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SENTENÇA DO MERISON E RECURSO ORDINÁRIO DO MERISON

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Academic year: 2021

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Processo: 01020-2007-020-10-00-2

Reclamante: MÉRISON MARCOS AMARO

Reclamada: EXAME LABORATÓRIOS DE PATOLOGIA CLÍNICA LTDA

Em 15 de fevereiro de 2008, na sala de audiências da MM. 20ª Vara do Trabalho de Brasília-DF, em audiência de julgamento presidida pelo Exmo Juiz Osvani Soares Dias, relativa ao processo supra identificado.

Às 17h30min, foram apregoadas as partes: ausentes.

Em prosseguimento, proferiu-se a seguinte

SENTENÇA

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MÉRISON MARCOS AMARO propõe Reclamação Trabalhista em face de EXAME LABORATÓRIOS DE PATOLOGIA CLÍNICA LTDA alegando ter laborado para a reclamada, ininterruptamente, com a presença dos requisitos do artigo 3º da CLT, no período de 05.12.2005 até 31.07.2007, mas teve sua situação jurídica modificada em 21.06.2006 por um falso contrato de consultoria utilizado para acobertar a existência de vínculo de emprego.

Postula o reconhecimento de vínculo quanto ao segundo período contratual, a aplicação dos reajustes deferidos em normas coletivas e a condenação da reclamada ao pagamento das verbas rescisórias e danos morais.

Junta documentos e atribui à causa o valor de R$ 193.218,73.

A reclamada suscita ausência de pressuposto processual consistente na submissão do feito à prévia conciliação e, no mérito, sustenta que o contrato de prestação de serviços como consultor partiu do próprio autor, que pretendia ter mais tempo para exercício da advocacia.

Sustenta que a prestação de serviços de consultoria foi feita pela empresa CONTABILEX, da qual o reclamante é sócio juntamente com o Sr. Aélio Alves.

Postula o reconhecimento de que a atividade é lícita terceirização de serviços e que inexistiram os pressupostos de uma relação de emprego.

Rejeitadas as propostas conciliatórias.

Razões finais apresentadas em memoriais.

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II - Fundamentação

1 – PRESSUPOSTO PROCESSUAL – SUBMISSÃO À CCP

Embora tenha argüido em defesa a existência de Comissão de Conciliação Prévia, logo na abertura da audiência, a reclamada reconheceu sua inexistência.

Assim, rejeito a preliminar.

2 – VÍNCULO DE EMPREGO – ANÁLISE DOS REQUISITOS E EFEITOS

Pretende o reclamante ver declarada a nulidade do contrato de consultoria celebrado com a ré e o reconhecimento de que houve um único contrato, com início em 05.12.2005 e término em 05.08.2007.

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Aduz que a reclamada, por não possuir condições de conceder reajuste solicitado, apresentou ao autor a opção de transformar seu contrato celetista em um contrato de consultoria, com efeitos a partir de 21.06.2007.

De início, registro que, no caso dos autos, não se trata de uma reclamação comum, pois, pela faixa salarial do obreiro e pelo seu nível de escolaridade e formação, não há que se falar em hipossuficiência ou estado de sujeição.

Dessa forma, este Juízo será moderado na aplicação do princípio protetivo próprio do direito do trabalho e seus derivados.

Digo isto porque, no caso, não se pode alegar que o obreiro desconhecia o teor dos documentos por ele assinados e dos efeitos jurídicos daí advindos. Dessarte, não se pode simplesmente afastar um contrato celebrado sem qualquer vício de consentimento em nome de um princípio de proteção inaplicável ao caso concreto. A regra aqui há de ser a igualdade das partes na contratação e não aplicação do artigo 9º da CLT.

Nem se diga que o fato de o reclamante necessitar do contrato o torna hipossuficiente, pois todas as empresas prestadoras de serviços precisam de contratos, sob pena de falência.

Os depoimentos colhidos nos autos, inclusive o do próprio autor, revelam que houve uma clara e consciente negociação no sentido de transformar o contrato de emprego então existente em um contrato de prestação de serviços, seja para dar maior liberdade ao autor no exercício da profissão de advogado seja para lhe permitir maiores ganhos, conforme confessa em seu depoimento.

O reclamante contratou da forma apontada na inicial porque, ao tempo da celebração, lhe pareceu mais favorável, tendo plenas condições sociais, econômicas e culturais de livre escolha. Nulificar esse contrato depois de cumprido representaria violação da boa-fé objetiva.

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Também não se pode dizer que houve fraude na utilização de uma pessoa jurídica para mascarar o contrato, pois como confessa o autor, a pessoa jurídica preexistia ao contrato e efetivamente estava em funcionamento, denotando a existência de um contrato entre pessoas jurídicas.

Vários outros pontos do depoimento do autor confirmam essa inexistência de pessoalidade na prestação de serviços: “o Sr. Aélio era sócio e efetivamente exercia essa sociedade com o reclamante”; “o sr. Aélio participou da negociação do segundo contrato de consultoria iniciado após a dispensa do reclamante”. Também os diversos e-mails juntados aos autos pelo próprio autor (como por exemplo os de fls. 525, 527 e 765) revelam que o mesmo trabalho feito pelo autor era indistintamente feito pelo sócio do reclamante na CONTABILEX, senhor Aélio Freitas.

A presença e um ou outro elemento próprio da relação de emprego não é suficiente para a declaração de nulidade do contrato celebrado entre as partes e o reconhecimento do vínculo empregatício, que exige a presença concomitante de todos os requisitos.

Do exposto, ausente a pessoalidade e não sendo possível acolher a nulidade do contratado, declara-se a inexistência de vínculo de emprego entre as partes após 01.08.2006.

Os demais pedidos estão postos em cumulação alternativa sucessiva – importando dizer que somente seriam analisados os demais se acolhido o primeiro e principal pedido, no caso o reconhecimento do vínculo de emprego – o pedido anterior é condicionante dos posteriores. Assim, restam prejudicados todos os demais pedidos.

3 - Justiça Gratuita

Apesar de meu convencimento pessoal em contrário, por ter em mente que ao juiz é permitida a análise da veracidade do que se declara e, ainda, porque o destinatário da

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norma é aquele que não possui meios para arcar com as despesas do processo, curvo-me à jurisprudência do Eg. TRT no sentido de que basta a declaração e, à vista do documento de fl. 37, deferem-se ao autor os benefícios da Justiça Gratuita, nos termos das Leis 1060/50, 7115/83 e artigo 790, § 3º, da CLT, isentando-o de todas as despesas do processo.

III - DISPOSITIVO

Pelo exposto, nos termos da fundamentação supra que integro a esse dispositivo como se nele estivesse transcrita, rejeito a preliminar suscitada e, no mérito, julgo IMPROCEDENTE o pedido de reconhecimento de vínculo de emprego, dando por prejudicados os demais pedidos formulados na Reclamação Trabalhista nº 01020-2007 – 20ª Vara, proposta por MÉRISON MARCOS AMARO em face de EXAME LABORATÓRIOS DE PATOLOGIA CLÍNICA LTDA.

Deferem-se os benefícios da justiça gratuita ao reclamante.

Custas, no importe de R$ 3.864,40 (três mil, oitocentos e sessenta e quatro reais e quarenta centavos), calculadas sobre o valor da causa, pelo reclamante, isento.

Intimem-se as partes.

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Osvani Soares Dias

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ACORDAO DA MATÉRIA NO SEGUNDO GRAU

Ementa: 1.VÍNCULO DE EMPREGO. TRABALHO AUTÔNOMO. INTERMEDIAÇÃO POR PESSOA JURÍDICA. CLT, ART. 9.º. Se o reclamante não é pessoa ignorante, que desconheça os efeitos dos atos que pratica; se nem mesmo negou que deles tivesse ciência, não se pode cogitar de vício de vontade. Todavia, vigora no Direito do Trabalho o princípio da primazia da realidade, que prepondera diante das evidências de que não houve alteração na prestação laboral. A transmutação foi apenas na moldura jurídica da relação; não na realidade da prestação de trabalho, que permaneceu a mesma, ainda que tenha havido discreta ampliação nas atividades acometidas ao obreiro. A fraude exsurge às escâncaras, de modo que não há como se negar a realidade, de que o reclamado firmou o contrato para viabilizar o incremento salarial pretendido pelo autor, mantendo-o em seus quadros funcionais, passando a considerá-lo autônomo, havendo intermediação salarial, mediante pagamento de Notas Fiscais emitidas pela empresa contratada. O artigo 9.º da CLT rechaça práticas fraudulentas que venham a desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos dispositivos celetários. Em assim sendo, há que se reconhecer o vínculo de emprego com o reclamado, ainda que a relação jurídica a partir da rescisão contratual tenha sido mascarada por contrato civil de prestação de serviços por intermédio de uma empresa contratada. 2. Recurso conhecido e provido em parte.

Relatório

O Exmo. Juiz da 20.ª Vara do Trabalho de Brasília-DF, Dr. Osvani Soares Dias, rejeitou a preliminar de extinção do processo por ausência de submissão da demanda à Comissão de Conciliação Prévia e julgou improcedentes os pedidos objeto da reclamação trabalhista, consoante decisão proferida às fls.1110/1113. O reclamante opôs embargos declaratórios (fls. 1115/1116, os quais foram rejeitados às fls. 1117/1118. Inconformado, o reclamante interpôs recurso ordinário (fls. 1120/1138), pugnando pela reforma da sentença de primeiro grau, a fim de que seja reconhecido o vínculo de emprego frente a ré. Foram apresentadas contra-razões pela acionada às fls. 1141/1145. Dispensada a intervenção do Ministério Público do Trabalho, na forma preconizada no artigo 102 do Regimento Interno deste egr. Tribunal, por não se evidenciar matéria que suscite interesse público. É o relatório.

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Voto

1. ADMISSIBILIDADE O recurso é tempestivo (fls. 1119/1120). O recorrente detém regular representação nos autos (procuração à fl. 36) e foi dispensado do pagamento de custas processuais, sendo-lhe concedido o benefício da gratuidade da Justiça (fl. 1113). Tendo sido preenchidos os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade do recurso, dele conheço. 2. MÉRITO 2.1. VÍNCULO DE EMPREGO -FRAUDE - INTERMEDIAÇÃO POR PESSOA JURÍDICA VERBAS DEVIDAS Alega o autor ter sido admitido em 5/12/2005, para a função de Gerente Administrativo, "[...] tendo sido forçado a pedir demissão em 22 de maio de 2006 [...]" (fl. 3). Assevera que o pacto laboral prosseguiu até 5/8/2007, acobertado por um contrato de prestação de serviços de consultoria firmado entre a reclamada e a empresa Contabilex, da qual é sócio minoritário. A justificativa para tal opção reside no aumento salarial que lhe foi proposto pela ré, caso houvesse a transmutação do contrato celetista para o aludido contrato de consultoria. Alegou que este instrumento contratual somente veio a se efetivar em 1.º/8/2006, ou seja, após 40 dias da resilição contratual formal, destacando que não houve solução de continuidade na prestação laboral. Disse, ainda, que o contrato ensejava vantagens somente à ré; que foi pactuada remuneração superior àquela percebida (R$7.550,00), no importe de R$12.000,00; que não se implementou nenhuma alteração nas condições de trabalho, persistindo os elementos ínsitos à relação de emprego, que até então vigorava; que continuou representando a empresa na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, bem como nas negociações coletivas perante o SINDISAÚDE-DF; que em novembro de 2006, deu- se a aquisição do Laboratório Exame pela Diagnósticos América (DASA), tendo sido demitidos 470 empregados da reclamada, figurando em primeiro lugar da lista ele próprio, o que lhe teria gerado prejuízos não só materiais, como também morais. Contrapondo-se à pretensão obreira, a reclamada aduziu que exsurge da lide evidente intuito de locupletamento ilícito por parte do reclamante, bem como sua má-fé, asseverando que se trata de pessoa bastante instruída (com mais de um curso superior), pós-graduada, advogado militante, que é sabedor de seus direitos e obrigações, portanto. Afirmou que partiu do próprio vindicante a iniciativa para a prestação de consultoria ao Laboratório, o que lhe proporcionaria maior liberdade para o exercício da advocacia e para realizar negócios junto a sua empresa Contabilex, sem subordinação e sem pessoalidade - proposta à qual anuiu a reclamada. Afirmou que, após a contratação por meio da empresa Contabilex, alteraram-se as condições segundo as quais ocorria a prestação de serviços, não havendo mais controle de freqüência, nem de jornada, nem submissão às ordens dos diretores da ré. Pondera, outrossim, que a presença física do obreiro não era mais imprescindível; que não havia exclusividade por parte do reclamante; que se utilizava das dependências do Laboratório por sua própria conveniência; que a empresa Contabilex já existia preteritamente à contratação pela

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ré; que houve terceirização de serviços pela empresa Contabilex, de maneira autônoma, relacionadas à atividade-meio, cujas atividades eram bipartidas entre autor e seu sócio. O MM. Juízo de primeira instância firmou convicção de que o princípio protetivo próprio do Direito do Trabalho deveria ter aplicação moderada in casu, em virtude de se tratar de trabalhador de elevada faixa salarial e de alto nível de escolaridade e formação, o que lhe retirava o caráter de hipossuficiência. Concluiu, ainda, que o autor conhecia o teor dos documentos que assinou - cujas condições reputou mais favoráveis -, inexistindo, portanto, o vício de consentimento. Afastou a fraude na utilização da pessoa jurídica como máscara para o contrato de emprego, ante o entendimento de que o autor confessou que tal pessoa jurídica pré-existia à contratação, e já estava em funcionamento. Afastada a pessoalidade e a nulidade na contratação por intermédio da empresa Contabilex, declarou a inexistência de liame empregatício entre as partes. O recurso renova os argumentos trazidos na exordial, insistindo que "Não houve clara e consciente negociação entre as partes, mas imposição do reclamado em desfavor do reclamante, como única forma do último ter o aumento que buscava." (fl. 1122) Acena com o princípio da primazia da realidade, no qual deve prevalecer a verdade real, afirmando que o fato de já existir a pessoa jurídica antes da celebração do contrato não afasta a fraude, o que também ocorre com relação à pessoalidade não-reconhecida. Pugna pela reforma total do julgado. As contra-razões trazidas também não inovam, repisando os argumentos já lançados desde a fixação da litiscontestatio. Em se tratando de pedido de reconhecimento de vínculo de emprego, mas sendo veiculada defesa no sentido de que a prestação laboral deu-se de forma autônoma, o ônus de prova fica a cargo do réu, por se tratar de fato que se opõe ao direito obreiro (CLT, artigo 818; CPC, artigo 333, II). Entretanto, para corroborar sua versão, a acionada trouxe à colação contrato firmado entre si e a pessoa jurídica constituída pelo autor e por outro sócio, sr. Aélio, para prestação de serviços de consultoria e gestão. Assim, transferiu- se o onus probandi para a parte autora, a quem se passou a incumbência de demonstrar que o contrato firmado não correspondia à realidade dos fatos (princípio da primazia da realidade), de modo a evidenciar a fraude na legislação trabalhista, atraindo, então, a regra prevista no artigo 9.º celetário. E, na hipótese sub examen, entendo que se desvencilhou a contento. Passemos primeiro à análise da prova documental. Consta às fls. 972/979 contrato de prestação de serviços de consultoria, gestão administrativa e controladoria, celebrado entre a empresa-acionada, CONTRATANTE, e a empresa Contabilex, CONTRATADA, da qual seriam representantes AÉLIO ALVES DE FREITAS e o autor, MÉRISON MARCOS AMARO. O objeto social descrito é: "[...]prestação pela CONTRATADA à CONTRATANTE, sem caráter de exclusividade, de serviços de consultoria e gestão administrativa, financeira, contábil, comercial e controladoria, e apresentação mensal de relatórios de análise da performance da gestão contendo recomendações e orientações quanto à execução dos processos de forma que salvaguarde o capital e atinja os objetivos institucionais do CONTRATANTE, tudo de acordo com o estabelecido neste instrumento." - fl. 972 - grifei

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As cláusulas segunda e terceira prevêem que: "CLÁUSULA SEGUNDA - A contratada trabalhará reportando-se diretamente à Diretoria Executiva da CONTRATANTE, sujeitando-se à supervisão desta. CLÁUSULA TERCEIRA - Sem prejuízo das demais responsabilidades decorrentes deste contrato, a CONTRATADA obriga-se a prestar consultoria na administração do setor de recursos humanos, elaborar planejamento, bem como controlar patrimônio e logística, e cooperar na representação institucional da CONTRATANTE em instituições governamentais, entidades de classe empresarial, entidades de classe laboral e imprensa em geral." - fl. 972 A cláusula quarta e os seus parágrafos prevêem que são atividades da contratada, em benefício da contratante, uma infinidade de responsabilidades, as quais se referem a toda gestão administrativa da empresa acionada: recursos humanos; administração de pessoal; políticas de gestão; contratação de obras e serviços; aquisição e alienação de bens e materiais; relacionamento com as empresas de saúde conveniadas; controle de faturas; rotinas para gestão de qualidade da organização; manutenção do patrimônio; serviços de transporte; assinatura em documentos e relatórios das áreas administrativa e financeira apresentados ao Conselho; controle de receita, despesa e lucros; conferência da movimentação financeira; negociação com bancos; pagamentos de empregados, fornecedores e tributos; relacionamento com empresas terceirizadas. Esses são apenas alguns dos itens constantes do rol de atribuições da contratada. Previu-se no contrato, ainda, que "Os prepostos da CONTRATADA a serem designados para a prestação de serviços deverão ter anuência prévia da CONTRATANTE." (cláusula quarta, parágrafo quarto); que "O local de prestação dos serviços será a sede da CONTRATANTE, podendo esse local ser alterado, a exclusivo critério desta, do qual será a CONTRATADA expressamente informada." (cláusula quarta, parágrafo quinto). Os parágrafos sexto e sétimo da cláusula quarta dispõem que as despesas com passagens, estadia, refeições e outros gastos necessários, relativos a viagens empreendidas a serviço, serão todas custeadas pela contratante; e que haverá reembolso das despesas efetuadas pela contratada para o exercício de seu trabalho, mediante comprovação de gastos. Há, também, na cláusula dez, a seguinte disposição: "É vedado à CONTRATADA por seus representantes ou por meio de pessoa jurídica da qual qualquer dos representantes da CONTRATADA participe ou na qual a CONTRATADA ou outra pessoa jurídica da qual qualquer dos representantes da CONTRATADA ou a própria CONTRATADA tenham interesse direito ou indireto, prestar serviços e/ou prestar consultoria ou parecer, participar com mais de 1% (hum por cento) do capital social, sendo, igualmente, vedado a participação dos representantes da CONTRATADA em órgão de administração ou de qualquer órgão consultivo de qualquer empresa ou sociedade civil ou comercial, que exerça atividade concorrente a da CONTRATANTE e das demais empresas do grupo econômico da CONTRATANTE, sob pena de incorrer em multa em favor deste no valor de 100 (cem) vezes o valor dos honorários previstos na Cláusula Quinta deste contrato, atualizada. [...]" - fl. 977 Por fim, impende destacar que foi fixado dever de confidencialidade por parte da contratada, no que se refere às

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informações relativas à contratante, seus projetos e suas atividades, pelo prazo de cinco anos após o término do contrato (cláusula onze, primeiro parágrafo). Dentro desse contexto em que foi redigido o aludido contrato de prestação de serviços outra não pode ser a conclusão a que se chega: ainda que haja sido constituída em data anterior à celebração deste contrato; ainda que já tivesse, inclusive, firmado outro contrato anterior (de auditoria) com o Laboratório demandado; é certo que, com a celebração deste instrumento, a empresa Contabilex passou a existir unicamente para atender a demanda do Laboratório, para servi-lo. Em uma verdadeira terceirização de serviços, que se revista de licitude, o tomador de serviços não se despoja de seu poder diretivo; que, no caso, foi transferido à contratada. Toda a gestão do estabelecimento, nos mais diversos ramos, inclusive o trato com outras empresas terceirizadas, foi transferido para a responsabilidade da contratada. Muito embora tenha havido disposição expressa quanto à ausência de exclusividade (fl. 972, cláusula primeira), isso não se reveste de veracidade, diante da própria previsão contratual de que a contratada não pode prestar serviços de consultoria ou parecer a nenhuma outra empresa (fl. 977, cláusula dez), ou seja, sua existência justificava-se somente pela prestação de serviços em favor do réu. Também em uma hipótese lícita de terceirização, o tomador de serviços contrata a empresa prestadora, que é quem administra toda a prestação. O tomador não se imiscui em aspectos relativos à contratação de pessoal para sua execução; nem mesmo participa dos custos para essa execução. É a empresa prestadora que avalia o que deverá ser feito e como deverá ser feito para que o serviço seja desenvolvido dentro dos moldes contratados. Não foi efetivamente o que constou do contrato em comento. A proibição de que a Contabilex destacasse outras pessoas para a prestação de serviços, sem que contasse com a prévia anuência da contratante, evidencia que o réu atraiu para os contratados o ônus da pessoalidade na prestação, ou seja, contava apenas com o Sr. Aélio e com o reclamante para executar o objeto do contrato; outra pessoa que fosse trabalhar não deveria ser unicamente escolhida pela contratada, mas, sim, deveria ser previamente aprovada pelo réu. Os gastos feitos pela contratada com a execução dos serviços eram todos reembolsados pela contratante; ou seja, a suposta "empresa terceirizada" prestava os serviços, mas quem arcava com os ônus era a contratante. Isso sem se falar que também as viagens e os cursos eram suportados pelo réu, como evidencia o parágrafo sexto da cláusula quarta do contrato, e dos documentos às fls. 68/69, referente a cursos realizados pelo autor, quando não mais era reconhecidamente empregado. Também a obrigatoriedade de que os serviços fossem prestados na sede da contratante contribui para que se afaste a tese patronal. Ressalte-se que da cláusula quarta, parágrafo quinto, consta que somente a contratante poderia alterar o local da prestação laboral, quando bem entendesse, incumbindo-lhe apenas informar expressamente à contratada. Por fim, impende salientar que o autor, embora "consultor" deveria sempre reportar-se diretamente à Diretoria Executiva do réu, sujeitando-se a sua supervisão (cláusula segunda), evidenciando-se a subordinação na

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prestação do serviços, embora bastante mitigada em face do nível das decisões do reclamante e de seu poder de mando dentro da empresa. No Dicionário Aurélio define-se ‘consultor' como "1. Aquele que dá ou pede condefine-selho; 2. Aquele que consulta, examinando.; 3. Aquele que dá pareceres acerca de assuntos da sua especialidade" . Pois bem. Nada obstante haja previsão contratual para a apresentação mensal de relatórios de análise da performance da gestão (fl. 972, cláusula primeira), não foi feita prova nos autos de que houvessem existido. Nenhum único relatório ou parecer foi juntado. O TRCT à fl. 42 demonstra que houve rescisão contratual em 22/5/2006, tendo o autor trabalhado no período do aviso prévio até 20/6/2006. Constam, também, diversos TRCTs (fls. 43/52) relativos a empregados dispensados em data posterior à rescisão do contrato obreiro, nos quais o autor firmou assinatura no campo reservado ao empregador ou a seu preposto. A assinatura fez-se acompanhar de carimbo do qual consta o nome da reclamada "EXAME - Laboratórios de Patologia Clínica S/C Ltda", seu nome "Mérison Marcos Amaro", número de Matrícula "3003", e o local de atuação "Gerência Administrativa". Dessa realidade, constata-se que o reclamante efetivamente atuava personificando o empregador, destacando-se que até mesmo possuía número de matrícula. Da declaração à fl. 61 consta que o autor, em 6 de agosto de 2007, devolveu equipamentos por ele utilizados "[...] no desempenho de suas funções como Gerente Administrativo do Laboratório Exame [...]", os quais seriam: um aparelho celular Motorola V3 e uma placa de comunicação para internet. Evidencia-se, dessa forma, que o réu disponibilizou ao reclamante instrumentos necessários à prestação laboral, o que não é razoável em caso de terceirização, na qual os meios para a prestação dos serviços são de propriedade da empresa que os presta e, não, do tomador. Vários foram os e-mails trazidos aos autos, relativos ao período posterior a 20/6/2006, isto é, em que houve a contratação como "consultor". Os aludidos documentos evidenciam que o autor atuava em todas as áreas da administração da empresa, possuindo, inclusive, um endereço eletrônico do próprio Laboratório, assim como ocorria com os demais empregados do réu (merison@laboratorioexame.com.br). Some-se, ainda, o teor do e-mail à fl. 62, por meio do qual pessoa de nome "Campos Madeira" (provavelmente a mesma que assinou o contrato à fl. 972/979, i.e, João Ribeiro Madeira Campos Filho, Diretor-executivo do réu) empreendeu consulta a um escritório de advocacia (José Saraiva e Advogados), acerca da "[...] possibilidade de contratação do Sr. Merison e do Sr. Aelio pela empresa Contabilex." O próprio documento à fl. 62 é revelador por seus próprios termos: "Trata-se de Consulta formulada pelo Laboratório Exame, na qual o Consulente objetiva a contratação de dois profissionais por meio da empresa Contabilex da qual ambos são sócios. Sugere-se seja feito único contrato com a empresa Contabilex, com o intuito da contratação de ambos profissionais. Neste caso, deve-se fixar o valor pago a título de remuneração em quantia que atenda aos dois profissionais, cabendo aos mesmos a partilha do valor. Outrossim, deve-se alterar e estender o objeto da contratação para abranger as responsabilidades do profissional Merison." Evidencia-se

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que a pretensão de contratar o Sr. Aélio e o reclamante como autônomos ficou claramente exposta, o que ficou facilitado diante da existência da empresa Contabilex, da qual ambos eram sócios. Houve, também, sugestão feita na consulta para "alteração" e "extensão" do objeto contratado, de modo que abrangesse as funções do reclamante na condição de empregado. Apenas se alterou a moldura jurídica da relação, mas, não, seu conteúdo. Outros documentos jungidos revelam que o reclamante empreendia viagens para participar de reuniões em nome do reclamado (fls. 105/107); emitia pareceres quanto à realização de cursos por empregados do réu (fl. 108) e resolvia sobre custeio de cursos de graduação (fl. 838); elaborava pauta de reuniões estratégicas para a empresa (fls. 121/122); decidia e alterava períodos de férias dos empregados do Laboratório (fls. 801, 808, 822, 834, 836, 839); deliberava quanto à abertura de sindicância para apuração de fatos envolvendo empregados (fl. 804); autorizava deduções no Banco de Horas (fls. 806, 823); resolvia questões sobre compra de vales-transporte (fl. 807) e de materiais (fl. 601, 603); atuava como contato com o escritório de advocacia que atendia o réu, resolvendo questões judiciais (fls. 202/213, 221/234, 288); adotava providências e deliberava quanto à entrega de cestas-básicas (fl. 808), a audiências na Justiça do Trabalho (fls. 809, 818, 821, 831/832, ), à admissão e à demissão de empregados (fls. 608, 811, 837), a aumento salarial (fl. 616), a pagamento de fornecedores (fl. 812), de tributos (fl. 618) e de empregados (fls. 813), à análise de propostas e orçamentos (fls. 623/634, 639), à solicitação de doações (fl. 641), , à manutenção de equipamentos (fl. 642), à avaliação em participação em lucros e resultados pelos empregados (fl. 816), à participação em procedimentos relativos às negociações coletivas encetadas pela categoria econômica, em nome do Laboratório (fls. 773/774, 820), à substituição e transferência de funcionários (fls. 826 e 789/790). Da análise dos e-mails conclui-se, também, que havia uma empresa contratada para prestar consultoria ao réu: Êxito Consultoria em Recursos Humanos, a qual organizava eventos (palestras para os empregados) e também opinava sobre outras questões envolvendo recursos humanos (fl. 648, 655, por exemplo). Esta empresa remete-se ao autor em diversos momentos para que lhe dê retorno, e decida, sobre alguns assuntos tratados. O documento à fl. 651 atesta que o autor era Presidente da CIPA, também atuando em assuntos dessa natureza na qualidade de empregador (fls. 654, 664/666, 672, 750, 783, 786, 788). São vários os documentos e apenas alguns foram analisados, a título de exemplo. A contestação a eles feita, em defesa, é frágil, tendo o reclamado preferido insurgir-se contra a sua indevida apropriação pelo autor, sem, todavia, impugnar- lhes precisamente o conteúdo, os quais devem prevalecer. Todas essas circunstâncias distanciam a situação fática daquela pretendida pela peça de resistência. Portanto, exsurge evidente que o Laboratório valeu-se desse contrato como forma de afastar o vínculo de emprego, tendo persistido o autor com todas as atribuições relativas à gestão do negócio empresarial. A prova oral colhida em audiência vem ao contrato da consagração da conclusão. A preposta do réu (fl. 1086) disse que o reclamante, a partir de julho de 2006, continuou a trabalhar para o Laboratório, porém

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sob outra forma de contratação, como consultor. Afirmou, ainda, que essa mudança ocorreu por sugestão do próprio reclamante; que o reclamante era subordinado à Diretoria Executiva por todo o período, inclusive como consultor, situação que exigia aval da diretoria para as decisões eventualmente tomadas por ele. Confirmou que o reclamante era representante do empregador na CIPA; que era responsável pela gestão dos Recursos Humanos e Serviços Gerais; que o reclamante foi indicado pela empresa para atuar em negociações coletivas enquanto gerente e não como consultor; que a fiscalização das rotinas de trabalho dos setores de atendimento a clientes e afins era acometida ao autor, tanto como gerente, quanto na condição de consultor. Evidencia-se do teor do depoimento que a subordinação ao Diretor-Executivo persistia da forma como antes ocorria. Muito embora o empregador deva indicar representante para a CIPA, o autor, mesmo que considerado "consultor", foi indicado; o que também ocorria relativamente às negociações coletivas (hipótese negada pela preposta, mas confirmada pelos depoimentos). O autor continuou fiscalizando rotinas de trabalho, exatamente como fazia na época em que era gerente, empregado do réu. A testemunha Hilma Fernandes Barbosa também corroborou a versão obreira: "[...] que mesmo após junho de 2006 não houve modificação na relação de hierarquia existente com o reclamante, tendo continuado da mesma forma como era anteriormente; que o reclamante era subordinado à Diretoria e a Diretoria ficava no mesmo local; [...] que o reclamante dirigia toda a parte administrativa e era mediador entre os empregados e a Diretoria da empresa; que não houve nomeação de outro administrador após agosto de 2006; [...]" - fls. 1.087/1.088 - grifei Não foi diferente com relação à segunda testemunha ouvida, in verbis: JOSÉ RIBAMAR COSTA SALGADO - "que trabalhou para a reclamada de 10/06/2006 a dezembro de 2007; [...]; que nesse período o reclamante era seu chefe; que o reclamante ia todos os dias no local de trabalho; que o reclamante efetivamente dava ordens aos seus subordinados; [...]" - grifei A prova oral é forte e convence quanto à assunção pelo autor das funções que lhe eram atribuídas ainda quando ocupava o cargo de Gerente Administrativo, evidenciando a ausência de alteração no contexto fático. Ao depor, o reclamante confirmou que a empresa Contabilex pré-existia ao contrato de prestação de serviços celebrado com o Laboratório. Todavia, consoante já dito linhas volvidas, essa circunstância em nada influencia o desfecho, haja vista que a conclusão a que se chegou é que a reclamada valeu-se da empresa Contabilex para alterar os contornos jurídicos da prestação de serviços por parte do reclamante, a seu favor, e, não, que a empresa Contabilex foi criada para esse fim. Aliás, nada obstante do contrato de prestação de serviços constar a data de 31 de julho de 2006 (fl. 979), é certo que nessa data ainda não havia sido celebrado, haja vista o teor dos documentos às fls. 62/65. Também o fato de que o sr. Aélio integrava a sociedade contratada não afasta a conclusão à qual se chegou. Não há nos autos prova de que Sr. Aélio e reclamante pudessem indistintamente prestar os mesmos serviços. Muito pelo contrário. A prova documental convence de que havia responsabilidades específicas que eram atribuídas ao autor, e somente a ele. Muito

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embora o demandante tenha dito, em depoimento, que deduziu pedido formal de dispensa, tendo consciência do que significava, afirmou, por outro lado, que "[...] tinha uma pretensão salarial, e a única forma para alcançá-la seria a prestação de serviços como pessoa jurídica; que o reclamante aceitou a prestação de serviço como pessoa jurídica porque naquele momento precisava daquele contrato; [...]". Em uma relação de emprego há duas pontas: empregado e empregador. Ao empregado incumbe prestar o serviço, pessoalmente, com habitualidade, mediante onerosidade e subordinação, sem assumir os riscos e os custos da prestação. A subordinação é elemento variável, que transita em diversos graus, de acordo com a sujeição que se exige do empregado frente ao poder de mando do empregador. É diretamente proporcional ao poder que se atribui ao próprio empregado, de modo que, em ocupando altos cargos junto ao empregador, fica bastante suavizada. A onerosidade pode vir mascarada sob outras formas de remuneração, devendo levantar-se o véu da fraude, para reconhecê- la em qualquer de suas modalidades, qualquer que seja o nome que se lhe atribua: prêmio, gratificação, honorários etc. Os riscos do negócio desenvolvido pelo empregador são exclusivamente por ele assumidos, sem que se transfira aos empregados; também não se cogita de o empregador assumir gastos para a prestação do trabalho. É o empregador que deve suportá- los. Ao empregador, enquanto detentor do poder de gerir o estabelecimento, incumbe adotar todas as medidas e todas as providências necessárias para viabilizar seu negócio. É claro que pode descentralizar seu poder, na medida em que a empresa é de grande porte, transferindo responsabilidades a outros funcionários. Entretanto, permanece com ele a fiscalização, a "mão forte" da gestão do empreendimento. No caso dos autos, todos esses elementos transpareceram. O empregado, embora considerado consultor, trabalhava com pessoalidade, mediante remuneração, subordinação e de forma ineventual. Submetia-se ao controle do empregador, agindo mediante seu aval ou sua supervisão. As funções desempenhadas pelo obreiro eram de extrema relevância e abrangiam todas as áreas de gestão do Laboratório, o que fez cair por terra a versão de que havia terceirização. Muito embora a atividade-fim do réu esteja relacionada a exames e diagnósticos, e o autor atuasse relacionado à atividade-meio (administração do negócio), é certo que transitava nos mais diversos meios (compras, patrimônio, pessoal, financeiro, transportes etc) e até mesmo em áreas nas quais o empregador deveria estar representado (negociações coletivas e Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) de per si e, não, mediante contratação de um suposto representante. O fato de o reclamante exercer ou não a advocacia concomitantemente com a prestação dos serviços é irrelevante para a questão ora tratada, haja vista que não há vedação legal nem contratual para tanto. A prova colhida nos autos, farta e convincente, demonstrou que a "opção" de o autor prosseguir na prestação laboral como autônomo, mediante incremento salarial, em verdade, não se tratava de opção, mas de verdadeira simulação implementada pela empresa para que a contratação ocorresse mediante a aparência de contrato civil firmado entre duas pessoas jurídicas, o que vem a isentar o

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empregador dos recolhimentos à Previdência Social, além de retirar do empregado os direitos trabalhistas básicos. Essa malfadada prática vem encontrando abrigo em diversos ramos empresarias, inclusive contando com a anuência dos ditos trabalhadores "autônomos", aos quais se oferta uma proposta salarial mais vantajosa em troca de não ter o vínculo empregatício reconhecido. Muito embora a ninguém possa dar-se o benefício de ter agido com torpeza, não se pode olvidar que no Direito do Trabalho deve-se enfrentar este aspecto com cautela. O empregado dispende sua força de trabalho (ainda que intelectual) em favor do empregador, mediante uma remuneração que lhe garante, pelo menos em tese, a subsistência. É inerente à condição humana o desejo de progredir, ganhar mais, viver melhor. Tendo-se em mente este enfoque, e relembrando-se o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, indaga- se: até que ponto é razoável esperar-se do empregado que resista à oportunidade de ganhar melhor, preservando seu emprego? Em verdade, cabe ao empregador, enquanto ente que dirige a prestação laboral, não fazer, ou não aceitar propostas, que contrariem os dispositivos legais. É certo que no caso dos autos o reclamante não é pessoa ignorante, que desconheça os atos praticados. Nem ele próprio negou que tivesse ciência dos efeitos de sua conduta. Por isso, não se está a falar em vício de vontade. O autor não foi coagido; deliberadamente aceitou apor sua assinatura no instrumento (fls. 579). Todavia, vigora no Direito do Trabalho o princípio da primazia da realidade, que prepondera diante das evidências de que não houve alteração na prestação laboral. A transmutação foi apenas na moldura jurídica da relação, como já dito; não na realidade da prestação de trabalho, que permaneceu a mesma, ainda que tenha havido discreta ampliação nas atividades acometidas ao obreiro. A fraude exsurge às escâncaras, de modo que não há como se negar a realidade, de que o reclamado firmou o contrato para viabilizar o incremento salarial pretendido pelo autor, mantendo-o em seus quadros funcionais, passando a considerá-lo autônomo, havendo intermediação salarial, mediante pagamento de Notas Fiscais emitidas pela empresa contratada. O artigo 9.º da CLT rechaça práticas fraudulentas que venham a desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos dispositivos celetários. Em assim sendo, dou provimento ao apelo obreiro para reconhecer a relação de emprego com o reclamado, que era verdadeira empregador, reconhecendo que o autor teve a relação jurídica a partir da rescisão contratual (21/6/2006) mascarada por contrato civil de prestação de serviços por intermédio da empresa: Contabilex. Reconhecido o liame laboral, sem solução de continuidade, consoante demonstram a prova documental e a oral, declaro a unicidade contratual e condeno o réu a proceder a retificação na CTPS obreira no prazo de 48 horas, devendo a Secretaria da Vara fazê-lo, caso seja descumprida a obrigação. A remuneração fixada é de R$10.000,00, considerando que o contrato previu pagamento de R$20.000,00 a ser rateado ente ambos os sócios (Sr. Aélio e reclamante), presumindo-se que R$10.000,00 era a cota-parte do autor. O cargo sempre foi o mesmo: de gerente administrativo (fl. 40). Não tendo havido controvérsia quanto à iniciativa para ruptura do contrato alegada pelo autor, declaro que a relação

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de emprego rompeu-se em 5/8/2007, mediante iniciativa patronal, com base na exordial (fl. 7), no depoimento da preposta (fl. 1086) e no término do prazo de vigência do contrato, de um ano (fl. 976, cláusula sétima). A previsão contratual lançada à fl. 976, cláusulas sétima e oitava, quanto à vigência do contrato pelo prazo de doze meses, não equivale ao instituto do aviso prévio. Muito embora o autor tenha tido conhecimento do dies ad quem, se houve reconhecimento judicial quanto à fraude consubstanciada no contrato, não se pode aproveitá-lo para reconhecer que o autor já estava pré-avisado do encerramento da prestação de serviços. Dessarte, defiro o pagamento de aviso prévio, o qual se projeta no tempo de serviço até 5/9/2007(OJ n.º 82 da SBDI-1 do col. TST). Destaco que o autor integra a categoria profissional dos empregados em estabelecimentos de serviços de saúde de Brasília-DF, haja vista que não há previsão legal para distinção entre empregados da fim e da atividade-meio para o enquadramento sindical, não pertencendo o obreiro à categoria profissional diferenciada. Dessa forma, são-lhe aplicáveis as normas coletivas jungidas. Defiro, diante da resilição contratual imotivada de iniciativa patronal: - férias integrais (período aquisitivo 5/12/2005- 4/12/2006) e proporcionais (5/12/2006 a 5/9/2007), de 9/12, ambas com acréscimo de 1/3; - 13.º salário integral em 2006 e proporcional de 8/12 em 2007; - FGTS na vigência contratual, bem como sobre as verbas rescisórias devidas, tudo com acréscimo de 40% a título de multa; - diferenças salariais com base no reajuste previsto em norma coletiva (fl. 863, cláusula 46, parágrafo único), a partir de 1.º de setembro de 2006, de 2,6% incidente sobre o salário praticado em setembro de 2005 (R$7.550,00). O salário com esse reajuste deve ser considerado para fins de FGTS e 40%, inclusive para fins de deferimento das diferenças pelo recolhimento a menor; - vales-refeição (ACT, fl. 862, cláusula 39, segunda parte e parágrafo único) no valor diário de R$6,00, na quantidade de vinte por mês, no período de 1.º/9/2006 até a ruptura contratual, mediante desconto de 10% do valor no salário do empregado; -adicional por tempo de serviço (cláusula 37, fl. 861 e cláusula 36, fl. 876); - multa equivalente a um salário mensal, prevista na cláusula 40, fl. 862, haja vista que a resilição contratual operou-se no trintídio que antecede a data-base da categoria. TODOS OS VALORES PAGOS NO TRCT À FL. 42 DEVERÃO SER COMPENSADOS, PARA QUE NÃO SE DÊ ENSEJO AO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DA PARTE. Defiro o requerimento de seguro-desemprego, haja vista o prazo de vigência da relação de emprego e a modalidade resilitória. Deverá o ex-empregador expedir a guia CD para habilitação no seguro-desemprego, convertendo-se em obrigação de pagar caso haja impossibilidade para percepção do benefício. A CCT à fl. 878, cláusula 47, que abarca o período compreendido entre a admissão do obreiro e o dia 31/8/2006 dispõe que ao Laboratório é FACULTADO conceder participação nos lucros da empresa. Também o ACT, à fl. 864, cláusula 48, dispõe de idêntica forma. Inexistindo obrigatoriedade, indefiro o pedido. A CCT com vigência de 1.º/9/2005 a 31/8/2006 prevê, à cláusula 38, que os laboratórios firmarão convênio com o SESC com o objetivo de fornecer refeições a seus empregados, facultando-se o desconto de 15% do valor do benefício.

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Inexistindo, portanto, suporte em norma coletiva para a pretensão relativa ao período compreendido entre junho/2006 e 31/8/2006, indefiro. Indefiro o pedido de multa do artigo 477, §8.º, da CLT, haja vista que houve razoável controvérsia quanto à relação jurídica que se instaurou entre as partes (OJ n.º 351 da SBDI-1 do col. TST). Também em face da controvérsia, indefiro o acréscimo de 50% do artigo 467 celetário. Em face dos elementos dos autos, determino a expedição de ofícios à DRT, INSS e Ministério Público do Trabalho. Os benefícios da gratuidade da Justiça já foram deferidos. 2.2. DANOS MORAIS Narra o autor em sua peça de intróito que o Laboratório Exame foi adquirido pela empresa Diagnósticos América (DASA) e que, muito embora lhe tivesse sido garantida a regularização de sua situação (contratação como autônomo) pelos antigos sócios do réu, após a concretização do processo de venda do reclamado, as promessas tornaram-se irreais. Afirmou que, do rol dos 470 empregados demitidos, ele figurou em primeiro lugar, sem direito a nada, sem comunicado oficial, exceto uma simples conversa de apenas dez minutos (fl. 6). Diz que trabalhou por vinte meses para a empresa-ré, contribuindo para seu progresso, e, ao deixar a empresa, nada recebeu, tendo aberto mão de direitos trabalhistas ao aceitar a contratação por meio da Contabilex. Pontua, ainda, que está proibido de contratar com outra empresa do ramo sob pena de pagamento de multa contratual, destacando que é pai de uma menina portadora de necessidades especiais, com paralisia cerebral, e que a ausência de quitação rescisória impedir-lhe-á a sobrevivência. Diz que fora enganado e que ficou no ar a indagação: "por que desligaram logo o Mérison, que brigava tanto pela empresa, o que ele deve ter feito de tão grave, para um desligamento assim tão às pressas?" (fl. 8). Por fim, diz que, após trinta dias da negociação, ninguém da nova administração do réu lhe repassou nenhuma tarefa, tendo ocorrido um esvaziamento de seu cargo, ficando humilhado perante os colegas, em posição desconfortável, o que lhe gerou comprometimento na saúde, principalmente em sua auto-estima, diante do assédio moral sofrido. Pugna pelo pagamento de indenização de R$50.000,00. Os danos morais situam-se na esfera não-patrimonial do indivíduo. Causam prejuízos de ordem moral, psíquica, na auto-estima, na imagem, na honra do lesado. Encontram previsão em norma constitucional, sendo que também o Código Civil prevê a responsabilidade oriunda de ato ilícito, causado culposa/dolosamente pelo agressor, que gera o dever de indenizar (culpa aquiliana ou subjetiva). Também há previsão para a responsabilidade objetiva, o que ora não se cogita em face da narrativa da peça vestibular. Exigem para sua caracterização: materialidade do dano, conduta omissiva ou comissiva do agressor, dolosa ou culposa, nexo causal entre a conduta agressiva e o dano experimentado. A indenização consiste em mera tentativa de ressarcir a vítima pelo prejuízo moral sofrido, na via pecuniária, já que, em verdade, não existe possibilidade de recompor justa nem devidamente o abalo psíquico já concretizado. Em termos processuais, o dano sofrido há ficar patenteado nos autos mediante prova robusta, o que, entendo, não ocorreu. Ainda que o autor tenha acreditado em falsas promessas quanto à regularização de sua situação contratual no Laboratório, e que tenha, ao final, sido

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dispensado sem nada receber, estas circunstâncias não conduzem ao deferimento do pleito, ipso facto. Mister comprovar-se que, em face do ocorrido, o autor sofreu concretamente algum dano de ordem moral. E não reputo que isso tenha ocorrido em face dos elementos dos autos. Não houve mácula a sua honra ou a sua imagem, ainda que realmente possa ter-lhe gerado tristeza e desgosto. Aborrecimentos podem ocorrer na vida profissional de qualquer pessoa. Por isso, ainda que a conduta do empregador não tenha sido acertada, é certo que não se constitui em motivo suficiente a ensejar a reparação por dano moral, salvo se efetivamente tivesse ficado demonstrado o prejuízo moral em concreto - o que não ocorreu. Consoante bem observou a Exma. Juíza Elisângela Smolareck, ao julgar o processo TRT 00936-2007-005-10-00-2 RO, "Entender de forma contrária seria iniciar um processo de banalização do assédio moral, dificultando ainda mais as relações de natureza profissional e pessoal [...]". Não tendo sido provado o dano moral, nego provimento ao recurso, no particular e indefiro o pedido. CONCLUSÃO Pelo exposto, conheço do recurso ordinário interposto pelo reclamante; no mérito, dou-lhe parcial provimento para reconhecer a relação de emprego entre as partes; declarar a unicidade contratual de 5/12/2005 a 5/9/2007, pela projeção do aviso prévio; condenar o réu a proceder a retificação na CTPS obreira no prazo de 48 horas, devendo a Secretaria da Vara fazê- lo, caso seja descumprida a obrigação; fixar a remuneração em R$10.000,00; e a pagar ao reclamante, no prazo legal, com juros e correção monetária, observados os descontos fiscais e previdenciários, férias integrais e proporcionais de 9/12, com 1/3, 13.º salário integral em 2006 e proporcional de 8/12 em 2007, FGTS na vigência do contrato, bem como sobre as verbas rescisórias devidas, mais 40%, diferenças salariais com base no reajuste previsto em norma coletiva, a partir de 1.º de setembro de 2006, de 2,6% incidente sobre o salário praticado em setembro de 2005, vales-refeição no valor diário de R$6,00, vinte por mês, de 1.º/9/2006 até o término do contrato, mediante desconto de 10% do valor no salário do empregado, adicional por tempo de serviço, multa convencional de um salário mensal, expedição da guia CD para habilitação no seguro-desemprego, convertendo-se em obrigação de pagar caso haja impossibilidade para percepção do benefício. Deverão ser compensados os valores pagos no TRCT; invirto o ônus da sucumbência e arbitro à condenação o valor de R$55.000,00, fixando as custas em R$1.100,00, pelo reclamado- recorrido; as parcelas ‘gratificação natalina e diferenças salariais' integram o salário-de-contribuição para fins de recolhimento ao INSS. Tudo nos termos da fundamentação. É como voto.

Acórdão

Por tais fundamentos, ACORDAM os Juízes da Segunda Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 10.ª Região, conforme certidão de julgamento a fls. retro, aprovar o

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relatório, conheço do recurso ordinário interposto pelo reclamante; no mérito, dar-lhe parcial provimento para reconhecer a relação de emprego entre as partes; declarar a unicidade contratual; condenar o réu a proceder a retificação na CTPS obreira e a pagar ao reclamante, no prazo legal, com juros e correção monetária, observados os descontos fiscais e previdenciários, férias integrais e proporcionais de 9/12, com 1/3, 13.º salário integral em 2006 e proporcional de 8/12 em 2007, FGTS mais 40%, diferenças salariais com base no reajuste previsto em norma coletiva de 2,6%, vales-refeição, mediante desconto de 10% do valor no salário do empregado, adicional por tempo de serviço, multa convencional de um salário mensal; expedir a guia CD para habilitação no seguro-desemprego, convertendo-se em obrigação de pagar caso haja impossibilidade para percepção do benefício; deverão ser compensados os valores pagos no TRCT; inverter o ônus da sucumbência; arbitrar à condenação o valor de R$55.000,00, fixando as custas em R$1.100,00, pelo reclamado-recorrido; determinar que as parcelas ‘gratificação natalina e diferenças salariais' integram o salário-de-contribuição para fins de recolhimento ao INSS, nos termos do voto do Juiz Relator. A SECRETARIA DA EGR. 2.ª TURMA DEVERÁ REAUTUAR OS VOLUMES I, III, IV e V.

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