A Certificação Pr
A Certificação Pr
A Certificação Pr
A Certificação Pr
A Certificação Profissional baseada
ofissional baseada
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ofissional baseada
ofissional baseada
por Competências – Mestr
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por Competências – Mestr
por Competências – Mestr
por Competências – Mestre-de-Obr
e-de-Obr
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Carlos Eduardo CabanasServiço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI - Brasil
Este trabalho tem por objetivo apresentar as atividades da Escola “Orlando Laviero Ferraiuolo”, uma das 82 escolas do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Indus-trial do Estado de São Paulo, uma escola de formação e de qualificação de mão-de-obra para a cadeia produtiva da construção civil. É a única escola da rede SENAI com essa configuração, com uma planta, com uma estratégia, com recursos específicos para o atendimento da construção civil. É composta por 27 oficinas específicas para formação de profissionais, do pedreiro ao técnico em edificações, passando por várias outras ocu-pações. A figura a seguir apresenta uma pequena lista do tipo de atendimento que a escola propicia.
Dentre todas as qualificações, será enfatizada aqui a de mestre-de-obras porque tem uma relação muito especial com a construção de habitação de interesse social. A Escola esteve envolvida em São Paulo com algumas experiências de mutirão e autoconstrução, e, um mestre-de-obras com conhecimento, com competência para lide-rar a comunidade e as pessoas que serão os futuros moradores dessas casas populares, exerce um papel fundamental para o sucesso dessas intervenções.
Destaca-se aqui o contexto e a inserção da Escola na cadeia produtiva que, basica-mente, tem como seu primeiro elo os materiais de construção que serão usados tanto para a infra-estrutura como para as edificações, que serão comercializados e, muitas vezes, exigirão manutenção. É importante lembrar que o elevado índice de manutenção que se constata, hoje, nos empreendimentos recém-inaugurados constitui a mazela das nossas construções, ora pela baixa qualidade dos materiais, ora pela desqualificação da mão-de-obra desqualificada, ora por ambos.
Essa cadeia produtiva representa, só no Brasil, 16,9% do PIB - Produto Interno Bruto e 14 milhões de empregos. Entretanto, há números não tão simpáticos, bem mais hostis. Isto porque no Brasil, de quase 200 milhões de habitantes, há 6,6 milhões de moradias em débito com a sociedade, o que representa 30 milhões de pessoas sem acesso à moradia. Esta situação é extremamente significativa e preocupante e a sociedade brasi-leira está se mobilizando. Há experiências, como no México, por exemplo, que é uma referência, de um programa que previa a construção de 500 mil moradias/ano e foram construídas 700 mil moradias. Assim, o México parece ser, até onde se tem notícia, uma referência a ser estudada.
A questão da capacitação, da formação por competência, é um assunto que tem preocupado muito o SENAI ao longo dos seus 60 anos. Nesses últimos cinco anos, inten-sificaram-se as discussões sobre a certificação baseada em competências, mais especifi-camente na formação do mestre-de-obras. É importante enfatizar que o mestre-de-obras,
tanto na construção empresarial como na construção de cunho social, é um fator crítico de sucesso. As estatísticas revelam que o mestre-de-obras, o maestro de la obra, tem, em média, a quarta série do ensino fundamental e 47 anos. Neste contexto, surge a seguinte questão: como, num mundo globalizado com inovação, com tecnologia, com uma série de produtos novos, é possível que essa pessoa aprenda, desenvolva habilidades, conheci-mentos e atitudes para se conseguir o sucesso de um empreendimento? A certificação baseada em competência está preocupada em articular o mundo da educação com a so-ciedade do conhecimento, ampliando as oportunidades de qualificação profissional do trabalhador por meio de perfis mais abrangentes.
Atualmente, a proposta do SENAI é a renovação do processo de ensino e aprendiza-gem, enfocando a competência. Para isso, é imprescindível dispor de mecanismos que reconheçam a competência do profissional independentemente de como ele a adquiriu. Muitas vezes, vemos mestres que construíram grandes obras, como aeroportos, barragens, etc. e, na hora de fazer o curso, não têm a escolaridade mínima necessária. O que é neces-sário fazer em situações como esta? O SENAI, nesses últimos cinco anos, intensificou as discussões a respeito desse ponto: a certificação baseada nas competências. Em primeiro lugar, foi formado um grupo de pessoas (comitê setorial) que conhece muito bem o merca-do para poder chegar ao perfil profissional desejamerca-do. Esse perfil leva a um modelo de avaliação, um desenho de currículo que permite ao aluno voltar ao mercado de trabalho.
O comitê setorial tem como principal desafio responder a três questões: 1) qual o perfil dos profissionais que se encontram no mercado? 2) qual o perfil que esses profissio-nais deveriam ter? e 3) qual o perfil desses profissioprofissio-nais no futuro? Nem sempre o que se tem no mercado é o que se deveria ter no mundo do trabalho hoje. Nem sempre um mestre-de-obras, que se formou somente nas experiências vividas, sendo um excelente carpinteiro ou um excelente pedreiro, tem o perfil desejado. Mas qual será o perfil desse profissional no futuro? Neste ponto, o desafio aumenta um pouco mais. Deve-se fazer uma projeção sobre o futuro desse mestre-de-obras: em que contexto, em que mercado ele vai trabalhar nos próximos cinco anos. Isto parece ser um horizonte razoável. Então, chegou-se à con-clusão que para o SENAI a competência é a mobilização dos conhecimentos, das habilida-des, das atitudes de forma integrada, de forma sistêmica para o mundo do trabalho, mas o complicador é a operacionalização. Assim, a resposta ao novo perfil é a responsabilidade quanto ao processo produtivo. O mestre-de-obras tem que ter iniciativa na resolução de problemas, obedecer não apenas a um plano, mas possuir uma pró-atividade na resolução de problemas. É necessário que ele tenha flexibilidade e criatividade.
Em resumo, ter competência é ter conhecimentos, habilidades e atitudes, mas tudo isso interligado de forma harmônica e sistêmica em função de um desafio. No caso da habitação popular, habitação de interesse social, deveria haver um mestre-de-obras com conhecimentos, habilidades e atitudes para comandar um conjunto de profissionais sob sua responsabilidade, mas com liderança e conhecimento técnico para usar de forma correta os materiais, sem desperdícios e sem retrabalhos. É comum se observar a experi-ência de uma reforma ou construção de uma obra: quase sempre não são entregues no prazo estabelecido, com uma segunda ou terceira lista de materiais, e com uma nova negociação de custos. O setor é complicado e a mão-de-obra é despreparada. Por isso é
que se persegue tanto essa certificação por competência para minimizar essa grande la-cuna. Para isso, é necessário se fazer um desenho curricular, conforme ilustra a figura a seguir. Esse desenho curricular deve ser feito com muito critério e de acordo com o mercado, caso contrário, corre o risco de cair no lugar comum.
O princípio fundamental do desenho curricular hoje aplicado no SENAI é a modularização. São módulos de saída para o mercado, de empregabilidade, de curta duração, interdependentes, que proporcionam ao aluno a interrupção do curso em casos de emergências na obra, ou necessidade de deslocamento para outro estado, e retomá-lo mais tarde. Em cursos comuns, a sua conclusão só é possível mediante um certificado ou diploma ao seu final. Isso é extremamente desmotivador para este tipo de indústria, uma indústria de construção civil itinerante.
O currículo tradicional baseava-se em cursos longos: formava-se um mestre em 800 horas com estruturas de unidades não autônomas, entradas e saídas únicas e profis-sões tradicionais. Hoje, busca-se uma formação com itinerários de qualificação, estrutu-ra em unidades por módulos, entestrutu-radas e saídas intermediárias e aquisição progressiva de competências. O mestre-de-obras, agora, participa do planejamento da obra, supervisio-na a produção, coordesupervisio-na a equipe, cria condições seguras de trabalho - sabe-se que um dos maiores índices de acidentes está na construção civil - e controla ações de preserva-ção ambiental. Há um tempo atrás, em um curso de mestre-de-obras, quando se falava de meio ambiente, o pessoal só sabia que devíamos proteger as árvores. Hoje, o impacto
ambiental da construção civil é extremamente crítico e é nosso dever conscientizar esse profissional.
Basicamente, o currículo tem três unidades e cada unidade ou cada dupla de uni-dades oferece uma saída. Por exemplo, o módulo básico (conforme ilustra a figura a seguir) destina-se a cobrir a deficiência do ensino fundamental: leitura e escrita e alguns processos básicos.
No caso do módulo específico (ver ilustração na figura a seguir), há uma saída intermediária e, no último módulo, confere-se o certificado, o título de mestre-de-obras. Dessa maneira, o currículo torna-se mais flexível, mais inteligente e procura atender mais ao mercado e à dinâmica da cadeia produtiva da construção civil. Ao final do curso, espera-se que o mestre-de-obras consiga um grande sucesso junto, principalmente, à construção de habitação de interesse social.
Hoje, é muito difícil se conseguir um conjunto de profissionais que tenha o ensino fundamental concluído. Atualmente, no SENAI, 30 a 40% dos alunos têm escolaridade inferior à oitava série. E pretender que essas pessoas resolvam problemas de tecnologia, problemas de liderança, problemas de comunicação, é extremamente difícil. Entretanto, experiências que não são adquiridas em “bancos de escola”, mas na prática do trabalho de quinze, vinte anos, superam quaisquer outras em termos de prática operacional e co-mando de equipes.
Concluindo, a Escola SENAI “Orlando Laviero Ferraiuolo” está atendendo a Ca-deia Produtiva da Construção Civil há quarenta anos. Este momento é muito positivo, pois o SENAI está revendo as suas metodologias, os seus conteúdos e as suas estratégias, com o desafio de fazer essa grande mudança na formação, na capacitação e na qualifica-ção dos seus profissionais.