SALVAR
OS FENÔMENOSEnvío
wbre
a noção de teoria física de Platão a Galileo 636. Do Prefdcb de Osiander à
reþrma
gegoriana do calendtírioO próprio
livro
onde Copérnico expunha sua teoria astronômica publicava, sobre as hipóteses que fundamentam essa teoria, idéias absolutamente opostas às que parecem haver inspirado Copémico eRlneticus.
Defato,
esselivro
iniciava-se por um pretãcio anônimo que trazia o seguintetítuIo:
Ad
lectorern de hypothesibuslwiw
Operis*."Eu
nãoduvido
-
duia ese
prefácio-
que a fama já tenha espalhado a novida-de da hipotese admitida nesta obra, hipótese segundo a qual a Terra está emmo-vimento
enquantoo
Sol
permanece imóvelno
centrodo
Mundo; também nâ-oduvido que certos eruditos se tenham ofendido veementemente, e tenham
consi-derado errado
perturbar
as disciplinas liberais
há muito tempo
firmementeestabelecidas.
No
entanto, se eles quiserem pesar seu julgamento de forma exata,descobrirão
que
o
autor
destaObra
não
cometeu coisa
algumaque
mereça censufa."De fato,
o
objeto próprio
do astrônomo consiste em coordenar a história dosmovimentos celestes
com'a
ajudade
observaçõesdiligente e
habilidosamenteconduzidas, Depois, como
nenhum raciocínio
lhe
permite atingir
as causÍrs ouhipóteses
verdadeiras dessesmovimentos,
ele
concebe
e
imagina
hipótesesquaisquer,
de
tal
modo
que, uma vez
supostastais
hipóteses, esses mesmosmoyimentos
posam
ser
calculados exatamente,por meio
dos princípios
daGeometria,
tanto
parao
passado quanto parao
futuro.
. .. Não é necessiírio que essas hipóteses sejam verdadeiras; nem mesmo que sejam plausíveis;basta que ocálculo
por
elasconduzido
concorde com as observaçÕes (Neque enim neceseest, eas hypotheses esse vetas,
irno
ne ttertsimilesquiderh
sd
sufficit
hocutum,
si colcuhtm observationibus congntententexhibunt).
. . É bem evidente que essa ciência ignora pura e simplesmente as causas das irregularidades dos movimentos aparentes. As causasfictícias
que ela concebe são, em geral, concebidas como seela as conhecesse
com
cetteza;jamais,no
entanto, ela as concebe para persuadir.
quem quer que seja que assim é na realidade, mas unicamente parainstituir
umcálculo exato.
Pode acontecer que hipóteses diferentes ocorrama
quem querdar conta de um
único e
mesmomovimento;
tal é
o
casodo
excêntrico e doepiciclo
nateoria do
movimentodo
Sol; então,o
astrônomo tomará, deprefe-rência, a hipótese mais
fácil
de
ser entendida, enquantoque
talvezo
fìlósofo procure emprimeiro
lugar averosimilhança;
mas nenhum dos dois poderáfor-mular
nem conceber a menor certeza, a menos que tenha recebido uma revelaçãodivina.
.
Que ninguém
espereda
Astronomia
qualquer ensinamento segurosob¡e essas hipóteses; ela nâ'o poderia fornecê-lo. Precavenha-se
de tomar
porverdadeiras suposições
que foram
concebidas paraum outro
uso;pois,
senã'o, longede
erguer-seà
Ciência astronômica, afastar-se-ia dela, mais ignorante do que antes."I.lota do tradutor
-
Uma tradução do heflicio dc Osiande¡foi
publicada nos Cadernos cleNicolasMtiùler,queem1617lançaaterceirae<liçãodolivrodeCopernico,l!i:T.
encontradas rLo Almagesto '
A
essaaproxr-olas
Mii{ler
poderiater
adicionado muitasao
livro
þbre
as revofuções transmite tãorroístas e os ptolemaicos italianos'
Copérni-época,
foi
recuperado,,incompleto,
entrtpirblicado por C. Frischa.
I-ogoretornaremosaessedebateentreRyrnereKepler;nomomento,fixar.nosæmos
lectorem que Preced"J:fllo:ïå3'Ñft'å
.lirigiu
alguns de seus prefácios, em um exKepler
procura mostrar então queo
przrbrrs ãpós a morte do
autor'
não exprimenem
nrcsmoo
de
Osiander'Em
seu escandttra, seu sentimento sobre as
hi
que
o
aparente absurdo dessas hiP2 ".licol¿s R scu systenúte tarunL contra <Iam subtilissin 3
Johunn Kcpler, ApobgÌa Tyctanis cttntra Nicol¿unt Raymantm Ursuttt'
aJolrann Keplcr, Opera omniø,cdirJit Ch. Frisch' Frankfurt am Main ct Erlangen' 1858'
t' l'p'
215.sKepler, OPera,l.
l,P'
245'SALVAR
OS FENÔMENOSEnvio
sobre arcçfu
de tæria física de Platõo a Gatileo 65losofam (vulgus
phibvphant¡t¿m);
considerou prudente atenuaro
escândalo que pre' via; daí a idéia de antepor esse céleb¡e prefácio aolivro
Sobre asrevofuções.Para apoiar suas afrmações, Kepler cita duas cartas de Osiander.
No dia 20 de abril de 1541, este escrevia a Copémico:
"Eis
o
que sempre pensei sobre as hipóteses: elasnÍo
são artigos de fé, são ape-nas os fundamentos docílculo;
sefosem
falsasiso
pouco importaria, desde que reproduzissem exatamente osçawó¡'eva
dos movimentos (De hypothesibus ego sic sensi semper,non
essearticabs
lidei
sed fundamentacakuli,
ita
ut
etamsifalw
sint, modo motuumgawó¡teva
exacte exhibeant,níhilrefaat).
"Se,
por
exemplo,
seguimos as hipótesesde
Ptolomeu, quem
poderá nos assegurar seo
movinrentoirregular
do
Sol é produzido emvirtude do
epicicloou
emvirtude
do
excêntrico,já
que
pode ser igualmenteproduzido por
qual-quer
um
dessesdois
procedimentos? Parecer-me-ia razoável que em vossopre-fácio
vós colocásseis uma palavra sobre essa questâo;apaziguaríeis, assim, os pe-ripatéticos e os teólogos de quem temeis a oposição."No mesmo dia, Osiander escrevia a Rhaeticus
"Os
peripatéticose
os
teólogos serãofacilmente
apaziguados selhes
for
feito
entender que hipóteses diferentes podem conesponder a um mesmo movimentoaparente; que elas nâ'o sejam dadas como expresão certa da realidade, mas como
um meio de dirigir
da forma
mais cômodaposível o
cálculo
do
movimentoaparente e composto; que diversos autores podem conceber diferentes hipóteses;
que este pode
propor
uma representaçÍio bem adaptada, aquele umarepresenta-ção
maisbem
adaptadaainda,
e
que,
no
entanto,
essasduæ
representaçõesgerem
o
mesmo movimento aparente; que cadaum
deve ser deixadolivre
paraprocurar
hipóteses mais cômodasdo
que asque
sÍio aceitas; que devemos até ser gratos àqueles que empreendem os esforços nesse sentido..."Por
essas citações, emboratão
preciosas,Kepler
nâ'oprovou uma
parte daquilo que havia anunciado; vemos,de
fato,
que, colocando seu famoso prefäciono início
dotratado
þbre
as revolu@es celestes, Osiander contrariava as intenções realistas deCopérnico e de Rhaeticus, e isso
já
nostinha
sido assegurado pela leitura dos escritos desses dois autores; mas não vemos deforma
alguma que Osiander tenha dissimulado seupróprio
pensamento,por um
subterfúgio destinado a enganar os peripatéticos e os teólogos;pelo
contrário,
ele manifestanitidamente em
sua cartaa
Copérnico estar hámuito tempo
convencido da doutrina queiria
publicar dois anos mais tarde nocéle-bre
haefatio
ad,lectorem;
ele observamuito justamente
queesa doutrina tonÌa
vãtoda objeçã'o dirigida contra esse
ou
aquele sistema de hipóteses astronômicas emno-me da Cosmologia ou da Revelação; mas nada nos autoriza a pensar que sejaardiloso com suas próprias convicções para obter tal vantagem.
O
sentimento
de
Osiander sobre as hipóteses astronômicasem
geral,e
sobre asdirige, de
louvain,
uma carta a Dantiscus?. Nessa carta, o célebre astrônomo holandês.*p-ri*-t.
em relação a Copémico nos seguintes termos:"Não inicio
nenhuma disputa sobre as ção;pou tenh
e das durações desses movimentos, e qu culo exato.n
de CoPernico aquilo que os do
Almryato.
EssashiPote
las astronômicas e deefemé-å""i'#'.;,ï"iäTi:lliH,:"å"ffi
ä:ä
realid ad e dessas hiPóteses.
Encontramos
o
,*r*fto
mais notável dæse estado de espírito ao estudar os escritos de Erasmo Reinhold.Erasmo
Reinhold
de Saalfeld escreveu emrilittemberg
suaprimeira
obraE,um
co-Milichius.
ComonotaMelarrchthonnesseprefácio,aobraTeoñasdosplanetasdePeurbach
é
uma introdução ao
sistemaastroiômico
doAtmtgæto;
ela apresenta esse sistemasob
uma formá sintética
ededutiva;
as hipóteses são supostasdeinício,
e, então setira
por
método geométrico a explicação dós fenômenos; Melanchthon caracteriza ese*¡tô¿o
dizendo que Peurbach procede de acordo comrò
Dr¿'- Esse método
di
exposiçeo éoposto
ao
por vra
arialltica
e indutiva; discutó osfenômenos
ses quep.""itite"
,rprrr.ítá'los;
Reinholdcaract'
que eleõpoe a
rò
ört.E
escreve a respeito da teoria daI¡a:
,.Vós vedes
o
6rón
destaparte da Astronomia,
e
com que
sutilez4
com
quehabilidade, Ptolomeu deseÑolve a pesquisa das
cøtvs
desses gctuo¡tëvotv,
por meio deobsewa$es."
?Cit"do por Leopold Prowe, Niælaus Copernicus, Bd. I, II. Theil, Bølin' 1883' p. 184'
SALVAROS
FE.NÔMENOSEnsb
sobre a noçdo detøria
físicn de Platão a Galileo67
nentes e daí deduz as características do movimento resultante.
A
exatidão dessa interpretaçÍio aparecerá, sem contestação possível, se percorrermoso
prefácio com que Reinhold encabeça seu comentário àsTeoriøs dospløetas.
"São
extremamente variadosos movimentos
e
aS aparênciæ celestesque
os Gregos denominamgawð¡t
e,rr;
assim, os astrônomos consagralam minuciososcuidados, dedicaram longas
vigíliæ
e penosos trabalhos para pesquisaÍ ascausas dessas aparênciastão
diferentes. .causas das apar6ncias
tão
yariadæ os sábios astrônomos assumirÍrm omonia perpétua através da variedade e aparente irregularidade de seus movimen'
tos.
Mas, para nós, se nãofôsemos
socorridospor
todos esges orbes, Ser'nos'iaextremaménte
difícil
abarcar em nossoespírito,
de uma maneira racional, essetipo
de harmonia na irregularidade, e de segui'la em nossas meditações."O pensamento de Reinhold vem aqui ao encontro do expresso por
hoclos:
o único movimento real é o movimento complexo e não decomposto que cada astro manifesta; dS revoluções sobre os excêntricos e epiciclos nas quais esse movimento é decompostopela Astronomia de
Ptolomeu não passamde
artifícios
destinados anos
facilitar
o estudo do movimento resultante.Se esses
movimentos
componentesnfo
po35uem realidade alguma, Se são purosartiflcios,
simples procedimentosde
raciocínio
e
de
cálculo, eles são essencialmente variáveise
aperfeiçoiíveis. Nada impede que ascaßas
propostaspor
Ptolomeu sejamte curiosidade.
Em
seu prefácio, apóster feito
o
leitor
admirar a engenhosidade demonstradapor
,,Tenho notícia
de um
sábio modemo,
excepcionalmentehábi'
(querulam uma viva exPecta' Publicação de seus em todas as Partes; atribui
à Lua um epiciclo de epiciclos..
,"
Mais
adiante, quandovai
tratar
da
precessão dos equinócios,Reinhold
escrevee:"Há
muito
tempo essæ ciênciæagu
efgueros estudos
qu,
àrcur*,
erecolocá-l
enfìmda Prússia esse astrônomo
cujo
gêni
poste'ridade. .
."
nomos o uso das teoriæ de Copérnico.
Além
disso,
a
impaciênciacom a qual
Reinhold havia
aguardadoesas
teoriæ certamente nãohavif
levadoa
uma decepção;o
astlônomo
delilittemberg
derrama declara@es entusiásticas sobre as invenções do astrônomo deThom:
,'Toda
a posteridade-
lê-se naintroduçäo
àshtttenicæ
tabulærI
-
ælebrarácom
reconhecimentoo
nome de Copémico.A
ciência dos movimentos celestes'
estava quaseem
ruínas;
foi
restaurada pelos estudose
trabalhos desse autor.A
bondãde de Deus acendeu nele uma grandeluz,
e assim ele descobriu eexpli'
cou
um
grandenúmero de
coisæ que, até nosspsdiæ,
permaneciam ignoradas e obscuras."Seria
fácil
acreditar
que
o
autor
desses elogios,anteriormente
um
ptolemaicoconvicto,
tomara-setrm
copemicano entuSiæta. Se entendéSemospor
issoque
eleadmira a simplicidade e comodidade das construções geométricas propostæ pelo novo
9R"inhold, Tlrcoricae novae planetantm. De motu octavae sphacrac; prefácio, próximo ao tìnal.
to¡,rurau,
Rcinhold,hutenicæ
tabulæwlestium
nntuunt
auto¡e E¡asmo Reinholdo' Wiltcbcrgæ, 1551.llErur¡¡us
Rcinhold, Lagistice scrupubrumastûtþmicorun
aulhore Erasmo Rcinholdo Salvcldensi. Wittebergæ, 1551. Praeccpta calculi motuum coelcstitrm XXI.SALTUROS
FENOLITìNOSEnvío
sobre anoçfu
de tæría física de PIøtão a Galileo 69sistema, e
que
ele ascré
maisbem
adaptadasao
c'álculo do que as combinações daSintøxe rnstemdticø (Almagesto), então não
lhe
poderia ser recusado otítulo
de fìel discípulo de Copérnico. Mas cremos que seria temenírioconcluir daí
que ele acredita realnrenteno
movimentodaTerrae
no repouso do Sol.AsTabulæprutenicæ
parecemtratar
essas hipóteses apenas comoartifícios
geométricos próprios à construçâo deta-belas,
e
de natureza semelhante aosartifícios
de Ptolomeu.
Citemos,por
exemplo,esta pæsageml 2:
"Deve-se saber que o movimento diário de um planeta é a soma de duas partes;a
primeira
é o
movimento verdadei¡odo
epiciclo,
quc
Copérnico denornina, às vezes,de
movimentoda
Terra,e,
outras vezes, demovimento
aparente Q¡uemhpemians
alias Tenæ, alías visummotum
. .nominat);a
outra éo
movimento verdadeiro,do
qualo
planeta é propriamente animado,tal
comoo
movimento sobrea
circunferênciado
epiciclo,
segundo as hipóteses usuais de Ptolomeu."Em toda a
obra
de
Reinhold,s
uma palavrø poderia fazer pensar queo
autoratribui
alguma realidade às hipoteses ætronómicas. A, Logistice scrupulorum asttotto-mícorum que sewe de introduçflo às Prutenicæ tabulæ começa por um pretäcio enr quc lemos:"A
astronomianão
pode ser construídae
aperfeiçoada senâ-ocom
a ajuda de duas ciências qucsio
como seus instrumentos, a saber, a Geometria e aAritmé-tica...
A
Geometria desempenha um duplo papel na constituição da Astronomia; emprimeiro lugar, ela
propõe hipóteses que concordam com as anomalias das revoluções; depois, paraque a
ciência, reduzida a números,posa
ser semprefacilmente empregada nos usos da vida, ela nos dá esse modo de c;Ílculo s¡íbio e
perfeito
denominadoTrigonometria...
A
Geometria dirige,
portanto,
as duaspartes
da
Astronomia, das quaisa
primeiraé
a0eapr¡rr¡4,
que subordina aconsideração dos movimentos a
hiþteses
certas (certis hypothesibus), enquantoque a segunda,, a
flotr¡r
tX4,
com uma habilidade e uma engenhosidadeadminí-veis, reduz
os
movimentosdæ
estrelas a tabelas uuméricas, ou, através dessas,'a
instntmentos exøtos (certaintrumenta)."
Que sentido deve ser
atribuído
a estas palavras: "hipóteses certas" (certæhypotlte-ses),
empregadasaqui
por
Reinhold?
Devemos interpretá-lascomo
sinônimas de:hipóteses fisicamente verdadeiras, conformes
com a
natureza das coisas? Parece quetoda
a obra de Reinhold protesta contra essa interpretação. Assim como somosobri-gados
a
traduzir,
algumaslinhas
abaixo,
"certo instrumenta"
por
"instrumentosexatos",
nÍo
convém considerar as palavras certæ hypotheses como significando sim-plesmente hipóteses exatas?Tudo,
aliás, nos conduz a ver em Reinhold um sábio quepratica a opinião formulada por Osiander sobre as hipóteses astronomicas.
É
evidenteque
Osiander, Frisiuse
Reinhold
na:o eramos
únicosque
pensavam dessa forma, entre os astrônomos de sua época; Reinhold, em particular, lecionava nar 2
Universidade de Wittemberg
com
Melanchthon; sob ainfluência
desses dois mestres,formou-se uma plêiade de discípulos que partilhavam das opiniões de seus professores
celebmndus.
Não será surpreendente que Peucer fale das hipóteses astronômicas como Reinhold
o
fazia.Seu
liwo
é
consagrado quæe exclusivamenteao
estudo doou
movimentodiário;o
seu plano é quase idêntico ao da Esferu deo
estudodo
movimento
dos móveß segundos,ou
seja, dos astroà
Tæria
dos plønetøs; referem-sea
ele
apenas algumas palavras mas duæ últimaspáginas do
livro:
"Os
móveis segundos-
diz
Peucer-
eos
segundos movimentos,que
sã'o osmovimentos
da
oitava
esferae
dos sete
astros arrantes, apresentam grandesdiferenças
e
umamúltipla
variedadeque
se manifestam pelos garzd¡r €rla e as ob servações desses fenô menos.'
"As
obsewações nos convencem que essa divenidade eesa
variedade sã'o en' contradasno
movimentosde
cadaum
desses astros; mas também nos ensinamque elas se reproduzem segundo uma
lei fixa
e imutável. É, portanto, certo que sempre corresponde ao movimento de cada um dos orbes um determinadoperío-r 3A¡iel Bicard, Qwestioncs novae in lihellutn tle Sphaera loannis de Saoo Bosæ, itt gmtiant studiosae iuventutis collectae ab Aricle Bicardo, et nunc denuo reatgnitae, figuris mathemoticis ac tabt¿lís ill1stratae, quae
in
relîquís editittibus ø.ntehac desidcrabantw. Paúsiis, apud Gulielmum Cavcllat, in pingui gallina, cx advcrso collcgü Carncraccnsis, 1552. O prcfácio,semdúvidacontcm-porônco da primcira cdição, é datado dc 1549.raqicard,Quaestiones novae.
Quacstioncs
in
quartum librum Sphacrac; prior pars lib¡i; 1. Dc numcro orbiunr Solis;fol. 70, vcrso.lsKarpur
Peucer, Elentettta <loctrinæ de circulis ælestibt¿s, et
ptitrþ
Ìttotu, re@çn¡ta et cot-recta. Autore Casparo Peucero. trVittebcrgæ cxcudebat lohannes Crato, 1553. A primcira edição, quc não pudcmos consultar, é de 1551.SALVAROS
FENÔMENOSEnsaio sobre a
noçfu
detæria
físiu
de Platdo a Galileo7t
do, ao
fim
do
qual essa revolução se completa. Para que nada reste de irregular nos movimentos celestes, os astrônomos salvameses
gatud¡r€uo,
uns com aajuda de certas hipóteses, outros com a ajuda de outræ (salvant hæc
çawó¡teva
alä
alíis hypothesibus constitutis); admitem excêntricos e epiciclos mais numero-sos ou menos numerosos; apartir
dessæ hipoteses, constroem demonstrações pormeio das quais mostram as caus¿ili dessa variedade. Os tratados dos
Tqtrtcos.
. .expõem e desenvolvem essas hipóteses."
Essa
é
exatamentea
linguagemde um
homem que
nâ'o consideraæ
hipótesesastronômicas
como
expressõesde
realidades,que
as
toma
apenascomo
artifícios próprios paravlvt
osfenômerns.
Embora Peucer só faça alusão às hipoteses imitadas do sistema de Ptolomeu na pas-sagem
que
acabamosde citar,
é
plausívelque também
aceitassede bom
grado ashipóteses
de
Copémico, desdeque
elas salvassem mais exatamenteos
tpvó¡eva
.Apenas essa disposição de
espírito
pode explicar a admiração que ele demonstra por Copérnico, que,por
sua vez, é medida pela importrîncia que Peuceratribui
às circuns-tâncias relativas a Copérnico, halista
cronológica dos astrônomos,llue
abre seulivro;
ele
toma o
cuidadode
ensinar-nosque "Nicholas
Copernicus deThom,
cônego deWarmia, nasceu
no
anode
1473,no dia
19
de fevereiro, às4horas
e
18minutos";
faz figurar em
sualista
o
nome
do
muito
medfocre Domenico Maria Novara
deBologna, adicionando a esse nome a menção:
"Copérnico
foi
seuauxiliar
eouvinte."
Além
disso, Peucer toma vários empréstimos à obra de Copémico, tais como adefini-ção exata da duração
do
dia e a avaliação do tamanho da Lua. Por todas essasobserva-ções,
é
visível que
Peucercompartilha
completamenteæ
opiniões
de
seu mestre Erasmus Reinhold sobre as hipóteses astronômicas.Parece,
no
entanto,
que se pode ttazero
testemunho de certostextos
contra essa conclusão.Além
decompor
os Elementosda doutrina dos
círailos
celestes, Kaspar Peucer escreveu aindaum
pequenolivto:
Sobre adimenúo
daTenar
6. Nessa obra, Peucer se.exprime
nos seguintes termosl?
sobre ashiSteses
em que se baseia a medida da Terra:"Antes
de
abordar as questões que nos propomostratar,
é preciso que estabe-leçamos hipóteses; é preciso que declaremos que essas hipóteses não säo falsas, que nâ'oforam
imaginadæ arbitrariamente parao
uso que delas queremos fazer, mas que concordam com as próprias coisas; elæ foram, inicialmente, descobertassob a direção e
o
ensino da experiência; foram, depois, tornadæ seguras e prova-1óKorpo, Pcuccr, De d.imcnsbne Tenæet
geometrice mtmerand.is locontm pøtianhrium intenallis ex doctrína triangubrum splnericorum et canone subtensarum líber, dcnuo cditus, scdauctius multo
et
corcctius quon antea, Autorc Gsparo Pcuccro.-
Descriptio lomru¡n Terræ Sancte acactissíma, autore quodam B¡ocardo N{onocho.-
Alíquot insignium locorum Terræ Sønctæ explicatio et historiæ per Philippum Mclanthoncm. Wittcbcrgæ, 1553.1tP"u.ar,
De dímensbne Tenae.Dehypothcsibus, quas ut cxploratas ct demonstratas scqucnti doctrinæ præmittimus, p. L7-23,
das
por
demonstraçõ'es.É
extremamenteimportante
que a verdad e ea
certeza dessas hipóteses sejam estabelecidasde uma
maneira segurae
detalhada; comefeito,
se são duvidosas, ambíguæou
incertas, a verdade detudo
aquilo que éconstruído
sobre esses fundamentosé
abalada, desmorona,ou
encontra-se em pengo. . ."Deve-se,
portanto,
desdeo
princípio,
considerar as duæ hipóteses seguintes como verdadei¡as, firmes e certas. . ."Em
primeiro lugar, a Tetra, com
as dguæque a
cercame
penetram, .forma um globo único.
"Em
segundolugar,
a
altura
das mais elevadas montanhas..
.
é de pequenaimportância em relação às dimensões do
globo."
Essa linguagem
não
afìrmao
rnais intransigente realismo a respeito das hipóteses?Não
é
umaréplica fo¡mal
às afirmações que Osiander havia inseridono
prefäcio dos Seisliwos
nbre
as revoht@est. Embora,na carta
dedicatória que precede seulivro,
Peucercite
elogiosamenteo
nome de Erærnus Reinhold, não parece que ele se afastanitidamente
do
pensamentode
seu mestre (pensamento queAriel
Bicard havia ado' tado, e que o proprio Peucer pareciaadmitir
em seus Elementos da doutrinø das esfems celestes)?A
carta dedicatória
é
dirigida
ao
fi1hode Joachim
Rhaeticus; seria paraagradá-lo
que
Peucer parecerivalizar
em realismocom
o
autor
dt
Nanatb Pimat
A
aparente contradição das posições mantidæ sucessivamentepor
Peucer em suas duas obras se desfaz se levarmos em conta certas opiniões que eramadmitidæ
quase universalmente em meados do séculoXVI.
Inicialmente,
é
preciso concederum ponto ao
discípulo de
Erasmus Reinhold: æ duas hipóteses que ele coloca como base de sua Geografia nâ-o são de forma algumaficções imaginadas
com
o único
proposito
de
salvaros
fenômenos; são proposiçÕesque
pretendemde fato
concordarcom
a realidade concreta, que possuem a ambiçãode
ser
consideradas verdadeiras. Peucer,portanto, não
presumiu
demais sobre assuposições fundamentais
da
Geografìa,ao exigir que fosem
verdadeiras,que
esti-vessem de aco¡do com a natureza das coisas.Poderá ele, agora, sem
incorrer
em censura de ilogismo, renunciar a essa exigênciapara
favorecer as hipóteses astronômicas?Não
o
duvidaremos senos
lembrarmosdos princípios que foram
formuladastão
claramentepor hoclos, por
Maimonides,por
Iæfèvred'Etaples
e
que,
de
uma
maneira maisou
menosexplícita, dirigem
aEscola
de
Wittemberg:
a
naturezados
corpos sublunaresnlo
escapaao
alcance denossa
inteligência;
portanto,
podemos fundamentar
a
Física
dessescorpos
sobreproposições verdadeiras, correspondentes
às
realidades.Pelo contrário,
a
nalurezt
da
essência celeste ultrapassa nossa compreensão;portanto,
é
impossível para nósdeduzir
os
movimentosdos
astrosa partir de
princípios exatos;
apenas podemosfundamentar a Astronomia sobre hipóteses
ficticias,
que nâ'o possuemoutro
objetivosenão salva¡ os fenômenos.
A
opiniao
professadapelos
astrônomosde
Wittemberg,
em
meadosdo
Sculo
XVI,
sobre as hipótesesque
sustentam sua ciência, parece-nos perfeitamentehomo-gênea;
todos
elesse
associaramà
doutrina que
Andreas Osia¡rder havia formulado em seu célebre prefácio. O testemunho deMela¡chthon logo
nos mostrará que, nessaSALVAR
OS FENOMENOSEnvb
sobre a noção detøria
flsìca dePlattu
a Galileo 73mesma universidade de Wittemberg, os teólogos pensavam exatamente como os astrô-nomos.
Essas opiniões nâ'o
eram
apan:ígioexclusivo da
Escolade
Wittemberg; nós
asreencontramos em Nüremberg,
com
Sch¡eckenfudrs,e
em Basiléia, com Wursteisen.Percorramos,
por
exemplo,
os
volumososØmentffios
às novastærias
dos plø-netasde
Georyde
Peurbach, publicadospor
Erasmus Ostwald Sdrreckenfuchs em 15561E;
ouviremos
esseautor falar
das hipóteses astronômicas aproximadamentecomo o teriam
feito
Proclos ou Simplicios.Ele
assumeem
princípiot
n qu.
os
movimentosdos
corpos
celestes devem ser reduzidos a movimentos circulares e unif'ormes. Dirigidos por esseprincípio,
'5.
.
.
os
antþos,
desejososde
snlvar as apøências das estrelas ertantes,atri-buíram
a cada uma delas vários movimentos; cadaum
desses movimentos,con-siderado isoladamente,
é
uniforme
e
sempredirigido
no
mesmo sentido; mas,pela
composiçãode
todos eses
movimentos, obtém-seum
movimento
varia'do.
.
.
Asim,
se manifesta que a única intenção da doutrina dasTeorias é salvaras
ûptêncùß
dos ætros
eriantese suprimir
toda
irregularidadede
seusmovi'
mentos,"Mais
adiante,
Sch¡eckenfuchs,inspirando'se
em
Mela¡rchthon
e
Reinhold,
faznotar20 que Peurbach, na seqüência de suæ demonstrações, procedeu segundo
rò
'cirt enquanto que Ptolomeu dispos as suæ segundo ô¿órt :"Após haver
captado,
com
a
ajuda
de
repetidas obsewações, ¿ts c¿tls¿s das irregularidades apresentadaspelo
movimento de
cadaum dos
astros ertantes,Ptolomeu aplicou
toda
sua inteligéncia ao trabalho de conceber engenhosamenteuma
disposiçãode órbitas que
permitisse, como sediz,
salvaresa
diversidade;Peurbach apossou-se dessa disposição de
órbitas,
asim
como
detudo
o
que énecessário
ao
estudo matem'ático dos móveis segundos, e, deixando delado
as'demonstrações geométricas, expôs clara e sabiamente, pelo método
do r
b
órq
tal
estudo aos candidatos a essa admirável ciência."Por aquilo
que Schreckenfuchsdiz
sobre as hipóteses astronômicas, pode'se julgarque
suas opiniõespouco diferem dæ
que Osianderexprimiu
com tantanitidez;
ese julgamento será singularmente confirmado se observarmos de que formao
Comentadorde Peurbach usa essas hipóteses.
læia-se
o
interessante preâmbulo2ldo
terceiro
livro,
queé
consagrado ao movi'mento
da
oitava esferaou,
em termos mais modernos,à
precessão dos equinócios.ttE
"rrnus Ostwaltl Sch¡eckenfuchs, Commentaria
Ìn
novas theoricosplanetøum Geotgii Purbachii. Basileæ, per Henrichum Petri, 1556'
r 9
Sch¡eckenfu chs, Co mmen laria, p. 3.
20Sch¡cckenfuchs,
Commentarîa,p' 4;cf ' Prcfácio, próximo ao fim.
21
Sch¡eckenfuchs relembra, inicialmente, as teorias propostas por Ptolomeu, por Thabit
ibn
Qurra e pelas TabeløsAþnsrnas;
depois, Prossegue nos seguintes termos:"Enfim,
surgiram Nicolau
copémico,
milagre
da
Natureza, e Johannwemer
de Nüremberg; nâ'odirei
aqui qual
dessesdois
astrônomos superao
outro
noestudo
minucloso que fizeram da
disposiçâ'o edo
movimento da oitava esfera; mas declatarei francamente que, seja qualfor
dos dois que tomemos por modelo, ficaremos semdúvida
bem maispróximos da
verdadeimitandoo do
que imi-tando qualquer uma das opiniões que consideramos"Sch¡eckenfuchs
prcpõe, portanto, a
seuleitor,
como igualmente plausíveis, colrK)dessa esfera, imagina que
o
verdadeiro equador eo
equador médio movem-se apartir
da primeira estrela de ,{ries, em sentido contrário à ordem dos signos,"É
claro que a
realidadefísica
das hipóteses astronômicas preocupamuito
poucoa
Schreckenfuchs; suponha-se a Tefra imóvel,ou
em movimento, nãoimporta,
desdeque sejam
fomecidæ
combinações cinerruíticas capÍrzesde
salvar exatamente osdes-lòcamentos
do
conjunto
das estrelas fìxas.O
comentador de Peurbach conforma suaprática com os princípios formulados por Osiander.
Assim como oco1reu com
o
ensino deReinhold
em Wittemberg, também o ensinode
Schreckenfuchsformou em
Nürembergdiscípulos que
não
atribuíam
realidadealguma às hipóteses
astronômicas,e
apenaslhes
pediamque
fomecessem tabelaseiatas. Entre
esses, estava Christian Wursteiset(hnstßius)
que ensinou em Basiléia.Ãs
Questões sobre øs teorias dos planetasde
Gæry de
Pørbach,
compostas porWursteisen23, começam
por um
interessantísimo
Præfatb
ßøgogicø;o
autor
aí
cTtaas
idéiasde
Pontano
que
descrevemosanteriormente,
e torna
suaa doutrina
contida
nessas idéias.Ele
fala
também sobre asHyptyposes
dehoclos.
São, semdúvida,
os
pensamentos dessefìlósofo
que inspiram
a
Wursteisen reflexões como esta:"Será
cadauma
das esferas celestes compostapor
tantos orbes quantos osÍls-trônonros
lhes assinalaram? Ninguémjamais
foi
capaz de asegurá-lo;o
espírito22Joho,ln Werncr (Joannis Vcrncri) Trdctatus de motu octavæ sphæræ et summ¿ria enarratb tlrcorica nDtus octavæ sphæræ. Norimbcrgæ, 1522.
23ch.ittiu.rur
Wursteisen, Quæstiones novæ
in
theoricas novøs plonetarum doctissimimathe-røtici
Georyii Purbachü Gernwni, quæ Asttonotniæ sacrü initîatisprclixi
ønunentarií vicem explere ¡nssittt, una cutn elqantíbus figuris etisqogiu
præfatbne, authore Gistiano Vurstisio Mathemat¡cantm apttd inclytam Basileam professore; Basileæ, ex officina Henricpetrina, 1568;SALYAR
OS FENÔùTENOSEnsøb sobre
anòCø
¿è lær¡a lts¡ca de Platão a Galileo 75humano apenas conjetura que essa composição concorda com os efeitos naturais
e
com
as bbsewações. Apenas Deus conhece as causas exatas, a ordem e a dis-posição de sua obra nobre e admirável; para nós, ele nos propos a contemplação dessã obra, e apenas nos concedeu certas luzesdo
conhecimento que eleposui
sobre ela. Os céus se estendem sobre a
humilde
habitação proporcionada pelaTerra
aosmortais;
nósnão
residimos nos céus; não seriamos cap¿Lzes devêlos
face a face nem de tocí-los com nossas mãos, e ninguém jamais desceu de lápua
vir
até
nós e nos contar o queviu. .
.
Portanto, em relação a esses objetos quenão
estão ao alcance de nossos sentidos, acreditaremos haver levado bastante longe nossas demonstrações quando os tivermos reduzido a causas posíveis, querdizer, tais que nada de absurdo resulta delas." , ,
O
autor tomou
essaúltima
frase
de
empréstimoæ
¡tereupoÀo?¿Xa
deAris'
tóteles;
a frase exige mais das hipoteses astronômicædo
que anunciavam Reinhold' Bicarde
Schreckenfuchs; deseja que essas hipoteses sejam pelo menos poss/velìs, quenada
de
absurdorezulte,daí; logo
veremosque
é
essa exigênciaque
se pretenderdopor à adoção do sistema de Copérnico.
Wursteisen nâ'o Parece disposto,
por outro
lado,
atirar,
dos
v^
''li'ìs
lue
assu-miu,
a justificaçâ'oãe
umatal
intransigência;ele
parecePreferir partilhar do
grandeecletismo
de
seu mestre Schreckenfuchscom
relaçlfo às divenas hipóteses astronô-micas; pode-se conclui-lo pelas linhas que arrematam seulivro.
Ele terminara a expo'sição
-di
teoria
do
movimento
da
esferadæ
estrelasfìxas
tal
como
era imaginada pelas TabelasAlþnsinas
e
por
Georgde
Peurbach; acrescenta que essateoria
nâ'o corresponde de modo totalmente exato aos fenômenos ediz:
". .
.
mas eu não pensei que deveria mostní-lo aqui, seja porque essa teoriafoi
concebida
com uma
gfande
engenhosidade, sejaporque fo¡neceu
a
grmdeshomens
uma
#ria
ocasifiode
conceberdoutrinas
maissólidæ;
assimfoi
com Johann Wemer de Nüremberg e, sobretudo, Nicolau Copemico deThom;
mas'não
é
convenienteque
discutamosaqui os
sutis
ensinamentosque
eles nos deixaram sobre essa parte da Astronomia."Visivelmente,
Wursteisen pensa sobre as hipótesesde
Copémico
o
mesmo que sobre elas pensam Osiander, Reinhold e Sch¡eckenfuchs.Assim
como os
ptolemaicos alemães usam as hipótesescomo
Osiander desejavaque
fosse
feito, os
ptolemaicositalianos que vieram
apósCopémico
professavamopiniões bastante
semelhantes.Alesandro
Piccolomini,
por
exemplo, retoma
porconta própria
os
princípios
expostosno
célebreprefácio; formula
esses princípios quase exatamentenos
termos
em
que haviam
sido
enunciadospelo
discípulo
deCopémico.
Não
devemosnos
espantar pela adesãoque os
partidríriosdo
sistema dePtolomeu derarn
à doutrina
de Osiander; essadoutrina
é a mesma que havia servidoconstantemente,
na
antþtiidade
e na
Idade Média, para.defender
sua Astronomia contra os ataques dos peripatéticos e dos averroístas.Alcss¿ilrtlro
Piccololììilli,
fìas suas'førias
drts ¡tlanc:tus (das quais apcnas u prirlteiraparte
loi
publica¿a)..*o,.,ri,rotn,
"çouto
uttta digrcssão. sc ¿ls su¡xlsiçÕcs inlugirra¿aspelos
Astrólogos para;lr:;:;"t
aparênciastlos
pìarrctus l'undarllcrt[¿tttì-scrla
vertlatlc cla Natttrcza"..certas
pesÐas tliz
clc
supôcm (lue l)tolonìct¡, os usttrlttotìì()s (ltlc clc scguiuc scus st.tccssorcs. ao irlrugir-lura,tl apiaiclas c cxOclìtricos cttt ttlcitl lìs csl'crlts cclcs-tes, agirarrr
assi'r
para qu". *a u"r.åitasscrcall'c-lttc
t¡uctal
cta a dis¡xlsiçâtl dosorbes lro CCu.
os
r¡uc assim perrsav¿nllìrrarn cntão
levadosa
tliscutir
sobrcI
ptlssibilidadcc
a convertiittciit
de tais suposições'..H,r¡ ¡tão quero rJeter-rìc a disr¡utir sc cssas inlagirraçõcs.sâo posívcis ott itnpossil
vcis, sc
sÍo
antigasou
ininrigastla
Natureza,ia
aÍurllrc
rcptrgrlanlotl
tìfol
dclato,
a possibilid-adeou
inrpossibilidade dcsses artil'íciosnfo
ostorlta
llctn
l.tlalsilent
t1ìcnosao,rftrrn,.,
con'ìa
irrtcnção tlos astrônonros; cssa ilìtclìçâ'o collsistcI
seja possível salvar as aparôrtcias dos or,l^'"t
estinìativas e plcdizerdc
tllltatte,
quc
oscs crítict'¡s cngallalll-scconì-a u, s,iat'*u
tts
c labtr ru ra ltt cssas i ntagitta-ìc crclìç1 tlc quc assitlr cra
lta
Naturc-trôltotnos
(lue suas criaçÕes pudessertr <ltt scja,quc
clas pcrnritissenr avaliariares. Desdc
(ltlc
suas suposiçõesconse-guisscnr
srivar
as a¡rarcrrciits, elcstlcixavalll
aoliìósofo tla
Naturcza a tarefa dcctlttsidcrar
,.,
n*
..,i,0,
cratlt rcaltnclltc conlo
as itrtagiltirratl)ou
llâ.o,c
lìfio Sc l)rcocu pavanì ctltn isso'".E'lessabem(lucdepremissaslalsaspodescdeduzirunlaconclusiiovcr<ladeira:
,àt,.nt
qu.
.uurui
r'li[.r.,ites
potlenr produzir efeitos idÓnticos'..observatnosunlglandellútrlerodcaparênciasclosplanetasnoCéu]ascausas
dasquaisclasproccdelìlreallnel]tepcfmanecem<lesconhecidaspararrós;tnas
basta.noscstarscgulostleque,senosasirnagirraçõesfoscntverdadeifas,as
;;;;";u,
quc
tleîasdccorrerianr não
seriamdifcrentes
dast¡ue
obseryarnos.Iso,
de fato,
basta-nos alnplamelrte paraos
c'álculos' Para as predições' parao
conhecilnentoqu..1"...;;,
tcr
das situações, lugares, tamanhosc
nroviltten-tos tlesses Planetas."
24¡Iary
li,
La ¡trittru parle Llellc lhcorit:ltt'o
tti tlAlessandro
'Vì'"g¡ti'
trtpt*sso (iiortl¿n.Z'ilctti'
al
la' Itli
digrcssio
lc irùagirrationi lattc tlu gliÂstrologi
pirrc sonofonda
Ñ,;t;;';' ca¡ro tlccinto'f' z2-l'
n
y
csta Vcnczi¡.ont 1558.SALVAROSFENOMENOS
77Envb
vbre
a noção de teoriafísica
de Platão a Galileo"Portanto, os
astrônomos, após haveremformulado
suas supoúções, nã'o sepfeqcupam
em
saberse
as coisasque imaginam
são necessárias, verosímeisou
falsas. Dessaforma,
vemosque Ptolomeu,
ao tentar
salvar as aparênCiædo
Sol, afìrma e prcva que isso pode serfeito
tanto
por meio de um excêntricoquanto
de um
epiciclo.
Dessesdois
meios.
'.
ele
escolheo
excêntrico;
masdeixa
às outras pessoæo
poder de escolherum
ouout¡o,
pois de qualquer umdeles ver-se-á
surgir
o
mesmoefeito.
ftolomeu
não
teria
mantido
essa lingua' gem setivese
pensadoque,
para nos serposível
deduzir econcluir
essas apa-r€ncias,os
meios imaginadospor
ele devesem ser, por natureza, coisasverda-deiras,
e
que
tais
orbes devessem ser necessariamente dispostosde
tal
formanos céus.t
Vemos
Lucrécio
procederda
mesma maneira quePtolomeu,
ao estudar os movi' mento celestes."Ele
æ
contenta
em
fomecerJhes certas razões verossímeis,ou
seja, razõestais que, se as
supomos verdadei¡as,os
efeitos
considerados delas resultam necessariamente. Poisum'efeito
nã'o podeter
mais do que uma causa própria, verdadeirae
necessária;no
entanto, como
eujá
o
disse, pode-sededuzi¡
ummesmo
efeito
de diversas causas diferentes, não apenas de um modoverosímil,
mas
de um
modo necesúrio;
não, semdúvida
pela natureza essencial dessas causas, maspor
uma
seqüência forçada e uma conseqüência lógica dæ suposi-ções feitas..
.
Eiso
que eu queria dizer, sobforma
de digressão, contra aquelesque
têm o
costume de repreendef os bons astrônomos sem conhecer SuaSinten-ções."
sofa
nøtural2sAndreas Cesalpinus mostra-se
partidário
do
sistemade Rolomeu, em
suasQaes-tões peripatêfi'cøs.
No
entanto,
emum
ponto importante, ele
propõetrazer a
essesistema
uma
modificação que
o
aproxima dos
sistemasde
Copémicoe
deTycho'
Brahe; constata que nenhuma combinação de órbitaspermitiu
aos sucessores de Ptolo-meu fomecer uma representação satisfatória dos movimentos de Vênus e de Mercúrio;deseja, então, que se retome, com respeito a esses dois planetas, a antiga hipotese de
2 sAlcssa¡dro Piccolomini La
seconda parte de ta Filoøfía naturale.In Vinegia, aptesso Vinccn-zo Valgrisio, alla Bottega d'Erasmo. 1554. Lib. IV, cap. V, p. 3814.
Heraclides
de
Pontos,de
Adrastos de Aphrodisia e de Theon de Smyma,isto
é, que sejam colocados em circulação emtomo
do Sol. E adiciona2 ó :"Não
demonstraremos, neste escrito, que dessa posiçâo dos círculos e dosmovi-mentos
desses astros,resultam as
mesmas conæqüênciasque os
astrônomosconstataram
por um
outro
caminho;iso
excederia os limites do campo que nospropusemos
percorrer.
Não pretendemos comiso
que as afirmações dosastrô-nomos sejam
mentirosas.Eles
consideram,de fato, os
oorposnaturais
ndoenquanto naturais,
mas segundoo
modo
matemático.E
suficiente para eles,portanto,
nã'o
mentir naquilo que
conceme
aos cálculose
¿ls prcvisões dosmovimentos
(Idcirco
v,tís est ipsis circamotuum
numeros etwpputatbnesnon
mentiri).
Cabe aofísico proseguir
as investigações segundo o método da Ffsica.Ora,
o
método
da
Ffsica
consiste emexigir
quetudo
seja produzido de formasemelhante nos diversos corpos celestes e
utilizar
o
menor número possível deinstrumentos Qter
parciora
mtgÌs quam perphtra)."
Cesalpinus não
limita
a liberdade de que o astrônomo faz uso na escolha dehipote-ses,
com fronteiras
mais fechadædo
que aquelas estabelecidaspor
Osiander; aofísi-co,
por outro
lado,
eleimpõe
apenas esses doisprincípiog
que Ptolomeuteria,
semdúvida, aceitado: fazer hipóteses análogas em casos análogos; dar preferência às
hipote-ses mais simples.
Francesco
Giuntiní
ocupava-semuito,
como Reinhold, com
a
Astrologiajudiciá-ria;
calculou tabelasque
se propunhamatingir
uma exatidãomaior
do
que asPrttte
nicæ
tabulæ. Quevalor
eleatribuía
àshþteses
astron6micas, e, particularmente, àshipóteses de
Rolomeu,
das quais fazia uso constante? Essaopinião
deve ser procura-da nos comentários com que ele enriqueceuAE{øø
de Sacro-Bosco.Essa pesquisa deve,
contudo,
ser desenvolvida com discemimento; a arte de comen-tarA
Esfem de Sacro-Bosco consistemuito
freqüentemente, parao
poucoescrupulo-so
Giuntini,
emreproduzir
longas passagens tomadas de diversos escritos astronômi-cos; a ûnica modificação que eletraz,
então, aotexto primitivo
é a supressão do no-rnedo
autor;
é asim
que os dois comentários, deænvolvidos desigualmente, que elecompôs
em
épocasdiferentes, contêm Éginas inteiras
extraídas dasQuestbnæ in
libns
de Coelo etMmdo,
redigidæ noSculo
XIV
porAlberto
da Saxônia.A
Sphnm
emendatø, que teve numerosas edições apartir
de 156427, @ntém umacurta
dissertação2E sobreos
sistemæ astronômicos. Mæ deve-se evitar ver nessadis-26AnJt"*r Ccsalpini (Andreac Cacsalpini A¡etini, medici cla¡issimi, atquc Philosophi
subti-lissinri
peritissimìquc), Pcfipateticørum quæstÞnurnlibri
quinque. Venetüs, apud luntas, 1571.Lib.llI,
qucst. IV: Planctas in circutis, non in sphaeris mowri; f.57, vcrso. Não pudcnns consultara primeira cdição dcsta obra, que foi lançada em Florença em 1569.
2tA
..liçdo quc tcmos di¡ntc dos olhos ó a scguinte: Francesco Giuntini, Sphaera toannis deSacro Bosco emendaÍo,
caùt.
.
faniliaríssimß scholliis, nunc tecentet Lvmpert¡s et collectis aFrancisco Junctino Florentino sacræ Theologiæ Doctote Inserta etíotn sunt Ellæ Vineti Sontonis
egregia scholia in eandem Sphærun. Lugduni, apud hæredcs laoobi Iunctæ' l5ó7'
2 sciuntini,
SALVAROS
FENÕMENOS
'19 Ensab sobre anoçla
de tæriafísica
de Pløtão a Galileo sertaçãoa
expressãoda própria
opiniâ'o deGiuntini,
pois ela é pura e simplesmenteextraída
do
comentário aA
Esfera
queo
espanhol Pedro Sanchez Cirvelo, deDaro-ca,
imprimiu
em Paris, em 14982e, com asQwtoze
questões de Pierred'Ailly
sobre a mesma obra.Em
1577ou
1578,Giuntini imprimiu
em Lyon
comentários3omuito
mais exten-sos, mas freqüentemente tã'o pouco originaisquanto
os da Sphæm emendatø.Encon-tramos, porém, nesses comentários, uma longa dissertação31, na
qual o
autor nosex-põe
sua opiniã'o sobre as hipóteses astronómicas. Eis em que termos,muito nítidos,
essa opinião é formulada:'Nã'o
é possível demonst¡ar que os movimentos que aparecemno
Céu podem ser salvos se nã'o se fìze¡ uso deexcênticos
e de epiciclos ordenados como supõem os astrônomos."No
entanto,
existem
necessariamenteno
Céu
movimentos
excêntricos."Além
disso,não
seencontrou
atéaqui
método mais razoável parapropor-cionar
a
regrade
cadamovimento
do
queo
emprego dos excêntricos e ,dos epiciclos."Para
justificar
a primeira proposição,Giuntini
recorda as passagens que citamos de São Tomás deAquino;
eletoma
sua a conclusão, que se resume nestas palavras: "Issonão é demonstrado, é apenæ uma suposição (Hoc
non
est demonstratum, sedsuppo-sitb
quædam)".Em compensação, aquilo que não é uma suposiçÍo,
o
que é demonstrado, é que osastros errantes
nio
possuemdiâmetros
aparentesconstaltes, que
nã-o estão, por conseguinte, sempreà
mesma distânciada
Terra;
é
preciso,portanto,
admitir
que algumas revolu@es celestesnfo
se realizam emtomo
do centro da Terra."E
esta segunda proposiçãonão
repugna àprimeira;
naquela, defato,
nâ-o dis-semos que nâ'o se podeprovar que
existem movimentos excêntricos; dissemos29P.d¡o
Sanchcz Cirvelo, [Jtterrintum sphere nutncli cotrrentum intetsertis etiam quest¡onibus Domini Petri de Aliaco. Colophon: Et sic cst finis hujus ugrcgü tractatus dc sphera mundi Johannis rlc Sac¡o Bosco Anglici et docto¡is
Parisic
sque additionibus acubcrrimo commcntario Petri Cirvcli
Daroc
ispanie quam Arago-niam ct Ccltibc¡iam dicunt oriundi.Atque
rcvendissimi Domini o ingeniosissimi doctoris quoquc Pa¡isicnsis, Inrprcssum est hoc opuscuhrmtis
1498itt
mcnsc fcbruarii Pa¡isius in campo Gallardo oppera atqueirn-mcrcatoris. Capit ulum quartum.
30-""þrancesco Giuntini
(Fr.
Iunctini Florcntini, Sacræ Thcologiæ doctoris), Ø¡runentaria in Sphærarn Ioannis de Sauo Bosco accuratissinta. Lugduni, apu<ì Phitippum Tinglúum, 1578. Estapartc contém os comentirios aos tlois primeiros capítulos da obr¿ dc Sacro-Bosco. Francesco Ciuntini
(rr.
hrnctiniFlorentini
totis), hntmetltaria in tertium et quartumupitulum sphæræ Io. de
saoo
philippum Tinghium, 1577. Ncstaicgunda parte, Ciuntini reitera (p.301-4)
a Cirvclo.3 1
que não se poderia demonstrar a necessidade de dispô'los tal- como foram
colo-ådor
pot
lipparchos,
Ptolomeu e os astrônomosmodernos"
m
disso, imaginando combinações de movimentos diferentespor
PtolomJu, e que seriam igualmente adequados parasal-movimentos plane ários.
Os raciocínios
de
Ptolomeulhe
servem, todavia, pala Prcvar sua terceiraproposi-ç¡o,
ou
seja, queo
sistema dos excêntricos e dos epiciclos pfoPosto pelo Abnageúoé nrais razoável do que qualquer
outro.
Giuntini cita
elogioùm"nte o
livro
dePiccolomini
e é claro que sub^screve aquilo queeste disse sobre ãs hipoteses astronômicas; aliás, noinício
de sua obra3 2, oComen-tador
florentino
escreve:"A
Astronomia se divide em cinco partes:..4
primeira parte considera em geral os movimentog as situa@es e as figurasdos
coìpos celestes; correspondeii
parte tratada peloFilósofo
noliwo
do céu;
masnló
se deve dar-lheo.no*e
de Astronomia, pois considera todas as coisaspor razões da FÍstca, e não por razões da Maternitica.
"A
segunda parte considera em geral os movimentos, as figuras e as situaçdesdos
corpos celèstescom a ajuda de
razões matemáticas;é
aquela queo autor
expõe neste tratado; ela é geral em relação às outras partes'lA
terceira parte
desce, emparticular,
ao movimento dos planetas e à revo-lução clos corpos celestes; é aquela de que Ptolomeutratouno
Almogato'
..4
quarta parte
desce, especialmente, âs conjunções, âs- lPosições, aos
_as-pectos
ãos
planetas comparadosuns
aos outros; Ptolomeufala
igualmentedis-io
no Ahnryesto .A
essa parte estão subordinados certos estudos, entre os quais seencontra
a construção de tabelas como as TabeløsAþnsrhas,
asTabulæpru'
tenicæ,e as noss:ts próprias, que se intitul3¡m;Tabulæ resohtte østtonomicæ."
citar3a o
tratado De revofutioniåus. Excelente geômetra, ele professa uma admiraçãoevidente pelas combinações
de
movimentosque
o
astrônomode
Thom
propôs para salvar os ienômenos celestes; mas as próprias hipóteses de Copémico parecemPreocu-3?G¡untini, Connßnta¡ia, Comnt. in prinlum capitulum, p' 10.
33ciovannì Baptista Bencdetti (Jo. Baptistac Bencdicti,
patritii
Vcneti, philosophi), Diver-santm specalatíont-un mathentatican.m et physicantm liåe¡; Tau¡ini, apud hæredem NicaliBevi-laquæ. 1585.
SALVAR
OS FENOIVTENOSEnsab
pbre
anoçfu
de tæria lfsíca de Platão a Galileo8l
pá-lo
tão
pouco quanto a seus correspondentes. Ele faz alusão a essas hipóteses uma sóvez3 s, não para aceitáJas nem pa¡a combatê-las, mas apenas para lembrar que, segundo
os
copemicanos, a Terra se reduz ao papel de centrodo
epiciclo da Lua; quem sabe, adicionaele,
seum corpo
análogo à Terra nâ'o ocupa o centro do epiciclo de cada umdos cinco planetas?
O
estado de espírito damaiorparte
dos astrônomos, duranteosvinte
out¡inta
anosque seguiram a publicaçã'o do
liv¡o
de Copernico, aparece-nos claramente.A
obra doAstrônomo
de
Thom
atraiu-lhes vivamentea
atenção,porque lhes
pareciamuito
adequada à construção de tabelas astronómicas exatas, porque as combinações que seuautor propõe
pa:,avlvø
osfenômerns
parecem-lhes preferíveis às que haviam sido imaginadaspor
Ptolomeu. Quanto às hipóteses de que Copérnicotirou
suascombína-@es
cinemáticas,
sÍo
elas verdadeiras,verosímeis
ou
puramentefictícias?
Elesdeixam
ao
físico,
aofilósofo
da Natureza, o cuidado dediscutir esa
questão, e nãomostram qualquer preocupação
com
a solução que lhe será dada. Agem com relação a essas hipótesescomo
Osianderlhes
recomendoufazer. Todavia, sua
atitude
comrelação às suposições copernicanas não lhes
foi
de forma alguma imposta pelo pref,ícioanônimo
do
tratado De
revòhttbníbus;
elesjá
haviam se acostumadoa
assumirtal
atitude hií muito
tempo; é essaatitude
que, desde a Antigiüdade helênica, através detoda a
Idade Média
e
até
o
princípio
da
Renascença,permitiu
aos partidrírios do sistema de Ptolomeu fazer com que a Astronomia progredisse, apesar dos peripatéticose
dos
averrofstas, sem preocupar-secom
astentativas,
sempre repetidase
sempreinfrutuosas, de restaurar
o
sistema das esferas homocêntricas. Os astrônomos que se seguem imediatamentea
Copérnicotratam
as hipóteses comoo
faziam os s¿íbios deParis
ou
deViena
nos séculosXIV
ouXV;
Sch¡eckenfuchs e Reinhold continuam atradição
de homenscomo
Peurbache
Regiomontanus.É por
isso que encontramosexatamente
a
mesma opiniã'o sobrea îalvreza
das suposições astronómicas entre osastrônomos
que
usam as combinações geométricas propostaspelo tratado
Sobre øsrevolu@æ
celestes e entre aqueles que se prendem aos métodos de cálculo doAlmø-gesto.
.
Encontramos igualmente essa opinião, na mesma época, entre os Teologos. Nada émais curioso em relação
a
issodo
que estudaro
estado deespírito
de Melanchthon,que
ensinava em Wittembergcom Reinhold,
e
cujo prefácio
inauguravao
primeiroescrito desse astrônomo.
Lutero
fora o
primeiro a
declarar guerra às hipoteses copernicanas, em nome das Escrituras; seufiel
discípulo não podia deixar de seguilo nesse terreno.Em
1549, Melanchthon publicava o curso de Física que ensinava em Wittemberg3 6. Ele se exprime nos seguintes termos sobre a hipótese do movimento da Tcrra3 7:"Alguns pretenderam que a Terra se movia; assegutam que a oitava esfera e o Sol
permanecem
imóveis, enquanto que atribuem
o
movimento
aosoutros
orbes3 s
Benedctti, D iver sarum sp ecu lat ío nu m, p. 25 5.
36Philipp Melanchthon,
Initia
cloctrinæ physicæ dictata in Acaclenúa Vuitttergensi,Phllip, Melanth. Iterum edita Witebergæ, per JohannemLufft,
1550. Não pudemos consulta¡ a primeiraediça-o desta obra, quc é de 1549. 3 7
celestes,
e
colocam
a
Terra entre
os
astros.Existe
um
liwo
de
fuquimedesintitulado: De
mtmeratbne
areruEno qual o autor
conta que
Aristarchos de Samos havia sustentado este paradoxo: o Sol permanece imóvel ea'Ielra
gha emtorno
do Sol..'Os homens de ciência de
espírito
desprendido comPrazem-se emdiscuti¡
um grande número de questões onde exercem sua engenhosidade; mas que osjovens iaibam que esses sábiosnlo
possuem a intenção deafirmartais
coisas' Que essesjovens, portanto,
l'avoreçam,em primeiro lugar,
as opiniões que se beneficiamdo
consentimento
comum
das
pessoæ competentes,opiniões
que não
são absurdas deforma
alguma; e que eles, apartir
daí, compreendam que a verdadefoi
manif'estada por Deus, que a adotem com respeito e se baseiemnela."
Melanchthon se esforça,
então,
emprovar
o
repousoda
Terra,não
apenas pelas razões clássicas fomecidas pela Ffsica peripatética, mas, ainda e sobretudo, pelostex-tos
tirados da Santa Escritura; Iazões etextos
que, aliás, são exatamente aqueles que, uns oitenta anos mais tarde, serão opostos a Galileo.Ora, esse mesmo Melanchthon que, em nome da Física e da Teologia, condena tão t'ormalmente as hipóteses de Copérnico, escreve o seguinte a respeito da Lua3 E :
"Eu
seguireio
método habitual,
que nosvem
de Ptolomeu, e quefoi
seguidopela maior parte dos
astrônomosaté aqui. Embora a
combinaçã'o das órbitaslunares imaginada recentemente por Copemico, seja extremamente bem ajustada
(ødnødum
concinna),nós
manteremos, não obstante, a de Ptolomeu, para ini-ciar, de alguma forma, os estudantes na doutrina comumente aceita nas escolas."Como
pode Melanchthon, sem flagrante contradiç6'o, declarar que as hipóteses deCopemico são
contrFias
à Flsica e à Escritura, e admirar a teoria da Lua que se deduzdesas
suposiçoes?Ë
que, segundo ele, Copémiconfo
imaginou su¿ul hipóteses senã'opara salvar
os
fenômenos; está convencido de que nemo
Astrônomo
deThom
nem se.us discípulostêm
a intenção de considerar suæ suposições como ¡ealidades:"Sciant
juuenes non velle @ s talia asseverare" .Era, aliás, bem
natural
que Melanchthon atribuísseum
pensamento como esse aos copemicanos, poistal
pensamento ele mesmo professava com relaçã'o às hipóteses dePtolomeu, que
tinham
toda sua preferência.De
fato,
falando sobreo
movimentodo
Sol3e,o
amigo deLutero
se exprime nos seguintes termos:"Para que se possa compreender de alguma forma qual é ese movimento próprio
do
Sol, geômetrasmuito
sábios fabricaram espécies de autômatos; elesencaixa-ram uns nos
outros um
certo número de orbes nos quais estã'o alojados, por as'sim
dizer,
os
planetas.Até
mesmose conta que
Arquimedesfabricou
assim3tivlelanchthon,Initia doctrinæ physicæ,lib,I, cap.: De Luna, f. 63, frentc, 3eMclanchthon
SALVAR
OS FENOXIENOSEnsaio
sbre
anoçfu
de teoria física de Platão a Galileo83
ù.vró¡tarade
movimentos celestes, ou seja, orbes sólidos que traduzem aos olhos esses movimentos. . ."Convém
aqui maldizer
a perversidadee
ohumor
belicoso de Averroes e de muitos outros fìlósofos; eles zombam dessadoutrina
construída com tanta arte, pois nâ-o se pode afirmar que tais miíquinas existam realmenteno
Céu-"Que
Averroese
os outros parem deperturbar
a ciência constituída,ou
que eles nos mostremleis
dos movimentos c€lestes que sejam mais bem adaptadasque as outras, e
por
meio das quais se Possaconstituir
um cálculo exato. Comoos
argumentosde
Averroessão
extremamente grosseirosQtorvs
pavauoo),é
inútil
repeti-losaqui;
aliás,os próprios
geômetras jamais quiseramter
apre-tensão
de
quetais
esculturæ existissemno
Céu; eles apenas propõem darcon'
ta exatamente dos movimentos."Um
pouco mais
adianteao, Melanchthonretoma
a
afirmação;
no
mesmo lugaronde
ele acabade
declarar quetrataní
os movimentos da Lua segundoo
método dePtolomeu, apesar da exatidã'o da teoria copemicana, ele acrescenta:
"A
esse propósito, convém relembrar aoauditor
que se os geômetras pensaramem
fabricar esse epiciclo e esses orbes,foi
para podertornar
visíveis as leis dosmovimentos e suas durações. Não é que existam
no
Céu tais máquínas, embora se concorde em dizer que air- se encontram certos orbes."Segundo Melanchthon, as suposições dos astrônomos
nÍo
têm outro
objetivo
doque representar
e
calcular exatamente os movimentos celestes, e suas hipóteses sã'o,em sua
opinião,
desprovidas detoda
realidade.Por
issonós
o
vemos, sem espanto,declarar que as teorias de Copérnico são
muito
exatas, ao mesmotempo
em que, em nome da Física e da Escritura, ele rejeita a hipótese do movimento da Terra.Não
encontramostexto
algum que nos permitisse conhecer aopinião
de teólogoscatólicos,
contemporáneosde
Melanchthon, sobre
as hipóteses astronômicas; masum fato
bem significativo nos mostrará que elafoi,
em geral, semelhante ao pensamen'tci
do Doutor
protestante. Os cálculosque permitiram a
GregórioXIII
realizar, em1582, a
reforma
do
calendárioforam
fðitoJcom a
ajuda das Tabutæprutmicæat;
certamente, ao usar essæ tabelas
construídæ
por
meio
das teoriasde
Copémico, o Papa nâ'o pensava deforma
alguma em aderir à hipótesedo
movimento da Ter¡a; ele considerava as hipóteses astronômicas comoartiticios
destinados unicamente a salvar osfenômercs.
No
entanto,
à
medida queo tempo
pæsa, vê-se crescet a hostilidade dos teólogos e dos filósofos em relaçâo às hipóteses copemicanas; como lvlelanchthon, consideram essas hipóteses falsas em Filosofìa eheréticas
em Teologia; porém, mais intole¡antesdo
que
Melanchthon,não
querem aceitarque
elas sejam usadasem
Astronomia; opróprio
elogio do gênio astronômico de Copérnico os ofusca.4oMelanchthon
,InitiadocÛinæphysicæ,lib. I, cap.:De Luna, f. 63, frente. 4r August
He1ler, Geschichte der Physik von Aristoteles bis auf die neueste