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O PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL EM PASSO FUNDO: UM ESTUDO DE CASO DO PAR HÉLIO TOLDO

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Academic year: 2021

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O PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL EM PASSO FUNDO: UM ESTUDO DE CASO DO PAR HÉLIO TOLDO

Jordana Luiza Nogueira(1) Maria Zilda da Silva (2), Henrique Kujawa (3), Caliane Almeida (4) (1) Aluna da Escola de Arquitetura e Urbanismo, IMED, Brasil. E-mail:

joo.nogueira@hotmail.com

(2) Aluna da Escola de Arquitetura e Urbanismo, IMED, Brasil. E-mail: mariadasilvapf@gmail.com.br

(3) Docente da Escola de Arquitetura e Urbanismo, IMED, Brasil. E-mail: kujawa@imed.edu.br (4) Docente e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e

Urbanismo – PPGARQ IMED, Brasil. E-mail: caliane.silva@imed.edu.br Resumo

O crescimento urbano evidenciado após a segunda metade do século XX, aliado ao processo de industrialização e ao êxodo rural, dentre outros aspectos, resultou na elevação do déficit habitacional, principalmente para as camadas sociais de menor poder aquisitivo, em todo o país. Neste contexto são percebidos dois movimentos para suprir a demanda habitacional para estes grupos sociais: a ocupação de áreas não urbanizadas (irregulares); e a elaboração de políticas públicas de financiamento e de construção de unidades habitacionais Em Passo Fundo, mais precisamente, foram concebidos diversos conjuntos habitacionais oriundos de políticas nacionais de habitação. Nas décadas de 1970 e 1980, tal ação se deu por meio do Banco Nacional de Habitação (BNH) e as COHABs a ele associadas e, mais recentemente, por via do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) e do Programa Minha Casa e Minha Vida (MCMV)). Uma das características mais marcantes destas políticas habitacionais foi e é a construção de moradias em regiões periféricas das cidades brasileiras e com precárias condições de infraestrutura e serviços. Objetiva-se com este artigo estudar o PAR Hélio Toldo em Passo Fundo-RS principalmente os aspectos relacionados à sua implantação, urbanização e sustentabilidade. Metodologicamente, a pesquisa se constitui num estudo de caso, utilizando-se como fontes os títulos encontrados na revisão bibliográfica sobre o tema, além das análises cartográficas, observações in loco e entrevistas realizadas com moradores. Os resultados indicam que, mesmo localizado nas franjas do centro de Passo Fundo, o PAR Hélio Toldo não foi pensado e/ou concebido para garantir mobilidade, seguindo o padrão de precária infraestrutura e escassez de equipamentos urbanos, como muitos dos conjuntos habitacionais vinculados a políticas públicas habitacionais brasileiras.

Palavra chave: Habitação de interesse social; Programa de Arrendamento Residencial; ; sustentabilidade;

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Abstract

Urban growth, especially after the second half of the twentieth century, in conjunction with the process of industrialization and rural exodus produced a housing deficit, especially for the social strata with lower purchasing power. In this context, there were two movements to meet the housing demand for these social groups: one was the occupation of non-urbanized areas (irregular); Another was the development of public policies to build housing for these social strata. In Passo Fundo, they were developed several housing projects from domestic housing policies. In the 1970s houses were built through the National Housing Bank (BNH), in the 1980s, through the COHAB and more recently linked to My Home, My Life and the Residential Leasing Program (PAR). One of the features of these housing policies is the construction of housing in remote areas and poor urban conditions. We aim with this article is to analyze the formation of PAR Hélio Toldo, especially in aspects of urbanization and sustainability. Methodologically research constitutes a case study, using as sources bibliographic review, cartographic analysis and interviews with residents. The study indicates that even in a region not far from the city center PAR Hélio Toldo was not designed to ensure mobility, infrastructure and urban facilities needed.

Keywords: Housing of social interest; urban planning; sustainability

Introdução

De modo geral, a partir de meados do século XX, Passo Fundo passou a se configurar como palco para políticas de industrialização e foi acometida pela intensificação do êxodo rural para seu centro urbano. Tais movimentos, associados ao desenvolvimento de atividades filiadas ao comércio, ao serviço e a agroindústria, acabaram por transformar a cidade num polo regional, referência para diversos municípios do estado do Rio Grande do Sul. Esse crescimento trouxe, por um lado, o alargamento da oferta e diversidade de empregos e o consequente crescimento econômico e, por outro lado, ampliaram as demandas, exacerbando variados problemas de ordem urbana, a exemplo da questão habitacional e os direitos sociais de seus ocupantes.

O direito à cidade vem sendo reconhecido como fundamental a todos os cidadãos englobando, entre outros aspectos, as condições de moradia, mobilidade, saúde e educação. (LEFEBVRE, 2006; CASTELLS, 2006). Conforme o Plano Diretor de Passo Fundo, mais precisamente em seu Art. 39. “O direito à cidade engloba o direito às políticas sociais básicas e a fruição de bens e serviços essenciais para o desenvolvimento da pessoa humana, especialmente a educação, saúde, trabalho, habitação, segurança, mobilidade, meio ambiente, cultura e desporto” (PASSO FUNDO, 2006) (RIBEIRO; MOREIRA, 2014). Entretanto, sabe-se que existem diferenciações no trato da questão da habitação quando consideradas as classes sociais. A localização das moradias em setores tidos como de baixa renda e nos arrabaldes da cidade, depõem sobre a questão. Nesse sentido, são facilmente encontrados grupos de moradias concebidos pelo poder público em áreas menos valorizadas e distantes dos centros comerciais consolidados em diferentes regiões do país, marcados pela precariedade da infraestrutura e escassez de serviços urbanos. Também são comumente percebidos assentamentos irregulares em áreas privadas, públicas e até mesmo em áreas de risco.

Como resposta às novas demandas urbanas geradas pelos movimentos migratórios rumo às áreas urbanas da cidade, o poder público, através de diferentes políticas, priorizou investimentos voltados à construção civil. Tal quadro de intervenção estatal passou a afigurar no cenário das cidades brasileiras a partir, sobretudo, da década de 1960, quando foram implementados diversos programas habitacionais pelo Estado – que em via de regra, aqueceram o mercado de venda e locação de imóveis e, consequentemente, a indústria da construção civil,

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reduzindo significantemente os índices de desemprego em todo o país (ROFRIGUES; MOREIRA, 2016). Especificadamente em Passo Fundo, entre os anos de 1979 e 1984, foram construídos os três primeiros conjuntos habitacionais na cidade e, mesmo que distantes do centro e do acesso ao trabalho, escolas e hospitais, oportunizaram a casa própria a dezenas de famílias, reduzindo o déficit habitacional local (KALIL, 2003; FERRETO, 2011).

É nesse contexto que se insere o objetivo do presente artigo: estudar o Conjunto Habitacional Hélio Toldo, um dos exemplares mais significativos da atuação do poder público por meio do Programa de Arrendamento Residencial em Passo Fundo-RS, pela ótica da urbanização e da sustentabilidade, analisando as premissas relacionadas ao assunto e apontando as consequências de sua implantação para a cidade. Em se tratando dos aspectos metodológicos, este estudo descritivo analítico se insere na categoria de estudo de caso, utilizando-se de fontes primárias e secundárias alcançadas por meio de revisão bibliográfica sobre o tema, bem como por pesquisa documental e levantamento de dados in loco e análises cartográficas, complementadas por informações angariadas em entrevistas informais realizadas com os moradores do Conjunto. Conforma-se como uma contribuição para a história da habitação em Passo Fundo e, logicamente, do estado do Rio Grande do Sul.

O PAR Hélio Toldo

Via de regra, os Programas e políticas públicas de habitação social são voltados ao estrato social de baixa renda, entendida como aquela recebedora de zero a cinco salários mínimos. As propostas e configurações destas ações estatais foram sofrendo alterações com o passar dos tempos, moldando-se a novas exigências políticas, econômicas e sociais, desde quando passaram a serem vislumbradas no Brasil, nos anos de 1930.

O Programa de Arrendamento Social, o PAR – como é conhecido popularmente –, trata-se de um programa habitacional de cunho federal vinculado ao Ministério das Cidades e gerenciado pela Caixa Econômica Federal. Em linhas gerais, o financiamento das unidades habitacionais é feito com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), provenientes do FGTS, e são destinados à população com faixa de renda familiar de até seis salários mínimos, com prazos de pagamento que chegam até quinze anos; quando é concedido o título de proprietário do imóvel. A partir de 2009, diante do novo Plano de Habitação do país, o PAR foi substituído pelo Programa “Minha casa, minha vida”, associado ao Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) do país.

Em Passo Fundo, o poder público por meio do PAR edificou cinco conjuntos habitacional em diferentes áreas da cidade. São eles: PAR Petrópolis, PAR Jardim Boqueirão I e II, PAR Vera Cruz, PAR Hélio Toldo e o mais recente PAR PLANALTINA. O Conjunto Hélio Toldo, objeto de análise deste artigo, está localizado na Rua Ibicuí (pequena rua sem saída), no bairro Entre Rios e contempla, dez blocos com 20 apartamentos cada, totalizando 200 unidades habitacionais. Em se tratando dos equipamentos de uso comum, o conjunto conta com salão de festa, quadra poliesportiva, estacionamento e quiosques de apoio às atividades de lazer. A seleção das famílias para o programa foi iniciada em 2008, sendo o custo de construção de cada apartamento de, aproximadamente, R$ 30.000,00, considerado o custo do terreno e da concepção de toda a infraestrutura (PREFEITURA MUNICIPAL DE PASSO FUNDO, 2008.)

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Fig. 1 – Interior do condomínio PAR Hélio Toldo FONTE: ELABORADO PELO AUTOR

Resultados e discussão

Fig. 2 – Viaduto na Rua Parobé

FONTE: BASE GOOGLE EARTH (2016)

Em relação à localização do PAR Hélio Toldo, pode-se destacar dois significativos aspectos. O primeiro é que o mesmo encontra-se implantado em uma área relativamente próxima do centro da cidade, nas chamadas franjas urbanas. Conforme observado por Diego Ferreto (2011), embora não apresentem projeto urbanístico e arquitetônico satisfatórios, os conjuntos do PAR avançaram em relação às localizações, estando melhor distribuídos pela cidade e em áreas menos periféricas, se comparados aos conjuntos construídos pela COHAB e pela Prefeitura Municipal de Passo Fundo. Entretanto, o volume de apartamentos gera para a região, em que está inserida, uma considerável concentração populacional e, consequentemente, uma demanda de diferentes tipos de serviços já consolidados, requerendo o desprendimento de investimentos públicos ainda maiores para a ampliação de redes diversas que, muitas vezes, não são devidamente atendidos.

O segundo aspecto relativo à localização do Conjunto ora estudado é a sua proximidade com a malha ferroviária, em torno da qual há uma grande problemática habitacional e ambiental, devido à ocupação irregular de risco conhecida como “Beira Trilhos” (KALIL, 2003), na proximidade dos rios Passo Fundo e Arroio Miranda, em área tida como não edificável, em faixa de segurança e em área de proteção permanente. Desta forma, o Conjunto do PAR está cercado pelos rios e pela ferrovia o que dificulta o acesso às unidades, que ocorre apenas por uma pequena e estreita via urbana (aproximadamente 7,5m) que passa por baixo da ferrovia e, por outro lado, pelas pontes que cobrem os supracitados cursos d’água. Neste sentido, a localização dificulta, ou quase impossibilita, a construção de novas vias de acesso em função do impacto ambiental (rios) ou da necessidade de remover empreendimentos consolidados (ferrovias).

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PAR Hélio Toldo Trilhos do trem Rio Passo Fundo Viaduto Ponte

Fig. 3 – Implantação do PAR Hélio Toldo

FONTE: ELABORADO PELO AUTOR | BASE GOOGLE EARTH (2016)

Em relação aos equipamentos e serviços urbanos, percebe-se uma precariedade de oferta e da qualidade arquitetônica e construtiva. A mobilidade urbana, depende de uma única linha de ônibus - Linha 12 - Santa Marta/Entre Rios que liga o local ao centro da cidade. O mobiliário urbano (parada de ônibus) está localizada num passeio estreito (3 metros) e sem diferenciação de nível da via veicular (Rua Parobé). Devido a esta configuração, o percurso e a parada do transporte público compromete o livre fluxo veicular na rua. Detalhadamente, o abrigo da parada é pequeno, não contemplando a demanda das 200 famílias que habitam no PAR, entretanto não há espaço para ampliar tal mobiliário, pois a calçada e a rua são consideravelmente estreitas.

No tocante à saúde, o atendimento das famílias do conjunto é feito pelo Centro Integrado de Saúde (CAIs), localizado no bairro Petrópolis, que dista aproximadamente 2km, não sendo servido por linha de ônibus ao local. Dessa maneira, os residentes do Hélio Toldo que necessitam de atendimento médico precisam se deslocar a pé ou se submeter a um trajeto de duas conduções públicas. Essa larga distância não atende aos princípios mínimos de oferta de serviços e lazer colocada como condição social, que especifica a distância máxima de 500m do empreendimento para a localização, sobretudo, de equipamentos de saúde e educação. Acerca deste serviço, há uma escola municipal próximo ao PAR (distante duas quadras), permitindo o deslocamento a pé. Contudo, o trajeto não é seguro, uma vez que a escola está localizada no lado oposto da rua Parobé, que não possui espaço adequado para o percurso de pedestres, nem ao menos semáforo que garanta a travessia com segurança. Para acessar os demais serviços (banco, lotérica, casas comerciais, etc.) os moradores dependem de deslocamentos até o centro da cidade. Na opinião dos moradores, coletada através de entrevistas, outro problema enfrentado pela população residente no Hélio Toldo é a precária iluminação pública no entorno do conjunto, bem como nas vias internas, áreas de estacionamento e nos jardins entre as torres.

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Além disso, os entrevistados apontam a falta de um espaço adequado para o desenvolvimento de atividades de lazer para as crianças; considerando este aspecto como um falha de projeto.

Considerações Finais

Diante da análise dos dados neste artigo apresentados foi possível perceber que a localização do Conjunto Habitacional Hélio Toldo, financiado pelo PAR, representa uma evolução acerca da sua localização dos grupos de moradias sociais na cidade, se comparado aos primeiros conjuntos de habitação popular que foram concebidos pelo poder público, mormente, situados nas periferias, em áreas distantes do centro. Apesar deste aspecto, as unidades habitacionais que compõem o conjunto continuam sendo pensadas isoladamente o contexto urbano ao qual estão inseridos, seja na etapa de planejamento ou de execução projetual, sem se preocupar com os impactos para a mobilidade, serviços e equipamentos públicos e de lazer, como também sem considerar as diferentes demandas e necessidades da população que será beneficiada.

Assim, os resultados indicam que, mesmo localizado nas franjas do centro de Passo Fundo, o PAR Hélio Toldo não foi pensado e/ou concebido para garantir mobilidade, seguindo o padrão de precária infraestrutura e escassez de equipamentos urbanos, como muitos dos conjuntos habitacionais vinculados a políticas públicas habitacionais brasileiras.

Referências

CASTELLS, Manuel. Questão Urbana. 3.ed.. São Paulo: Paz e Terra, 2006.

FERRETO, Diego.Passo Fundo: a estruturação de uma cidade média gaúcha. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo-USP, 2011

KALIL, Rosa Maria Locatelli. Produção da habitação social em Passo Fundo (RS): Processo Histórico e situação atual. VII Encontro de Teoria e História da Arquitetura do Rio Grande do Sul. Tema: Arquitetura Industrial. Passo Fundo, 2003.

LEFEBVRE, Henry. Direito à cidade. 4.ed.. São Paulo: Centauro, 2006

MARICATO, E. Brasil, cidades: uma alternativa para a crise urbana (3a ed., Vol. 1). Rio de Janeiro: Vozes, 2088

PASSO FUNDO, Prefeitura Municipal: LEI COMPLEMENTAR N° 170. Outubro de 2006

PREFEITURA MUNICIPAL DE PASSO FUNDO. Disponível em:

<http://www.pmpf.rs.gov.br/interna.php?t=19&c=11&i=4621>.

RIBEIRO, Joana Aparecida Zavaglia Mascarenhas Torres; MOREIRA, Tomás Antonio. A política fundiária nos planos locais de habitação: entre a demanda terra e o direito de propriedade. Ambient. constr. vol.14 no.4, Porto Alegre, Oct./Dec. 2014

RODRIGUES, Lucas Pazolini Dias; MOREIRA, Vinícius de Souza Habitação e políticas públicas: o que se tem pesquisado a respeito?. urbe, Rev. Bras. Gest. Urbana vol.8 no.2 Curitiba May./Aug. 2016 .

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