ela estaria representando um grau de satisfação ou de felicidade intermediária com relação à vida universitária. No grupo do sexto semestre, a face 2 também é mais frequente. Entretanto, a diferença é menor entre a 1 e a 2. Foi interessante notar que nenhum sujeito escolheu a face 3.

As justificativas para a escolha da face 2, pelo grupo do terceiro semestre, variaram muito. Mas, na maior parte das vezes, os sujeitos apontaram para elementos positivos e negativos da vida universitária. Algumas justificativas não especificam quais eles seriam, como podemos observar nas seguintes falas: Tem partes boas e tem partes ruins; existe dias

não tão bons, mas eles sempre são superados por dias melhores. Em outros momentos, os

sujeitos se referem ao cansaço e ao fato de estudarem e trabalharem ao mesmo tempo: é

cansativa, pois, o estudante, além de frequentar as aulas, necessita trabalhar e acaba sobrecarregado; estamos cansados na maior parte das vezes; por que às vezes é bom e às vezes é ruim, pois falta tempo para aprofundar matérias e tirar dúvidas.

As justificativas do grupo do sexto semestre para a escolha da face 2 concentraram-se na polaridade entre o cansaço e o prazer de estudar: Há um efetivo cansaço, mas há em

contraposição, os conhecimentos adquiridos; difícil conciliar trabalho, casa e curso; o meio termo, é uma vida boa pois garante o nosso futuro, mas é sofrida.15

Considerações Finais

Como as representações sociais sobre ser universitário e vida universitária encontram-se ancoradas nas histórias de vida, na cultura e nas interações sociais, estudantes que possuem formação em diferentes áreas, com diversas experiências profissionais e que estejam em diferentes momentos da sua formação podem apresentar representações distintas acerca

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desses temas. Estabelecer essas comparações permite observar o efeito da passagem pela universidade na configuração das representações e nas suas prováveis transformações. Esta comparação pode contribuir para a compreensão da variedade de saberes sobre ser aluno, sobre a vida universitária, sobre o estudar e o se relacionar com colegas e professores, e informar os setores pedagógicos e administrativos acerca dos elementos que contribuem para a permanência ou evasão universitária nas diferentes fases dos cursos.

A pesquisa indica que as falas sobre ser universitário e sobre vida universitária apontam para formas de objetivação das representações e para as categorias e saberes nas quais elas estão ancoradas. No terceiro semestre, as falas evidenciam os desejos e as expectativas dos sujeitos com relação à universidade e com uma atividade profissional futura. No sexto semestre, parece haver uma preocupação com outros aspectos da vida acadêmica, como a pertença a um determinado grupo de pessoas, por exemplo. Os problemas de gerenciamento do tempo parecem mais frequentes nesta turma, que manifesta o desejo de estudar e manifesta as dificuldades que esse estudo impõe e de se manter na universidade

É importante destacar que a maioria das estudantes divide o tempo da universidade com tempo destinado a uma atividade profissional. Neste caso, as atividades profissionais estão voltadas à educação. Assim, os dados desta pesquisa sugerem que o currículo do Curso de Pedagogia poderia estar mais articulado com a educação básica, no sentido de valorizar a experiência profissional das estudantes.

Para Moscovici, essas representações sociais guiam as práticas dos sujeitos. Conhecê-las torna-se, portanto, um passo importante para que se possa compreender os comportamentos dos estudantes e iniciar um processo de reflexão com o objetivo de transformar tanto as representações quanto, os julgamentos e as atitudes diante do curso universitário.

REFERÊNCIAS

ABRIC, J. C. Pratiques sociales et représentations. Paris: Universitaires de France, 1994. ADACHI, A. A. C. T. Evasão e evadidos nos cursos de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Belo Horizonte, 2009. 153f.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BAUER, M. W. e GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2008.

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JODELET, D. (Org.). As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. MOSCOVICI, S. Why a theory of social representations? In: DEAUX, K.; PHILOGÈNE, G. (Eds.) Representations of the social. Oxford: Blackwell Publishers Inc., 2001.

MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003.

VERGÉS, P. L’evocation de l’argent: une méthode pour la definition du noyau central de une représentation. Bulletin de Psychologie, v. XLV, n. 405, p. 203-209, 1992.

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