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Eixo Temático: Gestão de Bacias Hidrográficas e a Dinâmica Hidrológica.

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Academic year: 2021

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Eixo Temático: Gestão de Bacias Hidrográficas e a Dinâmica Hidrológica.

PANORAMA DO ESTUDO DE NASCENTES E CABECEIRAS DE DRENAGEM EM PERIÓDICOS NACIONAIS.

Chrystiann Lavarini* – IGC/UFMG– chrystiann1@hotmail.com

Antônio Pereira Magalhães Jr.** – IGC/UFMG– magalhaesufmg@yahoo.com.br Miguel Fernandes Felippe*** – IGC/UFMG– felippegeo@yahoo.com.br

*Graduando em Geografia, UFMG. **Doutor em Desenvolvimento Sustentável, UnB. ***Mestrando em Geografia e Análise Ambiental, UFMG.

Belo Horizonte 2009

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PANORAMA DO ESTUDO DE NASCENTES E CABECEIRAS DE DRENAGEM EM PERIÓDICOS NACIONAIS.

Chrystiann Lavarini – IGC/UFMG – chrystiann1@hotmail.com

Antônio Pereira Magalhães Jr. – IGC/UFMG – magalhaesufmg@yahoo.com.br Miguel Fernandes Felippe – IGC/UFMG – felippegeo@yahoo.com.br

Resumo

Este trabalho investiga os periódicos científicos nacionais publicados no século XXI, por meio de um panorama sobre os estudos de nascentes e cabeceiras de drenagem a partir do qual pode-se ilustrar novas possibilidades de estudos para os profissionais geógrafos. Para tal fim foram investigados 2.847 artigos em 26 tipos de publicações científicas, sendo realizada a leitura dos títulos e resumos (abstracts), com a posterior classificação em grupos temáticos. Para os artigos que tratavam de processos formadores de canais de primeira ordem foram lidos os artigos completos, além do currículo Lattes dos primeiros autores. Concomitantemente, elaborou-se um banco de dados através das informações adquiridas. Esses dados indicaram a escassez de estudos sobre essas feições e processos na literatura acadêmica, correspondendo à 2,83% em relação a todos os estudos que tratam de águas doces continentais superficiais e sub-superficiais. Além disso, essas pesquisas abordaram as nascentes, em sua maioria, apenas como um locus de estudos para outras investigações. Outra característica primordial, é a concentração de estudos de cabeceiras de drenagem realizados apenas por geógrafos enquanto as pesquisas sobre nascentes, foram feitas por profissionais como biólogos e geólogos.

Palavras-chave

Nascentes; cabeceiras de drenagem; geomorfologia fluvial.

Abstract

This work investigates the national scientific journals published in 21th century, throught a panorama about springs and headwaters studies. Nevertheless, were investigated 2847 papers in 26 scientific publications. The titles and the abstracts were read, with futher intention to classificate them in thematic groups. Papers concerning the origin process of first order channels were read full and so the Lattes curriculum of the authors. At the same time a database was created with the information. Those data pointed a shortage of studies about this forms and processes in brazilian academic literature, representing 2,83% of all texts about continental superficial and subsuperficial water. Thus, these researches did not focus springs but got them as a locus of studies for other geoscientific or environmental aims. Other important aspect is the relevant amount of headwater´s studies done by geographers, while researches about springs were done by non- geographers, as biologists and geologists.

Key words

Springs; headwater; fluvial geomorphology.

1. Introdução.

Dentre os componentes do sistema fluvial, as nascentes ocupam um lugar de destaque no imaginário popular. Também conhecidas pelo senso comum como olhos d´água, minas e fontes, as nascentes ocorrem, muitas vezes, em zonas de cabeceiras de drenagem que se configuram como importantes feições morfológicas concentradoras de fluxos hídricos e de sedimentos. As cabeceiras caracterizam-se por constituir o prolongamento direto da nascente dos canais fluviais de primeira ordem ou ainda tributários laterais de fluxos canalizados de qualquer nível hierárquico (MOURA e

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SILVA, 1998). Oriundas da conjugação de processos hidrológicos e geomorfológicos superficiais e sub-superficiais, as nascentes e as cabeceiras de drenagem são elementos que refletem os arranjos e interações entre os componentes do quadro natural, e, ao mesmo tempo, condicionam a configuração e a organização espacial da rede de drenagem. Porém, nem sempre uma nascente ocorre associada a cabeceiras de drenagem, podendo ocorrer em pontos de exfiltração que não apresentam tal configuração morfológica.

Os fluxos exfiltrados nas nascentes geram os canais de primeira ordem na hierarquia fluvial (STRAHLER, 1952), sendo estes eixos de drenagem extremamente importantes na evolução dos arranjos hidrológicos espaciais e na configuração dos padrões de drenagem. Os canais de primeira ordem definem, em primeira instância, as características químicas, físicas e biológicas dos corpos d´água de superfície, já que, por sua localização nos setores hidrográficos de montante, têm a capacidade de influenciar os aspectos de quantidade e qualidade da água nos setores à jusante.

As nascentes, bem como as formas e processos associados, tem a característica de possuírem relevância transversal em termos acadêmicos e científicos, sendo objeto de interesse às geociências e às ciências ambientais em geral. Envolvendo as questões do “onde” e “como” as águas subterrâneas exfiltram e dão origem a fluxos superficiais que geram os cursos d´água, as nascentes apresentam, portanto, um interesse particularmente amplo para todos os aspectos da vida no Planeta, envolvendo dimensões sociais, econômicas, políticas e ambientais.

A supracitada relevância das nascentes justifica o objetivo geral deste trabalho, voltado à investigação da sua abordagem na literatura científica nacional, bem como de formas e processos associados,. Foram verificadas as principais publicações científicas das áreas de geociências e de recursos hídricos, especificamente as de caráter geográfico. Além das nascentes, procurou-se levantar os artigos que abordassem, direta ou indiretamente, cabeceiras de drenagem e processos formadores de canais de primeira ordem. Paralelamente foram levantadas também as características dos autores em termos de formação acadêmica, área de trabalho e filiação institucional.

Os resultados podem ser avaliados estatisticamente a partir de percentuais de participação dos trabalhos por critério de avaliação. Espera-se poder contribuir para o quadro dos estudos sobre nascentes no Brasil, a partir da identificação de lacunas de conhecimento que apontem “portas” para as pesquisas de interesse das geociências e das ciências ambientais, com destaque para a geografia.

2. Metodologia.

Para a realização de uma investigação panorâmica dos estudos atuais sobre nascentes e processos correlatos foram levantados 2.847 artigos em 26 periódicos de caráter científico. Esses foram selecionados por apresentarem conteúdos relevantes à comunidade científica, por ressaltarem a contribuição dos pesquisadores geógrafos e, ainda, pela grande probabilidade de abarcar estudos sobre

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formadores de canais de primeira ordem. Essas publicações fazem parte de três grandes áreas do conhecimento, a saber: geociências, recursos hídricos e geografia (Quadro1).

Posteriormente, a listagem desses periódicos foi analisada por professores de geografia física do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, onde foi verificada a necessidade da inclusão ou retirada de algumas dessas publicações.

Posto que o objetivo do trabalho permeia um panorama recente, foram verificadas as publicações entre janeiro de 2001 e dezembro de 2008, entretanto, alguns periódicos interromperam a continuidade das publicações e, dessa maneira, foram vistoriados até a última edição.

QUADRO 1: Periódicos, áreas do conhecimento e número de artigos levantados.

Periódico Área do conhecimento Quantidade de

artigos levantados Boletim de Geografia de Maringá Geografia 27

Boletim Goiano de Geografia Geografia 73

Boletim Paranaense de Geociências Geociências 65 Boletim Paulista de Geografia Geografia 43

Caderno de Geografia-PUC/MG Geografia 69

Ciência Geográfica Geografia 101

Espaço e Geografia Geografia 86

GEO UERJ Geografia 45

Geociências UNESP Geociências 139

Geografares Geografia 46

Geografia UEL Geografia 138

Geografia-Ass. de Geografia Teorética Geografia 209

Geografias-IGC Geografia 36

Geographia Geografia 79

Geonomos Geociências 46

GEOSUL Geografia 101

GEOUSP Geografia 113

Pesquisa em Geociências Geociências 140

Publicatio UEPG Geociências, Exatas e

Engenharias 115

RAE UFPR Geografia 87

Revista Águas Subterrâneas Recursos Hídricos 66 Revista Brasileira de Geociências Geociências 504 Revista Brasileira de Geomorfologia Geografia 65 Revista Brasileira de Recursos Hídricos Recursos Hídricos 306

Revista de Geografia UFMS Geografia 31

Sociedade e Natureza Geografia 117

Total 2847

Após a definição dos materiais de pesquisa, sucedeu-se a classificação dos artigos em grupos temáticos através do seguinte processo: (i) leitura e interpretação dos títulos dos artigos, no intuito de enquadrá-los, quando possível, em um grupo de temas com características similares; e (ii) leitura dos resumos (abstracts) de forma complementar ao título quando o assunto não era evidente, auxiliando na definição da temática relacionada.

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Foram classificados todos os artigos que abordavam diretamente as nascentes, cabeceiras de drenagem e/ou as águas doces continentais superficiais e sub-superficiais, nos grupos temáticos: geomorfologia, hidrologia, hidrogeologia, qualidade da água, gestão de recursos hídricos, diagnósticos ambientais e outros. É importante lembrar que em alguns casos os artigos possuíam interseções temáticas, sendo, então, classificados em mais de um grupo. Além disso, foram desconsiderados para classificação os estudos que não possuíam uma relação intrínseca com os componentes hídricos de nascentes e cabeceiras de drenagem, tais como pesquisas de geomorfologia costeira, climatologia, sedimentologia, dentre outros, excetuando-se os casos em que eram os loci dos estudos.

No que concerne aos estudos relativos a nascentes, cabeceiras de drenagem e processos formadores de canais de primeira ordem, propriamente ditos, além da classificação em grupos por tema já citada, realizava-se a leitura completa dos artigos e dos currículos Lattes dos primeiros autores, com a posterior elaboração de um banco de dados acerca das características destas pesquisas, como: objeto, lócus de estudo, autor principal/formação acadêmica, universidade e periódico de divulgação. Assim, possibilitou-se uma visão conjunta de todas as publicações consultadas apesar da grande quantidade de estudos vistoriados.

3. Resultados e discussões.

Mesmo com o vasto material de pesquisa, que incluiu trabalhos sobre os mais variados temas como geografia urbana, engenharia hidráulica, engenharia sanitária, entre muitas outras divisões científicas, foram encontrados apenas oito artigos sobre cabeceiras de drenagem, nascentes e processos relacionados, em oito anos de publicações científicas brasileiras. Esses trabalhos foram analisados e suas informações básicas são apresentadas no Quadro 2.

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QUADRO 2: Artigos encontrados sobre nascentes, cabeceiras de drenagem e processos correlatos.

Título Tema Objeto Locus Primeiros

Autores Formação Universidade Periódico Cabeceiras de Drenagem da bacia do Rio

Quatorze- Formação Serra Geral (SW do Paraná): distribuição espacial, propriedades

morfológicas e controle estrutural. (2006)

Geomorfologia Cabeceira de Drenagem

Bacia do Rio

Quatorze Júlio C. PAISANI Geografia

Universidade Estadual do Oeste

do Paraná (Unioeste)

RA`E GA

Registro de mudanças ambientais pleistocênicas e holocênicas em depósitos de cabeceiras de

vale: Campo Alegre, Planalto Norte Catarinense (SC). (2006) Geomorfologia Mudanças ambientais Cabeceira de Drenagem Marcelo Accioly Teixeira de OLIVEIRA Geografia Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Revista Brasileira de Geociências

Avaliação dos impactos ambientais em nascentes na cidade de Uberlândia- MG:

Análise Macroscópica. (2005) Diagnósticos Ambiental Impactos ambientais Nascente Priscila Moreira GOMES Biologia Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Revista Sociedade e Natureza Classificação de sedimentos quaternários em

Cabeceiras de Vale através da aplicação do diagrama de Flemming: município de Campo

Alegre, Norte de Santa Catarina. (2004)

Geomorfologia Sedimentos Quaternários Cabeceira de Drenagem Marcelo Accioly Teixeira de OLIVEIRA Geografia Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Geociências- UNESP

As fontes em Itamonte, sul de Minas Gerais- Uma contribuição para o entendimento das relações entre água superficial e subterrânea.

(2005) Geomorfologia e Hidrogeologia Fontes Fazenda Monte Belo, município de Itamonte

Edgar PANE Geologia

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Revista Águas Subterrâneas

Desenvolvimento de incisão erosiva (voçoroca) descontínua e desconectada da rede hidrográfica em área de cabeceira de drenagem: o caso da colônia Quer- Quero

(Palmeira- PR). (2001)

Geomorfologia Incisão erosiva Cabeceira de

Drenagem Júlio C. PAISANI Geografia

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Revista Brasileira de Geociências

Perímetros de proteção para Fontes Naturais. (2003)

Hidrogeologia e qualidade da

água

Fontes Fontes Virgínia M. T.

COELHO Geologia

Universidade de São Paulo (USP)

Revista Águas Subterrâneas Evolução de Cabeceiras de Drenagem no Médio

Vale do Rio Paraíba do Sul (SP/RJ): a Formação e o Crescimento da Rede de Canais

sob Controle Estrutural. (2003)

Geomorfologia Cabeceiras de Drenagem Cabeceira de Drenagem Ana Luiza COELHO NETTO Geografia Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Revista Brasileira de Geomorfologia

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Assim, é necessário dizer que esses estudos, apesar de escassos, engendraram significativas contribuições para o conhecimento científico dos temas pesquisados a partir das diferentes perspectivas e abordagens realizadas. Como exemplo, há um estudo que exibe resultados sobre a relação entre mudanças ambientais locais em cabeceiras de vale e eventos climáticos do último ciclo glacial (OLIVEIRA e LIMA, 2004), e outro sobre contribuições para o entendimento dos impactos ambientais de algumas nascentes de Uberlândia-MG (GOMES et al, 2005), onde foi verificado elevado potencial de degradação devido à falta de proteção adequada e à proximidade de habitações.

Outros estudos também foram realizados com enfoques bastante distintos. Paisani e Oliveira (2001) pesquisaram os diversos fatores condicionantes das incisões erosivas que possuem descontinuidades (degraus e terracetes) presentes nas concavidades de cabeceiras de drenagem, bem como a falta de conexão entre as voçorocas e a rede hidrográfica.

Seguindo essa mesma linha de pesquisa que objetiva abordar as nascentes e cabeceiras apenas como loci para a realização de estudos com outros enfoques, há os artigos de Oliveira e Lima (2004), Coelho e Duarte (2003), e os já comentados Gomes et al. (2005) e Oliveira et al.(2006). Oliveira e Lima (2004) aplicaram uma técnica proveniente de estudos de classificação de sedimentos lamosos marinhos – o diagrama triangular de Flemming – na qual é feita a interpretação de sedimentos quaternários em cabeceiras de vale, sendo identificados paleossolos, sedimentos com organização incipiente e sedimentos com melhor organização granulométrica, revelando a relação entre solos e sedimentos do sistema encosta-calha fluvial. Coelho e Duarte (2003) estabelecem certos padrões de distância de proteção que sejam eficientes para garantir a qualidade da água de fontes naturais em respeito aos padrões requisitados para esse fim, baseando na condutividade elétrica e no decaimento bacteriológico. Neste sentido, foram definidas a Zona Imediata (independente da geologia e fixada em 10 m), a Zona Próxima (para proteção de contaminação bacteriológica) e a Zona Afastada, que marca o limite da área de recarga da nascente.

Ao lado dessa abordagem, há outra que busca compreender as nascentes e cabeceiras de drenagem pela sua formação e pelos processos intrínsecos ao seu conhecimento, ou seja, que possui nesses temas um objeto de estudo a ser investigado. Neste contexto foram encontrados os trabalhos de Paisani et al.(2006), Pane e Pereira (2005) e Coelho Netto (2003).

Paisani et al.(2006) discutem a relação entre a distribuição espacial, propriedades morfológicas e controle estrutural em cabeceiras de drenagem da Formação Serra Geral na bacia do rio Quatorze – SW do Paraná. Os resultados foram instigantes, revelando, por exemplo, que 76,32% das cabeceiras se situam no domínio geomorfológico superfície aplainada de topo e que 61,05% delas é controlada por fraturas. Em seu trabalho publicado na revista Águas Subterrâneas, Pane e Pereira (2005) apresentam um estudo em que evidencia uma estreita relação rocha/água a partir de suas influências nas águas de fontes. Nos resultados, o autor, através de métodos geofísicos como perfis de encaminhamento

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elétrico, revelou uma zona de fraturas situada logo abaixo do eixo de drenagem (indicando que o canal e as nascentes estão dispostas espacialmente em função dessas fraturas) e outra deslocada 100m. Também foram realizados cálculos de taxas de escoamento, de balanço hídrico, entre outros.

Por último, a geógrafa Ana Luíza Coelho Netto (2003), explicita os resultados de seu extenso trabalho desenvolvido ao longo do médio vale do rio Paraíba do Sul, entre SP e RJ, mais precisamente na bacia do rio Bananal. Nesta pesquisa, o principal interesse recaiu sobre as relações que correm nos processo hidro-geomorfológicos responsáveis por voçorocas, recuo de divisores, depressões fechadas em cabeceiras de drenagem, processos erosivos em cabeceiras adjacentes, dentre outros. Entre os resultados há o fato de que, com o avanço da incisão linear de canais e o rebaixamento do nível freático, acentua-se a competição pela água subterrânea entre vales de cabeceiras adjacentes, limitando a geração de fluxos artesianos e o desenvolvimento da rede de canais conectados, como já teorizado pela Lei de Gilbert (1877).

O conhecimento acadêmico gerado a partir da divulgação desses estudos é inegável. Entretanto, ao dividirmos estas pesquisas entre aquelas que abordaram as nascentes e formas/processos correlatos de modo direto e aquelas que o fizeram de modo indireto, é possível compreender um pouco mais sobre a produção acadêmica nacional. Por conseguinte, tendo em vista que 5 dos 8 artigos encontrados não tratam em seu escopo de nascentes e cabeceiras de drenagem como objetos diretos de estudo, pode-se inferir que exista atualmente uma pequena proporção de trabalhos com a finalidade de compreender a gênese e a dinâmica dos processos característicos dos formadores de cursos d’água. E isso acaba por reafirmar a necessidade de estudos acadêmicos neste sentido, mais uma vez.

Não obstante, o reduzido número total de pesquisas sobre nascentes e cabeceiras já é uma demonstração de que pouco se tem estudado sobre elas. No entanto, inúmeros trabalhos vêm alertando para a escassez de estudos sobre os fatores envolvidos na gênese de concavidades e dos processos condicionantes de canais de drenagem (MOURA e SILVA, 1998;DIETRICH e DUNNE, 1993). As nascentes e cabeceiras de drenagem constituem ainda hoje uma lacuna em termos de estudos acadêmicos que abordem as suas características intrínsecas e seus aspectos mais elementares, uma vez que a abordagem científica, em sua maioria, retrata outros aspectos ambientais e geomorfológicos que as envolvem como lócus de estudos. Deve-se destacar o insignificante número de trabalhos sobre nascentes. Foram encontrados apenas três estudos (PANE e PEREIRA, 2005; COELHO NETTO, 2003; GOMES et al., 2005) sendo que somente um (PANE e PEREIRA, 2005) objetiva compreendê-las em seus aspectos genéticos.

Destaca-se, ainda, a pouca expressividade dos geógrafos quanto ao estudo das nascentes. Aparentemente a geografia parece interessar-se muito mais pelas formas – vide os estudos sobre cabeceiras de drenagem – do que pelos processos de exfiltração que condicionam as nascentes. Enquanto todos os trabalhos avaliados estritamente sobre nascentes (fontes) foram realizados por não-geógrafos, os pesquisadores graduados em geografia concentram-se nos estudos de cabeceiras em

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pesquisas de cunho geomorfológico. A ausência da hidrogeologia na formação tradicional do geógrafo em concomitância com a maior relevância dada aos processos superficiais podem explicar parcialmente tal constatação. Por outro lado, o caráter ambiental das nascentes exigiria um conhecimento mais amplo de seus processos formadores e controladores por parte dos geógrafos.

As pesquisas sobre cabeceiras de drenagem nos últimos anos estão voltadas principalmente à modelagem física e matemática sobre a expansão da rede de canais, com atenção sobre a localização das cabeças de canais, ou seja, locais onde iniciam-se os canais nas cabeceiras de drenagem (COELHO NETTO, 2003). No que concerne as nascentes, a geografia e seus profissionais parecem ainda não ter percebido as lacunas existentes no âmbito científico e acadêmico.

Corroborando o que já foi mencionado, além do pequeno número de pesquisas sobre esse assunto, a diversidade de autores é muito restrita, sendo que dois deles (Paisani e Oliveira) são responsáveis por 4 artigos, ou seja, cerca de 50% do total encontrado. É importante enfatizar que Júlio César Paisani, atualmente professor adjunto da Unioeste, teve como orientador de sua dissertação de mestrado e tese de doutorado o professor Marcelo Accioly Teixeira de Oliveira. Eles possuem também uma antiga relação de trabalho na Universidade Federal de Santa Catarina, com diversos estudos conjuntos em áreas de cabeceiras de drenagem na região do Paraná, e isso explica em parte, o interesse dos autores pelo estudo de cabeceiras. Um exemplo é o tema de mestrado de Paisani em 1998 (“Descontinuidades hidrológicas, escoamento superficial e desenvolvimento de incisões erosivas em áreas de cabeceira de drenagem: estudo de caso na Colônia Quero-Quero, Palmeira – PR”), o qual gerou o artigo de nome semelhante publicado em 2001.

Quanto à formação acadêmica dos autores, a graduação em geografia e geologia é a maioria. Isso pode ser explicado pela similaridade de interesses das geociências e ciências ambientais no que diz respeito às relações existentes entre as águas de superfície e sub-superfície para o entendimento dos sistemas hidrológicos envolvidos. Evidentemente, a ocorrência de uma pesquisa feita por biólogos (GOMES et al., 2005) revela um interesse multidisciplinar desses objetos/loci de estudos, havendo diversas abordagens possíveis. Assim, mesmo entre áreas que não buscam a compreensão da formação das cabeceiras e nascentes, como a abordagem biológica, essas formas e processos se tornam alvo de pesquisas sobre o ambiente na qual estão inseridas, como no caso dos elementos faunísticos e florísticos.

Os periódicos em que os artigos sobre nascentes foram encontrados também marcam de alguma forma a pertinência destes objetos de estudo para com determinadas áreas da pesquisa acadêmica. Fato ilustrativo é que apenas três revistas de cunho propriamente geográfico (RA´E GA, Sociedade Natureza e Revista Brasileira de Geomorfologia) se encontram entre essas fontes de divulgação, enquanto as outras se ocupam das geociências como um todo e dos recursos hídricos (Águas Subterrâneas, Geociências UNESP e a Revista Brasileira de Geociências).

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Os diversos estudos sobre as águas doces continentais superficiais e sub-superficiais que passaram a integrar o banco de dados, podem revelar, além dos dados quantitativos dos grupos temáticos, um pouco do perfil das pesquisas recentes (Gráfico2).

Percentual dos Artigos Classificados.

Geomorfologia 19% Hidrologia 14% Hidrogeologia 24% Qualidade da Água 19% Mudanças/ Diagnósticos Ambientais 4% Outros 9% Gestão dos R. H.`s 11%

Gráfico 1: Percentual dos Artigos Classificados em Temas.

No período investigado, os trabalhos de Geomorfologia, Hidrologia e Hidrogeologia são maioria (Tabela 1), com 179 trabalhos conjuntamente, representando 57% de todos os temas envolvidos e constituindo, assim, os três grandes principais campos de interesses científicos identificados. Obviamente, que esse resultado é influenciado, dentre outros, pelas áreas da ciência e pelos periódicos selecionados neste trabalho. Contudo, estas áreas sinalizam os ramos do saber que, atualmente, são responsáveis pela maior produção científica sobre o tema.

Através dos dados, pode-se inferir também a proporção em que os temas de nascentes, cabeceiras e processos correlatos ocorrem nos grupos temáticos em que foram classificados, a saber: geomorfologia: 6/59; hidrogeologia: 2/76; qualidade da água: 1/61 e mudanças/ diagnósticos ambientais: 1/12, sendo essa a maior proporção entre os temas determinados. Os demais temas não possuíam estudos sobre as referidas formas e processos.

TABELA 1: Total de artigos por tema e periódico avaliado

Periódico Geomor- fologia Hidro- logia Hidro- geologia Qualidade da Água Mudanças/ Diagnósticos Ambientais Gestão dos R. H.`s Outros Total por temas* Boletim de Geografia de 0 0 0 0 0 0 0 0

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Maringá Boletim Goiano de Geografia 1 0 0 0 2 1 0 4 Boletim Paranaense de Geociências 6 1 3 2 0 0 1 13 Boletim Paulista de Geografia 0 0 0 0 0 0 1 1 Caderno de Geografia-PUC/MG 0 0 0 0 0 1 2 3 Ciência Geográfica 0 0 0 0 0 0 1 1 Espaço e Geografia 0 0 0 0 0 0 0 0 GEO UERJ 0 1 0 0 0 0 0 1 Geociências UNESP 6 2 5 4 0 1 0 18 Geografares 0 0 0 1 0 0 2 3 Geografia UEL 1 0 3 1 0 3 0 8 Geografia-Ass. De Geografia Teorética 3 2 1 3 1 2 0 12 Geografias-IGC 1 0 1 1 0 3 0 6 Geographia 0 0 0 0 0 1 0 1 Geonomos 1 0 0 3 1 0 0 5 GEOSUL 0 2 1 0 0 2 0 5 GEOUSP 1 1 0 1 0 0 0 3 Pesquisa em Geociências 10 0 1 2 1 0 0 14 Publicatio UEPG 0 1 0 2 0 0 1 4 RAE UFPR 3 0 0 0 0 2 1 6 Revista Águas Subterrâneas 0 5 44 21 2 2 6 80 Revista Brasileira de Geociências 3 0 9 5 2 2 0 21 Revista Brasileira de Geomorfologia 18 4 0 0 0 0 0 22 Revista Brasileira de Recursos Hídricos 4 25 8 13 2 16 14 82 Revista de Geografia UFMS 0 0 0 0 0 0 0 0 Sociedade e Natureza 1 0 0 2 1 0 1 5 Total* 59 44 76 61 12 36 30 318

*O total representa o número de temas em que os artigos foram classificados, dessa forma um único artigo pode possuir mais de um tema.

Finalmente cabe lembrar que, se analisarmos o conjunto total de estudos de nascentes, cabeceiras e processos associados (perfazendo 9 temas), chegaremos ao percentual de 2,83% sobre o total classificado (318). Mesmo com a quantidade significativa de pesquisas direta e principalmente indiretamente relacionadas a nascentes e cabeceiras, cabe lembrar que há ausência de estudos recentes.

4. Conclusões

Ao abordar as publicações recentes dos periódicos científicos nacionais como material de pesquisa, este trabalho buscou investigar a produção científica brasileira em termos de nascentes, cabeceiras de drenagem e todos elementos determinantes da rede hidrográfica. A escolha dos

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periódicos foi realizada visando enfocar a participação das áreas de recursos hídricos, geociências e principalmente a geografia na referida produção científica nacional.. Dada a grande quantidade de artigos levantados, a leitura dos títulos e resumos mostrou-se confiável e necessária para a elaboração deste panorama, permitindo a investigação daqueles trabalhos que abordam, direta ou indiretamente, os elementos estudados.

Os resultados demonstraram que a ciência (especificamente neste caso a nacional) é marcada por uma pequena proporção de pesquisas sobre nascentes e cabeceiras de drenagem e que a maioria concentra-se em abordagens indiretas que consideram as nascentes como locais de estudos. Também ficou expressa a concentração de poucos autores e poucos temas nesta produção bibliográfica, com mais de 50% dos estudos de águas doces nos grupos de hidrologia, hidrogeologia e geomorfologia.

Os resultados também refletem promissoras perspectivas para pesquisas futuras nas geociências e ciências ambientais. Nesse aspecto, a geografia se destaca pelo seu elevado potencial de horizontalização e verticalização do conhecimento nas interfaces entre as ciências naturais e humanas, entre os estudos da sociedade e da natureza. Neste sentido, a geografia preocupa-se com a gênese/dinâmica de feições e processos ambientais de cunho geomorfológico e hidrológico, nos quais se inserem aqueles responsáveis pela configuração e evolução das nascentes. Também possui especial interesse no estudo das pressões e impactos humanos no ambiente.

Nos oito anos investigados, os estudos geográficos sobre os processos formadores de canais ocorreram apenas em cabeceiras de drenagem, demonstrando o enfoque geomorfológico (formas e processos). Estes estudos podem contribuir para a compreensão dos modos de exfiltração e das tipologias morfológicas das nascentes, além dos fatores geomorfológicos condicionantes de sua gênese e dinâmica. Atualmente, as nascentes representam, portanto, um referencial em termos de lacunas para os estudos geográficos.

A realização deste trabalho pode contribuir para uma reflexão sobre a produção científica e acadêmica nacional no campo das geociências e das ciências ambientais, especificamente quanto ao estudo das nascentes. A identificação dessas lacunas sinaliza campos do conhecimento que merecem atenção da comunidade científica, como foi o caso do tema abordado.

6. Agradecimentos

Agradeçemos à FAPEMIG pelo auxílio financeiro para a participação no XIII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada realizado em Viçosa.

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COELHO NETTO, A. L. Evolução de Cabeceiras de Drenagem no Médio Vale do rio Paraíba do Sul (SP/ RJ): a Formação e o Crescimento da Rede de Canais sob Controle Estrutural. Revista Brasileira de Geomorfologia, Uberlândia, ano 4, n. 2, p. 69-100, 2003.

COELHO, V. M. T.; DUARTE, U. Perímetros de proteção para fontes naturais de águas minerais. Revista Águas Subterrâneas, São Paulo, n. 17, p. 77-90, 2003.

DIETRICH, W.E.; DUNNE, T. The channel head In: BEVEN, K; KIRKBY, M. J. (Org.) Channel network. Chichester: John Wiley & Sons, 1993. p. 175-219.

GOMES, P. M. et al. Avaliação dos impactos ambientais em nascentes na cidade de Uberlândia-MG: análise macroscópica . Sociedade e Natureza, Uberlândia, ano 17, n. 32, p. 103-120, 2005.

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Referências

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