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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Por: Maria de Fátima leite dos Santos

Orientador

Prof.ª Ana Paula Ribeiro

Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicologia Jurídica.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, por ter me dado a oportunidade de aos 48 anos ingressar em uma Universidade e de me formar aos 52 anos, em Serviço Social. Poder realizar um sonho de concluir a Pós-Graduação em Psicologia Jurídica,

aprimorando mais os meus conhecimentos para lutar por uma oportunidade melhor. Ao meu filho, Ricardo Santos do Carmo, por ter me dado inspiração e acreditar que o sonho pode ser realizado, basta ter fé, perseverança, coragem, garra e acima de tudo acreditar em Deus, pois sem ele nada disso seria possível.

A minha mãe Florinda por suportar a minha ausência aos domingos dedicados aos estudos, sempre me incentivando e a toda minha família pelo apoio.

A todos os professores que influenciaram de uma forma ou de outra a minha formação e aos meus colegas que direta ou indiretamente contribuíram com a minha passagem pela Universidade e me incentivaram para a conclusão da Pós-Graduação. Obrigado a todos!

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DEDICATÓRIA

“A ÁGUIA”

A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie, chega a viver cerca de 70 anos. Porém, para chegar a essa idade, aos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Aos 40 anos, suas unhas estão compridas e flexíveis e já não conseguem mais agarrar as presas das quais se alimenta. O bico, alongado e pontiagudo, se curva, apontando contra o peito. Estão as asas, envelhecidas e pesadas, em função da grossura das penas, e, voar aos 40 anos, já é bem difícil! Nessa situação a águia só tem duas alternativas:

Deixa-se morrer... ou enfrentar um dolorido processo de renovação que irá durar150 dias. Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e lá se recolher, em um ninho que esteja próximo a um paredão. Um lugar de onde, para retornar, ela necessite dar um vôo firme e pleno. Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater o bico contra a parede até conseguir arrancá-lo, enfrentando corajosamente a dor que essa atitude acarreta. Espera nascer um novo bico, com o qual irá arrancar as suas velhas unhas, com as novas unhas ela passa a arrancar as velhas penas. E só após cinco meses, “renascida”, sai para o famoso vôo de renovação, para viver, então, por mais 30 anos.

Muitas vezes, em nossas vidas, temos que nos resguardar, por algum tempo, e começar um processo de renovação. Um vôo de vitória, somente quando livres do peso do passado, poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz. Precisamos destruir o bico do ressentimento, arrancar as unhas do medo, retirar as penas das nossas asas dos maus pensamentos e alçar um lindo vôo para uma nova vida. Podemos criar e recriar a vida, à nossa própria imagem e semelhança.

O tempo não pára! Tempo de entusiasmo e coragem em que todo o desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo de novo e de novo!

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Maria, Maria

(Milton Nascimento e Fernando Brant)

Maria, Maria, é um dom, certa magia Uma força que nos alerta

Uma mulher que merece viver e amar Como outra qualquer do planeta Maria, Maria é o som, a cor, é o suor É a dose mais forte e lenta

De uma gente que ri quando deve chorar

E não vive, apenas agüenta

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça

É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca

Maria, Maria, mistura a dor e alegria Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça

É preciso ter sonho sempre Quem traz no corpo a marca

Maria, Maria, mistura a dor e alegria Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça

É preciso ter sonho sempre. Quem traz na pele essa marca

Possui a estranha mania de ter fé na vida.

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RESUMO

Este estudo propõe-se em discutir a relação de gênero, em pensar a mulher como uma categoria que necessita de implementação de políticas

públicas para enaltecê-la como ser de direito e eliminar a herança histórica que a tem como objeto de opressão, submissão e violência. Analisar a violência

doméstica contra as mulheres numa perspectiva de gênero permite apreender as relações de poder construídas entre os gêneros masculino e feminino e sua articulação com aspectos normativos, simbólicos, políticos, econômicos, institucionais e subjetivos de determinada sociedade. Esta violência é

determinada primordialmente pelo gênero, mas se estudada numa perspectiva de totalidade, a violência de gênero não ignora sua imbricação às questões de

classe e etnia, nem o efeito produzido pelo entrecruzamento entre gênero, classe e etnia na perpetuação da opressão feminina. Este estudo debruça-se no

conhecimento do termo violência doméstica, no que tange a mulher. E da prática teórico-metodológica do profissional, que lidam com essa realidade, sobretudo na situação de abrigamento. Diante da relevância social, a violência de gênero se dá ao campo de pesquisa para o Serviço Social ao travar o diálogo, desenvolver debates e elaborar reflexões sobre a questão histórica do conflito entre homens e mulheres. Portanto este estudo versa sobre as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, e ampliando o enfoque da pesquisa ao processo de abrigamento, onde a mulher tem acompanhamento social, jurídico, psicológico e pedagógico. Portanto, o problema é que no processo de construção do ser homem e do ser mulher, diferenças entre eles acabaram por justificar as desigualdades O referido trabalho foi desenvolvido a partir da metodologia da pesquisa bibliográfica, tendo como suporte o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde.

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METODOLOGIA

O viés metodológico a ser utilizado nasce da necessidade efetiva de uma abordagem essencialmente dinâmica dos fatos descritos no escopo deste trabalho, visando contemplar amplamente seus efeitos e causas, dotados de igual dinamismo.

O ponto a ser abordado é a violência doméstica contra a mulher que não é recente.

Trata-se de um fenômeno antigo, presente em todas as classes sociais e em todas as sociedades, das mais desenvolvidas às mais vulneráveis economicamente um conjunto de relações sociais que complexificam sua natureza.

Existe uma forte tendência, especialmente em nossa sociedade, de tratá-lo como um fenômeno de menor importância e restrito ao âmbito das relações interpessoais. Um famoso provérbio popular serve de exemplo “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”.

A base teórico-metodológica em que se apóia este trabalho, leva em conta a pesquisa bibliográfica em livros especializados no assunto, visitas e elaboração de entrevistas com a equipe técnica da Casa Abrigo Aydée Pizarro Rojas, sobre o funcionamento da casa e a demanda atendida, serão utilizadas também, pesquisas feitas por funcionárias do abrigo sobre os casos que por lá passaram.

Portanto para este trabalho foi utilizada uma pesquisa bibliográfica, descritiva e documental.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

CONCEITOS: GÊNERO, VIOLÊNCIA E CONDIÇÃO FEMININA 11

CAPÍTULO II

TIPIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 21

CAPÍTULO III

ROMPENDO O CICLO DA VIOLÊNCIA: CHEGADA AO ABRIGO 25 CONCLUSÃO 40 ANEXOS 42 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45 ÍNDICE 47 FOLHA DE AVALIAÇÃO 49

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INTRODUÇÃO

O interesse inicial para a execução dessa pesquisa partiu da oportunidade de participar como aluna pesquisadora no Projeto de Iniciação Científica (PIC), no curso de Serviço Social, que objetivava realizar uma pesquisa com foco sobre a mulher que sofre violência doméstica e o processo de abrigamento com toda a discussão sobre a violência contra a mulher e a sanção da Lei Maria da Penha. Este trabalho se propôs a dar continuidade à pesquisa desenvolvida inicialmente no PIC.

Para tanto, o estudo versou sobre as ações de gênero desenvolvidas pela Prefeitura do Rio de Janeiro, direcionados para mulheres que sofrem algum tipo de violência e discriminação. Durante o estudo pode-se observar a atuação da equipe multidisciplinar no atendimento das usuárias.

O foco do trabalho é procurar compreender o ciclo da violência, como ele tem início e como pode ser interrompido. Isso representa a possibilidade de proporcionar a essas mulheres atendidas, um maior conhecimento dos seus direitos e a conquista da cidadania para além da visão clássica da condição feminina que uniformiza mulheres e homens. Este estudo pretende mostrar os deslocamentos destas posições dicotômicas de gênero que englobam questões de raça / etnia, classe e geração.

O trabalho foi organizado da seguinte maneira: no primeiro capítulo aborda-se os conceitos de gênero, violência e a condição feminina, ou seja, a construção social entre homens e mulheres para a distribuição desigual do poder e para a geração de discriminação. O capítulo dois abordou-se os diversos tipos de violência que as mulheres sofrem em âmbito doméstico que, se apresenta da seguinte forma, psicológica, física e sexual. No capítulo três, é abordado o rompimento do ciclo da violência com a denúncia do agressor na Delegacia Especializada da Mulher – DEAM. Com a Lei Maria da Penha, 11.340/06, que tipifica a violência doméstica como uma das formas de violação dos direitos humanos e altera o Código Penal e possibilita que agressores sejam presos em flagrante, ou tenham sua prisão preventiva decretada, quando ameaçarem a

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integridade física da mulher. Em casos extremos, quando a mulher não pode retornar a sua residência, as vítimas são encaminhadas e acolhidas no abrigo Maria Aydeé Pizarro Rojas.

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CAPÍTULO I

CONCEITOS: GÊNERO, VIOLÊNCIA E CONDIÇÃO

FEMININA

1.1 A construção da perpectiva de gênero

A condição de submissão da mulher na História, remonta à Idade Média. Dentro deste contexto histórico, na Idade Média, uma das normas jurídicas da Índia era chamada de Código de Manu1, bastante rigoroso no que concerne aos direitos da mulher, estatuindo que "A mulher, normalmente, não podia depor, salvo nos

processos em que fossem indigitadas outras mulheres, ou então quando não houvesse outras quaisquer provas", sendo que neste caso, o valor do depoimento

da mulher era relativo, dispondo ainda que "Uma mulher está sob a guarda do seu

pai durante a infância, sob a guarda de seu marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela não deve jamais conduzir-se a sua vontade", descrevendo o papel da mulher como serva do seu marido, afirmando que

ela deveria idolatrá-lo em qualquer circunstância, ainda que o mesmo fosse destituído de virtudes, mesmo que este tivesse buscado “prazer” em outro lugar, asseverando que se ela não mantivesse uma reta conduta, estaria sujeita a severas sanções.

A preocupação de tal época era tamanha com relação a uma descendência masculina, que segundo o código:

“Aquele que não tem filho macho pode encarregar a sua filha de maneira seguinte, dizendo que o filho macho que ela puser no mundo, se tornará dele e cumprirá na sua honra a cerimônia fúnebre.” A inquietação dos hindus com a genetriz era tão grande a ponto de se dispor que: “Uma mulher estéril deve ser substituída no 8º ano; aquela cujos filhos têm morrido, no 10º; aquela que só põe no mundo filhas, no 11º; e aquela que fala com azedume, imediatamente." (op cit)

1

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Diante de tal conflito, sempre prevaleceu o interesse do dominador, ou seja, do homem, levando a sujeição das mulheres aos ditames que lhe foram impostos, atentando contra sua dignidade e direitos humanos, que não possibilitaram as mulheres decidirem livremente sobre o seu destino e interesses. Sobre isso, Gregori assinala que, a violência simbólica “é o equivalente a ideologia

machista: visão de mundo formulada pelo dominador com fins de produzir uma mistificação para garantir a complacência do dominado”2, sendo certo que a passividade das vítimas agrava o problema e justifica, por si só, a intervenção do Estado no conflito.

Tal, como os Hindus, os legisladores gregos e romanos demonstravam em suas leis, a supremacia dos homens sobre as mulheres. Na doutrina mulçumana, o alcorão revelava a deplorável situação da mulher, recomendando o alcorão o amparo às repudiadas, às viúvas, às parentas e inúteis, por caridade, não por direito e ainda asseverava que as mulheres deveriam baixar sempre os olhos.

No mundo ocidental a mulher aos poucos começou sua luta para libertar-se da submissão aos ditames masculinos, visando o reconhecimento a sua identidade. Nesse processo, grandes vitórias foram conquistadas, mas ainda são grandes as dificuldades enfrentadas pela mulher em nosso país, restando demonstrada a persistência da violência de gênero, razão da existência da Lei Maria da Penha.

A história da evolução do direito da mulher brasileira teve como ponto de partida importante a concessão do direito ao voto feminino, conquistado somente em 1932, sem falar que o Código Civil de 1917, que considerava a mulher casada incapaz do ponto de vista civil. E só foi modificado em 1962, sendo que após a Segunda Guerra Mundial, a partir de 1950, surgem as organizações feministas, que logo foram fechadas pelo golpe de 1964 e retomados em 1975, quando as mulheres fundaram o Movimento Feminino pela Anistia , quando a repressão, as torturas e o exílio de homens e mulheres marcaram os anos negros de nossa história. (Curso: Lei 11.340/2006 seus aspectos formais e materiais).

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GREGORI, M. F.,1993b. Cenas e Queixas. Um Estudo sobre Mulheres, Relações Violentas e a Prática

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Em relação ao trabalho, pode-se mencionar que a mulher esteve confinada dentro do lar por muito tempo, sendo encarregada dos chamados trabalhos domésticos, acumulando funções de esposa e mãe, sendo que o fato de ela deixar essas funções era visto com certa inquietação ou receio de que tivessem contato com pessoas do sexo oposto ou deixassem de lado os cuidados com os filhos e a casa.

Até a promulgação da atual Constituição Federal, a mulher casada necessitava de autorização do marido para trabalhar, embora fosse presumida tal autorização. Com a promulgação da CLT em 1º de maio de 1943, o trabalho da mulher foi minuciosamente regulamentado. Além de garantir os direitos gerais estabelecidos para todos os trabalhadores, assegurava à mulher proteção especial em função da particularidade de suas "condições físicas, psíquicas e morais". Era autorizado o emprego da mulher casada e, em caso de oposição do marido, ela poderia recorrer à autoridade judiciária. No entanto, de acordo com o pensamento predominante da época, permitia-se ao marido pedir a rescisão do Contrato de Trabalho da mulher, se a sua continuação fosse considerada ameaça aos vínculos da família ou um perigo manifesto às condições peculiares da mulher. (Curso: Lei 11.340/2006 seus aspectos formais e materiais).

Décadas de submissão e desigualdades, produziu uma espécie de empoderamento dos homens em relação às mulheres e junto com ele a idéia de que a mulher “sendo sua” estaria sujeita aos seus comandos e a todo tipo de violência, tidas como aceitáveis, ainda que de forma não expressa, sendo importante ressaltar que a violência de gênero não atinge somente mulheres, possuindo conceito mais amplo, abrange outras classes tidas como minorias sujeitas à maior incidência de delitos e discriminações, como por exemplo, crianças e adolescentes de ambos os sexos, idosos, negros e homossexuais.

Para a eliminação da perspectiva histórica, que tem a mulher como objeto de opressão, submissão e violência, acredita-se que é preciso formular uma política pública que contribua com a desconstrução dos papéis femininos e masculinos que se relacionam sob a ótica da força e do poder, estabelecendo assim, culturalmente, uma desigualdade de gênero. Esta categoria, segundo HEILBORN (1995), doutora em Antropologia

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(...) é um conceito das ciências sociais que se refere à

construção social de sexo. Significa dizer que a palavra sexo designa agora, no jargão da análise sociológica, somente a caracterização, anatomofisiológica dos seres humanos e a atividade sexual propriamente dita. O conceito de gênero existe, portanto, para distinguir a dimensão biológica da social. (...) O primeiro passo é entender a diferença entre gênero e sexo biológico. O sexo nasce com a gente, é natural,

anatômico; enquanto o gênero é construído. As sociedades, a cultura, as diferenças é que vão moldando os diferentes comportamentos

Portanto, o problema é que no processo de construção do ser homem e do ser mulher, diferenças entre eles acabaram por justificar as desigualdades. Então, a relação entre homem e mulher se estabeleceu a partir de uma construção social (valores culturais estabelecidos pelos membros de uma sociedade) que se particulariza no espaço e no tempo conforme as diversas sociedades. Portanto, criou-se uma lógica do papel social da mulher e do homem onde foi distinguido o que se cabe a cada um fazer, ou seja, definiram-se papéis para o sexo feminino e papéis para o sexo masculino.

Segundo Teles e Melo (2003 p.17), o termo gênero pode ser entendido como um instrumento, como uma lente de aumento que facilita a percepção das desigualdades sociais e econômicas entre mulheres e homens, que se deve à discriminação histórica contra as mulheres. Esse instrumento oferece possibilidades mais amplas de estudo sobre a mulher, percebendo-a em sua dimensão relacional com os homens e o poder.

“O conceito de violência de gênero deve ser entendido como uma relação de poder de dominação do homem e de submissão da mulher. Ele demonstra que os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os sexos e indica que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim do processo de socialização das pessoas”. (Teles 2003).

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Lamentavelmente, a relação de gênero, ao longo dos séculos, se fez valer pela valorização da força física e poder masculino sobre a mulher, distinção entre o homem e a mulher, tornou-se um problema, principalmente se traduzindo em desigualdade, opressão e violência contra a mulher. Esta é vista como sexo frágil, não somente pela constituição física, mas pelo desejo e cultura do homem, que como macho (biologicamente), precisa se impor diante do grupo social. E para isso, dominar ouro ser, com menos força.

A violência de gênero seria, portanto, a face mais cruel e visível da desigualdade entre mulheres e homens, posto que leva o homem que acredita ser superior à mulher a lhe controlar, subjugar, humilhar e agredir de diversas maneiras, o que ocorre, indiretamente em função de seu gênero.

Em pesquisa feita pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher3, a violência de gênero é concebida como resultado “das motivações que hegemonicamente levam sujeitos a interagirem em contextos marcados por e pela violência”. O trabalho ressalta ainda que a prática da violência doméstica e sexual emerge nas situações em que uma ou ambas as partes envolvidas em um relacionamento não ‘cumprem’ os papéis e funções de gênero imaginadas como ‘naturais’ pelo parceiro. Não se comportam, portanto, de acordo com as expectativas e investimentos do parceiro, ou qualquer ator envolvido na relação.

Segundo Teles & Melo (2002, p.19), “A violência de gênero pode ser entendida como violência contra a mulher, expressão trazida à tona pelo movimento feminista dos anos 70, por ser esta o alvo principal da violência de gênero”.

Dessa forma, enquanto um componente das relações de gênero, a violência entre homens e mulheres denota que ambos dispõem de parcelas de poder - ainda que prevaleça a hegemonia do poder masculino (SAFFIOTI & ALMEIDA, 1995) - que lhes permitem manter ou desencadear a violência a fim de assegurar a tradição dos papéis de gênero e a ordem patriarcal dominante, ou buscar transformar essas relações.

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Pesquisa Nacional sobre as Condições de Funcionamento das Delegacias Especializadas no Atendimento às

Mulheres, realizada pelo Conselho Nacional dos Direitos da mulher em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, sistematizou informações do atendimento referentes ao ano de 1999, no território nacional, em 267 delegacias de mulheres.

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A construção desta perspectiva de gênero representou um salto acadêmico no estudo da condição da mulher na sociedade. Porque a violência de gênero contra a mulher está de tal forma arraigada na cultura humana que se dá de forma cíclica, como um processo regular com fases bem definidas: tensão relacional, violência aberta, arrependimento e lua de mel. Os espaços de convívio sem violência vão se tornando cada vez mais restritos, insuportáveis, o que pode levar a um desfecho trágico e fatal.

A discriminação contra as mulheres viola os princípios de igualdade dos direitos de respeito às dignidades humanas, construindo obstáculos para o bem estar da sociedade e acima de tudo, o desenvolvimento da cidadania plena da mulher.

1.2 Violência x gênero: uma análise necessária

A ascensão da violência é uma questão cada vez mais evidente em diferentes âmbitos da sociedade, afetando todas as classes, grupos étnicos e religiões. Configura-se, assim, como um fenômeno social que causa dor, angústia e sofrimento.

O conceito de violência é algo intimamente articulado à história e à cultura da humanidade. Dessa forma, o que é concebido como violência para uma civilização, em uma determinada época, pode não significar o mesmo para outra, ou ainda, para alguns segmentos da população.

Hoje, a partir de uma perspectiva ampliada, entende-se como violência todo o ato que consciente ou inconscientemente ignore, impeça ou atente contra os Direitos Humanos e Cidadania, bem como, a submissão de uma pessoa a constrangimentos ou coação que a levem a fazer o que não deseja (ALVES, 1997).

Filomena Gregori, em seu livro Cenas e queixas, já chamavam a atenção para uma tendência, também, presente no discurso feminista no Brasil: a idéia de que as pequenas desavenças cotidianas podem levar o casamento ao limite do martírio ou aniquilação de uma das partes. (Gregori, 1993)

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O cenário da violência contra a mulher assume uma feição particular, uma vez que apresenta como sujeitos homens e mulheres envolvidos em relações afetivo-sexuais entre (ex) maridos, (ex) namorados ou (ex) companheiros no espaço doméstico.

Segundo o modelo feminista, a violência que afeta a mulher é, necessariamente, uma violência de gênero. E trata-se de um padrão de comportamento apreendido e, de várias formas, endossado pela sociedade.

As mulheres estariam vulneráveis aos abusos masculinos, em função da própria estrutura (patriarcal) do casamento e da atribuição de papéis de gênero, que facilitam a dependência de esposas em relação aos maridos, agravada pelo alto treinamento profissional e de creches disponíveis. (Kurz, 1993b)

A violência muita vezes é protegida pelo segredo, agressor e agredida fazem um pacto de silêncio, que livra o agressor da punição. Assim, estabelece-se um verdadeiro ciclo, a mulher não se sente vítima, o que faz desaparecer a figura do agressor. Mas o silêncio não gera nenhuma barreira a ele. A falta de um limite faz com que a violência se exacerbe.

O homem testa seus limites da dominação. Quando a agressão não gera reação, aumenta a agressividade. O vitimizador, para conseguir dominar, para manter a submissão, exacerba na agressão. Com isso, a reais vítimas são duplamente feridas: pelo ataque do outro e por aquele que impõe a si mesmas, na tentativa de negar uma realidade que só sua.

Também aqui a violência é vista como um fenômeno que atravessa todas as classes, ainda que os estratos mais pobres sejam mais vulneráveis do que os que estão em melhores condições. Como ela não se explica exclusivamente pelas relações de gênero, outras variáveis como status sócio-econômico, aceitação da violência e estresse, por exemplo, são igualmente consideradas.

Não se trata, assim, propriamente de um modelo estruturado, de um sistema explicativo. Antes, pode-se dizer que o que estamos chamando de paradigma da violência doméstica abrange um vasto conjunto de idéias e posições que não reconhecem o recorte de gênero como uma única explicação plausível, baseiam-se, ao contrário, em análises multifatoriais. (Soares, 1993)

É fundamental envolver toda a sociedade na busca de soluções para eliminar a violência contra as mulheres. Por isso, deve-se investir em ações

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preventivas e educativas que modifiquem comportamentos e padrões culturais machistas.

1.3 Direitos: um novo olhar sob a condição feminina

Um importante salto para a consolidação dessa Política se deu no dia 17 de agosto de 2007, com o lançamento do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Sem dúvida, o PPA como foi estruturado para os próximos anos demonstra o crescimento de um entendimento de que as desigualdades de gênero e raça são fatores estruturantes da exclusão social. Para perseguir a meta de reduzir essas desigualdades, o Governo Federal incluiu como um de seus objetivos estratégicos nesse PPA “fortalecer a democracia, com igualdade de gênero, raça e etnia, e a cidadania com transparência, diálogo social e garantia dos direitos humanos.4

O Pacto significa a concretude da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, pois trabalha todas as diretrizes da Política, principalmente o fortalecimento dos serviços da Rede de Atendimento às Mulheres em situação de Violência e a implementação da Lei Maria da Penha.

Segundo a Lei 11.340/2006, art.5º “Para os efeitos desta Lei configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como espaço de convívio permanente de pessoas, co ou sem vínculo familiar, inclusive esporadicamente agregadas.

II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa.

III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

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As nações unidas definem violência contra a mulher “como:” Qualquer ato de violência baseado na diferença de gênero, que resulte em sofrimentos e danos físicos, sexuais e psicológicos da mulher, inclusive ameaças tais atos, coerção e privação da liberdade seja na vida pública ou privada.”

Em face da importância do tema em toda sua amplitude, não se podia mais admitir que a violência de gênero, transvertida na sua forma mais comum: de violência doméstica familiar, fosse tolerada social e legalmente, ao ser tratada como infração de menor potencial ofensivo, sob a lei 9.0099/95, uma vez que merece ser analisada de maneira vasta, prevendo-se todas as suas tristes seqüelas, dando-s ao tema importância própria e peculiar, conforme previsto pela Lei Maria da Penha.

A Lei “Maria da Penha” (Lei 11.340/2006) é integralmente congruente com todos os princípios da Constituição da República. É também decorrente da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contras as Mulheres e da Convenção Interamericana, e tem, entre nós, o abrigo das providências determinadas pelo Conselho Nacional de Justiça, à luz da Emenda Constitucional 45/2004, especialmente na Resolução 09/2007.

Principais avanços da Lei

• Tipificação da violência doméstica e familiar contra a mulher: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral;

• Criação dos Juizados ou Varas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para julgar os crimes, com atendimento multidisciplinar;

• Criação de novas Defensorias Públicas da Mulher;

• Abertura de inquérito policial composto por depoimentos da vítima, do agressor e de provas documentais e periciais;

• Prisão em flagrante do agressor; • Prisão preventiva do agressor;

• Medidas protetivas de urgência (suspensão do porte de armas, afastamento do agressor do lar, suspensão de visitas aos filhos etc.);

• Inclusão das mulheres em programas oficiais de assistência social; • Atendimento à mulher em situação de violência por serviços articulados em rede, incluindo saúde, segurança, justiça, assistência social, educação, habitação e cultura.

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A Lei 11.340/06, batizada de Lei Maria da Penha, não recebeu esse nome por acaso. Maria da Penha Maia é uma biofarmacêutica que, durante 20 anos, lutou para ver seu algoz condenado. O que revela que a violência doméstica é algo que não ocorre só nas classes baixas, mas em qualquer nível sócio-econômico. Este episódio ainda traz consigo o fato de o ex-marido da bioquímica Maria da Penha Maia ser um acadêmico.

A lei não se trata de um direito penal de gênero e sim de efetivo direito que protege a vítima. Também nela não se edifica direito penal do inimigo, uma vez que o sujeito ativo, no caso, etiquetou-se como agressor, e o fez por si próprio, no curso da História, dos fatos e das leis. Além disso, cumpre ponderar que não houve criação de tipos penais novos.

Segundo Dias (2007), “A Lei Maria da Penha veio atender compromissos assumidos pelo Brasil ao subscrever tratados internacionais que impõem a edição de leis visando assegurar proteção à mulher. A violência doméstica é a chaga maior da nossa sociedade e berço de toda a violência que toma conta da nossa sociedade”.

A legislação precisa ser incorporada ao cotidiano dos serviços de atendimento à mulher em situação de violência. É necessário romper os padrões culturais estabelecidos e mudar rotinas no âmbito do aparelho policial e judiciário.

A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) realizou um levantamento, de outubro de 2008 a maio de 2009, sobre como as autoridades policiais e judiciárias lidaram com as determinações da nova legislação durante este período. Foram coletados dados por meio de diferentes mecanismos como a Ouvidoria da SPM5, o Ligue 180 e, sobretudo, junto aos serviços da Rede de Atendimento à Mulher.

5

A Ouvidora é um espaço de escuta qualificada que atua de forma articulada com outros serviços de ouvidoria de todo o país, encaminhando os casos que chegam para os órgãos federais, estaduais ou municipais competentes. Também proporciona atendimentos diretos sobre os mais diversos assuntos, com foco no enfrentamento à violência contra a mulher.

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CAPÍTULO II

TIPIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

2.1 Violência psicológica

A violência psicológica inclui todas as condutas ou ações que tenham como propósito ofender, controlar e bloquear a autonomia de outro ser humano, seu comportamento, suas crenças e decisões. Pode ocorrer por meio de agressão verbal, humilhação, intimidação, desvalorização, ridicularização, indiferença, ameaça, isolamento, controle econômico ou qualquer outra conduta que interfira nesse direito básico de autodeterminação e desenvolvimento pessoal.

O crime de ameaça pode ser considerado também uma forma de violência psicológica que produz, muitas vezes, um efeito mais perverso, pois pode destruir a vontade, o desejo e a autonomia da outra pessoa. A vítima fica desamparada porque ninguém leva a denúncia a sério o suficiente para que medidas factíveis sejam tomadas. (Teles & Melo, 2002 p.48)

A violência psicológica inclui todas as condutas ou ações que tenham como propósito ofender, controlar e bloquear a autonomia de outro ser humano, seu comportamento, suas crenças e decisões. Pode ocorrer por meio de agressão verbal, humilhação, intimidação, desvalorização, ridicularização, indiferença, ameaça, isolamento, controle econômico ou qualquer outra conduta que interfira nesse direito básico de autodeterminação e desenvolvimento pessoal.

O Ciclo da Violência compõe-se, segundo o modelo feminista, de três fases distintas. Na primeira fase, a de construção de tensão, podem ocorrer incidentes menores, tais como agressões verbais, ciúmes, ameaças, destruição de objetos e etc. Nessa fase, de duração indefinida, a mulher geralmente tenta acalmar seu agressor, mostrando-se dócil, prestativa, capaz de antecipar cada um de seus caprichos ou, simplesmente, saindo de seu caminho. Ela acredita que pode fazer algo para impedir que a raiva dele se torne cada vez maior.

Atribui a si própria a responsabilidade pelos atos do marido e desenvolve, através desse mecanismo (evidentemente não consciente), um processo crescente de auto-acusação. (Soares, 1999, p.135)

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De maneira geral, a violência psicológica está sempre presente na violência física e sexual contra a mulher, sobretudo na violência doméstica, quando o agressor é um membro da família. Neste contexto o agressor vai minando a auto-estima da mulher, anulando ou desclassificando suas emoções, desvalorizando suas realizações e ridicularizando-a em casa ou na rua.

Uma lesão é um dano, portanto uma lesão psicológica é um dano emocional, que não deixa marcas visíveis por fora, mas se sente por dentro.

2. 2 Violência física

A violência e agressividade não têm o mesmo significado, nem são próprios de um sexo. Enquanto a agressividade pertence ao mundo animal e instintivo, a violência possui uma natureza social, cultural e humana. Conforme Arendt (1985), a violência não é animalesca nem irracional, pois ódio e violência não são reações automáticas ao sofrimento. Ao contrário, elas surgem da razão, que procede a tipificação de uma situação como violência ou não-violência.

No pensamento de Arendt (1985) a violência é uma manifestação do poder, tendo um caráter instrumental e estando a ele subordinado, pois necessita de uma base de justificação no poder constituído: “tudo depende do poder por detrás da violência” (ARENDT, 1985, p.26). Para ela, o poder, pelo fato de pertencer ao grupo, não precisa de justificativas, mas da própria legitimidade da sociedade. Por isso, na sua definição há uma supremacia do poder sobre a violência.

A idéia de Arendt de que “a violência é a expressão da impotência” foi desenvolvida numa abordagem feminista que articula o processo de exploração que atinge a maioria dos homens no interior das relações sociais, e que para compensar o massacre de que são vítimas nesse ordenamento social, os homens procuram resolver seu sentimento de impotência demonstrando poder nas relações de gênero, praticando atos de violência contra mulheres e crianças.

Mas temos que fazer uma ressalva a idéia de Arendt a respeito dessa sua afirmação de que a violência seja o último recurso para manutenção de qualquer forma de poder. Os estudos sobre a problemática da violência doméstica praticada contra a mulher têm revelado que ocorre uma rotinização e cronificação da violência

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no cotidiano familiar, funcionando como um recurso auxiliar e permanente, e não o último, na legitimação do poder patriarcal.Melhor seria afirmar que, em face de qualquer ameaça ao poder masculino ou a ordem de gênero dominante, a violência (seja ela física, sexual ou emocional), se apresenta como um instrumento, muitas vezes o primeiro, de manutenção da subordinação feminina.

Na verdade, as definições de Arendt não podem ser tomadas de forma descontextualizada, como se fossem dadas por si mesmas.

Ao observar que os vestígios da noção tradicional de privação em nossa civilização tem a ver com ‘necessidades’, Arendt nos permite entender a dominação feminina, explicada a partir de um olhar naturalizado sobre o lugar da mulher no mundo doméstico, na reprodução e nas tarefas voltadas à garantia da sobrevivência do núcleo familiar.Nessa perspectiva, a violência praticada contra a mulher encontra eco na visão negativa do privado como espaço das necessidades e associado à mulher.

De acordo com art.7º da Lei 11.340/2006:

I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade corporal ou saúde corporal;

A violência física contra a mulher acontece após o primeiro ciclo, que já apresentamos neste estudo, da violência psicológica e ocorre propriamente caracterizada pela descarga incontrolada das tensões do agressor contra a vítima, que passa a usar a violência física para controlar, reprimir e exigir subordinação da mulher. A agressão física contra a mulher trata-se de violação que acarreta sérios danos à saúde física e psíquica das vítimas e, como tal, exige intervenção estatal coordenada e multidisciplinar. Para tanto, é preciso evidenciar as agressões domésticas, tornar pública e palpável a relação de poder imposta mediante violência no lar.

2.3 A VIOLÊNCIA SEXUAL

Está previsto nos artigos 213 a 234 do Código Penal Brasileiro, que a violência sexual, deve ser entendida como qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, manter ou a participar de relação sexual não desejada,

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mediante intimidação, ameaça coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, tratando dos crimes contra a liberdade sexual e contra os costumes. Tais como forçá-las à prática de relações sexuais (com ou sem violência real), quando a mulher não consinta ou não deseje naquela ocasião; forçar a mulher à prática de atos que lhe causem desconforto ou repulsa.

Uma das explicações para isto é que, historicamente a mulher tem sido vista como objeto, e propriedade do homem e os seus direitos como pessoa e cidadã colocados em segundo plano. Sendo vista como objeto, o desejo da mulher não é respeitado e é isto que fica evidente nos crimes sexuais; eles mostram o extremo desrespeito ao direito da mulher dizer “não” a um desejo do homem.

A violência sexual pode resultar em vários problemas de saúde para a vítima; lesões corporais, doenças sexualmente transmissíveis – inclusive a AIDS, transtornos emocionais e gravidez indesejada. Em casos extremos, a violência sexual pode mesmo resultar na morte da vítima.

Devemos começar a discutir o estupro doméstico, já que ele consiste numa agressão tão brutal quanto às demais formas. Não é pelo fato da mulher ser casada, que ela tem de “servir” o marido quando não o deseja – o casamento não implica em prioridade da mulher pelo homem. Ela tem o direito de dizer “não” e ser respeitada. É essencial que a mulher comece a reconhecer o estupro doméstico como “estupro de fato” e possa lutar pela sua punição legal.

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CAPÍTULO III

ROMPENDO O CICLO DA VIOLÊNCIA: CHEGADA AO

ABRIGO

3.1 investindo na prevenção

É preciso investigar as possíveis causas dos conflitos para que assim, se consigam evitar agressões futuras, detendo os danos causados às mulheres vítimas e, conseqüentemente, favorecendo uma qualidade de vida e uma melhora nas relações familiares (Ministère de la Securité Publique, 1993, citado por

CABRAL, 1999).

Para se alcançar o que foi exposto acima, é preciso classificar três tipos de prevenção:

1 - Prevenção Primária: Busca favorecer alternativas democráticas no setor de saúde que enfatizem medidas educativas nas escolas e em casa, a fim de se promover o respeito aos direitos das pessoas, as responsabilidades individuais e o respeito às diferenças.

É preciso favorecer as relações de igualdade entre homens e mulheres, estabelecendo divisões de trabalhos domésticos e o extermínio dos pensamentos que reforçam que o homem deve ser sempre o mais forte emocionalmente. Se homens e mulheres exercem funções similares, o valor de seus salários deve ser igual. Assim, estar-se-á promovendo a cidadania (Ministère de la Securité Publique, 1993 – citado por CABRAL,1999 ).

2 - Prevenção Secundária: Busca ajudar as mulheres já agredidas pelos seus companheiros. Em primeiro lugar, é preciso que todos os recursos para a prevenção à violência sejam uma prioridade nacional, estadual e municipal. Portanto, folhetos, cartazes, programas de rádio e campanhas pela televisão podem ensinar as pessoas a reconhecer o comportamento violento, além de fornecer informações sobre a maneira de apresentar queixas e promover mudanças nas relações entre os casais.

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Uma vez a mulher tendo sofrido agressão, precisa saber que providências deve tomar, ou ainda onde ela deve recorrer. Portanto, as delegacias da mulher devem ter profissionais capacitados para oferecer orientações, por telefone ou pessoalmente, de como a vítima de violência doméstica deve proceder.

É fundamental a capacitação das(os) funcionárias(os) das delegacias

especializadas para o atendimento destes casos, cabe salientar a importância de um trabalho de perspectiva ampla que requer um treinamento dos profissionais da área da saúde para que eles possam detectar os riscos da violência e identificar as possíveis vítimas de violência familiar, saber como acolhê-las e como encaminhá-las adequadamente para assistência social, psicológica e jurídica. Isso se faz necessário porque é muito comum as mulheres agredidas procurarem os serviços de saúde quando percebem algum sintoma ou agravo de saúde. Preocupadas, elas buscam ajuda para sanar os sintomas, mas não contam o que os desencadeou e, assim, a ajuda fica restrita ao tratamento de sintomas como palpitações, insônia, ansiedade, nervosismo etc.

Vale ressaltar a importância de se promoverem cursos e conferências, orientando os médicos, ginecologistas, plantonistas de serviços de emergência para

diagnosticar e notificar os casos de mulheres vítimas de violência doméstica (Ministère de la Securité Publique, 1993 – citado por CABRAL, 1999).

É importante salientar o quanto as funcionárias das delegacias precisam de apoio psicológico para que elas possam bem desempenhar as suas funções.

3 - Prevenção Terciária: é preciso conscientizar as mulheres que sofrem violência doméstica, em particular, de que notificar tais atos é fundamental para que se possa reduzir a ação dos agressores. Para que possa ocorrer a redução das agressões é preciso que haja um aumento das penalidades, que os agressores sejam responsabilizados por seus atos, para que, assim, as mulheres vítimas não tenham a sensação de que nada vale denunciar. (TELES, 2001).

Portanto, é necessário encorajar as vítimas a denunciarem e a não abandonarem os processos criminais. Para isso, elas devem receber assistência jurídica, psicológica e ajuda de assistentes sociais.

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Uma vez detectado que mulheres vitimadas estão em situação de risco de agressões mais graves, a conduta é afastá-las do lar, colocando-as em abrigos provisórios, com assistência médica, social e psicológica. (OLIVEIRA et al. 1984 ).

Prevenir a violência doméstica não é uma tarefa simples, mas se tivermos a execução de medidas efetivas, multidisciplinares e multidiretivas, vindas das áreas médica, jurídica, econômica, social e de líderes comunitários, poderemos colaborar para a diminuição destas ocorrências em nosso país (CABRAL, 1999).

3.2 DEAMS: Fruto da luta da mulher

Na década de 80, como conquista da luta contra a violência, foram instituídas as Delegacias de Polícia de Defesa da Mulher. A primeira Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) foi criada em São Paulo, em agosto de 1985, pelo governo Franco Montoro (PMDB), sob pressão do movimento de mulheres e do Conselho Estadual da Condição Feminina (Saffioti, 1994). Imediatamente, outras 152 foram instaladas, sendo que mais da metade delas no Estado de São Paulo e as demais principalmente nas capitais de outros estados. Embora a grande concentração das delegacias tenha permanecido no Estado de São Paulo a existência do serviço quase restrito às capitais, houve uma evidente influência no sentido de um incremento de registro de ocorrências policiais em todo o Brasil.

Em depoimento no Seminário Nacional Preparatório à Conferência de Pequim no tema Violência Contra a Mulher (1994), a Delegada Suzana Maria Ferreira, da seccional de Monte Aprazível/SP, revelou: “na verdade, as DEAMs já nasceram discriminadas. A primeira foi criada em 1985 (...) Neste momento começou a surgir a discriminação das mulheres, porque nossos colegas passaram a ver na aprovação das delegadas e na criação das DEAMs uma perda de espaço(...) A DEAM não é uma luta das delegadas de Polícia. A DEAM é fruto do movimento de mulheres(...)Só que o movimento de mulheres não passou às delegadas a importância desta luta(...)” Outro depoimento no mesmo Seminário, da antropóloga Maria Luiza Heilborn, agrega elementos a esta análise, do ponto de vista feminista: “(...) algumas mulheres, particularmente as mulheres de camadas populares, vão às delegacias da mulher fazer a sua denúncia (...) mas o que se deseja não é uma

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processo, uma queixa-crime contra o marido, mas se reivindica a intervenção de uma autoridade que possa regular as relações domésticas.”

Inicialmente, depositou-se sobre as Delegacias (Camargo, 1997) a expectativa de constituírem-se em uma resposta global no enfrentamento ao problema da violência doméstica.

Paralelamente, reuniu-se uma proposta crítica para reformulação dos Códigos Civil e Penal e que representa o reconhecimento da cidadania feminina em temas como a organização da família; as regras de matrimônio; direitos iguais à administração de bens e responsabilidades na sociedade conjugal; o respeito à integridade física e à vontade da mulher nos casos de violência sexual, precedendo os interesses morais de quem quer que seja; a eliminação de dispositivos abertamente injustos como a virgindade da mulher como qualidade essencial de pessoa, a expressão mulher

honesta, e de figuras criminais como o adultério, sedução; a inclusão do assédio

sexual como crime relativo ao uso de poder do agente sobre a vítima por cargo, profissão ou atividade religiosa, entre outros. As alterações conquistadas vieram a reforçar a luta contra a discriminação. Mas são ainda insuficientes os meios legais e precisam ser ampliados.

A implantação das Delegacias teve impacto positivo na visibilização da violência contra a mulher, no aumento das denúncias, mas também seus limites. Se operadas de forma isolada e sem os elementos necessários à qualificação do atendimento dispensado à mulher, levam à chamada rota crítica: exposição da vítima a novas agressões, por debilidades dos sistemas protetivos; isolamento social e constantes deslocamentos visando à fuga da perseguição iniciada pelo agressor.

“A DEAM, além de trazer os números a público, trouxe uma discussão política sobre a violência contra a mulher. Os números alarmantes fizeram com que a violência entrasse na pauta das discussões políticas (...) Por outro lado, vejo a década de 90 como a da decadência das Delegacias(...)”

Este depoimento da delegada Suzana Maria Ferreira (SP), em 1994 deve ser tomado mais do que como um alerta, como um chamado à ação.

O conflito entre a expectativa elevada de parte da sociedade e dos movimentos sociais organizados, objetivos difusos, falta de aparelhamento,

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insuficiências da legislação, colocaram as Delegacias da Mulher frente a importantes impasses. Ao implantarem-se as Delegacias, na ausência de outros serviços para o atendimento às demandas complexas nas situações de violência doméstica, muitos foram os papéis a elas atribuídos. Estes papéis nem sempre se adequavam aos objetivos para os quais foram preconizadas e estavam equipadas. De outro lado, a ausência de capacitação para o manejo profissional em esfera pública das situações de violência e a convicção de que a denúncia desencadeava automaticamente a resolução da situação, colocaram as Delegacias como alvo de críticas do movimento feminista, sem que estivessem dadas as possibilidades para um melhor funcionamento do serviço.

Retomando e avaliando a experiência da implantação das Delegacias, na década de 80, na denúncia à resolução da situação de violência, oferecia-se a ação policial como primeiro recurso, e mesmo único, dada a inexistência de outros recursos e serviços. A Delegacia, que deve ser um recurso específico à responsabilização criminal do agressor, desdobrando-se em providências judiciais, esgotava-se como única alternativa. Deste processo gerou-se um aumento crescente de denúncias, no entanto, confrontamo-nos socialmente com a falta de recursos no respaldo às vítimas na área social, de saúde e mesmo jurídicos. De outro lado, sendo a queixa policial desencadeadora de todo um processo judicial, e estando como primeiro e único recurso, rapidamente evidenciou-se a ambigüidade da mulher.

Esta ambigüidade não teve lugar nas delegacias, e a tradução social veio fortalecer a representação de uma mulher que não sabe o que quer frente à violência, gosta de apanhar e tantas outras interpretações daí surgidas.

A solução positiva a este limite é a constituição de uma rede de serviços e parcerias que, integralmente, aporte os recursos necessários ao enfrentamento da violência doméstica e de gênero.

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3.3 Abrigos: Acolhimento das mulheres vitimizadas

O projeto do abrigo já existia anteriormente em outro endereço, mas nesta época ainda não havia assessoria jurídica e nem pedagógica. O abrigo não era de caráter sigiloso, e assim não transpassa segurança para as mulheres vítimas de violência e nem para a equipe que trabalhava no local. Atualmente, neste novo local que se encontra o abrigo Maria Haydée Pizarro Rojas é um local seguro e sigiloso, que oferece proteção às mulheres, suas filhas e filhos com até quatorze anos de idade, em situação de risco social.

No município do Rio de Janeiro existe apenas este abrigo, vinculado ao Rio Mulher, sendo uma assessoria Especial do gabinete do Prefeito. E assim tornando-se, apesar de não formalizado como tal, um programa de políticas públicas de prevenção, assistência e combate à violência contra a mulher. E mesmo que haja mudanças políticas no cenário do município, o trabalho não corre o risco de acabar, porque outra secretaria deve assumir o abrigo, e provavelmente seja a Secretaria de Assistência Social.

Para ser inserida no Abrigo, a mulher necessariamente precisa ter o relatório de ocorrência (R.O). E em caso de transferência para outro abrigo também é necessário o relatório de ocorrência. Na triagem, a equipe procura não receber mulheres co problemas psíquicos, porque a casa tem estrutura para recebê-las.

É relevante sinalizar que o objetivo central do projeto de abrigamento é retirar esta mulher da situação de violência em que se encontra no momento, e prestar assistência a essa mulher agredida. Porque quando a mulher violentada denuncia o agressor, em geral, esta não pode retornar à sua casa por medo. Assim, logo a casa se torna um importante caminho para que as mulheres recuperem a sua auto-estima, através de acompanhamento jurídico, pedagógico, psicológico e social necessário para retornarem as suas vidas normais.

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3.3.1 Caracterização da Casa

Há uma estrutura na casa que consiste em:

• Uma cozinha equipada (2 cozinheiras, onde o quadro de tarefas muda a cada semana)

• Uma lavanderia para educadores sociais • Uma lavanderia para as mulheres

• Um banheiro para as mulheres e adolescentes • Um banheiro para as crianças

• Um banheiro para os funcionários • Um refeitório e sala de televisão • Um berçário

• Diversos brinquedos em área externa, no segundo andar • Um salão para execução das atividades

• Uma biblioteca

• Uma sala de vídeo destinada às crianças, equipada com TV e DVD • Uma sala destinada aos educadores sociais

Os quartos são divididos por cores (verde, azul, amarelo e rosa) e equipado com camas-beliche, berços e armários. E cada quarto comporta três famílias. Como a Casa-Abrigo é de total sigilo, a casa foi estruturada para que a movimentação das pessoas e a divisão de cômodos seja totalmente interna à entrada da casa. Porque as mulheres que se encontram no abrigo, não podem ter acesso à frente da casa. É uma forma de protegê-las e não expô-las ao perigo, pois a frente da casa é uma área semi-aberta.

O processo de abrigamento da mulher dura m média de três à quatro meses, tendo exceções em caso de gravidez.

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3.3.2 Rotina da Casa

Nos ambientes da casa, elas exercem várias atividades, desde ajudando na manutenção da limpeza dos quartos e banheiro como também fazendo cursos de alfabetização, tapeçaria, terapia com música e ginástica. Evita-se a ociosidade e busca-se uma harmonização na convivência diária da casa. Pois, compreende que a harmonia na casa entre as mulheres é de vital importância, porque havendo algum desentendimento entre as mulheres, medidas serão tomadas para encaminhá-las a outro abrigo. Caso a mulher abrigada expresse um desejo de sair do abrigo, não mais terá acesso a casa. Se houver nova denúncia de violência, ela será encaminhada para outros abrigos da cidade. A equipe técnica da casa se mostra favorável ao diálogo com o agressor desde que este, se coloque de forma acessível.

A assistência médica é feita pelo posto de saúde e um hospital que se encontram próximos ao abrigo. As mulheres e crianças que necessitem de atendimento médico sairão sempre acompanhadas pelas educadoras sociais. Na época em que havia o apoio à moradia, existia uma monitoração por parte da Assistente social, que fazia visitas as casa onde as mulheres passavam a habitar. Esse processo tinha duração de um ano e sempre com a concordância da mulher.

Logo que chega na Casa, a mulher tem acompanhamento psicológico, visto que muitas vezes chegam em estado de depressão e com a estima muito baixa. Essas mulheres são vítimas de vários tipos de violência, incluindo o estupro. Que de imediato, são levadas ao ginecologista. Desde o começo do projeto só houve dois casos em que mulheres contaminadas pelo vírus HIV chegaram ao abrigo, e tudo correu bem em sua estada na casa.

As mulheres que chegam ao abrigo, muitas vezes saem fugidas de seus agressores, somente com a roupa do corpo. Para sanar tal problema, na casa existe um pequeno bazar com roupas e objetos de uso pessoal que são levados através de doações. São feitos corte de cabelo, maquiagem e cuidados pessoais, para que essa mulher sinta-se melhor com sua aparência, pois algumas chegam bastante machucadas.

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E observa-se que há uma melhora bastante sensível em sua auto-estima que favorece a rearfimação do desejo de modificar a sua situação e colocando-a como principal agente nas tomadas de decisão da sua vida de então.

Quando se inicia a fase de motivação, a equipe que trabalha junto à assistente social não tem conhecimento aprofundado sobre os casos que chegam. Sabem que, a partir da entrada da mulher na casa caracteriza-se um quadro de violência extrema. E o motivo do não conhecimento profundo dos casos, é para não ocorrer a vitimização por parte da equipe com relação com relação à mulher. O sentimento de pena pode gerar diminuição no processo de superação desta mulher.

3.3.3 Trabalho da Equipe Multiprofissional Complementar

A Casa – Abrigo Maria Aydée Pizarro Rojas oferece orientação e assistência social, psicológica, pedagógica e jurídica com atendimentos individuais e em grupos.

Portanto, o Abrigo para o desenvolvimento do trabalho, além da equipe técnica acima, conta com

• 8 educadores sociais, em regime de plantão

• 3 professoras (sendo que duas assistem as crianças de 3 à 4 anos, e 1 é berçarista que assiste à crianças de 3 até 6 anos.)

• equipe de serviços gerais • um motorista

• equipe de segurança

A psicóloga trabalha os sintomas e as seqüelas dos espancamentos que muitas vezes aconteceram por longo período. A profissional relatou que o sentimento mais forte nessas mulheres é o de dar fim em toda a opressão, por parte do companheiro e o desejo de retornar a sua própria vida.

Há casos ainda, de algumas mulheres que já se encontravam separadas destes companheiros e já residiam em outro domicílio quando foram agredidas. E em qualquer circunstância, as seqüelas são graves gerando

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profissional acredita que elas podem ficar livres destes sintomas se trabalharem o que elas viveram.

Ainda, a psicóloga orienta toda a equipe da casa, inclusive os funcionários, como tratar as mulheres e as crianças que chegam. Os funcionários tomam conhecimento dos traumas que elas sofreram e assim aprendem a lidar com essa situação, muitas vezes levantando a estima delas para conseguirem ultrapassar todas as experiências negativas.

Algumas mulheres levam algum tempo para relatar os abusos sexuais, outras já se sentem à vontade para falar assim que chegam a casa.

E quando há casos mais graves como distúrbios emocionais, são encaminhadas para acompanhamento fora do abrigo.

Na mediada do possível são organizados grupos terapêuticos, pois estes grupos são bastante heterogêneos e apesar da violência ser um ponto comum, os casos são muito diversos e devem ser tratados de forma singular em cada caso. Principalmente porque as mulheres apresentam um nível alto de stress por não poderem sair da casa no período de abrigamento.

Todavia, a equipe técnica do abrigo busca preparar essa mulher para o mercado de trabalho, para que assim, ela consiga subsídios para voltar a sua família de origem, quando é o desejo da vítima. Também a inclusão das mulheres em curso profissionalizantes e de aumento de escolaridade.

A atuação da advogada da Casa-Abrigo consiste em oferecer atendimento jurídico na forma de encaminhamento para a defensoria pública e orientação quanto aos direitos da mulher. Após a mulher ter passado por uma delegacia e ter colocado de forma pública o que antes era privado, terá em seu poder um relatório de ocorrência. Então, é aberto um processo na vara de família e as audiências serão acompanhadas pela assessoria jurídica do abrigo. Busca-se na primeira audiência uma proposta de reconciliação.

No abrigo, a mulher é estimulada a responsabilizar o seu agressor. Mas quando esse agressor é de alguma forma ligado a criminalidade (tráfico homicídios) para assegurar não apenas a integridade física da vítima como também, da equipe técnica do abrigo, essa mulher infelizmente é orientada a desistir do processo de acusação.

(35)

Já a pedagoga é a responsável por acompanhar e incentivar o desenvolvimento educacional dos filhos das mulheres abrigadas através do contato com professores e orientadores da escola.

Assim como, as mulheres abrigadas, na chegada à casa, as crianças entram no processo de adaptação do ambiente para se sentirem protegidos.

Por isso, a pedagoga trabalha com atividades artísticas por acreditar que seja a melhor forma das crianças externarem a violência vivida e também, possam ser um caminho para superar possíveis traumas. Nos desenhos fica expressa toda a violência que receberam ou presenciaram.

Dessa forma, torna-se um facilitador para a equipe multiprofissional trabalhar a superação das marcas das agressões físicas e psicológicas que acometem tais crianças.

Todas as atividades da casa são com horários estabelecidos. A pedagoga organiza uma agenda de atividades lúdicas junto com a equipe de professores e educadoras sociais da casa. Estas atividades são organizadas mensalmente e ficam sob a supervisão da pedagoga, que recebe semanalmente relatórios sobre o comportamento das crianças assistidas. Neste relatório são apresentadas as observações sobre a violência praticada na criança e se causou seqüelas físicas e mentais.

As crianças, diferentemente das mulheres geralmente saem para passeios acompanhadas pela pedagoga e pelos educadores sociais. A pedagoga acredita que elas não possam ficar em estado de confinamento, pois isso agravaria seu estado psicológico. As crianças estudam em uma escola municipal próxima ao abrigo e são levadas sob a supervisão das educadoras sociais. Estas são responsáveis por acompanhar toda e qualquer atividade interna e externa a Cãs-Abrigo.

A assistente social além de acompanhar e orientar o trabalho dos educadores sociais no que tange ao trabalho junto às mulheres e as crianças; realiza entrevista com as mulheres que chegam a casa e tem a função principal de assessorar a Diretora da Casa-Abrigo. Desta forma, contribui no monitoramento da casa. A direção da casa está sob a responsabilidade de uma pedagoga, com isso

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3.3.4 Perfil das mulheres atendidas na Casa-Abrigo

Pretende-se através das categorias idade, etnia, estado civil e escolaridade caracterizar as mulheres abrigadas na Casa-Abrigo Maria Aydée Pizarro Rojas. Tais categorias foram definidas a partir das fichas de identificação/sociais da Casa-Abrigo utilizadas no primeiro momento que as mulheres chegam a casa e são entrevistadas pela assistente social. Acredita-se que tais categorias não esgotam o perfil das mulheres abrigadas, porém vale sinalizar que foram estes dados disponíveis nas fichas que possibilitaram identificar um pouco as referidas mulheres. Os dados pesquisados nas cento e quarenta e oito fichas no período de 2003 até o ano de 2006 serão apresentados em formato de gráficos. Em um total de seis gráficos que servirão para visualizar nitidamente cada categoria pesquisada.

É relevante sinalizar que apesar da casa objetivar receber quatorze mulheres, há uma média anual de trinta e sete mulheres que ficam em estado de abrigamento. Portanto, teve-se acesso respectivamente em cada ano a 40, 35, 49 fichas; somente em 2006 foram 24.

3.3.4.1 – Idade

A Casa-Abrigo tem o propósito de receber até quatorze mulheres maiores de idade, com até três filhos para cada mulher. No geral a faixa etária varia entre 20 e 30 anos. Sendo com uma ordem judiciária, o abrigo poderá receber acima dessa faixa etária.

Constatou-se através das 148 fichas pesquisadas, que a idade das mulheres varia entre 18 e 58 anos, tendo uma maior incidência de abrigamento de mulheres com idade entre 18 e 28 anos. Estas representam 45% do total pesquisado, correspondendo a 73 mulheres que passaram pela casa durante os últimos quatro anos. Em seguida registra-se um percentual de 32% (50 mulheres) no intervalo entre 28 até 38 anos. Verificou-se que 18% das mulheres abrigadas estavam em idade entre 38 e 48 anos.

Percebeu-se que se acentua o percentual no intervalo de idade que são mulheres jovens que sofrem violência e que estiveram /estão em situação de risco de vida. Observa-se uma queda no abrigamento de mulheres a partir dos intervalos de idade entre 48 à 58 anos(4%) e 58 até 68 anos(1%).

(37)

Gráfico - 1

3.3.4.2 Etnia

Sabe-se que o Brasil é um país de mestiços, portanto identificam-se das mulheres ao declarar a etnia às origens afro-descendentes. Das fichas consultadas destacou-se 47% (68 mulheres) como cor parda, 26%(39 mulheres) como cor branca, 22%(33 mulheres) cor negra e 5% (8 mulheres) não informaram sobre a etnia.

Gráfico – 2 3.3.4.3 Estado civil

Ao abstrair os dados das fichas sociais observou-se que as mulheres em estado de união estável foram registradas como mulheres solteiras. Constatou-se que 79% (correspondem a 117 mulheres) das mulheres que passam pelo

0

5

10

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20

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45% 32% 18% 4% 1% 18-28 28-38 38-48 48-58 58-68 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 5% 47% 26% 22% EGRA BRACA PARDA Ñ IFORMADO

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abrigo no período de 2003 a 2006 são solteiras no que se refere à formalidade do casamento. Pois em sua maioria tem filhos e mantiveram uma relação conjugal com o agressor. E apenas 15%(22 mulheres) são casadas, tendo registro de duas (1%) mulheres separadas e 5% (7 mulheres) não se encontrou informações sobre a condição do estado civil.

SOLTEIRA CASADA DIVORCIADA NÃO INFORMADO C Gráfico – 3 3.3.4.4 Escolaridade

O nível de escolaridade das mulheres que sofrem ou sofreram algum tipo de violência se constitui como baixo. Pois se verificou que 31% (42 mulheres) das mulheres portam ensino fundamental incompleto e 25% (33 mulheres) tem o ensino fundamental completo.

Apenas 20% (27 mulheres) concluíram o ensino médio e 6% (8 mulheres) tem o ensino médio incompleto. Dentre os dados levantados nas fichas encontraram ainda, 1% (1) com nível superior completo, 7% não alfabetizadas e 10% não houve registro de escolaridade. 0 20 40 60 80 100 120 79 15 1 5

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Sabe-se que as mulheres com um maior nível de escolaridade não tem coragem em solicitar proteção de um abrigo. No geral são as mulheres de poder aquisitivo mais baixo que buscam ajuda e depois de muito sofrimento fazem a denúncia do agressor. Estas ficam mais vulneráveis, pois são dependentes dos maridos economicamente, não tem fácil a informação, tornando-se, também afetivamente dependentes e oprimidas.

Em sua maioria, as mulheres chegam a casa sem profissão ou são domésticas. E o emprego para as mulheres é conseguido por pessoas voluntárias. Contudo, estas mulheres estão em situação vulnerável, e nem sempre o empregador sabe desta situação.

Gráfico - 4 0 5 10 15 20 25 30 35 33 M 31 M 20 M 6 M 1 M 7 M 10 M E. fund. Compl. E. Fund. Incomp. . E. Médio Compl. E. Médio Incompl. Nível Superior Não Alfabetizada Não Informados

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