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A participação cidadã no planejamento da cidade

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE GEOGRAFIA

Neide Girardi Ferrari

A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ NO PLANEJAMENTO DA

CIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Geografia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Geografia.

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A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ NO PLANEJAMENTO DA CIDADE

Neide Girardi Ferrari1 Célia Clarice Aktinson2

RESUMO:

A presente pesquisa tem como preocupação investigar os pressupostos teóricos da pedagogia freireana que embasam a construção da cidadania pautada na participação cidadã. A partir disso, compreende-se que a escola deve ser vista como local propício para buscar-se o exercício da participação no planejamento das atividades escolares, mais especificamente de geografia que, só depois é traduzido para a vida cotidiana. Propõe-se, em linhas gerais, identificar, analisar e discutir a proposta e sua influência na construção e planejamento da cidade, a luz das pesquisas do Orçamento Participativo em Barão, município do Rio Grande do Sul, nos anos de 2005 e 2006, mediante a leitura e estudo das obras de Sérgio Pedro Herbert, pedagogo, pesquisador e doutor em Educação, que defendeu o Mestrado e o Doutorado na Universidade do Rio dos Sinos, com a proposta de participação popular no Orçamento Participativo; juntamente com outras leituras de demais estudiosos da temática em questão.

Palavras chave: Participação cidadã. Planejamento Urbano.

1Acadêmica do Curso de Geografia da Unijuí.

2 Orientadora: Geógrafa e Licenciada em Geografia, Mestre em Geografia pela Universidade Federal

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1 INTRODUÇÃO

...ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou sua construção (FREIRE,1996, p.22)

No mundo contemporâneo os valores democráticos já se tornaram unanimidade entre intelectuais, acadêmicos, governantes e políticos. Em contrapartida, esta afirmação não chega a todas camadas sociais da mesma forma. Entretanto, o preceito da participação encontra-se ainda velado, reprimido; não se efetuando na prática. Assim,

É inerente ao conceito de Estado Democrático de Direito a ideia de participação do cidadão na gestão e no controle da Administração Pública, no processo político, econômico, social e cultural; essa ideia está incorporada na Constituição não só pela introdução da fórmula do Estado Democrático de Direito – permitindo falar em democracia participativa -, como também pela previsão de vários instrumentos de participação (DI PIETRO,2009, p.30).

Como tal situação não se efetiva, seja por vontades governamentais ou dos próprios sujeitos, faz-se necessário voltar nossa atenção a outros mecanismos que venham a ser possibilitados estes direitos.

A base teórica do estudo é o pensamento de Paulo Freire que perpassa tanto o ensino formal, quanto o informal e continua motivando muitos estudos nos vários campos do saber, devido aos desdobramentos que potencializa. Neste particular, objetiva-se inquirir sobre o conhecimento como suporte teórico na educação escolar, a partir da concepção do pensador/educador supracitado.

O ato de conhecer e o conhecimento adquirem o seu sentido no processo de realização do ser humano, concernente à sua vocação ontológica de “Ser Mais”. O conhecimento faz parte da totalidade da vida humana, englobando a totalidade da experiência humana.

[...] ninguém educa ninguém, como tão pouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo, pelos objetos cognoscíveis que na prática “bancária” são possuídos pelo

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educador que os descreve ou os deposita nos educandos passivos. (FREIRE, 1983, P. 79)

Partindo do pressuposto de uma educação em comunhão, faz-se necessário relacionar educação com o exercício de participação para efetivar a construção de cidades sustentáveis. Utilizando-se a Geografia na escola, como fonte e objeto de uma possibilidade de discussões o resultado que se obterá é a formação, a informação e a reflexão para o constante exercício da cidadania.

A geografia que o aluno estuda deve permitir que ele se perceba como participante do espaço que estuda, onde os fenômenos que ali ocorrem são resultados da vida e do trabalho dos homens e estão inseridos num processo de desenvolvimento. Não é aquela geografia que mostra um panorama da terra e do homem, fazendo uma catalogação enciclopédica e artificial, em que o espaço considerado e ensinado é fracionado e parcial, e onde o aluno é um ser neutro, sem vida, sem cultura e sem história. O aluno deve estar dentro daquilo que é estudado e não fora, deslocado e ausente daquele espaço, como é a geografia que é muito ensinada na escola: uma geografia que trata o homem como um fato a mais na paisagem, e não como um ser social e histórico. (CALLAI, 1998, p.58)

No processo de conhecer definido nas obras de Freire, não há como transferir conhecimento, pois significa sempre uma nova apreensão do objeto, da realidade. Portando, conhecer é sempre um ato dialógico, que envolve sujeitos ativos. A ação transformadora se dá entre sujeitos que interagem que se comunicam e transformam o espaço de vivência.

Os objetivos para o referido estudo, com base teórica já referida constituem-se em: refletir sobre a importância da participação cidadã no deconstituem-senvolvimento da cidade e no meio ambiente, com base no ensino de Geografia; analisar características do planejamento urbano participativo enfocando a pedagogia da participação.

Como já dito, a democracia é uma ideia em expansão. O princípio da participação cidadã passa a ser reconhecido como pressuposto de que todo o poder emana do povo. Porém, na prática ainda é discutível, salvo algumas experiências como Orçamento Participativo ou outros conselhos gestores ou comunitários.

Baseando-se em que a democracia é um instrumento que favorece a emancipação e a participação, costuma-se observar que as pessoas não se apropriam dessas possibilidades e ficam mais preocupadas em saber “quando e como” as ações se desenrolam, do que propriamente “onde”. De fato, a cada dia as pessoas estão com

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menos tempo e a cada nova tecnologia que surge, aprende-se uma nova maneira de fazer, mais rapidamente aquilo que já era feito antes. Assim, a exigência de rapidez nas respostas dos problemas ou no efetivar as ações é uma consequência.

A dimensão espacial, ou seja, onde as ações acontecem, fica em segundo plano, até mesmo porque hoje, com o avanço da internet, os mundos real e virtual se aproximam tanto que nos levaram a rever os antigos referenciais do espaço. Já na dimensão temporal, observa-se a necessidade de respeito ao tempo e as pessoas com as quais a sociedade se forma.

A história da humanidade é marcada por lutas sociais e políticas pela conquista de direitos, fazendo com que os resultados se tornassem uma referência de princípios, normas e valores fundamentais

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Introduzir os cidadãos na Gestão Pública constitui-se em uma forma de construir um processo democrático, tendo em vista situações provocadas pela globalização, onde alguns são excluídos, inclusive dos direitos mais básicos, e outros passam a se beneficiar de seu poder econômico.

Através da pesquisa bibliográfica e leituras aprofundadas de obras de autores que tratam o referido assunto, serão analisadas maiores informações sobre o papel da participação cidadã e como ela pode contribuir para o desenvolvimento e formação de uma cidade mais próspera.

De acordo com a realidade em que vivemos, percebemos que a crescente urbanização e industrialização têm propiciado o crescimento das cidades em área e população e como consequência foi delineado um diferente contorno que resultou situações peculiares às cidades brasileiras; com isso, graves problemas vêm se apresentando aos gestores como: falta de rede de esgotos, de políticas habitacionais, de transporte urbano enfim, à insuficiência de conhecimentos locais (gerais) para a aplicação dos recursos públicos com o objetivo de garantir qualidade de vida da população urbana. Para a geografia estas características são um “sem fim” de discussões que podem ser pautadas na escola em um ambiente participativo e democrático. Como cita Cavalcanti

A tarefa da escola é justamente propiciar elementos, por meio do ensino de diferentes conteúdos, especialmente os de geografia, para que os alunos possam fazer um elo entre o que acontece no lugar em que vivem, na sua vida, no seu cotidiano e o que acontece em outros lugares do mundo, trabalhando assim com superposições de escalas de análise, local e global. Ou seja, trata-se de leva-los a compreender que muitos fatos e fenômenos que vivenciam em nível local são equivalentes a outros que ocorrem em

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diferentes lugares, de diversos países e continentes, e que isso acontece porque são impulsionados e regidos por uma lógica mais geral, uma lógica mais global. É com essa compreensão que eles podem analisar problemas do cotidiano urbano que vivenciam (2012, p.143).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A participação cidadã faz despertar o interesse em desenvolver algumas ações na comunidade. Buscar conhecimento, troca de experiências e de opiniões, favorecem vivências e percepções diferentes.

Participar em ações, favorece o surgimento de diferenças e estímulos ao debate, resultando em contribuições que podem ser dadas e facilitam o trabalho coletivo.

Tratar do estudo da cidade é ter presente o espaço urbano com suas contradições. Um espaço que é influenciado pelas ações da sociedade e reflexo dos sistemas condicionantes ao desenvolvimento. É resultado do trabalho, produto final das ações humanas que deixam suas marcas e denotam seu processo histórico. Analisar as cidades, e verificar bolsões de miséria, desemprego e subemprego, é entender o modo de produção capitalista, fato que é muito caro para a população. Como auxiliar deste entender, a Geografia tornou-se um instrumento que possibilita a formação de alguns conceitos que incentivam a participação cidadã.

A geografia busca, assim, estruturar-se para ter um olhar mais integrador e aberto, ao mesmo tempo, às contribuições de outras áreas da ciência e às diferentes especialidades em seu interior; um olhar mais compreensivo, mais sensível as explicações do senso comum, ao sentido dado pelas pessoas para suas práticas espaciais (CAVALCANTI, 2010, p. 19).

A cidade é o centro das decisões políticas e econômicas, incluindo a produção de valores e de ideias que são transmitidas a todos os recantos e que formam a sociedade uniformizada, assume supremacia perante as áreas rurais, pois com suas formas urbanas, como serviços bancários, educacionais e outras tantas específicas ao espaço geográfico detém o domínio e a dependência da população.

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“A rede urbana constitui-se no conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados entre si. É, portanto, um tipo particular de rede na qual os vértices ou nós são os diferentes núcleos de povoamento dotados de funções urbanas, e os caminhos ou ligações os diversos fluxos entre esses centros (CORRÊA, 1989, p. 94).”

O avançar do desenvolvimento das cidades tem consequências que perduram e tornam-se cada vez mais arraigadas, como agravamento dos conflitos sociais: crime organizado, narcotráfico, aumento da violência e a desenfreada utilização dos recursos naturais de modo a causar a insustentabilidade.

Refletindo sobre

O equilíbrio que sempre existiu nas relações do homem com o meio natural desfez-se nos dois últimos séculos. Neste período que corresponde à sedimentação do modelo capitalista de sociedade, passou-se a utilizar a natureza de modo predatório, comprometendo os recursos naturais e gerando estruturas e resíduos, capazes de colocar em risco, não só a sobrevivência do ser humano, mas a própria existência da vida sobre o planeta (MOHR, 2002).

Contudo, é questionável afirmar que sempre existiu equilíbrio nas relações do homem com o meio natural, reforça-se que

[...] os últimos trezentos anos o homo sapiens/demens montou uma investida poderosíssima sobre todas as comunidades ecossistêmicas do planeta explorando-as e canalizando grande parte do produto terrestre para os sistemas humanos de consumo. (BOFF, 2001)

Esta situação de investida, se fortaleceu com a industrialização e com o capitalismo que reforçaram a agressividade por parte da sociedade nas relações com a natureza. A Geografia portanto, enxergando o recorte espacial como um espaço dinâmico que sofre alterações devido as ações humanas, percebe no aluno um potencial para as transformações e investe no conhecimento para que ele possa perceber-se como integrante do seu processo histórico.

A educação geográfica, por sua vez, realizada com os conhecimentos da geografia escolar, leva em conta que os interesses, as atitudes e as necessidades sociais e individuais dos alunos mudam em decorrência dessa nova realidade espacial; sendo assim, ela não pode ficar alheia às mudanças da geografia acadêmica. Para que os alunos entendam os espaços de sua vida cotidiana, que se tornam extremamente complexos, é necessário que aprendam a olhar, ao mesmo tempo, para um contexto mais amplo e global do qual todos fazem parte, e para os elementos que caracterizam e distinguem seu contexto local. Entendo que, para atingir os objetivos dessa educação, deve-se levar em consideração, portanto, o local, o lugar do aluno, mas visando propiciar a construção por esse aluno de um

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quadro de referências mais gerais que lhe permita fazer análises mais críticas desse lugar. (CAVALCANTI, 2010, p. 43)

O planejamento urbano de um município envolve um sistema de informações locais sobre setores diversos como: transporte, serviços públicos, uso do solo e habitação popular, meio ambiente urbano, entre outros. Porém, é bom lembrar que planejar o urbano também é sustentabilidade social da população envolvida.

UMA VISÃO FEIREANA

Buscando entender que a educação procede-se ao longo de toda vida, parte-se do pressuposto que não há uma fórmula pronta para a construção da cidadania. O que existe são condições ao exercício do direito de todo cidadão participar através de formas representativas priorizando o fortalecimento, a transparência, a eficácia e a autonomia das administrações públicas na organização democrática das cidades.

Porém, na visão freireana a educação pode ser vista como um instrumento voltado para o povo e sua cultura; um processo onde as pessoas completam seus conhecimentos através de suas aprendizagens, durante toda vida buscando mais humanidade. Assim, estabelecendo relações com os demais (sem deixar de ser sujeitos) complementam os demais e contribuem para as transformações no local de vivência.

Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É “outredada” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu (FREIRE, 1996, p.18).

A educação vista como prática da liberdade que perpassa os mais variados setores; que envolve as mais variadas profissões e o lidar ou estudar questões sobre o ser humano traz a visão do compromisso ético, de acordo com GADOTTI, p.4 “O seu pensamento é considerado um exemplo de transdisciplinaridade. Freire conseguiu fazer uma síntese pessoal, original entre humanismo e a dialética, o que confere um caráter muito atual ao seu pensamento”.

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Como responsável por estudos referenciando a educação popular, Paulo Freire constatou e deixou a comprovação que ela pode ser emancipatória porque é nascida das lutas populares, do anseio e das necessidades de uma população que busca transformações e melhorias. Essa participação social é um elemento de extrema importância para o gerenciamento dos interesses públicos. Para tanto, faz-se necessário o respeito a identidade cultural, a autonomia, as experiências vividas pelo sujeito antes de chegar à escola. Ao participar das decisões que definirão os destinos do local onde vive, o cidadão se tona um pouco mais comprometido com o conteúdo e a qualidade dessas decisões, pois as mesmas importarão nas condições de sua própria existência.

2.2 A PEDAGOGIA CIDADÃ E A GEOGRAFIA NA ESCOLA

Esta relação se traduz em uma reflexão sobre os problemas vividos por um sujeito no seu contexto. Participa-se porque se gosta, dá prazer, fomenta o convívio, apesar das tensões ou negociações que possam acontecer nas reuniões, propicia a circulação das informações relativa aos problemas do lugar

Ter esperança de um mundo melhor pode nos ensinar a converter nossas expectativas e nossos sonhos numa realidade histórica que é alavancada na escola,

A escola é o lugar de desenvolvimento do potencial crítico e criativo dos sujeitos-alunos, na medida em que lhes possibilite exercitar a dúvida, a indignação, o questionamento constante na\ compreensão da realidade, para melhores condições de vida no planeta; o aprendizado escolar é vital, para a leitura consciente do mundo em que se vive, local e globalmente (NOGUEIRA, 2009, p. 1)

Considera-se, então, a geografia escolar um conhecimento significativo para a visa dos sujeitos que aprendem a pensar o espaço. Para tanto é necessário que a criança aprenda a ler o espaço, de modo que ela possa perceber e se reconhecer em seu espaço vivido (CALLAI, 2010, p. 31,32).

Uma esperança de que as pessoas vejam a educação como momento de aprofundamento, de troca para os professores que são protagonistas deste processo de mudança de todas as dimensões do fazer o caminho educativo na escola. A procura de uma reflexão da teoria versus prática, melhora o fazer, incentivando o

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humanismo. E os educandos sejam vistos como atores na perspectiva da construção do conhecimento, pensando sobre sua realidade, respeitando e considerando a sua história de vida e entendendo seu papel na sociedade que, é o de ser cidadão.

Uma pedagogia cidadã que eleva o protagonismo dos jovens e/ou adultos enriquecendo o trabalho do educador, gradativamente a ação fica mais leve, mais prazerosa e o retorno que os alunos demonstram, encanta e engrandece a produção do conhecimento.

A geografia é uma das ciências que se têm dedicado à análise da cidade e da vida urbana. Como ciência social, ela o faz pela perspectiva social, porém com um determinado enfoque. A geografia é uma leitura, uma determinada leitura da realidade. É uma leitura do ponto de vista da espacialidade. Seu objeto de estudo é o espaço geográfico. (CAVALCANTI,2010, p.64)

Fazer da escola, um mecanismo que resgata o trabalho com a dimensão humana pressupondo olhar com dignidade para as diferenças que compõem a diversidade cultural, porque os sujeitos possuem tempo de vida e marcas que cada história construiu. Permitindo espaço para que os sujeitos exerçam papel importante na construção de seus espaços de vivência, de trabalho e se relacionando com os demais cidadãos exercendo seus direitos e deveres. Quanto mais participativos e comprometidos, maiores as possibilidades de desenvolvimento do espaço local que estão inseridos, influenciando o regional, o nacional ou global.

Assim, o contexto educacional vem sendo problematizado em vários momentos por uma educação integral; educação que contemple a diversidade (educação para todos) aprendizagem ao longo da vida, isto é, dar–se conta de que o desejo de aprender não deve ser prerrogativa somente para quem é professor, deve ser, sim, do ser humano. O ato de viver é um aprendizado que dinamiza o potencial cerebral e a pulsação da vida. Nesse sentido uma das grandes preocupações do ensino de geografia é a de contribuir, além das informações importantes que disponibiliza, com a formação do sujeito crítico e ativo e também, com a formação de estratégias de pensamento deste sujeito. Para que a pessoa possa se apropriar do conhecimento científico para formular suas próprias ideias e aplicar investigações encontrando respostas para às questões que lhe incomodam.

Participar é importante, é fazer parte, é ter parte em um processo, exige um comprometimento, com visão mais ampla, envolvidos com a sociedade de forma a

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poder entender a sociedade que se mantém. Compreender a inserção no lugar em que vive, refletir sobre a forma como se dá a apropriação da natureza e os determinantes sociais, políticos e econômicos, fazem parte da história do processo de formação e configuração territorial da cidade.

3 COMO A GEOGRAFIA PODE REFLETIR NA CONSTRUÇÃO DA

CIDADE

A pedagogia da participação e a geografia tornam-se características essenciais para inserir o sujeito ao seu contexto e ao princípio da cidadania.

A cidadania é um processo histórico de conquista popular através do qual a sociedade adquire, progressivamente, condições de tornar-se sujeito histórico consciente e organizado, com capacidade de conceber e efetivar projeto próprio. O contrário significa a condição de massa de manobra de periferia, de marginalização (DEMO, 1992, p.17-18)

A cidadania é uma lei da sociedade que, sem distinção, atinge a todos e investe cada qual com a força de se ver respeitado contra a força, em qualquer circunstância. A cidadania sem dúvida, se aprende. E assim, que ela se torna um estado de espírito, enraizado na cultura (SANTOS, 1987, p.7).

Assim, inserido no contexto de cidadania, encontra-se o ato de participar. Considerando a cidade um espaço político que se estrutura ao avançar da história, entende-se a como um pressuposto para a legitimação de um constante fazer-se.

[...] a cidade é o lócus privilegiado da vida social, na medida em que, mais do que abrigar a maior parte da população, ela produz um modo de vida que se generaliza. Em decorrência de sua complexidade e de requerer enfoques multi e interdisciplinares, ela é objeto de preocupação de muitos profissionais, estudiosos e pessoas interessadas em contribuir para uma sociedade mais justa, mais solidária e mais respeitosa com o ambiente (CAVALCANTI, 2010, p.64).

Para garantir a prática da democracia como igualdade política é preciso tratar do estudo da cidade, enfocando o espaço urbano com suas contradições. Um espaço que é influenciado pelas ações da sociedade e reflexo dos sistemas condicionantes do desenvolvimento. É resultado do trabalho, produto final das ações humanas que deixam suas marcas e denotam seu processo histórico.

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No contexto escolar, a disciplina de Geografia tem a função de contribuir na formação do cidadão.

O estudo do lugar como possibilidade de aprender geografia considera o cotidiano da vida dos alunos e o contexto escolar como fundamentos. Neste sentido, lugar e cotidiano são abordados no contexto escolar como oportunidade de desenvolver habilidades e competências que contribuem para a formação cidadã e para a construção de conceitos constitutivos da especificidade do conhecimento geográfico e para o estabelecimento das bases da aprendizagem da geografia na escola básica. (CALLAI,2010 , p.25)

A mesma autora também refere ao que é importante estar presente na geografia e na escola. Ela afirma,

São três conceitos que, interligados, permitem estabelecer as bases que fundamentam o ensino e a aprendizagem da geografia nos anos iniciais do ensino fundamental: a escola, por ser a instituição na qual a criança amplia suas relações com seus iguais; o cotidiano, por permitir que as novas aprendizagens sejam interligadas com a vivência que cada um traz, considerando, assim, o conhecimento que o aluno tem; o lugar, por ser o espaço que permite a cada um, saber de suas origens e construir sua identidade e pertencimento. (CALLAI, 2010, p.26)

PLANEJAMENTO URBANO PARTICIPATIVO

Pensar o urbano é repensar as políticas públicas para tornar as cidades social e ambientalmente sustentáveis representando a possibilidade de garantir mudanças em prol das cidades urbanas.

Através do Plano Diretor do município de Barão, os gestores propõem uma cidade que se define a partir de seu parcelamento do solo, dos padrões para as áreas especiais determinadas pelo seu valor (ambiental, paisagístico, cultural e outros). As diretrizes de planejamento resultam em um modelo espacial pré-estabelecido, onde os interesses públicos e privados vão se adequando segundo seus projetos, construindo a cidade teoricamente proposta pelo Plano.

Trata-se do desafio de pensar um novo modelo de desenvolvimento urbano sustentável a ser baseado nos princípios da democratização das cidades e participação popular, no combate à segregação socioespacial, na defesa dos direitos de acesso aos equipamentos e serviços urbanos, na superação da desigualdade social e na exposição aos riscos urbanos (GRAZIA, 2002, p.1)

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É cada vez mais visível a complexidade do processo do desenvolvimento urbano que se vê ameaçado e afetado pelos riscos sócio e ambientais. Este motivo leva a urgência de que os municípios verifiquem as políticas ambientais criando condições para uma gestão ambiental urbana efetivamente participativa e democrática.

O Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001 em seu capítulo I, inciso IV trata do “planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades do Município e do território sob sua área de influência”, maioria dos problemas que surgem nas cidades e reflete principalmente nos assentamentos humanos, revelando às más condições de vida. A cidade, ao transformar o espaço natural, modifica também o ambiente ecológico, é impossível esse desenvolvimento se apresentar sem causar modificações. Criado um novo ambiente, é preciso que o mesmo se estruture com condições de equilíbrio que possa assegurar condições de vida, sustentabilidade e também garanta a proteção e a manutenção do ambiente natural.

A importância das cidades para os sujeitos se dá pelo bem estar que elas podem oferecer, sendo considerado o Estatuto da Cidade que se apresenta como uma legislação que contempla instrumentos importantes para as prefeituras na implementação dos mais variados investimentos para o desenvolvimento e a expansão urbana. Os municípios devem, utilizar as diretrizes e os instrumentos do Estatuto da Cidade com o objetivo de estabelecer regras que propiciem o pleno desenvolvimento econômico, social e ambiental, com vistas a garantir o direito à cidade para todos que nela vivem.

No entanto, a questão da participação política não pode ser abordada somente pelo aspecto do acesso aos direitos de cidadania e do enfrentamento das desigualdades sociais. Há um componente ligado ao contexto social local que marca as possibilidades de participação dos cidadãos (JÚNIOR, p.7)

Partindo desse ponto de vista, nosso entendimento é que o contexto social local está referido a uma realidade territorial definida histórica e culturalmente, muitas vezes de forma heterogênea no interior de cada país, que pode determinar a configuração de diferentes culturas cívicas e, por conseguinte, diferenças significativas entre distintas sociedades civis e esferas públicas. Em outras palavras, argumentamos que diferenças históricas e culturais podem determinar culturas cívicas diferenciadas entre os municípios e estabelecer diferentes (JÙNIOR, p.7)

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O planejamento e a gestão das cidades necessitam a participação da população e das associações que representam os segmentos da população, através do controle direto das realizações.

4 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM BARÃO

Barão, município emancipado em 12 de maio de 1988, localizado no Vale do Caí, Rio Grande do Sul, conforme Anexo A. Apresentou em 2013 uma população estimada de 6.008 habitantes. O município é composto pelos seguintes distritos: Arroio Canoas, Francesa Alta, Barão Velho, General Neto e Francesa Baixa. Foi desmembrado de Salvador do Sul, no ano de 1988. Situado na Encosta Superior do Nordeste, apresenta, aproximadamente 110 Km de distância da capital do Estado. Sua área geográfica é de 124,5 km².

No período de 2005 até 2012 a administração municipal promoveu ações do Orçamento Participativo como um instrumento democrático de cidadania.

CARACERIZAÇÃO DO VALE DO CAÍ – VALE DA FELICIDADE – MUNICÍPIO DE BARÃO

Com clima aprazível e natureza exuberante, o Vale do Caí é reconhecido pelo empreendedorismo e alto padrão de vida, com uma economia diversificada (agricultura familiar, cerâmica vermelha, móveis de madeira, têxteis, carvão vegetal e prestação de serviços de construção civil) a região está preparada para acompanhar este futuro promissor.

Mantendo as características das etnias europeias aliadas às tradições gaúchas, o Vale do Caí é formado por Alto Feliz, Barão, Bom Princípio, Brochier, Capela de Santana, Feliz, Harmonia, Linha Nova, Maratá, Montenegro, Pareci Novo, Salvador do Sul, São José do Hortêncio, São José do Sul, São Pedro da Serra, São Sebastião do Caí, São Vendelino, Tupandi e Vale Real. Nesse contexto é que está inserido o município de Barão, de acordo com Anexo B.

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Na região do Vale do Caí, a partir do ano 1982, acontece um movimento de emancipação de novos municípios. Dos então quatro municípios existentes, passam a se constituir, até o ano 2000, 19 municípios. Este fato aproximou a população interiorana do poder público e alterou a relação com as lideranças comunitárias que passaram a ocupar funções administrativas nos novos municípios. As comunidades centradas em manter seus valores religiosos e educativos se veem atingidas diretamente por uma nova dimensão. Além da organização comunitária, função das lideranças até então, surge a necessidade de uma organização pública que abrange um território além dos limites da comunidade (HERBERT, 2008, P. 15)

4.2 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO NO MUNICÍPIO DE BARÃO

A realidade social e política de Barão está inserida na base cultural e histórica da Região do Vale do Caí. Atenho-me ... descrever aspectos históricos da política de Barão a partir da constituição social e administrativa deste município, que se desmembrou de Salvador do Sul no ano de 1988 (idem, p. 45).

Motivada pela situação financeira precária em que se encontrava o município de Barão, a Administração Municipal, decidiu em 2005 adotar formas de melhorar o quadro vigente. Viu nas possibilidades do Orçamento Participativo, uma luz para discutir com a população aspectos gerais e encaminhamentos para investimentos de verbas e pontos necessários para trabalhar o desenvolvimento do município.

O orçamento participativo é um importante instrumento de complementação da democracia representativa, pois permite que o cidadão debata e defina os destinos de uma cidade. Nele, a população decide as prioridades de investimentos em obras e serviços a serem realizados a cada ano, com os recursos do orçamento da prefeitura. Além disso, ele estimula o exercício da cidadania, o compromisso da população com o bem público e a co-responsabilização entre governo e sociedade sobre a gestão da cidade (CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO).

Considera-se importante o registro da experiência que o município de Barão vivenciou do ano de 2005 a 2012, visto que o processo de participação popular na gestão pública está em constante recriação, porém o destaque é dado aos anos de 2005 e 2006 devido a serem os dois primeiros anos da experiência.

Através do Orçamento Participativo, os cidadãos podem ajudar a definir as prioridades na aplicação dos recursos do orçamento municipal. Há uma

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representatividade da comunidade que juntamente com membros da Prefeitura discutem, analisam e decidem as áreas que devem receber maior investimento. As reuniões são públicas, e as deliberações destas assembleias são consideradas quando é elaborada a proposta da Lei Orçamentária Anual. Toda a atenção é direcionada à participação da população para se procederem as tomada de decisões.

O OP tende a iluminar outros caminhos. Caminhos para a cidadania e caminhos para renovar espaços com uma apropriação coletiva da coisa pública. O OP possibilita um convívio da democracia representativa com a democracia direta, apontando para uma radicalidade democrática. Igualmente possibilita a solidariedade entre grupos sociais e o controle do governo e dos governantes pelos cidadãos ...O processo do OP pode significar um caminho alternativo para evitar a exclusão e reorganizar grupos sociais para solução de seus problemas financeiros. Nesta reorganização, exigem-se lideranças para o sucesso de uma atividade coletiva (HERBERT, 2008, p. 25).

Com a participação cidadã, o destino dos recursos públicos, dar-se-á de uma forma mais coerente porque os sujeitos participam diretamente e definem as prioridades que uma vez estabelecidas, entram na proposta orçamentária. Para tudo funcionar adequadamente, é fundamental mobilizar a comunidade para as reuniões, não bastando isto, deve-se também motivar as pessoas a se pronunciarem.

Em Barão, o OP começa no ano de 2005 por meio da coligação PT-PMDB que vence as eleições municipais de 2004. O processo foi pensado de forma simples para que a população entendesse sem dificuldades o processo de consulta das prioridades locais. Havia um momento de reuniões em cada comunidade ou bairro da cidade e um segundo momento onde se encontravam os conselheiros eleitos[...] O primeiro momento foi denominado de reuniões comunitárias do OP e o segundo momento de reunião dos conselheiros com administradores e equipe técnica (HERBERT, 2008, P.36).

No ano de 2005, foi introduzido o processo de OP com o lema “Participar e Construir”. Todas as comunidades foram visitadas pelo poder público municipal. Analisadas as prioridades do município, foi estabelecido a Lista de Obras e Serviços de Competência Municipal, ficando assim estabelecidas no setor de Obras, Viação e Transporte: aquisição de máquinas para melhoria de estradas; conservação, abertura e pavimentação de ruas e estradas municipais; qualificação e Construção de Praças; paradas de ônibus e construção e ampliação de rede de água. Na agricultura: melhorar e ampliar a assistência técnica da Emater; ampliar o Fundo Municipal Agropecuário; ampliar e melhorar serviços de trator agrícola. Em

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Educação e Cultura: ampliação, reforma, qualificação da Rede Municipal de Educação Infantil; Educação Fundamental – Ampliação, Reforma e Aquisição de Equipamentos; Programa de Educação de Jovens e Adultos; Programa de Inclusão digital; Programa de produção de Eventos, Projetos e espaços Culturais para jovens; Programas de Educação profissionalizante. Na saúde: construção, ampliação e qualificação da estrutura dos postos de saúde; programa de saúde familiar e compra de uma ambulância, UTI móvel. Na Assistência Social: programa de proteção social à pessoa portadora de deficiência; programa de proteção e prevenção à criança e adolescente e melhorar a integração entre grupos de terceira idade. No setor de Esporte e Lazer: programa de espaços esportivos; programa de incentivo às escolinhas de esporte amador; incentivo aos clubes esportivos; promover competições esportivas escolares. Em Habitação: elaboração de projetos habitacionais; escrituração de terrenos; construção de casas populares. Quanto ao Saneamento básico: tratamento e coleta de esgotos; drenagem de esgotos; programa de arborização urbana e programa de cursos de educação ambiental. Já na Administração e planejamento urbano: ampliação e reforma do centro administrativo; informatização dos setores e serviços administrativos e implantação de um parque municipal de eventos.

Como demonstrativo resultante das assembleias de 2005 e 2006, conforme cita Herbert (2008, p. 37), “No ano de 2005, foram feitas 17 reuniões com 448 credenciados, de um total de 4.095 eleitores do município de Barão. No ano de 2006 foram 18 reuniões compreendendo 15 comunidades, 5 bairros e a plenária da juventude”. Também esclarece que

Em Barão, nas reuniões do COP de 2005, duas foram as maiores necessidades apontadas: compra de máquinas e pavimentação de ruas e estradas. Em 2006, a atenção se voltou novamente para a pavimentação e para a construção de redes de água em quatro comunidades (HERBERT, 2008, p.38).

A municipalidade destinou grandes investimentos em pavimentação de ruas da área urbana e interior. As demandas constatadas: aquisição de máquinas, melhoria de estradas, melhorias na infraestrutura, redes de água e obras de calçamento, afetaram o recorte espacial, conforme Anexo C.

As decisões tomadas pelas assembleias interferiram na organização espacial da cidade favorecendo o crescimento econômico, baseado na modernização da agropecuária, da indústria e na diversificação das atividades comerciais.

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O espaço da cidade de Barão constatou a questão da especulação imobiliária com a presença de novos loteamentos regularizados. Algumas áreas rurais nos diferentes distritos passaram a ser valorizadas devido ao asfalto ou pavimentação que foram realizados em vias próximas às terras de alguns agricultores.

As obras de infraestrutura que levaram ao desenvolvimento urbano e social em todas as regiões do município, principalmente nos bairros e distritos, contribuíram para minimizar a desigualdade social.

5 A CONSCIÊNCIA ESPACIAL COMO FOMENTO DE

PARTICIPAÇÃO CIDADÃ

Passados alguns anos da experiência de participação cidadã no Orçamento Participativo, reflete-se sobre o conhecimento adquirido. Com a contribuição dos saberes científicos, as constatações que se deram é de que a escola é um local de formação de ideias e portanto, protagonista em fornecer meios para o exercício da cidadania.

A formação geográfica na escola fundamental, tem grande importância na formação da consciência espacial, é responsável por criar espaços possíveis e articulados do sujeito com o espaço em que ele vive.

[...] parte do pressuposto de ser a escola lugar privilegiado ao desenvolvimento crítico-criativo dos alunos na medida em que lhes possibilite o exercício da dúvida, da indagação, do questionamento constante na interpretação e compreensão da realidade, para melhores condições de vida no planeta [...] (NOGUEIRA, p. 87).

Com esse fim, a Geografia dialoga com outras áreas do conhecimento, buscando a aproximação do lugar de vivência com o conhecimento geográfico sistematizado e a compreensão das interações entre sociedade e natureza ocorridas no mundo, com vistas a uma atuação cidadã.

[...] e, nesse sentido, a Geografia tem a função de desvendar os significados sócio-espaciais. Tal função emerge em projeto pensado por sujeitos que, por suas experiências, vivências e seus

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saberes, intervêm no modo de ser da escola e da Geografia na escola, na convergência de uma intencionalidade atuante: a formação da consciência espacial dos educandos, em vista da sua atuação cidadã. (NOGUEIRA, p. 87).

Os conteúdos trabalhados na geografia, são abordados buscando-se a contribuição para a formação de um aluno crítico e participativo; primando pelo acesso às informações e a velocidade com as quais são divulgadas. É papel da escola possibilitar ao aluno-sujeito a sistematização do conhecimento partindo do senso comum para o cientificamente produzido.

O espaço geográfico, reinventado, vem a ser entendido como casa-morada do sujeito situado – aquele que vê, sente, percebe, confronta, desestrutura, provoca, afeta o lugar onde vive. Não é apenas espaço da existência material, das relações de trabalho; é espaço-lugar da convivência, da estética e da ética. O espaço geográfico, então, toma outras formas: faz-se espaço singular com o sujeito singular, espaço do desejo, da vontade, dos sonhos, da arte, da criatividade, da inconstância, do sincrônico e do diacrônico. O espaço torna-se objeto de estudo não só pela forma ou pelas coisas que nele são produzidas, mas pelos modos de vida que o produzem – pelos projetos dos sujeitos no espaço (NOGUEIRA, p.91).

A Geografia que sempre trabalhou a ideia de um espaço absoluto, passa a conduzir interpretações que consideram os elementos interligados, um só tem valor se relacionado com outros elementos; tratando-se de um espaço relativo, em que os elementos naturais ou humanos são constitutivos do espaço geográfico.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma grande tarefa é equacionar o crescimento econômico, a participação cidadã e o desenvolvimento da cidade, porque muitas vezes o discurso está muito distanciado da prática política. Várias são as formas com que podemos agilizar a gestão de uma cidade sustentável, porém antes é necessário realizar a passagem dos instrumentos públicos que administram e gerenciam para medidas sociais capazes de mudar comportamentos, hábitos e estilos de vida assim se procederá a uma consciência participativa. Como nos lembra STRECK (2005, p.85)

Participação é, como indicado no nome Orçamento Participativo, a ideia-força que está na base deste processo que se situa entre planejamento, pesquisa participante e aprendizagem da cidadania. Isso, no entanto, diz muito pouco, uma vez que não se pode pressupor uma relação direta entre participação, cidadania e democracia

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Com esse pressuposto o ensino da geografia orienta e fortalece a participação na sociedade. Nos espaços públicos de participação cidadã os interesses são expressos e disputados. Por isso, é importante adotar regras democráticas baseada na equidade de participação, para que todos os cidadãos tenham espaço.

Para Leonardo Boff, participação tem o nome de concreção. Trata-se no fundo da participação nos mistérios da existência, da qual brota uma profunda fraternidade entre todos os seres vivos e não-vivos. A atitude de toda a criação, é portanto, de reverência e de compaixão por tudo que tem sua existência ameaçada. A solidariedade, deixa de ser uma atitude entre homens e mulheres mas uma forma de sentir-se parte de um frágil e bela teia de relações em perpétua criação de formas cada vez mais complexas e cada vez mais voltadas a interação (2000 apud BOFF. Idem p. 93)

Sendo sujeitos veem-se envolvidos nas relações sociais e nos conflitos de interesses o que constitui o dinamismo que se estabelece numa sociedade democrática. A democracia garante a participação, entretanto a sociedade brasileira não tem o hábito de ser participativa. Como geralmente é do grupo social que são eleitos os gestores políticos, por vezes encontraremos planos de governo que não tem projetos de estimulação à participação dos munícipes nas decisões. Algumas experiências já foram realizadas e garantiram o efetivo exercício da participação.

Conforme apresentação das condições de liderança em Freire, verifico que elas se completam e uma condição se encaminha para outra. A relação dialógica é um processo de aprendizado que proporciona despertar o indivíduo para uma atuação crítica na sociedade. A dimensão política, em Freire é a própria dimensão educativa. A contextualização histórica como condição para a liderança em Freire encontra seu sentido na possibilidade de ação para transformação desta realidade. É a partir da realidade que a liderança vai se manifestar e lutar por transformações (HERBERT, 2008, P.159).

Sendo assim, há necessidade de uma leitura de mundo que seja aproveitada pela população porque só ela pode conhecer suas reais necessidades. E só ela pode tornar suas reivindicações em atos concretos.

A participação não tem apenas o caráter de legitimadora das decisões que são tomadas exclusivamente por aqueles ligados diretamente aos espaços de decisão. Essa participação é resultado de um processo que envolve o sentimento de pertencer a um espaço e, em decorrência disso, do sentimento de responsabilidade pelo desenvolvimento econômico e social da comunidade. Quanto maior for o nível de participação, mais fortes os sentimentos se tornarão e, quanto mais fortes os sentimentos, maior o nível de envolvimento e participação.

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A valorização do espaço local como espaço para efetivar a participação dos cidadãos, juntamente com a proximidade dos centros de decisão com a população é fundamental. É na escala local que os cidadãos tem a chance de participar de todos os momentos do processo decisório da gestão pública, para tanto os saberes que os sujeitos demonstram e a sua linguagem devem ser respeitados.

No caso de Barão, constatou-se que a participação dos cidadãos fora progressiva e as decisões tomadas pelos munícipes interferiram na organização espacial da cidade, primeiramente porque a população sentiu-se atuante na construção do espaço. Cita HERBERT “O OP brasileiro apresenta como uma de suas maiores características construir um espaço para viver [...].Esses interfaces de participação, mostram que a população não está desarticulada e a tentativa de organização é regida pelo Estatuto da Cidade. O Capítulo IV – Gestão Democrática da Cidade – do Estatuto da cidade determina aos poderes municipais, executivo e legislativo, o seguinte:

Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos:

I – órgão colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal;

II – debates, audiências e consultas públicas;

III – conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal;

IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.

Desta forma, com o objetivo de propiciar a democratização na gestão da cidade, cabe ao poder público e a população aproveitarem da melhor maneira possível a legislação, pois sem a participação cidadã a lei por si só, não resolverá os problemas constatados. Já dispor dos preceitos da educação geográfica para a formação de um consciência espacial cidadã, é possível

A educação geográfica que se busca é comprometida com a formação da cidadania responsável com o planeta e o espaço social habitado pelos sujeitos-alunos. Por isso, na formação da consciência espacial e, com ela, formação da cidadania, destacam-se algumas questões: a) a preservação e conservação da diversidade biológica e cultural (CAPRA, 1996;CARVALHO, 2004) – a sóciobiodiversidade; b) as relações estabelecidas entre sociedade e natureza – relações socioambientais (BARCELOS,2004); c) a preocupação com a continuidade da vida no planeta –sustentabilidade da vida; d) a intervenção criteriosa e prudente do sujeito situado no universo político, econômico, social, cultural e natural, em vista da prevenção e solução dos problemas socioambientais – da melhoria da realidade de vida (CARNEIRO, 1999) (NOGUEIRA, p.92).

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Trabalhar os conceitos espaciais da Geografia, na escola, possibilita aos alunos a compreensão do espaço de vivência, a construção de posições e argumentação das mesmas. Proporciona o estabelecimento de um processo que se estende ao Orçamento Participativo, com uma dinâmica semelhante àquela que acontece nas salas de aula.

A discussão coletiva caracteriza a pedagogia do OP. A partir dela, a realidade é desvendada, fortalecendo convicções em torno da possibilidade de melhoramentos que podem ser feitos. A educação é fomentada a partir da reflexão sobre a própria prática e sobre a realidade vivida pelo grupo social que propõe transformação (HERBERT, p. 2007).

Na modalidade aplicada em Barão, constatou-se que houve o convite para participação; definição do tema; formação de grupos que puderam dialogar; após, a formação de pequenos grupos que discutiram as prioridades do município e a escolha de um representante comunitário. E para finalizar, consensos e exposições de anseios por meio do voto.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO A

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ANEXO B

Fonte: Renato Klein

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ANEXO C

Referências

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