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Palavras-chave: Rinhas, Interação Interétnica, Performatividade.

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RITUAL E PERFORMANCE ENTRE OS ÍNDIOS POTIGUARA DA PARAÍBA: CONHECENDO A BRIGA DE GALOS1

Rafael Leal Matos, Bolsista CAPES, Mestrando do PPGAS/UFRN.

RESUMO

Este escrito versa sobre uma proposta de investigação etnográfica sobre as relações interétnicas dos atores sociais que participam de “brigas de galos” no território dos índios Potiguara, situado no litoral norte do estado da Paraíba. Estas rinhas se constituem enquanto uma prática ritual difundida dentro da área indígena e nos seus arredores, com participação de índios e não índios, sendo um “texto” importante do universo masculino local. Sem querer julgar estes eventos ou dar subsídios para isto, esta proposta pode ser tida como um exercício antropológico de compreensão de uma situação limite, inserida na clandestinidade. Ao tomar a abordagem da antropologia da performance como filtro epistêmico e metodológico, me debruço sobre estas rinhas tomando-as enquanto um teatro de homens e galos (um jogo/esporte de apostas) que ocorre num setting (rinha), com uma plateia (expectadores), no qual atores sociais (galistas) interagem e competem por status social e dinheiro. Como, então, se configura a interação entre índios e não índios num cenário social que é marcado pelo enfrentamento simbólico? Para responder isso, desejo demostrar a relação existente entre performatividade e interação interétnica para demostrar um quadro de categorias, símbolos, marcas e signos verbais e não-verbais que suscitam um padrão dinâmico de ações pertencentes a este universo – que tem seu valor heurístico expresso no fato de ser um evento ritual que atua enquanto transmissor de saberes e experiências, além de desencadear emoções e valores vivenciados coletivamente.

Palavras-chave: Rinhas, Interação Interétnica, Performatividade.

1Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto

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INTRODUÇÃO

Este artigo, fruto de um projeto de pesquisa, versa sobre uma proposta de investigação acerca dos aspectos da interação social ocorrentes nas brigas de galos realizadas entre os índios Potiguara situados no litoral norte da Paraíba. A partir da experiência etnográfica que obtive com essa população para o trabalho de conclusão de curso de graduação, pude perceber que tais rinhas2se constituem como uma prática ritual difundida dentro da área indígena e nos seus arredores, com participação de índios e não índios.

Sendo assim, pode-se afirmar que a briga de galos é certamente um dos “textos” mais importantes da cultura Potiguara no que tange ao universo masculino. É importante salientar que este trabalho não é uma forma de julgar este evento ritual ou de dar subsídios para isto, mas sim um exercício antropológico que tenta compreender uma situação limite, que tem sua prática inserida na clandestinidade.

Como um filtro metodológico, pretendo compreender a briga de galos a partir do enfoque dado pela antropologia da performance (TURNER, 2008, SCHECHNER 2012, GOFFMAN, 1985). O intuito é o de se debruçar sobre esse evento ritual tomando-o enquanto um teatro de homens e galos, um “drama estético” (que consiste num jogo, num esporte de apostas) que ocorre num setting (rinha), com uma plateia (apostadores e/ou expectadores), no qual atores sociais (galistas3índios e não índios) interagem e competem

por status social e dinheiro. Quero, portanto, perceber a relação entre performatividade e interação interétnica nos espaços onde estes rituais são organizados. Neste sentido, fica a questão: como se configura o encontro face a face entre índios e não índios num cenário social que é marcado (a primeira vista) pelo enfrentamento simbólico?

É importante ressaltar que a intenção aqui não é a de apresentar dados empíricos, discuti-los e dar resultados finais, mas apenas apresentar um primeiro esforço/proposta de compreensão deste evento ritual no qual estou adentrando. Falando praticamente, neste escrito constará uma justificativa da escolha deste tema, uma pequena caracterização do povo Potiguara, uma brevíssima descrição da briga de galos atrelada a uma discussão

2 Nome pelo qual são chamados os locais onde ocorrem brigas entre animais, organizadas para o

entretenimento e aposta.

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sobre ritual e performance, minhas escolhas metodológicas e, por fim, algumas considerações finais com objetivos a serem seguidos na minha futura pesquisa.

JUSTIFICATIVA

A briga de galos é considerada por outros segmentos sociais, inclusive o Estado Brasileiro, como um jogo de azar (devido às apostas) que submete animais a maus tratos. Por estes motivos estas rinhas são proibidas por lei4. Mesmo assim, alguns atores deste universo se defendem destas acusações afirmando que esta é uma atividade “tradicional” e que galos de briga são bem melhor tratados do que outros galos. Para além dessas querelas judiciais e morais, o importante aqui é ressaltar que:

Se se toma a briga de galos, ou qualquer outra estrutura simbólica coletivamente, organizada, como meio de “dizer alguma coisa sobre algo” (para invocar um famoso rótulo aristoteliano), enfrenta-se, então, um problema não de mecânica social, mas de semântica social. Para o antropólogo, cuja preocupação é com a formulação de princípios sociológicos, não com a promoção ou a apreciação de briga de galos, a questão é: que é que se aprende sobre tais princípios examinando a cultura como uma reunião de textos? (GEERTZ, 1978, p. 316).

Neste sentido, quero afirmar que este evento ritual certamente se constitui como um dos “textos” importantes da cultura deste povo, principalmente no que tange ao universo masculino. Estudar a briga de galos significa, portanto, trazer à tona um “texto” da cultura Potiguara que ainda não foi tratado por nenhum pesquisador. Assim, o que pretendo não é julgar a briga de galos ou dar subsídios para isto, mas sim fazer um exercício antropológico de tentar compreender uma situação limite, que tem sua prática inserida na clandestinidade.

POVO POTIGUARA, BRIGA DE GALOS, RITUAL E PERFORMANCE

Etnicamente organizados e imersos num contexto social e histórico que implicou e implica relações e interações sociais com a sociedade envolvente desde tempos mais remotos da colonização brasileira, a etnia Potiguara é o único grupo indígena oficialmente reconhecido no estado da Paraíba, com suas terras demarcadas.

Situada nos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto, no litoral norte da Paraíba, as terras Potiguara encontram-se divididas em três áreas de terras contiguas (a TI5 Potiguara, a TI de Jacaré de São Domingos e a TI Potiguara de Monte Mor), ocupando uma faixa de terra de pouco mais de trinta e três mil hectares, onde habitam por

4Art. 32 da Lei de Crimes Ambientais (N° 9.605/98) e Art. 50 da Lei das Contravenções Penais (N°

3.688/4).

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volta de 14 mil indígenas (CARDOSO et. al. 2012). Sabe-se que a população Potiguara encontra-se distribuída entre trinta e duas aldeias mais seis outras localidades chamadas de “lugarejo”, “pequeno povoado”, “comunidade” ou “aldeia sem cacique” (VIEIRA, 2012).

Cada aldeia é representada perante os órgãos oficiais do estado – como a FUNAI, FUNASA e prefeitura – por um representante, geralmente chamado de cacique, que também encabeça a resolução de outros problemas locais da sua comunidade. Acima destes está o cacique geral que exerce o papel de representante geral, como o nome sugere, frente às outras instituições oficiais e à justiça (PALITOT, 2005).

Dentre as mais diversas práticas culturais do povo Potiguara, gostaria de citar apenas a que diz respeito a este artigo: a briga de galos. Este evento ritual acontece em algumas aldeias locais, mas também nos arredores destas, sempre com a presença marcante de indígenas. Cheguei a frequentar duas rinhas: uma na área indígena e outra fora, mas muito próxima desta.

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Estas rinhas são eventos rituais marcadamente masculinos6 onde galos são

colocados em embates, tendo como finalidade a aposta entre os participantes. Estes espaços são fechados e escondidos, mas suas localizações não me pareceram ser segredo para ninguém da região. Cada rinha tem um dono: são espaços que necessitam de certa manutenção e mão de obra. A venda e o consumo de bebidas alcoólicas, assim como de “tira-gosto”, é uma prática difundida no local, sendo uma das formas de renda do dono da rinha. Elas são organizadas sempre nos fins de semana, quando pode haver apenas o encontro de galistas para combinar brigas e apostas no local, assim como torneios organizados, quando existe cobrança de entrada para que os participantes vejam o “espetáculo dos galos”.

Para se compreender melhor este evento, torna-se necessário um aporte teórico que compreenderá temas como: ritual, performance, além, claro, de leituras sobre briga de galos. Essa modalidade de briga é conhecida nas Ciências Sociais, em geral, e na Antropologia, em particular, desde a publicação do texto intitulado Um Jogo Absorvente:

notas sobre a briga de galos Balinesa, de Clifford Geertz (1978). Nesse clássico, o autor

analisa esse evento ritual, a partir de uma ótica interpretativa da cultura, como uma estrutura coletivamente organizada que expressa grande parte da cultura balinesa, ou seja, como um “microcosmo” que expressa um “macrocosmo”. A partir de uma descrição

densa de como os eventos são organizados e de como se dão as apostas, Geertz interpreta

as rinhas e traça relações entre estas e a estrutura social e de status em Bali, fazendo associações metafóricas (simbólicas) e concretas entre homens e galos.

Outro texto importante que servirá de base para minha pesquisa é a dissertação de Silva (2011), onde o autor fala sobre a briga de galos na região central do Rio Grande do Sul. Mesmo que este autor não tenha trabalhado com a questão da performance nestes eventos, o texto fornece elementos importantes que devem ser levados em conta. Neste trabalho, Silva demonstra como se constitui a identidade (masculina) do grupo de galistas que ele analisa, a forma com que estes se relacionam entre si e entre outras pessoas do seu circo social, além de enfatizar a questão da antropologia das emoções nos eventos por eles realizados.

Ritual e Performance

6Neste sentido, leituras sobre performance de gênero serão de grande importância, tais como: Gastalo

(2005), que fala sobre a performance masculina em bares, e Gastalo & Braga (2011) que articulam corporeidade, esporte e identidade masculina.

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O estudo de rituais é um tema recorrente na antropologia. Desde os clássicos da antropologia práticas ritualizadas foram colocadas como tema importante e revelador de aspectos socioculturais de sociedades distantes (temporal e espacialmente), como são os casos de textos como: As Formas Elementares da Vida Religiosa de Émile Durkheim (2003), A Prece de Marcel Mauss (1981) e A Eficácia Simbólica e Cláude Lévi-Strauss (1975). Nestes clássicos, a temática ritual é colocada como uma repetição reprodutora da coesão grupal. Neste sentido, apesar de falar sobre práticas rituais, estes autores priorizavam as crenças, os símbolos, o mito. Nunca a prática, o rito, o ato. Nestes casos, a prática e a experiência individual não tinham lugar, muito menos a noção de processo e mudança social.

Outros autores adotaram novas perspectivas de analise do rito. Com Van Gennep (1978), o ritual passou a ser analisado fora do escopo religioso e, de maneira incipiente, o indivíduo e seu lugar na constituição social (sua experiência no rito de passagem) passaram a ser abordados. Outro aspecto importante da obra deste autor é a dimensão temporal que passa a ser incorporada na análise dos ritos de passagem – que são, em suma, marcadores temporais produzidos coletivamente, mas vividos por indivíduos específicos – e que têm como etapas constitutivas os momentos de “separação”, “margem” e “agregação”. Estas etapas são momentos ritualizados que, juntos, promovem mudanças na dinâmica social a partir do momento em que deslocam indivíduos de um espaço social para aloca-los em outro, mudando o status social destes.

Victor Turner (2008) em sua analise sobre eventos rituais toma o “drama” como uma metáfora da vida social. Neste sentido, este autor já faz um ligação entre ritual e performance, entre antropologia e teatro. Influenciado por Van Gennep, Turner (1982) fala sobre processos rituais instituindo o conceito de “liminóide”, que será importante para o meu empreendimento. Este conceito diz respeito a momentos inseridos na margem da estrutura social de sociedades complexas, onde a anti-estrutura se revela, havendo um questionamento da estrutura social: o que parece ser o caso da briga de galos.

Sendo a rinha de galos um jogo de apostas, é importante citar Richard Schechner (2012), que fala do jogo como performance. Segundo este autor:

quando humanos e animais jogam, eles se excedem e se exibem como o intuito de impressionar os outros jogadores, assim como os não jogadores que estejam observando [...] Em algumas formas, o jogo pode parecer mais com uma forma de ritual e com o teatro. O jogo é geralmente uma sequencia ordenada de ações realizadas em lugares específicos por uma duração de tempo conhecida. (SCHECHNER, 2012, p. 127).

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Esther Jean Langdon (2007) fala que “as características mínimas do rito incluem uma ruptura no fluxo da ação social, um limite temporal e atores sociais que, de alguma maneira, manifestam simbolicamente valores e ideais de seu mundo” (LANGDON, 2007, p. 05). Neste sentido, os eventos rituais se constituem como momentos privilegiados de análise. De acordo com a autora, nas análises contemporâneas, o surgimento da noção de “performance” foi introduzida por alguns autores no intuito de “expressar a multiplicidade de formas rituais que estrutura e permeia a vida” (LANGDON, 2007, p. 09) sejam ritos sagrados ou de entretenimento, caso da briga de galos.

Por fim, um trabalho sobre performance que envolve o contexto de lutas – e que por isso se aproxima da briga de galos – é o texto de Koike (2012). Neste trabalho, o autor faz “Uma etnografia do campeonato Sul-Brasileiro de Jui-jítsu de 2008” (título do texto). Seguindo as abordagens sobre performance, Koike fala sobre este momento ritual, que quebra como o fluxo temporal da vida social cotidiana e cria um cenário, um tempo espaço distinto, no qual símbolos são articulados e compartilhados, num rito que influi na dinâmica de status social dos lutadores.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método a ser utilizado para emergir no universo composto pela briga de galos entre os Potiguara será a etnografia, que é por excelência uma forma de conhecimento antropológica. Esta metodologia, junto com suas possíveis técnicas (observação participante, entrevistas informais e formais, o olhar e ouvir atento, o diário de campo), é a maneira que julgo mais adequada para se conhecer uma alteridade. Por basear-se na troca intersubjetiva entre pesquisador e os sujeitos da pesquisa, essa é a metodologia que melhor se encaixa aos meus objetivos. Ela propiciará uma convivência, um estar junto, um compartilhamento entre pesquisador e pesquisados de tal maneira que permitirá que estes não sejam apenas “objeto” de pesquisa, mas sujeitos que influenciarão na construção do texto final.

O intuito da utilização do método etnográfico é uma maneira do antropólogo tentar estabelecer uma interação com a alteridade que seja “simétrica”, ou seja, onde nesta interação o máximo de sujeitos pesquisados deixe a categoria de “informantes” e passem a ser “interlocutores” da pesquisa. Esta diferenciação entre informante e interlocutor é colocada por Cardoso de Oliveira (1995). Segundo este autor, a categoria de informante é transposta na medida em que a relação entre observador e observado torna-se dialógica. Ou seja, é quando, no encontro etnográfico, se instaura uma relação cognitiva que vai

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além da mera coleta de informações, quando essa “relação caracteristicamente marcada como uma via de mão única, passa a ser de mão dupla” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1995, p. 223).

Neste sentido, a fonte de dados será a experiência pessoal do antropólogo em campo, aliada as observações direitas e indiretas – estas últimas baseadas na experiência de outras pessoas, nas observações destas. Para submergir no universo da briga de galos e compreender a lógica performática do grupo de galistas faz-se necessário uma observação participante (MALINOWSKI, 1980) para entender e descrever como, na interação (GOFFMAN, 1985), os atores sociais atribuem sentidos às suas ações e moldam-nas no tempo e no espaço. De acordo com Jaccoud e Mayer (2010),

“no modelo da interação, que se insere em um procedimento construtivista, a pesquisa de campo possibilita dar conta de uma realidade, menos pelo fato de que o pesquisador chega a ‘sentir’ o meio dos atores presentes, do que por ele interagir enquanto ator social. Nesta concepção, não só o distanciamento objetivo é impossível, como a manutenção de uma posição de exterioridade pelo observador paralisa a pesquisa” (CHAUCHAT, 1985, p. 92

apud JACCOUD, MAYER, 2010).

Nesta forma de abordagem, segundo Berreman (1980), o “controle das impressões” (GOFFMAN, 1985) é um instrumento metodológico fundamental. Berreman (1980) vê a pesquisa etnográfica como um sistema de interação entre etnógrafo e seus sujeitos. No encontro com estes, o pesquisador avalia-os de acordo com a “quantidade de informações sobre a região interior que lhe revelam, já ele [o pesquisador] é avaliado por eles à base do seu tato em não intrometer-se desnecessariamente na região interior” (BERREMAN, 1980, p.142). Neste sentido se estabelece um jogo no qual o controle das impressões é imprescindível para se estabelecer uma relação de confiança reveladora.

Tentarei, assim, penetrar no circuito das brigas de galos que acontecem dentro da área indígena, participando das atividades referentes a esse circuito, como treinamentos, eventos semanais, torneios, etc., para poder definir a situação de maneira favorável e com isso conseguir penetrar nas instancias mais profundas das representações feitas pelos sujeitos da minha pesquisa. Desse modo, procurarei ser admitido dentro desse circuito de tal forma a não parecer um observador incômodo. A participação nesses eventos pode ser vista, por alguns mais moralistas, como uma contravenção, mas não há como pesquisar esse universo clandestino sem dele participar – pelo menos nos moldes que me proponho. Neste sentido, a subjetividade, ou seja, minhas emoções e sentidos ao participar desses

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eventos será um fator preponderante da pesquisa, por se constituir como uma fonte de dados importante.

A anotação exaustiva dos fatos ocorridos, assim como a capacidade de memorização aliada à observação atenta em campo, são outras técnicas de pesquisa que exercerão um papel central para que se possa construir um quadro interpretativo e passível de análise. As anotações de campo, seguindo a orientação de Schatzman e Strauss (1955, apud JACCOUD & Mayer, 2010), serão feitas de maneira sistemática e separadas nas seguintes modalidades: metodológicas, teóricas e descritivas.

Por fim, o uso de outras metodologias, inclusive quantitativas, pode ser acionado de acordo com a receptividade dos sujeitos e o encaminhamento da pesquisa. Assim, não excluirei a possibilidade de trabalhar com o uso de câmeras fotográficas e de vídeo, entrevistas formais e entrevistas semiestruturadas, apesar de ser algo complicado no contexto de clandestinidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como este artigo é apenas uma discussão preliminar sobre a briga de galos entre os Potiguara, ou seja, é apenas um projeto de pesquisa, quero neste espaço de considerações finais enfatizar meu objetivo geral que é: investigar os aspectos de interação interétnica tendo como perspectiva a análise performática dos atores sociais inseridos na briga de galos, realizadas na área indígena. Com isso, pretendo trazer à tona representações intersubjetivas compartilhadas pelos frequentadores destas rinhas, no intuito de descortinar um quadro de categorias, símbolos, marcas e signos verbais e não-verbais que me ajudem a traçar um padrão dinâmico de ações performativas pertencentes a este universo.

Além disso, procurarei perceber questões mais práticas e imediatas que me ajudarão a traçar o que foi proposto mais acima. Neste sentido, pretendo perceber se a briga de galos é tida como uma prática tradicional, compreender como as rinhas são organizadas, explicitar a lógica das apostas, traçar um perfil dos frequentadores, mostrar a relação entre performance e gênero, fazer um glossário de termos êmicos e saber o porquê dos indivíduos praticarem esta atividade ilegal.

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