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Ana Flávia Nascimento Manfrim. Construcionismo Social na América Latina: O instituto Taos e o caso dos trabalhos sociais e comunitários

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Ana Flávia Nascimento Manfrim

Construcionismo Social na América Latina:

O instituto Taos e o caso dos trabalhos sociais e comunitários

UBERLÂNDIA

2018

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Ana Flávia Nascimento Manfrim

Construcionismo Social na América Latina:

oInstituto Taos e o caso dos trabalhos sociais e comunitários

Dissertaçãoapresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia – Mestrado, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Psicologia.

Orientador(a): Prof. Dr. Emerson F. Rasera

UBERLÂNDIA

2018

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Ana Flávia Nascimento Manfrim

Construcionismo Social na América Latina:

oInstituto Taos e o caso dos trabalhossociais e comunitários

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia – Mestrado, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito à obtenção do Título de Mestre em Psicologia Aplicada.

Orientador(a): Prof. Dr. Emerson F. Rasera

Banca Examinadora

Uberlândia, 23 de fevereiro de 2018

__________________________________________________________

Prof. Dr. Emerson Fernando Rasera (Orientador) Universidade Federal de Uberlândia – Uberlândia, MG

__________________________________________________________

Profa. Dra. Carla Guanaes-Lorenzi (Membro Titular Externo) Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto, SP

__________________________________________________________

Dr. Pedro Pablo Sampaio Martins (Membro Titular Externo) Uberlândia, MG

__________________________________________________________

Profa. Dra. Paula Cristina Medeiros Rezende (Membro Externo Suplente) Universidade Federal de Uberlândia – Uberlândia, MG

UBERLÂNDIA 2018

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.

M276c 2018

Manfrim, Ana Flávia Nascimento, 1991

Construcionismo social na América Latina [recurso eletrônico] : o Instituto Taos e o caso dos trabalhos sociais e comunitários / Ana Flávia Nascimento Manfrim. - 2018.

Orientador: Emerson Fernando Rasera.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia.

Modo de acesso: Internet.

Disponível em: http://dx.doi.org/10.14393/ufu.di.2019.1226 Inclui bibliografia.

Inclui ilustrações.

1. Psicologia. 2. Construcionismo social. 3. Psicologia social. 4. Serviço social de grupo. I. Rasera, Emerson Fernando, 1972, (Orient.) II. Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. III. Título.

CDU: 159.9 Angela Aparecida Vicentini Tzi Tziboy – CRB-6/947

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AGRADECIMENTOS

“CUCULA ~ Palavra africana que significa “fazer algo juntos”

Encontrei, meio por acaso, essa anotação na minha agenda do começo do mestrado. Já há algum tempo, a ênfase nos relacionamentos me acompanha e me faz perceber como tudo aquilo que somos e fazemos é fruto das conexões e encontros que fazemos ao decorrer da nossa trajetória. Esse percurso não foi diferente. Muitas das páginas que aqui se encontram foram “feitas juntas”: com aqueles que me acompanharam neste período, com todas as reflexões que se iniciaram desde a graduação, com todos os autores e profissionais que fisicamente ou como vozes compõem a minha trajetória. Agradeço, agradeço, agradeço:

Ao Prof. Dr. Emerson Rasera, por ser uma voz presente. Seja neste texto, no processo de formação de pesquisadora, nesse “me tornar quem eu desejo ser”. Suas contribuições ao longo desses anos trabalhando juntos foram fundamentais para meu desenvolvimento. Agradeço por ser um exemplo!

Ao Ronaldo, companheiro dessa vida. Não haveria palavras suficientes pra expressar tudo que sinto. Agradeço por estar junto e presente em todas as conversas monotemáticas ao longo deste processo de finalização. Mas acima de tudo, agradeço por tudo que somos e vivemos, por todo “suor, saliva e lágrimas”, que me transformam e me fazem evoluir a cada dia. Só consigo desejar e ansiar pelas próximas aventuras, juntos!

Aos meus pais, Alexandre e Mariléia, que desde sempre me incentivaram a ser quem eu quisesse ser, e acima de tudo, me apoiaram incondicionalmente em todas as escolhas. Aprendo muito sobre se reinventar e ser uma versão melhor a cada dia com

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vocês. Ao Du, irmão querido, por me mostrar desde sempre quanto amor e semelhança pode existir mesmo nas (aparentes) diferenças. Amo vocês, sou grata por tudo!

À Claudinha e Carol, primirmãs que me incentivam e inspiram. Poder contar com vocês é um presente! A todos meus primos e a nossa grande família, por serem porto seguro, fonte de amor e de exemplo.

À Tayná, que de “ex-colegas” nos tornamos amigas próximas e fonte inesgotável de força durante a pesquisa. Esse processo não teria sido o mesmo sem você!

À Prof. Dra. Carla Guanaes-Lorenzi pelas contribuições ao trabalho desde a banca de qualificação. Ainda melhor poder contar com sua participação e reflexões também na defesa!

Ao Dr. Pedro P. S. Martins, por estar presente em mais esse momento marcante. Me sinto honrada de ter você na minha vida! Como examinador, mas, sobretudo como “padrinho” e amigo. Obrigada por todos esses papéis importantes, por todos os aprendizados, por toda a alegria. Tenho muita admiração por você!

À Prof. Dra. Paula Medeiros, pela suplência, e por todo carinho e inspiração. À Marina e Flaviana, por serem amigas que transcendem os estudos e o trabalho. Estes foram anos em que também aprendi muito com vocês! Que sigamos juntas por muito tempo!

À CAPES, pelo auxílio financeiro fundamental ao desenvolvimento desta pesquisa. Aos professores e equipe de profissionais do PGPSI que contribuíram para minha formação e para a concretização dessa etapa.

E por fim, a todos os colegas e amigos queridos, que se fizeram presentes em tantos momentos distintos da vida. Vocês são importantes e estão nos meus

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pensamentos!Agradecer a todos é, acima de tudo, reconhecer o que de cada um habita em mim. Que feliz sou de poder contar com todos vocês! Que venham novos caminhos!

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Viver por curiosidade

A palavra entusiasmo vem da antiga Grécia, e significava: ter os deuses dentro.Quando alguma cigana se aproxima e pega minha mão para ler meu destino, eu pago o dobro para que me deixe em paz: não conheço meu destino, nem quero conhecer.Vivo, e sobrevivo, por curiosidade. Simples assim. Não sei, nem quero saber, qual o futuro que me espera. O melhor do meu futuro é que não o conheço.

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RESUMO

O construcionismo social pode ser caracterizado como um movimento teórico múltiplo, articulado em torno de alguns pressupostos centrais. Estes pressupostos ressaltam: o caráter cultural e histórico das formas de conhecermos o mundo; a ênfase nos relacionamentos; uma noção de linguagem como performance; a interligação entre conhecimento e ação e a busca pela reflexividade e construção de futuros alternativos. Voltado, inicialmente, ao campo da psicologia social e da produção de conhecimento, ao longo do tempo se expande para diferentes campos: o da terapia, das organizações e, mais recentemente, da educação. Porém, percebe-se uma menor expressão no campo dos trabalhos sociais e comunitários. Além disso, desenvolvido especialmente nos contextos dos EUA e Europa, a medida que se expande atinge outras localidades. Interessado no movimento de difusão do construcionismo social na América Latina, o objetivo desse estudo é investigar como se apresenta o Construcionismo Social entre profissionais da América Latina que são membros associados do Instituto Taos e analisar os trabalhos no campo comunitário e social por eles desenvolvidos. Para tanto, consideramos o trabalho social e comunitário como um campo em que lida com problemáticas sociais e que valoriza intervenções com grupos e comunidades em detrimento a campos tradicionais de ação com o indivíduo. Neste sentido, apoiado nas contribuições da análise documental e da análise de conteúdo, foi realizado um movimento de caracterização dos associados latino-americanos do Instituto Taos por meio das categorias: pais de origem, formação, titulação, instituição e presença de publicação. A partir do enfoque nos trabalhos comunitários e sociais, foram coletadas produções bibliográficas de associados destes campos. A análise das produções produziu três eixos de análise: (1) “Que produção é esta?”, que caracterizou os diferentes tipos de trabalho, temáticas e metodologias produzidas por estes profissionais; (2) “Quais os usos do construcionismo social?”, em que destacamos um uso como marco teórico e conceitual, um uso para/de práticas, e uma influência construcionista; (3) e “A utilização de recursos para práticas sociais e comunitárias”, em que se percebe movimentos de reafirmação de práticas já consolidadas – como a Abordagem Colaborativa, a Prática Narrativa e o Projeto de Conversações Públicas – e movimentos de inovação e proposição de novas teorias e práticas - os diálogos generativos, a Terapia Comunitária Integrativa e a Facilitação Sistêmica de processos coletivos. Por fim, destacamos que os dados parecem sinalizar que o construcionismo social, enquanto discurso teórico sobre o mundo, oferece uma inteligibilidade que se torna útil, tanto como postura como ação para a prática e produção bibliográfica de profissionais. Além disso, propomos que ao dar visibilidade para a literatura e práticas produzidas na América Latina, estes recursos podem ser pensados como formas de inspiração para profissionais que lidam com diferentes desafios no campo social e comunitário.

Palavras Chave: Construcionismo Social; Instituto Taos; América Latina; Trabalhos

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ABSTRACT

Social constructionism can be characterized as a multiple theoretical movement, articulated around some central assumptions. These assumptions emphasize: the cultural and historical character of the ways of knowing the world; the emphasis on relationships; a notion of language as performance; the interconnection between knowledge and action and the search for reflexivity and construction of alternative futures. Initially focused on the field of social psychology and in the production of knowledge, among the years it expands to different fields: therapy, organizations, and more recently education. However, we can notice that there is less expression in the field of social and community work. Also,although it initially develops especially in the US and European contexts, as it expanses also reaches other locations in the world. Interested in the diffusion movement of social constructionism in Latin America, the objective of this study is to investigate how Social Constructionism is presented among professionals from Latin America who are associate members of the Taos Institute and to analyze the work in the community and social field developed by them. We consider social and community work as a field in which the professionals care aboutand deal with social problems and which interventions with groups and communities are valued, to the detriment of traditional fields of action with the individual. In this sense, supported by the contributions of documentary analysis and content analysis, we characterized the Latin American associates of the Taos Institute, in which the following categories were highlighted: country of origin, professional formation, degree, institution and publication. From the focus on community and social work, bibliographic productions of associates from these fields were collected. The analysis of the publications from this associated produced three axes of analysis: (1) "What production is this?", which characterized the different types of work, thematic and methodologies produced by these professionals; (2) "What are the uses of social constructionism", in which we highlight a use as a theoretical and conceptual framework, a use for practice and the use of practices, and a constructionism influence; (3) and "The use of resources for social and community practices", in which we can see movements to reaffirm consolidated practices - such as the Collaborative Approach, Narrative Practice and the Public Conversation Project - and innovation movements of proposition of new theories and practices - the Generative Dialogues, the Integrative Community Therapy and the Systemic Facilitation of collective processes. Finally, we point out that the data seem to indicate that social constructionism, as a theoretical discourse about the world, offers an intelligibility that becomes useful both as a posture and action for the practice and bibliographical production of professionals. In addition, we propose that by giving visibility to the literature and practices produced in Latin America, these resources can be thought of as forms of inspiration for professionals who deal with different social and community challenges.

Keywords: Social Constructionism; Taos Institute; Latin America; Social and

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ... 1

2. INTRODUÇÃO ... 7

2.1: Apresentando o construcionismo social e seus pressupostos ... 7

2.2: Das premissas às práticas: as práticas sociais e comunitárias em questão ... 11

2.3: Das primeiras localidades para o mundo: a América Latina em foco ... 17

2.4 : O Instituto Taos: nos aproximando de uma comunidade construcionista ... 20

3. OBJETIVO ... 25 3.1: Objetivo Geral...25 3.2: Objetivos Específicos ... 25 4. MÉTODO ... 26 4.1 Procedimentos ... 28 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 36

5.1: Caracterização Geral dos Associados da América Latina do Instituto Taos ... 36

5.1.1: País de origem...36 5.1.2: Formação Profissional...37 5.1.3: Titulação...38 5.1.4: Instituição ou Grupos...39 5.1.5: Campos de Atuação...41 5.1.6: Publicações...43

5.2: Os trabalhos sociais e comunitários dos associados latino-americanos do Instituto Taos...44

5.2.1: Que produção é esta? Temas, tipos de trabalhos e metodologias...45

5.2.1.1: Os temas trabalhados...46

5.2.1.2: Tipos de produções...46

5.2.1.3: Relatos de Pesquisas e suas metodologias...48

5.2.2: Como se apresenta o Construcionismo Social? Caracterizando seus usos...50

5.2.2.1: O uso do Construcionismo social como marco conceitual: Influências epistemológicas e teóricas...51

5.2.2.2: Inspiração teórico-metodológica para e pelas práticas...56

5.2.2.3: Uma influência construcionista? A não nomeação e a presença de um vocabulário que se assemelha...59

5.2.3: A articulação entre teorias e práticas: o uso de recursos...60

5.2.3.1: Utilizando práticas já consolidadas: movimentos de reafirmação e o uso contextualizado de abordagens específicas...61

5.2.3.2: Movimentos de inovação: propondo novas abordagens e práticas...68

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...74

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APÊNDICES ...

Apêndice A –Exemplo de ficha de síntese das auto-descrições dos associados ...87 Apêndice B – Quadro de resumo das informações disponibilizadas pelos associados do Instituto Taos ... 88 Apêndice C – Apresentação das organizações de países da América Latina que possuem associados vinculados ao Instituto Taos ... 98 Apêndice D – Quadro da relação de Associados por Campo de atuação...105 Apêndice E – Quadro de dados das produções bibliográficas analisadas ...108

ANEXOS...

Anexo 1 – Exemplo de Gravação das Capturas de Tela do website do Instituto Taos...123

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“Caminante no hay camino. Se hace camino al andar”.

1. APRESENTAÇÃO

A presente pesquisa, antes de tudo, se constitui como uma narrativa que se inicia na própria pesquisadora: nos seus anseios enquanto jovem pesquisadora e profissional, que se encanta por um discurso teórico, ao mesmo tempo em que se pergunta como fazer dele a sua prática, como incorporá-lo à sua visão de estar com o outro e com a visão de mundo que valoriza.

O discurso ao qual me refiro é o construcionismo social. Após um desencantamento progressivo com as abordagens tradicionais em Psicologia, e da frustração de parecer que “não havia lugar pra mim” dentro deste campo, já para o fim da graduação tenho contato com os primeiros textos de construcionismo, a partir de onde novos e importantes horizontes parecem se abrir. Começo a questionar meu saber “adquirido” durante a graduação e primeiras experiências de pesquisa.Mas, acima de tudo, ele se apresenta como uma possibilidade alternativa a tudo que eu parecia conhecer sobre o mundo e sobre mim mesma. Neste primeiro momento, novas reflexões potentes começavam a ser geradas pelo contato com este movimento teórico.

Ao me encontrar com a “valorização de uma postura crítica e reflexiva” deste campo, com a visão de mundo sustentada na construção social e no sentido atribuído à produção de conhecimento, chego ao mestrado entendendo que este é um lugar de (trans)formação, visando me debruçar ainda mais nos estudos dentro deste campo teórico, especialmente buscando uma aproximação entre a teoria e as práticas sensíveis a este movimento.

Diante do fato de que as possibilidades de investigação dentro dessa conexão são inúmeras, começo a ir percebendo ao longo do caminho quais questões mais me chamavam atenção. Assim, ao longo da minha trajetória de estudos e primeiros

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movimentos de pesquisa, percebo que há algo caro para mim: o “social” que acompanha o construcionismo.

Voltando à história, ainda na graduação, meus estágios de formação foram todos desenvolvidos dentro de contextos e programas que poderiam ser considerados como práticas sociais e comunitárias. Do trabalho em um programa estadual com o objetivo de reinserção de egressos do sistema prisional, ao trabalho com adolescentes e jovens adultos em vulnerabilidade social, no contexto de um bairro periférico da cidade de Uberlândia,e, por fim,a promoção de rodas de conversa em uma unidade de saúde de atenção básica,me acompanharam por toda a trajetória a preocupação com produzir uma prática comprometida e as novas questões que iam se formulando à medida que me encontrava com o construcionismo social.

Com estas experiências ainda vivas, chegando ao mestrado, percebo que este “social” é algo que também gostaria de aprofundar. Entender como essa teoria vai se desenvolvendo a partir de sua história e relacionamentos, como vai se difundindo a partir dos processos de intercâmbio social é um dos lados da moeda deste social. O outro lado é a preocupação de uma prática que seja comprometida com os contextos nos quais está inserida, promovendo movimentos de transformação.

Buscando por temáticas para o aprofundamento da minha pergunta de pesquisa, algumas questões começam a surgir neste caminho: De que forma o construcionismo social chega a outros lugares a partir de sua “origem” em países como EUA, Inglaterra, etc? Se historicamente, os países da América Latina estiveram diante de desafios e situações que muitos países desenvolvidos não passaram, isso influencia o uso que tem sido feito do construcionismo social nestas regiões? Quais são os intercâmbios entre os países da América Latina na produção e sustentação do construcionismo enquanto teoria e enquanto prática discursiva? Se, ainda recentemente, Gergen (2014) reafirma o

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compromisso da ciência com a transformação de realidades, há indícios de práticas sensíveis ao discurso construcionista que estejam conectadas a essa afirmação? Se, historicamente, as práticas comunitárias e sociais possuem uma preocupação com os contextos que estão inseridas, seria este um campo de investigação de um construcionismo “mais comprometido” politicamente?

Estas perguntas vão me ajudando a situar alguns dos meus anseios e delimitar os caminhos possíveis de conexões e campos a serem estudados. Mas, se “fazemos o caminho ao caminhar”, esse texto também se refez diversas vezes, pensando e repensando o objetivo e as questões aqui colocadas.Assim, após compartilhar um pouco sobre a minha própria história, compartilho também a história deste trabalho, a fim de buscar esclarecer alguns dos caminhos que fomos optando e porquê algumas contribuições que poderiam ser geradas por esta investigação foram deixadas de lado ao longo do caminho – e quem sabe, possam ser revisitadas em pesquisas futuras.

A primeira ideia seria investigar a difusão do Construcionismo Social na América Latina. De antemão, diversos desafios foram colocados diante disso: como acessar essa produção? Como reconhecer quais autores seriam considerados construcionistas? Ademais, um grande atravessador foi a quantidade de tempo e demanda para essa investigação, sendo necessária inclusive uma análise histórica, algo que parecia fora da nossa alçada para os dois anos que são esperados que uma pesquisa de mestrado se conclua.

Assim, ao longo de conversas e reflexões, pensamos sobre a possibilidade de nos debruçarmos sobre a comunidade construcionista da América Latina, e as noções de transformação social presentes em seus trabalhos (visando contemplar aqueles “dois lados da moeda” do social). Novamente, percebemos que estes desafios – o tempo, a quantidade de possibilidades de perguntas a serem geradas, o acesso a estas pessoas,

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dentre outros – permaneciam. Além disso, discutir a temática da transformação social – tão importante e presente em outras discussões como, por exemplo, nos estudos e contribuições específicas da Psicologia Social Latinoamericana, de Martin-Baró e outros nomes – e sua relação com o construcionismo – sendo esse, inclusive, um campo de crítica e tensão - parecia ser também um desafio teórico grandioso demais para este momento.

Diante desse grande “não-saber” sobre qual rumo tomar, mas, com a vontade que permanecia de estudar a comunidade construcionista desta região, outra pergunta vai se tornando relevante: Que construcionismo Social é esse na América Latina?

E assim, começamos a fazer recortes e apostas de olhares específicos dentro deste grande foco de análise. Escolhemos como principal recorte o Instituto Taos e seus associados. Reconhecemos que este instituto é uma possibilidade, que existem outros nomes e teóricos importantes que se relacionam ao construcionismo que não estão contemplados nesta aposta. Porém, a principal justificativa está relacionada ao reconhecimento próprio destas pessoas enquanto próximas ao construcionismo social. Além disso, o instituto configura uma importante iniciativa na difusão e organização do construcionismo social, ao disponibilizar diversos projetos educacionais, possibilidades práticas, acesso a literatura, dentre outras. A organização do instituto, seu site e contribuições se tornaram um contexto útil e fértil para as primeiras aproximações desta pesquisa.

Outra aposta de olhar específico escolhida – diante da multiplicidade de áreas em que estes profissionais estão presentes e atuantes – foi a das produções referentes a trabalhos nos campos comunitários e sociais.

Dessa forma,temos como principal objetivo investigar como se apresenta o Construcionismo Social entre profissionais da América Latina que são membros

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associados do Instituto Taos e analisar as produções textuais no campo de trabalhos comunitários e sociais por eles desenvolvidos.

O “social” do início desta apresentação se refaz, por duas vias: (1) pensando a ciência como prática social, buscar uma caracterização dos associados do Instituto Taos, entendendo como se descrevem, quais as relações entre eles; e (2) em um campo específico de trabalho – voltado às práticas sociais e comunitárias –entender quais são os usos do construcionismo social, que práticas são essas realizadas e quais recursos para a prática são utilizados por estes profissionais.

Para tanto, o texto é estruturado da seguinte maneira: a seção introdutória se dedica aos pressupostos, campos e localizações do construcionismo social. A partir da apresentação das práticas, diferentes localidades e de um breve panorama do Instituto Taos, apresentamos as justificativas para os recortes realizados.

Em seguida, apresentamos os objetivos gerais e específicos, além do percurso metodológico escolhido, tomando como ponto de partida a análise documental de auto descrições dos associados do Instituto Taos e, posteriormente, a análise de conteúdo de suas publicações, no caso dos trabalhos comunitários e sociais.

Na quinta seção, apresentamos nossos resultados e discussões, primeiramente a partir de uma categorização geral dos associados do Instituto, e depois com uma reflexão sobre o panorama dessas publicações, os usos do construcionismo social e os recursos para prática. Por fim, apresentamos algumas considerações finais.

Sabemos que com esta escolha alguns caminhos se abrem e outros se fecham. Ao decidir por este olhar não quer dizer que não sabemos de algumas limitações – discutidas ao longo das próximas páginas -, mas acreditamos que outras possibilidades e diálogos possam ser gerados. Dessa forma, esperamos contribuir com a própria comunidade construcionista – seja aqueles que já estão inseridos neste campo de

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trabalho ou outros simpatizantes -, a partir dos usos do construcionismo social e suas articulações com recursos práticos.

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2. INTRODUÇÃO

2.1. Apresentando o construcionismo social e seus pressupostos

Há diferentes formas de falar sobre o construcionismo social, suas origens e pressupostos. Alguns se referem a ele enquanto movimento (Rasera & Guanaes, 2006; Souza, 2014); outros se referem como um discurso (Rasera & Japur, 2005; Corradi-Webster, 2014); Gergen (1985) em alguns momentos se refere a ele como uma

“consciência compartilhada”; enquanto Guanaes-Lorenzi (2014) sugere não utilizar a

noção de “teoria”, palavra que comumente é associada à uma noção de representação da realidade, explicação verídica e fidedigna sobre a natureza do mundo.

Para além de discutir qual destes termos seria mais adequado, o presente debate chama atenção para alguns fatores: não há uma explicação única sobre o que venha a ser

o construcionismo social. Muitos preferem se referir a construcionismos sociais¹

(Rasera, Guanaes & Japur, 2004; Danziger, 1997; Burr, 2003), buscando ressaltar o caráter construído, multifacetado e fluído deste campo.

Assim, buscando evitar os riscos de caracterizá-lo enquanto algo em si mesmo, e entendendo que cada explicação é intimamente relacionada aos autores e contextos nos quais ela está inserida, podemos entender o construcionismo social enquanto um campo teórico múltiplo, um discurso sobre o mundo que não tem uma origem única e fixa, mas que é influenciado por outras consciências teóricas e que se articula em torno de alguns entendimentos centrais.

______________________________________________________________________

¹ Apesar de reconhecer a pluralidade de autores e de explicações possíveis, entendemos que a noção construcionista adotada neste trabalho está intimamente relacionada àquela desenvolvida por Gergen e outros autores próximos a ele – tais quais Mary Gergen, Sheila McNamee, e outros. Dessa forma, optaremos pelo uso da expressão no singular a fim de facilitar a leitura do texto, sem, entretanto, perder de vista as críticas e pluralidade deste entendimento.

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Alguns dos marcos importantes naquilo que poderia ser entendido como o surgimento do discurso construcionista são as publicações dos textos de Kenneth Gergen, psicólogo social norte-americano, “Psicologia Social como história” (1973) que inaugura as primeiras críticas do autor à psicologia social vigente na época, e em 1985, com a publicação de “O movimento Construcionista social em Psicologia”, em que pela primeira vez se identifica o termo construcionismo social.

Como o próprio autor destaca, isso não significa dizer que é aí a origem datada desta consciência da construção social – pontuando, inclusive, a importância do texto de Bergere Luckman (1976) como um marco importante do reconhecimento dessa expressão e entendimento. Em diversos momentos, o autor afirma como o construcionismo é intimamente influenciado pelas críticas sociais, retórico-literárias e ideológicas que se desenvolviam no campo das ciências humanas e sociais (Gergen, 1985; Gergen, 1994).

Demarcado este contexto amplo de crítica e não linearidade, podemos pensar que inserida em uma lógica pós-moderna de se pensar ciência e conhecimento, a investigação construcionista é comprometida como a maneira pela qual as pessoas descrevem e explicam o mundo e a si mesmas, e como estes discursos constroem a realidade social (Gergen, 1985).

Para o autor, reconhecer as nossas formas de vida e descrição atuais, e como elas estão articuladas a momentos históricos passados anteriores nos auxilia no questionamento sobre onde dirigimos nosso esforço criativo para a construção de mudanças futuras. Já neste primeiro texto reconhecidamente construcionista, o autor assinala uma perspectiva histórica, temporal, cultural e comprometida com a construção de futuros preferíveis.

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Se as primeiras críticas aparecem dentro do campo da Psicologia Social e da própria noção da produção de conhecimento – ou seja, se desenvolve inicialmente e especialmente enquanto uma metateoria -, é possível sustentarmos o construcionismo enquanto um movimento que se pauta em uma perspectiva social deste processo (Spink, 1999). Sua premissa básica se refere à ideia da construção social do mundo, a partir dos acordos e coordenações de ações entre pessoas em relação social (Gergen & Gergen, 2010).

Além disso, são diversas as caracterizações dos pressupostos centrais deste discurso, sendo possível destacar alguns deles (Gergen, 1994; Gergen, 1999; Rasera & Japur, 2005; Souza, 2014). O primeiro deles se refere à crítica do conhecimento produzido enquanto uma apreensão direta da realidade, que supõe uma separação entre sujeito e objeto, ou um objeto que existiria independente das formas de dizê-lo.

Nas palavras de Gergen (1999), “Os termos pelos quais nós entendemos o nosso

mundo e a nós mesmos não são nem requeridos nem exigidos pelo “o que há”” (p.47).

Ou seja, para o construcionismo, nossas maneiras de descrever o mundo não correspondem a uma realidade exterior àquele que a descreve, mas sim, a realidade se dá como uma própria construção da linguagem.

Desta maneira, existe uma especificidade cultural e histórica das formas de conhecermos o mundo. Cada descrição e explicação da realidade só se concretizam a partir das condições sócio-históricas e dos sistemas de significação em que aquele que fala está inserido. Tal como aponta Burr (2003), é fundamental, a partir desta perspectiva, que tenhamos uma atitude crítica a tudo aquilo que consideramos como “já dado”, gerando assim, modos radicais de entender a construção relacional da realidade.

Isto está diretamente relacionada à crítica construcionista da linguagem enquanto representação, desafiando a noção de que a linguagem diz sobre aquilo que há no

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mundo. Ao contrário, ao nos engajarmos em processos de comunicação e linguagem estamos ativamente construindo o mundo. É aquilo que chamamos de ênfase no caráter performático da linguagem.

Além disso, “nossos modos de descrição, explicação e/ou representação são

derivados dos relacionamentos” (Gergen, 1999, p.48). Esse pressuposto descreve a

ênfase e primazia dos relacionamentos humanos.

Isso significa reconhecer que o processo de construção de conhecimento – e, por conseguinte, de todas as formas de ação - se dá a partir dos processos de coordenação da ação humana que estão inseridos em um contexto social específico. Neste processo, as pessoas estão construindo explicações sobre o mundo, que fazem sentido e se tornam úteis a partir das e nas comunidades nas quais estão inseridas. O foco passa a ser os processos de interação e as práticas sociais que tornam certos tipos de conhecimentos, práticas e ações como válidas e outras não.

Para além, esta ênfase nos relacionamentos traduz uma implicação prática do construcionismo de compreender a própria noção do indivíduo como decorrente das redes relacionais nos quais ele está inserido, entendendo, tal como aponta Gergen (1994), que o relacionamento precede tudo aquilo que é considerado inteligível. Abandona, assim, uma visão individualista sobre o mundo.

O terceiro pressuposto está relacionado com a interligação entre conhecimento e ação: “A medida que nos descrevemos, explicamos ou, de outra forma, representamos,

também construímos o nosso futuro” (Gergen, 1999, p.48). Entende-se que as diferentes

formas de ação social acontecem a partir das formas de descrever o mundo e do processo de produção de sentido acerca de determinadas tradições culturais.

Isso significa que ao criar explicações sobre a natureza das coisas e do mundo, estamos ativamente, por meio da linguagem, construindo formas de vida, padrões de

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relacionamentos e condutas que são disponíveis a partir dos discursos sociais nos quis estamos inseridos.

Se estamos construindo o mundo o tempo todo a partir dos nossos intercâmbios sociais, isso abre espaço para a valorização de uma postura crítica em relação a essas formas de vida. A sensibilidade construcionista nos convida a (re)pensar se esses são os únicos discursos sociais possíveis, se há formas de vida preferíveis, quem perde e quem ganha quando privilegiamos determinadas formas de descrever a realidade. Para este último pressuposto, Gergen (1999) pontua que a “reflexão sobre nossas formas de

entendimento é vital para o nosso futuro bem-estar” (p.49).

Dito de outro modo, o convite construcionista visa à reflexão crítica que promova espaço para novos entendimentos acerca do mundo, nos chama ao debate e à transformação de discursos que normatizam e naturalizam a maneira pela qual descrevemos a realidade. Assim, em consonância com outros discursos situados no interior do que pode ser entendido como o paradigma da pós-modernidade, passa a questionar as narrativas privilegiadas e as verdades universais (Grandesso, 2000).

2.2: Das premissas às práticas: as práticas sociais e comunitárias em questão

Se o construcionismo inicialmente se apresenta mais como uma metateoria (Gergen, 1985) do que como um conjunto de teorias e técnicas definidas que pressupõe certos tipos de práticas adjacentes a elas, movimentos de expansão e uso deste discurso podem ser destacados, sendo possível perceber algumas formas nas quais esta perspectiva vai sendo incorporada a diferentes práticas e contribuindo na expansão de outras.

Ou seja, para além da discussão acerca da produção de conhecimento e a crítica em ciência, o construcionismo se expandiu para diferentes áreas. É possível perceber

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que essa expansão se destaca, especialmente, no campo das organizações e da psicoterapia. Porém, mais recentemente, ela também se dá no campo da educação (McNamee & Gergen, 1998; Hosking, Dachler & Gergen, 1995; Dragonas, Gergen, McNamee & Tseliou, 2015).

No campo organizacional, o primeiro movimento se refere a práticas que já existiam e vão encontrando neste discurso recursos para criar sentido e endossar as práticas que já estavam desenvolvendo, dentre as quais pode-se citar a noção de Investigação Apreciativa nas organizações (Copperrider &Srivastva, 1987).

Este método é entendido como uma alternativa às abordagens da mudança organizacional focada em problemas, e centra-se nos núcleos positivos, reconhecidos a partir de processos relacionais dos grupos dentro dos contextos das organizações. Buscando o envolvimento daqueles que estão no cotidiano de funcionamento das organizações, tem um enfoque nas histórias positivas e momentos da vida da organização que possam ser utilizados como recursos para a mudança. Dessa forma, o entendimento que “falar de problemas é algo opcional, (...) podemos nos perguntar se

existem outras formas de conversa ou de diálogo que sejam eficazes para a organização” (Gergen & Gergen, 2010, p. 65), está intimamente relacionado com a

ênfase construcionista nas potencialidades (Gergen & Warhuss, 2001).

Também é possível perceber um movimento de insatisfação com as perspectivas individualistas de explicação sobre as realidades organizacionais e a criação de práticas influenciadas por uma visão relacional dos processos organizacionais, que vai sendo endossada pelas contribuições construcionistas (Hosking, Dachler & Gergen, 1995).

Neste contexto, Gergen e Gergen (2010) apontam, especialmente, a noção de

liderança relacional em detrimento à noção comumente adotada da liderança individual

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organizações. Para os autores, a noção tradicional de liderança como papel individual, de um líder forte que influencia os demais liderados, deixa de considerar a maneira pela qual o significado é criado no contexto das relações. A mudança para a criação de práticas em que a liderança relacional é incentivada considera que através do diálogo entre as diferentes partes envolvidas, papéis e atividades de liderança podem emergir. Ou seja, substitui-se a visão dos indivíduos singulares pelo processo relacional como elemento crítico para a organização efetiva (Gergen, 2009).

Já no campo da psicoterapia, Martins, Santos e Rasera (2013) apontam que existiriam dois modos pelos quais o discurso construcionista foi incorporado às abordagens clínicas. Um destes modos se refere ao movimento em que autores construcionistas identificaram abordagens clínicas que partilham de ideias que se aproximam do construcionismo, especialmente a partir de propostas de intervenção que propõem uma nova descrição da postura do terapeuta e do processo terapêutico (Rasera & Japur, 2004).

Dentro deste primeiro modo de expansão, pode-se destacar especialmente as contribuições da (1) Terapia Narrativa (White & Epston, 1990), da (2) Terapia Focada na Solução (de Shazer, 1985; Martins, Santos & Rasera, 2013) e da (3) Terapia Social (Holzman & Mendez, 2003; Manfrim & Rasera, 2016).

Respectivamente, essas diferentes abordagens estão centralizadas: (1) no modo pelo qual as pessoas organizam a sua vida e experiências a partir de narrativas, e de como as narrativas dominantes, saturadas pelo problema, não abarcam todos os aspectos vividos, especialmente aqueles que são positivos, recursos e habilidades do cliente, buscando assim, transformá-las e dar visibilidade às histórias alternativas, de potencialidades; (2) em conversas sobre os momentos em que o problema não acontece, buscando produzir mudanças mínimas que gerem soluções adequadas, sendo

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considerada uma forma de terapia breve; (3) na experiência de grupo, e na busca, a partir da noção de performance, do desenvolvimento e da criação de novas formas de vida. Essas três diferentes abordagens práticas se relacionam ao discurso construcionista, de acordo com Gergen e Warhuss (2011), especialmente por suas ênfases discursivas, nas potencialidades e na ação.

O outro movimento de expansão do construcionismo no campo terapêutico se refere a diferentes propostas terapêuticas, especialmente ligadas ao campo da terapia familiar, que passaram a utilizar as ideias construcionistas em suas formulações, como é o caso da Abordagem Colaborativa (Anderson & Goolishan, 1988; Anderson, 2009). Esta proposta enfatiza a orientação construcionista na colaboração, a partir principalmente da noção da terapia como o “encontro de dois especialistas”, ressaltando a postura de não saber do terapeuta e da definição do problema como um sistema linguístico. Já os Processos Reflexivos (Andersen, 2002), especialmente a partir do recurso das equipes reflexivas, buscam enfatizar a multiplicidade de vozes e versões presentes no processo terapêutico.

Por fim, no campo da educação, destacamos, como já mencionado, que as contribuições têm avançado mais recentemente. Como Gergen e Gergen (2010) apontam, as contribuições construcionistas têm grandes efeitos nas próprias práticas de ensino dos professores (como por exemplo, a noção da importância do diálogo com os alunos) e na noção sobre conhecimento (especialmente sobre a origem social do conhecimento a partir dos relacionamentos e não como produto da mente humana).

Para além disso, Vieira, Rasera e Guanaes-Lorenzi (2017) apontam como os principais desdobramentos dos diálogos construcionistas em relação à educação são referentes à busca por uma pedagogia crítica que reconheça os valores ideológicos

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presentes em qualquer prática de ensino ao mesmo tempo em que busque a promoção de diálogo e a valorização de um aprendizado colaborativo, focado nos relacionamentos.

Embora estas sejam posições também difundidas por movimentos críticos já amplamente reconhecidos no campo da educação - como é o caso de Paulo Freire (1975) e a pedagogia crítica – uma das contribuições construcionistas específicas é a própria noção da educação tradicional enquanto uma construção social. Neste contexto, o livro de Dragonas, Gergen, McNamee e Tseliou, (2015), Education as Social

Construction, mais do que propor novos modelos educacionais, aponta contribuições

teóricas alternativas à noções já estabelecidas e outras tradições, exemplificando diferentes práticas que podem ser pensadas quando se toma a proposição da educação como construção social.

A partir desta apresentação dos usos do Construcionismo Social é possível perceber a multiplicidade de contextos e práticas nas quais, em expansão, reconhece-se a potencialidade do uso deste discurso de variadas formas. Porém, tal qual aponta Rasera (2012), percebe-se um menor desenvolvimento no campo dos trabalhos comunitários e sociais, não havendo uma reflexão sistematizadora sobre o uso do construcionismo como acontece em outros campos.

Em uma tentativa de produzir esta reflexão e uma descrição possível sobre construcionismo e trabalho comunitário, o mesmo autor aponta como algumas das iniciativas produzidas estão relacionadas especialmente ao campo das narrativas coletivas, da terapia comunitária, do uso de recursos clínicos para conflitos em comunidade e desenvolvimento comunitário. Além disso, ele analisa três práticas desenvolvidas no contexto dos Estados Unidos, inspiradas pelo construcionismo e/ou que foram consideradas construcionistas, quais sejam: o Projeto Conversações Públicas, o Imagine Chicago e o Projeto Cupertino.

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Apesar dos diferentes objetivos e metodologias de cada uma dessas práticas, pode ser percebida nas três uma ênfase nos processos de sentido e no diálogo como ferramenta de transformação social, a busca por uma multiplicidade de pontos de vista sobre as necessidades das comunidades, além do foco na busca por intervenções concretas dentro das comunidades e a da busca por potencialidades, abandonando uma ênfase na problematização.

Estas descrições parecem estar de acordo com o foco nos processos de produção de sentido, uma preocupação dialógica e da linguagem como construtora de realidades alternativas e, portanto, de transformação social propostas por Gergen (1999), e apontado por Hosking e Morley (2004) como algumas das características partilhadas por trabalhos comunitários inspirados pelo construcionismo.

Se uma das marcas iniciais desta pesquisa foi uma busca por práticas que sejam sensíveis aos contextos sociais, e como, historicamente, as práticas comunitárias e sociais têm uma preocupação mais reconhecida com uma atuação política e de mudança social, apesar dos seus diferentes paradigmas e formas de atuação (Rasera, 2012), este campo, está relacionado com a escolha contextual da América Latina – a ser desenvolvida na próxima seção.

Mas como entender o que são trabalhos sociais e comunitários? Concordamos com Grandesso (2015b) quando aponta que não há uma definição à priori do que seja a comunidade, ou mesmo o que poderia ser entendido como questões sociais, sendo estas, noções relacionadas aos sistemas relacionais e organizadas pela linguagem. Entretanto, na tentativa de produzir uma definição com a qual este trabalho está ancorada, entendemos o campo “Trabalhos sociais e comunitários” como aqueles que descrevem ações e produções teóricas relacionados a questões e/ou formas de intervenção sociais. Ou seja, há um duplo entendimento sobre este termo. O primeiro deles se refere a

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trabalhos que tenham como temáticas centrais questões e problemas sociais, tais quais vulnerabilidade, violência, pobreza, discriminação e desigualdade. O segundo, a formas de trabalhos predominantemente em contextos comunitários e institucionais, ou seja, que haja um privilégio de ações coletivas e grupais, e não voltados para a clínica tradicional ou para intervenções tipicamente voltadas para sujeitos/indivíduos.

Assim, mais do que produzir uma descrição realista sobre o que são os trabalhos comunitários e sociais, buscar compreender como as produções analisadas estão relacionados a este campo, que tipos de ações têm sido realizadas, quais são as temáticas trabalhadas, o uso do construcionismo social e os recursos utilizados para a prática nestes contextos.

2.3.Das primeiras localidades para o mundo: a América Latina em foco

A partir deste panorama geral de usos nos diferentes campos, vale destacar que grande parte dos desenvolvimentos teóricos, seja do construcionismo social em si ou destes outros movimentos teóricos e práticas que se aproximam a ele, deu-se principalmente em localidades consideradas mainstream, ou seja, em países pertencentes ao bloco dos países desenvolvidos, especialmente nos EUA, mas também Noruega, Austrália, Inglaterra, dentre outros.

Se as primeiras investigações de Gergen estão relacionadas a contextos específicos de produção científica – e ao que ficou conhecido como a “crise” na psicologia social (Burr, 2003) – suas contribuições e de outros autores, influenciaram práticas e países diversos ao redor do mundo, que desde então, têm contribuindo para a sua produção teórica e uso.

Se há uma valorização à sensibilidade cultural e histórica, caberia, neste contexto, pensar um construcionismo desenvolvido a partir de influências locais? Que se

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constróia partir de diferentes desafios enfrentados por regiões distintas? Os exemplos trazidos a seguir contam um pouco sobre a pluralidade de diferentes localidades, sobre o desenvolvimento do construcionismo em países distintos no mundo.

Shi-Jiuan Wu (2014) organiza uma coletânea de textos de autores de Taiwan e China sobre o tema da educação pós-moderna e o desenvolvimento de práticas nestes países, com tópicos como liderança, administração, psicologia escolar e outros. Deissler e McNamee (2013)publicaram uma obra em alemão, sobre a poética social das conversações terapêuticas, com textos tanto de autores reconhecidos do campo construcionista traduzidos para este idioma, quanto de autores alemães que trabalham nesta perspectiva. Romaiole (2013), autor italiano, se dedicou aos aspectos do ser

múltiplo em uma perspectiva relacional da terapia e Hulme (2009) publicou a obra Piemp, uma coletânea de poesias resultantes do seu trabalho como aconselhadora

narrativa educacional em uma comunidade marginalizada da África do Sul. De maneira geral, pode-se entender que estes trabalhos contam sobre a fertilidade das ideias construcionistas para campos de trabalhos distintos, conforme explorados na seção anterior.

Mas, além disso, outros exemplos - como o trabalho de Bojer, Roehl, Knuth e Magner (2008), que a partir do contexto da África do Sul e do trabalho conjunto à fundação Nelson Mandela, produziu um livro com ferramentas dialógicas para o trabalho que busca transformação social; ou o desenvolvimento de Charles e Samarasinghe (2015), no contexto pós-guerra do Sri-Lanka, de modos de intervenção focados nos entendimentos relacionais para provocar transformações no trabalho de psicólogos trabalhando em ONGs que visam lidar com os aspectos de sofrimento decorrentes dessa realidade no país; além da experiência de Saha (2015) que, nas Filipinas promoveu, a partir de um olhar da investigação apreciativa, ações com

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fazendeiros para inovações locais - contam sobre como os entendimentos relacionais e dialógicos podem ser ferramentas úteis para a composição de novas formas de trabalho em países que passaram por experiências de desafios locais.

Além disso, destacamos uma recente publicação “Construccionismo Social en

acción: Prácticas Inspiradoras en diferentes contextos” (Rasera, Taveniers &

Vilches-Álvarez, 2017) que dá visibilidade para práticas inspiradas pelo construcionismo e consideradas inspiradoras em outros contextos, como a América Latina. Produções como “Construcionismo Social: discurso, prática e produção de conhecimento” (Guanaes-Lorenzi, Moscheta, Corradi-Webster e Souza, 2014), que apresenta reflexões teóricas e diferentes práticas, e “Social Constructionist Perspectives on Group Work” (Rasera, 2015), que tem como foco o trabalho com grupos, contam sobre a potencialidade do que tem sido produzido e pensado no Brasil, em contextos diversos de trabalho. Além dessas, os dois volumes de “Diálogos para la transformación –

experiencias en terapia y otras intervenciones psicosociales en Iberoamérica” (Fried

Schnitman, 2015a, 2015b), de organização argentina e que retrata o uso das práticas dialógicas em terapia e em instituições na Iberoamérica; e “Recursos psico-sociales

para el post-conflicto” (Mesa & Murcia, 2016), que traz uma série de reflexões e

recursos a partir da situação de pós-conflito da Colômbia,são alguns dos exemplos de temas, uso e desenvolvimento do construcionismo na América Latina.

Dessa forma, é interessado neste movimento de expansão e difusão do construcionismo que o presente trabalho se insere, buscando analisar como se apresenta o construcionismo social entre profissionais da América Latina.

O interesse por promover um olhar para qual construcionismo social é esse que tem sido desenvolvido nesta localidade está relacionado tanto à localização do Brasil (do qual partimos) no contexto dessa macrorregião, sendo assim um exercício para

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aprofundar as aproximações locais aqui já realizadas; quanto à história destes países, as particularidades que muitos têm em comum - como o fato de terem sido colonizados, uma história de subdesenvolvimento econômico, marcado por desigualdades, conflitos sociais, dentre outras questões -podendo ser útil a busca pela compreensão de quais são os movimentos promovidos entre teoria e prática nesta região.

Assim, entender se há movimentos de reafirmação de uma consciência construcionista e quando há marcas das particularidades locais e/ou movimentos de inovação na prática dos profissionais desta localidade.

Ao colocarmos deste modo, não pretendemos, tal como nos alertam Rasera, Taveniers e Vilches-Álvarez (2017) considerar a América Latina como “um bloco social e cultural homogêneo” (p.26), mas sim, apesar de toda a diversidade destes países considerados, promover um recorte que busca pensar sobre a prática e produção acadêmica construcionista desta região.

Entendemos dessa forma que nosso trabalho pode dar visibilidade para a produção de países mais periféricos – em relação àqueles mais hegemônicos já comentados. Além disso, a partir destas produções, considerando que o construcionismo embora preveja uma ênfase na ação (Gergen, 1994; Gergen & Warhuss, 2001) ainda é criticado por seu engajamento majoritário no discurso (Gergen, 1994; Holzman& Newman, 2012),pode provocar novas reflexões sobre o uso do construcionismo relacionado à um campo de trabalho, suscitando reflexões e recursos para a prática.

2.4: O Instituto Taos: nos aproximando de uma comunidade construcionista

A busca pelo entendimento de como se apresenta o construcionismo social na América Latina é, em grande medida, a busca por quem são as pessoas, grupos e práticas que se orientam por ele. Contudo, a definição e identificação como

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construcionista é sempre uma questão em aberto, devido tanto ao fato de que alguns profissionais são indiferentes à essa nomeação, ou, tal como já descrito, são diversos os construcionismos sociais, sendo que muitos outros se nomeiam a partir de outras denominações que se aproximam ao construcionismo.

Diante deste desafio, e considerando a ciência como prática social - portanto não focando apenas na produção bibliográfica, tal qual em uma revisão bibliográfica clássica, mas buscando entender a rede de profissionais e pesquisadores que se articulam por esse discurso - como alternativa, consideramos o Instituto Taos (Taos Institute) como acesso possível a essa comunidade.A escolha do Instituto Taos enquanto foco deste recorte diz respeito à sua importância no movimento de aproximação entre teoria e prática, e à presença de membros que se auto intitulam como construcionistas sociais. Outra ponto importante se deve ao fato de que a sua comunidade se constitui não apenas de pesquisadores, mas também muitos profissionais que estão para além dos muros da academia.

O Instituto Taos é uma comunidade existente desde 1993 e que reúne profissionais inspirados pelo construcionismo social de diferentes partes do mundo. De acordo com os fundadores, o instituto é uma organização sem fins lucrativos, dedicada ao desenvolvimento da teoria construcionista social e práticas que visem beneficiar a sociedade.

A partir desta base teórica, os fundadores reafirmam que a geração de significado e ação está no processo de conexão relacional. E se ação e significado estão entrelaçados, à medida que geramos significados conjuntamente, nós criamos o futuro. Assim, comprometidos com a noção de que as ideias construcionistas têm implicações positivas para a sociedade, a aposta em estar em comunidade é condizente com a missão deste instituto, que se refere a:

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exploração, desenvolvimento e difusão de ideias e práticas que promovam processos criativos, apreciativos e colaborativos em todos os aspectos da sociedade e em todo o mundo; trabalhar na interface entre comunidades acadêmicas e profissionais da sociedade de campos como educação, desenvolvimento organizacional, criação de comunidade, mediação, construção de paz, trabalho social, aconselhamento, psicoterapia, gerontologia, direito, medicina e cuidado em saúde; e desenvolvimento de formas em que a pesquisa acadêmica e a prática profissional possam significativamente enriquecer uma à outra (www.taosinstitute.net, 20 de março de 2017).

Seus fundadores - Harlene Anderson, David Cooperrider, Mary Gergen, Kenneth Gergen, Sheila McNamee, Suresh Srivastva e Diana Whitney - iniciaram as atividades na década de 1990, a partir de reuniões entre eles e, inicialmente, pequenas conferências realizadas na cidade de Taos, localizada no estado do Novo México, nos Estados Unidos da América, de onde surge a nomeação do Instituto.

No início, além destas atividades, realizavam consultorias a pessoas e organizações, além de ações de acesso à literatura construcionista, especialmente nos campos da terapia familiar e do desenvolvimento organizacional. Ao longo dos anos, a quantidade de conferências, atividades e áreas de atuação se expandem, sendo que em 2001 se inicia o Programa de PhD, além das primeiras séries de livros editados e publicados pelo Intituto Taos.

Atualmente, estas são duas importantes atividades do seu escopo. O programa de PhD (equivalente ao título de doutorado no Brasil) é realizado em parceria com universidades holandesas e belgas. Além dele, na área educacional/formação profissional são oferecidos um curso de mestrado em Práticas Colaborativas e

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Dialógicas online em parceria com o Instituto Kanankil, do México, programas de certificados em diferentes práticas – como o ICCP, Certificado Internacional em Práticas Colaborativas- , conferências e workshops presenciais e onlines. Já na área de publicações e livros, o instituto conta com sua própria editora, a Taos Institute Publications, que promove uma série de livros – dos tipos introdutórios, avançados, no formato de e-book, de distribuição gratuita, dentre outros – que contribui com a difusão da literatura do campo construcionista.

Para eles, o instituto é “um “espaço” de aprendizagem e exploração, não um

“lugar” (The Taos Institute, 2017, Brief History), ressaltando que, embora haja apenas

um escritório central em Ohio, nos EUA, as principais atividades são desenvolvidas

online, buscando um maior alcance possível, além de eventos realizados de maneira

presencial em diferentes locais.

Formado por profissionais de diferentes partes do mundo, atualmente o instituto conta com o Conselho Diretor, o Instituto Taos Europa (a parte do instituto que atua na região européia), o Conselho latino-americano (TILAC, um conselho consultivo formado por associados da América Latina, Portugal e Espanha, que tem como missão estabelecer redes de colaboração entre associados que possuem o português e espanhol como língua nativa, além de promover ações do Taos nesta região), além de membros honorários e demais associados.

Os associados do Taos são profissionais interessados no discurso construcionista convidados pelo Conselho Diretor. Este conselho é formado por alguns dos fundadores e outros membros atuais, contando com 9 membros, sendo que 3 membros são também os administradores do instituto. Além dele, há 3 membros honorários do conselho diretor, uma diretora executiva, e 4 associados que compõem o conselho de assessores. Já os associados honorários, aqueles que considera-se de grande importância as

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contribuições de seus diálogos para o Instituto Taos, somam 28 associados. Por fim, os demais associados totalizam 603 membros e estão divididos nas seguintes quantidades pelas regiões e países do mundo, a partir da própria categorização do site do instituto:Estados Unidos, 190 associados; África e Oriente Médio, 19 associados; Ásia, 34 associados;Canadá, 57 associados; Europa, 203 associados; México, Caribe e América do Sul, 90 associados;Oceania, 10 associados.

Esses números parecem estar de acordo com o já apontado, destacando tanto a predominância da expansão do construcionismo nos EUA e em outros países desenvolvidos, quanto a presença crescente desta comunidade em outras localidades. Destes outros locais não hegemônicos, percebe-se que a América Latina se destaca em quantidade de associados, o que colabora para a sua escolha enquanto foco desta análise.

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3. OBJETIVO 3.1: Objetivo Geral

O objetivo geral desse estudo é caracterizar a comunidade construcionista social da America Latina integrante do Instituto Taos e analisar como se apresenta o construcionismo social nos trabalhos do campo comunitário e social por ela desenvolvidos.

3.2:Objetivos Específicos

Os objetivos específicos dessa pesquisa são:

a) Caracterizar os campos de atuação, instituições de filiação, países de origem, formação, titulação e as publicações dos profissionais do Instituto Taos na América Latina;

b) Analisar as publicações e produções referentes às práticas dos campos social e comunitário, destacando como principais eixos de análise: um panorama desta produção, os usos do construcionismo social e a utilização de recursos para a prática;

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4. MÉTODO

A partir da premissa de que conhecer qual construcionismo é este está relacionada a quem são os profissionais que o utilizam e produzem práticas a partir dele, a principal ferramenta utilizada para o reconhecimento e escolha destes profissionais e pesquisadores a serem investigados foi a busca de associados e membros da América Latina do Instituto Taos.

A presente pesquisa encontra-se dentro do escopo teórico da pesquisa qualitativa. Este tipo de pesquisa, crescentemente utilizada no campo dos estudos sociais e da Psicologia, visa produzir conhecimentos e práticas locais, historicamente situadas. Tal qual apontado por Flick (2009), essa modalidade de pesquisa contempla diversos métodos e teorias, ressaltando a importância de estudar os objetos em seus contextos cotidianos, de considerar a relevância das perspectivas dos participantes e a sua diversidade; e a presença e importância da reflexividade do pesquisador e da pesquisa.

Neste sentido, em consonância com estas peculiaridades e características da pesquisa qualitativa, que também são próximas aos pressupostos construcionistas sociais e suas implicações para a pesquisa, o presente estudo se constitui como uma pesquisa teórico-exploratória no campo do próprio construcionismo social.

Para tanto, utilizamos como percurso metodológico inicial a análise documental de autodescrições dos associados do Instituto Taos, disponibilizados em suas seções de apresentação no website do instituto. Tal como apontam P. Spink et al (2014), entende-se como documento qualquer registro escrito, entende-sejam formulários, jornais, revistas, páginas de internet, dentre outros, que possa ser livremente acessado e que sirva como objeto de análise, dentro dos objetivos de cada pesquisa. Assim, a análise documental busca, a partir da leitura minuciosa dos textos destes documentos, reunir informações contidas, organizando-as em categorias posteriores para serem analisadas.

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É neste sentido que P. Spink et al (2014) ressaltam a importância deste método como complementar a outros frequentemente utilizados no campo da Psicologia, pela potencialidade dos documentos de carregarem ideias, argumentos e sentidos. Quando seu uso é feito de maneira combinada a outros métodos argumentam ser possível compreender com maior complexidade o fenômeno sobre qual se está pesquisando. Em consonância com estas ideias, em um texto anterior, P. Spink (1999) ressalta a importância deste tema em uma perspectiva construcionista de se pensar a pesquisa.

Destacamos que, concordamos com Silva et al (2009), quando dizem que este método visa não tomar a realidade como dada através dessas produções, mas sim entender que esses documentos podem nos dar indícios das ações, ideias, opiniões e formas de atuar e viver daqueles que os produzem.

Neste sentido, o utilizamos como base para a composição dos primeiros resultados, constituídos a partir dos textos de autodescrição dos membros da comunidade latino-americana do Instituto Taos. Ao mesmo tempo, a partir dos resultados obtidos, contribui para a construção do corpus de produções específicas analisadas em um segundo momento, constituídas de produções textuais no campo de trabalhos sociais e comunitários.

Para esta segunda análise foram realizados procedimentos de análise de conteúdo e construção de categorias temáticas, a partir de características dos textos analisados. A análise de conteúdo se constitui de um método e procedimento de análise amplamente utilizado no campo das ciências humanas e sociais, inclusive para a análise de materiais textuais (Bardin, 2011).

Seus procedimentos podem ser sintetizados a partir detrês principais momentos: a

pré-análise, em que é feita uma primeira aproximação com o material coletado, sua

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leitura exaustiva, procurando conhecer as primeiras impressões em relação a estes textos; a exploração do material, buscando dar visibilidade ao contexto em que são desenvolvidos e selecionar quais são aspectos relevantes para serem analisados; e o processo de tratamento dos resultados, em que se cria categorias de análise, buscando promover reflexões e análises para as perguntas propostas.

A partir destas explicações gerais sobre estes dois métodos de análise, destacamos os procedimentos realizados por esta pesquisa.

4.1.Procedimentos

O ponto de partida deste trabalho foi a identificação dos membros do Instituto Taos provenientes da América Latina. No website oficial,a partir de divisões de localidades propostas por eles,é possível localizar quais são os associados de diferentes localidades. Consideramos, assim, aqueles que são compreendidos na região denominada “México, Caribe, América Central e América do Sul” (https://www.taosinstitute.net/caribbean-central-and-south-america). Dentro desta categoria, há uma subdivisão de todos os países que fazem parte desta região, e em cada país uma lista com todos seus associados relacionados.

Nesta seção, cada associado disponibiliza um texto de apresentação, de autoria própria e segundo seus próprios critérios de escolhas de quais informações considera relevantes. Cada página é constituída de uma fotografia do associado, seus contatos de email, endereço e telefone. Quando vinculado a uma instituição ela está em destaque, logo abaixo do nome do associado. Após estas informações iniciais,cada um conta, à sua maneira, sobre sua trajetória profissional, sua aproximação com as teorias sensíveis ao construcionismo, posições de trabalho já ocupadas, temas de interesse, projetos em que está envolvido, que campo de trabalho atua, sua relação com outros membros e

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grupos, dentre outras informações variadas. Estes textos têm em média de 20 a 40 linhas.Alguns associados também disponibilizam websites de suas empresas, instituições a que estão vinculados, grupos de trabalho. Ao final, no caso daqueles associados que possuem produções textuais, elas são disponibilizadas ou na forma de

links para acesso/download, ou a partir de indicações de referências bibliográficas. Ou

seja, estes textos constituem-se como uma espécie de currículo, construídos a partir de autonarrações. Destacamos que, sendo assim, há uma construção de certa versão de si construída e valorizadas pelos associados nestas descrições, destacando alguns aspectos e que nem sempre contemplam todas as informações e projetos nos quais estão envolvidos.

A partir desta contextualização da organização do website, destacamos os procedimentos metodológicos e analíticos realizados. A primeira parte procedimental refere-se à construção dos resultados da caracterização dos associados do Instituto Taos. O segundo momento constitui-se dos procedimentos realizados já com o enfoque nos trabalhos comunitários e sociais.

4.1.1.Caracterização da comunidade latino-americana do Instituto Taos

a) Gravação das capturas de tela do website do Instituto Taos

Como alertam P. Spink et al (2014), trabalhar com documentos eletrônicos requer que haja alguma forma de guardar as informações que estão sendo utilizadas, já que é comum que meios eletrônicos como websites saiam do ar, ou mudem sua programação e layout, fazendo com que algumas de suas informações não estejam mais disponíveis.

Dessa forma, inicialmente, capturas de tela foram realizadas com o intuito de armazenar as informações disponibilizadas pelos associados. Estas capturas de tela

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