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Implantação da siderúrgica Mendes Júnior em Juiz de Fora (MG)

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implantação da siderúrgica

mendes júnior em juiz de fora (MG)*

S u z a n a Q u i n e t d e A n d r a d e B a s t o s

Professora do Mestrado em Economia Aplicada da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora e pesquisadora do CNPq e da FAPEMIG

L o u r i v a l B a t i s t a d e O l i v e i r a J ú n i o r

Professor do Curso de Ciências Econômicas da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora e Doutor pelo Programa de PósGraduação em Administração (PPGA) da U n i -versidade Federal de Lavras (UFLA)

R o g é r i o S i l v a M a t t o s

Professor do Mestrado em Economia Aplicada da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora e pesquisador da FAPEMIG

RESUMO

A empresa S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r , a t u a l -m e n t e , A r c e l o r - M i t t a l J u i z de Fora — A ç o s L o n g o s , foi i m p l a n t a d a na c i d a d e de J u i z de Fora, M i n a s Gerais, ao l o n g o dos anos 1970, t e n d o , p o r é m , i n i c i a d o s u a o p e r a ç ã o e m 1984. E m b o r a de i n i c i a t i v a p r i v a d a , o projeto industrial da empresa foi c o n c e b i d o e imple¬ m e n t a d o c o m elevada interferência p ú b l i c a , tanto da esfera federal, q u a n t o da estadual e da m u n i c i p a l . A l é m de c o n c e d e r financiamentos e i s e n ç ã o de i m p o s t o s , o Estado brasileiro i n f l u e n c i o u n a c o n c e p ç ã o dos p r o c e s s o s p r o d u t i v o s e na d e c o r r e n t e d e f i n i ç ã o da capacidade de p r o d u ç ã o da empresa. P a l a v r a s c h a v e : H i s t ó r i a de Empresa — S i -derúrgica M e n d e s J ú n i o r — Indústria Siderúr¬ g i c a — J u i z de Fora — M i n a s Gerais

ABSTRACT

T h e f i r m S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r ( S M J ) , n o w A r c e l o r - M i t t a l J u i z d e Fora, installed in the city of J u i z de Fora (State of M i n a s G e r a i s / B r a z i l ) a l o n g the seventies but started operations o n l y in 1984. A l t h o u g h a p r i v a t e venture, S M J " s industrial project u n d e r w e n t strong interference from t h e federal, state, a n d m u n i c i p a l i t y b r a n c h e s o f B r a z i l i a n g o v e r n m e n t . I n a d d i t i o n t o f u n d i n g a n d t a x e x e m p t i o n s , the B r a z i l i a n g o v e r n m e n t i n f l u e n c e d t h e d e s i g n o f m a n u f a c t u r i n g processes a n d the resulting definition of the c a p a c i t y of the firm.

K e y w o r d s : Business H i s t o r y — S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r — S t e e l w o r k s I n d u s t r y — J u i z de Fora — M i n a s Gerais

1. Introdução

Pela p r ó p r i a n a t u r e z a do seu p r o d u t o , essencial ao f u n c i o n a m e n t o da e c o n o m i a e c o n d i c i o n a n t e do c r e s c i m e n t o i n d u s t r i a l , o setor s i d e

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r ú r g i c o r e c e b e u das a u t o r i d a d e s e c o n ô m i c a s m u n d i a i s u m t r a t a m e n t o e s p e c i a l . E l e v a d a s o m a de recursos p ú b l i c o s foi c a n a l i z a d a para a im¬ p l a n t a ç ã o das g r a n d e s usinas s i d e r ú r g i c a s , o q u e p r o p i c i o u o expressivo c r e s c i m e n t o d o setor.

A partir de m e a d o s da d é c a d a de 70, do s é c u l o X X , a i n d ú s t r i a side¬ r ú r g i c a m u n d i a l e x p e r i m e n t o u u m a profunda crise estrutural, provoca¬ d a p o r u m excesso d e c a p a c i d a d e instalada nas usinas, aprofundada p e l a recessão m u n d i a l , a d v i n d a d a crise d o p e t r ó l e o . D i a n t e deste c o n t e x t o , os países em d e s e n v o l v i m e n t o foram e s t i m u l a d o s a e x p a n d i r suas capa¬ c i d a d e s d e p r o d u ç ã o d e a ç o .

A s s i m , entre m e a d o s da d é c a d a de 70 e i n í c i o dos anos 80, o c o r r e u u m a g r a d a t i v a transferência d e c a p a c i d a d e p r o d u t i v a dos países desen¬ v o l v i d o s para o s e m d e s e n v o l v i m e n t o1. E n q u a n t o o s i n v e s t i m e n t o s e m

e x p a n s ã o e m o d e r n i z a ç ã o das a t i v i d a d e s s i d e r ú r g i c a s dos países desen¬ v o l v i d o s foram p r a t i c a m e n t e suspensos e , i n c l u s i v e , e m a l g u n s casos, fechadas u n i d a d e s produtivas (Estados U n i d o s2 e C o m u n i d a d e Econô¬

m i c a E u r o p e i a ) , países e m d e s e n v o l v i m e n t o , c o m o o B r a s i l3, r e a l i z a r a m

i n v e s t i m e n t o s no setor s i d e r ú r g i c o , de f o r m a a dar suporte ao processo de i n d u s t r i a l i z a ç ã o , s u b s t i t u i n d o as i m p o r t a ç õ e s .

Na estrutura do c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l de aço, o b s e r v o u - s e a mes¬ ma t e n d ê n c i a o c o r r i d a a n í v e l p r o d u t i v o , ou seja, entre 1970 e 1985, os países i n d u s t r i a l i z a d o s d i m i n u í r a m sua p a r t i c i p a ç ã o de 82,9% para 77,3% sobre as e x p o r t a ç õ e s m u n d i a i s , e n q u a n t o os em d e s e n v o l v i m e n t o au¬ m e n t a r a m este í n d i c e de 2,7% para 9,8% (DEPARTAMENTO DE E S T U -DOS E S T R A T É G I C O S , 1987).

N o Brasil, apesar d e o s i n v e s t i m e n t o s estatais, n a i n d ú s t r i a siderúrgi¬ ca, d a t a r e m dos anos 40 e 50 ( B e l g o M i n e i r a / 1 9 2 1 , C o m p a n h i a S i d e -r ú -r g i c a N a c i o n a l / 1 9 4 6 , C O S I P A / 1 9 5 2 , U S I M I N A S / 1 9 5 6 ) , n o f i n a l d a

1 Os países desenvolvidos forneceram equipamentos e assistência técnica aos países em

desenvolvimento, além dos recursos financeiros emprestados pelos bancos privados internacionais (DEPARTAMENTO DE E S T U D O S ESTRATÉGICOS, 1987:03).

2 Nos anos 70, os EUA diminuíram a produção de aço de 130 milhões de t)/ano para

menos de 70 milhões de t/ano, tendo em vista a perda de competitividade de suas usinas (Ibidem).

3 Enquanto a produção mundial de aço mostrou crescimento moderado de 2,4% no

período 1 9 7 3 - 1 9 8 5 , em consequência da crise internacional, a produção siderúrgica brasileira teve um crescimento de 188,7% ( I N S T I T U T O DE PESQUISAS TECNO¬ LÓGICAS, 1987:20).

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d é c a d a de 60 o país c o n t i n u a v a d e p e n d e n t e de p r o d u t o s s i d e r ú r g i c o s i m p o r t a d o s . O c r e s c i m e n t o d a e c o n o m i a ( " M i l a g r e B r a s i l e i r o " ) i m p u ¬ n h a a n e c e s s i d a d e de m e d i d a s para o setor.

E m 1967, c o m a c r i a ç ã o d o G r u p o C o n s u l t i v o d a I n d ú s t r i a Siderúr¬ g i c a (GCIS), c o m e ç o u a ser m o n t a d a a base i n s t i t u c i o n a l para o setor, através da d e f i n i ç ã o das diretrizes q u e se c o n s u b s t a n c i a r a m na c r i a ç ã o d o C o n s e l h o d e N ã o Ferrosos e d e S i d e r u r g i a ( C O N S I D E R ) , e m 1968, q u e , em 1970, se t r a n s f o r m a r i a no ó r g ã o responsável p e l a f o r m u l a ç ã o e p e l a c o o r d e n a ç ã o da p o l í t i c a s i d e r ú r g i c a n a c i o n a l e da S i d e r u r g i a Bra¬ sileira Ltda. (SIDEBRAS), e m p r e s a holding, responsável p o r g e r i r os in¬ teresses d a U n i ã o nos e m p r e e n d i m e n t o s s i d e r ú r g i c o s , e m 1973.

Esta e s t r u t u r a i n s t i t u c i o n a l , aliada ao a c e n t u a d o c r e s c i m e n t o da eco¬ n o m i a brasileira, n u m a situação e m q u e a oferta d e a ç o era p e r m a n e n ¬ t e m e n t e i n f e r i o r à d e m a n d a dos p r o d u t o s s i d e r ú r g i c o s , e a i n t e n s i d a d e d e c o n s u m o d e aço n a f a b r i c a ç ã o d e b e n s era r e l a t i v a m e n t e constante, teve u m relativo sucesso n a i m p l e m e n t a ç ã o d o I P r o g r a m a S i d e r ú r g i c o N a c i o n a l (I P S N ) , e l a b o r a d o para o p e r í o d o 1 9 7 2 - 7 44.

Entretanto, s o m e n t e c o m o II PND (Plano N a c i o n a l de Desenvolvi¬ m e n t o E c o n ô m i c o ) , e m 1974, c u m p r i u - s e u m p r o g r a m a efetivo d e s u b s t i t u i ç ã o de i m p o r t a ç õ e s de p r o d u t o s s i d e r ú r g i c o s , q u e p r e v i a o c r e s c i m e n t o d a p r o d u ç ã o d e aço dos 12,4 m i l h õ e s d e t / a n o e m 1975 para 2 5 m i l h õ e s d e t / a n o e m 1980, c o m u m esforço d e i n v e s t i m e n t o e s t i m a d o da o r d e m de U S $ 1,5 b i l h ã o p o r a n o (LESSA, 1978). Para este fim, o C O N S I D E R , através da R e s o l u ç ã o n. 3 1 / 7 5 , r e c o m e n d o u a im¬ p l a n t a ç ã o d e i n d ú s t r i a s s i d e r ú r g i c a s n o país, "através d e g r u p o empre¬ sarial p r i v a d o , c o m total a p o i o d a S I D E B R A S , i n c l u s i v e através d a c o m p l e m e n t a ç ã o a c i o n á r i a [...] para v i a b i l i z a ç ã o do projeto ( S I D E R Ú R -GICA MENDES J Ú N I O R , 1976:2).

A p r o d u ç ã o b r a s i l e i r a de a ç o era s e g m e n t a d a5 n o s setores de aços

p l a n o s e n ã o p l a n o s , s u b d i v i d i d o s em pesados, m é d i o s e leves, p o d e n d o ser c o m u n s ou especiais. Tal s e g m e n t a ç ã o teve o r i g e m nas diretrizes do I PSN, " q u e e s t a b e l e c e u u m a divisão de t r a b a l h o entre o Estado e a

4 Em 1971, a produção de aços não planos era de 2,5 milhões de toneladas/ano (BAS¬

TOS, 2004).

5 Essa segmentação era uma característica da indústria siderúrgica brasileira, pois, a

nível mundial, era possível encontrar empresas que produziam os diversos tipos de aço.

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i n i c i a t i v a p r i v a d a , r e s p o n s a b i l i z a n d o o Estado p e l a p r o d u ç ã o de aços p l a n o s d e v i d o ao alto i n v e s t i m e n t o e n v o l v i d o e a m e n o r r e n t a b i l i d a d e deste s e g m e n t o " (DEPARTAMENTO DE E S T U D O S E S T R A T É G I C O S , 1987:67).

A s s i m , a s i d e r u r g i a p r i v a d a ficou responsável p e l a p r o d u ç ã o de aços n ã o planos, q u e c o m p r e e n d e : v e r g a l h õ e s , perfis, barras, t u b o s s e m c o s -tura, fio-máquina, a r a m e s trefilados, d e n t r e outros. O setor se desenvol¬ v e u à base de m a t é r i a s - p r i m a s e i n s u m o s n a c i o n a i s , p r o d u z i d o s p o r usinas i n t e g r a d a s a m i n é r i o de ferro e a c a r v ã o v e g e t a l , ou usinas s e m i -i n t e g r a d a s à sucata e à e n e r g -i a e l é t r -i c a .

A t é os anos 70, o s e g m e n t o p r o d u t o r de aços n ã o p l a n o s , c o m u n s , leves e m é d i o s , era um o l i g o p ó l i o f o r m a d o p o r 12 empresas, principal¬ m e n t e n a c i o n a i s e privadas, c o m a p r e s e n ç a de u m a e m p r e s a c o n t r o l a d a p o r capitais estrangeiros, r a d i c a d o s no país ( B e l g o M i n e i r a ) , e três em¬ presas estatais (USIBA, C O S I M , COFAVI)6.

N o s anos 70, dada a e x p a n s ã o do m e r c a d o brasileiro e as diretrizes do G o v e r n o Federal, no q u e se refere ao subsetor de n ã o planos, c o m u n s , leves e m é d i o s , "a M e n d e s J ú n i o r propôs-se a l i d e r a r e i m p l a n t a r o projeto d e u m a u s i n a s i d e r ú r g i c a n o M u n i c í p i o d e J u i z d e Fora ( M G ) , d e s t i n a d o à p r o d u ç ã o d e a ç o e m p r o d u t o s acabados n a c a t e g o r i a d e n ã o - p l a n o s " ( S I D E R Ú R G I C A MENDES J Ú N I O R , 9 7 6 : 1 ) .

2. A Siderúrgia Mendes Júnior e Juiz de Fora

Juiz de Fora, desde o i n í c i o do século X X , v i n h a l u t a n d o para a insta¬ lação d e u m a indústria siderúrgica e m seu t e r r i t ó r i o . E m 1912, o s enge¬ nheiros Carlos W i g g e Trajano de M e d e i r o s solicitaram à C â m a r a M u n i ¬ cipal a concessão de u m a área de c e m alqueires g e o m é t r i c o s de terra, na fazenda da G r a m i n h a , para a p r o d u ç ã o de artigos de aço n ã o planos (tri¬ lhos, v i g a s , barras e a r a m e s ) . A concessão foi aprovada, b e m c o m o a isenção de i m p o s t o s m u n i c i p a i s p e l o prazo de v i n t e e c i n c o anos.

6 A Companhia Ferro e Aço de Vitória (COFAVI) e a Usina Siderúrgica da Bahia

(USIBA) foram empresas criadas por capitais privados, posteriormente herdadas pela SIDEBRAS, e privatizadas em 1989. No início dos anos 80, além da SMJ.A siderúrgica cearense do Grupo Gerdau também entrou em operação (DEPARTAMENTO DE

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Mas a Câmara Municipal reservava-se o direito de considerar caduca a concessão, se, no prazo de dois anos, não fossem iniciados os trabalhos da usina. Foi o que aconteceu, não havendo referência às dificuldades que teriam encontrado aqueles industriais para o estabelecimento da indústria siderúrgica em Juiz de Fora7 (OLIVEIRA, 1953:211-212).

N o f i n a l dos anos 6 08, a i d e i a d e i m p l a n t a ç ã o d a i n d ú s t r i a s i d e r ú r g i

-ca na c i d a d e de J u i z de Fora v o l t o u à tona. Por um l a d o , o e n g e n h e i r o J o s é M e n d e s J ú n i o r ( C o n s t r u t o r a M e n d e s J ú n i o r ) , interessado e m fazer u m a g r a n d e obra e m J u i z d e Fora9, " c o m o h o m e n a g e m à c i d a d e d e l e , à

sua c i d a d e d o c o r a ç ã o " (CASTELO, 1994b:8), p r o m o v e u u m processo de n e g o c i a ç ã o c o m as l i d e r a n ç a s l o c a i s , de f o r m a a c r i a r um c l i m a fa¬ vorável à instalação de u m a s i d e r ú r g i c a na c i d a d e .

O Dr. Mendes Júnior fez uma exposição na Câmara sobre um projeto novo de uma siderúrgica que ele queria fazer em Juiz de Fora, uma side¬ rúrgica de 300.000 t/ano. Esse era o desejo de Mendes Júnior, e já era para nós, naquela altura dos acontecimentos, sem dúvida nenhuma, alguma coisa grande para nós. Então, nós todos estávamos envolvidos nesse processo da Mendes Júnior (FAGUNDES NETO, 1994b:113).

Ao m e s m o t e m p o , a Prefeitura de J u i z de Fora (PJF), p r e o c u p a d a c o m a d e s a c e l e r a ç ã o e c o n ô m i c a e a d e c a d ê n c i a i n d u s t r i a l da c i d a d e , i n i c i o u u m processo d e r e e q u i p a m e n t o d a infraestrutura (Distrito In¬ dustrial de B e n f i c a e sistemas de t e l e c o m u n i c a ç õ e s , e n e r g i a1 0 e abaste¬

c i m e n t o d e á g u a ) , o b j e t i v a n d o v i a b i l i z a r a instalação d e u m g r a n d e e m p r e e n d i m e n t o i n d u s t r i a l n a c i d a d e .

7 O projeto fracassou, porque a Câmara só aprovou a concessão do terreno, não tendo

aprovado a isenção de impostos municipais (UNIVERSIDADE FEDERAL DE J U I Z DE F O R A , 1994a).

8 Juiz de Fora foi cogitada para abrigar a Siderúrgica Nacional, "mas no processo

político entre Getúlio Vargas, Amaral Neto e Amaral Peixoto foi escolhido o Estado

d o R i o " (PESTANA, 1994b:34).

9 Segundo Delgado (1994b), o grande artífice do projeto siderúrgico foi o prefeito

Itamar Franco, que convenceu o empresário José Mendes Júnior a fazer uma grande obra na cidade.

1 0 Nos anos 5 0 , Juiz de Fora sofria de carência de energia elétrica, que foi solucionada,

no início dos anos 7 0 , através da interligação da Companhia Mineira de Eletricidade

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A c o n j u g a ç ã o d e a m b o s o s i n t e r e s s e s m a t e r i a l i z o u - s e , n o i n í c i o d o s a n o s 7 0 , n a c o n s t i t u i ç ã o d a S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r L t d a .1 1, c o m a f i n a l i d a d e d e f o r m u l a r o p r o j e t o d e v i a b i l i d a d e d a u s i n a , e q u a c i o n a r a n o v a e m p r e s a e m t e r m o s d e c a p i t a l e fontes d e f i n a n ¬ c i a m e n t o p a r a o p r o j e t o , e i n i c i a r as n e g o c i a ç õ e s p a r a a i m p l a n t a ç ã o d e u m a u s i n a d e l a m i n a d o s n ã o p l a n o s , sob a l i d e r a n ç a d a C o n s t r u ¬ t o r a M e n d e s J ú n i o r , n a c i d a d e . Em 1971, o prefeito Itamar F r a n c o ( 1 9 6 7 / 1 9 7 1 ) s o l i c i t o u à C â m a r a M u n i c i p a l a i s e n ç ã o de i m p o s t o s m u n i c i p a i s para as empresas siderúr¬ g i c a s , c o m m a i s de 400 e m p r e g a d o s , q u e se instalassem na c i d a d e , e i n i c i o u um processo de escolha da área a ser c o m p r a d a e, p o s t e r i o r m e n ¬ te, c e d i d a a o e m p r e e n d i m e n t o M e n d e s J ú n i o r .

Tendo em vista a instalação, em Juiz de Fora, da Siderúrgica Mendes Jú¬ nior, a municipalidade, como não poderia deixar de ser, está-se empenhando para que nosso município ofereça ao grupo Mendes Júnior as facilidades que outros municípios colocaram a seu alcance, a fim de aquinhoar os grandes benefícios decorrentes da implantação de uma indústria do porte da Side¬ rúrgica Mendes Júnior ( P R E F E I T U R A DE J U I Z DE F O R A , 1971).

A l é m d a p r o x i m i d a d e dos p r i n c i p a i s m e r c a d o s c o n s u m i d o r e s ( R i o d e J a n e i r o , S ã o P a u l o e B e l o H o r i z o n t e ) , f o r a m c o n s i d e r a d o s c o m o fatores l o c a c i o n a i s de J u i z de F o r a1 2: o c l i m a da c i d a d e ; a e x i s t ê n c i a de m a t é r i a - p r i m a n u m raio n ã o s u p e r i o r a 300 q u i l ô m e t r o s ; a e x i s t ê n c i a d e l i g a ç ã o ferroviária c o m o p o r t o d o R i o d e J a n e i r o , para r e c e b i m e n ¬ t o d a m a t é r i a - p r i m a i m p o r t a d a ( c a r v ã o m i n e r a l ) e e x p o r t a ç ã o dos p r o d u t o s acabados; a d i s p o n i b i l i d a d e de oferta de m ã o de obra qualifi¬ cada, e m n í v e l s u p e r i o r e t é c n i c o ( U n i v e r s i d a d e Federal d e J u i z d e Fora e C o l é g i o T é c n i c o U n i v e r s i t á r i o ) , para a c o n s t r u ç ã o e a o p e r a ç ã o da u s i n a ; a e x i s t ê n c i a d e u m a infraestrutura u r b a n a ( a p r o x i m a d a m e n t e 300.000 habitantes) e a possibilidade de a c i d a d e f o r n e c e r os serviços de transporte, a l i m e n t a ç ã o , c o m u n i c a ç ã o (telex, fax e telefone) e de m a n u ¬ t e n ç ã o d a u s i n a s i d e r ú r g i c a .

1 1 José Mendes Júnior e seus filhos eram os sócios da empresa.

1 2 As empresas Tecnometal Estudos e Projetos Industriais S.A. e a Nippon Steel foram

contratadas pela Mendes Júnior para realizar o estudo de viabilidade técnico-eco-nômica do projeto siderúrgico.

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U m a análise comparativa realizada entre várias localizações: São Pau¬ lo (SP), Santa C r u z ( R J ) , J u i z de Fora ( M G ) , Sete Lagoas (MG) e Vitória (ES), abrangendo fatores como custo de reunião de matéria-prima, custo de distribuição de produtos acabados, custo de energia elétrica e I C M , concluiu-se que a localização em J u i z de Fora é aquela de menor custo diferencial dos fatores considerados ( B A N C O N A C I O N A L DE DESEN¬ V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O , 1 9 7 6 : 4 3 ) .

Na c i d a d e de J u i z de Fora, a área de c e r c a de v i n t e m i l h õ e s de me¬ tros q u a d r a d o s1 3, e s c o l h i d a para i m p l a n t a ç ã o d a usina, situava-se e m D i a s

Tavares (Distrito de B e n f i c a ) , a a p r o x i m a d a m e n t e 23 km ao n o r t e da c i d a d e , e a 7 km do B a i r r o de B e n f i c a . A escolha da r e g i ã o de Dias Tavares l e v o u em consideração a disponibilidade de espaço e a topografia para a c o n s t r u ç ã o da usina, as características do solo, a distância do cen¬ tro u r b a n o de J u i z de Fora, a d i s p o n i b i l i d a d e de á g u a ( R i o P a r a i b u n a e R i b e i r ã o do Estiva), a possibilidade de i m p l a n t a ç ã o de r e d e de e n e r g i a e l é t r i c a c o m p o t e n c i a l a d e q u a d o , b e m c o m o a e x i s t ê n c i a d e diversos p e q u e n o s distritos de J u i z de Fora (Benfica, Dias Tavares, P a u l a L i m a e C h a p é u D ' U v a s ) , n a área c i r c u n v i z i n h a a o t e r r e n o , o s q u a i s p o d e r i a m ser u t i l i z a d o s para r e s i d ê n c i a da força de t r a b a l h o da usina.

A l é m disso, o t e r r e n o , l o c a l i z a d o no D i s t r i t o I n d u s t r i a l II ( o u de B e n f i c a ) ficava a d j a c e n t e à ferrovia ( R e d e F e r r o v i á r i a F e d e r a l S.A. -C e n t r a l do B r a s i l ) e à r o d o v i a B R - 0 4 0 , q u e l i g a J u i z de Fora às c i d a d e s d e B e l o H o r i z o n t e e R i o d e J a n e i r o . A área, s e n d o p r ó x i m a d o e i x o R i o - S ã o P a u l o - B e l o H o r i z o n t e , seja p o r ferrovia o u r o d o v i a , favore¬ c i a o fluxo de p r o d u t o s a c a b a d o s p a r a os p r i n c i p a i s c e n t r o s de consu¬ m o , b e m c o m o a c a p t a ç ã o e o t r a n s p o r t e de sucata e o u t r o s i n s u m o s b á s i c o s para a u s i n a , c o m p l e n a p o s s i b i l i d a d e de u s o do frete de retor¬ n o ( C O T R I M , 1979).

3. O projeto da fábrica de Juiz de Fora

A p e s a r dos esforços do prefeito Itamar Franco, o projeto da Siderúr¬ g i c a M e n d e s J ú n i o r s ó c o m e ç o u a ser v i a b i l i z a d o n o g o v e r n o d o p r e

-1 3 Área de cerca de 7,5 milhões de m2, doada pela PJF, e o restante adquirido pela SMJ

(8)

feito A g o s t i n h o Pestana ( 1 9 7 1 / 1 9 7 2 ) . Nesse p e r í o d o , a prefeitura i s e n t o u , p o r d e z anos, a SMJ de todos os i m p o s t o s m u n i c i p a i s e c o n t r a i u um e m p r é s t i m o1 4, j u n t o a o B a n c o d e C r é d i t o R e a l d e M i n a s Gerais, c o m

total a p o i o d o g o v e r n a d o r d o Estado, R o n d o n P a c h e c o , para a q u i s i ç ã o da área de 7,5 k m2, no subdistrito de Dias Tavares (Distrito de B e n f i c a ) ,

q u e seria d o a d a à s i d e r ú r g i c a . Em c o n t r a p a r t i d a à d o a ç ã o do t e r r e n o , a SMJ d e v e r i a instalar, n o prazo m á x i m o d e sete anos (até 1 9 7 9 )1 5, u m a

usina siderúrgica c o m capacidade para o processamento inicial de 300.000 t / a n o d e p r o d u t o s acabados.

O Brasil, no final dos anos 60 e i n í c i o dos 70, crescia a u m a taxa em t o r n o de 10% ao ano, e, no C O N S I D E R , v i g o r a v a a o p i n i ã o de q u e a SMJ era um projeto " m u i t o p e q u e n o " para o Brasil " g r a n d e " q u e se estava formando. O C o n s e l h o , p r e o c u p a d o c o m a constituição do polo side¬ r ú r g i c o b r a s i l e i r o1 6, s u g e r i u q u e o projeto da SMJ fosse a m p l i a d o para

p e l o m e n o s 1 m i l h ã o de t / a n o , d e v e n d o c h e g a r a 2 m i l h õ e s de t / a n o .

O governo falou não, vocês não podem fazer uma indústria de trezen¬ tas mil toneladas de aço, isto é uma coisinha de nada, o Brasil vai ter uma possibilidade de consumir trinta milhões de toneladas, e vocês têm que fazer uma usina com dois milhões de toneladas dentro de seis, de oito anos (MELLO REIS, 1994B:161).

Em m a r ç o de 1973, a SMJ s u b m e t e u ao C O N S I D E R estudo de via¬ b i l i d a d e t é c n i c o - e c o n ô m i c a para u m a u s i n a i n t e g r a d a , c o m c a p a c i d a d e i n i c i a l de p r o d u ç ã o de 1,2 m i l h õ e s de t / a n o de a ç o l í q u i d o , o q u a l foi aprovado e m agosto d o m e s m o ano.

Em 1974, foi aprovado o p r o t o c o l o q u e d e f i n i u os c o m p r o m i s s o s r e c í p r o c o s entre o Estado de M i n a s Gerais, a Prefeitura de J u i z de Fora e a S M J , t e n d o c o m o i n t e r v e n i e n t e a C o n s t r u t o r a M e n d e s J ú n i o r , vi¬ sando à instalação d e u m a u s i n a s i d e r ú r g i c a e m J u i z d e Fora, c o m ca¬ p a c i d a d e d e p r o d u ç ã o d e 2 m i l h õ e s d e t / a n o d e a ç o l í q u i d o , o r ç a d a e m

1 4 O empréstimo de Cr$ 1.500.000,00 foi totalmente pago na administração de Agosti¬

nho Pestana (BASTOS 2 0 0 4 ) . Em 2008, este valor correspondia a, aproximadamente, 4 ou 5 milhões de reais.

1 5 C o m o os prazos não foram cumpridos, foi necessária uma nova legislação, para

reafirmar os compromissos.

1 6 O C O N S I D E R previa a criação da Usina 2 da Companhia Siderúrgica Nacional ( C S N ) ,

(9)

U S $ 630 m i l h õ e s1 7, c o m e x p e c t a t i v a d e entrar e m o p e r a ç ã o n o i n í c i o d e

1978, e c o m possibilidade de g e r a r 3.250 novos e m p r e g o s na c i d a d e .

A intenção das partes é a implantação de um projeto siderúrgico com gerenciamento privado, cabendo especialmente aos setores públi¬ cos participantes prestar o necessário apoio ao empreendimento, inclu¬ sive sob o aspecto financeiro, conforme as diretrizes do governo federal para o subsetor de aços não planos (UNIVERSIDADE F E D E R A L DE J U I Z DE F O R A , 1994a:93).

N o p r o t o c o l o , d e f i n i u - s e q u e a p a r t i c i p a ç ã o a c i o n á r i a d o Estado de M i n a s Gerais s e r i a de 9,3% do c a p i t a l social da e m p r e s a , e q u e o Estado r e e m b o l s a r i a a SMJ c o m 32% do I C M (Imposto sobre O p e r a ç õ e s R e l a t i v a s à C i r c u l a ç ã o de M e r c a d o r i a s ) , r e c o l h i d o ao t e s o u r o do Es¬ t a d o , i n c i d e n t e sobre a s saídas t r i b u t á v e i s dos p r o d u t o s f a b r i c a d o s p e l a u s i n a , p e l o p r a z o de 10 a n o s , após a e n t r a d a em o p e r a ç ã o da u s i n a s i d e r ú r g i c a1 8.

Caso o Estado venha a participar do capital da empresa em percentual superior a 20%, o prazo de fruição do incentivo fiscal será reduzido para 5 anos e o retorno do I C M será reduzido para 25,6% ( B A N C O N A C I O N A L DE DESENVOLVIMENTO E C O N Ô M I C O , 1976)

A l é m disso, o Estado de M i n a s Gerais seria responsável p e l a c r i a ç ã o da infraestrutura básica (instalações e l é t r i c a s e telefônicas) e a t u a r i a j u n t o aos órgãos g o v e r n a m e n t a i s federais, o b j e t i v a n d o v i a b i l i z a r as ques¬

tões infraestruturais: obras de acesso r o d o v i á r i o , c o n s t r u ç ã o de p o n t e s ferroviárias para transposição do r i o P a r a i b u n a , r a m a i s ferroviários até o pátio da usina, obras de retificação e r e l o c a ç ã o do r i o P a r a i b u n a e do R i b e i r ã o d o Estiva, c o n s t r u ç ã o d a b a r r a g e m d e C h a p é u D ' U v a s1 9 e d o

seu sistema de c a p t a ç ã o de á g u a s .

1 7 Este valor chegou em U S $ 750 milhões e encontrava-se na marca dos U S $ 1.200

milhões em 1975 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE J U I Z DE F O R A , 1994a).

1 8 "Os incentivos fiscais destinam-se a compensar as inversões fixas realizadas na

implantação da referida usina siderúrgica" ( B A N C O NACIONAL DE

DESENVOL-V I M E N T O E C O N Ô M I C O , 1 9 7 6 ) .

1 9 A construção da barragem ficou a cargo do Departamento Nacional de Obras e

(10)

De a c o r d o c o m o p r o t o c o l o , a Prefeitura de J u i z de Fora seria res¬ ponsável por financiar as obras de t e r r a p l a n a g e m e d r e n a g e m do t e r r e n o da usina, até o l i m i t e m á x i m o de U S $ 25 m i l h õ e s , s e n d o q u e as obras d e v e r i a m ser e x e c u t a d a s a partir de c o n c o r r ê n c i a p ú b l i c a2 0, e a Prefeitura

se t o r n a r i a acionista da e m p r e s a , no valor e q u i v a l e n t e a U S $ 5 m i l h õ e s , e , i n c l u s i v e , p a r t i c i p a r i a d o seu C o n s e l h o D i r e t o r v i a n o m e a ç ã o d e u m diretor.

A c o n s t r u t o r a M e n d e s J ú n i o r fez a t e r r a p l a n a g e m , discutível o pre¬ ço dessa t e r r a p l a n a g e m , m a s c o m o d i n h e i r o a C o n s t r u t o r a c a p i t a l i z o u -se para fazer a sua parte no capital da S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r (FA¬ GUNDES N E T O , 1994b:117).

O r e c u r s o para custear as obras de t e r r a p l a n a g e m e d r e n a g e m do t e r r e n o da área da SMJ foi o b t i d o p e l a Prefeitura de J u i z de Fora, no e x t e r i o r2 1, através d o g o v e r n o d o Estado d e M i n a s G e r a i s ( B a n c o d e

C r é d i t o R e a l d e M i n a s G e r a i s e B a n c o d o Estado d e M i n a s G e r a i s ) , c o m o a p o i o financeiro do g o v e r n o federal. O Estado de M i n a s Gerais, c o m o fiador2 2 e p r i n c i p a l p a g a d o r do e m p r é s t i m o , h o n r o u todas as

prestações, c o m recursos p r ó p r i o s ou repassados do g o v e r n o federal e, i n c l u s i v e , a s s u m i u a d í v i d a (e as a ç õ e s do capital da SMJ) da p r e f e i t u r a2 3,

na gestão do prefeito Tarcísio D e l g a d o ( 1 9 8 4 / 8 9 ) e do g o v e r n a d o r Hé¬ l i o Garcia. A s s i m , "o e m p r é s t i m o foi c o n c e d i d o e a p l i c a d o nas obras da s i d e r ú r g i c a e q u e m p a g o u p o r esse e m p r é s t i m o d u r a n t e t o d o o t e m p o foi o E s t a d o " (MELLO REIS, 1994b:155).

No i n í c i o do II PND, o M i n i s t é r i o do P l a n e j a m e n t o sugere a eleva¬ ç ã o d a escala i n i c i a l d e p r o d u ç ã o d a SMJ para 2 m i l h õ e s t / a n o , e m u m a p r i m e i r a fase de o p e r a ç ã o , e m a i s 2 m i l h õ e s t / a n o , n u m a s e g u n d a fase, b e m c o m o a i n c l u s ã o d e u m a l i n h a d e l a m i n a ç ã o d e perfis pesados.

2 0 Para Mello R e i s (1994b), a concorrência ocorreu normalmente, apesar das cons¬

trutoras Andrade Gutierres e R. Almeida se retirarem do processo e, no final, ficar só a Construtora Mendes Júnior.

2 1 Os recursos foram obtidos através de um pool de quatorze bancos, liderado pelo

Banco de Londres.

2 2 A PJF autorizou o Estado de Minas Gerais a reter as quotas-partes do I C M , devidas

ao município, que viessem a ser geradas pela S M J , após sua entrada em operação, para cobrir o principal e os encargos.

2 3 No período 1977 a 1985, a PJF viu-se diante de compromissos financeiros

despro-porcionais à sua possibilidade de pagamento, o que estrangulou a capacidade de endividamento do município.

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Em m e a d o s de 1975, o projeto da SMJ c o m e ç a a sofrer atrasos, devi¬ do ao s u r g i m e n t o da p o l ê m i c a e n v o l v e n d o a A ç o M i n a s Gerais S.A ( A Ç O M I N A S ) . C o m o fim do m a n d a t o de R o n d o n P a c h e c o e a e l e i ç ã o de A u r e l i a n o C h a v e s para o g o v e r n o do Estado de M i n a s Gerais, o novo g o v e r n a d o r q u e r i a c o n s o l i d a r o p o l o s i d e r ú r g i c o m i n e i r o , pois achava q u e M i n a s Gerais era apenas u m estado e x p o r t a d o r d e m i n é r i o d e fer¬ ro para a c o n s t r u i r u m a g r a n d e s i d e r ú r g i c a no Estado.

I n i c i a l m e n t e , o g o v e r n a d o r t i n h a a i n t e n ç ã o de fazer u m a siderúrgi¬ c a d e 1 m i l h ã o d e t / a n o e m Igarapeva ( M G ) , entretanto, e m face d e pressões da A s s o c i a ç ã o C o m e r c i a l do Estado de M i n a s Gerais, r e s o l v e u e n c a m p a r u m projeto h i s t ó r i c o d a i n i c i a t i v a p r i v a d a (desde o s t e m p o s de A r t h u r B e r n a r d e s - 1924), referente à i m p l a n t a ç ã o da s i d e r ú r g i c a A Ç O M I N A S , c o m p r o d u ç ã o d e 1 m i l h ã o d e t / a n o e m O u r o B r a n c o2 4,

no Estado de M i n a s Gerais (FAGUNDES NETO:1994b).

O C O N S I D E R avaliou o projeto da A Ç O M I N A S c o m o p e q u e n o , e e x i g i u a a m p l i a ç ã o da p r o d u ç ã o (aço perfilado) para 4 m i l h õ e s de t / a n o2 5,

e u m a m u d a n ç a n a l i n h a d e p r o d u ç ã o d a empresa. C o m o fator d e com¬ p l i c a ç ã o , h a v i a o fato de a SIDEBRAS ( S i d e r u r g i a B r a s i l e i r a S.A.) n ã o q u e r e r liberar, c o n c o m i t a n t e m e n t e , dois f i n a n c i a m e n t o s para implanta¬ ção de projetos s i d e r ú r g i c o s no Estado de M i n a s Gerais.

Este fato acabou por gerar grande controvérsia entre os líderes políti¬ cos do Estado de Minas Gerais2 6, sendo que as lideranças de Juiz de Fora

lutavam pela instalação da SMJ e o Governador Aureliano Chaves insistia na instalação dos dois projetos2 7 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE J U I Z DE

F O R A , 1994a:57).

2 4 Sendo a Vale do R i o Doce acionista da A Ç O M I N A S , a empresa exigiu a implantação

da siderúrgica em local de acesso dos trilhos da empresa.

2 5 A A Ç O M I N A S poderia ter uma produção de até 8 milhões de toneladas/ano e

gerar até 30.000 empregos diretos, quando estivesse operando em plena capacidade

( B A S T O S , 2 0 0 4 ) .

2 6 Segundo Delgado (1994b), o secretário de Indústria e Comércio do governo Aure¬

liano Chaves, Fernando Fagundes Neto, estava junto com o governador "apostando" no projeto A Ç O M I N A S .

2 7 Como os projetos tinham a mesma linha de produção, cogitou-se a divisão de

(12)

E m o u t u b r o d e 1976, a S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r Ltda., cujo con¬ trole a c i o n á r i o p e r t e n c i a à C o n s t r u t o r a M e n d e s J ú n i o r , foi transforma¬ d a e m S . A .2 8, p r e v e n d o - s e a p a r t i c i p a ç ã o a c i o n á r i a d o Estado d e M i n a s

Gerais, através da S o c i e d a d e M i n e i r a de P a r t i c i p a ç õ e s S i d e r ú r g i c a s S.A. ( S M P S )2 9, d a SIDEBRAS (que entraria c o m u m capital d e U S $ 8 0 m i l h õ e s ) ,

d a Prefeitura d e J u i z d e Fora, d e u m pool e s t r a n g e i r o ( N i p p o n S t e e l , B r i t i s h S t e e l ) e de um pool de b a n c o s brasileiros ( q u e p r o p u n h a m subs¬ crever U S $ 30 m i l h õ e s ) , c o m vistas à i m p l a n t a ç ã o da u s i n a s i d e r ú r g i c a , à base de c o q u e , destinada à p r o d u ç ã o de a ç o em p r o d u t o s acabados na c a t e g o r i a d e n ã o p l a n o s .

A u s i n a c o n s t a r i a de dois estágios distintos. O p r i m e i r o , e n v o l v e n d o duas etapas, p r e v i a a p r o d u ç ã o i n i c i a l de 1,2 m i l h õ e s de t / a n o de aços n ã o p l a n o s na p r i m e i r a fase, e m a i s 1,2 m i l h õ e s de u n i d a d e s na s e g u n d a fase, s o m a n d o as duas etapas 2,4 m i l h õ e s de t / a n o . No s e g u n d o estágio, e n v o l v e n d o t a m b é m duas etapas, a p r o d u ç ã o total da S M J p o d e r i a che¬ gar, d e p e n d e n d o das c o n d i ç õ e s de m e r c a d o , a 5 m i l h õ e s de t / a n o de a ç o l í q u i d o .

A S M J seria a primeira usina integrada a coque, produtora de aços não planos no Brasil. Sendo uma usina de grande porte e projetada para obter índices de produtividade, induzirá, certamente, uma forte evolução quali¬ tativa no setor de laminados não planos comum ( B A N C O N A C I O N A L DE DESENVOLVIMENTO E C O N Ô M I C O , 1976:29).

A m a t é r i a - p r i m a , p a r a a p r o d u ç ã o do a ç o da S M J , s e r i a f o r n e c i d a p o r diversos estados b r a s i l e i r o s : M i n a s Gerais ( m i n é r i o d e ferro, cal¬ c á r i o e sucata d e a ç o ) , S ã o P a u l o ( c o q u e d e p e t r ó l e o ) , M a t o - G r o s s o , G o i á s e B a h i a ( m i n é r i o d e m a n g a n ê s e f e r r o l i g a s ) , S a n t a C a t a r i n a (fluorita e 20% d o c a r v ã o m i n e r a l3 0, v i s t o q u e 80% d o c a r v ã o m i n e r a l

2 8 A sociedade tinha por objeto principal a exploração da indústria siderúrgica, seus

correlatos e derivados, e do comércio, da importação e da exportação de matérias-primas e produtos siderúrgicos.

2 9 A Sociedade Anônima formada entre o Estado de Minas e a Construtora Mendes

Júnior tinha por objetivo o controle acionário da siderúrgica.

3 0 O Brasil possuía reservas de carvão mineral no sul do país, entretanto, o carvão

nacional possui altos teores de cinza e enxofre, elementos que são indesejáveis no processo de fabricação do aço.

(13)

s e r i a m i m p o r t a d o s , p r i n c i p a l m e n t e dos EUA) e o Estado do R i o de J a n e i r o (sucata de aço) (UNIVERSIDADE FEDERAL DE J U I Z DE F O R A ,

1994a).

No m e s m o ano, foi assinado o c o n t r a t o de financiamento para o projeto M e n d e s J ú n i o r c o m o B a n c o N a c i o n a l d e D e s e n v o l v i m e n t o E c o n ô m i c o (BNDE), à c o n t a do F u n d o de R e a p a r e l h a m e n t o Econô¬ m i c o (FRE), para i m p l a n t a ç ã o d e u s i n a s i d e r ú r g i c a i n t e g r a d a , c o m ca¬ p a c i d a d e i n i c i a l de p r o d u ç ã o de 1,2 m i l h õ e s de t / a n o . E m b o r a a t a x a de j u r o s para o sistema s i d e r ú r g i c o fosse de 5% ao ano, o g r u p o de anᬠlise do BNDE propôs j u r o s de 4% ao ano, t a x a esta q u e p o d e r i a ser re¬ d u z i d a para 3% ao ano, se os e q u i p a m e n t o s n a c i o n a i s u l t r a p a s s a r e m 6 0 % dos e q u i p a m e n t o s a d q u i r i d o s p e l a s i d e r ú r g i c a m i n e i r a ( B A N C O NA¬ CIONAL DE DESENVOLVIMENTO E C O N Ô M I C O , 1976:23). A esti¬ m a t i v a do BNDE (1976) era q u e a e m p r e s a tivesse a c a p a c i d a d e de em¬ p r e g a r 5.556 trabalhadores, n ú m e r o s u p e r i o r aos 3.250 apresentados pela e m p r e s a ao referido b a n c o .

O BNDE (1976) c o n s i d e r o u c o m o m é r i t o s do projeto: o a t e n d i m e n ¬ t o das m e t a s quantitativas d o p r o g r a m a d e e x p a n s ã o s i d e r ú r g i c a , n o q u e se refere a l a m i n a d o s n ã o p l a n o s de a ç o c o m u m ; a e x p a n s ã o qualitativa d o setor, e m t e r m o s d e escala; a c o n c e p ç ã o d o projeto c o m o u s i n a i n -t e g r a d a , l i b e r -t a das flu-tuações de ofer-ta e d e m a n d a de preços de suca-ta, e a i m p l a n t a ç ã o de o projeto representar a c r i a ç ã o do n ú c l e o siderúrgi¬ co e um n o v o p o l o de d e s e n v o l v i m e n t o r e g i o n a l . Entretanto, o BNDE c o n s i d e r o u , c o m o fator n e g a t i v o , a i m p l a n t a ç ã o s i m u l t â n e a de duas si¬ d e r ú r g i c a s no Estado de M i n a s Gerais ( A Ç O M I N A S e S M J ) .

O a n o de 1980 foi d e f i n i d o para a e n t r a d a em o p e r a ç ã o da u s i n a e, para este fim, p r e v i a - s e a c o n t r a t a ç ã o dos trabalhos de e n g e n h a r i a do projeto, os q u a i s ficaram a c a r g o da C o n s t r u t o r a M e n d e s J ú n i o r , desde q u e a c o n s t r u t o r a demonstrasse possuir e q u i p a m e n t o s e e q u i p e t é c n i c a a d e q u a d o s e apresentasse p r e ç o s c o m p a t í v e i s c o m os valores de m e r c a -do. O i n í c i o das obras de t e r r a p l a n a g e m e d r e n a g e m foi m a r c a d o para o final de agosto de 1977, t e n d o a C o n s t r u t o r a M e n d e s J ú n i o r contra¬ tado 300 t r a b a l h a d o r e s3 1. E n q u a n t o isto, a c i d a d e , de m o d o geral, v i v i a

3 1 As obras de terraplanagem criariam 73 empregos de nível superior, 206 de nível médio e 4.121 de mão de obra não especializada (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, 1994a).

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u m c l i m a d e euforia, pois a S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r " s i g n i f i c a r i a para a prefeitura n u m futuro n ã o distante, a e l e v a ç ã o da a r r e c a d a ç ã o e para a p o p u l a ç ã o a c r i a ç ã o de m a i s de 5.000 e m p r e g o s diretos e i n d i r e t o s "3 2

(DIÁRIO MERCANTIL, 2 7 / 1 0 / 7 6 ) .

Em 1977, o g o v e r n o federal, s e n t i n d o os efeitos da crise do p e t r ó l e o e sua c o n s e q u ê n c i a no m e r c a d o de p r o d u t o s de aço, r e d e f i n i u seu p o -s i c i o n a m e n t o e c o m e ç o u a d e -s e -s t i m u l a r a SMJ na i m p l a n t a ç ã o do gran¬ de projeto s i d e r ú r g i c o , q u e o p r ó p r i o g o v e r n o h a v i a e s t i m u l a d o .

As previsões de crescimento industrial do II PND foram formuladas quando se estava ainda sob os efeitos das excepcionais taxas de crescimen¬ to econômico, observadas no período de 1969 a 1974, antes, portanto que se fizessem sentir os efeitos da alta dos preços do petróleo e da recessão mundial ( B A N C O N A C I O N A L DE DESENVOLVIMENTO E C O N Ô M I C O , 1976:26).

N e s t e m e s m o ano, f o r a m d e s e n v o l v i d o s diversos estudos, baseados na escala de p r o d u ç ã o i n i c i a l de 1,2 m i l h õ e s de t / a n o , para a seleção do processo de f a b r i c a ç ã o do a ç o ( Q u a d r o 1). A e m p r e s a j a p o n e s a N i p p o n Steel e x e c u t o u o p l a n e j a m e n t o básico (Basic Design Study Report), no caso d a a l t e r n a t i v a d o alto forno. A o m e s m o t e m p o , f o r a m realizados contatos c o m a N i p p o n K o k a n , d o J a p ã o , para avaliação d o m o d e l o d o forno rotativo S L / R N , e x i s t e n t e na u s i n a j a p o n e s a de Fukuyama, e a si¬ d e r ú r g i c a s o l i c i t o u a o g r u p o M a n n e s m a n n , D e m a g e K o r f E n g i n e e r i n g u m estudo b a s e a d o n a c o m b i n a ç ã o d o b a i x o forno c o m u n i d a d e s d e r e d u ç ã o , u t i l i z a n d o - s e 100% de c a r v ã o n a c i o n a l . P o s t e r i o r m e n t e , aten¬ d e n d o a solicitações do M i n i s t é r i o da Indústria e C o m é r c i o e da SIDE-B R A S , foram d e s e n v o l v i d o s estudos nas escalas d e p r o d u ç ã o d e 600.000 e 750.000 t o n e l a d a s a n u a i s de a ç o l í q u i d o para as alternativas S L / R N e b a i x o forno, r e s p e c t i v a m e n t e ( C O T R I M , 1979).

A p ó s c o n s i d e r a ç õ e s t é c n i c a s d e s e n v o l v i d a s p e l a e m p r e s a , e l e v a n d o -se em c o n s i d e r a ç ã o a escas-sez de recursos financeiros d i s p o n í v e i s , a SMJ o p t o u p e l a u s i n a i n t e g r a d a c o m b a i x o forno d e r e d u ç ã o , c o m escala i n i c i a l de p r o d u ç ã o de 600.000 t / a n o de aço l í q u i d o ; e n t r e t a n t o , foi

3 2 Segundo resposta da S M J a questionário elaborado pela Fundação João Pinheiro, a

mão de obra empregada no empreendimento siderúrgico atingiria mais de 10 mil operários.

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e s t a b e l e c i d a a c a p a c i d a d e m á x i m a de p r o d u ç ã o da S M J , para efeito de lay-out, em 2 m i l h õ e s de t / a n o de a ç o l í q u i d o . Em m e a d o s de 1 9 7 83 3, a SMJ r e c e b e u solicitação da SIDEBRAS no sentido de r e d u z i r os i n v e s t i m e n t o s da p r i m e i r a fase de i m p l a n t a ç ã o , c o n s i d e r a n d o - s e , i n c l u s i v e , a possibilidade de i n t e g r a ç ã o do projeto da SMJ c o m o projeto da A Ç O M I N A S , m e d i a n t e o f o r n e c i m e n t o 381.000 t / a n o de s e m i a c a b a d o s , c o m p l e m e n t a r e s e n e c e s s á r i o s , para abastecer i n t e g r a l m e n t e a l a m i n a ç ã o da s i d e r ú r g i c a de J u i z de Fora.

Os estudos de mercado e das fontes de recursos indicam a conveniência de uma reprogramação do empreendimento. É vantajoso, em termos de otimização dos recursos para investimento no setor siderúrgico, aproveitar as disponibilidades de produtos siderúrgicos semiacabados, existentes em empresas do Sistema S I D E R B R A S (UNIVERSIDADE FEDERAL DE J U I Z DE F O R A , 1994a:92).

O a c o r d o c o m a A Ç O M I N A S , assinado em fevereiro de 1979, definiu q u e a A ç o s M i n a s Gerais seria responsável p e l o f o r n e c i m e n t o d e s e m i a -cabados ( m a t é r i a - p r i m a para a p r o d u ç ã o dos l a m i n a d o s n ã o p l a n o s sob a f o r m a de b l o c o s ou t a r u g o s ) , à S M J , p o r um p e r í o d o de 12 anos, a partir do i n í c i o da o p e r a ç ã o da u s i n a de J u i z de Fora, e e n q u a n t o n ã o fossem i m p l a n t a d o s os estágios necessários para q u e o a ç o pudesse ser o b t i d o i n t e g r a l m e n t e p o r p r o d u ç ã o n a p r ó p r i a usina.

A A Ç O M I N A S , t e n d o e m vista sua l o c a l i z a ç ã o p r ó x i m a a o m i n é r i o de ferro, ficou responsável p e l a parte m e t á l i c a , c o m a l t o - f o r n o e pro¬ d u ç ã o de t a r u g o s ( i n í c i o do processo de p r o d u ç ã o ) , e a S M J , face à sua l o c a l i z a ç ã o p r ó x i m a a o m e r c a d o c o n s u m i d o r , e l i m i n o u a parte metáli¬ c a ( a d o t o u u m forno e l é t r i c o )3 4 e f i c o u c o m a parte c o m p l e m e n t a r d e

f a b r i c a ç ã o do p r o d u t o final, ou seja, o a ç o fino (ferro para c o n s t r u ç ã o , a r a m e e fio-máquina).

A Mendes Júnior não tem fonte metálica, então traz o minério bruto, ela não tem alto-forno, então ela pega o minério sob a forma de tarugo, já

3 3 As obras da siderúrgica foram semiparalisadas durante o ano de 1978.

3 4 Para Castelo (1994b), é um grande desperdício resfriar o lingote, que está a mais de

1.000 graus centígrados, para ser transportado e, em Juiz de Fora, reaquecê-lo para poder laminá-lo.

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numa fase de semi-acabado, beneficiando-o e transformando-o em produto final (MELLO REIS, 1994b:158).

A SMJ r e d e f i n i u o c r o n o g r a m a e a c a p a c i d a d e de p r o d u ç ã o da usina s e m i - i n t e g r a d a c o m a A Ç O M I N A S . P r e v i u - s e u m a p r o d u ç ã o d e 600.000 t / a n o de aço l í q u i d o n u m a p r i m e i r a fase, q u e p o d i a c h e g a r a 2 m i l h õ e s d e t / a n o d e a ç o l í q u i d o após passar p o r u m estágio i n t e r m e d i á r i o d e 1,2 m i l h õ e s de t / a n o . A m i s t u r a de p r o d u t o s t a m b é m foi m o d i f i c a d a p e l a substituição d o l a m i n a d o r d e perfis pesados, por u m d e perfis m é -d i o e, m a i s tar-de, p o r um l a m i n a -d o r -de v e r g a l h õ e s e fio-máquina3 5.

A empresa se verticalizou para frente e produz dentro da própria usina trefilados: arames não revestidos ( B T C , M T C e A T C ) ; pregos com e sem cabeça; arames galvanizados e produtos agropecuários como arames farpados (Raça e R o d e i o - torção alternada e Capataz e Varjão - torção contínua), arame ovalado (Pônei) e pregos para cercas ( M I N E R A Ç Ã O E M E T A L U R G I A , 1989:8).

F i c o u e s t a b e l e c i d o q u e o projeto seria efetivado em estágios distin¬ t o s : o p r i m e i r o apresentaria u m a p r o d u ç ã o p r ó p r i a d e 200.000 t / a n o d e aço l í q u i d o , c o m p l e m e n t a d a por produtos semiacabados, fornecidos pela A Ç O M I N A S , para o a t e n d i m e n t o d e u m a l a m i n a ç ã o c o m c a p a c i d a d e instalada, para o p r o c e s s a m e n t o de a p r o x i m a d a m e n t e 540.000 t / a n o de p r o d u t o s l a m i n a d o s (barras r e d o n d a s , v e r g a l h ã o e m rolos, v e r g a l h ã o e m barras, fio-máquina e trefilados), o q u e c o r r e s p o n d e r i a a 600.000 t / a n o d e aço l í q u i d o . N e s t e p r i m e i r o estágio, previsto para entrar e m o p e r a ç ã o e m 1982, c o m i n v e s t i m e n t o s f i x o s d a o r d e m d e U S $ 396.419.000,00, a planta consistiria d e u m a a c i a r i a e l é t r i c a , u m l i n g o t a m e n t o c o n t í n u o d e t a r u g o s , u m l a m i n a d o r d e f i o m á q u i n a , barras e v e r g a l h õ e s e u m a t r e -filaria (UNIVERSIDADE FEDERAL DE J U I Z DE F O R A , 1994a).

O s e g u n d o p r e v i a a i n t e g r a ç ã o da usina c o m a p r o d u ç ã o de 710.000 t / a n o d e a ç o l í q u i d o , b e m c o m o o a u m e n t o d a p r o d u ç ã o d e l a m i n a d o s para 640.000 t / a n o , através d a instalação d e u m a c o q u e r i a , d e b a i x o s fornos e l é t r i c o s de r e d u ç ã o , da e x p a n s ã o da a c i a r i a , c o m a instalação de fornos LD, o a u m e n t o d o n ú m e r o d e m á q u i n a s d e l i n g o t a m e n t o c o n

-3 5 O consumo de fio-máquina destina-se aos setores de trefilaria, fábrica de cabos,

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t í n u o e d u p l i c a ç ã o d a trefilaria ( Q u a d r o 2 ) . A l é m d o m i n é r i o s e m i a c a -b a d o , so-b a f o r m a de t a r u g o ( l i n g o t e s ) , f o r n e c i d o p e l a A Ç O M I N A S , a SMJ i r i a c o m p l e m e n t a r seus i n s u m o s c o m sucatas ( a p r o x i m a d a m e n t e 3 5 % d a m a t é r i a - p r i m a ) , a d q u i r i d a s dos p r i n c i p a i s centros g e r a d o r e s n o Brasil (São P a u l o e B e l o H o r i z o n t e ) , transportadas p o r v i a r o d o v i á r i a e / o u ferroviária ( p r e f e r e n c i a l m e n t e ) até a planta, s e n d o q u e , neste se¬ g u n d o caso, seria a p l i c a d o o p r i n c í p i o de uso do frete de r e t o r n o3 6.

Em 1979, o CDI ( C o n s e l h o de D e s e n v o l v i m e n t o Industrial) aprovou a concessão de i n c e n t i v o s fiscais à SMJ para a i m p o r t a ç ã o de equipa¬ m e n t o s e m á q u i n a s (40%). O M i n i s t é r i o da F a z e n d a c o n c e d e u os mes¬ m o s i n c e n t i v o s deferidos às e x p o r t a ç õ e s , às v e n d a s de m á q u i n a s e aos e q u i p a m e n t o s n a c i o n a i s para a usina s i d e r ú r g i c a no m e r c a d o i n t e r n o , e a A g ê n c i a Especial de F i n a n c i a m e n t o Industrial (FINAME) e n q u a d r o u os e q u i p a m e n t o s n a c i o n a i s da s i d e r ú r g i c a na l i n h a de c r é d i t o de seu P r o g r a m a Especial.

Em 1980, a SMJ assinou contrato c o m a C e n t r a l E l é t r i c a de M i n a s Gerais (CEMIG) para o f o r n e c i m e n t o de e n e r g i a e l é t r i c a à usina, na tensão de 138 k V , c o m d e m a n d a s reservadas até 100 M V W , e c o m o B a n c o d e D e s e n v o l v i m e n t o d o Estado d e M i n a s Gerais (BDMG) para o repasse de recursos da F i n a n c i a d o r a de Estudos e Projetos (FINEP), destinados ao financiamento de serviços e de e n g e n h a r i a básica. Neste m e s m o ano, a s i d e r ú r g i c a c o n t r a t o u e m p r é s t i m o s c o m o L l o y d s B a n k I n t e r n a t i o n a l no valor de U S $ 17 m i l h õ e s , e n e g o c i o u e m p r é s t i m o s b i l a t e r a i s j u n t o ao Kreditanstalt für W i e d e r a u f b a u ( A l e m a n h a ) e ao S k a n d i n a v i s k a Enskilda B a n k e n ( S u é c i a ) , nos valores d e U S $ 8,6 m i l h õ e s e U S $ 3,1 m i l h õ e s , r e s p e c t i v a m e n t e , para financiamento dos c o m p o n e n ¬ tes e dos e q u i p a m e n t o s i m p o r t a d o s da u s i n a3 7 (UNIVERSIDADE FEDE¬

R A L DE J U I Z DE F O R A , 1994a).

No s e g u n d o semestre de 1980, depois de c o n c l u í d a s as obras de t e r r a p l a n a g e m e d r e n a g e m do t e r r e n o , d e u - s e i n i c i o à c o n s t r u ç ã o da S M J , q u e e n t r o u e m o p e r a ç ã o c o m e r c i a l n o a n o d e 1984.

3 6 O uso do frete de retorno significa a possibilidade de utilizar o mais barato, de

caminhões ou trens que voltam "vazios para os Estados do R i o do R i o de Janeiro e São Paulo e a cidade de Belo Horizonte".

3 7 Estavam previstos financiamentos do BID (US$ 46 milhões) e do B I R D (US$ 69

milhões) para equipamentos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE J U I Z DE F O R A , 1994a).

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4. A Empresa Siderúrgica Mendes Júnior

A s s i m , após quase q u i n z e anos, e n v o l v e n d o n e g o c i a ç õ e s p o l í t i c a s e obras de d r e n a g e m , t e r r a p l a n a g e m e de e n g e n h a r i a da usina, n u m pro¬ cesso de a m p l i a ç ã o e r e d u ç ã o dos projetos de c a p a c i d a d e de p r o d u ç ã o , a SMJ e n t r o u e m o p e r a ç ã o n u m p e r í o d o d e retração d a e c o n o m i a bra¬ sileira e de q u e d a da d e m a n d a i n t e r n a de aço.

Desde 1979, o Brasil passou de importador a exportador líquido de produtos siderúrgicos. Para os produtos não-planos esta mudança, ocorreu já em 1977, em decorrência do esforço de substituição de importações

desenvolvido pelo setor privado ( M U S E T T I , 1986:27).

Se até a d é c a d a de 1980, as v e n d a s do setor de aços n ã o p l a n o s esti¬ v e r a m d i r i g i d a s p r i n c i p a l m e n t e para o a t e n d i m e n t o do m e r c a d o inter¬ n o , q u e a p r e s e n t o u taxas elevadas em t o d a a d é c a d a de 70, a partir dos anos 80, em razão da crise, o setor b u s c o u u m a estratégia de diversifi¬ c a ç ã o d e m e r c a d o s , v i s a n d o a u m a p a r t i c i p a ç ã o m a i s p e r m a n e n t e e m a l g u n s m e r c a d o s e x t e r n o s , à m e d i d a q u e s e p e r c e b i a u m e n f r a q u e c i -m e n t o n o c r e s c i -m e n t o d a d e -m a n d a i n t e r n a . Este e n f r a q u e c i -m e n t o , q u e d e s a b o u para u m a r e d u ç ã o da d e m a n d a3 8, i m p ô s o r e c u r s o às e x p o r t a -ç õ e s3 9 c o m o ú n i c o m e i o d e a l c a n ç a r taxas aceitáveis d e u t i l i z a ç ã o d a c a p a c i d a d e instalada. " A s e x p o r t a ç õ e s d e n ã o planos e m 1985 t o t a l i z a r a m U S $ 550 m i l h õ e s , c o n t r i b u i n d o para o p r o d u t o s i d e r ú r g i c o se p o s i c i o n a r c o m o o p r i m e i r o i t e m na p a u t a de e x p o r t a ç ã o de p r o d u t o s manufatu¬ rados no país ( M U S E T T I , 1986:28).

No final dos anos 80, d e v i d o à possibilidade de reativação da e c o n o -m i a e do a u -m e n t o do c o n s u -m o de a ç o no país, t o r n o u - s e n e c e s s á r i o o r e t o r n o do p l a n e j a m e n t o do setor. Foi f o r m u l a d o , então, o II P S N para o p e r í o d o de 1987 até 2000, b a s e a d o na m o d e r n i z a ç ã o t e c n o l ó g i c a e na

3 8 Em 1985, o consumo de aço foi de 95 kg/hab., valor 30% abaixo do nível de 1980

(DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 1987).

3 9 Nos anos 80, a política de contingenciamento das importações de aço, por parte

dos EUA e da CEE, implicou num aumento da concorrência externa e na queda dos preços de exportação.

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c o m p l e m e n t a ç ã o das usinas existentes. Entretanto, c o m a posse do go¬ v e r n o C o l l o r em 1990, o II PSN foi a b a n d o n a d o , d e v i d o à e x t i n ç ã o da S I D E R B R A S e à decisão de privatizar o setor.

No i n í c i o dos anos 90, a SMJ atravessou u m a fase difícil, d e c o r r e n t e d e u m a a c e n t u a d a q u e d a n o n í v e l d e v e n d a s e dos p r e ç o s p r a t i c a d o s n o m e r c a d o i n t e r n o . A s e x p o r t a ç õ e s , apesar d o e l e v a d o v o l u m e comercia¬ l i z a d o , a p r e s e n t a r a m u m b a i x o n í v e l d e r e n t a b i l i d a d e e m função d a d e f a s a g e m da t a x a de c â m b i o (a d e f a s a g e m c h e g o u a 30%) e da q u e d a dos p r e ç o s v e r i f i c a d o s n o m e r c a d o e x t e r n o , e m função d o d e s a q u e c i -m e n t o d a e c o n o -m i a -m u n d i a l . O G r u p o M e n d e s J ú n i o r encontrava-se n u m a situação f i n a n c e i r a c o m p l i c a d a , c o m dívidas d e cerca d e U S $ 2,0 b i l h õ e s j u n t o aos bancos federais e de a p r o x i m a d a m e n t e U S $ 199 m i l h õ e s j u n t o aos b a n c o s estaduais. O G r u p o v i u , na possibilidade de a d q u i r i r a A Ç O M I N A S , a o p o r -t u n i d a d e de escapar da i n s o l v ê n c i a ( G R E C O & C O U T I N H O , 2002).

E m 1993, a A Ç O M I N A S foi privatizada, sendo a d q u i r i d a , e m l e i l ã o4 0,

p o r u m c o n s ó r c i o l i d e r a d o p e l o G r u p o M e n d e s J ú n i o r (31,8% d o capi¬ t a l ) , c o m p a r t i c i p a ç ã o d o C l u b e d e P a r t i c i p a ç ã o A c i o n á r i a dos Empre¬ gados d a A Ç O M I N A S / C E A (20% d o c a p i t a l ) , das empresas C o m p a n h i a Vale do R i o D o c e (5% do c a p i t a l ) , A ç o s V i l a r e s (6,2% do capital) e dos b a n c o s estaduais C R E D I R E A L , BEMGE e B D M G (7,4% do capital) (DE PAULA, 2002).

A transferência do controle só foi possível porque o governo do estado, através de seus bancos públicos4 1, decidiu que o grupo mineiro seria pro¬

prietário da siderúrgica. Direta e indiretamente o BEMGE, o C R E D I R E A L e o B D M G garantiram U S $ 190 milhões em moedas de privatização para a compra da A Ç O M I N A S , o que equivale a 50,26% do que o consórcio liderado pela Mendes Júnior gastou para adquirir o controle da siderúrgica ( M E R C A D O C O M U M , 1993:6).

4 0 Leilão disputado por três grandes grupos: Mendes Júnior, Gerdau/Usiminas e

Acesita.

4 1 A S M J devia, desde 1979, U S $ 63 milhões ao BEMGE, e U S $ 37,7 milhões ao C R E

-DIREAL. A dívida foi trocada por U S $ 100 milhões em debêntures, emitidas pela

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D a d a a r e l a ç ã o de c o m p l e m e n t a r i d a d e e x i s t e n t e entre os processos produtivos das duas empresas, a u n i ã o das duas s i d e r ú r g i c a s foi vista c o m o capaz d e p r o m o v e r m a i o r r a c i o n a l i d a d e n a p r o d u ç ã o , tanto pelas e c o n o m i a s nas despesas administrativas, c o m e r c i a i s e de p r o d u ç ã o , quan¬ t o p e l a o p o r t u n i d a d e d e o t i m i z a r o s i n v e s t i m e n t o s j á realizados, n ã o s e n d o n e c e s s á r i o g e r a r d u p l i c i d a d e nas etapas de p r o d u ç ã o .

E n t r e t a n t o , a g e s t ã o f i n a n c e i r a a d o t a d a p e l a M e n d e s J ú n i o r4 2 n a

A Ç O M I N A S foi d i r e c i o n a d a para d r e n a r seus r e c u r s o s e d i r e c i o n á - l o s p a r a o g r u p o4 3. E m o u t u b r o d e 1994, q u a n d o o s d e m a i s sócios soube¬ r a m d o " r o m b o f i n a n c e i r o " , afastaram o g r u p o d a d i r e ç ã o d a e m p r e s a . A s s i m , o g r u p o M e n d e s J ú n i o r d e i x a a d i r e ç ã o d a A Ç O M I N A S , n o v a m e n t e , e m s i t u a ç ã o d e i n s o l v ê n c i a e c o m u m a d í v i d a l í q u i d a d e U S $ 500 m i l h õ e s ( G R E C O e C O U T I N H O , 2 0 0 2 ) . E m 1995, a SMJ foi a r r e n d a d a à C o m p a n h i a S i d e r ú r g i c a B e l g o M i n e i r a ( t e n d o c o m o p r i n c i p a l a c i o n i s t a o g r u p o e u r o p e u A r c e l o r4 4) ,

p e l o p r a z o d e sete anos ( 2 0 0 2 ) , p r o r r o g á v e i s até 2006. U m dos p r i n c i ¬ pais o b s t á c u l o s da t r a n s a ç ã o foi fazer o l e v a n t a m e n t o dos d é b i t o s da S M J e i n i c i a r u m a a m p l a n e g o c i a ç ã o c o m os c r e d o r e s ( b a n c o s e for¬ n e c e d o r e s ) . E m 1999, a B e l g o - M i n e i r a f e c h o u a c o r d o c o m o BNDES ( B a n c o N a c i o n a l d e D e s e n v o l v i m e n t o E c o n ô m i c o e S o c i a l ) p a r a resgatar u m a d í v i d a s u p e r i o r a R $ 7 0 0 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 d a S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r , e , a p a r t i r de e n t ã o , t e n t o u fechar a c o r d o c o m a A Ç O M I N A S ( d í v i d a ao r e d o r d e U S $ 500 m i l h õ e s ) e c o m 8 0 c r e d o r e s d a S M J , q u e r e p r e s e n -t a v a m u m a d í v i d a d e c e r c a d e U S $ 300 m i l h õ e s , p a r a assumir, e m d e f i n i t i v o , o c o n t r o l e (99% das a ç õ e s ) da s i d e r ú r g i c a . Em fevereiro de 2003, a u s i n a d e J u i z d e Fora foi a d q u i r i d a p e l a B e l g o M i n e i r a , pas¬ s a n d o a o p e r a r c o m n o m e n o v o , B e l g o M i n e i r a P a r t i c i p a ç ã o I n d ú s t r i a e C o m é r c i o S.A. ( B M P ) .

4 2 O grupo Mendes Júnior, apesar de deter apenas 3 1 % do capital total, assumiu a

direção em virtude do acordo com o CEA, que detinha 20% do capital da empresa privatizada ( G R E C O e C O U T I N H O , 2 0 0 2 ) .

4 3 Sem consulta prévia aos demais sócios, a A Ç O M I N A S realizou operações com o

grupo Mendes Júnior no valor de U S $ 400 milhões (Ibidem).

4 4 Em 2 0 0 1 , ocorreu a fusão entre a A R B E D (belga-luxemburguesa), a Usinor (França)

e a Aceralia (Espanha), surgindo a Arcelor, gigante do setor siderúrgico mundial, da qual a Belgo faz parte.

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E m 2006, o g r u p o s i d e r ú r g i c o e u r o p e u A r c e l o r , p r i n c i p a l acionista d a B e l g o M i n e i r a , alterou a d e n o m i n a ç ã o social d a e m p r e s a para A r c e -l o r Brasi-l ( r e u n i ã o d a B e -l g o M i n e i r a , d a C o m p a n h i a S i d e r ú r g i c a d e T u b a r ã o e da V e g a do S u l ) . T a m b é m em 2006, foi a n u n c i a d o o "casa¬ m e n t o " entre a l í d e r m u n d i a l do setor de aços, M i t t a l S t e e l (capital i n d i a n o ) , c o m a A r c e l o r , s e g u n d a m a i o r p r o d u t o r a de a ç o do m u n d o . A e m p r e s a de J u i z de Fora passou a se c h a m a r A r c e l o r M i t t a l J u i z de Fora - A ç o s L o n g o s4 5.

5. Conclusão

O projeto i n d u s t r i a l da S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r , e m b o r a fosse associado à i n i c i a t i v a p r i v a d a , foi c o n c e b i d o e i m p l e m e n t a d o c o m ele¬ v a d a i n t e r f e r ê n c i a p ú b l i c a .

O G o v e r n o Federal, a l é m de c o n c e d e r i n c e n t i v o s para i m p o r t a ç ã o de e q u i p a m e n t o s , v i a b i l i z o u a o b t e n ç ã o de recursos a j u r o s subsidiados e i n j e t o u recursos v i a p a r t i c i p a ç ã o a c i o n á r i a . C o m r e l a ç ã o à c a p a c i d a d e de p r o d u ç ã o , a i n t e r f e r ê n c i a estatal refletiu as v a r i a ç õ e s cíclicas da e c o -n o m i a brasileira d u r a -n t e as d é c a d a s de 70 e 80, ou seja, -no p e r í o d o de c r e s c i m e n t o e c o n ô m i c o , o Estado i n t e r v e i o para a m p l i a r o projeto em n í v e i s de p r o d u ç ã o m a i s a m b i c i o s o s . Entretanto, c o m a crise do final dos anos 70 e i n í c i o dos 80, o projeto foi r e c u a n d o de t a m a n h o , os pra¬ zos de i m p l a n t a ç ã o s e n d o d e s c u m p r i d o s , e a e m p r e s a d i r e c i o n a n d o parte da p r o d u ç ã o para o m e r c a d o e x t e r n o .

Os g o v e r n o s estadual e m u n i c i p a l , apesar da g r a n d e p a r t i c i p a ç ã o no processo de n e g o c i a ç ã o da i m p l a n t a ç ã o do projeto, t i v e r a m a função de suporte ao e m p r e e n d i m e n t o . Ao g o v e r n o estadual e ao m u n i c i p a l cou¬ be o papel de d e s o b s t r u ç ã o de p r o b l e m a s infraestruturais e de c o m p l e -m e n t a ç ã o da p o l í t i c a de i n c e n t i v o s , o b j e t i v a n d o v i a b i l i z a r a i -m p l a n t a ç ã o d a u s i n a s i d e r ú r g i c a e m J u i z d e Fora.

4 5 No início de 2008, a Belgo-Arcelor Brasil colocou em funcionamento dois

alto-fornos a carvão vegetal na usina de Juiz de Fora, objetivando alcançar a produção de 360.000 t/ano de ferro-gusa. A instalação dos altos-fornos faz parte do Programa Belgo de Sustentabilidade, que mobiliza pequenos e médios agricultores da Zona da Mata e Sul de Minas, para o plantio de eucalipto, destinado à produção do carvão.

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As l i d e r a n ç a s estaduais p e n s a v a m a i m p l a n t a ç ã o do projeto i n d u s t r i a l c o m o capaz de p e r m i t i r o f o r t a l e c i m e n t o i n d u s t r i a l e p o l í t i c o do Esta¬ do, p r i n c i p a l m e n t e através da t r a n s f o r m a ç ã o de M i n a s Gerais, de estado e x p o r t a d o r de m i n é r i o de ferro em estado p r o d u t o r de aço, e as lide¬ ranças m u n i c i p a i s v i a m n a c r i a ç ã o d e u m p o l o s i d e r ú r g i c o e m J u i z d e Fora a possibilidade de g e r a r u m a série de efeitos positivos ( a m p l i a ç ã o do e m p r e g o e da r e n d a , atração de novas empresas, diversificação da a t i v i d a d e i n d u s t r i a l e da d e m a n d a l o c a l ) sobre o sistema e c o n ô m i c o l o c a l , capazes de d i n a m i z a r a e c o n o m i a da c i d a d e .

C o m r e l a ç ã o a J u i z de Fora, no p e r í o d o de 1975 a 1985, os i m p a c t o s do n o v o projeto i n d u s t r i a l f o r a m l i m i t a d o s sobre a c i d a d e . L i m i t a d o s , pois o c o r r e r a m , de f o r m a i n d i r e t a , v i a g e r a ç ã o de e m p r e g o e de massa salarial, s e n d o q u e , a n í v e l direto, a i m p o r t â n c i a do projeto foi m e n o s expressiva, pois, apesar do a u m e n t o da p r o d u ç ã o i n d u s t r i a l e da alteração da c o m p o s i ç ã o do setor i n d u s t r i a l da c i d a d e , os linkages para trás e para a frente, na c a d e i a p r o d u t i v a da e m p r e s a , n ã o se d e r a m na c i d a d e .

O s e n c a d e a m e n t o s n ã o s u r g i r a m n o m u n i c í p i o , pois, c o m o o s pro¬ dutos p r o d u z i d o s p e l a s i d e r ú r g i c a se c o n c e n t r a v a m n o s p r i m e i r o s estᬠg i o s d e p r o d u ç ã o ( i n s u m o s b á s i c o s ) , estes p o s s u í a m , apenas, e n c a d e a -m e n t o s a j u s a n t e na c a d e i a de p r o d u ç ã o , e os linkages para frente da planta i n d u s t r i a l ( d e m a n d a , f o r n e c e d o r e s , m a t é r i a s - p r i m a s ) se encontra¬ v a m p r i n c i p a l m e n t e n o Estado d e S ã o P a u l o , c o m o resultado d e u m a trajetória h i s t ó r i c a de c o n s t i t u i ç ã o do p a r q u e i n d u s t r i a l e da m a l h a de transportes n o Brasil C o m o a s c o m p l e m e n t a r i d a d e s i n d u s t r i a i s n ã o e s t a v a m presentes e m J u i z d e Fora, e c o m o n ã o h o u v e a p r e o c u p a ç ã o dos e m p r e s á r i o s e m c r i a r s i n e r g i a s i n d u s t r i a i s n a c i d a d e , e n e m das i n s t i t u i ç õ e s e m i m p l a n t a r u m a p o l í t i c a d e d e s e n v o l v i m e n t o l o c a l m a i s a m p l a e e s t r u t u r a d a , g r a n d e parte dos efeitos positivos do projeto i n d u s t r i a l v a z o u para fora da ci¬ d a d e . E, para agravar esta situação, a d e f l a g r a ç ã o da crise dos anos 80 r e d u z i u o u , m e s m o , e l i m i n o u q u a l q u e r possibilidade d e i m p a c t o posi¬ tivo d o e m p r e e n d i m e n t o e m J u i z d e Fora.

A s s i m , a i m p l a n t a ç ã o d a S i d e r ú r g i c a M e n d e s J ú n i o r , p o r n ã o atrair u m c o n j u n t o d e empresas e n c a d e a d a s , q u e v i a b i l i z a s s e m a e x p a n s ã o d o efeito m u l t i p l i c a d o r do e m p r e g o e da r e n d a no m u n i c í p i o , foi i n c a p a z d e g e r a r forças l o c a i s passíveis d e assegurar u m i m p u l s o e n d ó g e n o a o d e s e n v o l v i m e n t o e c o n ô m i c o d a c i d a d e .

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P a r a P i q u e t ( 1 9 9 3 ) , o s g r a n d e s p r o j e t o s i n d u s t r i a i s i m p l a n t a d o s n o B r a s i l n o s a n o s 7 0 e 8 0 são g e r a l m e n t e a p o n t a d o s c o m o " e n c l a v e s " , p o i s , d e v i d o a o s n o v o s i n v e s t i m e n t o s t e r e m s i d o frutos d e d e c i s õ e s t o m a d a s a n í v e l n a c i o n a l (II P N D ) , s u r g i r a m d e s v i n c u l a d o s das r e g i õ e s e m q u e f o r a m i m p l e m e n t a d o s ( d e s c o n s i d e r a m o s a s p e c t o s s o c i a i s , p o l í t i c o s , e c o n ô m i c o s e e c o l ó g i c o s ) , e o s u b s í d i o estatal ( f e d e r a l , esta¬ d u a l e m u n i c i p a l ) p e r m i t i u q u e o c a p i t a l p r i v a d o o p e r a s s e d i f e r e n t e ¬ m e n t e d a l ó g i c a e s p a c i a l v i g e n t e , o u seja, d a l o c a l i z a ç ã o i n d u s t r i a l e m S ã o P a u l o .

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Referências

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