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O EMPOBRECIMENTO DA EXPERIÊNCIA EM WALTER BENJAMIN

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

O EMPOBRECIMENTO DA EXPERIÊNCIA EM WALTER BENJAMIN

Natália Carolina Português1 - UEM Grupo de Trabalho – Cultura, Currículo e Saberes Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

O tema escolhido para estre Projeto de Iniciação Científica (PIC) é “O empobrecimento da experiência de acordo com Walter Benjamin” e tem por finalidade compreender de que maneira se sucede o processo de empobrecimento da experiência de acordo com o autor. Para que esse entendimento seja possível, a pesquisa será realizada por meio de materiais bibliográficos, desta forma recorreremos ao aporte teórico de Benjamin. O empobrecer da experiência será analisado, principalmente, nos textos “Experiência e Pobreza” e “O narrador”, algumas das principais obras nas quais o autor nos revela um direcionamento do porque esse processo acontece de maneira tão rápida e alienada na sociedade moderna quais são suas consequências e o que nos leva a permitir tal acontecimento. Além de W. Benjamin, outros autores da Teoria Crítica nos auxiliarão a refletir sobre a temática. A pobreza da experiência ocorre de acordo com Benjamin (1994), devido à perda da narrativa que faz com que o significado de experiências transmitidas de geração em geração decline. O que em um primeiro momento era sinônimo de sabedoria passa outrora a ser ignorado e, da lugar a vivências, informações, conhecimentos fragmentados. A experiência (erfahrung) passa a dar lugar à experiência vivida (erlebnis), isolada, de maneira que apenas importe a vivência de cada sujeito. Neste contexto, Benjamin (1987) nos aponta que as constantes experiências pobres sofridas pela humanidade, como por exemplo: fome, desmoralização, guerras, crises políticas e econômicas vão gerar algo chamado por Benjamin de uma “nova barbárie”. Sendo assim serão buscadas explicações para esse processo do empobrecer da experiência, e possibilidades para que ele possa ser superado nos dias atuais.

Palavras-chave: Experiência. Benjamin. Empobrecimento. Narrativa. Introdução

O empobrecimento da experiência na sociedade moderna ocorre por meio do desenvolvimento tecnológico e a decadência da narrativa. O próprio sistema produtivo leva-nos a este processo de pobreza da experiência, pois como leva-nos diz Meinerz (2008), são criados microssistemas nos quais as pessoas se relacionam de maneira isolada e superficial.

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Graduanda em Pedagogia: Universidade Estadual de Maringá- Campus de Cianorte. E-mail: natalia.portuga@hotmail.com

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Esse processo se acelera principalmente por causa da sociedade capitalista na qual estamos inseridos, pois esse sistema assume um caráter alienador e empobrecedor da experiência. Conforme ocorre a consolidação das indústrias modernas e a produção de mercadorias, cada vez em um sistema mais mecanizado, faz com que o trabalhador perca a significação de seu trabalho e muitas vezes não tenha mais consciência de suas experiências como operário ou até mesmo como pessoa.

Conforme Meinerz (2008) o significado de experiência para a sociedade moderna é empírico, ou seja, significa prova, experimento, técnicas, sendo assim a experiência está fora do homem. Contrapondo esta visão Benjamin dá um novo significado à experiência em que esta acontece de maneira coletiva, feita pelo homem historicamente, continuado dia a dia. De acordo com Benjamin (1994), a narrativa seria então a demonstração dessa experiência (erfahrung)2. Desta maneira com o desaparecimento da narração na modernidade, sendo esta substituída pelo romance ou pela imprensa Benjamin (1994, s/p) pontua:

O narrador retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes. O romancista segrega-se. A origem do romance é o indivíduo isolado, que não pode mais falar exemplarmente sobre suas preocupações mais importantes e que não recebe conselhos nem sabe dá-los.

A verdade do que nos diz Benjamin é ratificada quando observamos a sociedade na qual vivemos. Estamos no momento da praticidade, da brevidade, dos momentos, sendo assim, não vivenciamos as experiências (erfahrung) efetivamente, elas apenas tornam-se experiências vividas (erlebnis)3, cada indivíduo vive isoladamente, levando-nos a exclusão social e ao empobrecimento das experiências e assim gerando uma nova barbárie.

Quando a experiência nos é subtraída, hipócrita ou sorrateiramente, que é hoje em dia prova de honradez confessar nossa pobreza. Sim, é preferível confessar essa pobreza de experiência, não é mais privada, mas de toda a humanidade. Surge assim uma nova barbárie (BENJAMIN, 1987, s/p).

Deste modo, Benjamin defende que a nova barbárie resulta da pobreza de experiência, pois para o autor isso incentiva que o indivíduo siga em frente ou construa algo novo, impede que se olhe para outra direção, cria um sentimento motivador para realizar alguma ação. Neste contexto Adorno (2006, p.156) nos traz o seguinte pensamento “a tentativa de superar a

2 “[..] a experiência coletiva (Erfahrung), fonte à qual o narrador recorre ao contar suas histórias. Esta experiência está em vias de se extinguir, o mundo capitalista impede sua construção” (FILHO, 2008, p.44) 3 “[...] empobrecidos, o que prevalece é o outro tipo de experiência (Erlebnis), a experiência individual” (FILHO, 2008, p.45)

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barbárie é decisiva para sobrevivência da humanidade”. Para Adorno, faz-se necessário juntar esforços rumo a uma educação emancipatória cujo principal objetivo é o combate do retorno à barbárie.

O constante declínio da experiência deve-se hoje à sociedade em que estamos inseridos, pois os meios de comunicação pelos quais temos acesso aos fatos são os jornais, as revistas e a televisão, porém, nos transmitem notícias acabadas, livres de qualquer possibilidade de indagações ou reflexões, diferentemente do que ocorre na narrativa. Em relação a isto Benjamin (1994, s/p) afirma:

A informação só tem valor no momento que é nova. Ela só vive nesse momento, precisa entregar-se inteiramente a ele e sem perda de tempo que se explicar nele. Muito diferente é a narrativa. Ela não se entrega. Ela conserva suas forças e depois de muito tempo ainda é capaz de se desenvolver.

Desta maneira, por meio do jornal, do romance e da tv os indivíduos vão ficando cada vez mais excluídos, fazendo com que de acordo com Meinerez (2008) as experiências deixem de ser comunicáveis devido à falta de interação entre os indivíduos. A narrativa permite essa experiência comunicável, pois junto a ela está presente o narrador que interage com o ouvinte, ocorrendo assim mais do que comunicações verbais como; gestos, olhares, expressões, tornando a narrativa prazerosa e geradora de efetiva experiência, um narrador possui autoridade no que ele fala.

A experiência formativa nesse contexto estaria se perdendo, pois estamos em momento nesse mundo em que tempo é visto como sinônimo de dinheiro, de acordo com Benjamin (1987) a experiência necessita de tempo para ser vivida, refletida repensada realmente interiorizada, existe a necessidade de realmente se entrar em contato com objeto desvenda-lo, compreende-lo, estuda-lo para talvez assim podermos vencer este de que informação é conhecimento, e realmente atingir uma experiência formadora (erfahrung).

Justificativa

O seguinte estudo é importante devido à necessidade de refletir sobre os meios e procedimentos que levam ao empobrecimento da experiência, pois de acordo com Benjamin (1987) é por meio de experiências ricas que se constrói a autoridade do indivíduo.

Neste sentido, a narrativa está diretamente ligada à linguagem, o esfacelamento da narrativa também se deve a expropriação da linguagem, pois esta é “carregada majoritariamente de signos visuais, que na falaciosa teia da Indústria Cultural transcorrem

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caminhos aligeirados e desconexos, que não permitem o estabelecimento de vínculos linguísticos mais profundos (PACÍFICO, 2012, p.7).

Desta maneira, a potência formativa da língua fica comprometida, degradando também as experiências formativas que deveriam levar o sujeito ao processo emancipatório. Neste contexto, Pacífico (2012, p.23) ratifica que “o desenvolvimento tecnológico culmina no empobrecimento da experiência humana e na alienação da linguagem”. A narrativa seria o

lócus para transmitir experiências de geração para geração, esse processo que permite ao

sujeito viver e perceber a narração daria origem ao que de acordo com Pacífico (2012) Benjamin chama de experiência formativa, a perda da experiência seria para Benjamin (1987) a perda da aura.

Portanto a compreensão de como ocorre o processo de empobrecimento da experiência faz-se necessário para que possa ser superado, para que reflexões e indagações possam ser feitas a respeito de qual sociedade estamos inseridos e até que ponto ela nos torna seres alienados e pobres em experiências. Por meio da realização dessa pesquisa possivelmente pode-se buscar soluções e compreensões sobre como a expropriação da linguagem e a pobreza da experiência atingem a educação e a formação dos indivíduos na sociedade moderna. Neste sentido Benjamin (1987, s/p) diz:

A natureza e a técnica, o primitivismo e o conforto se unificam completamente, e aos olhos das pessoas, fatigadas com as complicações infinitas da vida diária e que veem o objetivo da vida apenas como o mais remoto ponto de fuga numa interminável perspectiva de meios, surge uma existência que se basta a si mesma, em casa episódio, do modo mais simples e mais cômodo, e na qual um automóvel não pesa mais que um chapéu de palha, e uma fruta na árvore se arredonda como gôndola de um balão.

Sendo assim a vida moderna somente leva às pessoas e a sociedade a fadiga, ao cansaço e consequentemente a conformação, desta forma os próprios indivíduos param de se questionar sobre o caminho que estão trilhando, para onde a sociedade está indo e de como será o futuro. Neste contexto faz-se necessário que caminho deve-se tomar para mudar esse destino, para isso é necessário buscarmos uma formação que nos leve a emancipação e a formação de autoridade, e Benjamin nos propõe desta forma que a educação deva propiciar experiências realmente formadoras.

Objetivos

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a) Compreender de que maneira acontece o processo de empobrecimento da experiência em Benjamin, a fim de perceber como esta influência na formação dos indivíduos na sociedade moderna.

Objetivos específicos:

a) Analisar qual o reflexo causado na educação devido ao empobrecimento da experiência e da expropriação da linguagem.

b) Entender como a indústria capitalista colabora para a alienação dos indivíduos e o empobrecimento da experiência.

Metodologia

Este projeto de pesquisa ocorrerá a partir de levantamento bibliográfico, que de acordo com Gil (2006, p.44), “[...] é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Sendo assim os materiais utilizados para o desenvolvimento dessa pesquisa serão documentos de cunho bibliográfico, que contenham conteúdos que possibilitem o aprofundamento acerca do processo de empobrecimento da experiência segundo W. Benjamin.

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica de acordo com Gil (2006, p.45) “[...] reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla [...]”. A partir dos estudos realizados por meio dos textos sobre o processo de empobrecimento da experiência e da realização de discussões entre orientadora e orientanda pretendemos aprofundar o entendimento dessa temática.

Plano de trabalho individual referente aos meses de 01/08/2015 a 31/07/2016

Iniciaremos este Projeto de Iniciação Científica (PIC), a partir do levantamento das referências relevantes sobre o processo do empobrecimento da experiência conforme Benjamin, e de leituras e fichamentos dos textos nos meses agosto, setembro e outubro de 2015. Posteriormente, faremos as discussões dos textos entre orientadora e orientanda, levantaremos as questões importantes apontadas durante a leitura nos meses de novembro e dezembro.

Após os estudos e reflexões propostas começaremos a escrita do Projeto de Iniciação Científica (PIC), no período de fevereiro a junho de 2016, e encerraremos o projeto em julho

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de 2016 com a entrega do relatório final. Os estudos serão realizados conforme o cronograma abaixo:

Quadro 1 - CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO (síntese das atividades a serem desenvolvidas no período de 12 meses)

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES Assinalar o mês em que a atividade será

executada

1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º

Levantamento bibliográfico e leitura dos textos X X X

Leitura e Discussão dos textos X X X X X X X Escrita do PIC X X X X X

Publicação de Artigo X

Relatório Final X

Fonte: Cronograma realizado pela autora com base no tempo de pesquisa. Considerações Finais

A partir das leituras e da pesquisa realizada até agora é possível perceber que a real experiência erfahrung baseada na narrativa, está decaindo e dá lugar a erlebnis, a experiência individual, que empobrece o indivíduo e não possibilita que o mesmo tenha experiências coletivas, experiências formativas, que levem o sujeito ao pensamento crítico e a experiências emancipatórias.

A atual sociedade capitalista somente proporciona aos indivíduos experiências rápidas, momentâneas, as famosas notícias. A informação de forma rápida não permite tempo para que o ser humano, as sociedades reflitam e conversem sobre essas informações, pois o que de manhã era importante, a tarde já não é mais. Desta forma Benjamin (1987) diz que nasce assim uma “nova barbárie”, na qual arrancaria do homem pouco a pouco o verdadeiro sentido da vida.

Sendo assim até agora foi procurado possiblidades para que ocorram experiências realmente formadoras, para que assim seja possível buscar o pensamento crítico. Algumas hipóteses foram levantadas até agora, como por exemplo, a recuperação da narrativa, e do tempo para se refletir sobre ela, talvez essa seja uma das saídas para a sociedade se libertar desse sistema repressor, que é o capitalismo.

REFERÊNCIAS:

ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. TraduçãoWolfgang Leo Maar.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

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BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994, p.197-221.

BENJAMIN, Walter. Experiência e Pobreza. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. In: Obras escolhidas, Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 114-119. FILHO, Gyorgy Laszlo Gyuricza. A ausência como impossibilidade de reconhecimento: uma análise filosófica em Walter Benjamin da literatura kafkaniana. 3º Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da Unesp. Vol. 1, nº 1, 2008. Acesso em: 25 de março de 2015 Disponível em:

http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE/Gyorgy%20LAszlo% 20-%205%20_44-50_.pdf

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. - 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2002. MEINERZ, Andréia. Concepção de experiência em Walter Benjamin. Dissertação

(Mestrado em Filosofia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008. Acesso em: 25 de março de 2015. Disponível em:

http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/15305/000677160.pdf

PACÍFICO, Marsiel. Infância, Experiência e Linguagem em Walter Benjamin: a indústria cultural e as implicações pedagógicas do empobrecimento da experiência formativa.

Dissertação (Mestrado em Educação) - São Carlos: UFSCar, 2012. Acesso em: 25 de março de 2015. Disponível em:

<http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo. php?codArquivo=5832>.

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