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Lições dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Londres 2012 Diante de Rio 2016 e Futuras Cidades Candidatas (Lessons From London 2012 Olympic and Paralympic Games Toward Rio 2016 and Future Candidate Cities)

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Academic year: 2021

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LIÇÕES DOS JOGOS OLÍMPICOS

E PARALÍMPICOS LONDRES 2012

DIANTE DE RIO 2016 E FUTURAS

CIDADES CANDIDATAS

LEONARDO MATARUNA

DANIEL RANGE

IAN BRITTAIN

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O FUTURO DOS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

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A

presente contribuição parte da constatação comum de que governos de cidades e países têm buscado a justificativa de sediar megaeventos com propósitos de regeneração urbana. O argumento inicial é que este processo no caso do Reino Unido, mais especificamente no East London, já havia começado nos anos de 1990 na zona de West India Docks na Isle of Dogs, atual distrito de negócios de Tower Hamlets, em virtude do deficiente funcionamento da área portuária. Esta região é denominada Canary Wharf e, aproveitou o processo de regeneração já iniciada em razão do desenvolvimento da cidade, muito antes da candidatura aos Jogos Olímpicos. Logo depois de ganhar o direito de sediar os Jogos, o governo local encampou a regeneração dessa área ao planejamento Olímpico de Londres.

Este contexto histórico ao ser comparado com a candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos de 2016 pode se referenciar às Reco-mendações da Agenda 2020 recém-lançada pelo Comitê Olím-pico Internacional- COI (IOC 2014), que apontam para a neces-sidade de se repensar os Jogos e o Movimento Olímpico pelo foco da sustentabilidade. Por exemplo, nas Recomendações no. 3 e 12 as orientações são para a redução dos custos de candi-datura e da própria gestão do evento, principalmente por meio de maximização das sinergias com os stakeholders (partes inte-ressadas no empreendimento), como dispõe a Recomendação no. 13. Assim disposto, na perspectiva de mudanças da Agenda 2020, cabe relatar verificações da pesquisa “LONRIO Project”, ora em desenvolvimento, promovida pelos autores da presen-te comunicação com apoio da Universidade de Coventry, Reino

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Unido, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Como tal, o objetivo deste estudo é o de relatar percep-ções de grupos sociais vulneráveis de Londres vis-à-vis inter-venções urbanas produzidas pela realização dos Jogos Olímpi-cos 2012 e perspectivas dos Jogos OlímpiOlímpi-cos 2016 - em fase de preparação no Rio de Janeiro – bem como recomendações da Agenda 2020 do COI, ora em implementação, que antecipam necessidades de futuras cidades candidatas.

LONDRES E RIO DE JANEIRO REVISITADOS

Em resumo, a pesquisa LONRIO comprovou inicialmente que o atendimento à população local deveria ser ampliado desde o planejamento da candidatura para entender as necessidades locais, mas sobretudo pautado no diálogo contínuo com seus representantes. “Não basta vir com o evento como se fosse um parque de diversões, armar e depois desarmar, dando alegria para crianças por alguns dias”, frase de um dos entrevistados em Hackney. No que se refere aos distritos que tiveram impli-cações diretas por sediar eventos, como no caso da área “five Olympic Boroughs” de Londres, houve regiões de risco social, em razão de falta de segurança, imigração, poluição e terrenos vazios. Portanto os moradores deveriam ter sido mais escuta-dos, como sugere a Recomendação no. 23, envolvendo o público em geral; a juventude; o voluntariado, entre outros, que podem melhorar a identidade e o sentimento de pertencimento da co-munidade com os Jogos.

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No LONRIO Project já foram ouvidas mais de 1.248 pessoas, en-tre homens e mulheres, com idades de 18 a 81 anos de idade, 28% empregados, 63% desempregados, 7% aposentados, nos cinco distritos que passaram por regeneração durante os pre-parativos para os Jogos de 2012. Uma das verificações digna de destaque - e que não será encontrada no Rio de Janeiro - é o número elevado de imigrantes que não falava a língua nativa do país anfitrião e que nem sabia que ocorreriam os Jogos Olím-picos e ParalímOlím-picos. Este grupo social não se envolveu com o megaevento, pois desconhecia as oportunidades criadas, visto que não compreendia os jornais, revistas ou rádio locais.

Constatou-se também que mais de 80% das pessoas não acom-panharam os Jogos ou a criação de legados pela internet nestas regiões, demonstrando que outras ferramentas tendem a ser mais importantes para a comunicação, como, por exemplo, a televisão, principal meio citado pelos entrevistados para acom-panhar o evento. Para se ter uma ideia, em Newham, onde es-tão localizados o Parque Olímpico e sua piscina pública (um dos maiores legados de promoção da atividade física) bem como o Westfield – shopping center, houve destaque para este cen-tro comercial que foi o item mais citado como legado dos Jogos pelos respondentes da pesquisa. Esta preferência mostrou-se maior do que a do Parque Olímpico, que oferece diversas ativi-dades à população.

O número de idiomas falados nesta região impressiona qual-quer pesquisador. “Em uma cidade onde as crianças nas nossas escolas falam mais de 200 línguas e dialetos, é importante que

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ajudemos nossos diversos moradores a compartilhar suas ex-periências e fazer ligações uns com os outros” (Newham London, 2015). Contudo, de acordo com os entrevistados, nesta região a maior dificuldade de comunicação incidiu na língua, inviabili-zando as requisições dos moradores locais que não acreditavam que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos eram essenciais para o desenvolvimento local. Estes dados são provenientes da região que mais se beneficiou do megaevento de 2012, e semelhantes respostas foram encontradas nas demais entrevistas localiza-das em outros distritos da East London.

Os dados iniciais da LONRIO partiram da situação identificada de uma cidade que precisava se expandir e não dispunha de es-paços livres, fato que converge com a situação do Rio de Janei-ro em áreas como a Zona Portuária e a Av. Brasil, com fábricas abandonadas e cercadas de comunidades em risco social. De acordo com a Agenda 2020, as cidades candidatas deveriam fazer apresentações menores, restritas aos membros do IOC, com materiais eletrônicos, entre outras sugestões que pos-sam representar os primeiros impactos de sustentabilidade do evento, foco tanto da Recomendação no. 4 como da no. 5; tais abordagens permitiriam em princípio viabilizar regiões que real-mente possam mudar com o evento, visto as supracitadas nes-te relato (IOC, 2014). Ou seja, as orientações iniciais da Agenda 2020 estão interligadas e tendem a uma congruência no que se refere ao impacto do megaevento para o meio ambiente, para a sociedade e para a própria existência do COI.

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SUSTENTABILIDADE E GENTRIFICAÇÃO

Um exemplo do requisito da sustentabilidade liga-se à gentrifi-cação (substituição de moradores de renda baixa por outros de renda maior), cuja solução para a redução de seus impactos ne-gativos seria a redução dos custos de instalações esportivas (ve-nues) – como sugere a Agenda 2020 - reduzindo a valorização da área de localização e consequentemente a especulação imo-biliária. Outra proposta seria a construção de arenas que fossem reversíveis e temporárias e viessem a atender a mais de uma modalidade, corroborando também para reduzir não só a gentri-ficação, como também a diminuição da pegada ecológica

(ecolo-gical footprint) durante a construção da instalação. Arenas ou

gi-násios de três andares ou áreas subterrâneas poderiam facilitar a distribuição dos espaços e cogitar de um possível megaevento vertical, com estruturas que ocupem pequenas regiões.

Outra saída seria levar os Jogos para locais menores e/ou para ci-dades que não são metrópoles ou megalópoles, ainda se cogitan-do da Agenda 2020. Mesmo que esse megaevento seja realizacogitan-do em uma cidade grande, a distribuição espalhada das instalações, principalmente em áreas que ainda não foram exploradas pode ser uma solução para não sobrecarregar os grandes centros e dar oportunidades a regiões que carecem de investimento, como ora ocorre no caso do Pan e Parapan Toronto 2015 no Canadá. O TO2015 Organizing Committee (Comitê Organizador de Toronto 2015) espalhou por outros municípios as competições, levando -as para mais longe do centro da cidade e oportunizando a outras áreas o desenvolvimento local a partir das instalações.

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Dividir os Jogos entre mais de uma cidade ou mais de um país seria uma das possibilidades para nações menos avançadas sediarem um megaevento reduzindo e controlando os custos e os impactos. Leva-se em consideração que um evento com-partilhado permite a extensão dos legados soft e hard, além da divisão de lucros e prejuízos entre as cidades-sede, como acon-teceu com a Copa do Mundo FIFA 2002, compartilhada em sua organização pelo Japão e pela Coreia do Sul.

Por sua vez, o processo de gentrificação não é novidade quan-do se trata de Jogos Olímpicos, tenquan-do se repetiquan-do em Londres, como se interpretou pelas entrevistas do LONRIO, ao se acom-panhar o custo de vida na região após os Jogos que praticamen-te duplicou na percepção dos entrevistados. Nespraticamen-te propósito vale citar Mataruna (2013) ao revisar este desvio socioeco-nômico: “Nos Jogos de Seul 1988 na Coréia do Sul, foi fácil de encontrar o Da-dong-nae ou Panja-chon com uma nova cara, e em especial o Sang-Gye-dong e Mok-dong, que desapare-ceram na perspectiva de favelas para dar espaços a prédios arranha-céus, dando uma nova imagem a Seoul. Na tentati-va dos governos reprogramarem a cidade e a reurbanização do país, a gentrificação se repete sempre nos megaeventos, envolvendo modernidade e novos tempos”. O autor destaca também que na China a reforma urbana de Beijing com a des-truição dos hutongs, tradicionais casas em comunidades, que foram removidos para construírem estradas e estádios, mu-dou completamente o sentido de desenvolvimento da capital chinesa (Mataruna, 2013).

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O problema se repete agora nos preparativos dos Jogos Rio 2016 (ver capítulo de Cristiano Belém neste livro) e deve ser repensado com melhores critérios. O que se percebeu em Londres é que a população local onde os megaeventos ocu-param os espaços se sentiu sufocada e calada, sem ter voz ativa para falar antes e durante o evento. Após o término dos Jogos, os espaços de moradia foram reduzidos, quase inexis-tindo dois anos depois, apesar da criação de uma empresa pública para a administração do legado urbano. Diversas ini-ciativas foram desenvolvidas, mas dentre os entrevistados as medidas ainda são tidas como de baixo impacto perto do montante de dinheiro gasto para a realização dos eventos. Em resumo, o povo precisa ser mais consultado de modo que ações sejam aplicadas a partir do desejo e de necessidades de toda uma sociedade.

REFERÊNCIAS

IOC (2014). Olympic Agenda 2020 – 20+20 Recommendations. Lausanne: International Olympic Committee, 18 Nov 2014.

Mataruna-Dos-Santos, L (2013). From the East End of London to the favelas of Rio de Janeiro: the relevance and transferabi-lity of the social legacy programmes of the London 2012 Olym-pic and ParalymOlym-pic games. In: ABEP Conference, 2013, London: Royal Society, v. 1. p. 41.

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Newham London. English language skills. City/Borough Coun-cil Website. Available from http://www.newham.gov.uk/Pages/ Services/Resilience.aspx. Accessed on 05 Jan 2015.

TO2015 (2015). Toronto Panan and Parapan Organizing Com-mittee. Available from http://www.toronto2015.org/about-us/ organizing-committee/to2015-team. Accessed on 15 Jan 2015.

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THE FUTURE OF SPORTS MEGAEVENTS

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LESSONS FROM LONDON 2012

OLYMPIC AND PARALYMPIC GAMES

TOWARD RIO 2016 AND FUTURE

CANDIDATE CITIES

LEONARDO MATARUNA

DANIEL RANGE

IAN BRITTAIN

CTPSR / Coventry University – UK

T

his chapter is part of the research results of the LONRIO Project, supported and funded by the Marie Skłodowska-Curie actions (MSCA), linked to the European Commission. The project evaluated the social legacy and the impacts of the London 2012 Olympic and Paralympic Games on five London host boroughs (Newham, Tower Hamlets, Hackney, Greenwich and Waltham Forrest). The highlights of the initial findings have helped to understand the perception of local people in relation to the transformations the host city went through. The socially deprived areas became an increasingly important part of the raison d’être for hosting such events, especially given the relevant costs involved and the current economic climate. This research is still in progress and focuses on the case of the Lon-don Borough of Stratford, which was used as the Olympic Park of

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the London 2012 Olympic and Paralympic Games. The findings of the initial work include extracts from interviews, official documents and reports. After careful analysis, the conclusions highlight how im-portant it is for the projects’ management to consult the people who live in the areas impacted by the Games. It is also essential to point out that the recommendations of Olympic Agenda 2020 (2014) are to supply information to future candidate cities, which are interested in and want to understand better their long-term needs and the anx-ieties surrounding the hosting of such sport mega-events.

The need for long-term job opportunities rather than temporary short-term jobs, the inclusion of the local culture in the preparations for the event itself and the legacy programmes following the event can help overcome the feelings of marginalisation felt by the local commu-nities. It is also crucial to consider a deeper analysis of data which exposes a different reality from that portrayed by reports of private companies, sponsors or local government.

When London 2012 is compared with the candidature of Rio de Ja-neiro to the 2016 Olympic Games, it is possible to refer to the 20 + 20 Recommendations of Olympic Agenda 2020, recently launched by the International Olympic Committee (IOC - 2014), which indi-cate the need to rethink the Games and the Olympic Movement from the perspective of sustainability. For example, Recommendations 3 and 12 are for cost reduction of both the city candidature and the management of the event itself by means of maximization of syn-ergies with the stakeholders, according Recommendation 13. From the changes proposed by Agenda 2020, it is relevant to report the findings of the “LONRIO Project”, still on progress, developed by the

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authors of this study supported by Coventry University (United King-dom), in partnership with the Federal University of Rio de Janeiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro - Brasil). The objective of this study is to report (i) the perceptions of the vulnerable social groups of the city of London vis-à-vis the urban interventions produced by the staging of the 2012 Olympic Games; (ii) the perspectives of the 2016 Olympic Games – in the preparation phase in Rio de Janeiro – and (iii) the Recommendations of the Olympic Agenda 2020 do COI, now being implemented.

In short, the problems related to gentrification and sustainability are now being identified in the preparation for Rio de Janeiro’s Olympic Games (see Cristiano Belem’s chapter in this book), presupposing new criteria for re-urbanization solutions. The lessons from London 2012 revealed that the local populations of the areas affected by the 2012 Olympic Games felt apart from the decision-making processes con-nected to their lives. After the 2012 Games, the housing spaces have been reduced and even disappeared despite the creation of a public enterprise to manage the urban legacies.

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