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Enquadramento legal e condições de aplicação de medidas de compensação

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ORIENTAÇÕES RELATIVAS À NATUREZA E APLICAÇÃO DE MEDIDAS DE COMPENSAÇÃO NO CONTEXTO DA APLICAÇÃO DO DECRETO-LEI N.º 140/99, DE 24 DE ABRIL, REPUBLICADO PELO DECRETO-LEI N.º 49/2005, DE 24 DE FEVEREIRO

As presentes orientações para a ponderação da necessidade de aplicação de medidas de compensação e para a sua definição baseiam-se nos seguintes documentos da Comissão Europeia, cuja consulta se sugere para melhor compreensão dos aspectos abordados neste documento:

 “Gestão dos sítios Natura 2000: As disposições do artigo 6º da Directiva ‘Habitats’ 92/43/CEE”, de 2000

 “Avaliação de planos e projectos susceptíveis de afectar de forma significativa sítios Natura 2000: Guia metodológico sobre as disposições dos n.º 3 e 4 do artigo 6º da Directiva ‘Habitats’ (92/43/CEE)”, de 2001

“Documento de orientação sobre o n.º 4 do artigo 6.º da Directiva “Habitats"

(92/43/CEE)”, de Janeiro de 2007;

“Guidance document on the restrict protection of animal species of

Community interest under the Habitats Directive 92/43/EEC”, de Fevereiro

2007;

”Guidance Document – Wind Energy developments and Natura 2000.

European Commission, October 2010.

Enquadramento legal e condições de aplicação de medidas de compensação

No contexto jurídico e administrativo nacional a aplicação de medidas de compensação (ou compensatórias) na sequência de procedimentos de Avaliação de Incidências Ambientais (AIA)1 surge com particular solidez no Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de Abril, republicado pelo Decreto-Lei nº 49/2005, de 24 de Fevereiro (doravante designado por Dec-Lei nº 140/99), que transpõe para a ordem jurídica interna as Directivas do Conselho nº 92/43/CEE (Directiva Habitats), de 21 de Maio, e nº79/409/CEE (Directiva Aves), de 2 de Abril.

1De acordo com o n.º 2 e o n.º 3 do Artigo 10º do Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 de Abril, com a redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro, a avaliação de incidências ambientais corresponde ao procedimento de avaliação de impacto ambiental, quando o mesmo seja aplicável nos termos do Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, com a redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 197/2005, de 8 de Novembro, sendo que nos casos não abrangidos por este procedimento há lugar a uma análise de incidências ambientais.

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Não obstante existirem actualmente outros enquadramentos legais para o conceito de “compensação ambiental”2, tem sido no âmbito da aplicação do Dec.-Lei n.º 140/99 que se têm vindo a desenvolver as orientações relevantes no que respeita à aplicação de medidas de compensação enquanto instrumento de pós-avaliação ambiental e a adquirir a experiência e a jurisprudência de actuação das autoridades e operadores nessa matéria. De acordo com o n.º 9 do Artigo 10º do Dec-Lei nº 140/99, apenas podem ser autorizados

acções, planos ou projectos (adiante designados genericamente por projectos) não

directamente relacionados com a gestão de um sítio da Rede Natura 2000 (ZEC, SIC ou ZPE) e não necessários para essa gestão, quando objectivamente demonstrado que não afectam a integridade desse sítio, com base nos resultados de uma AIA no que se refere aos objectivos de conservação do(s) sítio(s) em causa.

Esta disposição aplica-se independentemente da localização do projecto, isto é, aplica-se a todo e qualquer projecto com impactos negativos sobre um sítio da Rede Natura 2000, mesmo que localizado integralmente fora desse sítio.

A realização de um projecto, cujos resultados da referida avaliação de incidências ambientais sejam negativos ou não permitam garantir a ausência de efeitos negativos na integridade de um sítio da Rede Natura 2000 (adiante designada por RN2000), depende sempre da demonstração prévia da ausência de soluções alternativas e do reconhecimento da sua necessidade por razões imperativas de reconhecido interesse público (n.º 10 do Artigo 10º do Dec-Lei nº 140/99).

Saliente-se que para a aprovação de um projecto com efeitos negativos na integridade de um sítio da RN2000 que decorram da afectação de um tipo de habitat natural ou espécie prioritários, apenas podem ser invocadas razões relacionadas com saúde ou segurança públicas, consequências benéficas primordiais para o ambiente ou, após parecer prévio da Comissão Europeia, outras razões imperativas de reconhecido interesse público (n.º 11 do Artigo 10º do Dec-Lei nº 140/99).

2 O Artigo 40º do Decreto-Lei nº 69/2000, de 3 de Maio, republicado pelo Decreto-Lei nº 197/2005, de 8 de Novembro, prevê a obrigatoriedade de execução de medidas compensação quando, na sequência de uma infracção, não seja possível ao infractor, ou considerado adequado pela autoridade de AIA, a reposição das condições anteriores à infracção em causa.

O Artigo 4º do Decreto-Lei nº 142/2008, de 24 de Julho, consagra no seu artigo 4º o princípio “da compensação, pelo utilizador, dos efeitos negativos provocados pelo uso dos recursos naturais”, referindo no seu artigo 36º, que a conservação da natureza e da biodiversidade pode ser promovida através de “instrumentos de compensação ambiental”, para “garantir a satisfação das condições ou requisitos legais ou regulamentares de que esteja dependente a execução de projectos ou acções, nomeadamente decorrentes do regime jurídico da avaliação de impacte ambiental ou do regime jurídico da Rede Natura 2000”. O artigo 36ª dispõe ainda que “a compensação ambiental concretiza-se pela realização de projectos ou acções pelo próprio interessado, previamente aprovados e posteriormente certificados pela autoridade nacional, que produzam um benefício ambiental equivalente ao custo ambiental causado”.

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Perante a autorização de um projecto cujas conclusões da avaliação de incidências ambientais sejam negativas, e asseguradas que estejam as matérias relativas às alternativas e ao interesse público, está prevista a necessidade de identificar e aplicar medidas de

compensação que assegurem a protecção da coerência global da Rede Natura 2000 (n.º

12 do Artigo 10º do Dec-Lei nº 140/99).

As medidas de compensação devem assim ser entendidas como o “último recurso”, na sequência da identificação de impactos negativos na integridade de um sítio da RN2000 e que subsistem para além da aplicação de todas as medidas de minimização passíveis de mitigar esses impactos.

De destacar que a inexistência de medidas eficazes e viáveis para assegurar a manutenção da coerência global da RN2000 deve conduzir à decisão de não aprovação do projecto em causa. Assim, a ponderação da existência de medidas de compensação eficazes deve começar o mais cedo possível no processo geral de planeamento do projecto, nomeadamente logo que se identifique a inexistência de localizações alternativas que não tenham efeitos significativos na RN2000.Esta abordagem não deve portanto ser entendida como uma forma de assegurar a aprovação do projecto sem a necessária demonstração prévia da ausência de soluções alternativas e da sua necessidade por razões imperativas de reconhecido interesse público, mas sim como forma de fornecer a informação essencial para a tomada de decisão.

De referir que as medidas de compensação identificadas no âmbito do Artigo 10º do Dec.-Lei n.º 140/99 têm que ser comunicadas à Comissão Europeia, nos termos do n.º 13 do Artigo 10º deste diploma.

O esquema seguinte pretende resumir o processo de decisão relativo a um projecto susceptível de afectar a integridade de um sítio da RN2000.

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Figura 1 – Ponderação de um projecto susceptível de afectar a integridade de um sítio da RN2000 e da

necessidade de aplicação de medidas de compensação. CA – Comissão de avaliação; DIA – Declaração de Impacto Ambiental; DIncA – Declaração de Incidências Ambientais; CE – Comissão Europeia. (adaptado do Guia

Não Sim

Não Sim Sim Não

Existem medidas de compensação que garantam a manutenção da coerência global da RN2000? Não

(parecer da CA)

Sim

(parecer da CA)

A autorização pode ser concedida (DIA ou DIncA favorável ou favorável condicionada à implementação de medidas de minimização) Há soluções alternativas? Não Sim Há razões imperativas de reconhecido interesse público?

Há razões de saúde ou segurança humanas, benefícios primordiais para o ambiente, ou outras razões de interesse público que mereceram parecer favorável prévio da CE?

A autorização não deve ser concedida (DIA ou DIncA desfavorável) Sim

A autorização não deve ser concedida (DIA ou DIncA desfavorável)

O sítio alberga espécies ou habitats prioritários?

Na sequência da AIA, pode considerar-se que do projecto não resultarão efeitos adversos na integridade de um sítio da RN2000 ou que os mesmos deixam de existir com a

implementação de medidas de minimização?

Não

Reformular o projecto

A autorização pode ser concedida (DIA ou DIncA favorável condicionada à implementação de medidas de compensação). A CE é informada.

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Por outro lado, e atendendo ao regime jurídico de protecção rigorosa das espécies, estabelecido pelo Artigo 11º e 12ª do Dec-Lei nº 140/99, os projectos que impliquem a perturbação ou deterioração/destruição de locais ou áreas de reprodução ou repouso das espécies de aves, incluindo as migratórias, que ocorrem naturalmente no estado selvagem no território europeu dos estados membros e das espécies animais dos anexos B-II ou B-IV do referido diploma, bem como a destruição das espécies vegetais dos anexos B-II e B-IV, mesmo que não afectem a integridade da RN2000 (ou seja, não incidindo directa ou indirectamente em nenhum sítio da RN2000), só podem ser aprovados quando verificadas cumulativamente as seguintes condições (referidas no Artigo 20ª do mesmo Dec-Lei):

1) não existir alternativa satisfatória,

2) não for prejudicada a manutenção das populações da espécie em causa num estado de conservação favorável, na sua área de distribuição natural, e

3) o projecto em causa visar uma das finalidades enunciadas nesse Artigo.

Embora a obrigação do estabelecimento de medidas de compensação não conste de forma explícita no Artigo 20º do Dec-Lei n.º 140/99, a autorização (com carácter excepcional) dos actos proibidos pelos Artigos 11º e 12º deste diploma, pode ser condicionada à aplicação deste tipo de medidas. A aplicação de medidas de compensação neste âmbito constitui uma forma de garantir que não ocorram efeitos negativos no estado de conservação das espécies afectadas pelo projecto em causa, quer ao nível da população local quer ao nível nacional. De referir que este entendimento é explicitamente referido no que respeita às espécies animais no documento “Guidance document on the restrict protection of animal species of Community interest under the Habitats Directive 92/43/EEC” da Comissão Europeia.

Salienta-se, no entanto, que a adopção de medidas de compensação no âmbito da derrogação prevista no Artigo 20º do Dec-Lei nº 140/99, não dispensa a verificação do cumprimento das condições acima referidas relativas à inexistência de soluções alternativas e à finalidade do projecto em causa.

De referir ainda que a autorização de projectos nestas condições está sujeita à emissão de uma licença por parte do ICNB de acordo com o estipulado no Artigo 20º.

O esquema seguinte pretende resumir o processo de decisão relativo a um projecto susceptível de deteriorar ou destruir locais de reprodução ou repouso de espécies de aves selvagens ou de espécies animais do anexo B-II ou B-IV do Dec-Lei nº 140/99, ou de destruir espécies vegetais destes anexos.

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Figura 2 – Ponderação de um projecto susceptível de deteriorar ou destruir locais de reprodução ou repouso de

espécies de aves selvagens ou de espécies do anexo B-II ou B-IV do Dec-Lei nº 140/99 ou destruir espécies vegetais destes anexos e da necessidade de aplicação de medidas de compensação.

Há alternativas satisfatórias?

Existem medidas de compensação que garantam a anulação dos efeitos adversos do projecto no estado de conservação da espécie em causa?

O projecto implica a deterioração ou destruição de locais de reprodução ou repouso de espécies de aves selvagens ou de espécies do anexo B-II ou B-IV do DL 140/99 ou de espécies vegetais destes anexos?

O projecto pode ser realizado, não sendo necessário a emissão de uma licença por parte do ICNB.

Sim Não

Reformular o projecto

O projecto é prejudicial à manutenção das populações da espécie em causa num estado de conservação favorável?

Não Sim

O projecto visa atingir alguma das finalidades enunciadas no n.º 1 do Artigo 20º?

A autorização não deve ser concedida

Não

Sim Sim

A autorização pode ser concedida, mediante a emissão de uma licença por parte do ICNB, condicionada à implementação de medidas de compensação que garantam que o projecto não terá efeitos negativos no estado de conservação das populações da espécie em causa.

Não Sim

A autorização pode ser concedida mediante a emissão de uma licença

por parte do ICNB Não

A autorização não deve ser concedida

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Conceitos

Medidas de compensação

As medidas de compensação têm como objectivo contrabalançar os impactos que subsistam para além da aplicação de todas as medidas de minimização susceptíveis de evitar, reduzir ou eliminar os impactes negativos de um projecto, directos, indirectos e cumulativos. As medidas de compensação devem proporcionar uma compensação equivalente e especificamente dirigida aos efeitos negativos e não minimizáveis decorrentes do projecto, sobre a integridade do sítio da RN2000 em causa e a coerência global da RN2000, ou sobre o estado de conservação das populações das espécies abrangidas pelos Artgos 11º e 12º do Dec.-Lei n.º 140/99.

As medidas de compensação são estabelecidas não ao nível do emissor dos impactos (projecto em causa) mas ao nível do receptor desses impactos (espécies e seus habitats, habitats naturais e sítios da RN2000 afectados). As medidas de minimização, pelo contrário, podem ser estabelecidas quer ao nível do emissor, quer do receptor. Deste modo, as medidas de compensação podem não diferir, na sua natureza, das medidas de minimização usualmente estabelecidas ao nível do receptor (e.g. beneficiação de habitat) mas são identificadas apenas quando o projecto foi alvo de conclusões negativas no processo de avaliação de incidências ambientais.

As medidas de compensação devem ir para além das medidas necessárias à protecção e gestão dos sítios da RN2000 e das obrigações estabelecidas na legislação comunitária (por exemplo, a aplicação de um plano de gestão, ou a proposta/designação de uma nova zona, já identificada como de importância comunitária, constituem medidas “normais” de actuação das autoridades do Estado-Membro).

Coerência global da RN2000 e integridade biológica de um sítio

A RN2000 constitui uma rede europeia de zonas especiais dedicadas à conservação da natureza que, à partida, deve apresentar as condições ecológicas necessárias para assegurar a manutenção ou, se necessário, o restabelecimento do estado de conservação favorável dos habitats naturais e das espécies visadas pelas Directivas Habitats e Aves , na sua área de distribuição natural. Assim, manter a coerência ecológica global da RN2000 é assegurar que essa rede continua a apresentar aquelas condições, incluindo ao nível dos territórios não classificados necessários para assegurar a conectividade entre os sítios da RN2000.

A integridade biológica de um sítio da RN2000 pode definir-se como a globalidade dos factores que contribuem para a manutenção ou restabelecimento do estado de

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conservação favorável dos valores naturais que constituem a base dos objectivos de conservação fixados para esse sítio. Esses factores incluem os componentes estruturais (ex. a composição e abundância de espécies e de habitats) e funcionais (ex. produção de biomassa, ciclo de nutrientes, dispersão, competição) dos ecossistemas nele representados. Deste modo, para assegurar a integridade de um sítio da RN2000 importa garantir a manutenção da composição e abundância dos valores naturais que justificaram a sua designação, bem como a dinâmica dos processos dos ecossistemas nele representados e suas funções. Para além disso, importa garantir a resiliência ou capacidade dos ecossistemas para evoluir de maneira favorável à manutenção ou restabelecimento do estado de conservação favorável dos valores naturais em causa, com o mínimo de gestão externa.

Do exposto decorre que existe uma relação intrínseca entre a coerência global da RN2000 e a integridade biológica dos sítios que a constituem. Com efeito, quando um projecto é susceptível de afectar significativamente um sítio da RN2000, ou seja, de pôr em causa a sua integridade no que respeita às condições necessárias para assegurar a contribuição do sítio para a conservação num estado adequado dos habitats naturais e das espécies para os quais o mesmo foi designado, esse projecto pode, consequentemente, afectar a coerência global da RN2000.

A contribuição de cada sítio para a coerência da Rede Natura 2000 depende dos objectivos de conservação que se lhe encontram atribuídos, ou seja dos habitats e espécies pelos quais esse sítio foi designado, em termos qualitativos e quantitativos, e do papel que o mesmo desempenha para garantir uma distribuição geográfica adequada desses valores. A avaliação da afectação da integridade de um sítio deve concentrar-se nos objectivos de conservação do mesmo e estar a eles limitada, devendo para tal basear-se no estabelecido na ficha de caracterização do sítio em causa, disponível no Plano Sectorial da RN2000. Por outro lado, esta avaliação deve ter por base o princípio da precaução, do que resulta que a não aprovação do projecto não tem que assentar na certeza de que o mesmo terá efeitos significativos sobre o sítio, bastando para tal que se verifique a probabilidade desses efeitos existirem. Dito doutro modo, o projecto só pode ser aprovado quando a avaliação de incidências ambientais permitiu demonstrar a inexistência de efeitos significativos sobre os objectivos de conservação do sítio ou seja sobre a integridade do mesmo para alcançar esses objectivos.

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Estado de conservação favorável O Dec-Lei nº 140/90 define como:

Estado de conservação de uma espécie: a situação da espécie em causa, em função do

conjunto das influências que, actuando sobre a mesma, podem afectar, a longo prazo, a distribuição e a importância das suas populações no território nacional;

O estado de conservação duma espécie será considerado «favorável» sempre que:

- os dados relativos à dinâmica das populações da espécie em causa indicarem que essa espécie continua, e é susceptível de continuar, a constituir a longo prazo um elemento vital dos habitats naturais a que pertence e

- a área de distribuição natural dessa espécie não diminuir, nem correr o perigo de diminuir num futuro previsível e

- existir, e continuar provavelmente a existir, um habitat suficientemente amplo para que as suas populações se mantenham a longo prazo.

Estado de conservação de um habitat natural: a situação do habitat em causa, em função

do conjunto das influências que actuam sobre o mesmo, bem como sobre as espécies típicas que nele vivem, susceptível de afectar, a longo prazo, a sua distribuição natural, a sua estrutura e as suas funções, bem como a sobrevivência a longo prazo das suas espécies típicas.

O estado de conservação de um habitat natural será considerado «favorável» sempre que: - a sua área de distribuição natural e as superfícies que abranja sejam estáveis ou

estejam em expansão

- a estrutura e as funções específicas necessárias à manutenção a longo prazo existirem e forem susceptíveis de continuar a existir num futuro previsível e que o estado de conservação das espécies típicas for favorável de acordo com a definição acima referida.

A análise do impacte de um projecto no estado de conservação das espécies e dos habitats deve ser considerada à escala do Estado Membro (para cada região biogeográfica no caso dos valores protegidos pela Directiva Habitats) e à escala local, sendo de referir que o estado de conservação da espécie ou habitat ao nível local pode diferir do seu estado de conservação ao nível do Estado Membro. Importa assegurar que o projecto não tenha efeito prejudicial no estado de conservação da espécie ou habitat em causa a nenhum dos níveis de análise considerados.

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Orientações gerais para a concepção de medidas de compensação

As medidas de compensação devem ser as mais adequadas ao tipo de impacto previsto e referir-se inequivocamente aos tipos de habitats e populações de espécies passíveis de serem afectados. Se o projecto afectar um sítio da RN2000, estas medidas devem incidir sobre os aspectos estruturais e funcionais da integridade do sítio em causa, tendo em conta os objectivos de conservação do mesmo e o seu papel na coerência global da rede Natura 2000. No caso de um projecto susceptível de danificar locais ou áreas de reprodução e repouso das espécies animais protegidas pelo Artigo 11º ou destruir as espécies vegetais protegidas pelo Artigo 12º do Dec-Lei n.º 140/99, mesmo que não afecte nenhum sítio da RN2000, a concepção das medidas de compensação deve ter em consideração o papel da área afectada para assegurar o estado de conservação favorável dos valores naturais em questão.

Deste modo, o programa de compensação deve ser necessariamente constituído por medidas ecológicas focalizadas nos valores alvo e nos efeitos do projecto sobre os mesmos. Assim, salienta-se que os pagamentos a entidades ou a fundos especiais, independentemente de estarem ou não associados a projectos no domínio da conservação da natureza, bem como a realização de estudos não são per se medidas de compensação adequadas no contexto do Dec.-Lei 140/99.

As medidas de compensação devem ser estabelecidas em função de uma correcta avaliação da situação de referência existente e da natureza exacta e amplitude dos efeitos negativos que subsistem após a aplicação das medidas de minimização dos impactos do projecto em causa. A sua definição deve basear-se nos resultados obtidos na avaliação de incidências ambientais, com apoio da melhor informação científica disponível e recurso aos métodos e técnicas reconhecidos como mais adequados. Se necessário, essa informação deve ser complementada com estudos específicos referentes à área na qual as medidas serão aplicadas.

Na definição das medidas de compensação devem ser tidos em conta, nomeadamente, os seguintes aspectos:

 Espécies e habitats passíveis de serem negativamente afectados e respectivos estados de conservação3 e/ou, quando aplicável, estatutos de ameaça4, a nível

nacional;

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 Efectivos lesados das espécies passíveis de serem afectadas e sua representatividade ao nível da população que ocorre no sítio e da população nacional (da zona biogeográfica no caso de espécies protegidas pela Directiva Habitats). Para este efeito, poderão ter de ser também considerados aspectos como o grau de isolamento das populações afectadas e a sua diferenciação genética;  Área dos habitats lesados passível de ser afectada e sua representatividade ao nível

do sítio e da zona biogeográfica no território nacional;

 Especificidades da situação populacional, biologia, ecologia e comportamento das espécies afectadas;

 Componentes estruturais e funcionais lesadas dos ecossistemas afectados;

 Factores de ameaça que actuam sobre as espécies e habitats afectados na área de instalação do projecto.

De referir que, não obstante a compensação dever procurar corrigir os impactos negativos causados pelo projecto sobre os valores afectados, as medidas a aplicar podem dirigir-se também à redução de afectações causadas por outras actividades que concorram para causar o mesmo tipo de impactos.

Na concepção das medidas de compensação deve ser tida em conta a necessidade de assegurar ao máximo a auto-sustentabilidade das acções a desenvolver, devendo optar-se preferencialmente por intervenções que requeiram uma gestão de suporte mínima. Por exemplo, as medidas a aplicar com vista a compensar a afectação de uma determinada espécie não se deverão focar estritamente na manutenção/recuperação do seu efectivo, devendo este objectivo ser alcançado através da conservação do ecossistema que suporta a espécie e das relações bióticas e abióticas em que a mesma está envolvida. No caso de estar em causa a afectação de predadores e de ser adequada como medida de compensação o aumento da disponibilidade alimentar para a espécie afectada, as acções a desenvolver deverão ser prioritariamente dirigidas ao fomento das suas presas selvagens e não ao fomento da sua dependência de fontes de alimento antrópicas.

Programa de medidas de compensação

O programa de medidas de compensação deve integrar todos os aspectos técnicos, jurídicos e financeiros necessários ao cumprimento dos seus objectivos, atendendo nomeadamente às seguintes orientações:

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1. Devem ser estabelecidos objectivos e valores-alvo claros para as medidas a aplicar, em conformidade com os valores naturais e as condições ecológicas afectados e, no caso de projectos que afectem a RN2000, com os objectivos de conservação do sítio em causa. A definição destes objectivos deve ter por base o estabelecimento de indicadores da afectação em causa e dos respectivos valores de referência a alcançar, de forma a permitir monitorizar o sucesso da compensação.

2. Deve ser assegurada a eficácia e a viabilidade técnica das medidas de compensação a aplicar com base no melhor conhecimento científico disponível e atendendo aos requisitos específicos das características ecológicas a restabelecer. Não devem ser ponderadas medidas que não apresentem garantias razoáveis de êxito.

Tendo em conta o facto da experiência disponível na aplicação deste tipo de medidas ser ainda reduzida, as mesmas representam geralmente intervenções inovadoras no âmbito da conservação da natureza. No entanto, sempre que possível, deve ser favorecido o recurso a técnicas e métodos que já provaram ser eficazes.

De referir que, tendo em conta que o projecto foi alvo de conclusões negativas na avaliação dos seus impactos, a correcção em absoluto dos mesmos será muito difícil de atingir, pelo que a eficácia das medidas identificadas terá sempre necessariamente alguma incerteza associada.

3. A dimensão (ex: área, número de indivíduos) necessária para assegurar a eficácia das medidas de compensação depende directamente dos aspectos quantitativos e qualitativos inerentes às populações de espécies e aos habitats passíveis de serem negativamente afectados e dos aspectos técnicos específicos das próprias medidas.

As medidas de compensação devem visar os habitats e as espécies negativamente afectadas em proporções comparáveis, em termos de superfície e efectivo populacional, às da afectação em causa. No caso de projectos que afectem a RN2000, as medidas de compensação devem garantir a manutenção dos quantitativos que justificaram a designação do sítio.

Assim, o rácio entre a compensação e a afectação deve ser estabelecido caso a caso e determinado em função da informação obtida no decurso da avaliação de incidências ambientais ou em estudos complementares, de forma a assegurar os requisitos mínimos necessários para alcançar a funcionalidade ecológica perdida.

Este rácio deve, em geral, ser largamente superior a 1:1, devendo apenas ser ponderados rácios de compensação de 1:1 caso se demonstre que as medidas serão 100% eficazes para

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forem os aspectos da integridade comprometidos, quanto menos testados tiverem sido os métodos e técnicas que se pretendem aplicar, e quanto mais tempo for necessário para obter o efeito desejado, mais elevado deve ser o rácio de compensação a aplicar.

4. A localização da compensação deve ser a que se afigure como mais eficaz para assegurar a coerência global da RN2000 e o estado de conservação favorável das espécies e habitats passíveis de serem afectados. Genericamente, entende-se que deve ser tão perto quanto possível da zona afectada pelo projecto, num local com condições adequadas ao êxito das medidas. Não obstante, a distância entre a área afectada e o local de aplicação das medidas de compensação não constitui necessariamente um obstáculo, desde que seja restabelecida a funcionalidade perdida.

Na selecção dos locais para aplicação das medidas de compensação devem ser respeitadas as seguintes condições:

− A zona seleccionada para compensação deve situar-se na mesma região biogeográfica (no caso de estar em causa a afectação de espécies ou habitats protegidos pela Directiva “Habitats”) ou na mesma área de repartição, rota migratória ou área de invernada das espécies de aves afectadas (protegidas pela Directiva “Aves”) do Estado-Membro. No caso de existirem efeitos transfronteiriços, pode ser necessário estender a aplicação de medidas de compensação ao território de outro Estado-Membro.

− A zona seleccionada para compensação deve proporcionar funções comparáveis às do local afectado, nomeadamente no que respeita ao papel desempenhado pelo mesmo na distribuição geográfica das espécies e habitats em causa. Deve pois possuir, ou ter capacidade para desenvolver, as características específicas associadas à estrutura e às funções ecológicas requeridas pelos habitats e pelas populações das espécies que se pretendem restabelecer. Este requisito refere-se a aspectos qualitativos próprios dos recursos danificados e necessita da apreciação das condições ecológicas locais.

− As medidas de compensação não podem comprometer a integridade de um sítio da RN2000, ou seja, sempre que sejam aplicadas em sítios da RN2000 já existentes, as medidas devem ser compatíveis com os objectivos de conservação desses sítios.

No caso de projectos que afectem a RN2000, a localização das medidas de compensação deve ser escolhida de forma a produzir a máxima eficácia na manutenção da coerência global da mesma, devendo respeitar a seguinte ordem de prioridades:

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1) Compensação no próprio sítio da RN2000, desde que existam no mesmo os elementos necessários para restabelecer a sua estrutura e funcionalidade ecológica e, assim, garantir a coerência ecológica e a funcionalidade da rede.

2) Compensação fora do sítio da RN2000 em causa, mas numa unidade topográfica ou paisagística comum, desde que seja possível a mesma contribuição para a estrutura ecológica e/ou função da rede. O novo local poderá ser outro sítio designado como pertencente à RN2000 ou um local não-designado. Neste último caso, a zona deve ser designada como sítio RN2000 e abrangida por todas as exigências estabelecidas nas directivas relativas à conservação da natureza.

3) Compensação fora do sítio da RN2000, numa unidade topográfica ou paisagística diferente, desde que seja possível a mesma contribuição para a estrutura ecológica e/ou função da rede. O novo local pode ser outro sítio designado como pertencente à RN2000. Se a compensação ocorrer num local não-designado, a zona deve ser designada como sítio da RN2000 e abrangida por todas as exigências estabelecidas nas directivas relativas à conservação da natureza.

Nota: As designações de sítios no contexto das medidas de compensação devem ser

apresentadas à Comissão antes da sua aplicação e da execução do projecto, mas após a autorização deste pelas autoridades nacionais. Estas designações devem ser notificadas à Comissão pelas vias e de acordo com os procedimentos estabelecidos no âmbito do processo de designação de SIC e ZPE.

A aplicação de medidas de compensação num sítio RN2000 diferente do afectado, pode implicar a alteração dos objectivos que estiveram na base da designação desse outro sítio, devendo também esta situação ser comunicada à CE.

5. O calendário para o desenvolvimento das medidas de compensação deve garantir a continuidade dos processos ecológicos essenciais para assegurar o estado de conservação favorável das espécies e habitats afectados pelo projecto em causa e a manutenção da coerência global da Rede Natura 2000 durante o seu tempo de vida e à escala temporal dos impactos do mesmo.

Como princípio geral, quer um sítio da RN2000, quer uma espécie, não devem ser afectados de forma irreversível por um projecto antes de a compensação ser concretizada, isto é, as medidas de compensação devem estar em funcionamento, antes ou pelo menos à data em que a afectação ocorra. Não obstante poderem ocorrer situações em que não é possível satisfazer este requisito, devem envidar-se os maiores esforços para assegurar que a compensação se concretize com antecedência. Caso isso não seja de todo viável (por

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exemplo, atente-se que a reconstituição de um habitat florestal leva muitos anos até poder assegurar as mesmas funções que o habitat original afectado negativamente por um projecto), deve ser estipulado um prazo para alcançar os objectivos de conservação em causa e estabelecida uma compensação suplementar para os prejuízos que entretanto ocorrerão. No entanto, os adiamentos apenas são admissíveis se houver certeza que não comprometem o objectivo de “ausência de perdas líquidas” para a coerência global da rede Natura 2000 e que não põem em causa a existência de condições para assegurar a manutenção ou o restabelecimento do estado de conservação favorável de uma espécie ou habitat.

A decisão sobre a necessidade das medidas serem executadas desde logo ou de ser admissível algum atraso na sua execução deverá ter em consideração as espécies e habitats em causa. Por exemplo, deve ser conferida especial atenção aos casos em que os efeitos negativos de um projecto dizem respeito a tipos de habitats naturais raros ou que necessitam de um longo período para recuperar a sua funcionalidade ecológica. Nestes casos, terá que se considerar o facto dos impactes não serem compensáveis a uma escala temporal razoável e ponderar-se seriamente a “opção zero”, ou seja, a não aprovação do plano.

Caso o projecto tenha como consequência imediata ou a curto prazo a redução de populações de espécies incluídas no anexo II da Directiva “Habitats” ou no anexo I da Directiva “Aves”, em especial de espécies prioritárias, não deverão ser permitidos adiamentos da aplicação das medidas de compensação.

A aplicação das medidas de compensação pode ser escalonada ao longo do tempo em função dos efeitos negativos que se pretendem compensar ocorrerem a curto, médio ou longo prazo.

Deve ser assegurada a coordenação do calendário de aplicação das medidas de compensação com o calendário de execução do projecto em causa.

6. Deve ser assegurada a viabilidade operacional das medidas, que garanta a sua plena aplicação e eficácia durante o tempo de vida do projecto e à escala temporal dos impactos do mesmo. Esta base deve ser solidamente estabelecida tendo em conta os aspectos legais, financeiros e sociais que possam condicionar a execução das medidas a aplicar de acordo com o calendário previsto. As dificuldades práticas da execução das acções estipuladas devem ser antecipadas na fase de concepção do programa de medidas de compensação, de forma a não comprometer o sucesso das mesmas.

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De salientar a necessidade de definir atempadamente os mecanismos de financiamento, os procedimentos legais e os parceiros necessários para assegurar o êxito das medidas em questão. Estando em causa o cumprimento de uma obrigação decorrente de Directivas Comunitárias, a questão económica não deve ser critério determinante para a selecção das medidas a implementar. Esta selecção deve basear-se em primeiro lugar na eficácia e viabilidade técnica das medidas a desenvolver.

O financiamento das medidas de compensação deve ser suportado pelo promotor do projecto, durante o tempo de vida do projecto e à escala temporal dos impactos do mesmo. De referir que é possível a concessão de apoio financeiro do Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional (FEDER) para medidas de compensação associadas a projectos financiados no âmbito deste Fundo, estando contudo o mesmo explicitamente vedado ao financiamento pelo LIFE +.

7. Deve ser assegurada a estreita coordenação e cooperação entre a autoridade nacional de conservação da natureza, as autoridades avaliadoras, o promotor do projecto, o concessionário e os consultores externos implicados, com vista a assegurar a eficácia das medidas de compensação. No caso de projectos transfronteiriços, deverá igualmente ser assegurada uma adequada cooperação entre os Estados-Membros envolvidos.

8. Deve ser promovida a informação e/ou consulta do público relativamente às medidas de compensação a aplicar.

9. Deve ser definido um programa de monitorização da aplicação das medidas de compensação, com base nos indicadores definidos, de forma a aferir e garantir a eficácia das mesmas durante o tempo de vida do projecto e à escala temporal dos impactos do mesmo. As medidas que, de acordo com os resultados desta monitorização, apresentem baixos níveis de eficácia para alcançar os objectivos pretendidos devem ser alteradas em conformidade. Deve ser definido um calendário para a apresentação de relatórios relativos a esta monitorização.

Exemplos de medidas de compensação

A título de exemplo, apresentam-se algumas medidas de compensação que têm vindo a ser propostas no âmbito de procedimentos de AIA, as quais poderão ter aplicação em diversas tipologias de projectos. No entanto, é de realçar que a definição destas medidas tem que ser feita caso a caso, tendo em conta as especificidades de cada projecto e do seu local de implantação, bem como o contexto que determina o recurso a este tipo de

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objectivo, as mesmas poderão dar resposta simultaneamente a mais do que um desses objectivos.

Beneficiação/Reconstituição de habitat

A compensação pode consistir em acções que visem recuperar/reconstituir o habitat afectado em outras áreas, numa proporção correspondente às perdas previstas no local afectado pelo projecto.

Estas acções podem visar assegurar a manutenção do valor de conservação de habitats naturais listados no Anexo B-I do Dec-Lei n.º 140/99, quando se verifique a sua afectação, ou visar a manutenção/recuperação do estado de conservação favorável das espécies animais afectadas pelo projecto. Neste último caso, as acções serão dirigidas ao melhoramento ou reconstituição dos habitats dessas espécies, podendo o habitat a melhorar ou a reconstituir não ser idêntico ao habitat afectado, desde que assegure as mesmas funções que a área afectada assegurava relativamente à biologia das espécies em causa.

A título de exemplo poder-se-ão referir, no caso da afectação de habitats florestais, acções que visem a promoção da regeneração natural, a reflorestação/adensamento com as espécies florestais autóctones típicas do habitat em causa e, em articulação com a acção anterior, a criação de viveiros de espécies florestais autóctones.

Medidas dirigidas à redução do risco de incêndio também podem ser ponderadas, como medida suplementar, num esquema de compensação como forma de diminuir o risco de perdas acrescidas do habitat afectado pelo projecto em causa.

Fomento de presas

No caso de estar em causa a afectação de predadores e quando a disponibilidade alimentar for identificada como um factor limitante para manter ou alcançar o seu estado de conservação favorável, o fomento de presas das espécies afectadas pode constituir uma medida de compensação adequada. O recurso a esta medida requer que seja previamente avaliada a disponibilidade de alimento, de forma a fundamentar a pertinência dessa opção.

Nestas situações, e tal como já referido, as acções a desenvolver deverão ser prioritariamente dirigidas ao fomento das presas selvagens das espécies afectadas em detrimento da sua dependência de fontes de alimento antrópicas.

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Entre as acções para fomento de espécies-presa deverão estar medidas de gestão do habitat que favoreçam o estabelecimento das suas populações de uma forma sustentável. Poderão igualmente ser equacionadas medidas com vista à diminuição da pressão cinegética e de furtivismo sobre estas espécies. Essas acções poderão passar pela redução dos quantitativos de abate das espécies em questão ou pela interdição total da caça em áreas com potencialidades elevadas para esta espécies e que sirvam de refúgio às mesmas. Para além disso e após garantidas as condições necessárias em termos de qualidade e capacidade de carga do habitat, poder-se-á ponderar, caso se verifique que as medidas dirigidas ao habitat não são suficientes, o reforço da população da espécie presa em causa com a libertação de indivíduos.

Reforço/Reintrodução de espécies

Nos casos em que no âmbito de um esquema de compensação seja ponderado o reforço populacional ou a reintrodução de uma espécie (da espécie afectada propriamente dita ou de uma espécie presa da mesma), tendo em conta a complexidade e sensibilidade de qualquer acção deste tipo, o programa de trabalhos dessa acção deve incluir os seguintes elementos:

 Definição clara dos objectivos da acção

 Caracterização da espécie, nomeadamente da sua situação actual na área na qual se pretende intervir (áreas de presença e estimativa dos efectivos actualmente existentes)

 Análise das potencialidades do habitat para a espécie-alvo na área em que se pretende proceder à sua libertação, bem como do impacto que a mesma poderá ter para o restante ecossistema

 Análise das ameaças e factores limitantes que possam condicionar o sucesso das acções pretendidas

 Origem dos animais a libertar, garantindo que as populações fonte apresentam efectivos que permitam retirar animais, bem como a existência dos recursos humanos com experiência para a captura e manipulação dos animais

 Apresentação de um plano detalhado de todas as acções a desenvolver (captura, detenção, transporte, localização dos cercados de adaptação, criação em cativeiro, libertação de animais, acções a desenvolver no sentido de aumentar a disponibilidade de habitat adequado para a espécie-alvo)

 Planeamento do acompanhamento veterinário e das análises a efectuar aos animais a libertar (ex: genéticas, sanitárias)

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 Apresentação de um plano da monitorização da evolução da situação, quer no que respeita à espécie-alvo, quer no que respeita às medidas de melhoria do habitat a executar.

As áreas de intervenção de um projecto de reforço populacional/reintrodução, deverão coincidir com áreas nas quais estão a ser desenvolvidas as acções de melhoramento/reconstituição de habitat dessas espécies. Essas áreas deverão igualmente ser alvo de medidas que visem minimizar outros factores não relacionados com o habitat que possam comprometer o sucesso da acção de reforço/reintrodução que se pretende levar a cabo. A calendarização destas diferentes acções deverá ser articulada para que a libertação de animais só ocorra após essas áreas estarem efectivamente preparadas para tal, devendo este aspecto constar do programa de trabalhos.

Redução da perturbação sobre as espécies ou habitats afectados

Um dos impactos associados à instalação e funcionamento de determinados projectos é o aumento da perturbação sobre espécies e/ou habitats decorrentes da melhoria do acesso por parte do Homem a áreas até aí tranquilas. Com o objectivo de reduzir o nível de perturbação sobre os valores em causa, e para além das medidas de minimização previstas para esse efeito (cancelas, eliminação dos acessos após as obras, etc), poderão ser ponderadas no âmbito do programa de compensação medidas com vista à redução da perturbação associada a outras actividades.

Nesta perspectiva, pode ser considerado o estabelecimento de condicionantes à realização de algumas actividades (caça, actividades agro-florestais, turismo, actividades desportivas) em determinadas áreas, nomeadamente áreas com particular relevância para assegurar a conservação das espécies e habitats afectados, como sejam, os locais de reprodução/nidificação e zonas de repouso/alimentação.

Como exemplo, pode referir-se a celebração de contratos para condicionar intervenções no habitat num raio determinado em torno de locais de nidificação de grandes águias, como forma de minimizar a perturbação, evitando ainda a degradação do habitat em áreas-chave para a sua conservação. Também a interdição da actividade cinegética em áreas sensíveis pode contribuir para reduzir a perturbação existente, criando zonas de refúgio para as espécies predadoras afectadas e suas presas selvagens, potenciando simultaneamente o aumento da disponibilidade destas últimas.

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Redução do risco de perseguição dirigida às espécies animais afectadas e de destruição pelo Homem das espécies vegetais e habitats afectados

A beneficiação das acessibilidades associada a determinados projectos pode, para além do aumento da perturbação, facilitar o contacto do Homem com os valores afectados e, nesse sentido, aumentar o risco de abate ilegal de espécies animais ou de destruição de habitats e espécies da flora.

Com o objectivo de corrigir o aumento desse risco, poderão ser ponderadas as seguintes medidas de compensação:

1) Acções de sensibilização junto de grupos alvo (p.ex. caçadores, criadores de gado, agricultores).

2) Medidas para evitar prejuízos causados pelas espécies alvo e que estão na base da animosidade para com as mesmas. Por exemplo no caso do lobo, poderá ser ponderada como compensação a aplicação de mecanismos adequados à protecção dos efectivos pecuários (cães de gado e pastor no pastoreio de percurso, cercas eléctricas e cães de gado no pastoreio de cercado e eliminação do pastoreio livre), com vista a que o lobo faça uma mudança gradual de presas domésticas para presas selvagens, garantindo a sobrevivência da espécie.

Redução do risco de mortalidade

Em projectos que tenham como impacto associado a mortalidade de espécies, para além das medidas de minimização para reduzir esse risco, poderá ser ponderada, no âmbito do programa de compensação, a melhoria das condições de áreas alternativas no sentido de reduzir a utilização da área de instalação do projecto pelas espécies afectadas. As áreas a melhorar devem situar-se na envolvente do projecto mas em locais suficientemente distantes para garantir a segurança dos espécimes em causa. Como exemplo pode-se referir a melhoria de áreas de caça para espécies de aves do topo da cadeia trófica (p. ex. grandes águias), através da gestão do habitat para fomento das espécies-presa dessas aves. Esta medida poderá contribuir igualmente para compensar o eventual efeito de exclusão que a instalação e funcionamento do projecto possa provocar nas espécies afectadas.

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Possíveis meios para operacionalizar medidas de compensação

Para aplicar as medidas de compensação podem ser ponderadas diversas soluções, a equacionar caso a caso atendendo aos condicionalismos e circunstâncias específicas do projecto. Entre outras opções, podem apontar-se:

• Aquisição de terrenos;

• Aquisição de direitos sobre terrenos;

• Contratualização de medidas de gestão de habitat com os proprietários, usufrutuários ou arrendatários dos terrenos em causa.

• Incentivo de actividades económicas que sustentam funções ecológicas chave.

No caso dos projectos com uma ampla incidência territorial, como sejam os Parques Eólicos, atendendo nomeadamente aos efeitos cumulativos decorrentes da sua concentração espacial, uma abordagem integrada dos mesmos, com o estabelecimento de medidas de compensação a uma escala geográfica mais alargada do que a que respeita a cada projecto isolado, poderá ser a opção mais adequada à escala de afectação de algumas das espécies, como por exemplo o lobo. Esta abordagem mais ampla, feita ao nível da região geográfica em que se inserem os Parques, permite assegurar a integração das medidas de compensação de cada projecto de forma a não haver nem redundância nem efeitos contraditórios entre elas. Simplifica ainda o processo de gestão das mesmas no terreno e facilita a sua monitorização e a aferição da sua eficácia, reduzindo naturalmente o custo associado à sua execução.

A título de exemplo, é de mencionar que, tendo em conta o crescente número de Parques Eólicos que tem vindo a ser implementado nas Serras de Montemuro, Freita e Arada, e a necessidade decorrente dos respectivos procedimentos de AIA de aplicar medidas de compensação dirigidas ao lobo, foi constituído um fundo comum para o qual contribuem todos os promotores dos projectos em causa para financiar a execução dessas medidas. A criação deste fundo, cuja gestão foi atribuída a uma única entidade em representação de todos os promotores envolvidos, visa precisamente assegurar que a aplicação das medidas de compensação necessárias e adequadas decorrentes da instalação dos vários projectos seja efectuada de uma forma integrada. De salientar, no entanto, que a criação deste fundo não constitui per se uma medida de compensação, constituindo sim uma forma de operacionalizar as medidas identificadas como mais adequadas.

De referir ainda que a designação de novos sítios da RN2000, também não constitui em si mesma uma medida de compensação, mas antes um procedimento que permite garantir a

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eficácia de medidas que foram identificadas como necessárias para assegurar a coerência da RN2000, a aplicar em áreas até à data não classificadas.

Referências

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