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MAL-ESTAR E BEM-ESTAR DOCENTE: UM ESTUDO DE CASO

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MAL-ESTAR E BEM-ESTAR DOCENTE: UM ESTUDO DE CASO

José Murilo Oliveira Santana1 Fabyanne Wilke Costa Santos2 Lívia de Melo Barros3 GT 10 - Práticas Investigativas na Educação Superior

RESUMO

O presente trabalho é um estudo de caso que se subsidia a partir da relação do discurso produzido por um docente universitário atuante da grande área da Saúde há cinco anos. Objetiva-se a partir da análise dos dados identificar elementos que corroborem com os estudos realizados a priori de autores da Educação e da Psicologia que abordam o tema bem-estar e mal-estar docente. Utilizamos a metodologia qualitativa, a coleta de dados foi realizada através da entrevista narrativa, por esta possibilitar ao entrevistado uma maior autonomia para discorrer acerca do mal estar e bem estar docente o que favoreceu uma posterior análise entre os elementos já coletados e a atual da literatura bibliográfica, com base na análise textual discursiva. Identificamos implicações de que o bem-estar e mal-estar docente estão interligados a política de mercado, carga horária sobrecarregada, falta de tempo para lazer e a relação professor-aluno podem interferir na manutenção emocional dos docentes. Palavras-chave: trabalho; docente; universidade; mal-estar; bem-estar.

ABSTRACT

This paper is a case study that subsidizes from the speech interface produced by an active university lecturer the area of Health for five years. Objective is based on the analysis of data to identify elements corroborating the studies a priori authors of Education and Psychology that address the welfare issue and teacher malaise. We used qualitative methodology, data collection was carried out through the narrative interview by this enable the interviewee greater autonomy to discuss about the malaise and teachers be well which favored a later analysis of the information already collected and the current literature, based on discursive textual analysis. Identify implications of the teacher well-being and ill-well-being are linked to market policy, overloaded workload, lack of time for leisure and the teacher-student relationship can interfere with emotional maintenance of teachers.

Key words: work; teacher; university; malaise; welfare.

1. INTRODUÇÃO

Autores da Psicologia, como Dejours (1992), Folkmam e Lazarrus (1991), creem que o bem-estar dos docentes emerge como consequência de estratégias utilizadas pelos

1Graduando em Psicologia/UNIT. Grupo de Pesquisa Educação Desenvolvimento Humano e Cultura/ UNIT E-mail: jmurilo.100@gmail.com

2 Graduanda em Psicologia/UNIT. Aluna de Iniciação Científica- PROBIC/UNIT. Grupo de Pesquisa Educação

Desenvolvimento Humano e Cultura/ UNIT e Estudos Interdisciplinares em Neurociências, Biologia Celular e Nanomedicina (UNIT), Monitora da disciplina Teorias e Técnicas Psicoterápicas I. E-mail:

facosta14@hotmail.com

3 Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS, Mestre em

Educação/UNIT, Graduada em Psicologia/UNIT, Grupo de Pesquisa Educação Desenvolvimento Humano e Cultura/ UNIT e Grupo de Pesquisa Pensamento e Cultura/UNB, professora do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes E-mail: meloliviab@gmail.com.br

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próprios sujeitos frente a situações adversas, além de depender necessariamente da história de vida do sujeito, visto que todo ambiente pode conter situações que possam causar mal-estar, mas que fatores como: auto-estima, auto-imagem, situações pessoais e história anteriores de vida podem interferir tanto quanto o ambiente de trabalho. Entretanto, os estudos dos autores da Educação (JESUS; SANTOS, et. al., 2004; MOSQUERA; STOBÄUS,1996) fazem referência ao ambiente de trabalho como fator estritamente necessário para o estabelecimento de um mal-estar e manutenção do bem-estar dos professores, tendo em vista que o ambiente pode ter característica estruturante ou não para o sujeito, e o mesmo diante dessa realidade pode padecer e sofrer consequências diversas, como o estabelecimento de um mal-estar.

Tendo em vista os diversos fatores envolvidos no processo de manutenção do bem-estar e estabelecimento do mal-estar docente, o presente justifica-se a partir da importância de estudar esses fatores presentes nessa dinâmica laboral, assim como entender como o movimento dos próprios docentes diante desses fatores pode influenciar na vivência como docente. Além de que a possibilidade de compreender esses fatores a partir de um discurso do próprio professor poderá nos dar margem a outros dados antes não encontrados nos estudos pesquisados, visto que sabemos o quão é importante é o ajustamento e as considerações que o próprio sujeito entrevistado faz diante da relação mal-estar e bem-estar é tão importante quanto os dados dos referenciais levantados.

Através do trabalho o indivíduo desenvolve-se, adquire status social, sentimento de identidade e pertencimento, constitui e mantem relações sociais através de trocas afetivas e econômicas, bom como partilha de experiências. O sofrimento na atividade laboral traz prejuízos tanto na manutenção da identidade, como impossibilita no desempenho do sujeito (SEABRA; SILVA E DUTRA, 2015). Mendes et al (2007) menciona, que as pressões das organizações do trabalho afeta a saúde mental e causa desequilíbrio psíquico.

O âmbito laboral do professor universitário vem passando por diversas modificações, com isso novas condições de trabalho que exigem complexidade, aumento e diversidade nas funções de ensino, pesquisa, administração e extensão atribuídas aos docentes e que podem propiciar o mal-estar da classe docente. As leis de mercado foram assimiladas pelas instituições, gerando uma dinâmica de oferta e procura, o que fez com que acelerasse as produções bibliográficas de professores, sobrecarregando-os de tarefas, e os mesmo assumindo uma alta carga horária – que por muitas vezes impede o prazer de um lazer ou tempo com família. Outro fator importante das modificações que podem favorecer o mal-estar docente é cada vez mais o distanciamento dos objetivos primários da universidade no que

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tange a processo de ensino aprendizagem. Além disso, a desvalorização para com os professores advindo dessas leis de mercado, favorece um sentimento de instabilidade e futuro incerto dos professores, os mesmos sentem a necessidade de cumprir as demandas impostas pela instituição e os valores adotados por elas, como consequência, a competitividade aumenta e as relações no ambiente de trabalho se tornam mais superficiais e mais rápidas (VILELA, GARCIA E VIEIRA, 2013); (BERNARDO 2014); (SEABRA; SILVA E DUTRA, 2015).

O bem-estar psíquico do docente depende da interação do seu ambiente de trabalho, das relações estabelecidas e das possíveis exigências das universidades para com os professores. Segundo autores como NÓVOA (1996); FULLAN (2002); NASCIMENTO E OLIVEIRA (2011) acreditam que os docentes podem encarrar algumas dificuldades no ambiente laboral que favorece possivelmente para o estabelecimento do adoecimento, fatores como a má-remuneração, a alta carga horária, a competividade entre os próprios colegas de trabalho, além da organização em forma de vértice nas instituições, e/ou o comportamento dos alunos em sala de aula. São pontuadas nas pesquisas de Mendes et al (2007) e Lima e Lima-Filho (2009), fatores como intensa exposição a agentes de risco, convivência com alunos e violência nas salas de aulas, excessiva burocratização, infraestrutura dos prédios, deficiência de recursos humanos e matérias – sobre tudo em instituições de ensino superior público -, a falta de flexibilidade no horário de trabalho. Além disso, Seabra, Silva e Dulta (2015, p. 216), destaca:

“[...] o aumento do uso do tempo com atividade laboral no fim de semana, caracterizando, mais uma vez, a intensificação do trabalho e mostrando que os docentes têm diminuído as horas dedicadas a atividades como lazer, recreação, de convívio familiar e de descanso. o lazer é uma das principais ocupações do indivíduo, sendo considerada uma atividade realizada sem obrigações de ser produtivo, que proporciona relaxamento e crescimento pessoal.” (p. 216).

Para Lima e Lima-Filho (2009), a globalização, as mudanças na política econômica, a lógica de mercado, interferiu na política educacional superior e o professor passa a ser um trabalhador intelectual nas mesmas condições do trabalhador fabril. Tais mudanças repercute inclusive na produção cientifica. O incentivo por parte das instituições reguladoras de pós-graduação e órgãos financiadores, fez com que o docente passe além do ensinar e instruir, para produzir e socializar conhecimento e pesquisa, como forma de permanência na Pós-graduação ou como financiamento de pesquisas. Para estes autores, “a

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busca quase “frenética” de aumento da produção acaba desenvolvendo certa competição entre os próprios professores, levando-os ao cansaço, estresse e, muitas vezes, à frustração” (p. 70-1). Ainda para Lima e Lima-Filho (2009), o docente passa agora a valer pela quantidade de pesquisas em detrimento da qualidade - indícios da lógica de mercado.

Essa produtividade acadêmica acarreta outras problemáticas; o tempo dedicado as atividades administrativas e a burocratização. Lima e Lima-Filho (2009), aponta que:

“a insuficiência de apoio administrativo dispensado aos professores, principalmente no gerenciamento de atividades relacionadas aos recursos financeiros de projetos de pesquisa [...] desgasta e sobrecarrega o professor, além de tomar um tempo em que os professores poderiam se dedicar mais a atividades acadêmicas.”(p. 70)

Mendes e colaboradores (2007), verificou em sua pesquisa realizada com docentes da Universidade Estadual de Marigá – UEM - que todos os entrevistados destacaram ser um sofrimento a excessiva burocratização.

Na pesquisa realizada por Lima e Lima-Filho (2009), permite-nos verificar alguns problemas associados tanto à saúde física e mental, como as doenças relacionadas ao trabalho relatados pelos professores entrevistados de uma instituição de ensino superior pública. As queixas mais frequentes relativo a saúde física foram dor nas costas, nas pernas e braços, alergia respiratória e dermatológica. No quesito saúde mental, cansaço mental, estresse, ansiedade, esquecimento e frustração, já a doenças associadas à atividade laboral do professorado, as mais relatadas foram LER, tendinite, estresse e dor nas costas, as menos citadas, mas não menos importantes estão a depressão, glaucoma nas cordas vocais, alergia e problemas oftalmológico. Para estes autores, é possível que as dores esquelético-muscular possam esta correlacionadas aos longos períodos em pé, aos descolamentos constante entre prédios e ao peso dos materiais didáticos levados por eles, as mesas e cadeiras inapropriadas ergonomicamente, bem como posturas inadequadas, que acarretaria a LER e a tendinite. Por se tratar de uma atividade laboral que trata da comunicação, o uso intensivo da voz é inevitável e pode acarretar lesões e inflamações, tanto pela exposição a poeira ou ao giz, bem como pelo aumento brusco da voz em situações estressantes e/ou ambiente barulhento.

Ainda na pesquisa, foi averiguado a presença de sintomas psicossomáticos, tais como, cansaço mental, estresse, ansiedade, esquecimento, frustração, nervosismo, angustia, insônia e depressão. Os pesquisadores observaram ainda, que embora os docentes estivessem cientes de tais sintomas, visitavam frequentemente profissionais das áreas da saúde, menos os

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serviços ligados a saúde mental - psicólogos, psicanalistas e psiquiatras -, não cuidando assim do esgotamento emocional. Foi constatado também que “apenas 4,3% disseram fazer uso de calmantes; 5,9% relataram fazer uso de anti-depressivos; 4,3% disseram fazer uso de ansiolíticos e 11,5% relataram fazer uso de anti-hipertensivos” (LIMA; LIMA-FILHO, 2009, p. 74), provavelmente a pouca adesão pode estar relacionado a baixa procura por profissionais da psiquiatria e encaminhamentos psicológicos.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para metodologia de análise e interpretação da entrevista optamos pelo uso da entrevista como método de coleta de dados a partir da percebermos a necessidade de analisar o modo como o sujeito percebe e dá significado a sua realidade (DUARTE, 2004).

É importante destacar que a seleção do entrevistado foi realizada através de sorteio dos professores da área da Saúde, acreditamos no benefício do anonimato do interlocutor com o viés da não possibilidade de reconhecimento do mesmo. Ressaltamos também que o local da entrevista foi escolhido pelo participante, e o mesmo optou por ser entrevistado no ambiente de trabalho. Esse dado sobre o local da entrevista nos remete às possíveis interferências de modo direto ou indireto nas respostas elucidadas pelo discente e consequentemente nos dados da pesquisa. Contudo, mesmo com as possíveis interferências ocorridas por meio da escolha do ambiente, a presente análise de dados parte do pressuposto da importância de destacar somente as falas do discurso que sejam possivelmente relevantes para o alcance do objetivo deste estudo de caso. Durante a entrevista foi utilizado um roteiro semi-estruturado, que possibilitou o manejo de novos questionamentos acerca das respostas do entrevistado. Os dados foram analisados à luz do referencial bibliográfico sobre bem-estar e mal-estar do professor universitário.

A análise dos dados deu-se através do levantamento de categorias, para investigação eleitas anteriormente, que pudessem a partir dos resultados da entrevista entrelaçar as classificações para o alcance dos objetivos da análise. Categorias para análise da entrevista como: 1) O ambiente Universitário; 2) Promoção para bem-estar; 3) Estabelecimento de Mal-estar, foram as principais para a interpretação e concretização dos dados da entrevista. Não excluímos em nenhum momento a possibilidade de emergir categorias novas embasado no discurso do interlocutor. A partir dessa base da construção de

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dados, juntamente com as falas do professor entrevistado se deu a formação do presente material.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O professor entrevistado trouxe questões bastante pertinentes no que tange o tema mal-estar e bem-estar do professorado. Seu discurso teve coesão com os estudos levantados a priori e nos possibilitou analisar as categorias levantadas para a pesquisa sobre dinâmicas do bem-estar e mal-estar docente. A primeira categoria levantada no discurso fora sobre a importância do ambiente de trabalho universitário para a atuação da profissão como docente. O sujeito pontuou que questões de mercado e exigências universitárias influenciam diretamente no bem-estar, além das dinâmicas atribuídas por gestores e os fatores políticos da universidade.

Questões como acúmulo de tarefas e trabalho por parte de exigência da instituição, com sua divisão verticalizada proporciona para o sujeito um sentimento de insegurança frente ao trabalho, levando competitividade entre colegas. Autores como Vilela, Garcia e Vieira (2013) e Bernardo (2014), acreditam que a desvalorização para com os professores advindo dessas leis de mercado, favorece um sentimento de instabilidade e futuro incerto dos professores, e os mesmos sentem a necessidade de cumprir as demandas impostas pela instituição e os valores adotados por ela, como consequência, a competitividade aumenta e as relações no ambiente de trabalho se tornam mais superficiais e mais rápidas.

Notemos, então, a transcrição direta da fala do entrevistado: "uma pergunta que eu sempre venho me fazendo é: até quando eu vou aguentar essa nova carga?" A passagem refere-se a grande carga horária que os professores universitários vêm enfrentando em decorrência do estabelecimento das leis de mercado em instituições de ensino superior. Nota-se no diálogo do professor, uma frustração no que tange a área de pesquisa. Frustração esta, que impacta não apenas a qualidade das atividades, o sentimento de não-realização profissional, a desmotivação, mas também inviabilizando o desenvolvimento do mesmo, levando ao mal-estar e o sofrimento psíquico.

"Que a gente pensa “ah, nós vamos pesquisar”, mas não é bem assim, né, então isso é um impacto muito grande, isso é uma mudança muito grande que eu acho na hora de você estabelecer, né, aquele seu sonho para a realidade de hoje, é bem diferente." (Docente entrevistado)

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Sobre as questões de manutenção do bem-estar, o sujeito entrevistado discorreu que para promover um funcionamento emocional mais adequado, afastamento de ansiedade, insônia e estresse ele faz uso de remédios prescritos por médicos de sua confiança, e ainda discorre que isso pode acarretar uma válvula de escape das situações estressoras laborais, entretanto informa que atualmente é o meio que encontra de driblar o mal-estar frente a situações laborais. Outro aspecto levantado por ele para a manutenção do bem-estar é a possibilidade que os assuntos acadêmicos não fossem levados para casa, ou seja, não tomassem mais do que o tempo de trabalho. Em consequência disso, o mesmo afirma que teria mais tempo para se dedicar a família, a saúde e ao lazer, tendo em vista que para ele esses âmbitos são extremamente importes para um bom funcionamento psíquico e físico. Ele relata que o não acumulo de função da universidade promoveria uma melhoria na sua qualidade de vida. Seabra e Silva e Dutra (2015, p. 217) discorre que “a intensificação do trabalho se mostrou como uma característica atual presente no trabalho dos docentes universitários entrevistados”, em suas pesquisas notaram “que os docentes têm dedicado grande parte do tempo durante a semana e nos finais de semana às atividades laborais, aumentando ainda mais a sobrecarga de trabalho”.

Outro ponto levantado pelo professor no que tange a sentimento de bem-estar no ambiente de trabalho é o momento em sala de aula, quando os alunos demonstram interesse pelo assunto e criam assim juntos um ambiente educativo mais divertido, menos rígido. Ou seja, uma boa relação professor-aluno promove para o entrevistado um sentimento de satisfação profissional.

Quando perguntado sobre os momentos de mal-estar na prática docente o professor relatou que, na sua concepção ultimamente presencia momento de mais mal-estar do que bem-estar e acredita que é fruto além situações familiares, como a recente perda de um ente querido, que o impactou bastante, sendo ponto de um repertório de perdas sucessivas, quanto do ambiente universitário, que interfere com o acumulo de tarefas institucionais, acarretando um estresse muito grande e a necessidade de uso de remédios para poder conter a ansiedade de um dia de trabalho acelerado e estressante. O docente apontou como exemplo desses momentos de mal-estar, os momentos recentes de uma dor de garganta recorrente e intensa, que perdurou por volta de um ano: “olha eu tô sentindo uma infecção na garganta, uma dor na garganta todo dia, eu trabalho 40 horas, quer dizer, 60 horas na época e tenho problema familiar”. Essa dor nas vias respiratórias superiores é, segundo o mesmo,

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consequência de uma atividade estressante interligada com questões familiares que não tiveram um enfrentamento eficaz. Ele continua a conversa, afirmando:

"Então assim aquele mal estar que eu passei de um ano de infecção da garganta eu recuperei, só que agora eu não tô vivendo a dor da garganta mas agora o cansaço físico tá muito maior. " (Docente entrevistado)

Verifiquemos que o professor, relata melhoras na dor da garganta, entretanto, ainda sente cansaços físicos, que segundo o mesmo tem relação direta com o ambiente de trabalho, as pressões recebidas, a alta carga horária, bem como pouco tempo livre. Complementa: "dia de sexta [...] eu digo “graças a deus passou mais uma semana”, enfatizando o cansaço psicológico e físico.

O docente discorre ainda que o uso de remédios para ele é um importante exemplo de estresse, visto que desde que começou a utilizar o recurso para diminuição da ansiedade e da insônia não parou mais, ao contrário, o uso dos remédios tomaram uma proporção bem maior desde o início.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa qualitativa possibilitou o levantamento de dados acerca da percepção e da vivência do docente universitário entrevistado. Questões relativas a sua atividade laboral e sobre os fatores presentes no trabalho foram os pontos relevantes da entrevista, o que subsidiou que esses fatores podem interferir no bem-estar e mal-estar do docente. Os elementos produzidos corroboram com estudos realizados anteriormente e pressupostos das teorias de referências enfatizando a importância de um ambiente de trabalho com características mais estruturantes para o bom funcionamento emocional da classe docente. Da análise da entrevista emergiu a comprovação de que: o bem-estar e mal-estar docente estão interligados e são consequências de situações intrínsecas e extrínsecas ao sujeito. As questões universitárias, como política de mercado e alta exigência de carga horária e cumprimento de tarefas, bem como a relação professor-aluno podem interferir na manutenção emocional dos docentes. Além das questões subjetivas do docente como os aspectos familiares e pessoais também fazem parte dessa dinâmica emocional da classe docente, incluindo a percepção e interpretação das situações por partes dos professores interferem concomitantemente a todos os outros pontos. Destacamos ainda que, a implicação

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da pesquisa nos possibilitou atuar como mediadores de situações de percepção e de vivência do sujeito passível de ser afetado pelas circunstâncias inseridas. O presente estudo pode fornecer considerações para futuras pesquisas acerca do mesmo tema. É conveniente trazer aqui que este estudo não descarta as possibilidades de outros sobre o tema.

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