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SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL: PERCEPÇÃO DOS GESTORES E FUNCIONÁRIOS DE UMA EMPRESA DA INDÚSTRIA COSMÉTICA

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Recebido em 21/05/2019. Aceito em 08/10/2019. Publicado em 20/10/2019. RASM, Alvorada, v.9 n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019.

Neuri Antônio Zanchet1 Vanice Gomes2 Cindy Fortulino Teixeira3 RESUMO

A sustentabilidade organizacional é um tema em expansão, com grande relevância no auxílio da prevenção e diminuição dos impactos negativos causados ao meio ambiente. O presente estudo objetivou avaliar, a partir da percepção dos gestores e dos funcionários, em qual dimensão de sustentabilidade a empresa possui um melhor desempenho, seja ele ambiental econômico ou social, bem como identificar os benefícios alcançados, os riscos e os desafios da gestão sustentável. Como estratégia de pesquisa, foi utilizado um estudo de caso único, de cunho exploratório e descritivo. A coleta de dados se deu por intermédio de três técnicas distintas: entrevista, questionário e documentos. Essas três técnicas constituem uma abordagem mista, de caráter quantitativo e qualitativo. Após a análise dos dados, foi constatado que as práticas gerenciais adotadas pela empresa com melhor desempenho envolvem as dimensões ambiental, econômica e social respectivamente. Os resultados também expõem divergências de percepção em diversas variáveis analisadas. As informações dos gestores retratam os escritos nos documentos da empresa, enquanto as informações dos funcionários expõem falhas na gestão, bem como a necessidade de promover conhecimento/orientação aos funcionários.

Palavras-Chave: Sustentabilidade. Gestão ambiental. Meio ambiente.

ABSTRACT

Organizational sustainability is an expanding theme, with great relevance in helping to prevent and reduce negative impacts on the environment. The objective of this study was to evaluate in which sustainability dimension (environmental, economic or social) a company has a better performance, based on the perception of managers and employees, as well as identify the benefits achieved, the risks and the challenges of sustainable management. As a research strategy, a case study was used, exploratory and descriptive. The collection of data was done through three different techniques: interview, questionnaire and documents. These three techniques constitute a mixed approach, both

1 Faculdade Luterana São Marcos – Contato: nazanchet@gmail.com 2 Faculdade Luterana São Marcos

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. quantitative and qualitative. After analyzing the data, it was found that the management

practices adopted by this company showing the best performance involve the environmental, economic and social dimensions in this order. However, the results show divergences of perception in several analyzed variables. Manager information portrays the writings in company documents, while employee information exposes management failures, as well as the need to promote employee awareness/guidance.

Keywords: Sustainability. Environmental management. Environment.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a sustentabilidade organizacional aparece como um caminho a ser tomado para resolver questões relacionadas à produção e à consequente prática de consumo que se estabeleceu no sistema capitalista assim como suas implicações para o meio ambiente.

Segundo Brunstein, Scartezini e Rodrigues (2012) a sustentabilidade organizacional envolve relações múltiplas de troca entre o aspecto econômico, social e ambiental, almejando a seguridade e o bem-estar das gerações presentes e futuras a partir do uso racional e consciente dos recursos disponíveis.

De acordo com o Instituto Akatu (2002), a articulação, cada vez maior, do movimento ambientalista em torno da crítica aos modos de produção e consumo e o desenvolvimento da legislação ambiental instigaram a classe empresarial a adotar um novo modelo de gestão de negócios envolvendo além da dimensão econômica, as dimensões social e ambiental. Assim, para que seja considerada sustentável, uma empresa deve ser socialmente justa, financeiramente viável e ambientalmente responsável (Barbieri e Cajazeira, 2009).

Contudo, é necessário reconhecer que o comportamento das organizações, refletindo as demandas de movimentos internos e externos ao ambiente empresarial, suscita o reposicionamento e a reconsideração de atitudes e comportamentos (Munck e Souza, 2009).

Dessa forma, é relevante conhecer as ações que as empresas aplicam para o controle dos impactos causados por suas atividades, de seus produtos ou serviços, levando em consideração sua política institucional e seus objetivos como organização.

A escolha da empresa de fabricação de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal localizada no Rio Grande do Sul se deu em virtude de ela possuir um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e incentivar a busca de soluções para diminuir o impacto ambiental no dia a dia. Com base no exposto, apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: Como os gestores e funcionários da empresa percebem as ações sociais, ambientais e econômicas relativas à sustentabilidade organizacional?

O objetivo geral deste estudo é, então, avaliar, a partir da percepção dos gestores e dos funcionários, em qual dimensão de sustentabilidade a empresa possui um melhor desempenho, seja ele ambiental econômico ou social, bem como identificar os benefícios alcançados, os riscos e os desafios da gestão sustentável.

O presente estudo está organizado em cinco seções, sendo essa introdução a primeira delas. Na segunda seção, apresentam-se o referencial teórico. Logo após, encontra-se os procedimentos e as metodologias utilizadas, em seguida, destacam-se a apresentação e discussão dos resultados. Por fim, na última seção faz as considerações finais.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019.

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Gestão Ambiental

A gestão está presente em todas as organizações públicas ou privadas, sendo fundamental para se estabelecer a melhor direção a ser seguida.

No entanto, segundo Oliveira Filho (2004), nas últimas décadas, as empresas passaram a pró-agir, adotando estratégias de gestão ambiental, um instrumento para alcançar um desenvolvimento industrial sustentável (Dias, 2011). Sendo que, tais estratégias consistem em um conjunto de medidas que visam ter controle sobre o impacto ambiental de uma atividade (Kraemer; Tinoco, 2004).

Segundo Seiffert (2010), a gestão ambiental compreende propriamente assuntos estratégicos das empresas. Tachizawa (2011) salienta que a gestão ambiental não é somente uma atividade compreensiva com o meio ambiente, ou ainda simplesmente um assunto para ecologistas e ambientalistas, pois trata-se de uma atividade que consegue proporcionar proveitos financeiros para as organizações; engloba a utilização de um modelo de gestão o qual permite melhorar a eficiência na utilização dos recursos naturais, ou seja, possibilitando à gestão ambiental gerar benefícios; reduzir custos e a gerar desperdícios; abrir novos mercados; e obter aumento na lucratividade das empresas (Porter, 2004).

Para Meyer (2000), a gestão ambiental é apresentada da seguinte forma:

a) visa manter o meio ambiente saudável na medida do possível, para respeitar as necessidades humanas atuais, sem comprometer o atendimento das gerações futuras;

b) atua sobre as mudanças provocadas no meio ambiente pelo uso e/ou descarte dos bens e detritos realizados pelas atividades humanas, tendo por base um plano de ação viável – sob a perspectiva técnica e econômica – com prioridades corretamente definidas;

c) faz uso de utensílios de monitoramentos, controles, taxações, imposições, subsídios, comunicação, além de treinamento e conscientização;

d) constitui uma base de desempenho de diagnósticos – cenários – ambientais da área de ação, a partir de apurações e estudos dirigidos em busca de respostas para as dificuldades que forem detectadas.

Para Kraemer e Tinoco (2004), a introdução da gestão ambiental nas empresas gera desafios, riscos e benefícios que podem implicar na lucratividade da empresa; na carência de infraestrutura e de mão-de-obra com experiência em implantação da gestão ambiental; na redução de custos, por meio da melhoria da eficiência dos processos, redução de consumos (como matéria-prima, água e energia), minimização do tratamento de resíduos e efluentes, diminuição de prêmios de seguros e multas.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. O SGA pode ser determinado como um conjunto de processos visando orientar ou

administrar uma organização, de modo a obter o melhor relacionamento com o meio ambiente (Nascimento, 2008).

É composto basicamente por cinco etapas sucessivas e contínuas: Política Ambiental da Organização; Planejamento; Implementação e Operação; Monitoramento; além das Revisões no Gerenciamento (Chipanski, 2003).

De acordo com Chipanski (2003), a política ambiental da organização deve explicitar todos os princípios e compromissos assumidos pela empresa no intuito de estabelecer uma melhor relação possível com o meio ambiente, embasada na legislação ambiental vigente. O principal objetivo deve ser o de acompanhar o desempenho ambiental de forma contínua, levando em conta o seu diagnóstico ambiental atual e as metas a serem alcançadas. A política ambiental deve ser divulgada a seus acionistas, empregados, clientes, fornecedores e comunidade em geral.

O planejamento é composto pelas seguintes etapas: levantamento dos aspectos ambientais; análise dos requisitos legais e corporativos; estabelecimento de objetivos e metas; elaboração do plano de ação; e alocação de recursos necessários (Oliveira, 2011). Na etapa de implementação e operação, segundo Chipanski (2003), a empresa deve desenvolver mecanismos de apoio necessários à efetiva implementação de sua política ambiental e cumprimento de seus objetivos e metas. São definidas as responsabilidades e a estrutura, programas de treinamento, consciência e competência, definição de estratégias de comunicação, controle da documentação ambiental, controle operacional e preparação, bem como resposta à situações de emergência.

No monitoramento da performance ambiental é realizado um levantamento significativo dos impactos sobre o meio ambiente; assim como monitoramento de equipamentos, documentos e a conformidade com a legislação, além da promoção de auditorias periódicas do SGA (Cajazeira, 2003).

Na revisão, de acordo com Chipanski (2003), a alta administração avalia cada ciclo do planejamento, a adequação das metas e dos objetivos da política ambiental estabelecida, fazendo com que a cultura da melhoria contínua se consolide.

A norma ISO 14001, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a responsável por regulamentar o SGA, estabelecendo os requisitos de execução implementação e operação. É um procedimento de gerenciamento das atividades da empresa que tem impacto no ambiente. Esta norma especifica os requisitos relativos a um Sistema de Gestão Ambiental, permitindo à uma organização construir sua política e objetivos que considerem os requisitos legais e as informações referentes aos impactos ambientais significativos.

Seiffert (2010) evidencia a importância de normas na gestão ambiental, bem como relata que a ISO 14001 é fundamental por se tratar de uma ferramenta primordial à gestão ambiental organizacional, principalmente no que concerne à disseminação de sua inserção nas empresas no mundo inteiro. A autora também enfatiza que a ISO 14001 é a única da série a qual permite a certificação por terceiros – ou seja, pelas certificadoras – cujo conteúdo, conforme mostra o Quadro 2, é efetivamente auditado na forma de requisitos obrigatórios de um SGA.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019.

Quadro 2 – Família de normas NBR ISO 14000

ISO Regulamentação

14001 Sistema de Gestão Ambiental (SGA) - Especificações para a Implantação e guia

14004 Sistema de Gestão Ambiental - Diretrizes Gerais 14010 Guias para Auditoria Ambientais - Diretrizes Gerais

14011 Diretrizes para Auditoria Ambientais e Procedimentos para Auditorias 14012 Diretrizes para Auditoria Ambiental - Critérios de Qualificação 14020 Rotulagem Ambiental - Princípios Básicos

14021 Rotulagem Ambiental - Termos e Definições 14022 Rotulagem Ambiental - Simbologia para Rótulos

14023 Rotulagem Ambiental - Testes e Metodologias de Verificação 14024 Rotulagem Ambiental - Guia para Certificação com Base em Análise

Multicriterial

14031 Avaliação da Performance Ambiental

14032 Avaliação da Performance Ambiental dos Sistemas de Operadores 14040 Análise do Ciclo de Vida - Princípios Gerais

14041 Análise do Ciclo de Vida – Inventário

14042 Análise do Ciclo de Vida - Análise dos Impactos 14043 Análise do Ciclo de Vida - Migração dos Impactos 14050 Vocabulário (termos e definições)

Fonte: Adaptado da ABNT (apud Dias, 2011) Conforme Nehme (2011), a norma ISO 14001 pode ser aplicada internamente para os fins de auto declaração, bem como cláusula nos contratos à organização.

2.3 Sustentabilidade Organizacional

De acordo com Savitz e Weber (2007), a expressão sustentabilidade manifestou-se ao longo dos anos 80, decorrente da percepção de que os paímanifestou-ses necessitavam encontrar meios de aumentar suas economias sem prejudicar o meio ambiente, ou ainda, afetar o bem-estar das próximas gerações.

Ayres (2008), por sua vez, afirma que o termo sustentabilidade é a compreensão normativa referente ao modo de como as pessoas precisam proceder em relação à natureza, e como os indivíduos são responsáveis entre si e com as próximas gerações.

Neste contexto, verifica-se que a sustentabilidade é conveniente ao crescimento econômico, tendo por base a justiça social e sendo competente na utilização de recursos naturais (Lozano, 2012).

Segundo Brunstein, Scartezini e Rodrigues (2012) a sustentabilidade organizacional visa suprir as necessidades atuais, sem comprometer o futuro. Envolve relações múltiplas de troca entre o aspecto econômico, social e ambiental.

De acordo com Ayres (2008) organizações sustentáveis são aquelas que fundamentam suas práticas e métodos gerenciais de modo a atender os critérios para serem economicamente viáveis, podendo manter-se competitivas no mercado, atendendo

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. prioritariamente aos conceitos de ética, de transparência, de governança corporativa e de

responsabilidade social.

Chiavenato e Sapiro (2009) ressaltam o fato de a sustentabilidade praticar o aproveitamento de recursos por meio de um modelo que seja adaptável às demandas – sociais e empresariais – ajudando, assim, o ambiente ecológico sem afetar as necessidades futuras.

O entendimento mais amplo da sustentabilidade organizacional apoia-se na inserção de questões sociais, ambientais e econômicas, constituindo o tripé conhecido como Triple Bottom Line – como mostra a Figura 1 (Barbieri; Cajazeira, 2009). As três dimensões da sustentabilidade têm sido difundidas e aceitas como os pilares de avaliação da sustentabilidade (Elkington, 2012).

Figura 1 – As três dimensões da sustentabilidade

Fonte: Barbieri e Cajazeira (2009, p. 70)

O pilar social refere-se ao capital humano, o qual se encontra relacionado às atividades elaboradas por uma organização, direta ou indiretamente – funcionários, clientes e fornecedores (USP, 2002). Este pilar busca criar benefícios para seus empregados e outras partes. A empresa deve pagar salários para seus funcionários, proporcionar um ambiente seguro e contribuir para o desenvolvimento de programas de saúde, educação e outros (Jacobs; Chase, 2012).

O pilar social discorre, então, da consolidação de processos que promovem a equidade na distribuição dos bens e da renda para melhorar, substancialmente, os direitos e condições de amplas massas da população e, ainda, reduzir as distâncias entre os padrões de vida das pessoas (Barbieri; Cajazeira, 2009). Percebe-se, com isso, que tal pilar tem por premissa atingir a igualdade e a participação de todos os grupos sociais na construção e manutenção do equilíbrio do sistema, compartilhando direitos e responsabilidades (Lorenzetti; Cruz; Ricioli, 2006).

O pilar econômico, por sua vez, tem o propósito de fazer com que a organização desempenhe as funções de produzir, distribuir e oferecer seus produtos ou serviços, de maneira que, constitua uma relação de competitividade íntegra perante os seus concorrentes (USP, 2002). O pilar econômico representa a geração de riqueza pela empresa e para a sociedade, por meio do fornecimento de bens duráveis e serviços (Lorenzetti; Cruz; Ricioli, 2006). Tal pilar “possibilita a alocação e gestão eficiente dos recursos produtivos, bem como um fluxo regular de investimentos públicos e privados” (Barbieri; Cajazeira, 2009, p. 67).

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ambiental todas as condutas que apresentam, direta ou indiretamente, alguma consequência negativa ao meio ambiente, seja a curto, médio ou longo prazo. Barbieri e Cajazeira (2009) chamam tal pilar de sustentabilidade ecológica, descrevendo-o como aquele que se refere às ações para evitar danos ao meio ambiente, causados, estes, pelos processos de desenvolvimento, como por exemplo, substituição do consumo de recursos não renováveis por recursos renováveis; redução da emissão de poluentes; e preservação da biodiversidade. Dessa forma, entende-se, segundo Lorenzetti, Cruz e Ricioli (2006), que o pilar ambiental se relaciona à conservação e ao manejo dos recursos naturais. Trata-se de respeitar a capacidade de resiliência dos ecossistemas naturais, obTrata-servando a importância da proteção do meio ambiente e, consequentemente garantir a sobrevivência do planeta mediante a preservação e a melhoria dos elementos físicos e químicos que a fazem possível, tudo em função de uma melhor qualidade de vida (Saches, 2002).

Segundo Dias (2011), a responsabilidade ambiental está inserida na responsabilidade social empresarial, e deve ser compreendida como um elemento desta, ou seja, não devendo, de modo algum, dela separar-se. Dessa forma, a responsabilidade social consiste no conjunto de atividades realizadas além das responsabilidades legais.

Para Tachizawa (2011, p. 55), “a responsabilidade social e ambiental da sustentabilidade pode ser resumida no conceito de efetividade, como o alcance de objetivos do desenvolvimento econômico-social”.

Assim, é possível perceber que as três dimensões ou pilares da sustentabilidade são complementares para uma empresa ou sistema ser considerado sustentável. Para afirmar que uma organização assim o é, faz-se necessário analisar criteriosamente os indicadores econômicos, sociais e ambientais (Dias, 2011).

Dentre os principais indicadores econômicos, social e ambiental, segundo Assis e Zanella (2013), destacam-se:

• Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado desde o início da década de 90, através do qual se procura medir a qualidade de vida por fatores como educação, longevidade e renda per capita, indicando algumas vulnerabilidades sociais;

• Índice de Sustentabilidade (IS), tendo como mais divulgada a Pegada Ecológica – método pioneiro que se propôs a contabilizar os fluxos de matéria e energia de um sistema convertendo-os em área correspondente de terra ou água existente na natureza;

• Índice de Valores Humanos (IVH), lançado como um complemento do IDH;

Produto Interno Bruto (PIB) per capita – indicador simples o qual se refere à dimensão econômica da renda;

• Índice Firjan;

• Índice de Condições de Vida (ICV);

• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); • Índice de Qualidade de Vida (IQV);

• Índice de Qualidade dos Municípios (IQM).

Savitz e Weber (2007) defendem que uma empresa sustentável deve ser capaz de mensurar, documentar e relatar um retorno sobre investimento positivo nos indicadores econômico, social e ambiental, bem como os benefícios recebidos pelos seus stakeholders ao longo destas três dimensões, como mostra o Quadro 3.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. Quadro 3 – Indicadores de sustentabilidade

Econômico Social Ambiental

Vendas, Lucro, ROI. Práticas de trabalho Qualidade do ar Impostos pagos Impacto na comunidade Qualidade da água Fluxos monetários Direitos Humanos Uso da energia Criação de Empregos Responsabilidade dos produtos Lixo produzido

Fonte: Savitz e Weber (2007, p. 13)

Dias (2011, p. 63) cita alguns indicadores, “[...] tais como: custos, qualidade dos produtos e serviços nível de controle de qualidade, capital humano, tecnologia e capacidade de inovação”.

Godoy et al. (2007) indica o balanço social como um levantamento dos principais indicadores de desempenho econômico, social e ambiental das empresas. No balanço social, são apresentadas as informações sobre os impactos econômicos da empresa na sociedade; sua evolução e distribuição de riquezas; dados sobre o bem-estar da força no trabalho, direitos do trabalho e direitos humanos; e, ainda, o levantamento dos impactos sobre o meio ambiente.

2.3.1 PRÁTICAS DE GESTÃO EMPRESARIAL SUSTENTÁVEL

A gestão empresarial sustentável apresenta-se como um fator importante e indispensável para as empresas na atualidade. Aquela que é sustentável tem uma visão sistêmica de sua atuação, verificando as exigências do cliente externo e interno, observando os efeitos gerados pela empresa em um período de curto, de médio e de longo prazo em relação às suas ações, produtos e processos (Sá et al., 2013).

Dessa forma, conforme Dias (2011), para que uma empresa seja sustentável, e tenha sucesso, ela deve buscar em todas as suas ações e decisões, produzir mais e com melhor qualidade, gerando menos poluição e utilizando menos recursos naturais.

No Brasil, muitas empresas constataram que não agredir o meio ambiente é economicamente viável. Assim, começaram a apresentar medidas para alcançar o desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo aumentar a lucratividade de seus negócios (Hart; Milstein, 2004; Philips, 2010; Grupo Malwee, 2014; Natura, 2014; Walmart, 2015).

Em virtude do aumento progressivo da relevância das questões ambientais, o planejamento estratégico das organizações não consegue mais desconsiderá-las. Uma vez que, além de atingirem os custos finais dos produtos ou serviços, as consequências negativas resultantes de ignorar a gestão ambiental podem também influenciar a continuidade do processo produtivo (Dias, 2011).

Quadro 4 – Exemplos de Práticas de Gestão Sustentável

Práticas Benefícios

Reciclagem

É um processo de conversão de desperdício em materiais ou produto de potencial utilidade. Pode gerar ganhos ao meio ambiente e renda para empresas e funcionários.

Gestão da água

É a utilização da água de maneira eficiente e sustentável. Gera economia de água para as empresas e evita poluição em toda cadeia produtiva.

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Embalagem eco eficiente Reduz ao máximo o uso de materiais, com utilização progressiva de materiais de origem reciclada pós-consumo e/ou renovável. Comprometimento com

fornecedores

São diretrizes socioambientais que promovem o comprometimento dos fornecedores em prol do desenvolvimento sustentável.

Reflorestamento

É a regeneração natural ou intencional de áreas as quais sofreram a retirada de vegetação que pode ser reflorestada para preservar o meio ambiente.

Extração de recursos minerais consciente

A extração consciente reduz impactos ambientais, promovendo a preservação da vegetação nativa e dos animais existentes nas áreas degradadas.

Compromisso com a comunidade

Consiste em criar uma ampla rede, envolvendo a empresa e outros setores da sociedade, com o objetivo de promover novos modelos de desenvolvimento que estejam pautados pela qualidade das relações e pela construção colaborativa.

Responsabilidade ambiental A responsabilidade ambiental é um conjunto de atitudes individuais ou empresarias voltado para o desenvolvimento sustentável do planeta.

Ética

É uma conduta íntegra, transparente e de acordo com os valores e compromissos da empresa, baseando-se nos valores de respeito ao próximo.

Fonte: Adaptado de Hart e Milstein (2004), Philips (2010), Grupo Malwee (2014), Natura (2014), Walmart (2015).

Para Nehme (2011), uma empresa sustentável contribui com o desenvolvimento da sustentabilidade ao realizar, em conjunto, melhorias econômicas, sociais e ambientais, as quais são consideradas a base desse pensamento. Representa as necessidades da geração contemporânea sem que, com isso, afete as futuras gerações, sendo capaz, ainda, de atender suas próprias necessidades.

Boechat e Paro (2007) citam dois indicadores que caracterizam uma gestão empresarial sustentável: o permanente diálogo com os stakeholders e a inserção dos interesses das partes interessadas no planejamento estratégico. A busca pela sustentabilidade empresarial apresenta um novo modelo de gestão, no qual a atuação em projetos de cunho social e ambiental, bem como a transparência com os stakeholders, interfere positivamente na imagem da empresa.

Conforme Nehme (2011), os stakeholders têm o papel de contribuir, influenciar e cobrar das empresas um engajamento em prol da construção de uma sociedade mais justa, um meio ambiente mais saudável e uma economia menos excludente.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia aqui descrita apresenta como foram realizados os procedimentos ao longo da construção desta pesquisa – de caráter exploratório e descritivo – para a qual foi necessário um único estudo de caso.

Quanto à pesquisa, Prodanov e Freitas (2013) afirmam que a exploratória busca conhecer mais o assunto a ser explorado, facilita a restrição do tema da pesquisa, permite que os objetivos sejam traçados ou, ainda, possibilite um novo foco ao tema. A descritiva, por sua vez, busca expor as características de uma população ou fenômeno, ou determinar

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. conexões entre variáveis por meio da utilização de técnicas padronizadas de coleta de

dados, a exemplo de um questionário e observação sistemática.

De acordo com Yin (2005), o estudo de caso contribui com conhecimento próprio em relação a fenômenos individuais, sociais, políticos, organizacionais e de grupo, além de outros fenômenos relacionados. Pode acontecer de forma investigatória preservando os acontecimentos da vida real e mantendo as características holísticas sobre o assunto.

Foram utilizadas três técnicas distintas para coleta de dados: entrevista, questionário e documentos. Estas três técnicas constituem uma abordagem mista, de cunho quantitativo e qualitativo.

Para isso, deve-se considerar o que afirma Roesch (2010) a respeito da abordagem qualitativa, pois é a que melhor se adapta ao aspecto exploratório, devido aos seus métodos de coleta e análise de dados, bem como quanto à possibilidade de captar a perspectiva dos entrevistados. No que se refere ao aspecto qualitativo, busca-se captar a percepção dos funcionários relativamente à cultura da organização, bem como o modo pelo qual veem a atuação de seus líderes, fazendo com que, dessa forma, busque-se relacioná-los.

A primeira técnica de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada, elaborada, a partir de um roteiro de oito questões abertas – como apresentado no Apêndice A.

Segundo Roesch (2010), a entrevista é uma técnica em que o pesquisador apresenta perguntas frente ao entrevistado com o objetivo de obter os dados necessários à investigação.

As entrevistas foram realizadas com os gestores dos setores administrativo, SGA e produção da empresa. As conversas foram gravadas por meio de um dispositivo eletrônico digital, no mês de março de 2019.

A segunda técnica de coleta de dados a ser aplicada foi o questionário, que segundo Gil (2010), é uma técnica de investigação composta por um número determinado de questões apresentadas – por escrito – pelo pesquisador.

Com isso, o questionário possui três blocos abordando as dimensões ambiental, social e econômica. Cada dimensão do bloco com suas afirmativas ou variáveis foi considerada como um questionário independente para que posteriormente possa ser executada a análise. As medidas das respostas dos questionários foram realizadas por meio da escala do tipo Likert, tendo como opções as respostas: 1. Discordo Totalmente; 2. Discordo; 3. Indiferente; 4. Concordo e 5. Concordo Totalmente.

O público-alvo dos questionários foram os 110 funcionários do setor de produção da empresa. O questionário, desenvolvido na ferramenta Google Forms, foi enviado eletronicamente para cada funcionário no período compreendido entre fevereiro e março de 2019.

A terceira técnica aplicada foi a análise documental que, conforme Lakatos e Marconi (2009), podem conter dados coletados restritos de documentos escritos ou não, portanto os documentos podem ser coletados no momento que ocorre o fato ou até mesmo depois do fato gerado e registrado.

Os dados quantitativos foram analisados e quantificados através da estatística descritiva, com apresentação de quadros. Segundo Lakatos e Marconi (2009), o objetivo da estatística descritiva é o de representar, de forma concisa, sintética e compreensível, a informação contida num conjunto de dados. Essa tarefa concretiza-se na elaboração de quadros e no cálculo de medidas ou indicadores que representam convenientemente a informação contida nos dados. Já os dados qualitativos foram analisados através da técnica de análise de conteúdo, distribuídos nas seguintes categorias: práticas sustentáveis nas dimensões social, econômica e ambiental; benefícios; riscos e desafios da gestão organizacional sustentável.

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Segundo Bardin (2006), a análise de conteúdo é uma técnica de análise que permite ao pesquisador relatar e explicar qualquer documento de texto, descrevendo os fenômenos e acontecimentos de maneira detalhada, levando a compreensão completa dos dados e informações obtidas.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DE DADOS

4.1 Análise documental

De acordo com Nascimento (2008) o SGA pode ser determinado como um conjunto de processos para orientar ou administrar uma organização, de modo a obter o melhor relacionamento com o meio ambiente. Já a sustentabilidade organizacional envolve relações múltiplas de troca entre o aspecto econômico, social e ambiental, almejando a seguridade e o bem-estar das gerações presentes e futuras a partir do uso racional e consciente dos recursos disponíveis (Brunstein, Scartezini e Rodrigues, 2012). A empresa objeto de estudo, a partir da certificação ISO 14001, como uma das maneiras mais convencionais, deu início ao seu processo de gestão ambiental - SGA. Este faz parte do sistema global de gestão da empresa, o qual inclui estrutura funcional, responsabilidades, práticas, processos, procedimentos e recursos para a definição e realização da política de ambiente.

Com relação aos objetivos deste sistema, a empresa busca promover uma abordagem comum a nível internacional no que diz respeito à gestão ambiental dos produtos; bem como aumentar a capacidade das empresas de alcançarem um desempenho ambiental e na medição de seus efeitos; além de facilitar o comércio, eliminando as barreiras dos imperativos ecológicos. E, para garantir a transparência de gestão, a empresa conta com auditoria externa desde 1984 (Big Four) e com Governança Corporativa, seguindo recomendações do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

Para atingir seus objetivos de sustentabilidade, a empresa conta com um plano de controle de poluição do ar; um plano de monitoramento da qualidade do ar; o reaproveitamento de água; o consumo de energia elétrica gerada a partir de fontes de baixo impacto ambiental; o armazenamento e descarte correto de resíduos; a documentação e análise de indicadores ambientais; além de atuar com base nos quatro pilares da sustentabilidade descrito no manifesto de “Compromisso com a sustentabilidade”. Apresenta, também, um enfoque na liderança, no público externo, na responsabilidade sócio ambiental e no desenvolvimento social, atendendo assim os requisitos das “dimensões da sustentabilidade”. (Tachizawa, 2011; Dias, 2011)

O primeiro pilar é o da “Liderança da empresa” que mostra a preocupação da empresa com ética, governança e transparência. A empresa procura construir um ambiente de trabalho saudável, estabelecendo regras de relacionamento entre os funcionários em prol da sustentabilidade e respeito com o meio ambiente. O Círculo do Controle de Qualidade (CCQ) é um exemplo por ser um programa composto de funcionários de áreas distintas que voluntariamente realizam reuniões para a melhoria e desenvolvimento da empresa; corroborando com a premissa de participação de todos na construção e manutenção do equilíbrio sistema, compartilhando direitos e responsabilidades, conforme Lorenzetti; Cruz e Riciolo (2006).

O segundo pilar tem relação com o “público externo” para o qual se possui meta anual de benchmarking visando a melhoria dos processos de gestão ambiental. Apresenta a preocupação com o uso de matérias primas que ofereçam verdadeiros benefícios para os clientes e para o meio ambiente. A troca de informações com o público externo fornece

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. elementos para que a empresa possa definir suas estratégias de forma mais assertiva,

construindo sua imagem mais coerente, consistente e uma reputação incólume diante do mercado. Relações estas que coadunam com o pilar econômico do tripé da sustentabilidade (Lorenzetti; Cruz; Ricioli, 2006; Barbieri; Cajazeira, 2009). Dentre seus processos, a empresa realiza pesquisas qualitativas para avaliação da imagem das marcas e produtos, utilizando indicadores para medir o engajamento dos consumidores nas redes sociais e realizando um controle mensal das manifestações recebidas pelos consumidores através do Serviço de Atendimento ao Consumidor e análise trimestral realizada por comitê multidisciplinar para tomada de decisões estratégicas.

O terceiro pilar tem relação com a “responsabilidade sócio ambiental” e está ligado às ações que respeitam o meio ambiente e às políticas que tenham como um dos principais objetivos, a sustentabilidade. Sua preocupação fica explícita a partir do exercício de identificação e controle dos impactos gerados por suas operações (Dias, 2011; Tachizawa, 2011). Para tanto, a empresa se utiliza de indicadores de controle de resíduos sólidos, emissão de gases, incluindo detritos de construção civil, sobras do refeitório, controle de ruídos, queima da caldeira, produtos químicos utilizados na limpeza, avaliados pela engenharia/laboratório; além daqueles que monitoram a economia da empresa, gerando assim impacto positivo na economia local devido à contratação de mão de obra direta e indireta, assim como ao programa para formação de jovens.

Ainda com relação ao pilar “responsabilidade sócio ambiental”, a empresa realiza a avaliação do impacto interno dos projetos industriais, no qual a tecnologia utilizada nestes novos processos se preocupa em proporcionar ganhos importantes para o meio ambiente, como a redução na utilização de vapor; redução na utilização de energia; e redução de perda de matéria prima. Realiza, também, análises de formulações de produtos de concorrentes (nacionais e internacionais) na busca contínua por tendências e inovação; e tem todos os alergênicos controlados pela ANVISA declarados nos rótulos dos produtos; assim como o setor de Engenharia de materiais analisa formulação contínua de fórmulas menos agressivas e de melhor performance dos produtos. Procedimentos esses que vão ao encontro dos indicadores de sustentabilidade apresentados por Savitz e Weber (2007). Além do supracitado, a empresa se utiliza de bulas na linha de sabonetes para comunicar a origem de matérias primas/insumos aos consumidores e de certificação dos fornecedores para demonstrar o atendimento à legislação, licença ambiental e o cumprimento de especificações técnicas internas (ISO 9001 e ISO 14001) de todos os fornecedores que realizam a destinação dos resíduos.

Cabe salientar que a empresa, ainda dentro do contexto da responsabilidade sócio ambiental, atua sobre a luminosidade de ambientes internos e efluentes tratados que serão liberados no corpo receptor ou destinados de acordo com a sua origem; atende legislações e normas da ISO 14000; atua com produtos de natureza biodegradável para que seus processos industriais de fabricação não resultem em contaminação da água; aliando, assim, sua atuação aos principais indicadores de sustentabilidade da mesma forma vistos pelos autores (Savitz e Weber, 2007; Dias, 2011; Nehme, 2011; Assis e Zanella, 2013; Sá et al., 2013).

O último pilar do SGA da empresa apresenta as iniciativas voltadas para o “Desenvolvimento Social”, atuando, principalmente, nos projetos SENAI, os quais já se encontram em sua 16ª edição, demonstrando a contínua contribuição com a comunidade, a qual conta com mais de 200 jovens já formados pelo programa. Cabe salientar que, após a conclusão do curso, a empregabilidade do programa é monitorada e que alguns destes jovens tornam-se colaboradores da própria empresa.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019.

empresa. O projeto Sol Maior - uma associação civil de direito privado, de caráter educacional e sem fins lucrativos, que acredita na música e na dança como poderosos agentes de transformação social para jovens em situação de vulnerabilidade social. E, a coleta seletiva de lixo – um processo que consiste na separação e recolhimento dos resíduos descartados pela empresa e funcionários. Desta forma, os materiais que podem ser reciclados são separados do lixo orgânico.

De forma geral, por meio da análise documental disponibilizada pela empresa, verifica-se um conjunto de processos os quais orientam a organização, de modo a obter o melhor relacionamento com o meio ambiente e atender aos indicadores característicos de uma gestão empresarial sustentável, da mesma forma visto, dentre outros autores, em Boechat e Paro (2007) e Nehme (2011).

4.2 Análise das entrevistas realizadas com os gestores dos setores administrativos, SGA e produção da empresa.

O primeiro ponto abordado na entrevista refere-se à questão da sustentabilidade, ou seja, à percepção que os gestores possuem acerca do contexto de sustentabilidade. Neste quesito, os gestores são unânimes e objetivos ao informar que “a sustentabilidade visa suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações”, corroborando com Chiavenato e Sapiro (2009). Os autores ressaltam o fato de a sustentabilidade praticar o aproveitamento de recursos por meio de um modelo adaptável às demandas sociais e empresariais e que, assim, ajudem o ambiente ecológico sem afetar as necessidades futuras. Um dos entrevistados também reforça que “o tema sustentabilidade está presente no cotidiano da empresa”.

A segunda questão busca saber a opinião sobre a importância da sustentabilidade para o sucesso da empresa. Onde, na visão do gestor do setor SGA “o mundo corporativo é muito dinâmico” e, estar atento às mudanças e se antecipar aos movimentos pode fazer a diferença no sucesso de um negócio. Para ele, a sustentabilidade é uma nova forma de fazer negócios, que tem como foco desenvolver um novo papel da empresa na sociedade. Já, na percepção do gestor administrativo e de produção, para a empresa ter sucesso tem que “investir na logística reversa, na utilização de energias renováveis bem como, ter ética, ou seja, uma conduta íntegra, transparente e de acordo com os valores e compromissos da empresa”. O que demonstra que os gestores entrevistados, estão alinhados ao pensamento de Dias (2011) ao revelar que, para uma empresa ser sustentável e obter sucesso, ela deve ter ética em todas as suas ações e decisões, produzir mais e com melhor qualidade, gerando menos poluição e utilizando menos recursos naturais.

Na sequência, a terceira questão buscou revelar a preocupação da empresa em relação ao meio ambiente e às suas atividades de produção. Neste ponto, os três gestores relataram que a empresa possui ampla preocupação com o meio ambiente, pois a produção de seus principais produtos depende dos recursos naturais. No entendimento dos mesmos a empresa se preparou para reduzir o lixo gerado em seu processo produtivo a patir da conscientização de possíveis prejuízos ocasionados ao meio ambiente, buscando, assim, reverter impactos ambientais através da utilização de indicadores de controle, análises de formulações de produtos de concorrentes (nacionais e internacionais); engenharia de materiais; interlocução com consumidores sobre origem das matérias-primas; e descarte de embalagens e certificação dos fornecedores.

A partir das colocações dos gestores, é possível verificar que a empresa, por intermédio de sua ações, atendem ao que preconizam os teóricos SÁ et al. (2013), ao referirem ser este resultado de suma importância para a empresa já que, segundo eles,

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. uma empresa sustentável é aquela que tem uma visão sistêmica de sua atuação,

verificando as exigências do cliente externo e interno, observando os efeitos gerados pela empresa num período de curto, médio e longo prazo em relação às suas ações, produtos e processos.

Com o aumento progressivo da relevância das questões ambientais, o planejamento estratégico das organizações não consegue mais desconsiderá-las. (Dias, 2011). Uma vez que, além de atingirem nos custos finais dos produtos ou serviços, as consequências negativas resultantes de ignorar a gestão ambiental podem também influenciar a continuidade do processo produtivo. (Kraemer e Tinoco, 2004). Sendo assim, o questionamento seguinte foi realizado para entender como empresa desenvolve o planejamento estratégico visando as suas atividades e metas futuras.

Observou-se a unanimidade dos gestores ao afirmar que “este tema é bem presente na gestão do negócio”. O gestor administrativo informou que “para realizar o planejamento estratégico a empresa usa a ferramenta SWOT para mapear as forças, fraquezas, oportunidade e ameaças”. Os três gestores também relataram o fato de a empresa realizar a cada início de ano a averiguação de sua situação líquida através de relatórios contábeis e financeiros, de modo a buscar possíveis melhorias nos negócios. Por meio desta verificação, a empresa realiza levantamentos das próximas metas a serem alcançadas, corroborando com as etapas do planejamento elencadas por Oliveira (2011) e Chipanski (2003).

Para os gestores do setor SGA e de produção, o processo do planejamento desenvolvido pela empresa “está pautado na organização de instrumentos de gestão que a possibilitam atender de maneira eficaz seus objetivos e metas, auxiliando para que ela possa antecipar-se às ameaças e fazer um diagnóstico de oportunidades e melhorias de sua gestão”. Afirmam ainda que “a análise é feita com a participação de todos os funcionários e que com o planejamento a empresa reduz os impactos relacionados à sua atividade, no que se refere ao meio socioeconômico e ambiental”.

Identificou-se também as práticas de sustentabilidade adotadas pela empresa no processo de gestão empresarial com foco nas dimensões ambiental, social e econômica conforme mostra o Quadro 5.

Quadro 5 - Dimensão ambiental, econômica e social da empresa

Dimensão Ambiental Dimensão Econômica Dimensão Social

A empresa respeita o meio ambiente, as leis, os regulamentos e demais requisitos através dos colaboradores, influenciando a sociedade.

A empresa atende às expectativas dos acionistas.

A empresa conta com 300 colaboradores diretos e 450 indiretos, os quais trabalham nas duas fábricas e nas sete unidades logísticas.

Tem plano de controle de

poluição do ar. Tem lucratividade e solidez econômico-financeira. Incentiva desenvolvimento o contínuo dos funcionários.

Plano de monitoramento da qualidade do ar.

Faz pesquisas qualitativas para avaliação da imagem das marcas e produtos.

Apoio a projetos sociais como SOL Maior, de caráter educacional e sem fins lucrativos que acredita na dança e na música para jovens em situações vulneráveis.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. Consumo de energia elétrica gerada por fontes de baixo impacto ambiental.

Tem um longo período de sobrevivência no mercado (está no mercado há mais de 65 anos).

Tem o controle mensal manifestações recebidas pelos consumidores através do Serviço de Atendimento ao Consumidor. Armazenamento e descarte correto de resíduos. A análise é realizada

trimestralmente por comitê multidisciplinar para tomada de decisões estratégicas.

Documentação e análise de indicadores ambientais; materiais analisados continuamente pela engenharia buscando fórmulas menos agressivas e de melhor desempenho dos produtos.

Tem indicadores que medem o

engajamento dos consumidores nas redes sociais.

Estão sempre inovando - alergênicos são monitorados pelas ANVISA e declarados nos produtos.

A empresa possui o programa PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) onde são monitorados os níveis de ruídos por setor da empresa e através de telhas translúcidas com o objetivo de reduzir a necessidade de iluminação artificial.

Fonte: elaborado pelos autores

A sustentabilidade na empresa foi analisada mediante a percepção dos gestores através de três dimensões: social, ambiental, econômica. Para Brunstein, Scartezini e Rodrigues (2012) a sustentabilidade organizacional visa suprir as necessidades atuais, sem comprometer o futuro. Envolve relações múltiplas de troca entre o aspecto econômico, social e ambiental. (Barbieri; Cajazeira, 2009; Elkington, 2012)

Com base nas práticas adotadas pela empresa fica evidente seu esforço em promover ações de sustentabilidade, assim como outras empresas estudadas e destacadas no referencial teórico, que ao mesmo tempo aumentam a lucratividade de seus negócios e preservam a natureza (Hart; Milstein, 2004; Philips, 2010; Grupo Malwee, 2014; Natura, 2014; Walmart, 2015).

Outro questionamento conduzido aos gestores refere-se aos principais desafios que a empresa enfrenta em relação à minimização dos impactos decorrentes da sua atividade e, também, a respeito dos riscos e benefícios mais relevantes que a empresa possui em relação à aplicação de um processo de gestão voltado para a sustentabilidade. Os principais desafios, riscos e benefícios identificados na operacionalização da gestão sustentável pela empresa estão evidenciados no Quadro 6.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. Quadro 6 - Desafios, riscos e benefícios apresentados pela gestão sustentável da empresa

Desafios Riscos Benefícios

Na burocracia da

implantação de projetos. Relacionados à lucratividade e à rentabilidade da empresa, o que pode acarretar em redução dos lucros.

Melhoria na imagem da empresa junto à comunidade e clientes. Carência de mão-de-obra com experiência em implantação da gestão ambiental. Redução de custos e desperdícios. Carência de infraestrutura na região para destinação ambientalmente correta dos resíduos.

Surgimento de novos negócios.

Manter a conscientização dos funcionários em relação às questões ambientais. Melhoria na conscientização ambiental dos funcionários.

Fazer com que o sistema de gestão ambiental permaneça em constante melhoria. Redução do número de acidentes ambientais, multas/autuação.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os resultados presentes no Quadro 6 vão ao encontro dos achados de Porter (2004); Kraemer e Tinoco (2004), onde a implantação de um sistema de gestão ambiental produz desafios, riscos e benefícios. Segundo os gestores, os principais desafios da empresa foram a burocracia na implantação de projetos com questões morosas ligadas à legislação das questões ambientais e ao apoio dos órgãos competentes devido à demora nas liberações e análises, reduzindo a intenção das empresas em implementar mudanças na área ambiental; a carência de mão-de-obra com experiência em implantação da gestão ambiental, pois a área possui escassez de profissionais competentes e capacitados; e, a carência de infraestrutura na região para destinação ambientalmente correta dos resíduos, bem como fazer com que o sistema de gestão ambiental permaneça em constante melhoria.

Riscos estes relacionados à lucratividade e à rentabilidade da empresa poderiam acarretar em redução dos lucros, pois questões ambientais mal administradas podem impactar diretamente nos resultados da empresa. Enquanto, conforme Savitz e Weber (2007), o retorno sobre o investimento deve ser positivo tanto a partir da análise dos indicadores quanto dos benefícios recebidos por seus stakeholders.

Dentre os benefícios apontados, destacam-se a melhoria na imagem da empresa junto à comunidade e clientes, pois as questões ambientais podem gerar valor para as marcas da empresa; a redução de custos e desperdícios, que podem melhorar os resultados da organização; o surgimento de novos negócios, pois a empresa pode expandir e diversificar sua atuação a partir da SGA; a melhoria na conscientização ambiental dos funcionários; e, a redução do número de acidentes ambientais e multas/autuação,

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diminuindo os custos ou perdas ligadas à gestão ambiental; contribuindo, assim, para o alcance do desenvolvimento sustentável, sem perder a lucratividade. (Hart; Milstein, 2004; Philips, 2010; Grupo Malwee, 2014; Natura, 2014; Walmart, 2015).

4.3 Análises do questionário aplicado aos 110 funcionários do setor de produção da empresa

Com intuito de obter informações sobre as práticas de sustentabilidade realizadas na empresa foi elaborado um questionário separado em três blocos independentes, nos quais se aborda a dimensão ambiental, econômica e social.

As opções para as respostas são: DT - Discordo Totalmente; D - Discordo; I - Indiferente; C - Concordo e CT - Concordo Totalmente.

Assim, inicialmente, os funcionários foram abordados sobre sua percepção a respeito da dimensão ambiental. As distribuições das respostas seguem no Quadro 7:

Quadro 7 - Percepção dos funcionários em relação a dimensão ambiental.

Dimensão Ambiental DT D I C CT

A empresa participa do processo de educação ambiental, tanto de seus colaboradores quanto da sociedade como um todo.

72,2% 2,38% 19,4% 5,6% Possui uma política ambiental documentada,

aprovada pela alta direção e divulgada às partes interessadas.

2,8% 88,9 % 8,3% A empresa possui dispositivos e recursos que

favorecem a economia de água e energia. 2,8% 83,3% 13,9% A empresa possui uma adequada estrutura para

coleta de lixo reciclável e realiza esta prática. 11,1% 72,2% 16,7% A empresa avalia seu desempenho ambiental

(resultados das suas práticas de gestão ambiental).

5,6% 61,1% 2,8% 27,8% 2,8% Fonte: Elaborado pelos autores.

A dimensão ambiental trata do respeito à capacidade de resiliência dos ecossistemas naturais, preservando os recursos naturais, bem como, a limitação e uso correto dos recursos não renováveis (Saches, 2002). Refere-se às ações para evitar danos ao meio ambiente, causados, estes, pelos processos de desenvolvimento, como por exemplo, substituição do consumo de recursos não renováveis por recursos renováveis, redução da emissão de poluentes, energia, água etc. (Barbieri e Cajazeira, 2009).

Os resultados revelaram que para 97,2% dos funcionários a empresa possui uma política ambiental documentada, aprovada pela alta direção e divulgada às partes interessadas; 88,9% afirmaram que a empresa apresenta dispositivos e recursos os quais favorecem a economia de água e energia e uma adequada estrutura para coleta de lixo reciclável. No entanto, 72,2% dos funcionários apontam que a empresa não participa do processo de educação ambiental, tanto de seus colaboradores quanto da sociedade como um todo e, além disso, 66,7% afirmam que a empresa não avalia seu desempenho ambiental, demonstrando a necessidade de uma reavaliação das práticas de sustentabilidade.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019. política ambiental documentada, aprovada pela alta direção e divulgada às partes

favorecidas; e apresente dispositivos e recursos que beneficiem a economia de água e energia, além de uma adequada estrutura para coleta de lixo reciclável; ela precisa medir seu desempenho ambiental e aperfeiçoar seu processo de educação ambiental, tanto de seus colaboradores quanto da sociedade, a fim de melhorar a percepção dos funcionários com relação à essa dimensão, contribuindo diretamente com o pilar social do tripé da sustentabilidade (Elkington, 2012; Jacobs; Chase, 2012).

A fim de atender o objetivo de analisar a dimensão econômica na empresa, segundo a percepção dos funcionários apresentam-se a seguir, no Quadro 8 os resultados.

Quadro 8 - A percepção dos funcionários em relação a dimensão econômica.

Dimensão Econômica DT D I C CT

O planejamento estratégico da empresa

leva em consideração a sustentabilidade. 3,2% 55% 2% 34% 5,8% A empresa prioriza fornecedores que

realizam práticas sustentáveis 8,9% 4,3% 84% 2,8% A empresa comunica ao público interno e

externo as estratégias, valores e princípios voltados para sustentabilidade.

2,7% 61,1% 2,8% 27,8% 5,6% A empresa investe em pesquisa e

desenvolvimento dos seus produtos e processos na busca de um negócio mais sustentável

9,4% 3,9% 78,3% 8,4% A empresa oferece produtos

ecologicamente corretos em seu portfólio para atrair novos mercados e investidores

2,2% 2,8% 86,7% 8,3% A empresa busca avaliar constantemente

a satisfação dos seus clientes acerca do

produto ou serviço prestado 2% 5,6% 84,1% 8,3% Fonte: Elaborado pelos autores

A dimensão econômica representa a geração de riqueza pela empresa e para a sociedade (Lorenzetti; Cruz; Ricioli, 2006), possibilitando a alocação e gestão eficiente dos recursos (Barbieri; Cajazeira, 2009). Os resultados obtidos indicaram uma percepção positiva dos funcionários, pois afirmaram que a empresa prioriza fornecedores os quais realizam práticas sustentáveis; investe em pesquisa e desenvolvimento dos seus produtos e processos na busca de um negócio mais sustentável; além de oferecer produtos ecologicamente corretos em seu portfólio para atrair novos mercados e investidores e avaliar constantemente a satisfação dos seus clientes acerca do produto ou serviço prestado.

No entanto, 58,2% e 63,8% das respostas distribuídas nas opções discordo e discordo totalmente mostram discordância de percepção nas variáveis relativas ao planejamento estratégico no que diz respeito à sustentabilidade e à comunicação pela empresa de suas estratégias voltadas à sustentabilidade; o que reflete a falta de orientação dos funcionários, pois os assuntos tratados nas duas variáveis estão expostos no site da empresa e, segundo os gestores do setor SGA e de produção, ao responderem sobre a análise para a realização do planejamento estratégico, afirmaram ser feita com a participação de todos os funcionários e que, através do planejamento, a empresa reduz os impactos relacionados à sua atividade, no que se refere ao meio socioeconômico e ambiental. Contudo, expõe a necessidade de promover melhor orientação destes funcionários, de modo a caminharem na mesma direção dos gestores e entenderem,

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019.

efetivamente, a importância das tarefas desempenhadas, atingindo assim, eficientemente, os princípios de sustentabilidade adotados pela empresa.

O Quadro 9, apresenta a percepção dos funcionários referente à dimensão social na empresa.

Quadro 9 - Percepção dos funcionários em relação a dimensão social.

Dimensão Social DT D I C CT

A empresa paga salários justos aos seus

empregados. 22,2% 63,9% 8,3% 5,6%

A empresa incentiva e apoia a qualificação

dos funcionários. 22,2% 55,6% 11,1% 8,3% 2,8% A empresa possui e busca promover um bom

clima organizacional em sua rotina diária. 33% 5,6% 52,8% 8,3% A empresa possui canais formais para

recebimento de denúncia quanto às violações éticas.

58,9% 11,1% 27,2% 2,8% A empresa destina recursos voluntariados

para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público.

42,2% 2,8% 46,7% 8,3% Fonte: Elaborado pelos autores

A dimensão social se refere ao alcance de um processo de desenvolvimento que conduz ao crescimento com uma justa distribuição de renda. A empresa deve gerar empregos, proporcionar um ambiente seguro e contribuir para o desenvolvimento de programas de saúde e educação entre outros (Jacobs; Chase, 2012). Entretanto, conforme o Quadro 9, 86,1% dos funcionários afirmam que a empresa não paga salários justos aos seus empregados e para 77,8% ela não incentiva a sua qualificação. No entanto, para 61,1% a empresa se esforça em práticas visando promover um bom clima de trabalho.

Os resultados da dimensão social revelam ainda que, para 58,9% dos funcionários, a empresa não possui canais formais para denúncias em relação à violação ética. Quando questionados se a empresa destina recursos para projetos sociais, as respostas ficaram fragmentadas, pois o alto índice de discordância pode apontar falta de clareza ou de comunicação das ações da empresa. Para 42,2% das pessoas, a empresa não destina voluntariamente recursos para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público.

Estes percentuais permitem indicar haver uma discordância de percepção, os gestores afirmam o fato de a empresa gerar empregos; incentivar o contínuo desenvolvimento dos funcionários, bem como de projetos sociais, como SOL Maior, de caráter educacional. Os funcionários afirmam que a empresa não lhes apresenta o alcance de um processo de desenvolvimento que conduza a um crescimento estável com uma justa distribuição de renda, assim como não destina recursos voluntariados para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público e não possui canais formais para recebimento de denúncia em relação às violações éticas.

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RASM, Alvorada, v.9, n.1, p.68-90, Jan./Jun. 2019.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo objetivou avaliar, a partir da percepção dos gestores e dos funcionários, em qual dimensão de sustentabilidade a empresa possui um melhor desempenho, seja ele ambiental, econômico ou social, bem como identificar os benefícios alcançados, os riscos e os desafios da gestão sustentável.

Os resultados revelam informações importantes, as quais podem servir de base para propor ações de melhorias. Se concretizadas, tais melhorias podem ajudar a empresa na sustentabilidade organizacional.

Fica explícito, a partir dos resultados da pesquisa, que as práticas de gestão sustentável adotadas com melhor desempenho pela empresa envolvem as dimensões ambiental, econômica e social, respectivamente. Contudo, os resultados apontam divergências de percepção em diversas variáveis analisadas. As informações dos gestores retratam os escritos nos documentos da empresa, enquanto as informações dos funcionários expõem falhas na gestão, culminando, inclusive, na necessidade de promover conhecimento/orientação aos funcionários.

No que se refere à dimensão ambiental, a empresa respeita leis, regulamentos e demais requisitos através dos seus colaboradores, influenciando a sociedade; possui plano de controle e monitoramento de poluição do ar, consumo de água com reaproveitamento, consumo de energia elétrica gerada por fontes de baixo impacto ambiental, bem como armazenamento e descarte correto de resíduos e análise de seus indicadores ambientais.

Os materiais são analisados continuamente pela engenharia, buscando fórmulas menos agressivas e de melhor desempenho dos produtos. No entanto, 72,2% dos funcionários apontaram a não participação da empresa no processo de educação ambiental, tanto de seus colaboradores quanto da sociedade como um todo e, além disso, 66,7% afirmaram não haver a avaliação do desempenho ambiental por parte da empresa. Com relação à dimensão econômica, os resultados mostram que a empresa atende às expectativas dos acionistas, tem lucratividade e solidez econômico-financeira. A empresa faz pesquisas qualitativas para avaliação da imagem das marcas e produtos, moderniza os processos e produtos, bem como está no mercado há mais de 65 anos. Contudo, para 58,2% dos funcionários, seu planejamento estratégico não leva em consideração a sustentabilidade e, para 63,8%, não há não comunicação ao público interno e externo das estratégias, dos valores e dos princípios voltados para a sustentabilidade.

Quanto à dimensão social, os resultados revelam que, para os funcionários, embora a empresa gere empregos e incentive o contínuo desenvolvimento dos funcionários, bem como apoie projetos sociais, como SOL Maior, de caráter educacional, a empresa não apresenta o alcance de um processo de desenvolvimento que conduza a um crescimento estável com uma justa distribuição de renda. Segundo a percepção de mais de 86% dos funcionários, a empresa não paga salários justos e não incentiva e apoia a qualificação (77,8%). Para 58,9% dos funcionários a empresa não possui canais formais para recebimento de denúncias em relação a violações éticas e nem destina recursos voluntariamente para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público (42,2%).

Os desafios identificados na gestão voltada para a sustentabilidade estão relacionados à burocracia encontrada na implantação dos projetos, carência de mão-de-obra com experiência em inserção da gestão ambiental e infraestrutura na região para direção ambientalmente correta dos resíduos, conscientização dos funcionários em relação às questões ambientais, bem como o sistema de gestão ambiental permanecer em constante melhoria.

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Os principais riscos enfrentados pela empresa dizem respeito a sua lucratividade e rentabilidade, o que pode acarretar na redução dos lucros obtidos. Entretanto, os benefícios apresentados pela adoção da gestão sustentável sobressaem sobre os riscos e desafios, pois seus resultados apontam que os benefícios mais relevantes se referem ao desenvolvimento da imagem da empresa junto à comunidade e clientes, à redução de custos e desperdícios, bem como ao surgimento de novos negócios e à redução do número de acidentes ambientais, multas/autuação.

Assim, entende-se que este estudo atingiu seus objetivos; pois mostrou a percepção dos gestores e funcionários da empresa Memphis em relação à sustentabilidade organizacional.

Sugere-se para futuros estudos, a realização de pesquisas semelhantes a esta, com a inclusão de outros setores, ressaltando a importância do tema de gestão empresarial direcionado à sustentabilidade nas dimensões ambiental, econômica e social.

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Referências

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