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Sexualidade no puerpério: a visão do casal [Sexuality in puerperium: the couple’s vision]

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Academic year: 2021

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RESUMO

Objetivo: conhecer como os casais vivenciam a sexualidade no período puerperal. Método: trata-se de uma pesquisa de abordagem

qualitativa de caráter descritivo analítico. O instrumento utilizado na pesquisa foi à entrevista semiestruturada. As entrevistas ocor-reram nos meses de julho a novembro de 2014. Participaram 08 casais. Por meio da análise de conteúdo temática, as falas foram agrupadas, possibilitando a criação de três categorias: O significado do “resguardo” para o casal; O aleitamento materno e a relação sexual e; A vida sexual após o nascimento de um filho. Resultados: os resultados revelaram que este período é cercado de grandes transformações na vida do casal e a sexualidade no puerpério está envolvida na recuperação, dificuldades e preocupações. Conclusão: pode-se concluir que a sexualidade durante o período de transição para a paternidade/maternidade é uma área que requer um olhar mais amplo, devido às dificuldades enfrentadas pelos casais para vivenciá-la de forma plena.

Descritores: Gravidez. Período Pós-Parto. Sexualidade. ABSTRACT

Objective: to know how the couples experience sexuality in the puerperal period. Method: It is a qualitative research of analytical

descriptive. The instrument used in the research was the semi-structured interview. The interviews took place from July to Novem-ber/2014. Eight couples participated. Through thematic content analysis, the sentences were grouped, enabling the creation of three categories: The meaning of “resguardo” to the couple; Breastfeeding and sex and; The sexual life after birth. Results: The results re-vealed that this period is surrounded by great changes in the lives of the couple and sexuality postpartum is involved in the recovery, difficulties and concerns. Conclusion: It can be concluded that sexuality during the transition period for paternity/ motherhood is an area that requires a broader look, due to the difficulties faced by couples to experience it in full.

Descriptors: Pregnancy. Postpartum Period. Sexuality. RESUMEN

Objetivo: Conocer cómo las parejas experimentan la sexualidad en el período puerperal. Método: Se trata de una investigación

cua-litativa de carácter descriptiva analítica. Método: El instrumento utilizado en la investigación fue la entrevista seme-estructurada. Las entrevistas tuvieron lugar entre julio y noviembre de 2014. Ocho parejas participaron. A través de análisis de contenido temático, las líneas se agruparon, permitiendo la creación de tres categorías: El significado del “resguardo” para la pareja; La lactancia materna y el sexo y; La vida sexual después del nacimiento de un niño. Resultados: Los resultados revelaron que este período está rodeado de grandes cambios en la vida de la pareja y la sexualidad después del parto está involucrado en la recuperación, las dificultades y preocupaciones. Conclusión: Se puede concluir que la sexualidad durante el período de transición para la paternidad / maternidad es un área que requiere una mirada más amplia, debido a las dificultades que enfrentan las parejas a experimentar en su totalidad.

Descriptores: Embarazo. Periodo Posparto. Sexualidad.

Sexualidade no puerpério: a visão do casal

Sexuality in puerperium: the couple’s vision Sexualidad en el puerperio: la visión de la pareja

Walter Guimarães Jesus1; Vivian Mara Gonçalves de Oliveira Azevedo2

1 Enfermeiro. Hospital Sofia Feldman, Belo Horizonte. Brasil. E-mail: walter-guimaraes@outlook.com

2Fisoterapeuta. Doutora. Professora Adjunta I da Universidade de Uberlândia (UFU). Minas Gerais, Brail. E-mail: viviangazevedo1@gmail.com

Enfermagem Obstétrica, 2017; 4:e58.

Introdução

A gravidez, o parto e o puerpério são fases do ciclo gravídico-puerperal, que constitui um momento de trans-formação e integra a vivência reprodutiva familiar, levando a alterações que impactam na vida da gestante. Para além disso, engloba todos os membros da família, ao vivenciarem mudanças importantes não só no papel desempenhado por cada um como também em cada estilo de vida1.

Essas alterações proporcionam aos casais meios para reverem seus papéis diante da dinâmica conjugal, estrutura

e seu funcionamento. A chegada de um filho promove, de forma direta e indireta, alterações no convívio familiar, gerando diversas expectativas desse momento, cercado de incertezas, medos e inseguranças2.

A vivência do puerpério, período que engloba as primeiras semanas que varia de quatro a seis semanas subsequentes ao parto, é marcado por transformações fisiológicas, endócrina e genital, acarretando mudanças na totalidade do indivíduo. E não se pode falar em totalidade

ISSN 2358-4661

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sem falar de sexualidade, uma vez que essa é parte integran-te da personalidade do ser humano. O desenvolvimento se completa com a satisfação das necessidades humanas básicas, como o desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, amor e carinho3.

A sexualidade é considerada um dos cinco parâ-metros de saúde do indivíduo, sendo cada vez mais en-fatizada a importância da saúde sexual para manutenção das relações afetivas. As expressões da sexualidade têm diversos significados, conforme os valores vividos por cada ser humano. No espaço sociocultural, é uma área de saber e de investigação que causa polêmica, uma vez que envolve elementos de ordem religiosa e ética de diferentes conotações e universos4.

Sexualidade é o termo que refere ao conjunto de fenômenos da vida sexual. Ela é o aspecto central de nossa personali-dade, por meio da qual nos relacionamos com os outros, conseguimos amar, ter prazer e procriar5:79.

Diversos significados são atribuídos às manifestações relativas à sexualidade e de como o ser humano vivencia es-tes aspectos essenciais ao seu desenvolvimento desde seu nascimento até a morte. Estes são decorrentes de valores e práticas culturais e evidenciam várias e diferentes socia-lizações que o indivíduo experimenta em sua vida: família, tipos de escola, acesso aos diversos meios de comunicação, redes sociais, redes de amizade e vizinhança6.

Essas socializações vão exercendo papel fundamental na construção do ser humano como um todo, gerando for-mas de interpretar e vivenciar a sexualidade. Sendo assim, ao pensarmos o corpo e a sexualidade, é necessário consi-derar uma dimensão maior que a biológica, uma vez que o conceito geral de saúde envolve também a sexualidade, a integração dos aspectos emocionais, intelectuais e sociais do ser sexuado de formas enriquecedoras e que valorizem a personalidade, a comunicação e o amor. A sexualidade no puerpério não pode ser negligenciada, pois deve ser compreendida em um contexto sociocultural6.

Alterações na sexualidade ocorrem na gestação, bem como no puerpério, devido a vários fatores que levam à perda da libido. No período puerperal, esta frequência fica ainda mais prejudicada, pela mudança corporal, intercor-rências vaginais, noites sem dormir devido ao cuidado com filho, o ato de amamentar, baixa autoestima, espera pela liberação médica, questões religiosas e inter-relacionais, além de medo, mitos e crenças sobre a sexualidade feminina no ciclo gravídico-puerperal7.

Nesse aspecto, apesar de o puerpério ser um evento marcante na vida das mulheres, tem grande impacto sobre a vida dos homens. Esta fase é de enorme importância na vida do casal, pois está ligada a alterações físicas e sociais que repercutem em mudanças corporais, no bem-estar, nos relacionamentos. O interesse sexual, durante este pe-ríodo sofre grandes variações, desde a rejeição voluntária até o seu aumento, causando modificações na disposição, comportamentos e práticas sexuais. Por tanto, faz-se neces-sário conhecer aspectos ligados à constituição de gênero, ao sistema familiar, à vida conjugal e às repercussões da gravidez e puerpério, na sexualidade1.

Deste modo, é importante compreender esse período tão significativo e complexo na vida do casal, que vivencia uma gama de sentimentos pré e pós nascimento do bebê, e necessita de intervenções que focalizem as interações na tríade pai-mãe-bebê e o funcionamento familiar na vivência da sexualidade como um todo7.

Conforme já colocado neste trabalho, o ciclo grávido--puerperal traz diversas transformações não apenas para a mulher, mas também para o seu companheiro e até mesmo chega a atingir aqueles que são parte do convívio do casal, como os familiares e amigos mais próximos. Sendo assim, estudos que se voltem para tal período se tornam deveras importante por mais de uma razão.

Em primeiro lugar, há de se destacar a sua rele-vância para que se proponham ações para melhoria da assistência prestada ao casal no ciclo grávido-puerperal. Certamente, conhecer mais de perto como se comportam e desenvolvem a sua sexualidade, durante e após o parto, contribuirá para que sejam melhor assistidos e de forma mais humanizada.

Outro fator que não passa despercebido é a escassez de pesquisas sobre a sexualidade conjugal. Observa-se, na literatura, que os estudos se voltam predominante-mente para a mulher no ciclo grávido-puerperal, apesar do reconhecimento de muitos estudiosos da importância do fortalecimento conjugal neste período, assim como da significância do envolvimento do casal no pré e no pós-natal. Por fim, compreender essas questões e suas reper-cussões na sociedade atual é ao mesmo tempo razão e desafio, visto que abordar a sexualidade não é tarefa fácil. Não obstante a riqueza dessa dimensão humana, discuti-la vai ainda de encontro a valores morais, que, por sua vez, determinam comportamentos, usos e costumes sociais.

Diante do exposto, essa pesquisa teve o objetivo de conhecer como os casais, após o parto vaginal, vivenciam a sexualidade no período puerperal.

Método

Na busca de compreender as experiências afetivo-se-xuais dos casais no ciclo gravídico-puerperal, optou-se pela pesquisa de campo de abordagem qualitativa e de caráter descritivo analítico, pois possibilita melhor compreensão dos significados, motivos, aspirações, crenças e valores8. Para a coleta de dados utilizou-se o método de entrevista semiestruturada que permite a elaboração de um roteiro de pesquisa e que é uma combinação de perguntas abertas e fechadas onde o entrevistador tem a possibilidade de falar sobre o tema sem se prender à questão problema9,10.

A pesquisa foi desenvolvida em uma maternidade que presta assistência materno-infantil a uma população supe-rior a 400 mil pessoas moradoras dos Distritos Sanitários Norte e Nordeste, em Belo Horizonte, Minas Gerais e no Centro de Parto Normal (CPN), unidade intra-hospitalar da referida maternidade11.

Os sujeitos integrantes deste estudo foram 08 casais que tiveram seus filhos tanto na maternidade quanto no CPN. Os casais entrevistados vivenciaram o parto vaginal

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de feto único, com ou sem laceração perineal e se dispu-seram a participar da pesquisa após convite feito pelos pesquisadores. Foram critérios para a participação no estudo: casais que tiveram parto vaginal; que declararam ter união estável ou casados e que aceitaram, após leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), participar do estudo.

A coleta de dados aconteceu por meio de entrevistas realizadas nos meses de julho a novembro de 2014. Em um primeiro momento, os casais foram abordados durante o pré-natal e no trabalho de parto, possibilitando observar e cultivar o vínculo com os mesmos. Isso levou a um contato mais próximo com os casais, permitindo a percepção do cenário sociocultural do estudo e facilitando o acesso à informação e a compreensão de comportamento destes.

As entrevistas foram agendadas com o local, dia e ho-rário conforme o desejo e disponibilidade do casal durante o puerpério tardio, isto é, a partir da 6ª a 8ª semana de pós-parto, até no máximo a 10ª semana, seguindo roteiro elaborado para a pesquisa. Como local para as entrevistas, foi indicado o próprio domicílio ou o hospital em local reservado, conforme escolha do casal, o que viabilizou a observação da vida social e da relação familiar. Durante as entrevistas houve a preocupação de possibilitar aos par-ticipantes a liberdade e espontaneidade necessária para criar uma interação capaz de desenvolver um ambiente facilitador entre ambas as partes.

Os casais entrevistados, para fins deste estudo, fo-ram identificados como P para puérperas P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7 e P8 e os homens foram identificados como E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7 e E8, garantindo assim o anonimato destes.

Os dados coletados foram sistematizados e anali-sados conforme a técnica de análise de conteúdo. Esta técnica consiste num conjunto de técnicas de análise de comunicação que visa obter, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens os indicadores, que podem ser quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens12.

Para a análise de conteúdo foram levantadas as várias técnicas que são utilizadas de acordo com a necessidade de trabalhar determinados aspectos do texto, que compre-endem: análise de expressão, análise de relações, análise temática e análise da enunciação.

Optou-se pela análise temática, afim de descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado8. Esse tipo de análise se divide em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamen-to dos resultados obtidos e interpretação. Na pré-análise, realizou-se leitura flutuante de todo o material recolhido pelo pesquisador e foram elaborados alguns indicadores que facilitaram a compreensão e interpretação dos dados. A exploração do material foi realizada com os recortes do texto em unidades de registros e categorização, o que per-mitiu a classificação e a agregação dos dados em categorias empíricas. O tratamento dos resultados e a interpretação

foram obtidos com inferências e interpretações, correlacio-nadas ao objetivo proposto8.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Hos-pital Sofia Feldman CEP/HSF sob o parecer de nº 641.840.

Resultados e Discussão

Caracterizações dos casais entrevistados

A pesquisa reuniu dezesseis participantes que con-tribuíram com depoimentos sobre suas vivências afetivo--sexuais no período puerperal. A idade dos participantes variou de 18 a 39 anos; número de filhos 1 a 3; escolaridade variou entre 11 a 17 anos completos; além disso, 6 casais declararam serem casados.

A partir da análise temática, foram identificadas três categorias empíricas: O significado do “resguardo” para o ca-sal; O aleitamento materno e a relação sexual e; A vida sexual após o nascimento de um filho. Como houve semelhança nos discursos, as três categorias relativas aos esposos receberam o mesmo título das respectivas categorias das puérperas. Assim, a fim de facilitar a reflexão sobre os resultados, as categorias resultantes dos dois grupos de entrevistados serão apresentadas e analisadas conjuntamente.

O significado do resguardo para o casal

Nos discursos dos casais foi possível observar que, em relação ao significado do resguardo, esses casais atri-buem grande importância à recuperação da mulher, devido às grandes modificações ocorridas durante a gestação, trabalho de parto e parto. Tais argumentos podem ser exemplificados nos relatos a seguir:

[...] você está em mudanças [...] seu corpo muda comple-tamente. Você vem do parto inchada com leite e sangrando, aí você não se aguenta [...]. (P2)

Resguardo é um tempo em que a mulher tem depois do parto para o útero retornar ao lugar, para o corpo retornar ao lugar, retomar a forma que era antes, então você precisa deste tempo para recuperar[...] acredito que seja isto. (P8) É um período em que a mulher precisa para o corpo dela entrar em equilíbrio, e o homem também precisa passar pelo resguardo junto da mulher. (E3)

Diante desses relatos, percebe-se verdadeiramente que o resguardo é um momento propício à estabilização da mulher, que agora também é mãe. A vivência do resguardo traz manifestações relacionadas ao cuidado com corpo, recuperação, com objetivo de restabelecer-se. Essa fase é um momento crítico de transição na vida do casal, de modo especial na vida da mulher, que vivencia modificações inten-sas no que se refere às dimensões biológicas, psicológicas, comportamentais e socioculturais13.

O casal vivencia mudanças neste momento, mas sabemos que a mulher no período pós-parto, diante da adaptação acerca do seu corpo, relacionado às mudanças físicas vividas no ciclo gravídico-puerperal, sofre mais con-sequências como alterações estéticas, aparecimento de estrias, aumento de peso, a involução dos órgãos sexuais femininos, o que pode refletir no relacionamento do casal14.

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Outro ponto relevante identificado foi unanimidade ao se expressarem sobre a vivência do resguardo relacio-nada à abstenção da relação sexual. A cobrança do marido aparece ao mesmo tempo em que há uma compreensão em esperar o fim do resguardo, manifestando que o assunto envolve diálogo, respeito e aceitação deste período com-plexo para o casal, como se constata nos relatos a seguir:

[...] momento de abstinência sexual que foi bem seguido. Momento que dever ser vivido de forma tranquila. (E4) [...] momento um pouco difícil por causa da falta de relação sexual, mas tem que respeitar o tempo, é o tempo da mulher. (E5)

A vivência do resguardo também traz consigo experi-ências particulares de percepção das sensações corporais e de como este casal se vê como homem e mulher, o que ultrapassa o ato sexual. Entende-se, portanto, que a sexu-alidade não deve ser confundida como genitsexu-alidade-coito, encontro de corpos, mas deve-se ter um olhar maior, por-que envolve: afetividade, emoção, comunicação, entrega, amor e prazer7.

Para mim é um momento em que não deve ter sexo. Mas po-demos nos relacionar de outras formas através de carinho, atenção e respeito, tendo prazer na companhia [...]. (E1) [...] pode amar de forma diferente sem ter relação sexual, amar de forma diferente... Aprende amar de forma dife-rente sem ser através do contato físico [...]. (P5)

Dessa forma, percebemos que o significado do resguardo não se concentra somente no ato sexual pro-priamente, mas existem outras formas de demonstrar amor e carinho. Neste contexto, a vivência da sexualidade torna-se um momento de expressão de carinho, quando um casal é flexível e paciente, geralmente encontra outras formas de sentir prazer e, além disso o desejo sexual no puerpério é algo que depende da interação do casal, pois a sexualidade está orientada para felicidade das pessoas, para sua completude.

O aleitamento materno e a relação sexual

Em relação ao aleitamento materno e a relação sexual, observou-se nas falas dos casais que o sentimento mais co-mum é de frustração devido ao modo como o casal vivencia a adaptação ao novo papel mulher-mãe e homem-pai, assim como acolhimento e transferência de interesse, atenção e afeto para o seu filho.

[...] pelo processo de cuidar do bebê muito cansada, aleita-mento, não deixa tempo para a vida sexual como era antes, não está como a gente gostaria como era antes [...]. (P4) [...] algumas dificuldades devido aos cuidados com neném, aleitamento. (E5)

[...], mas agora estamos indo, está bom, mas o filho atra-palha um pouco, tenho que cuidar dele, amamentar e isto dificulta um pouco a relação sexual [...]. (P5)

Cabe ressaltar que assim como as mulheres sofrem alterações de interesse na atividade sexual, os homens também mostram declínio de interesse sexual durante

o ciclo gravídico-puerperal e no período de aleitamento. Percebe-se o relato dos casais que se dizem insatisfeitos com a frequência da atividade sexual, devido à demanda com os filhos. Acredita-se que o comportamento sexual du-rante o puerpério depende muito da disposição psicológica e física da mulher, assim como da paciência, cooperação e compreensão do marido16.

[...] a vida sexual fica um pouco prejudicada, primeiro pelo fato de ainda incomodar, dores no momento, segundo pelas crianças que têm que cuidar dar atenção e aleitamento [...]. (P8) [...] claro que com algumas modificações devido ao bebê que tem suas demandas e isto traz alterações na vida familiar e amorosa. Tipo aleitamento materno, cuidados. Isto atrapalha a vida sexual do casal. (E7)

Nessas falas, observa-se que, no período puerperal, a sexualidade dos casais alia-se a vários outros fatores da maternidade, como a amamentação, gerando percepções e sentimentos poucos explorados e discutidos por eles, pelos profissionais de saúde e pela própria sociedade.

Depois do nascimento do bebê, a mulher e o seu companheiro enfrentarão muitas cobranças, tendo que exercer a paciência, autoestima e criatividade, pois o inte-resse e o desejo sexual do casal passam por uma fase de remanejamento durante o puerpério. É possível que haja a diminuição do desejo e do prazer sexual, que tem como motivo o cansaço advindo da gravidez e do parto e as novas responsabilidades, podendo afetar a relação conjugal17.

A amamentação é considerada um dos contatos mais íntimos do ser humano, assim como o ato sexual e o parto. Por meio da percepção envolvida no ato de amamentar, con-seguimos relacionar com a sexualidade. A amamentação pode trazer diferentes sensações e sentimentos para os casais, pois também é uma experiência social que terá diferentes sentidos e aspectos na vida de cada casal. Durante o puerpério, é social-mente esperado que os casais, de modo especial as mulheres, estejam prontas, acolhedoras e desejosas para amamentar. Infelizmente, as expectativas estão voltadas para o cuidado do bebê, deixando de lado os sentimentos, desejos e condições físicas e emocionais da vida conjugal18.

A vida sexual após o nascimento de um filho

A vida sexual é certamente um dos pontos mais afetados na relação de um casal depois da chegada dos filhos, devido a uma mescla de questões hormonais, físi-cas, emocionais e até mesmo de prioridades. Geralmente a diminuição e alteração na atividade sexual se dão com chegada do filho, que provoca alterações na dinâmica con-jugal e familiar. Antes, eram dois, agora são três: pai, mãe e filho, o que implica uma reestruração na vida do casal, que busca se adaptar a essa nova condição6. Nessa perspectiva, os casais entrevistados assim se expressam:

[...] não é como era antes, diminuiu a frequência de rela-ção sexual, com tempo ela deixou de ser um pouco minha mulher para ser mãe dos meus filhos. (E3)

[...] aí você não vivencia como era antes estes momentos, sua cabeça está voltada mais para as crianças [...]. (P3)

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[...] a gente mantinha uma vida sexual ativa, até a chegada do bebê, mas agora com período de noite sem dormir, o desgaste do dia, das coisas da casa, cuidado com bebê, fez cair a relação sexual [...]. (E4)

Como eu tenho dois filhos, neste foi bem tranquilo, porque não estava tendo tempo para pensar em sexo, porque tinha que cuidar dos filhos, não tive a ansiedade do primeiro [...]. (P6)

A maternidade e a paternidade interferem nos planos de liberdade do casal, uma vez que esta condição traz um comprometimento de outro ser que exige atenção perma-nente. Aceitar o novo papel conjugal exige adaptação e uma nova gestão de tempo, comprometendo constantemente o espaço que antes era dedicado à vida sexual17.

O tornar-se pai e mãe é um dos eventos mais tocantes no ciclo de vida de qualquer ser humano, já que ocorrem profundas alterações na personalidade do indivíduo. Na transição para a maternidade/paternidade há um encontro com realidade completamente diferente. Pai e mãe pre-cisam fazer renúncias, tanto da vida social, como da vida intima sexual, quanto da própria posição de filho ou filha, pois, como pai e mãe, assumem um novo papel diante do seu próprio filho, ou seja, passam a ter uma responsabili-dade antes individual agora coletiva19.

Outro ponto relevante foi que o casal, especialmente a mulher, refere-se a cansaço, falta de tempo, preocupação e autoestima baixa, levando à diminuição de tempo para inti-midade e consequentemente à diminuição da proxiinti-midade e do interesse sexual, como se constata nos extratos a seguir:

A falta de tempo mesmo atrapalha, porque quando ia fazer sexo aí tem que parar porque uma criança chora, a outra tem que dar de mamar, tem que esperar a criança dormir. Acaba que a gente fica cansada [...]. (P6)

[...] para a mulher a gente tem tanta preocupação tem que cuidar do filho, casa... tem tudo. Fora que dói muito, tem a cólica. A mulher se sente feia, não consegue se cuidar direito, seu corpo não voltou ao normal [...]. (P7) É difícil também porque o seu tempo fica mais curto, não tem como você cuidar muito bem de você mesma, apesar de estar precisando de cuidado, pois está com sangramento, ponto e o peito saindo leite [...]. (P8)

As primeiras mudanças associadas à maternidade ocorrem a nível biológico. Enquanto que, com a gestação, o corpo da mulher muda gradualmente, esta mudança é ainda mais forte após o parto. Da mesma forma, a nível psi-cológico ocorrem muitas mudanças, principalmente no que se refere à autoestima e bem-estar, dado que a mulher vai definitivamente assumindo sua nova identidade materna. No que se refere a vida conjugal é possível constatar uma gama de alterações que têm a ver com comportamento de um novo papel, o parental, que deverá ser adaptado com a vida sexual do casal17.

Nesta perspectiva, a forma como o casal vivenciará essas alterações, como vai enfrentar estas dificuldades, irá definir em grande parte, o futuro conjugal, assim como a relação com o filho e o restante da família. É grande o

impacto do nascimento de uma criança na vida do casal, mas também no restante da família, sobretudo se for o primeiro filho20.

Vários fatores poderão influenciar neste processo de maternidade/paternidade tais como: pessoais, idade, gra-videz planejada, história obstétrica anterior, experiências anteriores de cuidar de criança, conhecimentos relaciona-dos com ao puerpério, dentre outros fatores relacionarelaciona-dos à gravidez, trabalho de parto e parto, apoio familiar, nível socioeconômico, presença ou ausência de projeto de vida estável e fatores relacionados com as características da criança e comunicação pai, mãe e bebê .

A sexualidade está integrada a todo esse novo proces-so que o casal vivencia, seja em relação consigo mesmo com seu próprio corpo ou com a relação à comunicação homem e mulher. Ela é construída ao longo da vida e está orientada para a felicidade das pessoas, para sua completude. Pode-se dizer que a sexualidade não é estática. Como parte integral do ser humano ela passará por mudanças à medida que o indivíduo vivencia novas experiências.

Conclusão

A vivência da sexualidade é um aspecto essencial da vida do ser humano. As reflexões sobre essa temática possi-bilitaram a realização deste estudo, por meio da abordagem de casais que vivenciaram o ciclo grávido-puerperal, período este de grande importância, que traz modificações físicas, psicológicas, sociais e sexuais, e que gera novos significados e requer adaptação.

A sexualidade durante o período de transição para a paternidade/maternidade é uma área que requer um olhar mais amplo, devido às dificuldades enfrentadas pelos casais para vivenciá-la de forma plena. Faz-se necessário, portanto, conhecer o contexto cultural e social que o casal vive para que a assistência seja efetiva. No pós-parto, muitos casais têm dificuldades sexuais que podem persistir durante um longo período de tempo, impactando na vida familiar.

Este estudo permitiu identificar a partir dos relatos dos casais que a sexualidade no puerpério sofre grandes alterações - “não é como era antes”. A partir desta perspec-tiva, acredita-se que é necessário melhorar as estratégias de orientação sobre este tema a partir do pré-natal, com o objetivo de inserir de forma efetiva o homem no pré-natal, para que auxilie o casal na retomada à intimidade, traba-lhando a sexualidade como dimensão lúdica e prazerosa, direcionando parte de suas energias para si mesmos, e não somente para cuidados com filho.

Assim, os profissionais de enfermagem obstétrica possuem papel fundamental, pois são formados para atua-rem diretamente na atenção à saúde das mulheres no ciclo gravídico-puerperal, devendo também incluir o homem neste processo, visto que este momento envolve tanto o homem quanto a mulher. Estas estratégias de orientação poderiam contribuir na qualidade de vida familiar, pensando na tríade pai-mãe-filho.

Fazem-se necessárias outras pesquisas, a respeito da vivência da sexualidade no puerpério sobre a ótica

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do casal, para que sejamos nós, profissionais de saúde, capazes de conhecer mais profundamente como os casais vivenciam este período cercado por tantas transformações biopsicossociais. Isto possibilitaria intervenções efetivas, quando necessário, e propiciaria condições para que os casais tivessem mais tranquilidade e menos tabus ao fala-rem das experiências sexuais para esclarecefala-rem possíveis dificuldades.

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