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Sobre os limites da teoria comportamental

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC

ENZO ADRIAN OLIVEIRA MONTALBANO

SOBRE OS LIMITES DA TEORIA COMPORTAMENTAL

FLORIANÓPOLIS 2017

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ENZO ADRIAN OLIVEIRA MONTALBANO

SOBRE OS LIMITES DA TEORIA COMPORTAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Filosofia na Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título do grau de bacharel em Filosofia.

Orientador: Luiz Henrique de Araújo Dutra

Florianópolis 2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Dr. Luiz Henrique Dutra, pela sua excelente orientação, dedicação e paciência.

Agradeço também a minha família, pela força e apoio no momento que tive que me dedicar a esse trabalho; e em especial a minha mãe, que foi a minha base de apoio durante toda a minha graduação, e também foi a pessoa que mais apoiou e também me incentivou nesse tempo de estudo.

Aos meus amigos, pelo grande suporte e apoio que me deram.

A UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, que sem essa instituição, nada disso seria possível.

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RESUMO

O behaviorismo é uma área da psicologia que ganhou destaque e notoriedade e se expandiu muito, existindo várias correntes do behaviorismo. De forma resumida, behaviorismo é a parte da psicologia que estuda o comportamento, seja explicando-o, ou também na tentativa de predizê-lo e controlá-lo. O primeiro teórico do behaviorismo foi John Watson, seguindo o reflexo condicionado segundo Pavlov, acrescentando em sua teoria a noção de estímulo-resposta. Mas o behaviorismo cresceu muito em questões teóricas com os trabalhos de autoria do Skinner. Nesse trabalho falaremos sobre o behaviorismo segundo Skinner, expondo sua teoria e seus experimentos. No final, faremos uma análise da aplicabilidade do behaviorismo em ambientes fechados, e também, refletiremos sobre os possíveis limites dessa forma de behaviorismo.

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ABSTRACT

Behaviorism is an area of psychology that has gained prominence and notoriety and has expanded greatly, nowadays there are several versions of behaviorism. In short, behaviorism is the part of psychology that studies behavior, explaining it, or also attempting to predict and control it. The first theorist of behaviorism was John Watson, following the conditioned reflex according to Pavlov, adding in his theory the notion of stimulus-response. But behaviorism has grown a lot on theoretical issues with Skinner's work. In this paper we will talk about behaviorism according to Skinner, exposing his theory and his experiments. In the end we will make an analysis of the applicability of behaviorism in closed settings, and also reflect on the possible limits of this form of behaviorism.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...6

2 SOBRE O BEHAVIORISMO DE SKINNER...8

3 SOBRE OS LIMITES DO BEHAVIORISMO...20

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...32

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1 INTRODUÇÃO

O behaviorismo é uma corrente da psicologia que ganhou destaque no meio científico, porém também foi alvo de muitas críticas. Definir o que é behaviorismo não é tarefa simples, pois dentro do mesmo há muitos modos de behaviorismo. Originalmente foi desenvolvido pelo psicólogo John Watson, em sua teoria de estímulo-resposta, seguindo o reflexo condicionado de Pavlov. Mas o behaviorismo ganhou destaque e notoriedade, podendo dizer que foi expandido pelo trabalho do psicólogo B. F. Skinner. Porém, houve outros teóricos que desenvolveram teorias behavioristas, fazendo com que o behaviorismo se tornasse uma área demasiadamente ampla. Faremos uma análise da teoria behaviorista segundo Skinner, primeiro mostrando o que ele pressupunha como sendo behaviorismo, expondo sua tese principal e exibindo seus experimentos que levaram aos seus resultados.

Embora o objetivo do presente trabalho seja refletir e analisar o behaviorismo segundo Skinner, falaremos sobre o reflexo condicionado de Pavlov, explicando como ocorre esse processo segundo o mesmo. Entender o reflexo condicionado é compreender como Skinner pôde desenvolver sua teoria, ou seja, a crítica que ele fez a esse reflexo condicionado mostra a inovação de Skinner, ao negar o estímulo-resposta e demonstrar que o comportamento está ligado com a estímulo-resposta e a sua consequência, seguindo a Lei do efeito, de Thorndike. Também, comentaremos sobre a Lei do efeito e de como foi essencial para dar sustento teórico à visão de Skinner sobre o reforçamento. O capítulo primeiro é dedicado a explorar essas relações, seja a de como Pavlov foi criticado por Skinner e de como Skinner se apropriou do princípio da lei de efeito. Também, apresenta-se de forma detalhada as principais características do behaviorismo segundo Skinner.

Já, o segundo capítulo é dedicado a mostrar as aplicações do behaviorismo, que ocorreram em ambientes fechados e bem controlados. Mostraremos, com base na interpretação do Lacey e Schwartz, como ocorreram as aplicações em hospitais psiquiátricos, fazendo uma reflexão sobre a chamada economia de fichas, que foi utilizada como meio de tratamento dos pacientes em um dos casos de aplicabilidade do behaviorismo. Também, comentaremos sobre a relação do behaviorismo e do trabalho nas industrias, refletindo como eram as formas de trabalho antes da

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revolução industrial. No final, refletiremos sobre os possíveis limites da teoria behaviorista segundo Skinner, expondo os pontos que podem demonstrar tais limitações dessa teoria.

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2 SOBRE O BEHAVIORISMO DE SKINNER

O que é behaviorismo? Ou melhor, o que é o behaviorismo segundo Skinner? O objetivo do trabalho é discutir o behaviorismo de Skinner. Delimitar algo é uma tarefa extremamente complexa. Ao indagar sobre o que é o behaviorismo, pode-se cair no erro na hora de responder, seja porque nossa explicação foi demasiado simples ou incompleta. O mesmo problema se dá quando perguntamos “O que é filosofia? ” ou “O que é física? ”, e assim por diante. Por esse motivo, não iremos explicar o que é o behaviorismo e sim mostrar ao longo do trabalho as suas características, aplicações, controles e predições, que estão presentes no que entendemos ser o behaviorismo segundo Skinner. Consideramos que, ao fazer isso, estamos sendo mais honestos com o leitor desse trabalho do que iludi-lo em explicar com algumas sentenças o que o behaviorismo é; assim, o próprio leitor poderá ver por si mesmo o que é o behaviorismo, ou teoria comportamental, que é outra maneira de se referir a ela.

Sabe-se que o behaviorismo, principalmente o encontrado em Skinner, pretende explicar, predizer e controlar o comportamento, seja o comportamento humano, ou dos animais, que foram os objetos de estudo dele. Para compreender melhor a teoria de Skinner, é preciso entender primeiro o comportamento operante, para depois entender como funciona o condicionamento operante.

Antes de explicar detalhadamente o behaviorismo segundo Skinner, é importante mencionar como ele fazia seus experimentos. Skinner fez seus experimentos em ratos e pombos. Esse tipo de experimento era em um ambiente bem controlado, eliminando as variáveis internas e também muitas variáveis ambientais do meio natural, para poder analisar as respostas do animal. Como ignorava as variáveis do meio natural, a câmara onde o rato ficava era à prova de som. O cientista observava o animal por meio de um olho mágico. A alavanca, assim como o alimentador (feeder) e as luzes, eram eletricamente conectadas em um equipamento automático, que ficava fora da câmara onde o rato ficava. A resposta é medida por meio da pressão da alavanca, que o rato faz. Sempre que o rato pressiona a alavanca, o interruptor é fechado. O experimento com o pombo é o mesmo, a única diferença é que o pombo pica as chaves que estão acima do alimentador. Ou seja, as respostas são iguais para a visão do cientista. O importante

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é saber o que é condicionado no condicionamento operante, que não é uma única resposta, mas sim um conjunto delas. Então, os membros individuais só têm que ter uma coisa em comum, que eles fechem o interruptor. Resposta é todo ato que o pombo ou rato fazem, como pressionar a alavanca ou picar a chave.

Usam-se animais como pombos ou ratos para fazer os experimentos porque isso gera um controle máximo nesses experimentos, podendo controlar as experiências dos animais, expondo-os a condições de prazer, estresse severo e privação. Isso jamais poderia ser feito com seres humanos, por motivos éticos. O experimentador pode criar um completo mundo artificial onde os animais nascem, crescem e são estudados. Importante mencionar que, se fosse estudar os seres humanos, eles já chegariam no laboratório com um rico histórico pessoal, que o cientista não poderia controlar.

Tanto os ratos, como os pombos, raramente irão pressionar ou picar a alavanca ou a chave, para ter comida. Isso gera um pequeno problema, pois, para a Lei do efeito, para ser fortalecido, satisfazendo as consequências, o comportamento deve acontecer ao menos uma vez. Mais adiante veremos como o experimentador faz para que os animais pressionem a alavanca (SCWARTZ; LACEY, 1982).

A tese principal do behaviorismo é que o ambiente controla o comportamento com base na punição ou recompensa. Com base nas experiências passadas se tem o comportamento do presente. Estudando os efeitos das consequências das ações passadas, podemos desenvolver um conjunto de fortes princípios, capazes de prever e controlar a maioria dos comportamentos. Comportamentos voluntários que produzem consequências positivas continuam acontecendo, e os que produzem consequências negativas param de acontecer. Veremos isso mais detalhadamente ao longo do trabalho.

Antes de explicar o behaviorismo segundo Skinner, explicaremos o reflexo condicionado segundo Ivan P. Pavlov; e também, a Lei do efeito segundo Thorndike. Pavlov em seus trabalhos sabia que, quando a comida era colocada na boca do cachorro, ele salivava. Esse processo foi chamado de reflexo de salivação na digestão. Porém, Pavlov percebeu que, quando a porta era aberta pelo assistente, que trazia a comida ao cachorro, ele já salivava. Então a descoberta dele foi que, a causa da salivação do cachorro, na ocorrência desses eventos, foi devido ao fato de

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terem se repetido de forma segura e estável, no procedimento de entrega da comida na boca do cachorro. Então, o cão associou a visão do assistente ou o som da porta abrindo com a comida. Dessa forma, tendo feito a associação, o cachorro responderá a esses estímulos. Essa ocorrência foi condicionada, pois o animal aprendeu a associar o estímulo, como o barulho da porta ou o assistente com a comida. Esse fenômeno foi chamado de reflexo condicionado.

Pavlov fez seus experimentos usando cachorros, ele chamou a comida de estímulo incondicionado, e emparelhou o estímulo condicionado, como por exemplo, o som de um sino, com o estímulo incondicionado. A resposta do animal, ou seja, a salivação, ocorria devido ao estímulo incondicionado; mas, com as devidas repetições, em que o estímulo condicionado agia de forma emparelhada com o estímulo condicionado. Assim, o cachorro aprendeu a desenvolver a resposta condicionada. Ou seja, primeiro tocavam o sino e logo depois davam a comida ao cachorro, ambos os estímulos estavam emparelhados. Quando o animal aprendeu a associar o estímulo condicionado com a comida, ele começou a salivar quando o sino era tocado. De forma resumida: Estímulo condicionado gera a resposta condicionada. É um pensamento com base no estímulo-resposta. Mais tarde veremos como Skinner foi contra essa visão.

Já a Lei do efeito, que foi elaborada pelo psicólogo Thorndike, teve uma importante contribuição para o behaviorismo de Skinner. Ele fez seus experimentos com gatos. Trancava o gato numa gaiola e colocava um pedaço de salmão do lado de fora. O animal se movimentava dentro da gaiola, cheirava os cantos, arranhava as barras, até que pressionava a alavanca e a porta se abria. Colocando o gato novamente na gaiola, as respostas como cheirar e arranhar as barras, iam diminuindo até que, ele, depois de sucessivas vezes posto dentro da gaiola, já pressionava a alavanca direto, e a porta já abria. Thorndike, em sua lei de efeito, afirmou que algumas dessas variações do comportamento do gato ocorrem por serem seguidas em um tempo determinado, por consequências que causam prazer ao animal, que podem também ser chamadas de recompensas (como o exemplo do gato, cuja recompensa era obter o salmão, que estava do lado de fora da gaiola). Com isso, o comportamento do gato é fortificado, e aumentará a possibilidade de ocorrer no futuro. A outra forma é oposta, não causa uma sensação de prazer, é uma consequência que não é prazerosa, pode ser chamada de punição. Algo que

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causa desconforto, dor, ou qualquer efeito não prazeroso, mas também não neutro, podendo ter efeitos nocivos. Com isso, o comportamento que recebeu tal consequência se enfraquece, diminuindo a probabilidade de ocorrer no futuro. Skinner toma esse pensamento, porém, a inovação de Skinner está em seu condicionamento operante.

Para investigar melhor o comportamento, o cientista tem que analisar como este é manifesto, isto é, o que é possível ser visto, estudado, analisado. E o comportamento manifesto é mais importante do que o comportamento encoberto, ou seja, o interno, o que está debaixo da pele. Pois, é possível estudar o comportamento encoberto com base no comportamento manifesto. Skinner, ao estudar o comportamento manifesto, desenvolve os conceitos de comportamento operante e de condicionamento operante. Mas o que é o comportamento operante? Ao querermos que a teoria comportamental seja uma ciência empírica, devemos ser capazes de classificar as instâncias do comportamento operante na base das observações. Mas na observação, o comportamento pode ser descrito de diversas formas. No livro intitulado Behaviorism, Science, and Human Nature, de Barry Schwartz e Hugh Lacey, é citado um exemplo sobre isso, de forma resumida: Se uma criança anda num hall, podemos descrever esse comportamento. Também descrevemos uma criança andando na cozinha ou em sua casa, ou ela deixando pegadas no carpete.

Mas, descrições desse tipo são de duas formas, o movimento da criança é classificado sob certo tipo de movimento: como caminhar, ao invés de correr e, relacionado aos objetos e locais (como cozinha e carpete); ou no movimento da criança, que é baseado em seu efeito, como por exemplo: o fato de pisar no carpete. Assim, para o behaviorismo, os comportamentos individuais são classificados com base em seus efeitos. Logo, quando o rato pressiona a alavanca, o movimento muscular dele é irrelevante. Então, o que une todas as alavancas que são pressionadas é o efeito comum que têm no ambiente, que é o ato de pressionar a alavanca, fazendo com que o interruptor feche, liberando a comida. Da mesma forma, se dá com o pombo. O efeito de pressionar a alavanca ou picar é o mesmo e pode ser considerado como um exemplo de condicionamento comportamental. Os ratos fecham o interruptor com suas patas, enquanto os pombos o fazem usando o seu bico.

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Então, quando se caracteriza o comportamento dessa forma, verifica-se que são eventos que acabam envolvendo o organismo todo. Ou seja, o organismo se movimenta em relação a um ambiente, assim como ele produz um efeito em um ambiente.

Porém, apenas saber como as partes de um corpo se movimentam não nos dizem o que realmente gostaríamos de saber sobre o comportamento. Então, mesmo que os dois comportamentos apresentem os mesmos movimentos corporais, não é necessário e nem suficiente classificá-los juntos. O motivo pelo qual isso não é suficiente é que os mesmos movimentos podem estar envolvidos em comportamentos que vamos colocar em categorias diferentes. No livro Behaviorism, Science, and Human Nature, os autores dão o exemplo: Iremos categorizar o mesmo movimento corporal, mas em comportamentos diferentes, como no caso de quando você dá um tapa no rosto do seu amigo, pois ele o insultou, e quando você dá um tapa no rosto dele, porque você viu uma tarântula no rosto do seu amigo. Mas o que une todos os exemplos de comportamento operante é que eles são atividades de um inteiro organismo, que têm efeitos no ambiente. Assim sendo, a principal tese do behaviorismo é que esses efeitos do ambiente controlam as ocorrências das atividades. O comportamento operante tem um efeito no ambiente, esse efeito pode ser positivo ou negativo, e com base nos seus efeitos, o dado comportamento operante poderá ter maior ou menor probabilidade de se repetir no futuro. O comportamento operante, portanto, é emitido pelo organismo, não sendo produzido pelo ambiente. O que modela o comportamento são justamente suas consequências reforçadoras. A importância do comportamento operante é que, graças a ele, Skinner pôde desenvolver o conceito de condicionamento operante, que é uma consequência do comportamento operante.

O comportamento operante está em tudo, desde quando uma pessoa, ao apresentar um trabalho, olha para o público e busca um aceno de cabeça positivo, ou quando uma criança faz um desenho e o pai dela a elogia e a abraça de forma afetuosa. Todo comportamento gera uma consequência, essa consequência pode ser negativa ou positiva, como no caso da criança, cujo pai a elogiou e a abraçou. As consequências negativas são chamadas de punições, ou reforços negativos. Já as consequências positivas são chamadas de recompensas ou reforços positivos. O estudo do comportamento operante é o estudo de como o comportamento é afetado

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por suas consequências, ou seja, por seus reforços, seja os reforços positivos ou negativos.

Qual dos comportamentos operantes merecem ser estudado pelo behaviorismo? É importante ressaltar que o behaviorismo tem a intenção de dar leis gerais sobre o comportamento humano. Podemos ter essas leis gerais por meio da observação dos pombos picando a chave? Parece que não. Poderíamos descobrir sobre picar, porém as pessoas não picam, nem mesmos os ratos picam. A pergunta é: por que deveríamos acreditar que picar irá se tornar as leis de todo o comportamento operante? Um behaviorista responde que, mesmo que o ato de picar seja um operante, que é peculiar aos pombos e aos outros pássaros, a relação entre esse ato e os eventos ambientais que controlam não é. O ato de picar pode trazer a comida, fazer com que ela seja entregue, ou prevenir que isso aconteça, ou produzir choque, ou também prevenir que isso ocorra. Se o ato de picar é governado por suas consequências, isto é, pelo seu reforço, a picada é que está sob o controle operante.

Para entender como funciona o condicionamento operante, antes é necessário entender o que é modelagem, pois é por meio da modelagem que se pode estudar o condicionamento operante nos animais, como foi mostrado acima, para fazer com que eles pressionem a alavanca. Modelagem é um processo que o cientista ou experimentador faz com o rato ou com o pombo, para que modele o comportamento do animal. Com o rato, o experimentador quer que ele pressione a alavanca, mas ele raramente irá fazer isso, então, vai modelando o seu comportamento, primeiramente através do método da aproximação sucessiva, até que ele de fato pressione a alavanca. Quando ele se aproxima da alavanca, o experimentador libera comida para ele, que é a recompensa, depois ele tem que se aproximar da alavanca para que a comida seja liberada novamente, e somente depois disso é que a comida é liberada.

Com isso, no caso do rato, ele tem que chegar cada vez mais perto da alavanca, para que liberem a comida para ele, até que ele encoste na alavanca, mas não a pressione, pode encostar apenas com o focinho, cheirando-a. Mas, mesmo não pressionando, como ele encostou nela, ele é recompensado. Até que quando ele encostar novamente, agora, para liberarem a comida, ele tem que pressionar a alavanca. Ele acaba fazendo isso com as suas patas, e então recebe a recompensa.

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Uma vez pressionada a alavanca através da modelagem, então a recompensa somente é dada quando ele vier a pressionar a alavanca, e não mais se aproximar ou cheirá-la. No final de tudo isso, o animal teve o seu comportamento modelado, isto é, aprendeu a pressionar a alavanca, devido aos reforços, nesse caso da recompensa, mas mediante o método da aproximação sucessiva.

Consideremos que é importante explicar o que é o condicionamento operante, embora já tenhamos falado dele de forma implícita. Como mostramos acima, Skinner tomou o estudo da Lei de Efeito do Thorndike sobre as punições e recompensas, nomeando o tipo de comportamento que foi modificado pela Lei de Efeito de condicionamento operante. O motivo pelo qual ele deu esse nome é devido ao fato de que o comportamento opera ou tem um efeito em um ambiente.

Como foi mostrado ao longo desse percurso, o condicionamento operante é quando o comportamento foi modelado, modificado através dos reforços. O operante é qualquer comportamento ativo, que acaba atuando sobre o meio para gerar consequências. O condicionamento operante possui suporte na ideia de que ações que são seguidas por reforçamento, como por exemplo, reforçamentos positivos, chamados também em uma terminologia não científica de recompensas, por sua vez, serão reforçadas e irão ter maior probabilidade de acontecer.

Vejamos uma citação do livro About Behaviorism, de autoria do Skinner:

When a bit of behavior has the kind of consequence called reinforcing, it is more likely to occur again. A positive reinforcer strengthens any behavior that produces it. (SKINNER, 1973, p. 38).

Mas o que produz o condicionamento e qual parte da relação entre o reforçamento e a resposta é essencial para o condicionamento acontecer? A forma pela qual o reforçamento funciona tem sido enfatizada por relações temporais. Quando é dado um reforçamento positivo, não importa qual seja a resposta que o precedeu, irá sempre fortificar ou aumentar a frequência da resposta. Então, a contingência temporal da resposta e do reforço são tidas como características primordiais do processo do condicionamento operante.

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O condicionamento operante acaba mudando certos comportamentos, como ensinar o rato a pressionar a alavanca. O que muda o comportamento? Como está claro, na teoria behaviorista, o ambiente exerce um papel fundamental dentro da teoria comportamental. Como vimos anteriormente, as experiências passadas do indivíduo, com base em suas recompensas e punições, que são os reforçamentos positivos e negativos, darão margem para podermos prever se o seu comportamento terá maior probabilidade de se repetir ou não. No reforçamento negativo, em outras palavras, se receber punição, a probabilidade de tal comportamento se repetir decai. É Importante ressaltar que, no behaviorismo, pressupõe-se que os processos de mudança são universais, tendo em vista que seu propósito é descobrir leis universais para o comportamento, sendo capaz de controlá-lo e predizê-lo. Mas somente alguns tipos de experiência irão mudar as pessoas, como já visto, este tipo de experiência pode ser a punição e a recompensa, que pode alterar o comportamento e, com base nisso, podemos inclusive predizê-lo e controlá-lo. Isso é o que distingue e caracteriza o behaviorismo frente às outras teorias. Não é nem o fato de pressupor a importância do ambiente para o comportamento, mas de como analisar o efeito dos eventos ambientais e verificar tudo que precisamos saber sobre determinadas ações. Então uma análise dos eventos ambientais nos fornecerá uma completa explicação da ação humana.

Com base no que foi escrito anteriormente, a tese central do behaviorismo é que todo ato voluntário significativo pode ser entendido em termos de suas relações passadas com recompensa ou punição. O que controla as ações voluntárias é a sua história passada com a associação, em relação a eventos ambientais de recompensa ou punição. Um behaviorista pressupõe que todo comportamento é controlado por suas consequências, ou seja, por recompensas e punições, que são os reforçamentos positivos e negativos. Isso é contraditório com a forma de pensar do senso-comum, a ideia de que estamos no controle de nossas vidas. A sociedade nos cobra responsabilidade por nossos atos, e nós as aceitamos, colocando muito valor no livre-arbítrio e na escolha. Nitidamente, o behaviorismo vai contra essa visão. Se alguém deseja saber por que uma pessoa teve certo tipo de comportamento, não pergunte a ela. Analise o ambiente e tente achar a recompensa. Se quiser modificar o comportamento de alguém, não tente

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persuadi-la, mas tente achar a recompensa e a elimine. A ideia de que somos autônomos não tem espaço dentro da teoria behaviorista.

Voltando a Pavlov, já tendo visto de forma detalhada a teoria de Skinner, agora podemos mostrar a crítica dele a Pavlov. Skinner critica o reflexo condicionado de Pavlov, pois, para Skinner, a resposta não é moldada pelo estímulo, mas, pela consequência que ela produz. Segundo Pavlov, a resposta se dá por meio do estímulo. A teoria pode ser resumida em estímulo-resposta. Para Skinner, como visto anteriormente, o que controla a resposta não é o estímulo, mas sim a consequência que ela produz, o seu reforçamento. É por meio dos reforçamentos que se controla e modifica o comportamento.

Nos experimentos de Skinner, somente se analisa o comportamento manifesto, o que é possível ser visto. Ele se ocupa do comportamento encoberto também, inclusive na sua obra Comportamento Verbal. No capítulo 3, veremos mais sobre esse tipo de comportamento, mostrando também uma das críticas que ele recebeu sobre isso. Ainda no capítulo 2 consideremos ser necessário falar sobre a relação entre as influências internas e as influências externas.

Como visto anteriormente, o behaviorismo opera com a influência do ambiente sobre o comportamento, e pressupõe que tanto a recompensa como a punição podem alterar o comportamento, lembrando que o objetivo do behaviorismo é de predizer o comportamento e controlá-lo. Então está bem claro que o behaviorismo dá maior atenção às influências do ambiente, ao invés das influências internas. Se os processos internos forem importantes, então o fato de os behavioristas usarem ratos e pombos em suas pesquisas seria um método questionável. Para o behaviorismo, as influências internas não são importantes, e se não são importantes, então não há necessidade de estudá-las e nem de fazer experimentos para ver como essas influências operam. Talvez essa seja uma das maiores distinções metodológicas do behaviorismo.

E nitidamente uma visão oposta à psicologia cognitiva, cuja preocupação inicial é de desenvolver e testar as hipóteses sobre as habilidades cognitivas e os processos internos. Já, no behaviorismo, rejeitam-se os processos internos.

Aparentemente, poucas pessoas iriam questionar que os eventos ambientais estabelecem o contexto e fazem a ocasião para o comportamento humano. Mas, o

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que dá para questionar é se, de fato, os eventos internos são apenas consequências causais dos eventos externos.

O que o behaviorismo pressupõe em sua metodologia é que há a hipótese de que os eventos internos são apenas mediadores entre a ação do ambiente e a subsequente ocorrência do comportamento. Ou seja, somente se esta afirmação estiver correta, é que se pode ignorar os eventos internos e querer estudar somente os externos, para dar uma explicação do comportamento humano. Como já visto anteriormente, o tipo de eventos ambientais que são usados na teoria comportamental são a recompensa e a punição, e o que controla o comportamento voluntário é o seu histórico passado em relação aos eventos ambientais e recompensa e punição, ou seja, reforçamento positivo (recompensa) e reforçamento negativo (punição).

Na teoria behaviorista, estudar o comportamento operante é estudar como as contingências entre os reforçamentos positivos e negativos e o comportamento causam influência nas ocorrências do futuro comportamento. É importante ressaltar que há duas maiores preocupações dos pesquisadores em relação a isso. Uma é identificar o papel do reforçamento no aprendizado e na aquisição de novas respostas. Outra preocupação deles é como o reforçamento causa influência na ocorrência das respostas depois que elas foram bem aprendidas. Essa distinção não é clara e é difícil. Porém, ela é útil na organização da pesquisa behaviorista.

Há outra distinção que pode ser feita dentro da pesquisa da aquisição de novas respostas. Uma delas pressupõe que o reforço é importante e busca leis que descrevem o efeito no aprendizado; e outra pressupõe que o reforço não é tão importante para o aprendizado, mas busca usá-lo para fazer com que o aprendizado se torne mais rápido e mais efetivo. A primeira distinção busca encontrar leis do comportamento, já a segunda não. Uma busca avaliar como o reforço afeta o aprendizado; já a outra busca por procedimentos efetivos, porém não se preocupa com a questão de como o aprendizado de fato ocorre.

O reforçamento positivo, usualmente chamado de recompensa, ocorre quando retira, por exemplo, o rato de uma situação desagradável, ou quando o premia, ou seja, dá algo para ele, como a comida. Tirá-lo de uma situação desagradável pode ser parar de dar choque nele. Já o premiar com a comida é

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colocá-lo em uma situação agradável. Em outras palavras, o reforçamento positivo ocorre quando se retira alguém de uma situação que lhe é penosa, ruim; e, quando o coloca em uma situação que lhe é agradável, seja dando algo que lhe é prazeroso ou que tem valor em si, como veremos mais adiante.

É importante também mencionar que o reforçamento possui pelo menos duas características que são bem distinguíveis; embora somente temos mostrado nesse trabalho uma dessas características. O reforçamento possui valor hedônico, ou seja, o reforço negativo é aversivo, e, o reforço positivo é prazeroso. Os programas de pesquisa do behaviorismo pressupõem que esse valor hedônico é de fundamental importância para determinar os resultados dos seus experimentos. Porém, também o reforço é informativo. O livro “Behaviorism, Science, and Human Nature”, de Barry Schwartz e Hugh Lacey, cita um exemplo de um aluno de piano que, quando o professor dele diz “muito bom”, mesmo isso podendo dar prazer ao aluno, isso está separado do valor hedônico do reforçamento, pois o que o professor diz resulta em dar ao aluno uma informação, a saber, que ele está tocando bem o piano.

Tanto o valor hedônico, como a característica informativa do reforço, ou até mesmo os dois juntos, contribuem para afetar o comportamento. Porém, se for se preocupar com a manutenção de um comportamento já aprendido, talvez essa característica informativa do reforçamento não seja muito significativa. Mas essa distinção entre o valor hedônico e a característica informativa quase não é feita dentro da pesquisa da teoria behaviorista; pois a grande maioria dessas pesquisas são realizadas em animais, tendo em vista que o valor hedônico possui um papel muito mais significativo. Quando um rato pressiona a alavanca, cujo resultado é prazeroso, fica nítido que ele fez isso em busca desse prazer.

Skinner também tem outro conceito importante, cujo nome é extinção. Como funciona a extinção? Para responder essa indagação, falaremos novamente sobre o processo de modelagem. Na modelagem, ao colocar um rato na caixa para fazer o experimento, ele irá fazer as mesmas coisas que fazia antes, como, por exemplo, em outra caixa qualquer, ou seja, aquela que não é equipada para fazermos experimentos nela. O rato cheira, explora, até que o alimentador opera, liberando a comida e ele se aproxima hesitando e, depois, come a comida. O alimentador opera algumas outras vezes, até que o rato passa mais tempo perto dele, fazendo com que esteja pronto para ser treinado, objetivando que o faça pressionar a alavanca.

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Nesse estágio, não há mais liberação de comida “por acaso”. Agora, a comida somente é liberada dependendo de uma resposta apropriada do rato. Mas que resposta seria essa? Pelo método da aproximação, cada vez que o rato se aproxima da alavanca, a comida lhe é entregue, até que ele de fato encoste na alavanca. Isso prossegue até quando ele pressione a alavanca.

Notemos que o rato não aprendeu nada de novo, ele fez o que já fazia antes, mas apenas no lugar apropriado. Ele aprendeu também que cheirar não produz comida. Depois do treino e do rato ter adquirido a resposta, pressionando a alavanca para obter a comida. Mas notemos que, agora, se o rato pressionar a alavanca, já não mais lhe será entregue a comida. Ele até pode pressionar a alavanca mais algumas vezes, mas, aos poucos, ele irá parando, até que pare totalmente. Isso é conhecido como extinção, em que se elimina um comportamento que tinha sido adquirido com uma frequência substancial. Se alguém descobrir o reforço, e interromper, irá parar a ocorrência do comportamento. Mas se treinar o rato novamente para essa resposta, logo ele irá estar pressionando a alavanca novamente. A extinção não destrói isso.

Nota-se que o reforçamento negativo, isto é, a punição, é um conceito central dentro da teoria behaviorista de Skinner. Mas a punição funciona? Esta pergunta é difícil de ser respondida. Mas, de uma forma sucinta, a punição pode, sim, suspender um comportamento, como por exemplo, comportamento inadequado, mas isso é temporário, ou seja, depois, sem que a punição siga sendo aplicada, o comportamento que tinha sido suspenso pode retornar. Ou a punição não funciona ou não funciona muito bem. Mas, como foi dito, não é uma questão fácil de ser respondida, e não é o objetivo do presente trabalho discutir isso (SCWARTZ; LACEY, 1982).

Uma outra questão primordial na teoria de Skinner é: “O que mantêm o comportamento?” A resposta é: O que mantém um comportamento são as contingências do reforçamento positivo. Ou seja, é por meio do reforçamento positivo que é possível manter o comportamento, como no exemplo dos pombos. A resposta do pombo, ao picar a chave, se mantém pela consequência que ela produz, que é a recompensa, o reforço positivo, quando é liberada a comida para ele. Lembrando: uma resposta que produz consequências positivas terá maior probabilidade de se repetir no futuro.

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3 SOBRE OS LIMITES DO BEHAVIORISMO

Depois de termos apresentado a teoria behaviorista, vamos questionar seus limites, se é que, de fato, a teoria behaviorista tem seus limites, e se tem, quais são eles? Se ela possuir limites, então o behaviorismo seria, mesmo assim, uma teoria que poderia ser aplicada em nossa sociedade? Se a teoria comportamental for de fato completa e não possuir limites, ou se os seus limites forem tão ínfimos que não prejudiquem a aplicabilidade da teoria, então ela poderia ser aplicada em nossa sociedade, como queria Skinner. Analisar os supostos limites do behaviorismo é importante, tendo em vista a suposta possibilidade de modificar a sociedade, alterando a forma como tratamos os seres humanos, podendo com o behaviorismo controlar o comportamento, seja extinguindo comportamentos ruins, ou gerando (modelando) novos comportamentos. Se o behaviorismo tem seus limites, cuja consequência é não poder ser totalmente aplicado em nossa sociedade, será necessário avaliarmos como o behaviorismo foi aplicado em ambientes fechados.

O behaviorismo não ficou restrito apenas aos experimentos em ratos e pombos, ele foi aplicado em seres humanos também, porém essa aplicabilidade se deu em ambientes fechados, em que o experimentador pudesse ter controle das variáveis ambientais. Alguns casos em que foi aplicada a teoria comportamental foram em: sanatórios, colégios e prisões. Esses casos, como dissemos, são ambientes fechados e bem controlados. Será que seria possível ter uma aplicabilidade do behaviorismo em nossa sociedade, em ambientes abertos e não tão bem controlados, ou seja, com muitas outras variáveis, em que o experimentador não poderia ter pleno controle do comportamento dos indivíduos? A resposta parece apontar para a possibilidade de que não há como fazer tudo isso. Depois veremos por quê.

No caso no sanatório, um dos experimentos foi realizado com uma mulher que tinha muitos comportamentos que eram tidos como problemáticos e o objetivo do experimentador era de extinguir tais comportamentos. Como? Usando os reforços. Seus comportamentos que eram para serem extinguidos: Ela vestia muitas peças de roupas, mais do que o necessário; no refeitório, ela roubava comida dos

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outros pacientes e, também, tinha o costume de guardar muitas toalhas em seu quarto, muito mais do que precisava.

A forma como extinguiram certos comportamentos dela, ou seja, modificaram, controlaram, começou com o fato dela roubar comida dos outros pacientes. Cada vez que ela roubava comida, ela era retirada do refeitório e ficava sem comer. Isso é o reforçamento negativo, ou seja, punição, fazer com que ela parasse de roubar. Já no caso do uso excessivo de roupa, para mudar esse comportamento, outro método precisou ser utilizado.

Foi usado o método do qual já falamos anteriormente, que é o método por aproximação sucessiva. Usando a comida como um reforço, cada vez, antes de ela entrar no refeitório, a pesavam, e somente poderia entrar se ela tivesse certo peso. Porém, ela tendo aprendido isso e, com maior frequência ter entrado no refeitório, o peso necessário para a sua entrada começou a diminuir cada vez mais quando ela aprendia, até chegar no peso que seria usar a vestimenta de forma usual, como os outros.

Como extinguiram o comportamento dela de guardar muitas toalhas em seu quarto? Para extinguir esse tipo de comportamento, usaram um método que não mencionamos ainda, que é o procedimento por saturação. Como isso funciona? Deram muitas toalhas para ela de uma vez só. Para ser mais exato, a cada dia davam 25 toalhas, até que ela teve 600 toalhas em seu quarto. Assim, ela começou a devolver as toalhas mais rápido do que ela recebia, até que ela se contentou em ter o número de toalhas que era necessário para ela. Dessa forma, modificaram o comportamento dessa paciente, fazendo com que a vida dela no sanatório fosse mais saudável. Com diferentes métodos conseguiram chegar no resultado desejado.

Outro caso é o da economia de fichas (tokens), que também ocorre em um sanatório, no caso, na ala dos esquizofrênicos. As fichas foram usadas e tidas como reforçamento, segundo a teoria behaviorista. Esses pacientes não se alimentavam e nem se limpavam sozinhos, precisando de ajuda de alguém para fazer essas atividades tão naturais e simples. Com frequência, se espalhavam pelo pátio do sanatório, falando sozinhos e ouvindo respostas que somente existiam na cabeça deles. Quando os chamavam para comer, eles não respondiam ao chamado.

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Pareciam zumbis, vivendo com auxílio dos outros, aparentemente incapazes de se cuidarem nas questões mais básicas, nem sequer usavam o banheiro sozinhos.

Um grupo de behavioristas foi até esse sanatório, objetivando fazer com que esses pacientes realizassem as tarefas básicas, como se alimentarem, se vestirem e usarem o banheiro; dessa forma, eles acabariam ajudando as enfermeiras. Assim, elas não ficariam totalmente presas aos cuidados pessoais deles, podendo usar seu tempo para cuidar de outras questões do hospital, tendo em vista a escassez de funcionários.

A primeira tarefa dos cientistas foi de conseguir com que os pacientes fossem ao refeitório, e se alimentassem sem a ajuda das enfermeiras. A prática dessa atividade foi destinada aos pacientes que eram teimosos, com o objetivo de serem alimentados pelas enfermeiras. Para os cientistas, essa tarefa era tida como um reforçamento positivo. Pois, supondo que um paciente quisesse receber atenção e cuidados particulares, uma das maneiras dele obter isso era sendo teimoso, isto é, se recusando a comer as suas refeições. Recusam-se a comer as refeições, cuja consequência, no caso o reforçamento positivo, era de receber atenção particular, sendo que as enfermeiras davam comida na boca deles.

Como os cientistas fizeram para mudar esse comportamento? Eles eliminaram essa tarefa das enfermeiras. Agora, se os pacientes se recusassem a comer, eles já não mais seriam alimentados pelas enfermeiras, mas iriam perder a refeição. Quando chegou o horário da refeição, soando o sino, eles ficaram onde estavam, esperando serem persuadidos para a refeição; mas, como a atenção não veio, eles perderam a refeição. Eles perderam a refeição no dia seguinte e, também perderam noutro dia. No café da manhã do dia seguinte, ao soar o sino, novamente eles não foram comer, porém na hora do almoço, dois deles foram ao refeitório para comer. Eles fizeram seus pratos, sentaram e comeram quietos. O terceiro paciente entrou no refeitório, e depois entrou o quarto. Até o fim da semana, o ato de se alimentarem sozinhos era algo normal na vida dos pacientes. O objetivo dos cientistas foi de transformar as refeições em reforçamento positivo, noutras palavras, em recompensa.

O próximo passo dos cientistas foi de instalar um torniquete na porta da sala de jantar. Era preciso ter fichas para poder passar pelo torniquete. No começo as

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enfermeiras eram encarregadas de guiar os pacientes pelo torniquete. Um pouco mais tarde, no torniquete as fichas foram entregues aos pacientes, pois eles poderiam depositá-las sem a ajuda das enfermeiras. Posteriormente, foi pedido para que eles pedissem as fichas para as enfermeiras. Note que o processo foi lento, mas útil, como veremos a seguir.

O seguinte objetivo foi fazer com que os pacientes conquistassem as fichas, e não mais as recebessem sem terem feito nada em troca. As tarefas requeridas para que ganhassem as fichas foram: tomarem banho sozinhos, irem ao banheiro sozinhos, se pentearem (tarefas básicas que qualquer pessoa faz para se manter limpa). O resultado impressionante foi que eles realizaram tais tarefas de bom grado, e logo as enfermeiras tiveram mais tempo para se dedicarem a outras atividades, não mais tendo que cuidar da higiene pessoal dos pacientes.

O efeito desse procedimento nos pacientes, além do que vimos, foi que eles se tornaram mais atentos, ativos e limpos. Com o controle da economia de fichas sobre as atividades pessoais deles, como cuidado com a higiene, pôde-se ir para o próximo estágio do programa. Mas agora as fichas podiam ser trocadas não apenas por comida, mas também por privacidade, escolha dos companheiros de refeição e até um tempo fora da enfermaria. Percebe-se que as fichas poderiam ser trocadas por qualquer reforçamento. Os modos como eles poderiam ganhar as fichas eram variados, como ajudar na sala de jantar ou na lavanderia e até mesmo na limpeza. Para diferentes tarefas, dependendo do seu grau de complexidade, se recebiam mais ou menos fichas, até que já havia uma espécie de economia baseada nas fichas. Usar as fichas como reforçamento foi algo indispensável para o aparente sucesso do programa.

Note que o reforçamento primário, isto é, o reforçamento da comida não poderia estar disponível o tempo todo. Mas, mesmo se por acaso fosse possível tornar o reforçamento com o uso da comida disponível o dia todo, não seria aconselhável, pois poderia quebrar o ritmo do processo. Por quê? Porque os pacientes, quando estivessem satisfeitos, não mais fariam suas atividades, para receber a comida. Não seria possível manter alguns comportamentos desejáveis sob o reforçamento da comida. As fichas não possuem tais desvantagens, pois elas não estragam como a comida, ou seja, são duráveis e são pequenas. Também são de fácil produção. O mais importante é que os efeitos das fichas não necessitam estar

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sob um efeito de privação dos pacientes, como a fome, pois eles podem trocar por outros tipos de reforçamento. O fator decisivo para esse controle foi porque o controle que é exercido por meio dos reforçamentos sobre o comportamento é fortalecido quando é dado imediatamente depois da resposta, assim como se enfraquece por via do atraso entre a resposta e o reforçamento.

Uma importante observação sobre a mudança do comportamento dos pacientes mediante as fichas é que ao pararem de dar fichas como reforçamento positivo, como recompensa a eles, o comportamento que tinha sido modificado e estava se mantendo graças ao reforçamento das fichas logo voltou a ser como era antes, ou seja, houve extinção, tal qual ocorre nos ratos, como mostramos no capítulo 2. Por isso, para manter o comportamento desejado, ou seja, o modificado, é preciso manter o reforçamento que o controla.

Há ainda outro processo que usa os mecanismos do behaviorismo, que também ocorre em um ambiente fechado e bem controlado. Todos os exemplos que mencionamos sobre a aplicabilidade da teoria comportamental são dados em ambientes fechados e com as variáveis podendo ser controladas pelos cientistas. O outro caso se deu em fábricas.

Na fábrica, principalmente com o advento da revolução industrial, a forma de trabalho mudou. Podemos ver que a forma como se recompensam os funcionários lembra a teoria behaviorista. Os funcionários recebiam por hora ou por peça produzida, ficando bem claro o reforço positivo e a resposta; a resposta, no caso, é o trabalho, e o reforçamento positivo é o dinheiro.

O trabalho nas fábricas é muito parecido com o que acontece com os ratos na caixa de Skinner, pois, como vimos, há a resposta e o reforço, a resposta produz uma consequência, que é a recompensa em forma de dinheiro, que é fortificada, aumentando a probabilidade de ocorrer no futuro. Como dissemos, é um ambiente fechado e bem controlado, com as variáveis podendo ser bem controladas e é um trabalho que não exige reflexão, nem planejamento, mas apenas a reprodução mecânica de atividades repetitivas. Mais adiante, voltaremos a falar sobre as fábricas e a sua relação com o behaviorismo.

No livro Behaviorism, Science, and Human Nature (SCHWARTZ; LACEY, 1982), questiona-se sobre como funciona a economia de fichas. Também

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questionam-se os processos internos que foram decisivos nas tarefas e nos momentos fora da enfermaria, que o behaviorismo radical, segundo Skinner, não consegue dar conta de explicar; começando a aparecer as limitações do poder explicativo dessa visão. O que é posto em questão é como o reforço das fichas se torna de fato um reforço. Não é posto em dúvida que a fichas são reforçamentos. Não será nosso objetivo explicar como isso ocorre, mas mostrar como a economia das fichas atua de forma diferente dos reforçamentos primários, como, por exemplo, a comida. Por quê? Porque a comida, quando é dada como reforçamento positivo, não exige nenhum planejamento da pessoa, e nem atividade de escolha, sendo a única opção dada a ela. Já a recompensa por meio das fichas, seguindo como foi feita a economia das fichas, exige tanto planejamento como escolha. Para que os pacientes possam ganhar as fichas, eles precisam decidir como irão ganhá-las, escolhendo um tipo de atividade para poder obter a recompensa. Nessas atividades, eles têm de planejar, pensar e organizar. Depois que eles recebem a recompensa, que são as fichas, eles têm de escolher quais tipos de reforçamentos primários eles irão querer.

Uma das principais diferenças que é apontada entre o reforçamento primário e o reforçamento da economia das fichas, que é o reforçamento secundário, é que as fichas podem ser trocadas por um tempo fora da enfermaria. Essa diferença é importante, pois no tempo que os pacientes estão fora da enfermaria, eles não são supervisionados, cuja consequência é que não há nenhum reforçamento programado para algum comportamento desejado. Então os comportamentos deles fora da enfermaria poderiam ser variados, ou seja, o que eles faziam era por iniciativa deles, e assim tais comportamentos seriam reforçados por qualquer reforçamento que estivesse do lado de fora, sendo que inclusive as contingências do dinheiro verdadeiro também poderiam entrar como reforçamento.

Nas atividades que são recompensadas por fichas, além de exigir dos pacientes planejamento, como mencionado acima, também se exigia deles iniciativa. Um exemplo é quando eles ajudavam na cozinha, sendo que a cada dia era uma tarefa diferente, seja um prato diferente para fazer, ou alguma outra tarefa que exigisse raciocínio, planejamento.

Como sabemos, o resultado dessa aplicação foi um sucesso, provando a eficácia da economia das fichas e de como usá-las como reforço. Porém, houve um

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número de pacientes que conseguiram ganhar alta do hospital, e os behavioristas poderiam argumentar que isso fazia parte do programa deles, sendo atribuída como uma nova característica desse programa. Porém, no livro Behaviorism, Science, and Human Nature, de Schwartz e Lacey (1982), os autores argumentam que essa alta tem pouca relação com a teoria behaviorista. Conforme suas análises, a alta dos pacientes está relacionada com outros fatores, que vão além do que o behaviorismo pressupõe, ou do que ele pode explicar. Primeiro, eles questionam sobre o uso do passe como reforçamento para sair da enfermaria. Com o sucesso da aplicabilidade desses reforços, uma questão surge “como os reforçamentos são identificados?”.

Definindo o reforçamento, como mencionado no capítulo 2: O reforçamento é um evento que aumenta a frequência de um dado comportamento, sendo que a sua ocorrência foi contingente. Entre esses eventos que podem ser considerados reforçamentos, há oportunidades de se engajarem em certas atividades da preferência deles. Menciona-se nesse livro que os comportamentos que têm uma maior probabilidade de ocorrer podem ser usados como reforçamentos para os comportamentos que têm baixa probabilidade. Esse princípio de reforço tem sido usado com o objetivo de descobrir os reforçamentos dos pacientes de uma maneira individual; sendo que qualquer comportamento que o paciente teve de uma maneira espontânea, que foi observado e que manteve uma certa frequência razoável, pode se transformar em reforçamento. Dessa forma, seguindo esses critérios de reforçamento, o tempo que eles ganhavam para passar fora da enfermaria não era considerado reforçamento para os pacientes, com base no estudo dessa economia das fichas. Porém, antes de ser feito esse estudo, esses passes já estavam disponíveis, embora fossem pouco usados. Ou seja, o tempo fora da enfermaria não era um comportamento que tinha uma frequência alta de ocorrência. Entretanto, depois do estudo feito pelos behavioristas, em que eles colocaram em prática o programa deles nesse hospital, os passes para deixar a enfermaria se tornaram reforçamentos para muitos pacientes. Em outras palavras, muitas fichas foram trocadas por passes livres para fora da enfermaria. O que pode sugerir uma importante consequência da economia de fichas pode ser o aumento dos reforços, que, por sua vez, pode influenciar o comportamento dos pacientes, sendo uma importante contribuição em relação à manutenção do comportamento funcional dos

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pacientes, estando fora do ambiente institucional. Porém, a teoria behaviorista tem pouco o que dizer em relação a essas atividades.

Outra análise que foi feita quanto a esse programa da economia de fichas foi em relação ao tempo que os pacientes passavam fora da enfermaria; mas também analisam as tarefas que foram feitas dentro da enfermaria, as que exigiam planejamento e iniciativa. Poderíamos argumentar que ter disponível um tempo sem supervisão e alguém ter oportunidade de fazer atividades que exijam iniciativa são reforçamentos. É provável que tal suposição esteja correta, porém chamar essas atividades de reforçamentos aponta os limites do poder explicativo da teoria comportamental. Porque para essas atividades acontecerem, foi preciso passar por períodos de tempo, em que há sequências de comportamentos. Mas a teoria do comportamento não nos diz nada sobre essas organizações internas. Também não diz nada sobre como distinguir sequências de comportamento que são reforçamentos de sequências de comportamentos que não são reforçamentos, como, por exemplo, amarrar os sapatos.

Mas será que as atividades que exigem organização são reforçadas? Talvez não. Talvez essas atividades sejam operantes. Para analisar isso de uma forma mais profunda temos, que considerar a tarefa que os pacientes desempenharam na cozinha. Tal tarefa envolve habilidades rotineiras, sendo que cada uma delas pode ser moldada de acordo com os princípios do behaviorismo. Porém as habilidades rotineiras sozinhas são insuficientes para realizar todas as tarefas que a cozinha exige. Pois alguém pode preparar o menu, pedir uma comida, checar os utensílios, planejar a ordem de execução das variadas sub-tarefas e, também, sincronizar as várias sub-tarefas, que são divididas entre as partes do preparo da refeição. Ou seja, como podemos ver, um dia de trabalho na cozinha não será o mesmo do dia seguinte. A cada dia, a forma em que se trabalha na cozinha é diferente. Pois preparar um bife é bastante diferente de preparar um peixe. Também, preparar comida para cinquenta pessoas é diferente de preparar para apenas cinco. Porém, toda sub-tarefa sempre terá algo em comum, como aquecer o forno, lavar os pratos etc.

Levando em consideração tudo que foi mencionado acima, quando um paciente recebe fichas pelo seu trabalho na cozinha, o que foi reforçado? Se é que podemos dizer que algo foi reforçado. E qual é o operante? O que se torna mais

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provável conforme a consequência de ter sido reforçado? No estudo da economia de fichas está bastante claro que o que sustenta as atividades dos pacientes, que são realizadas na cozinha, são as fichas. Parece que é isso, já que eles param de realizar as atividades quando não ganham mais as fichas. Mas, notemos, precisa aumentar a probabilidade do comportamento se repetir no futuro (no caso do reforço positivo). Mediante tal definição, como podemos supor que as atividades desempenhadas na cozinha são reforçadas? Tendo em vista que a cada dia na cozinha se realiza uma atividade distinta, como mencionamos acima. Assim, sobre o processo da elaboração da comida, do planejamento, das variadas atividades que mudam de dia para dia, a teoria behaviorista tem pouco o que dizer. Entretanto, alguém poderia argumentar que o que pode ser reforçado é o fato do paciente preparar a comida na hora certa. Porém, o problema dessa análise é que ela não explica a variação que ocorre no processo da preparação da comida, sendo que é justamente essa variação que é essencial para essas atividades que são realizadas na cozinha. Essa questão permanece em aberto, e até hoje o behaviorismo não conseguiu resolver esse problema.

Sobre o condicionamento que ocorre nas fábricas, Schwartz e Lacey questionaram esse processo e compararam com a forma de trabalho que ocorria antes desse processo de trabalho nas indústrias. Antes da revolução industrial e do capitalismo, havia o feudalismo. O servo em seu trabalho possuía diferentes atividades ao longo do seu dia, exigindo dele tanto flexibilidade como tomar decisões. Já o trabalho nas indústrias, como foi mencionado acima, é um trabalho repetitivo, em que se faz a mesma coisa o dia todo. Isto é um trabalho sem flexibilidade ou tomada de decisões, que se torna demasiado parecido com a caixa de Skinner, onde os pombos ou ratos picavam ou pressionavam a alavanca para obter comida. A diferença é que para os operários o único reforçamento era o dinheiro. Note que esses tipos de trabalho nas indústrias são reforçados pelo dinheiro e controlam o comportamento, pois ocorrem em ambientes fechados e bem controlados, em que o gerente tem controle das variáveis.

Como mencionamos anteriormente, todas essas aplicações do behaviorismo foram realizadas em ambientes fechados e bem controlados; isto é, em que o cientista tinha controle em relação às variáveis e poderia facilmente controlar os reforços e, também, não tendo a influência das diversas variáveis que há no meio

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natural, ou seja, em um ambiente aberto. Em um ambiente aberto, no meio natural, onde há influências de diversas variáveis ambientais e o cientista não tem um controle dos reforços e das variáveis ambientais, será que seria possível aplicar a teoria behaviorista? A resposta parece apontar para a não possiblidade de tal aplicação, pois, com um ambiente aberto, o controle seguindo as premissas do behaviorismo se torna insustentável. Mediante os resultados, concluímos que o behaviorismo em sua aplicabilidade somente se sustenta em ambientes fechados.

Vimos que a aplicabilidade do behaviorismo, de forma geral, fica restrita a ambientes fechados e bem controlados. Porque, nos ambientes abertos, não é possível que o cientista tenha pleno controle das variáveis ambientais, sendo que a influência do meio natural seria decisivo nos resultados da tentativa da aplicabilidade do behaviorismo.

Segundo Skinner, o que controla o comportamento não são os processos internos; embora, muitas pessoas achem que o que explica o comportamento sejam esses processos internos, como: As pessoas agem devido ao o que é lógico, certo, ou moralmente correto. Até a causa da felicidade, segundo essa visão da maioria das pessoas, são fatores internos, como expectativas que as pessoas possuem em relação a si mesmas. Para essa concepção, é necessário entender essas questões internas para poder entender o comportamento. Segundo Skinner, tudo isso que foi mencionado anteriormente não passa de um mito. Porque, como vimos ao longo do trabalho, o que controla o comportamento não são os fatores internos, mas os reforçamentos, ou seja, o reforçamento positivo e o reforçamento negativo, a saber, a recompensa e a punição. Mas Skinner em sua obra trata do comportamento encoberto, ou como ele diz, no comportamento que está sob a pele. Porém, como veremos, a explicação de tal comportamento não é como a concepção que foi mostrada acima.

Skinner trata também sobre o comportamento encoberto, como mencionamos acima, aquele que está debaixo da pele, ou seja, que não pode ser visto. Muitos pensam erroneamente que Skinner nada postulou sobre o comportamento encoberto e, também, muitos confundem o behaviorismo de Skinner com o de Watson. Watson nunca mencionou algo sobre o comportamento encoberto, e o behaviorismo segundo ele era de estímulo-resposta, lembrando o reflexo condicionado de Pavlov. Mas não entraremos em detalhes aqui sobre o

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behaviorismo segundo Watson. Apenas pretendemos deixar clara a diferença e originalidade do behaviorismo segundo Skinner. O behaviorismo segundo Skinner já se distingue do behaviorismo segundo Watson, pois, para Skinner, o que controla a resposta não é o estímulo, mas o reforçamento, que pode ser positivo ou negativo. Outro fator importante que diferencia o trabalho de Skinner é o fato dele comentar sobre o comportamento encoberto.

O que é o comportamento encoberto? O comportamento encoberto não pode ser visto pelo cientista. Porém, o comportamento encoberto segue e foi originado por meio das condições externas, seguindo o princípio do reforçamento, ou seja, mesmo o que ocorre dentro da gente segue as variáveis externas e são formuladas pelo reforçamento. Primeiro aprendemos com a resposta e consequência, ou seja, o reforçamento, e depois incorporamos isso em nosso comportamento encoberto. Todo comportamento encoberto, ou comportamento privado, que é outra nomenclatura para retratar o mesmo tipo de comportamento, um dia foi público, como, por exemplo, uma criança que aprende a ler primeiro em voz alta. Skinner não se ocupou muito sobre esse tipo de comportamento. O comportamento encoberto pode ser relacionado com o comportamento verbal, se levarmos em consideração o comportamento verbal no caso de um diálogo interno, isto quer dizer um diálogo consigo mesmo. Mas mesmo esse diálogo interno segue os princípios do diálogo externo (com outra pessoa), e esse modo de diálogo se refere ao comportamento manifesto, corroborando o pressuposto que o comportamento encoberto segue as condições e variáveis externas. Não é nosso objetivo mostrar detalhadamente o comportamento encoberto e sua relação com o comportamento manifesto, pois, como mencionamos, Skinner quase não se ocupou sobre o comportamento que está debaixo da pele.

Outra questão importante do behaviorismo segundo Skinner é que ele comenta sobre as agências de controle e as agências de contracontrole. As agências controladoras ou de controle manipulam certos conjuntos de variáveis, são bem organizadas e operam com um sucesso considerável. A prática dessas agências é de controle, cuja função na sociedade é de estabelecer obediência e controle em seus controlados. Um exemplo de uma agência de controle é a polícia, que age de forma coerciva, quando há um comportamento considerado inadequado. Já as agências de contracontrole são as que agem, como o nome diz, contra os

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abusos de poder das agências de controle. As ouvidorias são exemplos de agência de contracontrole, onde as pessoas podem reclamar contra as agências de controle. O Procon é um bom exemplo de uma agência de contracontrole, dando a possibilidade para que o cliente possa reclamar dos produtos de uma loja ou marca, quando há uma cobrança indevida ou quando um produto apresenta defeito de fábrica e o estabelecimento comercial se recusa a trocá-lo. Também não iremos nos ocupar muito sobre esse tema de agências de controle e contracontrole, pois nosso foco e objetivo do trabalho não é esse.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pudemos ver ao longo desse trabalho o que é o behaviorismo segundo Skinner e também a sua aplicabilidade em ambientes fechados, que funcionam muito bem. Ou seja, em um ambiente fechado, onde o cientista tem pleno controle das variáveis do ambiente e pode então controlar os reforçamentos, o controle do comportamento em tais ambientes será realizado com sucesso, sendo aplicado o que Skinner fazia com os ratos e pombos em humanos; porém, com a pequena diferença das respostas e dos reforçamentos. Então, a teoria segundo Skinner é consistente e possui sucesso em ser aplicada em locais fechados e bem controlados. Em ambientes abertos, o controle ou a mudança do comportamento não ocorre, devido às inúmeras variáveis ambientais e a falta de controle que o cientista tem dos reforçamentos e de como mantê-los. Mas Skinner nunca teve a pretensão de elevar a sua teoria a controles de ambientes abertos.

Se questionarmos sobre os possíveis limites do poder explicativo do behaviorismo segundo Skinner, veremos que há algumas questões que permanecem sem explicação por essa teoria. Quais questões? Uma delas diz respeito à própria atividade dos cientistas, pois, como o behaviorismo segundo Skinner explicaria o comportamento do cientista, de tentar sempre descobrir algo? Como pode o behaviorismo explicar isso? Pois o cientista normalmente permanece engajado em suas pesquisas científicas, mesmo quando elas não dão resultados aparentes imediatos. O que é reforçado na atividade do cientista? Sabendo que mesmo quando seus resultados são falhos, eles seguem pesquisando, seguem buscando. Também os cientistas não seguem repetindo seus resultados quando são bem-sucedidos, ou seja, resultados que funcionaram, que foram reforçados.

A atividade do cientista requer planejamento, julgamento, expectativa e flexibilidade, sendo que nada disso se encaixa na teoria behaviorista. O cientista possui objetivos, como resolver problemas relacionados às suas pesquisas e seus experimentos. Se o experimento tiver sucesso, não aumenta a probabilidade dele se repetir, como pressupõe o behaviorismo. O behaviorismo tem pouco o que dizer sobre planejamento, julgamento, objetivos, intenção. Esses conceitos estão fora do escopo do behaviorismo e poderiam ser usados para descrever muitos dos nossos

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comportamentos, como o comportamento dos cientistas. A teoria comportamental de Skinner é bastante plausível e funciona bem em ambientes fechados, realmente, conforme os experimentos nos ratos e nos pombos, ou na aplicabilidade em humanos nos ambientes fechados, mostrando a sua efetividade, que de fato controla o comportamento dentro de tais circunstâncias. Mas, como falamos, há muitos casos que fogem do alcance do poder explicativo e de controle do behaviorismo, como o controle em ambientes abertos, sem o controle de todas as variáveis ambientais; mas explica as ações humanas mais simples, ou as mais complexas, como o ato do cientista, em que pressupõe objetivos, planejamento e raciocínio; assim como, o behaviorismo não conseguiu explicar as atividades na cozinha, que envolviam tais processos, como planejamento. Em suma, o behaviorismo é uma teoria consistente, bastante plausível, porém possui seus limites para explicar alguns tipos de comportamento que envolvem outros conceitos que essa teoria não abrange.

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REFERÊNCIAS

LACEY, Hugh. Psicologia experimental e natureza humana: ensaios de filosofia da psicologia. Florianópolis: UFSC/NEL, 2001.

SCHAWARTZ, Barry; LACEY, Hugh. Behaviorism, science, and human nature. Canadá: W.W Norton & Company, 1982.

SKINNER, B. F. About behaviorismo. Canadá: Vintage Books Edition, 1976.

______. Beyond Freedom and Dignity. Estados Unidos: Penguin Books, 1971.

Referências

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