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UPB - Cooperativismo é um termo que muitos já ouviram falar, mas nem todos sabem o que significa. Como podemos traduzir esse termo?
Cergio Tecchio -Cooperativas são empreen
-dimentos empresariais coletivos. Elas são
organizadas de forma autônoma e buscam atender à necessidade econômica e social
de seus cooperados. Ese encaixam perfeita-mente em qualquer segmento da atividade
produtiva: na agricultura, no transporte, nos serviços financeiros, na saúde, no
sanea-mento e preservação ambiental, na
educação, nos serviços de uma forma geral. No mundo, mais de um bilhão de pessoas
estão vinculadas a cooperativas, distribul -das por mais de 100 países. No Brasil. somos
mais de 11milhões de pessoas cooperadas.
Através de sua força de trabalho, de seu
conhecimento e de seu capital, unidos aos de
outras pessoas, o cidadão cooperativista
constrói o caminho de seu crescimento
pessoal e de seus familiares, conquistando
assim qualidade de vida, bem-estar e eman
-cipação.
O cooperativismo é um modelo de organ
i-zação para o trabalho baseado em valores e
princípios, que vem sendo praticado com sucesso há pelo menos 170 anos e que oferece condições para que as pessoas produzam coletivamente, elejam e controlem seus gestores e repartam entre si seus resultados, de forma justa e equitativa. UPB-O que cooperativismo tem a ver com desenvolvimento local e como afeta a vida das pessoas, nas cidades de pequeno, médio e grande porte?
(T . As cooperativas estão em todos os lugares, nas localidades de todo tamanho, urbanas e rurais, interioranas ou litorâneas.
É através do cooperativismo que
trabalhadores como agricultores, artesãos, catadores de material reciclável, médicos, professores, motoristas de táxi e de carga, motoboys, engenheiros, garimpeiros, fisioterapeutas, consultores e tantos outros, se organizam e conseguem servir à população local. ao tempo em que conseguem remuneração digna para seu trabalho decen-te.
As diversas regiões e municípios da Bahia
têm vocações econômicas próprias,
ca ra cte rísticas pecu Iia res, saberes e fazeres
isso se reflete na economia do agricultor e de toda a população do município.
Mas podemos também apreciar o exemplo do setor de crédito. Quando um banco comercial (público ou privado) opera em um município, todo o lucro gerado pelas tarifas e pelos juros das operações será automati-camente transferido para a sede do banco,
que certamente fica em outra cidade, estado ou mesmo outro país. ou onde estiverem os seus actonlstas. Por outro lado, se houver uma cooperativa de crédito nesse município,
formada com as cotas de capital dos seus
cidadãos, o resu Itado financeiro desse
negócio, chamado de sobras e que é equi
va-lente ao lucro das empresas comerciais, vai
voltar para as mãos de seus donos, irrigando
a economia da própria cidade, gerando desenvolvimento local e melhoria das condições de vida das pessoas da terra. Sem falar no "milagre" do microcrédito cooperati -vo, que faz o dinheiro chegar sem burocracia
nas mãos de quem não tem muita oportuni -dade com bancos comerciais.
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espedficos. A transformação disso em ativi -dade produtiva nos municípios pode acont
e-cer, basicamente, por três vias: através do investimento público intensivo; das iniciat i-vas empresariais sem raízes locais; ou do empreendedorismo de seu próprio povo. Nesse último caso, estamos falando do cooperativismo, que é o caminho para que o
cidadão comum se una aos seus iguais e se converta no empreendedor coletivo capaz de transformar a realidade de toda a sua região. Diferentemente das empresas comerciais com origem fora dos rnunlclpios.
que exportam para outras regiões todo o
lucro de seu negocio - e até mesmo para outros países - é através das cooperativas
que o dinheiro circula, se reproduz e permanece no seu local de origem.
UPB-Épossível exemplificar?
CT -Sim. Nazona rural, a agricultura familiar de base cooperativista é a forma mais fácil de entender o cooperativismo. Lá os prod u-tores organizados em cooperativas levam seu produto ao mercado de forma conjunta e
UPB - Qualéa situação geral das cooperati-vas na Bahia e como isso afeta a vida dos
municípios?
CT - Apesar do cooperativismo existir no Brasil desde o século 19, somente nos anos
70 do século passado o Brasil conquistou uma legislação cooperativista, expressa na Lei5.764/71. Ela define o que é uma cooper
a-tiva, os requisitos para sua existência e para
sua constituição, além de designar a sua
representação polltico-institucional. De lá
para cá, as cooperativas passaram a ser o
mais importante instrumento de empreendedorismo democrático do país.
Ao longo do século 20, um número cada vez maior de munidpios, especialmente no Sul,
Sudeste e Centro-Oeste, experimentaram crescimento econômico e melhoria da quali -dade de vida da população, como
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-tivas. No Norte e no Nordeste esse mov
i-mento é mais recente, mas já somos uma
parte expressiva das cooperativas do país, com exemplos muito positivos de sucesso. Na Bahia, são poucas as regiões onde não se
tem notícia de pelo menos uma cooperativa
relacionada à geração de oportunidades de
trabalho, renda e dignidade para os cidadãos
cooperados.
Apesar disso, há muitos empreendimentos
que se denominam cooperativas, sem aten
-derem aos requisitos legais para isso. Outra
situação grave: alguns desses empreendi
-mentos que se denominam cooperativas não
seguem os princípios e valores do coopera
-tivismo, se confundindo com arranjos
empresariais privados falseados de cooper
a-tivas, geralmente para burlar as leis ou
pleitear recursos públicos indevidamente. É
necessário que os contratantes públicos
observem a legalidade das cooperativas,
dentre outros motivos, para evitar
problemas com órgãos de fiscalização como
Ministério Público do Trabalho, Tribunal de
Contas dos Municípios e Tribunal de Contas
da União.
UPB-Como as cooperativas podem auxiliar as prefeituras baianas no enfrentamento dos problemas sociais e econômicos dos
municípios?
CT - As cooperativas são decisivas na
geração de trabalho decente, no combate às
desigualdades sociais e na fixação do
dinheiro na própria localidade. Sabemos que
cooperativas legais podem ser úteis no
abastecimento, na garantia de sistemas de
transporte urbanos e intermunicipais
acessíveis, na organização da produção do
campo, na limpeza urbana e meio ambiente,
em complemento ao sistema educacional
público, na prestação de serviços de saúde,
no crédito produtivo e oferta de produtos
financeiros mais acessíveis. São caminhos que dão certo para que serviços e produtos de qualidade cheguem à comunidade.
Sendo assim, omais lógico é que o coo pera-tivismo seja objeto de políticas públicas municipais, a exemplo do que está sendo feito nos níveis federal e estadual. Na Bahia,
em particular, a mobilização do sistema
cooperativista conseguiu chamar a atenção do governo do estado e da assembleia legi s-lativa, de modo que se alcançou a aprovação da Lei Estadual do Cooperativismo (Lei
ENTREVISTA
11.362/09), através da qual foram instituídos
avanços importantíssimos para o cooper a-tivismo baiano. Mas para isso de fato ac on-tecer, é preciso que o poder público se relacione com cooperativas legalizadas, que atuem dentro dos princípios e valores do cooperativismo e que atendam aos requisitos da legislação.
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AS DIVERSAS REGIÕES E MUNiCípIOS DA
BAHIA TÊM VOCAÇÕES ECONÔMICAS
PRÓPRIAS, CARACTERíSTICAS
PECULI-ARES, SABERES E FAZERES
ESPECíFI-COS.
UPB • Qual é o papel do Sistema OCEBe
como atuam as entidades que o compõem?
CT· A Lei5.764/71 define que a Organizeção das Cooperativas Brasileiras éaentidade de representação do cooperativismo no Brasil,
juntamente com suas organizações esta
du-ais - no caso baiano, a OCEB,que éoSindica -to e Organização das Cooperativas do
Estado da Bahia. Em 1999 criamos o
Sescoop - Serviço Nacional de Aprendiz a-gem do Cooperativismo (integrante do Sistema "S") que também tem uma unidade
na Bahia. A.primeira, faz a representação sindical, a defesa e promoção político-inst
i-tucional das cooperativas. A segunda, atua
na educação e capacitação cooperativista, na promoção social e no fomento ao desen -volvimento organizacional e gerencial das cooperativas. Juntas - OCEB e SESCOOP /-Bahia - formam oSistema OCEB, que tem se empenhado bastante na defesa e promoção do cooperativismo legal na Bahia, em todos os seus ramos de atuação.
Uma cooperativa precisa ser registrada na
OCEB para ser considerada uma cooperativa legal, de acordo com a Lei 5.764/71. E para ser registrada, precisa comprovar que foi constituída verdadeiramente como uma cooperativa, aderindo aos valores e
princípios e cumprindo os trâmites previs
-tos em lei.
AS COOPERATIVAS SÃO DECISIVAS NA
GERAÇÃO DE TRABALHO DECENTE, NO
COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS E
NA FIXAÇÃO DO DINHEIRO NA PRÓPRIA
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UPB· O que as cooperativas precisam fazer
para se legalizar e se fortalecer?
CT . A OCEB oferece toda a orientação
necessária aos cidadãos que pretendem
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abrir uma cooperativa, orientando desde os aspectos conceituais até os trâmites buro -cráticos. Além de assessoria própria, a OCEB também firmou um convênio com a Junta Comercial do Estado da Bahia
-JUCEB, através do qual esse apoio se estende e leva os empreendedores à regu
-larização plena da cooperativa.
As cooperativas já existentes, mas que ainda precisam se regularizar, também contam
com uma série de programas e serviços de apoio fornecidos pela OCEB e ~elo SESCOOP/BA. Tudo gratuito. Os passos para a constituição de uma cooperativa
podem ser acessados também na publicação Cartilha do Cooperativismo, acessível através de link em nosso site www.bahiaco -operativo.coop.br. As prefeituras que tiverem interesse em debater políticas e mecanismos de fomento às cooperativas legais em seus municípios, podem também buscar o apoio da OCEB e do SESCOOP/Ba -hia.
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AS PREFEITURAS QUE TIVEREM
INTER-ESSE EM DEBATER POLíTICAS E
MECANISMOS DE FOMENTO ÀS
COOPER-ATIVAS LEGAIS EM SEUS MUNiCípIOS,
PODEM TAMBÉM BUSCAR O APOIO DA
OCEB E DO SESCOOP/BAHIA.
UPB - Quais são as prioridades da OCEB para 2016?
CT - O Sistema OCEB realiza anualmente a revisão de seu planejamento estratégico, em um processo dialógico e participativo que envolve as cooperativas de todas as regiões do estado. Em nosso horizonte, a educação cooperativista, a promoção da capacitação para a competitividade e o fortalecimento das cooperativas nos mais diversos ramos,
são prioridades absolutas. Junto a isso, queremos também levar os serviços do Sistema OCEB, cada vez mais, às cooperat
i-vas de todos os municípios baianos, ajudan-do as prefeituras a fomentarem a geração de oportunidades em seus municípios, o desen
-volvimento e a riqueza local, através do cooperativismo.
Cergio TecchioéPresidente da OCEB- Sindicato
e Organização das Cooperativas do estado da Bahia; Presidente do SESCOOP/BA - Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo na Bahia; Membro do Conselho do SESCOOP Nacional.