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Práticas docentes de enfrentamento ao racismo a partir da sala de aula dos anos iniciais do ensino fundamental.

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Academic year: 2021

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CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO

THAIS HELANY TAVARES DE SOUZA

PRÁTICAS DOCENTES DE ENFRENTAMENTO AO RACISMO A PARTIR DA SALA DE AULA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

CAJAZEIRAS – PB 2015

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THAIS HELANY TAVARES DE SOUZA

PRÁTICAS DOCENTES DE ENFRENTAMENTO AO RACISMO A PARTIR DA SALA DE AULA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Monografia apresentada ao curso de Pedagogia do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal de Campina Grande, Campus Cajazeiras, como requisito parcial para obtenção de título de Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia.

Orientador: Prof. Dr. Wiama de Jesus

Freitas Lopes

CAJAZEIRAS - PB 2015

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação - (CIP) André Domingos da Silva - Bibliotecário CRB/15-730

Cajazeiras - Paraíba S729p Souza, Thais Helany Tavares de

Práticas docentes de enfrentamento ao racismo a partir da sala de aula dos anos iniciais do ensino fundamental. / Thais Helany Tavares de Souza. Cajazeiras, 2015.

69f. : il. Bibliografia.

Orientador (a): Prof. Dr. Wiama de Jesus Freitas Lopes. Monografia (Graduação) - UFCG/CFP

1. Educação para as relações etnicorraciais – Cajazeiras - PB. 2. Racismo. 3. Práticas docentes. I. Lopes, Wiama de Jesus Freitas. II. Título.

UFCG/CFP/BS CDU –37.015.4:316.482.5(813.3)

UFCG/CFP/BS CDU – 37.015.4:316.482.5(813.3)

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Dedico este trabalho a minha mãe, que sempre depositou muita credibilidade e expectativa, contribuindo para perseverar sempre. E aqueles que lutam pela igualdade racial, com enfoque para a educação como meio para alcançar essa meta. Estas pessoas fizeram toda diferença em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A vida me permitiu conhecer pessoas que deixaram ensinamentos permanentes. Elas estarão sempre incessantemente em minha mente e em meu coração. Primeiramente quero agradecer ao meu Senhor Jesus por me conceder dias felizes e tristes, difíceis e de grandes vitórias. Agradeço também, principalmente, a minha mãe por desde a infância alimentar o sonho de me ver formada, e ao meu pai, pois sempre acreditaram em meu potencial, e certamente se sentem orgulhosos de mais esta etapa concluída em nossas vidas. À minha irmã Tamires Lenin, que embora nossas diferenças pessoais sempre me ajudou quando precisei. Ao meu namorado e amigo Roger Rolim que sempre me apoiou nos momentos mais difíceis e de grandes conquistas que passei ao longo destes longos anos, iluminou e ajudou a fazer boas escolhas. A todos os professores que contribuíram para minha formação desde a Educação Infantil até a conclusão do ensino superior. Para representar todos, destaco o professor Doutor Wiama de Jesus Freitas, que me orientou a caminhos para chegar à defesa desta monografia, sua atenção em meio ao seu raro tempo foi motivadora para me esforçar cada dia mais e melhor. E a professora Lílian Kelly Galvão de Sousa, minha eterna professora doutora em Psicologia Social que tenho grande admiração e veneração, sempre me incentivou a seguir a trajetória acadêmica, constituindo o exemplo de profissional a adotar. Estes dois grandes mestres, assim como muitos que contribuíram para a boa formação a que conquistei, são e continuarão constantemente sendo espelho e inspiração para minha vida social, profissional, e principalmente particular. A todos meu muito obrigado pelos ensinamentos compartilhados, incentivo e dedicação.Aos grandes e bons amigos que pude conhecer na academia durante esses anos, destacando em nome de todos (as), Maria de Fátima Oliveira e Miléria Abrantes, amigas de muitos trabalhos e juntas construímos muitos conhecimentos, estas acompanharam com proximidade todos os desafios superados. Em especial a uma pessoa que me acompanha de longe, pois já se tornou uma estrela no céu, minha caríssima avó Deide, eternamente em minha memória por seu amor, dedicação, caráter, irreverência e humildade. À minha grande amiga Maria Pereira que me auxiliou por tantas vezes, pessoa que admiro muito. Agradeço a todos que contribuíram de todas as formas para meu crescimento intelectual e pessoal, mesmo que não tenha registrado diretamente neste momento.

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[...] vieram primeiro atrás dos comunistas, e eu nada falei porque não era comunista.

Então vieram atrás dos judeus, e eu nada falei porque não era judeu.

Então vieram atrás dos sindicalistas, e eu nada falei porque não era sindicalista.

Então vieram atrás dos católicos, e eu nada falei porque era protestante.

Por fim, vieram atrás de mim e, nessa época, já não havia sobrado ninguém para falar.

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RESUMO

O presente trabalho monográfico teve por objetivo analisar as práticas docentes em sala de aula nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo como objeto de estudos as ações educativas em prol da superação do racismo a partir da sala de aula. Este estudo teve como questão de pesquisa: De que modo os professores tem enfrentado o racismo de forma educativa a partir do ambiente da sala de aula? Esta pesquisa de caráter quali-quantitativa com preponderância qualitativa foi realizada através de uma entrevista semiestruturada contendo 12 questões abertas. A referida entrevista foi gravada em áudio com as categorizações vindas das transcrições na íntegra de todas as entrevistas. A pesquisa teve uma amostra de nove professores atuantes nas séries iniciais do Ensino Fundamental, na rede municipal de ensino da cidade de Cajazeiras – PB, sendo estes de duas escolas distintas. Este trabalho tem por base de fundamentação a Lei 10.639/03 que obriga o ensino da História e Cultura Africana e Afrobrasileira em todos os segmentos educacionais e as diretrizes curriculares para a educação das relações étnicorraciais. Como parte dos achados desse estudo pode-se destacar que uma pedagogia de combate ao racismo deve se pautar no fortalecimento e incentivo ao respeito pelo outro, independente de suas características ou escolhas, pessoais e/ou do seu grupo. Para a educação para as relações étnicorraciais obter sucesso é necessário a construção de estratégias, formações continuadas, projetos interdisciplinares, materiais didáticos e pedagógicos que enfoquem a história e cultura afrobrasileira e aportes institucionais por parte dos órgãos centrais. Acima de tudo, é preciso o exercício da

práxis docente, haja vista que o racismo está velado estruturalmente por várias vertentes

sócio-culturais que aqui serão exploradas.

PALAVRAS-CHAVE: Racismo. Educação Para as Relações Etnicorraciais. Práticas

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ABSTRACT

The present monograph has as objectiveanalyze the teaching practices in the classroom in the early years of elementary school, with the object of studies the educational actions in support of overcoming racism from the classroom. This study had as research question: How the teachers are confronted racism of educational way from the classroom environment? This research study qualitative and quantitative with a qualitative preponderance was performed through a semi-structured interview containing 12 open questions. The said interview was recorded on audio with the categorization coming of the transcriptions in integrate of all the interviews. The research had a sample of nine actants teachers in the early grades of elementary school, in the public schools of the city of Cajazeiras - PB, which are two distinct schools. This work has for basis of foundation the Law 10.639/03 requiring the teaching of history and African culture and African-Brazilian in all educational segments and curricular guidelines for the education of racial ethnic relations. As part of the findings of this study can be noted that a pedagogy to combat racism must be based on strengthening and incentive to respect for others, regardless of their characteristics or choices, personal and / or its group.For the education for racial ethnic relations be successful is necessary to build strategies, continuing formation, interdisciplinary projects, didactic materials and pedagogics that focus on history and african-Brazilian culture and institutional contributionson the part of central organs. Above all, is necessary the exercise of the teaching practice, considering that racism is veiled structurally for several socio-cultural aspects that will be explored here.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1: Formação inicial de professores ... 32 Gráfico 2: Professores que possuem especialização ... 33 Gráfico 3: Especialização dos professores ... 33

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LISTA DE SIGLAS

CIDAN - Centro de Informação e Documentação do Artista Negro

CNE - Conselho Nacional de Educação

EJA - Educação de Jovens e Adultos

IBGE - Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística

LDB - Lei de Diretrizes e Bases

MEC – Ministério da Educação e Cultura

ONU - Organização das Nações Unidas

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNAIC - Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

PNE - Plano Nacional de Educação

SEPPIR - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

UFCG - Universidade Federal de Campina Grande

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

CAPÍTULO I - SITUANDO O RACISMO NO AMBIENTE ESCOLAR ... 16

1.1 Sociedade e racismo... 1 17

1.2 A condição de negro dentro da escola ... 18

1.3 Racismo ... 21

1.4 Educação para as relações etnicorraciais ... 23

1.5 Práticas formativas no âmbito das relações etnicorraciais ... 25

CAPÍTULO II - PREPARAÇÃO DOS PROFESSORES PARA O ENFRENTAMENTO AO RACISMO ... 29

2.1 Lócus e sujeitos da pesquisa ... 31

2.2 Exposição e análise dos dados ... 34

CAPÍTULO III - A ESCOLA ENQUANTO DIMENSÃO DE SUPERAÇÃO DO RACISMO ... 52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 58

REFERÊNCIAS ... 60

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo analisar as práticas docentes em sala de aula nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com ênfase na educação para as relações etnicorraciais numa perspectiva de enfrentamento ao preconceito racial. Compreende uma discussão acerca do racismo em sala de aula, tendo como questão de pesquisa: De que modo os professores tem enfrentado o racismo no ambiente da sala de aula? É de extrema importância a atuação dos docentes para as transformações sociais, principalmente no que se trata das relações etnicorraciais.

O interesse pela temática surgiu devido desde a infância em meio às inúmeras dúvidas que me pairavam ao presenciar cenas de preconceito racial. Por não entender o motivo pelo qual algumas pessoas do círculo familiar “brincavam”, com outras pessoas de cor negra, fazendo piadas de mau gosto. Pois não percebia motivo para zombaria. Então, desde a infância se perguntava o porquê da aversão tácita de alguns membros da família ao povo negro e suas culturas. E, de igual modo, na rua e na escola sempre houve muito estranhamento de minha parte com relação a essa discussão. Por que a falta de respeito por pessoas negras? Eram pessoas iguais! Era um enorme contrasenso lhes discriminar.

Como também, o fato de haver muitas contradições em torno da discussão acerca de cotas raciais para e até mesmo a universidade. Até que então, uma palestra no auditório da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na qual o palestrante defendia e apresentava seus argumentos a favor das cotas raciais, fez perceber tamanha ignorância é criticar algo sem conhecer. Pois, as cotas raciais são uma conquista de políticas afirmativas de um grupo que por muitos anos não teve direito à educação. Parte desse estranhamento também advém de quem descendeu diretamente do povo negro, a partir da miscigenação antropológica que houve no Brasil. Mesmo não apresentando características fenotípicas negras, a autora deste trabalho compreende-se enquanto negra, ainda mais por fazer parte da quinta geração descendente de africanos. Percebeu-se que esta consciência surgiu durante o processo de amadurecimento enquanto mulher, estudante e futura pedagoga.

Então se buscou saber como estão sendo trabalhadas as relações etnicorraciais nos anos iniciais do ensino fundamental, visto que a escola ao abordar temas como este, historicamente preconceituosos, formará cidadãos sensatos e ainda mais aptos para a

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humanização do mundo ao passo que durante a graduação foi sempre enfatizado a escola, mesmo com tantas atribuições e desafios, enquanto instituição de formação e capaz de integrar-se no movimento de transformação social. Talvez seja essa, a escola do futuro, que não se pode contar ainda nos dias de hoje. A formação inicial aponta caminhos, permite sonhar com uma escola mais democrática e inovadora, porém muitos já formados não conseguem alimentar tais sonhos. Que a vontade de realizar sonhos por um mundo melhor não acabe e nunca seja exaurida. Pois, a educação é o melhor caminho.

Neste sentido, este trabalho está baseado em autores como, Brasil (2004), Brasil (2006), Gomes (2005), Munanga (2005), Sant‟ana (2005), São Paulo (2008), Silva (2011), entre outros, que contribuíram para o direcionamento do conhecimento formado, do qual se espera levar os leitores a refletirem ainda mais sobre sua própria

práxis em relação às ações educativas em prol da educação para as relações

etnicorraciais.

No que se refere à metodologia, trata-se de uma pesquisa quali quantitativa com preponderância qualitativa pois, trata-se das duas modalidades. Utilizou-se a entrevista semi estruturada contendo doze questões, que foram aplicadas, e gravadas, a nove professores de duas escolas periféricas da rede municipal de ensino da cidade de Cajazeiras – PB, a fim de compreender sobre os sujeitos suas concepções, angústias, medos, possibilidades e preparação no que tange ao racismo em sala de aula, como está sendo realizado o trabalho para superar deste preconceito a partir da escola.

Este trabalho foi desenvolvido e constituído em três capítulos. O primeiro capítulo ressalta as situações de racismo no âmbito escolar, e consequentemente a relevância do papel social do professor das séries iniciais do Ensino Fundamental, pois a igualdade racial que tanto se almeja perpassa também dentro da escola, por ser este espaço por excelência de formação. É neste sentido que se tem como base para este trabalho a Lei 10.639/03, que obriga o Ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira nas escolas brasileiras no intuito da valorização da cultura e história dos negros. Para melhor compreensão do racismo na sociedade e na escola, conceituam-se termos como democracia racial, estereótipos, preconceito, discriminação e estes relacionados à questão racial. Traz ainda reflexões também acerca educação para as relações etnicorraciais, formação de professores frente ao necessário enfrentamento, estruturas de racismo e contribuições dos africanos ao Brasil.

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No decorrer do segundo capítulo, apresenta-se a metodologia utilizada e os achados da presente pesquisa. Apresenta-se as concepções, anseios e propostas no que se refere à superação do racismo em relação a atividades estratégicas e formativas a partir dos estudos junto aos sujeitos investigados. Nas análises inferidas neste trabalho, pode-se constatar a dificuldade que muitos professores possuem no que tange a educação para as relações étnicorraciais, igualmente a defasagem nas formações destes professores, entre outros segmentos.

O terceiro e último capítulo, tece reflexões sobre o papel da escola e do professor, em relação às análises feitas durante este trabalho. Ainda neste capítulo, realizam-se proposições de aperfeiçoamento para o trabalho pedagógico e interdisciplinar efetivo em direção a superação do racismo, para com o cumprimento da Lei 10.639/2003, em relação ao currículo, a (auto) formação de professores, metodologias e abordagens históricas de valorização a história e cultura afrobrasileira.

Muitos afirmam não ter preconceito racial, mas discriminam muitas vezes inconscientemente. O não ter preconceito remete a um dos princípios racistas, pois poucos se consideram racistas. Deste modo, como em um país tão diverso e desigual em todos os segmentos, o racismo, historicamente defendido, não exista? Primeiramente, tem-se que assumir o preconceito, pois este não é dos males o pior. Feito isto, deve-se ter respeito às diferenças, pautado na igualdade. Igualdade e diferença são baseadas uma na outra, pois como pode se julgar de forma unidimensional, pessoas e/ou grupos sociais que tiveram percursos educacionais, históricos e culturais ambíguos?

Faz-se necessário ainda lembrar as representações sociais relacionados aos negros, como também os estereótipos, que fazem referência ao racismo velado. Não é justo ter mais negros nas filas de hospitais, do que mesmo realizando consultas. Não é saudável que crianças negras queiram alisar seus cabelos por conta da referencialização do padrão de beleza eurocêntrico. Por que a criança negra não dramatiza o papel principal dos contos de fadas apresentados na escola? Qual o papel do professor frente a essa discussão? Como mudar esse contexto? E ainda, por que é necessário uma lei que obrigue o ensino da história e cultura africana e afrobrasileira? Essas e outras questões devem ser pensadas rotineiramente por professores negros ou não.

Cabe ao educador dos anos iniciais do Ensino Fundamental buscar compreender as estruturadas veladas de racismo para então trabalhar a valorização do negro e o respeito às diferenças. As práticas formativas no âmbito das relações

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etnicorraciais são cruciais em um país cuja desigualdade racial é tão contestada. Foi verificado durante as entrevistas, que as discussões sobre a igualdade racial estão sendo iniciadas ainda, como também as escolas investigadas não tem formações continuadas, tão pouco projetos voltados para esta temática. É neste sentido, que se espera que este trabalho monográfico venha a contribuir para uma educação mais inclusiva e justa de modo a refletir no futuro de uma sociedade que desfrute da verdadeira igualdade racial.

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CAPÍTULO I - SITUANDO O RACISMO NO AMBIENTE ESCOLAR

A ideologia do branqueamento se efetiva no momento em que, internalizando uma imagem negativa de si próprio e uma imagem positiva do outro, o indivíduo estigmatizado tende a se rejeitar, a não se estimar e a procurar aproximar-se em tudo do indivíduo estereotipado positivamente e dos seus valores, tidos como bons e perfeitos. Ana Célia Silva (2005, p.23)

Este primeiro capítulo discorre sobre a temática racismo na sala de aula nos anos iniciais do ensino Fundamental com ênfase na educação para as relações etnicorraciais numa perspectiva de enfrentamento ao preconceito racial, empreendendo levantamentos de situações de racismo em sala de aula em prol de suscitar reflexões sobre o preconceito, muitas vezes velado e oculto, que cerca e dificulta o trabalho com este tema.

Neste primeiro capítulo, ainda, será retratado como ranços e complexas reminiscências da história da escravização no Brasil têm implicado na visão que se tem do negro ainda nos dias atuais. Essa visão também incide por dentro da sala de aula e dá continuidade ao racismo, sendo apresentadas neste capítulo, as formas mais corriqueiras de preconceito racial. Todavia, a igualdade racial, aliada com o respeito às diferenças, que tanto se almeja perpassa também dentro da escola, por ser este espaço por excelência de formação. Para tanto, faz-se necessário melhor os níveis de estudos, compreensão e de implementação da Lei 10.639/03, que obriga o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas brasileiras. Um modo cabal de referencializar e refletir valores e conteúdos, esta lei representa a valorização da cultura e história dos negros.

Este capítulo contempla por fim, algumas considerações sobre as práticas formativas no âmbito das relações etnicorraciais para o enfrentamento do racismo, no sentido de valorização da história e cultura dos negros e a necessária reeducação das relações etnicorraciais. Neste sentido, se faz necessário nesta seção, conceituar termos relacionados ao racismo como estereótipos, preconceito, discriminação e estes relacionados à questão racial.

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1.1 Sociedade e racismo

O Brasil constitui um país pluriétnico, resultante de uma miscigenação entre brancos, negros e índios, entretanto, este fato não é suficiente para prevalecer à igualdade racial. Nesse sentido, pode-se afirmar que para avançar em termos de igualdade racial, primeiramente, é preciso reconhecer que vivemos o mito da democracia racial, conforme salienta Gomes (2005, p. 148) “No Brasil, o racismo ainda é insistentemente negado no discurso do brasileiro, mas se mantém presente nos sistemas de valores que regem o comportamento da nossa sociedade, expressando-se através das mais diversas práticas sociais”. Essa sonegação teórica tem suas intenções, pois na medida em que

o contexto em que formula, cria ou engendra “o mito da democracia racial”, significando que a sociedade brasileira seria uma democracia racial, sem ser uma democracia política e, muito menos, uma democracia social. É claro que essa expressão dissimula uma sofisticada forma de racismo patriarcal, patrimonial, elaborada desde o alpendre da casa-grande. Mais do que isso, pode ser uma cruel mistificação da desigualdade, da intolerância, do preconceito, do etnicismo ou do racismo, como “argamassas” da ordem social vigente, da lei e da ordem. (IANNI, 2004, p.25)

O mito da democracia racial brasileira é usado como disfarce para alienar os sujeitos, de modo a garantir a manutenção do status quo, pois não tem como se lutar contra algo inexistente. Haja vista que, se não há desigualdade racial, não há porque lutar. Por conseguinte, se observa a relevância social da escola para as relações etnicorraciais, considerando a formação crítica e humana necessária que aspira uma sociedade justa e equânime. Consequentemente,

Por isso a educação do povo negro sempre foi temida pelas classes dominantes, que viam o negro instruído como perigoso, o que não é totalmente errado, uma vez que a educação para todos os povos pode ser um instrumento de revolução e transformação. (SILVA, 2011, p.77)

A educação, como meio de transformação e melhoria da qualidade de vida, negada na atualidade, ainda, também aos negros, deve-se ao fato se não se ameaçar os elementos de distinção da classe hegemônica. Para tanto, a alienação é um dos recursos referenciais. Nessa perspectiva, à medida que alguns cidadãos são reconhecidos, outros legalmente com o mesmo direito, muitas vezes são excluídos e marginalizados (devido a sua cor), formando uma sociedade desigual e injusta. Este modelo de sociedade se

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funde também devido ao sistema de produção capitalista que dita às regras ao mercado tal como deve ser. Os meios midiáticos também contribuem neste quesito ao passarem uma imagem do negro enquanto preguiçoso, mentiroso, malandro, etc. Essa desvalorização da imagem do negro leva a uma mão de obra barata, favorecendo o sistema capitalista e aos interesses escusos daqueles que se locupletam com distinções à base do status quo. São lados de uma moeda, que muitas vezes passa invisível aos olhos de negros e não-negros. Deste modo, o racismo não é um problema do negro, mas também dos brancos, já que vivemos em um país em que todos os brancos mesmo inconscientemente se favorecem de privilégios que os negros não usufruem.

Mais uma vez nota-se a importância da educação para as relações etnicorraciais, vindo a contribuir na diminuição dessas desigualdades, tanto para discentes negros quanto para os brancos de modo a reestruturar essas relações. Deste modo, faz necessária a construção de estratégias de combate ao racismo, independente da cor do educador, visto que o racismo perpassa dentro da escola e dentro da escola pode se intensificar ou amenizar e até suplantá-lo. Portanto, é que se faz de vital necessidade, as apropriações da escola, como mecanismo estrutural para a valorização do negro e de suas culturas.

1.2 A condição de negro dentro da escola

O preconceito constituído e manifestado na criança apresenta-se logo nos primeiros anos da vida escolar. As diferenças na cor, se não forem bem trabalhadas, podem contribuir para um sentimento de inferioridade, pois o estereótipo muitas vezes conduz a criança a negar sua própria identidade, sua cultura, sua religião, seus descendentes. A diversidade racial deve ser motivo de orgulho para as crianças e adultos, devendo ser trabalhado dentro e fora da sala de aula, tendo em vista a formação de cidadãos éticos, justos e que possam um dia usufruir da verdadeira igualdade racial.

A escola mediante seu poder transformador deve encarregar-se de uma função muito importante: desconstruir pré-conceitos com base no respeito à raça negra. Cabe ressaltar que,

a escola é responsável pelo processo de socialização infantil no qual se estabelecem relações com crianças de diversificadas famílias, o que favorece a construção da identidade da criança. Esse contato poderá fazer da escola o primeiro espaço de vivência das tensões raciais (NEVES, 2008, p. 02).

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A partir deste momento podem ser desenvolvidos os sentimentos de exclusão e rejeição, levando a negação de identidade, baixa autoestima, etc. Nesta perspectiva,

para algumas crianças negras a dificuldades de auto-aceitação decorre de um possível comprometimento de sua identidade com as atribuições negativas de seu grupo social. O que acontece, sobretudo com as crianças, que estão em processo de desenvolvimento emocional, cognitivo e social, é uma internalização do discurso alheio, ou seja, é pelo olhar do outro que alguém se constitui como sujeito e é a qualidade desse olhar que contribui para o grau de autoestima de qualquer indivíduo, seja ele branco ou negro. (NEVES, 2008, p. 2-3)

Assim, as brincadeiras de mau gosto, piadas e gestos tais como “tinha que ser preto”, “a coisa tá preta”, “preto de alma branca”, “nego sujo”, “nega do cabelo pixaim”, “amanhã é dia de branco”, “entrou para minha lista negra”, “havia uma nuvem negra sobre aquele caso”, “denegrir a imagem”, “preterir (o que quer que seja)”, por exemplo, são alguns dos discursos que se internalizam nas crianças de modo a influenciar em seus comportamentos e opiniões. Segundo Rosendo (2008), a escola é meio de reprodução social, por conseguinte das desigualdades sociais, é relevante ressaltar que a escola reforça os valores da classe hegemônica. Desta forma, evidencia-se que em muitas escolas o racismo evidencia-se manifesta muitas vezes de forma implícita, com tratamento diferenciado de acordo com a cor da pele, como ser o último a ser escolhido em um trabalho de equipe, exclusão das brincadeiras, por exemplo.

Faz-se necessário destacar que, mesmo a Lei 10.639/2003 assegurando o ensino da história e cultura afrodescendente, destacando as contribuições histórico-sociais dos africanos no país, algumas escolas ainda não possuem a temática no currículo escolar, como também não desenvolvem tais fundamentos. Os africanos como todos bem sabem, fizeram parte da construção do Brasil, entretanto, poucos sabem da riqueza e as contribuições culturais deste povo. Homens e mulheres, poetas e poetisas, cantores (as), músicos, pintores, escultores, pessoas que raramente são homenageados, ou sequer lembrados. Julga-se ser necessário, serem difundidas histórias de negros que foram deixados literalmente para trás, são

Homens como o historiador, lingüista, engenheiro e administrador Teodoro Sampaio, os poetas Luís Gama e Cruz e Souza, o primeiro editor brasileiro e também poeta, Paula Brito, o escultor Mestre Valentim, o imenso Francisco Antônio Lisboa, os médicos Luís Anselmo e Juliano Moreira, os pintores Teófilo de Jesus, Estevão Silva, Firmino Monteiro, Rafael Pinto Bandeira, os

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irmãos João e Artur Timóteo da Costa, Emanuel Zammor. Queremos o reconhecimento como negro para Manuel da Cunha, o pintor escravo que comprou sua alforria da família do cônego Barbosa da Cunha e foi para Portugal aprender o ofício de pintor, deixando-nos uma obra admirável como a que ainda se pode ver na Igreja de São Francisco de Paula no Rio de Janeiro. (ARAUJO, 2004, p. 247)

Deve se considerar as origens dos artistas que marcaram a música, a poesia, a arte como Machado de Assis, Lima Barreto, Luíz Gama, Cruz e Sousa, Jorge de Lima, Castro Alves, Di Cavalcanti, por exemplo.

Pretende-se com este discurso, a valorização do negro, o reconhecimento da imagem de herói, que crianças e jovens sintam orgulho de seus ancestrais. Acredita-se que ao trabalhar a história do negro relatando suas contribuições e, não as más ideologias à respeito dele, a escola criará um ambiente favorável para o conhecimento contra o racismo, já que muitas pessoas terão o juízo da historicidade dos negros, não se sujeitando ao “pré-conceito”. Esses conteúdos, entre outros, devem ser ponto de discussão em salas de aula e formações iniciais e continuadas, conforme obriga a Lei 10.639/03, como também, estarem presentes na prática pedagógica e currículos escolares. No caso da invisibilidade dessas produções culturais dos negros, o preconceito poderá até ocasionar uma evasão ou mau rendimento da criança negra no espaço escolar.

Condizente com esta realidade, dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) (2010, p.8) destacam “[...] que uma criança negra entre 7 e 14 anos tem 30% mais chance de estar fora da escola do que uma criança branca na mesma faixa etária”, revela ainda que “das 530 mil crianças de 7 a 14 anos fora da escola, 330 mil são negras e 190 mil são brancas”. Percebe-se que desde a infância o racismo está tanto intrínseco quanto extrínseco na realidade do negro, direta ou indiretamente. Para tanto, no combate ao preconceito racial todo educador deve inovar suas metodologias a fim de proporcionar um estudo mais condizente com a proposta da lei acima mencionada.

Outro dado que releva esta diferenciação, está apresentada pelo Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana, com base em dados do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que

A partir da análise dos indicadores educacionais recentes, ao efetuarmos um corte étnico/racial, a desigualdade educacional demonstra-se perversa. Segundo o censo escolar de 2007 a distorção idade-série de brancos é de 33,1% na 1ª série e 54,7% na 8ª, enquanto a distorção idade-série de negros é

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de 52,3% na 1ª série e 78,7% na 8ª. Entre os jovens brancos de 16 anos, 70% haviam concluído o ensino fundamental obrigatório, enquanto que dos negros, apenas 30%. Entre as crianças brancas de 8 e 9 anos na escola, encontramos uma taxa de analfabetismo da ordem de 8%, enquanto que dentre as negras essa taxa é de 16% (PNAD/IBGE, 2007 apud BRASIL, 2004, p. 50)

Isso comprova a dificuldade de acesso e permanência à escola de acordo com as características de pele. Da mesma forma pode-se perceber esta exclusão do adulto como dificuldade para conseguir um emprego, agressões físicas e verbais, entre outros. Deste modo, é inquestionável a importância de trabalhar a igualdade racial no ensino fundamental, pois

O acesso às séries iniciais do Ensino Fundamental, praticamente universalizado no país, não se concretiza, para negros e negras, nas séries finais da educação básica. Há evidências de que processos discriminatórios operam nos sistemas de ensino, penalizando crianças, adolescentes, jovens e adultos negros, levando-os à evasão e ao fracasso, resultando no reduzido número de negros e negras que chegam ao ensino superior, cerca de 10% da população universitária do país. (BRASIL, 2004, p. 13)

Por diversos motivos como apelidos, imposição cultural, padronização estética, (auto) rejeição, entre outros, muitos estudantes negros não obtêm sucesso na vida escolar, como mostra que apenas 10% dessa população chega a universidade. Essa triste realidade tem de mudar. Neste sentido, tendo por objetivo analisar as práticas docentes em sala de aula nos anos iniciais este trabalho pauta-se em três categorias de análise: racismo, educação para as relações etnicorraciais e práticas docentes formativas no âmbito das relações etnicorraciais, que serão debatidas a seguir.

1.3 Racismo

Compreende-se por racismo uma ideologia “que afirma a superioridade racial de um grupo sobre outro” (SILVA, 2011 p. 75), uma imposição cultural. O racismo contra negros, arraigado no processo do tráfico negreiro é uma história com muitas lacunas. Partindo do processo de escravização do negro, vale salientar que

a chegada dos negros no Brasil foi por volta do século XVI - como vítimas do comércio de escravos que se desenvolveu na América até o século XVIII - chegando a constituir uma parcela importante da população, a que exercia as tarefas mais pesadas e ocupava o status social mais baixo. Grande parte da população negra foi obrigada a trabalhar nas propriedades rurais, inserindo-se num sistema patriarcal de produção rural. Inicialmente o índio foi muito

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usado como escravo, mais aos poucos a escravidão africana foi se ampliando e o tráfico negreiro se impôs. (NASCIMENTO, 2010, p.03)

Embora a autora use a expressão “escravidão africana”, a escravização se aplicou primeiramente aos índios, posteriormente aos africanos, e não ao continente africano como sugere a autora. Apesar de todo o preconceito, grande parte da população brasileira é oriunda da miscigenação entre brancos, negros e ameríndios. Mesmo assim, ainda é evidente o preconceito racial.

Devido à escravização, tráfico negreiro e outras submissões, as quais foram postas os negros, colocou-se isso, de forma análoga, ou seja, associando a aspectos relacionados ao conceito de pobre, negro, sujo, inferior e então surgiu o racismo propriamente dito. Racismo, “aprofunda-se na relação entre “raças”, entendidas com base nas características fenotípicas dos indivíduos e, portanto, nas marcas que carregamos no conjunto cor-corpo.” (SÃO PAULO, 2008, p. 39), essas características são o nariz chato, os lábios mais expressivos e o cabelo crespo. Pode-se afirmar ainda que racismo

é o ato de colocar uma pessoa em situação de inferioridade, subjugada, por causa de sua cor de pele ou etnia, em detrimento de outra que, por causa de sua situação racial, se autodenomina de “raça superior”. Trata-se do preconceito racial que sem dúvida é um dos grandes agente principal que tem causado à violência em nosso dia-a-dia. (NASCIMENTO, 2010, p. 02)

Quanto a essa violência vale afirmar que podem ser através de rejeição verbal ou não, discriminação, agressões, por exemplo. Bem como afirma Monica Schwartz (2001 apud JESUS, 2011, p.02), “[...] segundo a Constituição Brasileira de 1989, racismo é crime inafiançável como todos sabemos, mas persiste o apelido, seleção por entrevistas, currículos que pedem fotos”. São inúmeras as formas de preconceito e discriminação que rodeiam os negros. Ainda sobre o conceito de racismo, o Programa Nacional de Direitos Humanos ( 1998 apud SANT‟ANA, 2005, p.60) afirma ser este “[...] uma ideologia que postula a existência de hierarquia entre os grupos humanos”. Nesta perspectiva,

Racismo é a suposição de que há raças e, em seguida, a caracterização bio-genética de fenômenos puramente sociais e culturais. E também uma modalidade de dominação ou, antes, uma maneira de justificar a dominação de um grupo sobre outro, inspirada nas diferenças fenotípicas da nossa espécie. Ignorância e interesses combinados, como se vê. (SANTOS, 1990

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Pode-se afirmar que se argumenta uma raça diferenciada pelos seus traços biológicos e por isso são estigmatizados. Em seguida, que o racismo foi e é um método de dominação a ponto de inferiorizar o negro para se obter poder e mão de obra barata. Nesta perspectiva,

O racismo não é algo presente e sim, uma herança de um processo de mão-de-obra barata e exploração dos colonizadores sobre os colonizados. Pode-se perceber que existe uma relação muito próxima entre racismo e escravidão, baseados em interesses econômicos e sociais da população branca e européia que resultava em poder e superioridade. (NASCIMENTO, 2010, p. 02)

O racismo é herança de um processo de colonização portuguesa, mas é também algo fortemente presente sim, em todos os ambientes sociais. A negação da existência do racismo no Brasil revela interesses econômicos, sociais e culturais dos brancos que são considerados por muitos, ainda, superiores. Infelizmente é essa ideia de inferioridade e escravidão que é transmitida nas salas de aula e ocultamente perpassa a ideologia racista, muitas vezes formando mentes discriminatórias e medíocres.

No intuito de desmitificar e combater as diversas formas de racismo disserta-se a cerca da educação para as relações etnicorraciais.

1.4 Educação para as relações etnicorraciais

A educação escolar deve possibilitar aprendizagens, criatividade, desenvolvimento crítico, físico, emocional e cognitivo na perspectiva de formar cidadãos. A educação em si tem o poder de transformar mentes e pessoas. Neste sentido, a educação tem o poder de valorizar as diferenças entre as pessoas sejam estas religiosas, sexuais ou culturais. Relacionando-as ao que temos de comum entre todos. A diferença nos assemelha. O que temos de semelhante para com o outro é que somos diferentes entre os demais. Assim, deve-se fortalecer e/ou incentivar o respeito pelo outro, independente de suas características ou escolhas, pessoais e/ou do seu grupo. No que tange a educação para as relações etnicorraciais, observa-se que

Pedagogias e combate ao racismo e a discriminações elaboradas com o objetivo de educação das relações étnico/raciais positivas têm como objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência negra. Entre os negros, poderão oferecer conhecimentos e segurança para

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orgulharem-se da sua origem africana; para os brancos, poderão permitir que identifiquem as influências, a contribuição, a participação e a importância da história e da cultura dos negros no seu jeito de ser, viver, de se relacionar com as outras pessoas, notadamente as negras. (BRASIL, 2006, p. 238)

A valorização da história e cultura dos negros é inevitável para o reconhecimento da importância dos negros no nosso país, como também para alcançar a igualdade de deveres, direitos e oportunidades entre brancos e negros. Neste sentido, a Lei 10.639/03, que obriga o ensino de história e cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas necessita ser entendida enquanto

[...] uma política de ações afirmativas definida com um conjunto de políticas implementadas pelo Estado e dirigidas para o enfrentamento do racismo e das exclusões, como um mecanismo que busca a eqüidade de oportunidades, principalmente no acesso a bens fundamentais, como a educação e o acesso ao mercado de trabalho, e na busca pela realização da cidadania. (SÃO PAULO, 2008, p. 22)

O enfrentamento ao racismo não é algo fácil, a começar pelo fato de se desconsiderar a existência de racismo no Brasil, pois para muitos não há racismo neste país tão “democrático e igualitário” é notório que

Na escola, é um desafio desenvolver novos espaços pedagógicos que propiciem a valorização das múltiplas identidades que integram a identidade do povo brasileiro. Atualmente, mesmo percebendo várias mudanças, ainda ocorre o preconceito, principalmente no que se refere à postura da escola em relação às etnias raciais, apesar de importância e diversidade dos trabalhos sobre relações étnicas raciais e educação; ainda faltam muitos aspectos a serem descobertos. Diante da complexidade da realidade brasileira e da forma pela qual o racismo se expressa na escola, a inclusão clara, transparente e global ainda continua distante da realidade. (NEVES, 2008, p. 08)

Nossa riqueza cultural, diversificada e pluriétnica deve ser abordada na educação para as relações etnicorraciais, visto que, a valorização do negro é de suma importância para a formação de crianças e jovens brancos e negros que muitas vezes não percebem o preconceito racial o que favorece a perpetuação desse racismo velado ou explícito. São necessárias políticas de reparação histórica, tendo em vista, os prejuízos educacionais, econômicos, sociais, culturais sofridos pelos afro-brasileiros e africanos escravizados. Neste sentido,

Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros devem oferecer garantias a essa população de ingresso, permanência e sucesso na educação escolar, de valorização do patrimônio históricocultural afrobrasileiro, de

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aquisição das competências e dos conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade nos estudos, de condições para alcançar todos os requisitos tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como para atuar como cidadãos responsáveis e participantes, além de desempenharem com qualificação uma profissão. (NEVES, 2008, p. 11)

O acesso e permanência dos negros a escola, depende também da valorização dos aspectos ligados a história africana. No entanto a Lei 10.639/03 não propõe uma mudança de foco para o afrocentrismo, mas a disseminação do conhecimento sobre todas as culturas, origens e povos. Neste sentido, é necessário refletir sobre novas práticas pedagógicas no que tange a comunidade escolar, como aborda o tópico que segue.

1.5 Práticas formativas no âmbito das relações etnicorraciais

A escola é palco das grandes transformações sociais, sendo o professor o motivador direto destas. No que tange a formação de professores para o cumprimento da Lei 10.639/03, deverá gerar “discussões temáticas mais complexas, como identidade racial, de gênero e sexualidade, auto-estima da criança negra, resistência da comunidade negra brasileira e os modos de retransmitir as culturas africanas” (SÃO PAULO, 2008, p. 18). Neste sentido, as formações docentes deverão abordar as contribuições dos descendentes africanos de forma valorativa e abrangente, e não apenas o lado escravizado que não contribui para o sentimento de pertencimento do grupo. Assim sendo,

Para obter êxito, a escola e seus professores não podem improvisar. Têm que desfazer mentalidade racista e discriminadora secular, superando o etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnico-raciais e sociais, desalienando processos pedagógicos. Isto não pode ficar reduzido a palavras e a raciocínios desvinculados da experiência de ser inferiorizados vivida pelos negros, tampouco das baixas classificações que lhe são atribuídas nas escalas de desigualdades sociais, econômicas, educativas e políticas. (PARECER CNE/CP 003/2004, p.06)

Desfazer a mentalidade racista e discriminadora secular, essa é uma meta a alcançar. Esse objetivo deve iniciar pelo professor que por vezes preconiza o conhecimento, mas comete o erro, ficando apenas reduzido a palavras, sem ações que representem sua fala. São inúmeros os modos de praticar racismo, inclusive referir baixas classificações sociais, econômicas ou profissionais aos negros. A mudança deve

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começar já pelo educador, uma mudança como já diz este Parecer do Conselho Nacional de Educação acima citado, de desfazer a mentalidade racista e discriminadora secular que fomos remetidos. A respeito,

Vera Moreira Figueiras analisa também a postura do professor por ser ele aquele que transmite, a partir de sua condição de autoridade central na sala de aula, conceitos que serão absorvidos pelos alunos como conhecimento científico, conhecimento verdadeiro. Por tal motivo, estudar a formação do professor, no que toca a sua visão sobre o negro, é crucial para se perceberem que medida a escola está preparada para lidar com a questão racial. (SANT‟ANA, 2005, p. 55)

O professor tem o dever de educar para a vida, para isso sua formação deve ser fundamentada, primeiramente, no respeito ao ser humano. Logo, para a educação para as relações etnicorraciais, deve-se buscar bases pedagógicas para identificar e corrigir os estereótipos e o racismo velado, principal forma de manifestação do preconceito racial. Portanto,

desmontar os estereótipos possa vir a ser um dos objetivos específicos dos cursos de formação de professores, especialmente para os das séries iniciais, como uma das formas de visibilizar as diferentes práticas cotidianas, experiências e processos culturais, sem o estigma da desigualdade, colocando todos eles como parte do passado significativo, da tradição e do conhecimento universal. (SILVA, 2005, p.22)

Saber identificar e corrigir as formas de preconceito e discriminação dentro da escola deve estar em pauta nas formações continuadas como também nos cursos de formação de professores nas instituições de ensino superior do país. Para tanto, cabe aqui ressaltar alguns conceitos como estereótipos, discriminação e preconceito racial, a fim de contribuir com o trabalho do professor de modo a identificar a prática do racismo. De acordo com Silva (2005, p.24), “os estereótipos geram os preconceitos, que se constituem em um juízo prévio a uma ausência de real conhecimento do outro.” No caso do negro têm-se conceitos como primitivo, inferioridade, relacionados ao sexo, etc., que cultuam o juízo preconcebido desapropriado da verdadeira realidade. Isto dá início ao preconceito, que faz morada apenas no pensamento do indivíduo. Acredita-se que

Preconceito é uma opinião preestabelecida, que é imposta pelo meio, época e educação. Ele regula as relações de uma pessoa com a sociedade. Ao regular, ele permeia toda a sociedade, tornando-se uma espécie de mediador de todas as relações humanas. Ele pode ser definido, também, como uma indisposição,

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um julgamento prévio, negativo, que se faz de pessoas estigmatizadas por estereótipos. (SANT‟ANA, 2005, p.62)

O preconceito e os estereótipos estão intimamente ligados, visto que, dispensam conhecer o indivíduo do qual se trata, e quase sempre têm caráter negativo. No que se refere ao preconceito, revela-se que é

Quando uma pessoa está tão convencida de que os membros de determinado grupo são todos violentos e atrasados (ou, ao contrário, decentes, brilhantes e criativos), a ponto de não conseguir vê-los como indivíduos, e se nega a tomar conhecimento de evidências que refutam essa sua convicção, então, estamos diante de uma pessoa preconceituosa (BEATO, op. cit., p. 1 apud SANT‟ANA, 2005, p.62).

Neste caso há uma generalização do indivíduo ao grupo, no sentido de se uma pessoa é inteligente todo seu grupo social e étnico assim também o será. Um pouco mais sério que o preconceito é a discriminação, pois enquanto o preconceito atua mediante as idéias, a discriminação revela violência, ódio, ações que venham prejudicar o indivíduo discriminado. O Programa Nacional de Direitos Humanos corrobora com esta definição, sendo a discriminação

o nome que se dá para a conduta (ação ou omissão) que viola direitos das

pessoas com base em critérios injustificados e injustos, tais como a raça,o sexo, a idade, a opção religiosa e outros. A discriminação é algo assim como

a tradução prática, a exteriorização, a manifestação, a materialização do racismo, do preconceito e do estereótipo. Como o próprio nome diz, é uma ação (no sentido de fazer deixar fazer algo) que resulta em violação dos direitos. (apud SANT‟ANA, 2005, p. 63, grifos do autor)

A discriminação é o auge do preconceito, quando o preconceituoso sobrepõe sua ira, sua indignação de forma explícita e maldosa contra o negro, o homossexual, o ateu. Mesmo contra a lei, a discriminação ocorre rotineiramente por motivos egoístas e grotescos. No caso do negro ocorre a discriminação racial, que segundo a Organização das Nações Unidas (1966),

significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferências baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha como objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo ou exercício, em condições de igualdade, os direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, social ou cultural, ou em qualquer outro domínio da vida pública. (ONU, 1966 apud SANT‟ANA, 2005, p. 63)

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Portanto, o negro que sofre discriminação por sua cor ou origem pode ter seus direitos assegurados por lei prejudicados, e/ou até anulados. Infelizmente o preconceito e discriminação racial transcorrem também dentro da escola. Portanto, a implantação da história e cultura afrobrasileira deve estar nos currículos de nossas escolas e também na sala de aula. A lei está em vigor, todavia muitos professores não sabem como trabalhar a temática. Logo se sugere,

a) Incorporar os conteúdos previstos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana em todos os níveis, etapas e modalidades de todos os sistemas de ensino e das metas deste Plano na revisão do atual Plano Nacional de Educação (2001-2011), na construção do futuro PNE (2012-2022), como também na construção e revisão dos Planos Estaduais e Municipais de Educação; b) Criar Programas de Formação Continuada Presencial e à distância de Profissionais da Educação, com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2004, p. 31)

Além das formações, os documentos oficiais das Secretarias de Educação e da instituição de ensino podem e devem dar suporte teórico aos professores que sentem dificuldade em trabalhar a temática. Cabe ao professor se fundamentar e buscar apoio junto ao Projeto Político Pedagógico da escola, a respeito Lopes (2005, p. 190) revela que este “deve voltar-se, assim, para um trabalho continuado de valorização das pessoas, povos e nações, num combate permanente às idéias preconcebidas e às situações de racismo e discriminação com que nos defrontamos no dia-a-dia.”

Assim, percebe-se que a construção de estratégias educacionais dá suporte técnico aos educadores, como também faz parte da luta contra o racismo, seja o educador de cor branca ou negra. Educar para as relações etnicorraciais, valorizando as contribuições e a cultura negra em nossa sociedade, de modo que os estereótipos sejam vencidos e superados, e que seja possível usufruir da verdadeira igualdade racial com o respeito devido às diferenças. Realizada essa discussão neste capítulo, é necessário apresentar a metodologia utilizada na realização da pesquisa deste objeto monográfico como também os achados da pesquisa relativos ao próximo capítulo, que buscou compreender o modo como os professores dos anos Iniciais do Ensino Fundamental tem enfrentado o racismo na sala de aula.

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CAPÍTULO II - PREPARAÇÃO DOS PROFESSORES PARA O ENFRENTAMENTO AO RACISMO

Se o racismo, e os privilégios dos brancos são estruturais, as ações contra o racismo devem ser também estruturais. Racismo não é preconceito: racismo é preconceito mais poder. Se não forçarmos mudanças nas relações e posições de poder em nossa sociedade, estaremos reproduzindo o racismo que recebemos. Manifesto dos Brancos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul1

A educação enquanto formadora de cidadãos críticos e ativos da sociedade tem o poder de educar para a diversidade, e assim, valorizar as diferenças entre as pessoas sejam estas diferenças religiosas, culturais ou raciais. O preconceito racial é perceptível na imposição cultural, na referencialização por um determinado padrão estético, etc. A escola como espaço de transformações, deve educar para as relações etnicorraciais, fortalecendo entre negros e brancos estas relações. As formações de professores devem abordar discussões temáticas mais complexas acerca do tema, como as contribuições culturais, religiosas, artísticas de forma valorativa, a fim de desfazer a mentalidade racista e discriminadora secular na medida em que é reconhecido e superado o preconceito. É nesta perspectiva, que este capítulo discorrerá acerca da metodologia utilizada neste trabalho, como também as análises das questões suscitadas, a fim de compreender o modo pelo qual os professores tem enfrentado o racismo de forma educativa no ambiente em sala de aula do Ensino Fundamental Anos Iniciais, a luz de estudiosos da temática como Silva (2011), Munanga (2005), Brasil (2004)2.

A partir de estudos iniciais, vislumbrou-se uma diferença de tratamento ao longo da história, por conseguinte, as conseqüências dessa desigualdade racial e social, desenvolveram-se há bastante tempo. As conquistas em favor do negro, na sociedade, são perceptíveis, entretanto, não há igualdade plena ainda, de direitos entre brancos e

1

Disponível em: http://www.cedefes.org.br/afro_print.php?id=3368#

2 O Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação das

Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana é um documento que traz orientações acerca das competências que cabem a todos os níveis e modalidades educacionais, para a implementação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008.

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negros, como poderá ser visto ao longo deste trabalho. O sentimento de indignação pela desigualdade que ainda existe, em relação aos negros, gerou interesse em pesquisar e refletir, sobre a importância da educação na superação do racismo e seus estereótipos. Há então, a necessidade de mudança e avanço, dentro desse campo das relações etnicorracial. Para lembrar Paulo Freire (2000, p. 31), “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, pois a escola é por excelência, o espaço para refletir e formar pessoas conscientes de seus direitos e deveres. Nessa perspectiva da escola e sua função social, que a presente pesquisa buscou compreender os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, a fim de entender os seus anseios, suas propostas de participação, sua dignificação enquanto pessoa.

Portanto, esta pesquisa é quali-quantitativa com preponderância qualitativa. No que se refere à pesquisa qualitativa, busca fazer interpretações do objeto de estudo, de acordo com a realidade observada, sem se preocupar com quantificação de dados. A pesquisa qualitativa está mais para as relações humanas, visto que segundo Minayo (2001 apud SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009, p.32), “(...) trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.” O tratamento dos dados nesta abordagem se torna mais subjetivo, considerando as interpretações do pesquisador, mediante suas fontes bibliográficas e dados coletados. Por isso, “a pesquisa qualitativa é criticada por seu empirismo, pela subjetividade e pelo envolvimento emocional do pesquisador (MINAYO, 2001, apud SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009, p.32), sendo esta subjetividade a maior dificuldade para realizar a análise nesta abordagem.

Em contrapartida, a pesquisa quantitativa busca quantificar, numerar informações, classificá-las e analisá-las, bem como afirma Fonseca (2002, apud SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009, p.33), “A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc.” A coleta de dados foi realizada primeiramente mediante autorização dos entrevistados e das responsáveis pelas duas instituições de ensino. Aplicou-se a técnica de entrevista semiestruturada com doze questões3, instrumentada por um gravador de áudio, no local de trabalho de cada entrevistado, motivo que levou a pesquisadora a voltar nas escolas

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diversas vezes, pois os entrevistados apresentavam pouca disponibilidade de tempo, gerando um emprego maior de tempo, por parte da pesquisadora, para realizar a coleta de dados.

A entrevista constitui-se em uma técnica de coleta de dados proveniente da interação entre pesquisador e pesquisado. Neste caso, se utilizou a entrevista semiestruturada, conforme já mencionado, por ser um instrumento flexível que pode ser alterado mediante a necessidade do entrevistado ou do entrevistador, conforme apresenta Gerhardt et al, (2009, p. 72), “o pesquisador organiza um conjunto de questões (roteiro) sobre o tema que está sendo estudado, mas permite, e às vezes até incentiva, que o entrevistado fale livremente sobre assuntos que vão surgindo como desdobramentos do tema principal.” Isso pode ser constatado na interação com os respondentes por ocasião da coleta de dados, nas escolas lócus desse trabalho de investigação, quando por vezes os entrevistados não compreendiam a questão ou fugiam do tema, devido à entrevista ser flexível foi possível alterar o roteiro, oferecendo assim maior garantia de respostas. Entretanto, à entrevista semiestruturada é alvo de críticas por sua flexibilidade e pela autonomia que tem o entrevistador, podendo esta, influenciar na fala do pesquisado, por exemplo.

2.1 Lócus e sujeitos da pesquisa

Participaram desta pesquisa noves professores, sendo um do sexo masculino e oito do sexo feminino, de duas escolas públicas municipais da cidade de Cajazeiras – PB, que serão identificadas ficticiamente, como Escola Sol e Escola Lua. A Escola Sol atende 384 alunos nos turnos manhã, tarde e noite, nos níveis educação infantil, Ensino fundamental Anos Iniciais e EJA (5ª a 8ª série). Os discentes têm na faixa de 04 a 50 anos de idade, todos pertencentes à classe baixa renda. O corpo técnico administrativo é composto por 1 gestora, 2 vice-diretoras, 02 merendeiras, 03 auxiliares, 02 agentes administrativos, 02 vigilantes, 3 professoras readaptadas, 06 monitores de oficinas do Programa Mais Educação. O corpo docente compreende uma faixa etária de 29 a 54 anos, sendo composto por 16 professoras pós-graduadas e 02 professoras graduandas.

A Escola Lua atende um público de 280 discentes, de classe baixa renda, na faixa etária de 03 anos a 64 anos de idade, nos níveis Educação Infantil, Ensino Fundamental I, as modalidades de educação EJA (primeiro segmento) e Educação

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Inclusiva. A escola funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno. A gestora e a vice-diretora são funcionárias efetivas, indicadas pela assessoria do prefeito. A escola Lua tem um corpo docente com 09 professores, sendo 08 do sexo feminino e 01 do sexo masculino. Os docentes são graduados nas seguintes licenciaturas: Pedagogia, Geografia, Letras, História. Todos têm especialização, distribuídos nas seguintes áreas: Psicopedagogia, Metodologia do Ensino, Ecosol EJA, Gestão Escolar e Matemática. O corpo técnico administrativo da instituição é composto por 01 gestora, 01 vice-diretora, 01 coordenadora pedagógica, 01 agente administrativo, 02 cozinheiras, 01 vigilante e 03 auxiliares de serviços.

Quanto ao modo de nomeação da gestão, nas duas instituições pesquisadas, é realizada por indicação da Secretária de Educação do Município de Cajazeiras. Segundo a gestora da Escola Sol, essa escolha é feita a partir do cumprimento de requisitos como ser concursado, ter experiência de pelo menos 2 anos como docente em sala de aula e curso superior na área da educação. Em ambas as instituições de ensino ocorrem o planejamento e a formação continuada semanalmente, sendo em determinada semana o planejamento na escola e em outra semana, a formação continuada na Secretaria de Educação do Município. Todavia, vale ressaltar que, em nenhuma das duas escolas, há um projeto voltado diretamente para as questões etnicorraciais. Como também, nas investigações realizadas não foram encontrados vestígios de resultados alcançados, de avaliações processadas relativas ao projeto implementado. Tudo isso leva a crer que a temática relações etnicorraciais, não foi trabalhada fundantemente pelas escolas pesquisadas.

Os professores participantes da pesquisa têm na faixa de 29 a 58 anos, todos com mais de cinco anos de atuação em sala de aula, com as seguintes formações:

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Material de Pesquisa. Elaborado pela Autora. Ano: 2014.

Material de Pesquisa. Elaborado pela Autora. Ano: 2014.

Material de Pesquisa. Elaborado pela Autora. Ano: 2014.

A maioria dos docentes entrevistados tem graduação em Pedagogia, o que supõe que estes tenham conhecimento específico em Educação, desenvolvimento integral da criança, metodologias de ensino, didática, etc. Grande maioria também possui especialização nas áreas de Educação, porém nenhum dos docentes possui curso específico sobre diversidade, apenas uma professora participou de seminários acerca da diversidade etnicorracial.

Coletados os dados, se iniciou a transcrição das entrevistas, fase mais demorada do trabalho. Após as transcrições, “para que as informações possam ser adequadamente analisadas, faz-se necessário organizá-las, o que é feito mediante seu agrupamento em certo número de categorias” (GERHARDT et al, 2009, p. 81), que no

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caso desta produção as categorias foram educação para as relações etnicorraciais, racismo e práticas docentes formativas no âmbito das relações etnicorraciais4. O processo de categorização dos dados, que se organizou por tópicos da entrevista, apresentando cada questão e em seguida as respostas de todos os pesquisados referentes aquela determinada questão.

A partir deste momento, iniciou as análises dos dados, na interação entre

pesquisadora e orientador, considerando os objetivos específicos do trabalho que são discutir situações de racismo em sala de aula; investigar a preparação dos professores

frente ao necessário enfrentamento e refletir sobre a estrutura da escola em relação ao tratamento da educação para as relações étnicas raciais, sendo estes objetivos, sequencialmente, o norte para o desenvolvimento de cada capítulo deste trabalho. Portanto, tem-se a seguir as análises da presente pesquisa à luz de estudiosos como Silva (2011), Munanga (2005), Brasil (2004) entre outros.

2.2 Exposição e análise dos dados

Sem dúvida, o corpo da Lei 10.639/03 suscita questões de suma importância para a reestruturação das relações etnicorraciais, entretanto durante a pesquisa notou-se que apenas 44,44% da amostra têm conhecimento da referida Lei. Nesse momento, cabe enfatizar a “dependência” dos professores (ou da escola) no que tange a Universidade como meio de pesquisa, formação e extensão. Como afirma a Professora A, acerca o conhecimento sobre a Lei 10.639/03,

“eu só tenho por causa da Universidade, e só, porque assim, para dizer assim, exato... exato a gente não sabe, não!” [Entrevista em 17/11/2014]

Observa-se uma dependência de vínculo com a universidade, tornando-se viável a expansão deste caráter de pesquisa, de autoformação e aperfeiçoamento que se tem dessa instituição para outros campos por excelência do saber, como, por exemplo, o do aprendizado a partir da própria prática docente elucidada por mecanismos de pesquisas e de reflexões sobre e na própria prática.

Já a Professora H afirma,

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“Acredito que seja relacionada às questões que devem ser acrescidas em termos de estudo, um aditivo a legislação LDB para nós termos efetivamente em prática o trabalho com as questões de ordem etnia e culturas.” [Entrevista em 18/11/2014]

Mediante a expressão da Professora H, sente-se a necessidade de esclarecer

alguns conceitos como raça, etnia e racialização, que muitas vezes são interpretados erroneamente. Observa-se que a Professora H usa o termo etnia para fugir do termo raça, pois muitos indivíduos o “substituem pelo conceito de etnia considerado como um lexical mais cômodo que o de raça, em termos de „fala politicamente correta‟” (MUNANGA, 2003, p. 06). Em sua fala evasiva, percebe-se a necessidade de compreender a palavra etnia para empregá-la conscientemente. A palavra etnia faz referência a um conjunto de indivíduos que, “têm um ancestral comum; têm uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo território.” (MUNANGA, 2003, p. 06). Etnia, quer dizer um grupo distinto com costumes, religião, língua, que dividem o mesmo espaço, como os índios, por exemplo. Etnia e raça são termos que muitos desconhecem a diferença, e como pode ser visto. O termo etnia pode ser usado para disfarçar o preconceito. Então, vale ressaltar essa diferenciação, a partir da conceituação de raça.

A classificação entendida por “raça” ocorreu no fim do século XVIII aos meados do século XIX, quando a cor da pele e os traços físicos como o nariz, lábios, queixo, etc., foram considerados critérios fundamentais para tal distinção entre indivíduos humanos. Assim, se disseminou a consagração da “raça branca” enquanto superior. Entretanto, no século XX, geneticistas humanos “chegaram a conclusão de que a raça não é uma realidade biológica, mas sim apenas um conceito aliás cientificamente inoperante para explicar a diversidade humana e para dividi-la em raças estancas. Ou seja, biológica e cientificamente, as raças não existem.” (MUNANGA, 2003, p. 02-03). Muito embora essa teoria tenha sido recontada, o entendimento da existência de raças ainda existe na mentalidade de muitas pessoas, como é o caso da Professora G, quando afirma:

“Eu trabalho na minha sala assim, a questão de quebrar o preconceito na questão de raça, de cor.” [Entrevista em 17/11/2014]

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