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O USO DE CELULARES NAS AULAS DE LÍNGUAS: EM UMA PERSPECTIVA DE INTERATIVIDADE

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O USO DE CELULARES NAS AULAS DE LÍNGUAS: EM UMA

PERSPECTIVA DE INTERATIVIDADE COM @S ALUN@S

Vagno Vales Lacerda

Universidade do Estado da Bahia-Uneb – vagnovales@hotmail.com

Resumo: Este trabalho nasce da necessidade de se discutir maneiras de como utilizar os aparelhos celulares, como ferramenta pedagógica em sala de aula no processo de ensino-aprendizagem, sobretudo no ensino de línguas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa através da aplicação de um questionário escrito, constando perguntas estruturadas, semiestruturadas e não estruturadas, a alunos do Ensino Fundamental, que abrange do 6° ao 9° anos, na Rede Pública Municipal de Ensino, na cidade de Teixeira de Freitas, Bahia. Buscou-se, com esta pesquisa, descobrir, entre outras coisas, qual a visão dos alunos acerca do uso dos celulares no ambiente escolar; se eles os utilizam como aliados para realização das atividades escolares e o que eles acham da utilização dos aparelhos nas aulas de Língua Inglesa. Foi necessário, também, um breve levantamento de informações de como as escolas brasileiras estão se posicionando acerca da utilização de celulares em seus ambientes. Após análise dos dados foi possível constatar que os resultados aparecem de forma favorável na visão dos alunos.

Palavras-chave: aparelhos celulares, ferramenta pedagógica, ambiente escolar, Língua Inglesa.

1. Introdução

Este artigo surge de um desejo de se descobrir maneiras de como romper algumas barreiras, no que tange ao uso de celulares em sala de aula, nas aulas de línguas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa com alunos do 6° ao 9° anos do Ensino Fundamental, em escolas públicas da cidade de Teixeira de Freitas, localizada no Extremo Sul da Bahia. O intuito da pesquisa é tentar descobrir o número de alunos que possuem celulares, se seus aparelhos são smartphones, se eles têm acesso à internet, qual a visão deles acerca dos aparelhos de celular, qual a utilidade que eles fazem dos celulares em sala de aula, em especial nas aulas de língua inglesa. Além de tentar descobrir se eles são monitorados pelos seus pais quanto ao uso de seus aparelhos, se já utilizaram os celulares em alguma atividade na escola, se eles compartilhariam seus aparelhos com os colegas para fins pedagógicos em sala, por fim, o que acham sobre o uso dos celulares nas aulas de Língua Inglesa.

É notória uma crescente tendência de novas tecnologias na vida cotidiana ao longo dos últimos anos, também é perceptível o esforço de vários estudiosos e pesquisadores na tentativa de

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inserção dessas inovações tecnológicas dentro do ambiente escolar (LEFFA, 2005; CHAMBERS; BAX, 2006; PAIVA, 2006; MERCADO, 2000; MORAN, 2000; ROJO, 2013). Entretanto, neste trabalho, o desafio é ainda maior, primeiro por ser um campo delicado e, segundo, por ainda não ser tão explorado. Todavia, é sabido que o novo sempre nos causa estranheza. Chambers e Bax (2006) mostram que existem passos entre a recepção, aceitação e/ou rejeição de uma nova tecnologia, que esses processos são perfeitamente naturais.

O caso em questão são os celulares. Eles chegaram de uma forma tímida, primeiro com formatos e tamanhos tão grandes e esquisitos, que causavam estranheza e aversão, talvez por se tratar de uma novidade. Mas tão rapidamente foram ganhando formatos mais compactos, os preços mais acessíveis também se tornou uma vantagem. Com isso vieram também novas funções, deixando de serem apenas aparelhos telefônicos e passando a ter funções, como: calculadora, rádio, agenda, TV, câmera fotográfica e de vídeos. Além de permitir acesso à internet, ainda dispõem de várias outras funções. Com a chegada dos smartphones — agregando todas as funções de softwares disponíveis em computadores, e mais algumas regalias — veio também a adesão em massa por parte da população mundial. O Brasil, de acordo com a revista online Exame, tem a quinta maior base de smartphones do mundo, com 89,5 milhões de unidades, registrado até o fim de setembro de 2014.

Com tantas conveniências, atualmente, os celulares, seguramente, se tornaram os aparelhos tecnológicos mais utilizados no globo terrestre. Talvez, devido à adesão em massa, vieram também algumas preocupações.

Nas escolas, a inquietação é geral. A propósito, apesar de terem uma série de funções que podem ser utilizadas de forma eficaz para produzir conhecimento, ainda assim, os smartphones dividem opiniões. Nessa perspectiva, que esta pesquisa se propõe, com o intuito de, a partir da visão e da opinião dos alunos, saber quais as funcionalidades dos celulares que eles utilizam em prol do aprendizado escolar, fazendo dessas informações aliadas ao processo de ensino-aprendizagem.

2. Obstáculos quanto ao uso de celulares

A utilização de celulares nas escolas tornou-se algo natural, ou deveria ser natural, isso por conta do grande número de alunos que possuem o aparelho, quase a totalidade deles (conforme dados da pesquisa que será detalhada mais adiante). Em virtude de tantas conveniências oferecidas

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em um único dispositivo, o smartphone é, talvez, o objeto tecnológico mais usado pelos alunos. Acontece que uma série de questionamentos vem sendo levantados quanto ao seu uso nas escolas.

Por uma série de motivos as escolas brasileiras, em especial as públicas, não conseguem acompanhar os avanços tecnológicos. Com isso, é possível perceber que ao longo de anos as escolas continuam atuando com práticas pedagógicas arcaicas e ultrapassadas. Então, nos deparamos com uma ferramenta, que pode perfeitamente ser utilizada como recurso pedagógico nas aulas de línguas, além de outras disciplinas. Mas, como foi com os computadores, as escolas também não estão aptas para lidar com os smartphones; no caso dos computadores (dentre tantas razões), uma das primeiras alegações foi que seria muito alto o custo para fornecer as máquinas para todas as escolas do país. Hoje isso já é uma realidade em grande parte do Brasil, no entanto, infelizmente, ainda não atingiu uma totalidade. Já com relação aos smartphones, a abrangência se mostra mais ampla e simples, sendo que quase todos os alunos possuem o dispositivo. O problema, nesse caso, é como lidar com as “dispersões” causadas pelo aparelho.

Diante da dificuldade em saber como lidar com os celulares em ambientes escolares, a saída encontrada, por vários estados brasileiros, foi, juntamente com suas respectivas secretarias de educação, proibir o uso dos mesmos nas dependências das escolas. Foi o caso, por exemplo, de Minas Gerais, com a Lei N° 14.486 de 2002; São Paulo, com a Lei Nº 12.730 de 2007; em 2008, três estados aprovaram leis semelhantes, primeiro o Rio Grande do Sul, com a Lei Nº 12.884, na sequência o Rio de Janeiro, com a Lei Nº 5.222, que proíbe, além dos celulares, também outros aparelhos eletrônicos em escolas estaduais, e, por fim, o Ceará, com a Lei Nº 14.146, que dispõe sobre a proibição do uso de equipamentos de comunicação, eletrônicos e outros aparelhos similares, nos estabelecimentos de ensino do Estado, durante o horário das aulas. Mais recentemente, em 2014, o Estado do Mato Grosso aprovou a Lei Nº 10.232, que proíbe o uso de aparelhos eletrônicos em sala de aula nos Ensinos Fundamental e Médio. São citadas, aqui, apenas algumas leis estaduais para justificar que as mesmas são um dos principais obstáculos em oposição ao uso do celular como ferramenta pedagógica, mas existem outras, afora vários decretos.

Agregado às proibições, ainda tem o fato de a maioria dos professores ter uma resistência natural às inovações tecnológicas. Talvez essa seja a maior barreira, considerando que boa parte das leis e decretos, que proíbe a utilização de aparelhos eletrônicos nas escolas, abra ressalvas, permitindo o uso dos mesmos, caso seja para fim pedagógico. Nesse caso os professores seriam autônomos para criarem e desenvolverem atividades em sala.

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3. Vantagens na utilização de celulares como ferramenta pedagógica

Não é novidade que os smartphones disponibilizam uma série de aplicativos, de vários gêneros e funcionalidades, para todos os gostos e idades. Mas, como o foco neste trabalho é mostrar como celulares podem ser úteis em sala de aula. O propósito é defender o uso desse dispositivo, como recurso pedagógico em parte das aulas de línguas. Infelizmente, ainda não há muitas pesquisas nessa área de conhecimento, com isso, a fundamentação partirá de estudos semelhantes, e, é nesse sentido, que surge a tentativa de se justificar este trabalho.

Primeiro, vale salientar a proposta do uso de computadores em sala de aula e, com isso, veio também uma série de mudanças (LÉVY, 2001). Logo em seguida começa a corrida para que a tecnologia por meio de computadores seja inserida em sala de aula (CHAMBERS; BAX, 2006) e, assim, várias foram as mobilizações em prol de equipar o maior número de escolas possíveis com laboratórios, como sempre os primeiros favorecidos são os grandes centros. Hoje, o Brasil conta com o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), que é um programa educacional criado pela Portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997, para promover o uso pedagógico de Tecnologias de Informática e Comunicações (TICs) na rede pública de Ensino Fundamental e Médio. O programa funciona através do Ministério da Educação (MEC) que compra, distribui e instala laboratórios de informática nas escolas públicas de Educação Básica. Em contrapartida, os governos locais (prefeituras e governos estaduais) devem providenciar a infraestrutura das escolas, indispensáveis para que elas recebam os computadores. Isso é um grande avanço, considerando a importância desses laboratórios, mas também uma prova de morosidade, uma vez que já se vão quase vinte anos e ainda existem municípios brasileiros que não foram beneficiados com o programa.

É indiscutível a importância e a eficiência dos computadores, mas, infelizmente, eles ainda não são acessíveis a toda população, ao contrário dos smartphones, que seguem uma crescente, quanto ao número de aquisições. No mercado mundial de smartphones, o Brasil encerrou 2014 com o sexto maior volume de vendas, registrando 38,8 milhões de unidades ativas, como informa o site Olhar Digital, em uma pesquisa encabeçada pela eMarketer, empresa especializada em pesquisas, envolvendo o mercado digital. A revista virtual Exame em 2013 traz um resultado semelhante, onde aponta, de acordo com a consultoria Nielsen, que 3 em cada 10 brasileiros são donos de smartphones. Isso mostra que logo haverá um número cada vez maior de pessoas utilizando

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smartphones. E, qual a relação desses dados com este trabalho? A resposta é simples, a pesquisa que deu origem a este trabalho também traz números surpreendentes acerca de quantos alunos (entre os entrevistados) possuem tais dispositivos.

Com a prerrogativa de que cada vez mais pessoas, em especial crianças e jovens, adquirem celulares smartphones e, entendendo que os mesmos dispõem de quase todos os recursos oferecidos pelos computadores, sobretudo o acesso à internet, além da utilização de aplicativos voltados exclusivamente para determinada matéria escolar. No caso da língua inglesa, pode-se citar, em um primeiro momento, os dicionários virtuais/online. Diante de tudo o que foi mencionado até então, este trabalho objetiva buscar maneiras de como utilizar o celular, com o foco no ensino de línguas.

4. A pesquisa e as discussões

Esta pesquisa foi realizada na cidade de Teixeira de Freitas, situada no extremo sul da Bahia, com uma população de quase 156.000 mil habitantes, com base nos índices do IBGE (2014).

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, o município conta com 20 escolas, 03 delas situadas na zona rural. Essas escolas, no final de 2014, compreendiam um número de 6.652 alunos do 6º ao 9º anos. Para atender a esse contingente de alunos, nas aulas de língua inglesa, o município conta com 24 professores efetivos e 07 contratados, todos com formação na área, como informou a Secretaria de Educação do município. A pesquisa envolveu 10 das 23 escolas, compreendendo todas as partes geográficas da cidade. A primeira etapa da pesquisa consistiu na aplicação de um questionário contendo 11 perguntas distribuídas em estruturadas, semiestruturadas e não estruturadas. O questionário foi respondido por alunos do 6° ao 9° anos, com idades entre 11 e 18 anos. Em cada uma das 10 escolas, foi escolhida, de forma aleatória, uma turma do Ensino Fundamental e, na mesma turma, escolhidos, também de forma aleatória, 5 alunos para responder às perguntas.

Antes da análise dos dados, faz-se necessário esclarecer que o propósito da pesquisa é tentar descobrir maneiras “pedagógicas” para a utilização dos celulares em sala de aula. É perceptível a grandeza do desafio, especialmente por conta do atual cenário em que vivemos, onde os alunos são classificados como nativos digitais e uma grande maioria dos professores não domina, ou apenas parcialmente, as novas invenções tecnológicas, e são classificados como imigrantes digitais (FREITAS, 2010). Junto a isso, e talvez principalmente por não dominarem bem tais tecnologias, os professores as rejeitam em um primeiro momento. Essa repulsa ganha força e potencializa, de forma

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negativa, as vantagens trazidas pelos celulares, em coisas maléficas, e acabam as classificando em distrações para a sala de aula. Afora tantos recursos disponíveis nesse dispositivo, ainda pode-se agregar a esse fator, que a grande maioria dos alunos possui seus próprios aparelhos ao contrário do que acontece com os computadores. Com essa ferramenta à disposição para ser utilizada de forma abrangente, talvez não houvesse tanta exclusão digital — que é tão discutida por educadores de todo o país.

O atual cenário da educação brasileira carece de inovações, e essa é uma excelente oportunidade. Primeiro, pela acessibilidade aos smartphones; segundo, pelos recursos disponibilizados nesses aparelhos. Junto à falta de material didático-pedagógico, de condições físicas adequadas, o pouco tempo que o professor dispõe para realizar as atividades (MOYSÉS, 1994), entre tantos outros entraves enfrentados na escola; tudo isso fortalece a proposta de se pensar na inserção dos celulares na elaboração de atividades escolares.

Vygotsky (1988) alerta para um ponto, que é uma das preocupações quanto à proposta deste artigo:

Em geral, qualquer abordagem fundamentalmente nova de um problema científico leva, inevitavelmente, a novos métodos de investigação e análise. A criação de novos métodos, adequados às novas maneiras de se colocar os problemas, requer muito mais do que uma simples modificação dos métodos previamente aceitos (p.66).

Apesar de todos os possíveis obstáculos, não se deve ficar de braços cruzados. É preciso tentar. Ludke (2001) propõe que os professores devam experimentar as melhores maneiras para atingir seus alunos no processo de ensino-aprendizagem. Na sequência serão apresentados os dados da pesquisa:

A primeira pergunta foi para descobrir se os alunos tinham celulares, e a segunda, qual o sistema operacional dos mesmos. Dentre os 50 alunos entrevistados — distribuídos em 10 escolas — apenas 09 não possuem os aparelhos. Quanto ao sistema operacional, 37 são androids, 01 windows phone, 01 ios e 02 não são smartphones. O resultado da primeira questão confirma a importância desta pesquisa, tendo em vista que a grande maioria dos alunos tem os aparelhos, facilitando, com isso, uma abrangência quase total dos alunos. A segunda pergunta é uma espécie de levantamento, na perspectiva de criação de aplicativo, e aparece de forma favorável, uma vez que, os softwares disponíveis para o sistema operacional android são livres, ou seja, gratuitos. Os

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outros dois sistemas que aparecem na pesquisa ainda são (ao menos em parte) pagos, mas no caso em questão é possível fazer experimentos com androids em plataformas gratuitas.

Quando perguntados se eles têm acesso à Internet, em seus aparelhos celulares, o resultado é surpreendente: apenas 18% dos entrevistados marcaram que “não” têm acesso à grande rede; enquanto que 28% estão “sempre” conectados; a grande maioria, totalizando 54% dos entrevistados, marcou a opção que “às vezes” tem acesso, chegando a uma impressionante marca de 82% dos entrevistados conectados à Web. Vários estudos e indícios apontam para a importância da internet no processo de ensino-aprendizagem,

Para rememorar: a web 2.0 poderia: (i) oferecer modos de aprender em qualquer lugar e tempo, colocando o aprendiz como ponto de partida; (ii) incitar os interessados a se tornarem autores, criadores de conteúdo; (iii) acessar montantes enormes de conteúdo, com estratégias seletivas e inteligentes que superem a desinformação; (iv) aumentar oportunidades de interação consigo e com os professores; (v) estender aprendizagem aos excluídos, em especial aos portadores de necessidades especiais, bem como à comunidade global. (DEMO, 2009, p.55)

A pergunta seguinte busca descobrir o que mais os entrevistados gostam de fazer em seus aparelhos celulares (nesse caso, podiam marcar mais de uma opção) e, mais uma vez, a internet ganha destaque, pois a maioria, 60% dos alunos marcaram que usam seus aparelhos para “navegar na web”; na sequência, com 52%, fica a opção “jogar”; seguidos pela opção “fazer ligações” com 44%; e 34% optaram pela alternativa “outros”. Nessa última opção, a maioria relata que também utiliza seus aparelhos para trocar mensagens, ver vídeos, agendar compromissos, e assim por diante. 8% dos alunos se abstiveram.

As funcionalidades disponíveis nos smartphones são tantas que fica até difícil delimitá-las. Isso não pode ser um ponto negativo no ambiente escolar, principalmente se houver gerenciamento por parte dos professores. Além do que é uma ferramenta extremamente útil para a inclusão, o que torna esta pesquisa necessária na busca de meios eficazes de aproveitamento desses aparelhos, no processo de ensino-aprendizagem. Acontece que o processo tecnológico é rápido e é possível notar que a principal alegação das escolas é que os celulares são objetos de distração (por não haver práticas pedagógicas com tal ferramenta), e, com isso, a interação entre os envolvidos no processo da educação continua em um impasse. “Em lugar de posicionar-se diante da experiência comunicacional vivida pelos alunos, a escola continua na defensiva. Enquanto os alunos

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apresentam-se como novos espectadores, tendendo para uma postura menos passiva [...]” (SILVA, 2006, p. 68).

Com a resistência por parte dos gestores escolares e educadores, perde-se uma excelente oportunidade de interação entre os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem e a disponibilidade natural dos alunos, no que tange ao universo tecnológico.

Quando perguntados o que mais gostam de fazer ao navegarem na internet, em seus celulares, 64% marcaram a opção “sites de entretenimento” (jogos, músicas, entre outros); seguido de 50% “sites de relacionamento”; 26% navegam em “sites de notícias”; 14% marcaram a opção “outros”, com destaque para o youtube, o mais recorrente. Nessa questão, foi também possível marcar mais de uma alternativa e 8% dos alunos não marcaram nenhuma das alternativas.

Fala-se muito dos “problemas” e “perturbações” causados nas escolas pelo uso dos celulares, mas não se conhece muito sobre a postura dos pais. Então, foi perguntado aos alunos se seus pais impunham limites de quando e como eles deviam utilizar seus celulares e o resultado vem de forma positiva, contrapondo a carga negativa quanto ao uso dos aparelhos em sala. Entre os 41 alunos que possuem celular, 27 afirmaram que “sim”, são lhes impostos limites; já 14 disseram que “não”. Esse é um ponto favorável, pois mostra que os pais estão atentos ao universo de seus filhos, pois a ausência de restrições e de orientação pode produzir delinquentes, em vez de crianças saudáveis (KUPFER, 1992).

A maioria dos alunos afirmou que “já fez” alguma atividade escolar usando o celular, totalizando 62%; enquanto 38% disseram “não”. O resultado desta pergunta corrobora com a sua expectativa, que visa buscar maneiras de como utilizar o dispositivo como um recurso pedagógico. Tal expectativa é ressaltada na questão seguinte que visa descobrir se os alunos acham interessante usar o celular para realizar atividades na sala de aula. A proposta é aproveitar, — durante as aulas —, os recursos disponibilizados nos celulares de forma esporádica; 50% marcaram a opção “às vezes”; 26% que “não”, e 24% deles acham que os celulares devem ser usados “sempre” durante as aulas.

Perguntados se compartilhariam seus celulares com os colegas para fazer atividades em sala de aula, dentre os 41 alunos que possuem os aparelhos, 26 deles são favoráveis, enquanto 15 não são. A pertinência da pergunta se dá, principalmente, porque ainda há casos de alunos que não possuem celular, outros que os pais não permitem que os levem para a escola, e o principal é que o aparelho, por ser um dispositivo que armazena arquivos pessoais o torna restrito a outros. O

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resultado desta pergunta sinaliza para um cenário favorável de modo a se desenvolver práticas coletivas em sala de aula.

Dos 46 alunos que responderam se algum professor já realizou alguma atividade com o uso de celulares em sala de aula, 28 disseram que “não”; 18 deles disseram que “sim”. Esse resultado remete a duas situações: primeira, por saber que em algum momento algum professor tomou a iniciativa de fazer experimentos com celulares. Segunda, porque razão não utilizar uma ferramenta tão rica de recursos e de fácil acesso por parte de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem? É preciso que haja uma reflexão acerca dessa situação. Demo (2009) atribui alguns problemas na implementação de novas propostas por parte dos professores, tais como: à carga de trabalho, que sempre cresce em ambientes de aprendizagem virtual, sem a devida recompensa, além da falta de cursos de capacitação adequados à realidade. Ainda de acordo com Demo (2009), segundo muitas pesquisas, o que mais motiva os professores inovadores são recompensas intrínsecas: satisfação pessoal, horário flexível e trato com estudantes não tradicionais.

Por fim, foi perguntado aos alunos, como o celular poderia ser utilizado nas aulas de inglês. Por se tratar de uma questão aberta, foram várias as respostas. Foi predominante a sugestão quanto ao uso de tradutores, em especial o google tradutor, além de dicionários virtuais; sugeriram a utilização de aplicativos específicos para o aprendizado de língua inglesa, um dos que aparecem mais de uma vez é o Duolingo que atribui pontos por respostas corretas, corre contra o relógio e avança de nível. Na verdade, é um aplicativo que proporciona, além de diversão, também aprendizado; outra sugestão recorrente são as pesquisas na internet. Também aparece a proposta de se utilizar jogos educativos em inglês; a agenda e a câmara ficam como opção de registro das aulas e compromissos.

Silva (2006), com sua proposta de interatividade em sala de aula, corrobora com as propostas dos alunos, quando diz:

[...] Tradicionalmente, a sala de aula é identificada com o ritmo monótono e repetitivo associado ao perfil de um aluno que permanece demasiado tempo inerte, olhando para o quadro, ouvindo récitas, copiando e prestando contas. Assim tem sido a pragmática comunicacional da sala de aula: o falar ditar do mestre (p. 21).

De acordo com Teodoro (2003), pressupõe-se que:

[...] os professores dos ensinos fundamental e médio não podem mais ser entendidos como meros tradutores ou difusores de saberes construídos por outros,

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seja nos campos científicos das disciplinas que lecionam, ou no campo específico das ciências da educação (p. 153).

Ainda existem várias restrições para que haja uma inserção dos celulares em sala de aula. Nesse caso, os professores poderiam ser os principais difusores dessa tecnologia (os celulares), entendendo que esses profissionais são os principais personagens dentro sistema educacional, no sentido de produção de mecanismos de conhecimento. Apesar de todos os percalços,

É óbvio que ele, o professor, por si só, não é capaz de transformar a realidade que extrapola a própria escola e tuas raízes no econômico e no sociopolítico. Mas sua competência como profissional da educação, é, sem dúvida, um dos fatores de maior peso quando se pensa na melhoria da qualidade do ensino (MOYSÉS, 1994, p. 14).

Assim, espera-se uma iniciativa mais incisiva por parte dos que promovem a educação brasileira, de modo especial, dos professores.

5. Considerações finais

Após amostragem e análise da pesquisa, fica clara a atual situação da educação brasileira, no sentido de que, ao longo dos últimos anos, vimos várias tentativas de inserção das tecnologias no ambiente escolar, algumas fracassadas, outras com debilidades, mas nenhuma sendo explorada em sua totalidade. Embora também não seja a proposta deste trabalho pregar a inclusão total dos aparelhos celulares em sala de aula. O objetivo proposto é que, ao menos em parte, seja possível a utilização do dispositivo nas aulas de línguas. Para que isso aconteça, é imprescindível a iniciativa e participação dos professores.

O dispositivo possui uma gama imensurável de recursos para serem aproveitados nas aulas de línguas, nesse caso, basta a criatividade dos professores. Importante ressaltar que “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”, e que também “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino” (FREIRE, 2009, p. 25).

Com a adoção de medidas conjuntas entre legisladores, gestores, professores e alunos, certamente será possível apontar saídas, e não apenas proibições. Afinal, o celular não é um vilão, ao contrário, pode ser um grande aliado dentro do processo de ensino-aprendizagem. Alunos sempre demostraram comportamentos adversos ao padrão disciplinar esperado pela a escola. A distração em sala de aula não pode ser atribuída apenas ao uso de celulares. Os alunos podem causar

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distração durante as aulas através de vários outros motivos, como arremessar “bolas de papel” em outros colegas, por exemplo. Enfim, essa é uma ferramenta útil e acessível para a promoção do conhecimento, cabe aos professores, discutir ações para a inserção desse aplicativo em sala de aula.

Referências

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