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O PAPEL DA BRINCADEIRA E DO BRINQUEDO NO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DA CRIANÇA

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O PAPEL DA BRINCADEIRA E DO BRINQUEDO NO DESENVOLVIMENTO E 

APRENDIZAGEM DA CRIANÇA 

  Marilza Pavezi  marilzapavezi2009@hotmail.com  Laíse Soares Lima  laisesoareslima@hotmail.com  (UFAL)    Resumo   

Este  trabalho  apresenta  algumas  aproximações  teóricas  sobre  o  papel  da  brincadeira  e  do  brinquedo  no  desenvolvimento  e  aprendizagem  da  criança,  a  partir  da  teoria  vygotskyana,  corroborada  por  outros  autores.  A  presente análise foi possibilitada pela efetivação do projeto de extensão intitulado “Distribuindo alegria: brincadeira é  coisa séria”,  desenvolvido  em  uma  escola  da  rede  pública  municipal  de  ensino de  Delmiro Gouveia  – Alagoas,  e no  PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil desta mesma cidade. O trabalho voltou‐se a crianças de 4 a 12  anos,  ou  seja,  aquelas  que  frequentam  a  educação  infantil  e  séries  iniciais  do  ensino  fundamental,  bem  como  às  professoras  e  instrutores que atuam  com  esses alunos.  A  metodologia utilizada  na  implementação do projeto  foi  a  pesquisa‐ação e se desenvolveu através de atuação prática dos acadêmicos dos cursos de Licenciatura em Pedagogia e  Letras  com  os  alunos  e,  orientação  teórico‐prática  com  as  professoras  e  instrutores.  Com  a  realização  do  projeto  buscou‐se  sensibilizar  as  professoras  e  instrutores  desta  faixa  etária  para  o  fato  de  que  a  ampliação  da  obrigatoriedade do ensino dada pela EC nº 59/2009 não pode conduzi‐los a utilização de metodologias inapropriadas  para esta idade.     Palavras‐chave: Práticas pedagógicas. Brinquedo. Desenvolvimento. Aprendizagem.     1. Introdução   

A  ampliação  da  obrigatoriedade  do  ensino  e  sua  democratização  são  conquistas  recentes  que resultam de embates políticos e ideológicos envolvendo a sociedade civil, educadores, o setor  empresarial e o poder político, além de outros segmentos, cada qual com seus interesses. A EC nº  59/2009  garantiu,  ao  menos  em  nível  de  legislação,  a  ampliação  da  obrigatoriedade  do  ensino,  que antes se restringia ao Ensino Fundamental de nove anos, para toda a Educação Básica. Uma  vez que a Educação Básica abrange a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio,  podemos  considerar  que  tivemos  um  salto  quantitativo  na  oferta  e  no  acesso  ao  ensino,  que  passou de 9 para 14 anos de ensino obrigatório.  

Esta ampliação está em vigor desde o início do ano letivo de 2010, o que significa que as  crianças  de  4  e  5  anos  agora  ocupam  os  bancos  escolares  obrigatoriamente.  A  inquietação  que 

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acadêmicos  do  curso  de  Pedagogia  e  Letras,  que  ao  realizarem  observação  em  escolas  nestes  níveis,  perceberam  a  pouca  utilização  do  lúdico  como  estratégia  pedagógica  de  ensino  para  garantir a aprendizagem e favorecer o desenvolvimento das crianças.  

Diante  do  exposto  nos  propomos  a  apresentar  algumas  aproximações  teóricas,  corroboradas  pela  pesquisa‐ação,  sobre  o  papel  da  brincadeira  e  do  brinquedo  no  desenvolvimento e aprendizagem da criança. 

 

2. A teoria vygotskyana do desenvolvimento humano: o papel do brinquedo   

Tomando  a  obra  de  Vygotsky  como  base,  serão  incorporadas  idéias  e  resultados  de  pesquisas  de  outros  autores  que  venham  a  corroborar  com  suas  principais  proposições  sobre  o  desenvolvimento humano.  

Para  este  autor,  o  desenvolvimento  se  dá  num  processo  dialético  complexo,  que  se  caracteriza  pela  periodicidade  e  irregularidade  no  desenvolvimento  das  diferentes  funções,  acompanhado  de  metamorfoses  qualitativas,  que  transformam  uma  forma  em  outra,  e  no  entrelaçamento de fatores externos, internos e de processos adaptativos. Afirma ainda que as leis  de desenvolvimento são iguais para todas as pessoas. (VYGOTSKY, 1991, p.137)  .  Fazendo  uso  do  método  genético  ou  evolutivo,  o  autor  estabeleceu  uma  relação  entre  o  desenvolvimento  da  capacidade de pensar da criança e seu desenvolvimento social, que vincula‐se às condições de seu  contexto  sociocultural.  Verificou  que  neste  processo  de  desenvolvimento  social,  ocorre  um  gradual afastamento  das  funções  elementares,  que de acordo  com  ele,  faz  parte  da  natureza do  próprio  desenvolvimento,  que  se  transforma  do  biológico  para  o  sócio‐histórico.  A  utilização  de  mecanismos  de  mediação  instrumental  e  semiótica  nos  processos  mentais  (principalmente  os  instrumentos linguísticos) e a ênfase nas experiências socioculturais da criança complementam a  análise vygotskyana do desenvolvimento humano.  

Sendo  as  funções  psicológicas  superiores,  consideradas  por  Vygotsky  (1988,  1989,  1990,  1991, 1996), de origem cultural, terão sua evolução vinculada e, até certo ponto condicionada pela  cultura peculiar em que o indivíduo se insere.  

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São as experiências sociais da criança, que inicialmente se constituem no âmbito familiar,  suas interações, que darão origem às formas superiores de sua atividade intelectual. Isto confirma  a  origem  cultural  das  funções  psicológicas  superiores.  Partindo  de  formas  culturais  mais  elementares da conduta e acrescentando a elas uma regulação voluntária do comportamento, que  evolui pela realização dos processos psicológicos de maneira consciente e pela influência social e  mediação semiótica, chega‐se à caracterização das funções psicológicas superiores.  

 O  autor  (VYGOTSKY,  1991)  defende  a  ideia  de  que,  é  através  da  observação  do  comportamento  da  criança  brincando,  aprendendo  e  respondendo  ao  ensino,  que  será  possível  perceber  e  analisar  as  transformações  que  estão  ocorrendo  em  suas  funções  psicológicas.  Considera  como  um aspecto  essencial  do  desenvolvimento a  habilidade  crescente  que a  criança  adquire para controlar e direcionar seu próprio comportamento. Esta habilidade torna‐se possível  devido ao desenvolvimento  de  novas  formas  e  funções  psicológicas  que  inclui  o uso  de  signos  e  instrumentos.  Para  que  a  criança  chegue  a  esta  fase,  de  conseguir  controlar  e  direcionar  seu  comportamento, ela passa necessariamente por um complexo processo de desenvolvimento. 

É  na  adolescência  que  se  atinge  a  capacidade  máxima  para  regular  as  próprias  ações  e  processos  mentais  fazendo‐se  uso  de  meios  auxiliares,  e  isto  é  possibilitado  e  faz  parte  do  processo  de  formação  de  conceitos.  Esta  capacidade  começa  a  se  estruturar  na  infância  mais  especificamente  nas  situações  de  brinquedo,  o  que  reforça  a  importância  de  oportunizar  às  crianças  tais  situações.  As  crianças  precisam  ser  incentivadas  para  que  se  tornem  motivadas  a  expressarem seu pensamento na forma verbal uma vez que este comportamento não é inato, mas  adquirido  no  contexto  histórico‐cultural.  A  fala  é  um  elemento  chave  na  análise  do  desenvolvimento da criança e seu incentivo no contexto escolar contribui sua aprendizagem. 

Sendo,  o brinquedo,  a  fala  e  o pensamento,  fatores  que  têm  influência  determinante no  desenvolvimento das funções psicológicas superiores, estes temas serão brevemente abordados. 

O  brinquedo  é  considerado  por  Vygotsky  (1991,  p.106‐118)  como  o  principal  meio  de  desenvolvimento cultural da criança. Experiências sociais e culturais são incorporadas pela criança  através  do  brinquedo.  Fazendo  uso  da  imaginação  a  criança  pode  transformar  os  objetos  e  as  formas de comportamento produzido e disponibilizado em seu ambiente específico.  

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A capacidade de imaginar, que é a essência do brinquedo, na concepção deste autor, não  está  presente  nos  recém‐nascidos,  aparece  aproximadamente  aos  três  anos  de  idade  e  vai  possibilitar  à  criança  o planejamento de  uma  ação  futura, a  superação  temporária  da  ansiedade  provocada  por  desejos  que  não  podem  ser  satisfeitos  de  imediato,  e  a  conduzirá  ao  desenvolvimento do pensamento abstrato. 

Na  situação  de  brinquedo,  segundo  Vygotsky  (1991,  p.116),  a  criança  assume  e  ensaia  papéis e valores correspondentes às atividades dos adultos de seu meio cultural, antecipando seu  desenvolvimento  no  que  se  refere  à  aquisição  de  motivação,  habilidades  e  atitudes  que  serão  necessárias à sua participação social. Isto se explica pela capacidade do brinquedo em criar uma  zona  de  desenvolvimento  proximal.  A  imaginação  como  as  outras  funções  da  consciência,  surge  originalmente  da ação.  O uso  da imaginação  e  do  brinquedo  também  contribui na  expansão  das  habilidades conceituais da criança que espontaneamente separa o significado do objeto, atingindo  assim uma definição funcional de conceitos e de objetos.  

De acordo com Almeida (2005) brincar, além de ser uma necessidade básica é também um  direito  da  criança  e  lhe  possibilita  experiências  ricas  e  complexas  como  os  laços  de  amizade,  fazendo parte do processo de formação educativa do ser humano, e, portanto essencial. Mas, não  é  apenas  este  benefício  que  a  brincadeira  traz  consigo,  brincar  é  essencial  para  a  vida  familiar,  para  a  saúde,  para    a  socialização  da  criança,  para  o  desenvolvimento  físico,  cognitivo,  entre  outros.  

No  ato de  brincar,  os  sinais,  os  gestos,  os  objetos  e  os  espaços  valem  e  significam  outra  coisa  além  daquilo  que  aparentam  ser.  Ao  brincar  as  crianças  recriam  e  repensam  os  acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando.  

Para compreender o universo lúdico, de acordo com Almeida (2005), é necessário antes de  tudo  entender  o  que  realmente  são  os  jogos,  os  brinquedos  e  as  brincadeiras.  Para  isso  é  importante  conceituar  estas  palavras.  O  brinquedo  torna‐se  o  objeto  suporte  da  brincadeira,  podendo  ser  imaginado  independente  de  sua  real  existência  e  função.  Estes  são  considerados  brinquedos  não  estruturados  por  se  tratar  de  simples  objetos  que  não  são  industrializados.  Os  brinquedos  estruturados  são  aqueles  que  já  são  adquiridos  prontos.  Para a  criança  muitas  vezes 

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não importa o quão caro, diferente ou inovador seja o brinquedo, uma pedra, ou um pau se lhe  trouxer felicidade pode significar bem mais que um brinquedo industrializado e de custo elevado. 

A brincadeira se caracteriza por uma estruturação e pela utilização de regras, podendo ser  tanto coletiva quanto individual. 

Ainda de acordo com Almeida (2005), os jogos estão associados aos dois termos anteriores,  tanto  o  objeto  (brinquedo)  quanto  à  brincadeira.  Trata‐se  de  uma  atividade  mais  estruturada  e  organizada  por  um  sistema  de  regras  mais  explicitas.  Uma  característica importante  do  jogo é  a  sua  utilização  tanto  por  crianças  quanto  por  adultos,  enquanto  que  o  brinquedo  tem  uma  associação  mais  exclusiva  com  o  mundo  infantil,  portanto  o  universo  lúdico  abrange  o  termo  brincar, brincadeira, jogo e brinquedo. O brincar deve estar incluído nas ferramentas pedagógicas  dos  professores,  principalmente  dos  professores  de  educação  infantil.  A  decisão  de  se  permitir  envolver no mundo mágico infantil deveria ser o primeiro passo para o professor. Porém, explorar  o  universo  infantil  exige  do  educador  conhecimento  teórico,  prático,  capacidade de  observação,  amor  e  vontade  de  ser  parceiro  da  criança  nesse  processo.  A  utilização  destes  recursos  em  diferentes  situações  educacionais  podem  ser  um  meio  para  estimular,  analisar  e  avaliar  aprendizagens específicas, competências e potencialidades das crianças envolvidas. 

Toda  a  atividade  da  criança  na  situação  de  brinquedo  (gestos,  fala,  etc.),  bem  como  o  desenho, antecedem  a linguagem  escrita,  daí  sua  primordial  importância  nos  primeiros  anos  de  vida escolar da criança. O desenho é considerado por Vygotsky (1991, p.121‐123), como o estágio  preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita, e ele começa logo após a fala, embora a fala  seja predominante e o desenho esteja submetido às suas leis. O desenho é uma forma gráfica de  linguagem  que  surge  com  base  na  linguagem  verbal  e  passa  por  fases  de  evolução.  O  deslocamento do desenho de coisas para o desenho de palavras indica o surgimento da escrita.      

   Colaborando  para a interação  social da  criança,  Vygotsky  (1996,  p.43‐44)  destaca a  fala,  que  organiza  a  ação  e  o  pensamento  da  criança.  Sendo  a  comunicação  e  o  contato  social  as  funções  principais  da  fala,  ela  se  apresenta  inicialmente  enquanto  fala  social,  numa  relação  interpessoal  com  manifestação  unicamente  externa.  Posteriormente,  quando  a  criança  recria  os  padrões  de  comportamento  social  na  esfera  das  funções  psíquicas  interiores  e  pessoais,  surge  a 

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pensamento  autístico  quanto ao  pensamento lógico.  Esta  evolução  da  fala  também  se  aplica ao  pensamento que evolui do social para o pessoal, porém não paralelamente à fala. 

A  fala  egocêntrica  representa  o  elo  entre  a  fala  exterior  e  a  fala  interior.  Ela  mantém  a  função de descarga emocional e ainda assume o papel de acompanhar a atividade. Rapidamente  assume a função planejadora que revela sua transformação em pensamento.  Aí se encontra sua  função  de  organizadora  do  comportamento  da  criança,  também  passível  de  ser  observada  nas  situações de brincadeira. 

Vygotsky (1996, p.48‐50), atribui ao desenvolvimento da fala e do pensamento, o papel de  facilitador na formação de conceitos. Embora a capacidade para esta elaboração de conceitos só  se encontre estruturalmente organizada na puberdade, a criança em idade precoce já desenvolve  equivalentes  funcionais  de  conceitos,  fazendo  uso  da  palavra  enquanto  signo.  Como  qualquer  função psicológica superior, a formação de conceitos também é um processo mediado, e a palavra  enquanto  signo atua  inicialmente  como  meio na  formação de  conceitos  e depois  se  torna  o  seu  símbolo.  É  ela  que  conduz  as  operações  mentais  com  o  objetivo  de  solucionar  o  problema  encontrado. O problema ou as dificuldades que se apresentam são fatores que contribuem para a  formação  de  conceitos,  no  entanto,  se  nada  é  cobrado  da  criança  ou  do  adolescente, nenhuma  nova exigência lhe é apresentada, o desenvolvimento de seu intelecto e raciocínio ficará restrito. 

É  a  produção  e  o  uso  de  instrumentos  e  signos,  que  segundo  Vygotsky  (1991,  p.43‐45),  evidenciam  o  desenvolvimento  das  funções  psicológicas  superiores.  Os  instrumentos  servem  como  condutores  da  influência  humana  sobre  o  objeto  da  atividade  (mediação  homem‐ ambiente/natureza),  são  orientados  externamente  e  devem  levar  à  mudanças  nos  objetos.  Os  signos,  que  são  estímulos  artificiais  ou  autogerados,  não  modificam  o  objeto  da  operação  psicológica,  são  orientados  internamente  e  se  destinam  ao  controle  do  indivíduo,  ou  seja,  provocam  transformações  comportamentais.  As  funções  psicológicas  superiores  surgem  da  combinação  entre instrumento, que  serve para o  controle do homem  sobre a  natureza,  e  signo,  que  serve  para  o  controle  do  homem  sobre  seu  comportamento  e  sobre  o  outro,  na  atividade  psicológica, marcando aí o nascimento da história do comportamento da criança.   

No desenvolvimento social da criança as funções psicológicas superiores surgem como um  processo  de  reconstrução  interna  de  uma  operação  externa.  Isto  acontece  numa  série  de 

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transformações  em  que  uma  operação  que  inicialmente  se  dá  a  nível  externo,  é  reconstruída  e  começa  a  ocorrer  internamente,  um  processo  interpessoal  se  transforma  em  intrapessoal.  Esta  transformação  de  um  processo  interpessoal  em  intrapessoal  é  resultado  de  uma  longa  série  de  eventos  ocorridos  no  decurso  do  desenvolvimento,  e  é  denominada  por  Vygotsky  (1991,  p.63)  “internalização”.  Contribuindo  para  esta  evolução  e  desenvolvimento  das  funções  psicológicas  superiores, está o domínio dos meios externos da cultura e do pensamento, como a linguagem, a  escrita,  o  cálculo,  o  desenho,  e  o  aperfeiçoamento  interno  das  funções  psíquicas  superiores  especiais  como  a  atenção  voluntária,  a  memória  lógica,  o  pensamento  abstrato,  a  formação  de  conceitos,  etc.  Para  ilustrar  esta  internalização  retoma‐se  o  processo  de  desenvolvimento  da  linguagem que inicialmente surge como meio de comunicação, depois se transforma em meio de  pensamento,  servindo  inicialmente  à  interação  social  e  depois  como  organizadora  interna.  Este  exemplo  serve  também  para  ilustrar  a  afirmação  deste  autor  quanto  ao  fato  de  que    qualquer  função  aparece  primeiro  como  categoria  interpsicológica    em  decorrência da  interação  social,  e  depois a nível intrapsicológica como um processo psicológico interno. 

Tanto  instrumentos  quanto  signos,  que  caracterizam  as  funções  psicológicas  superiores,  são  elementos  da  atividade  mediada,  proposta  por  Vygotsky  (1991),  para  a  compreensão  dos  processos  cognitivos  e  para  o  desenvolvimento  das  formas  superiores  do  comportamento  humano,  que  se  tornam  evidentes  quando  o  indivíduo  modifica  ativamente  a  situação  estimuladora como parte do processo de resposta a ela. O psicólogo israelense R. Feuerstein, que  foi colaborador de Piaget, de acordo com Beyer (1996, p.81),  desenvolveu um método de ensino  baseado  na  “aprendizagem  mediada” que  fundamenta‐se  teoricamente na  ênfase  aos  processos  interpsicológicos  como  elementos  qualitativamente  diferenciais  para o  desenvolvimento  infantil,  isto  é,  as  experiências  de  interação  de  cada  criança  com  o  meio  (social,  círculo  de  relações  interpessoais)  são  fator  diferencial  na  qualidade  do  desenvolvimento  cognitivo‐intelectual    das  mesmas. Esta posição de Feuerstein também reforça as conclusões de Vygotsky (1991), quanto à  manifestação interpsicológica ou interpessoal de qualquer função antecedendo sua manifestação  intrapsicológica ou intrapessoal. 

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Uma  análise  sobre  o  desenvolvimento  humano  a  partir  da  teoria  vygostskyana  reforça  a  importância  da  utilização  da  brincadeira  e  do  brinquedo  como  estratégias  que  favorecem  o  desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, aliadas a outras metodologias.  

 

3. Alguns resultados e discussões   

Tendo como meta promover espaços para a interação e aprendizagem da criança a partir  do  brinquedo  e  da  brincadeira,  e  momentos  de  reflexão  teórico‐prática  junto  às  professoras  e  instrutores,  consideramos  que  o  projeto  “Distribuindo  Alegria:  brincadeira  é  coisa  séria”  contribuiu  significativamente  com  a  população  envolvida.  Também  foi  possível  atender  ao  preceito da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão colaborando com os graduandos  em  Pedagogia  e  Letras  para  o  desenvolvimento  de  algumas  das  habilidades/competências/atitudes  contempladas  nos  Projetos  Pedagógicos  dos  cursos.  Foi  viabilizada a aproximação  da  teoria  com a  prática,  possibilitando o  contato  do acadêmico  com  o  contexto no qual irá atuar profissionalmente e, sobre o qual, precisa ter amplo conhecimento para  assim  construir  competência  para  contribuir  na  superação  da  condição  encontrada.  Reconhecemos que a inserção do Ensino Superior na Educação Básica é fundamental para que se  configure  um  movimento  de  crescimento  simultâneo  entre  os  níveis  de  ensino.  Estiveram  envolvidos na efetivação deste projeto 24 acadêmicos do 4º período de Pedagogia, um acadêmico  do 2º período do curso de Letras, 160 crianças com idade entre 04 e 12 anos, 12 profissionais da  educação básica e 6 instrutores do PETI.  

Com a realização deste projeto foi possível perceber que a brincadeira e o brinquedo estão  parcialmente  presentes  nas  atividades  planejadas  pelas  professoras  da  escola  onde  se  desenvolveu o projeto, no entanto, esta inserção não apresenta uma intencionalidade pedagógica,  mas restringe‐se a proporcionar um momento de recreação aos alunos. Ainda que de forma não  intencional  estes  momentos  podem  estar  promovendo  o  desenvolvimento  de  habilidades  que  favorecerão  a  aprendizagem  dos  alunos.    Em  relação  ao  Programa  de  Erradicação  do  Trabalho  Infantil,  que  tem  como  papel  social  atrair  as  crianças  que  se  encontram  em  situação  de  risco  devido  à  exposição ao  trabalho  infantil,  percebemos  ausência  de  planejamento  em  geral,  o que 

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leva consequentemente à não inclusão de atividades sistematizadas que envolvam a brincadeira e  o  brinquedo  com  finalidade  pedagógica  na  rotina  das  crianças  atendidas.  Nesta  situação  a  contribuição  do  projeto  ficou  restrita,  e  seus  efeitos  dependerão  da  reivindicação  das  crianças  para  que  as  atividades  de  recreação  dirigida  continuem  acontecendo,  mesmo  com  o  encerramento do projeto.      4. Referências    ALMEIDA, Marcos Teodorico Pinheiro de. O brincar na Educação Infantil. Natal: RN: Revista virtual EFArtigos. Vol. 3,  nº 1, 2005. Disponível em: HTTP://efartigos.atspace.org/efescolar/artigo39.html.   

BRASIL.  Ministério  da  Educação.  Portal  do  MEC:  Legislação.  Brasília.  Disponível  em:  <http://  portal.mec.gov.br/índex.php>    BEYER, H. O . O método Reuven Feuerstein: Uma abordagem para o atendimento psicopedagógico de indivíduos com  dificuldades de aprendizagem portadores ou não de n.e.e. (p79‐89). Revista Brasileira de Educação Especial. Vol. II, n.  4, 1996.    SNYDERS, G. A alegria na escola. São Paulo: Manole Ltda., 1988.   

VIGOTSKI,  L.  S.;  LURIA,  A.  R.;  LEONTIEV,  A.  N.  Linguagem,  desenvolvimento  e  aprendizagem.  5.  ed.  São  Paulo:  Ícone,1988.     VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.    ______. Pensamento e linguagem. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.   

Referências

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