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Escolhas Contábeis na Evidenciação da Demonstração dos Fluxos de Caixa

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Academic year: 2021

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Escolhas Contábeis na Evidenciação da Demonstração dos Fluxos de Caixa Autoria: Denise Mendes da Silva, Vinícius Aversari Martins, Fabiano Guasti Lima

RESUMO

O objetivo deste trabalho é investigar quais são as escolhas contábeis das empresas brasileiras na evidenciação da Demonstração dos Fluxos de Caixa e quais fatores podem explicar tais escolhas. A amostra constitui-se de 107 empresas listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa, referentes ao ano de 2010. Os itens investigados são juros pagos e recebidos e dividendos e juros sobre o capital próprio pagos e recebidos. Foram utilizados testes estatísticos de diferenças de médias, correlação de Pearson e regressão logística. Os resultados apontam que não houve evidências significativas da utilização de escolhas contábeis para gerenciar fluxos de caixa no Brasil.

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1 INTRODUÇÃO

A adoção do padrão contábil internacional no Brasil, por meio da emissão dos Pronunciamentos Técnicos Contábeis pelo CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), convergentes ao IFRS (International Financial Reporting Standards), ampliou as possibilidades de escolhas contábeis e propiciou um cenário farto para pesquisas relativas a este tema, isso porque o IFRS proporciona mais julgamento dos gestores na implementação das normas.

Fields, Lys e Vincent (2001, p. 256) afirmam que uma escolha contábil é qualquer decisão cujo objetivo seja influenciar o resultado da contabilidade, incluindo não apenas as demonstrações contábeis, mas também, outros documentos derivados da contabilidade como, por exemplo, as declarações de imposto de renda. Cardoso (2005, p. 137) assevera que “as escolhas dos gestores podem envolver práticas contábeis ou operacionais; quando essas escolhas tiverem por objetivo prejudicar terceiros serão classificadas como ‘fraude’ e, no caso contrário, como ‘gerenciamento da informação contábil’.

O importante das pesquisas em escolhas contábeis é a busca do entendimento de seus fatores determinantes, ou seja, suas motivações e consequências econômicas. A literatura é repleta de discussões e justificativas teóricas que podem explicar uma ou várias escolhas contábeis (Murcia, et al, 2013; Lorencini e Costa, 2012; Nobes, 2011; Martinez, Martinez e Diazaraque, 2011; Quagli e Avallone, 2010; Missonier-Piera, 2004), mas mesmo assim, não se pode dizer que há uma teoria consolidada sobre escolhas contábeis, isso porque as escolhas são múltiplas e os fatores determinantes também.

As escolhas contábeis podem estar relacionadas a métodos de avaliação de ativos (estoques, imobilizados, propriedades para investimento), à forma de reconhecimento de itens no Balanço Patrimonial e/ou Demonstração do Resultado (pagamentos do arrendamento mercantil operacional, ganhos ou perdas atuariais em planos de benefícios a empregados, subvenções relacionadas a receitas e ativos etc.) e à forma de evidenciação de informações (método de apresentação dos fluxos de caixa das atividades operacionais na Demonstração dos Fluxos de Caixa, classificação dos juros e dividendos pagos e recebidos na Demonstração dos Fluxos de Caixa etc.).

Esta pesquisa, buscando especificar e entender uma única escolha contábil ao invés de múltiplas, foca a Demonstração dos Fluxos de Caixa. Em relação à classificação dos fluxos de caixa, as normas IFRS tendem a ser mais flexíveis do que as normas norte-americanas, por exemplo. De acordo com a IAS 7 – Statement of Cash Flows, juros e dividendos pagos podem ser classificados tanto nas atividades operacionais como nas de financiamento; juros e dividendos recebidos podem ser classificados tanto nas atividades operacionais como nas de investimento. Já pelas normas norte-americanas (USGAAP), juros pagos, juros recebidos e dividendos recebidos devem ser classificados nas atividades operacionais.

No Brasil, o Pronunciamento Técnico Contábil03 (CPC 03) trata da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e mantém a flexibilidade de classificação dos itens mencionados, de acordo com a IAS 7. O item 33 do CPC 03 justificaque os juros pagos e recebidos e os dividendos e os juros sobre o capital próprio recebidos podem ser classificados como fluxos de caixa operacionais, porque eles entram na determinação do lucro líquido ou prejuízo e ainda, os juros pagos e os juros, os dividendos e os juros sobre o capital próprio recebidos podem ser classificados, respectivamente, como fluxos de caixa de financiamento e fluxos de caixa de investimento, porque são custos de obtenção de recursos financeiros ou retornos sobre investimentos.

Apesar dessas justificativas, o CPC, por meio do item 34A do CPC 03, encoraja fortemente as entidades a classificarem os juros, recebidos ou pagos, e os dividendos e juros sobre o capital próprio recebidos como fluxos de caixa das atividades operacionais, e os

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dividendos e juros sobre o capital próprio pagos como fluxos de caixa das atividades de financiamento e que alternativa diferente deve ser seguida de nota explicativa evidenciando esse fato. Importante lembrar que para as instituições financeiras os juros fazem parte das atividades operacionais.

Tendo em vista que fluxos de caixa idênticos em sua natureza podem ser classificados de várias formas pelas empresas devido à: (i) opção permitida pela norma (IAS 7; CPC 03); (ii) situação financeira das empresas, incentivos do mercado de capitais, situação de endividamento e lucratividade (Lee, 2012; Gordon et al, 2013; Baik et al, 2013); e ainda, pela carência de trabalhos sobre esta temática no Brasil, o presente estudo investiga quais são as escolhas contábeis das empresas brasileiras na evidenciação da Demonstração dos Fluxos de Caixa e quais fatores podem explicar tais escolhas. Para isto foram analisadas as Demonstrações Contábeis de 107 empresas listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa, referentes ao ano de 2010, quando ocorreu, no Brasil, a adoção plena dos pronunciamentos contábeis convergentes ao padrão internacional. Os itens investigados são as classificações de juros pagos e recebidos e dividendos e juros sobre o capital próprio pagos e recebidos.

A principal contribuição deste estudo diz respeito ao fato de testar a ‘teoria das escolhas contábeis’ no Brasil, por meio da busca de características das empresas que podem determinar as escolhas de classificação na Demonstração dos Fluxos de Caixa. Além desta contribuição à literatura, este estudo pode oferecer um panorama sobre a forma como as empresas consideradas com alto nível de Governança Corporativa no Brasil estão evidenciando seus fluxos de caixa no que tange à comparabilidade e, também, ao gerenciamento da Demonstração do Fluxo de Caixa, fazendo escolhas que impliquem em um aumento do fluxo de caixa operacional.

Nossos resultados indicam que há indícios de que as empresas listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa com mais oportunidades de crescimento escolhem classificar juros pagos no fluxo de caixa das atividades de financiamento, maximizando o fluxo de caixa operacional. Por outro lado, os resultados não apontam resultados significativos para todas as outras hipóteses elaboradas, ou seja, não há indícios de que as empresas listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa com níveis mais altos de endividamento, maiores índices de rentabilidade, com fluxos de caixa operacionais negativos e maiores escolhem classificar juros pagos no fluxo de caixa das atividades de financiamento, aumentando, assim, o fluxo de caixa operacional.

O artigo está dividido em cinco seções, incluindo-se esta introdução. Na sequência tem-se o referencial teórico que fundamenta as discussões, os aspectos metodológicos que possibilitaram a coleta e análise dos dados, a apresentação e discussão dos resultados, encerrando-se com as considerações finais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Teoria das Escolhas Contábeis

A Teoria Positiva da Contabilidade, apoiando-se em conceitos da teoria econômica, busca explicar e prever as escolhas de práticas contábeis (de reconhecimento, mensuração e evidenciação) com base na ideia de que os múltiplos indivíduos envolvidos nas escolhas contábeis podem agirem função de seus interesses pessoais, procurando maximizar suas utilidades (IUDÍCIBUS; LOPES, 2004, p. 19). Assim, dado os interesses individuais, existirão preferências por determinadas práticas contábeis. A pesquisa em escolhas contábeis busca desvendar quais são esses interesses pessoais que afetam as escolhas, pois isso impacta a assimetria informacional. As utilidades individuais são ruídos introduzidos na comunicação entre gestores e stakeholders (participantes do mercado de capitais, no caso do IFRS). E por isso é relevante o entendimento das fontes de ruído na comunicação contábil.

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Para Watts e Zimmerman (1986) as teorias de práticas contábeis foram desenvolvidas a partir de teorias econômicas que assumem contratos e custos de informação diferentes de zero, devido ao processo de contratação imperfeita e ao processo político que determina uma regulação do governo nas atividades das empresas. A teoria econômica da firma é usada para explicar os efeitos das práticas contábeis nos fluxos de caixa. A ‘teoria das escolhas contábeis’, descrita em Watts e Zimmerman (1986, 1990), é, então, parte geral da teoria da firma, conforme Watts (1992).

Watts (1992) afirma que é preciso identificar o papel que a contabilidade desempenha nas disposições contratuais e organizacionais e como os arranjos variam entre as empresas, pois por meio dessas disposições é que existem as escolhas contábeis. Para Watts (1992, p. 241) as escolhas contábeis variam de empresa para empresa (de gestor para gestor, conforme seus pacotes de utilidades individuais e coletivas) e derivam de variáveis econômicas.

A ‘teoria das escolhas contábeis’ estuda o como e o porquê das escolhas de práticas contábeis feitas pelos indivíduos responsáveis, já que o órgão regulador permite no contrato (legislação e normas de contabilidade) diversas práticas contábeis válidas para tratar de um mesmo evento econômico (CABELLO, 2012, p. 29).

Holthausen e Leftwich (1983) revisaram as pesquisas sobre as consequências econômicas das escolhas de técnicas e normas contábeis, voluntárias e obrigatórias, e discutiram como essas consequências podem ser determinadas por custos de contratação e monitoramento (custos de agência) associados à remuneração de gestores, dívidas contratuais (empréstimos), regulação e/ou visibilidade política. Por meio de uma revisão dos testes empíricos categorizados para discutir seus pontos fortes e fracos, encontraram duas associações sistemáticas com escolhas contábeis: (i) tamanho, proxy para visibilidade política; (ii) endividamento, proxy para custos de contratação e monitoramento de dívidas (empréstimos). Já a revisão de Fields, Lys e Vincent (2001) apontou que as pesquisas sobre escolhas contábeis estão relacionadas à: comportamento oportunista; Governança Corporativa; desempenho da firma; assimetria de informação; regulação. Francis (2001) concluiu que as pesquisas ligadas às motivações e benefícios das escolhas contábeis são, certamente, interessantes para saber se as escolhas realizadas tiveram os efeitos desejados.

Em linha com os trabalhos mencionados, o presente estudo vai verificar se algumas dessas variáveis podem explicar as escolhas contábeis relativas às classificações na Demonstração dos Fluxos de Caixa. Tais trabalhos (Holthausen e Leftwich, 1983; Filds, Lys e Vincent, 2001) encontraram associações entre características institucionais das empresas e escolhas de práticas contábeis em mercados estrangeiros e neste estudo as características institucionais são relativas às empresas listadas no mercado brasileiro, ou seja, é uma oportunidade de testar a ‘teoria das escolhas contábeis’ no Brasil. Para fins da análise aqui proposta, também serão utilizadas variáveis como tamanho da empresa, endividamento e rentabilidade, no intuito de avaliar as perspectivas de visibilidade política, contratos de dívida e comportamento oportunista, em um contexto de Governança Corporativa considerado mais alto, como o Novo Mercado da BM&FBovespa.

Na sequência é apresentada a revisão de alguns estudos empíricos sobre escolhas contábeis relacionadas à adoção de novo padrão contábil, à mensuração de ativos, a normas específicas e escolhas contábeis relacionadas à evidenciação, mais especificamente à classificação de itens na Demonstração dos Fluxos de Caixa, alvo desta pesquisa.

2.2 Revisão da Literatura e Elaboração das Hipóteses

Na literatura é possível encontrar estudos que focam as escolhas contábeis requeridas ou permitidas relacionadas à adoção de um novo padrão contábil, como o IFRS. Estes estudos abordam escolhas relacionadas a diversas normas, dentro do padrão IFRS, simultaneamente em um mesmo país (Martínez; Martínez; Diazaraque, 2011) ou comparativamente em um

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mesmo setor entre vários países (Quagli e Avallone, 2010), ou ainda, escolhas contábeis relacionadas a normas específicas (Murcia, et al, 2013; Lorencini e Costa, 2012)assim como múltiplas escolhas contábeis (Missonier-Piera, 2004) e classificações contábeis (Nobes, 2011).

Martinez, Martinez e Diazaraque (2011) examinaram os relatórios anuais das empresas listadas na Espanha, que adotaram o IFRS em 2005, e relacionaram as escolhas de práticas contábeis a características institucionais, tais como, setor, endividamento, listagem em mercados internacionais, rentabilidade do Patrimônio Líquido, tamanho e tipo de auditoria (Big Four versus não Big Four). Por meio de regressões logísticas, foi feita a análise de múltiplas escolhas contábeis vinculadas ao IFRS com empresas de um mesmo país (Espanha) buscando identificar os fatores que poderiam determinar tais escolhas. Esses autores encontraram relação entre as escolhas de práticas contábeis e o setor, tamanho, rentabilidade e tipo de auditoria das empresas.

Análise semelhante foi feita por Quagli e Avallone (2010), quando estes empregaram a regressão logística para testar a ‘teoria das escolhas contábeis’ em empresas relativas à mensuração das propriedades para investimento sob o escopo da IAS 40, que permite a opção de valor justo ou custo para avaliar tais ativos. Estes autores trabalharam com empresas de sete países europeus e os resultados mais significativos que encontraram são de que tamanho, como proxy de custos políticos, reduz a probabilidade de uso do valor justo enquanto a relação market-to-book está negativamente associada com a escolha do valor justo. Por outro lado, a alavancagem, proxy típica de custos de contratação, parece não influenciar a escolha. Conforme os autores, esta evidência confirma a validade atual da teoria das escolhas contábeis tradicional, mesmo revelando, em tal contexto, a irrelevância das relações habituais entre escolhas contábeis e alavancagem.

Metodologicamente estes dois trabalhos são importantes para o presente estudo, tanto quanto à técnica de análise empregada, quanto às variáveis que compõem o modelo proposto, uma vez que a intenção é testar a teoria das escolhas contábeis no contexto brasileiro. A falta de evidências conclusivas sobre o que pode influenciar as escolhas contábeis das empresas oferece motivação para prosseguir com a investigação. Nessa mesma linha de raciocínio, no que tange ao comportamento das empresas brasileiras com relação às escolhas contábeis, pode-se mencionar as pesquisas de Murcia et al (2013) e Lorencini e Costa (2012), os quais fazem avaliação de escolha semelhante e chegam a conclusões divergentes em um fator.

Murcia et al (2013) tiveram como objetivo identificar os fatores determinantes da escolha de manter ou estornar o saldo da reserva de reavaliação e Lorencini e Costa (2012) estudaram a escolha de manter ou estornar o saldo do Ativo Diferido, opções estas possíveis a partir do advento da Lei 11.638/2007. Ambas as pesquisas trabalharam com as empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa, utilizaram a técnica de regressão logística e testaram se fatores como: tamanho, rentabilidade, endividamento, governança corporativa, empresa de auditoria, listagem em mercados estrangeiros e valor da reserva de reavaliação ou valor do Ativo Diferido influenciaram tais escolhas contábeis.

Apesar de trabalharem com a mesma amostra, com a mesma técnica e partirem de hipóteses semelhantes, os autores chegaram a resultados diferentes. Murcia et al (2013) concluíram que o modelo logit não foi significativo, de forma que não foi possível associar as decisões tomadas pelas empresas ao conjunto de variáveis independentes utilizado, observando, somente, que empresas com maiores valores de reserva de reavaliação têm menor probabilidade de optar pelo estorno. Já Lorencini e Costa (2012) observaram que a participação em algum dos níveis diferenciados de Governança Corporativa está associada à escolha pela baixa dos saldos remanescentes e o tamanho do saldo do Ativo Diferido está associado à escolha pela manutenção dos saldos, após controle pelo tamanho da empresa.

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Estes dois últimos estudos também estão intimamente relacionados ao objetivo desta pesquisa e, como não encontraram evidências conclusivas nas condições especificadas, reforçam a necessidade de que a investigação das escolhas contábeis continue.

No que diz respeito às escolhas de classificação dos fluxos de caixa das empresas, estudos anteriores indicam que estas podem variar devido à situação financeira das empresas, incentivos do mercado de capitais, situação de endividamento e lucratividade (Lee, 2012; Gordon et al, 2013; Baiket al, 2013).

A pesquisa de Gordon et al (2013) focou empresas de 13 países europeus que adotaram o IFRS a partir de 2005 e indicou que os três primeiros fatores (situação financeira das empresas, incentivos do mercado de capitais e situação de endividamento) apresentaram relação com a classificação dos fluxos de caixa das empresas da amostra (escolha de classificações que aumentam o fluxo de caixa operacional) e a lucratividade não. De acordo com os autores, as escolhas podem variar, também, conforme o ambiente de divulgação, considerando: a existência de projeção de fluxos de caixa pelos analistas, práticas do setor e se a empresa está listada nos Estados Unidos. Os dois primeiros fatores (projeção de fluxos de caixa e práticas do setor) não se mostraram significantes para as escolhas de classificação dos fluxos de caixa. Já o fato da empresa estar listada nos Estados Unidos não a impede de fazer escolhas de classificação, mesmo que estas escolhas não sejam permitidas pelo USGAAP, segundo dados da pesquisa.

Gordon et al (2013) explicam que empresas com dificuldades financeiras são motivadas a relatar maior fluxo de caixa operacional (OCF – Operating Cash Flow), porque esta é uma importante medida na avaliação de crédito e risco. As atividades operacionais são as principais atividades geradoras de receitas. Quanto maior a capacidade de geração de fluxos de caixa operacionais, maior a capacidade de pagamento. Os autores também expõem que as empresas que acessam mais frequentemente os mercados de capitais têm fortes incentivos para inflar os fluxos de caixa operacionais no intuito de aumentar o volume de captação (ou capitalização). Empresas mais endividadas, com maiores custos de renegociação de dívidas também tendem a relatar maiores fluxos de caixa operacionais. Assim, surge a primeira hipótese:

H1 – empresas brasileiras listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa com níveis mais altos de endividamento tendem a fazer escolhas que aumentem os fluxos de caixa operacionais.

Da mesma forma, empresas lucrativas e/ou com fluxos de caixa operacionais negativos buscam classificações que permitam relatar maior fluxo de caixa operacional. Reportar maior OCF reforça a avaliação da rentabilidade e empresas com OCF negativo farão classificações que o torne menos negativo ou mesmo positivo, como por exemplo, não classificar juros pagos como operacionais (Gordon et al, 2013). Desse modo, apresentam-se a segunda e terceira hipóteses:

H2 – empresas brasileiras listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa com maiores índices de rentabilidade tendem a fazer escolhas que aumentem os fluxos de caixa operacionais.

H3 – empresas brasileiras listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa com fluxos de caixa operacionais negativos tendem a fazer escolhas que aumentem os fluxos de caixa operacionais.

Baik et al (2013) examinaram os determinantes e consequências econômicas das mudanças de classificação dos juros pagos na Demonstração dos Fluxos de Caixa de empresas que adotaram o IFRS obrigatoriamente na Coreia. Esta pesquisa se torna interessante por focar outro mercado (Coreia), corroborando a ideia de que as escolhas contábeis podem variar de acordo com o ambiente de divulgação. Estes autores encontraram que empresas com alta alavancagem, grandes empresas e aquelas que são acompanhadas por poucos analistas tendem

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a mudar os pagamentos de juros dos fluxos operacionais para os fluxos de financiamento, aumentando, assim, o total do fluxo de caixa operacional. Consideraram, também, em suas análises as oportunidades de crescimento, representadas pelo índice book-to-price, já que empresas com alto crescimento exigem altos investimentos e, então, têm grande incentivo para manter altos fluxos de caixa operacionais para atrair provedores de capital. Nesse sentido, tem-se a quarta e quinta hipóteses:

H4 – empresas brasileiras listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa e maiores tendem a fazer escolhas que aumentem os fluxos de caixa operacionais.

H5 – empresas brasileiras listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa que apresentem mais oportunidades de crescimento tendem a fazer escolhas que aumentem os fluxos de caixa operacionais.

Lee (2012) alerta que o gerenciamento de resultados é diferente do gerenciamento dos fluxos de caixa, pois enquanto o primeiro manipula os accruals, o segundo não permite este tipo de manipulação. Entretanto, pode haver o gerenciamento dos fluxos de caixa por meio da classificação dos fluxos entre as atividades (operacionais, de investimento e de financiamento) e do timing, como por exemplo, atrasar pagamentos a fornecedores ou antecipar recebimentos de clientes. Lee (2012) identificou quatro características das empresas relacionadas a incentivos para aumentar o fluxo de caixa operacional: (1) dificuldades financeiras, (2) rating de crédito de longo prazo próximo ao ponto de corte da categoria de investimento / não investimento, (3) existência de previsões de fluxo de caixa dos analistas, e (4) maiores associações entre retornos das ações e caixa das operações.

As escolhas contábeis de fluxos de caixa restringem-se a classificações sem levar em conta operações mais sofisticadas, como securitização, por exemplo, na qual a essência da transação é desmontada e seus fluxos de caixa são ‘espalhados’ por vários grupos, e que podem, a princípio, ser ‘desmontados’ pelos analisas e usuários. As escolhas nos accruals tendem a ser mais sutis e até mesmo mais complexas, dificultando eventuais ajustes por partes dos usuários. Alinhado à ‘teoria das escolhas contábeis’ e aos trabalhos mencionados, este estudo parte do pressuposto que as escolhas contábeis variam de empresa para empresa, decorrem de variáveis econômicas e são similares dentro de uma mesma organização e procura explicar a razão pela qual podem ocorrer diferentes classificações para certos itens da Demonstração dos Fluxos de Caixa.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS 3.1 Coleta de dados

A amostra foi constituída, inicialmente, por 109 empresas não financeiras, integrantes do Novo Mercado da BM&FBovespa que apresentaram Demonstrações Contábeis consolidadas em 31.12.2010. A escolha dessa amostra justifica-se pela expectativa de que as empresas que estiverem em níveis mais rígidos de Governança Corporativa sejam mais transparentes, apresentando menor assimetria de informação. Verriest, Gaeremynck e Thornton (2013, p. 40) afirmam que a adoção do IFRS exige que as empresas divulguem informação financeira adicional e decidam sobre compliance voluntário e opções de divulgação. Estes autores esperam que mecanismos de governança mais fortes estejam associados a um melhor compliance e divulgação de maior qualidade relativa à adoção do IFRS. Apesar do CPC 03 ter sido aplicado desde 2008 pelas empresas da amostra, o ano de 2010 foi escolhido por representar o primeiro ano de adoção plena dos Pronunciamentos Técnicos Contábeis convergentes com as normas internacionais de Contabilidade.

Foram coletadas, do site da BM&FBovespa, as Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP) consolidadas referentes ao ano de 2010 de todas as empresas da amostra.

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A partir das DFP foram coletadas todas as demais variáveis necessárias para a análise conforme descrito na próxima subseção.

3.2 Procedimentos de análise dos dados

Os aspectos sobre a Demonstração dos Fluxos de Caixa considerados nas análises descritivas foram:

i. Método de apresentação escolhido para os fluxos de caixa das atividades operacionais: direto ou indireto;

ii. Quais empresas da amostra evidenciaram juros e dividendos e/ou juros sobre o capital próprio pagos na DFC;

iii. Quais empresas da amostra evidenciaram juros e dividendos recebidos na DFC;

iv. Qual a classificação dos juros e dividendos pagos e recebidos na DFC.

Nessa etapa inicial de análise foi possível identificar que as empresas Autometal e Minerva divulgaram as Demonstrações do Fluxo de Caixa de forma sintética, não sendo possível verificar os itens que as compõem, bem como, os itens de interesse dessa pesquisa. Desse modo, essas duas empresas foram excluídas da amostra, que passou a ser composta por 107 empresas.

Após essa etapa, partiu-se para a seleção de variáveis que poderiam apresentar relação significativa com a escolha de classificação de certos itens na DFC, ou seja, com a escolha de adotar classificações que aumentem o fluxo de caixa operacional. Foi realizado o teste de diferenças de médias para duas amostras independentes (Teste de Levene e Teste t) e a correlação de Pearson. Na sequência foi feita a análise de regressão logística que, conforme Fávero et al. (2009, p. 441), é uma técnica multivariada usada “para investigar a relação entre variáveis explicativas, métricas e não métricas, e uma variável dependente categórica binária”. Ainda segundo esses autores, a regressão logística destina-se a aferir a probabilidade de ocorrência de um evento e a identificar características dos elementos pertencentes a cada grupo determinado pela variável categórica.

Em linha com os estudos que tratam das escolhas contábeis relacionadas às classificações dos fluxos de caixa (Lee, 2012; Gordon et al, 2013; Baiket al, 2013), o modelo analisado é:

CLAS = β0 + β1*TAM + β2*END + β3*ROE + β4*N_OCF + β5*BP + ε

Em que:

 CLAS = Classificação – dummy, sendo 0 para representar a escolha pela classificação nos fluxos de caixa das atividades operacionais e 1 caso a classificação seja em outro fluxo;

 TAM = Tamanho da empresa, medido pelo logaritmo natural do valor contábil do Ativo total em R$ no ano de 2010;

 END = Endividamento, medido pela relação entre Passivo Oneroso Total (empréstimos, financiamentos, arrendamentos, de curto e longo prazo) e Capital Total a Disposição da Empresa no ano de 2010;

 ROE = (Return on Equity) Retorno sobre o Patrimônio Líquido, medido pelo Lucro Líquido dividido pelo Patrimônio Líquido contábil final do ano de 2010.

 N_OCF = (Negative Operating Cash Flow) Fluxo de Caixa Operacional Negativo, dummy 1 se a empresa apresentou fluxo de caixa operacional negativo e 0 caso seja positivo, referente ao ano de 2010;

 BP = (Book-to-Price) Relação preço-livro, preço de mercado da ação dividido pelo valor patrimonial da ação, proxy para oportunidades de crescimento;

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De acordo com a literatura, as relações esperadas entre essas variáveis e as escolhas que possibilitam o aumento dos fluxos de caixa operacionais são positivas, ou seja, empresas maiores, mais endividadas, mais lucrativas e com mais oportunidades de crescimento tendem a escolher classificações que aumentem os fluxos de caixa operacionais, bem como, aquelas que estão com fluxo de caixa operacional negativo. Assim, a expectativa é que empresas com essas características prefiram classificar os juros e dividendos pagos nas atividades de financiamento e não nas atividades operacionais e, ainda, prefiram classificar os juros e dividendos recebidos nas atividades operacionais e não nas atividades de investimento.

Os ajustes do modelo foram verificados por meio de dois indicadores: i) Cox & Snell R2 que, segundo Fávero et al. (2009), corresponde a uma medida semelhante ao R2 da análise de regressão múltipla; e ii) Estatística para o Teste Qui-Quadrado (Teste de Hosmer e Lemeshow), que serve como um indicador para analisar se “pelo menos um dos coeficientes do modelo é estatisticamente diferente de zero” (FÁVERO et al., 2009, p. 451). O nível de significância adotado foi de 5%.

É importante ressaltar que os resultados obtidos com este trabalho estão limitados às variáveis analisadas, que significa que outras variáveis não consideradas podem influenciar os resultados, o que, contudo, não diminui a importância da pesquisa, especialmente pelo seu caráter de originalidade no cenário brasileiro.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

No que diz respeito ao método de apresentação dos fluxos de caixa operacionais, todas as empresas da amostra utilizaram o método indireto, que parte do ajuste do lucro líquido ou prejuízo quanto aos efeitos das variações ocorridas no período nos estoques e nas contas operacionais a receber e a pagar, dos itens que não afetam o caixa e de todos os outros itens tratados como fluxos de caixa advindos das atividades de investimento e de financiamento. Essa escolha pode ser explicada pelo fato de que as empresas que apresentarem o fluxo de caixa das atividades operacionais pelo método direto devem, obrigatoriamente, apresentar essa conciliação do lucro líquido, exigida pelo item 20A do CPC 03. Optando pelo método indireto, essa exigência é atendida na própria DFC.

Entre as 107 empresas analisadas, 49 classificaram os juros pagos no fluxo de caixa das atividades operacionais (45,7%), seguindo a recomendação do CPC 03, e58 empresas classificaram os juros pagos no fluxo de caixa das atividades de financiamento (53,3%).

Das 107 empresas, 84 evidenciaram uma linha para dividendos e / ou juros sobre o capital próprio pagos, unanimemente classificados no fluxo de caixa das atividades de financiamento. Essa classificação está de acordo com a recomendação do CPC 03.Destas 84 empresas, 5 não continham valores de dividendos e juros sobre o capital próprio pagos, apenas a rubrica evidenciada com o valor zero. 

Nas 107 empresas, apenas 8 evidenciaram, explicitamente, juros recebidos, ou seja, em uma linha específica, sendo que 6 classificaram os juros recebidos no fluxo de caixa das atividades operacionais, conforme a recomendação do CPC 03 e2 empresas classificaram os juros recebidos no fluxo de caixa das atividades de investimento.

Já com relação aos dividendos recebidos, 25empresas evidenciaram uma linha para este item, sendo que 8 empresas classificaram os dividendos recebidos no fluxo de caixa das atividades operacionais, em conformidade com a recomendação do CPC 03, e 17 empresas classificaram os dividendos recebidos no fluxo de caixa das atividades de investimento. Destas 25 empresas, apenas 4 apresentaram valores de dividendos recebidos na linha correspondente. Estes resultados são apresentados na Tabela 1:

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Tabela 1 – Escolhas de classificação na Demonstração dos Fluxos de Caixa

Itens Classificação Total

Operacional Investimento Financiamento Empresas

Juros Pagos 49 --- 58 107

Dividendos e JSCP Pagos --- --- 84 84

Juros Recebidos 6 2 --- 8

Dividendos e JSCP Recebidos 8 17 --- 25

Nota: JSCP = Juros sobre o Capital Próprio

Pelo exposto, verifica-se que o item mais evidenciado pelas empresas da amostra e que implicou uma escolha de classificação que possibilita as análises propostas neste estudo, principalmente pela quantidade de observações possíveis, refere-se aos juros pagos. Desse modo, foram investigadas as características das empresas que podem incentivar a classificação deste item como fluxo de caixa das atividades de financiamento e não como fluxo de caixa das atividades operacionais, como recomenda o CPC 03. Para as 107 empresas, foram obtidas as informaçõesda Tabela 2, com relação às variáveis que compõem o modelo:

Tabela 2 – Estatísticas descritivas (por grupo)

CLAS N Média Desvio padrão

TAM 0 49 14,7065 1,19398 1 58 14,7491 1,19253 END 0 49 26,3343 14,53160 1 58 27,8586 15,94280 ROE 0 49 14,7988 17,38471 1 58 12,5274 22,90443 BP 0 49 4,5035 5,98199 1 58 2,1741 3,70524 N_OCF 0 49 ,22 ,422 1 58 ,33 ,473

Notas: CLAS: 0 = classificação dos juros pagos no fluxo de caixa operacional; 1 = classificação dos juros pagos no fluxo de caixa de financiamento; TAM = tamanho; END = endividamento; ROE = retorno sobre Patrimônio Líquido; BP = book-to-price; N_OCF: 0 = fluxo de caixa operacional positivo; 1 = fluxo de caixa operacional negativo; N = número de observações.

A Tabela 3 apresenta o teste de médias das variáveis para o grupo de empresas que classificou juros pagos no fluxo de caixa operacional e o grupo de empresas que classificou juros pagos no fluxo de caixa de financiamento.

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Tabela 3 – Diferença de médias para duas amostras independentes

Notas: TAM = tamanho; END = endividamento; ROE = retorno sobre Patrimônio Líquido; BP = book-to-price; N_OCF: 0 = fluxo de caixa operacional positivo; 1 = fluxo de caixa operacional negativo.

Na Tabela 3 pode-se observar o resultado do teste de hipóteses em duas situações distintas: assumindo variâncias iguais para os dois casos, ou seja, escolha de classificação dos juros pagos no fluxo de caixa operacional ou classificação no fluxo de caixa de financiamento, e assumindo variâncias diferentes. As primeiras colunas mostram os resultados da igualdade da variância de Levene com hipótese nula H0 de igualdade da

variância dos dois grupos, que demonstra, para todas as variáveis, com exceção da variável book-to-price, que não há condições de rejeição da hipótese nula, ou seja, os dois grupos amostrais apresentam variâncias iguais, devendo ler o resultado do teste de diferença de médias na primeira linha. Pelas informações da variável book-to-price deve-se rejeitar a hipótese nula, ou seja, apresentam variâncias diferentes, devendo ler o resultado do teste de diferenças de médias na segunda linha.

O resultado do teste t de diferença de médias indica, para todas as variáveis, com exceção da variável book-to-price,uma estatística t com respectivos graus de liberdade (df) e nível de significância bicaudal, que não possibilita a rejeição da hipótese nula de igualdade das médias. Portanto, por estes dois testes, não se pode afirmar que as variáveis: tamanho da empresa, endividamento, lucratividade e fluxo de caixa operacional negativo determinam a escolha de classificação dos juros pagos na DFC pelas empresas listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa. Já com relação à variável book-to-price, os testes implicam que as oportunidades de crescimento podem determinar a escolha de classificação dos juros pagos na DFC, ao nível de confiança de 95%.

Após a obtenção desses resultados, procedeu-se a análise de correlação de Pearson, para verificar o relacionamento entre as variáveis testadas, conforme a Tabela 4. Essa análise demonstra correlação significativa ao nível de 5% entre a variável book-to-price e a escolha de classificação dos juros pagos na DFC, reforçando a ideia de que as oportunidades de crescimento podem determinar tal escolha contábil.

Teste de Levene para igualdade de

variâncias teste-t para Igualdade de Médias

F Sig. t df

Sig. (bicaudal) TAM Variâncias iguais assumidas ,133 ,716 -,184 105 ,854 Variâncias iguais não assumidas -,184 101,994 ,854 END Variâncias iguais assumidas ,101 ,751 -,513 105 ,609 Variâncias iguais não assumidas -,517 104,371 ,606 ROE Variâncias iguais assumidas ,075 ,784 ,569 105 ,570 Variâncias iguais não assumidas ,582 103,881 ,562 BP Variâncias iguais assumidas 9,728 ,002 2,460 105 ,016 Variâncias iguais não assumidas 2,369 77,318 ,020 N_OCF Variâncias iguais assumidas 5,789 ,018 -1,180 105 ,241 Variâncias iguais não assumidas -1,191 104,692 ,236

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Tabela 4 – Matriz de correlação de Pearson

CLAS TAM END ROE N_OCF

TAM Correlação de Pearson ,018 1

Sig. (2 extremidades) ,854

END Correlação de Pearson ,050 ,281

** 1

Sig. (2 extremidades) ,609 ,003

ROE Correlação de Pearson -,055 ,033 -,103 1 Sig. (2 extremidades) ,570 ,740 ,289

N_OCF Correlação de Pearson ,114 ,078 ,137 -,228

* 1

Sig. (2 extremidades) ,241 ,423 ,159 ,018 BP Correlação de Pearson -,233

* -,223* -,150 ,431** -,122

Sig. (2 extremidades) ,016 ,021 ,123 ,000 ,211 Notas: CLAS: 0 = classificação dos juros pagos no fluxo de caixa operacional; 1 = classificação dos juros pagos no fluxo de caixa de financiamento; TAM = tamanho; END = endividamento; ROE = retorno sobre Patrimônio Líquido; BP = book-to-price; N_OCF: 0 = fluxo de caixa operacional positivo; 1 = fluxo de caixa operacional negativo; * a correlação é significativa ao nível de 0,05; a correlação é significativa ao nível de 0,01.

Por fim, tem-se a aplicação da regressão logística aos dados das escolhas contábeis. As medidas de Cox & Snell e Nagelkerke, que são medidas semelhantes ao R2 da regressão, apresentam um poder explicativo de 9,9%, apenas, conforme descrito na Tabela 5. Embora o modelo tenha baixo poder explicativo, dado pelas estatísticas de Cox & Snell e Nagelkerke, o teste de Hosmer e Lemeshow, cuja aplicação consiste na comparação entre os eventos observados e esperados, sugere que não há diferenças significativas entre as frequências previstas e observadas ao nível de significância de 5%, tendo em vista o sig superior a 5%. Os parâmetros estimados se mostraram não significativos, uma vez que todos os valores do sig são superiores a 5%, com exceção da variável book-to-price, inferior a 5%, sendo a única diferente de zero.

Tabela 5 – Resultados da análise de regressão logística

Variáveis Beta Erro Padrão Wald Sig

TAM -,126 ,185 ,459 ,498 END ,004 ,014 ,086 ,770 ROE ,013 ,013 ,943 ,332 N_OCF ,465 ,473 ,965 ,326 BP -,141 ,066 4,515 ,034 Constante 2,040 2,677 ,581 ,446 N 107 ---- ----

----R2Cox & Snell ,074 ---- ----

----R2Nagelkerke ,099 ---- ----

----Qui-quadrado (sig) ,278 ---- ----

----Notas: variável dependente do modelo = CLAS, sendo 0 = classificação dos juros pagos no fluxo de caixa operacional; 1 = classificação dos juros pagos no fluxo de caixa de financiamento; TAM = tamanho; END = endividamento; ROE = retorno sobre Patrimônio Líquido; BP = book-to-price; N_OCF: 0 = fluxo de caixa operacional positivo; 1 = fluxo de caixa operacional negativo; N = número de observações; Qui-quadrado (sig) = significância para o teste de Hosmer e Lemeshow.

Todas essas análises partem das hipóteses de que algumas características das empresas podem determinar as escolhas de classificação na DFC que aumentem o fluxo de caixa

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operacional, portanto, classificar juros pagos no fluxo de caixa de financiamento é uma escolha que aumenta o fluxo de caixa operacional. Dessa forma, pelos resultados obtidos, há indícios de que as empresas listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa com mais oportunidades de crescimento, aqui mensuradas pela proxy book-to-price, escolhem classificar juros pagos no fluxo de caixa das atividades de financiamento, o que leva à aceitação de H5.

Por outro lado, os testes apontam para a rejeição de todas as outras hipóteses elaboradas, isto é, não há indícios de que as empresas listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa com níveis mais altos de endividamento, maiores índices de rentabilidade, com fluxos de caixa operacionais negativos e maiores escolhem classificar juros pagos no fluxo de caixa das atividades de financiamento, aumentando, assim, o fluxo de caixa operacional.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi investigar quais são as escolhas contábeis das empresas brasileiras na evidenciação da Demonstração dos Fluxos de Caixa e quais fatores podem explicar tais escolhas. Para atingir o objetivo proposto foi utilizada a análise descritiva combinada com a técnica estatística multivariada de regressão logística.

Na etapa de análise descritiva, observou-se que o método indireto foi unanimemente adotado pelas empresas da amostra para apresentação do fluxo de caixa das atividades operacionais, assim como apontou Nobes (2011) para amostras de empresas da Austrália, Reino Unido, Alemanha, Espanha, Suécia, Itália, França e Holanda. Já com relação à classificação do item juros pagos, que foi o que permitiu o desenvolvimento das análises aqui propostas, verificou-se que a maioria das empresas (53,3%) escolheu classificá-lo no fluxo de caixa de financiamento diferentemente dos achados de Nobes (2011) onde houve predominância de classificação dos juros pagos no fluxo de caixa operacional em 7 dos países mencionados, sendo que apenas a Espanha apresentou situação semelhante à aqui encontrada. Neste ponto surge uma preocupação relativa à comparabilidade das demonstrações entre essas empresas, que sofre com a flexibilidade da norma.

No que se refere à análise multivariada, somente uma das variáveis utilizadas neste estudo (oportunidades de crescimento, mensurada pela proxy book-to-price), no ano analisado, apresentou relação significativa com a escolha de classificação dos juros pagos na Demonstração dos Fluxos de Caixa. Estes resultados corroboram o estudo de Gordon et al (2013) no que se refere à rentabilidade e o tamanho das empresas e contraria o estudo de Baik et al (2013) com relação às oportunidades de crescimento (book-to-price). Tais resultados podem auxiliar na complementação da ‘teoria das escolhas contábeis’, pois evidencia que no Brasil, diferentemente dos resultados obtidos por outros estudos em outros países (Lee, 2012; Gordon et al, 2013; Baik et al, 2013), não houve evidências significativas da utilização de escolhas contábeis para gerenciar os fluxos de caixa.

Deve-se levar em consideração que 2010 foi o primeiro ano da utilização plena dos pronunciamentos contábeis convergentes com as normas internacionais de Contabilidade e tal fato pode ter influenciado no resultado encontrado. Outro ponto importante é quanto ao mercado de capitais brasileiro que é bastante diferente do mercado europeu, norte-americano e asiático, base dos estudos utilizados. Por isso, conclusões e comparações com os resultados encontrados devem ser feitas com cautela. Esta cautela se estende à generalização em razão de fatores limitantes do estudo, conforme citado ao final da seção de aspectos metodológicos.

Para identificar o que ocorre se uma única empresa apresentar mais de uma característica ao mesmo tempo, ou seja, caso ela apresente endividamento alto, baixa oportunidade de crescimento, devem-se aplicar testes separados em cada escolha assumida

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para medir o impacto por meio de correlações parciais. Essa é, também, uma limitação da pesquisa, que será tratada em estudo futuro. Aumentar o tamanho da amostra e agregar outras variáveis ao modelo também são etapas futuras para continuar testando a ‘teoria das escolhas contábeis’ e seus efeitos na evidenciação da Demonstração dos Fluxos de Caixa no Brasil.

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Referências

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