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Mídia e Eleições Presidenciais no Brasil em 2010: A produção da Folha de S. Paulo e Estado de São Paulo no período eleitoral

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Michele Goulart

Camilla Quesada

Mariane NAVA

Las últimas reformas de la seguridad social en América Latina

(2006-2010): Algunas dimensiones para el estudio comparado

Luis N. Schenoni

Una crítica al concepto de State Sponsor of Terrorism

Nelson Dionel

Mídia e Eleições Presidenciais no

Brasil em 2010: A produção da Folha

de S. Paulo e Estado de São Paulo no

período eleitoral

Cristóbal Bywaters

Reseña: “Política exterior para la democracia”

de Heraldo Muñoz (ed.)

REVISTA CHILENA

DE ESTUDIANTES DE

CIENCIA POLÍTICA

Daniela Oliva

Javier Torres

El aborto en la mira. Determinantes sociodemográficos,

socioeconómicos y políticos de su aceptación o rechazo

en Chile (1991-2010)

58 - 71

42 - 57

98 - 103

22 - 41

72 - 97

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Mídia e Eleições Presidenciais no Brasil

em 2010: A produção da Folha de S. Paulo e

Estado de São Paulo no período eleitoral

Michele Goulart* Camilla Quesada**

Mariane Nava*** Resumo

O artigo analisa a cobertura jornalística feita pelos dois maiores jornais brasileiros -Folha de São Paulo e Estado de São Paulo– sobre a eleição presidencial de 2010. Para tanto, foram coletadas todas as notícias que citavam um dos nove candidatos a presidência no período de julho a outubro do mesmo ano. O objetivo do trabalho é comparar a visibilidade que a co-bertura eleitoral ocupou nos dois periódicos e também observar o tratamento dado aos dois principais candidatos ao cargo – Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). A metodologia utilizada é quantitativa de análise de conteúdo e este artigo faz parte das pesquisas desen-volvidas pelos grupos de pesquisa em “Comunicação Política e Opinião Pública” da UFPR e “Mídia, Política e Atores Sociais” da UEPG.

*Michele GoulartMestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Brasil, desde março/2010; Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Brasil, em dezembro/2009. Membro dos grupos de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública da UFPR e Mídia, política e Atores Sociais da UEPG desde 2009. Telefone: (55) (42) 9923 3557 [mimassuchin@hotmail.com]

**Camilla QuesadaMestranda em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Brasil, desde março/2011; Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Es-tadual de Ponta Grossa (UEPG), Brasil, em dezembro de 2010. Membro do grupo de pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais, da UEPG, desde 2007. Telefone (55) (42) 9918 1117 [camilla.tavares8@gmail.com]

***Mariane NavaGraduanda em Comunicação Social- Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Brasil, desde março de/2010. Membro do grupo de pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais,

Palavras - Chave

Comunicação Política Eleições 2010 Cobertura Eleitoral Jornais Brasileiros

Abstract

This article analyzes the coverage made by the two major newspapers in Brazil –Folha de São Paulo and Estado de São Paulo– about the presidential election in 2010. For this, were collected all the news that cited one of the nine presidential candidates in the period from July to October of that year. The objective of this study is to compare the visibility of the election coverage in two journals and also to observe the treatment given to the two main candidates - Rousseff (PT) and Jose Serra (PSDB). The methodology is quantitative content analysis and this article is part of the research produced by research groups in “Political Communication and Public Opinion” (UFPR) and “Media, Politics and Social Actors” (UEPG).

Keywords

Political Communication Election 2010 Election Coverage Brazilian Newspapers

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Introdução

Os meios de comunicação são as principais fontes de informação que os ci-dadãos têm acesso e tem um papel importante nos períodos eleitorais, pois é o momento em que os indivíduos buscam subsídios para decidir o voto. A teoria da agenda setting já mostrou que em determinadas circunstâncias, eles podem agendar os temas que serão debatidos pela sociedade e influen-ciar na formação da opinião dos indivíduos (McCOMBS e SHAW, 1972). A mídia alcançou mais relevância no ambiente político quando as teorias da democracia incluíram o acesso a informação como um dos requisitos básicos desse tipo de governo (DAHL, 2009). Miguel (2000) ressalta que a presença dos meios de comunicação tem re-configurado a esfera pública e modificado o acesso dos cidadãos aos campos de poder.

Mas, embora os meios de comunicação tenham a função de oferecer infor-mações políticas para a sociedade, a produção de notícias é influenciada por uma série de fatores, (SHOEMAKER e VOS, 2009; McCOMBS, 2009) que são responsáveis, direta e indiretamente, pelo processo de hierarquização que ocorre durante o processo produtivo das notícias. Portanto, o objetivo deste trabalho é identificar o tipo de cobertura feita pelos jornais sobre a campanha e o tratamento dado aos candidatos – a partir da valência dos textos, enquadramento, visibilidade, número de aparições, etc. Os dados utilizados para esta análise sobre a cobertura jornalística brasileira das elei-ções presidências de 2010 são referentes a dois grandes jornais brasileiros – Folha de São Paulo e Estado de São Paulo - e foram coletados no período de julho a outubro do mesmo ano. O objetivo é discutir a cobertura dos dois jornais, já que houve uma diferença quanto à apropriação do conceito de imparcialidade durante as eleições. Enquanto a Folha de São Paulo manteve na sua linha editorial o princípio de imparcialidade no tratamento dos fatos políticos e candidatos, o Estado de São Paulo se posicionou abertamente - em um editorial - favorável à candidatura de José Serra (PSDB).

Fazem parte da análise todas as notícias que citavam pelo menos um dos nove candidatos à presidência da república, dentre elas notas informativas, colunas, artigos, editoriais, reportagens e chamadas de primeira página. No total foram observadas 3199 entradas na Folha de São Paulo e 2488 no Es-tado de São Paulo, as quais foram analisadas a partir da metodologia quan-titativa que categoriza os dados a partir de uma série de variáveis. A coleta de dados foi realizada pelos grupos de pesquisa em “Mídia, Política e Atores Sociais” da UEPG “Comunicação Política e Opinião Pública” da UFPR. Critérios da produção jornalística sobre temas políticos Segundo Wolf (2009) o processo de produção das notícias pode ser com-parado a um funil dentro do qual se colocam inúmeros dados, mas apenas alguns conseguem ser filtrados. A escolha dos temas, inclusive dos assun-tos relacionados à elite política, possuem como ponto de partida os valores notícias intrínsecos aos fatos, os quais são discutidos por diversos autores

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(HARCUPL e O’NEILL, 2001; GALTUNG E RUGE, 1965; SILVA, 2005; WOLF, 2009; ALSINA, 2009) e que chamamos de valores/notícia.

Dentro das diversas categorizações, algumas estão relacionadas a elementos que estão constantemente presentes na produção jornalística de temas po-líticas. Silva (2005) destaca que alguns ajudam a explicar as potencialidades dos fatos políticos: é o grupo que a autora define como governo, que vai ao encontro da definição acima. Nele está incluído o interesse nacional, deci-sões e medidas, inaugurações, eleições, viagens e pronunciamentos, etc. E dentro da proposta apresentada inicialmente por Galtung e Ruge (1965) e re-elaborada por Harcupl e O’Nell (2001) há também elementos que salien-tam para a facilidade dos assuntos políticos em ganhar espaço nos jornais. O primeiro deles é poder de elite, pois segundo os autores dos textos que tratam das ações da elite são mais importantes do que as atividades de ou-tros atores sociais. Isso mostra que há uma tendência em aparecer textos sobre isso nos jornais em função também da relevância e da magnitude que os fatos possuem.

Mas além de olhar para as características dos fatos, é preciso fazer esco-lhas. Como propõe Silva (2005) trata-se de critérios de noticiabilidade no tratamento dos fatos. Neste momento é preciso não apenas escolher, mas hierarquizar (SILVA, 2005). Esse processo define as características com que os temas aparecem no jornal, interferindo e produzindo efeitos no processo de agendamento dos temas. Dentre os quesitos que influenciam no pro-cesso de agendamento estão: o espaço, a visibilidade, o enquadramento, as temáticas, a localização na página, etc

Essas características são resultados de escolhas dos jornalistas e dos demais fatores que interferem na produção. E segundo McCombs (2009) o que influencia na saliência dos temas transferidos para o debate público é a for-ma com que ele aparece. Segundo Weaver, McCombs e Spellfor-man (1975) é a forma de valorização dos temas pelos jornais, através do tamanho do título e da sua localização em termos de paginação, que definem grande parte do impacto no debate. Como define Alsina (2009, p.13) os temas de capa terão “maior ibope”, sendo que o mesmo ocorre com o tamanho do título e da matéria. Os tópicos enfatizados por meio dessas características é que ganham mais destaque e consequentemente tornam-se mais importantes também para o público (McCombs, 2009). Isso mostra que de acordo com a hierarquização dos acontecimentos, por meio do espaço e localização no jornal, é que se define a visibilidade dos assuntos e o possível impacto que ele pode ter.

Shoemaker e Vos (2009), por meio da Teoria do Gatekeeping, explicam quais são os fatores que influenciam no processo produtivo. Os autores destacam o papel dos jornalistas, das rotinas produtivas, da audiência, das fontes, do setor econômico, da política, do sistema social, das regras do jor-nalismo, entre outros fatores. Por outro lado, há também os critérios de noticiabilidade na visão dos fatos, que diz respeito às escolhas que levam em consideração os fundamentos éticos, filosóficos e epistemológicos do jornalismo, que compreende os conceitos de verdade, objetividade,

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interes-se público e imparcialidade (SILVA, 2005). Apesar de os jornais brasileiros, de maneira geral, terem como um de seus princípios editoriais a imparcia-lidade política e ideológica, em muitos casos fica evidente que a forma com que tratam os fatos de campanha, demonstra certas preferências, resultado das predisposições dos jornalistas e dos donos das empresas. Embora a nor-malidade seja da presença desses princípios editorias, nada impede que os jornais se declarem abertamente posicionados em favor de um candidato, no entanto isso deve ficar claro para os seus leitores. Pretende-se identificar dessa forma, se mesmo os jornais que se propõem como imparciais (Fo-lha de São Paulo), podem, por meio das características das notícias, pro-duzirem suas notícias favorecendo determinado candidato. Pode-se ainda observar como que um jornal que toma posição abertamente em favor de um candidato se comportar durante a campanha eleitoral (Estado de São Paulo). O próximo tópico discute o processo de agendamento dos temas e atributos dos mesmos, o que justifica a preocupação com a produção que os jornais fazem sobre a campanha política e seus candidatos.

Processo de agendamento de temas e atributos dos fatos O processo de agendamento midiático é decorrente de vários fatores, como apontam alguns autores como SHOEMAKER e VOS, 2009; McCOMBS, 2009. De acordo com Rogers, Dearing e Bregman (1993 apud SOUSA, 2008), a sociedade é dividida em três esferas: a esfera política, pública e midiática. Assim, na esfera política são debatidos assuntos de interesse po-lítico; na pública estão os assuntos debatidos pela sociedade e na midiáti-ca os assuntos pautados pela mídia. Essas três agendas estão em constante conformação, já que uma pauta a outra e vice-versa. No caso da agenda midiática, acredita-se que é de onde se formam as agendas políticas e pú-blicas (MCCOMBS e SHAW, 1972 apud SOUSA, 2008), mas que também é influenciada por elas. Para este trabalho o que mais interessa é a agenda midiática, já que se busca identificar o tratamento que cada jornal deu à cobertura presidencial de 2010.

Os estudos sobre agendamento ficaram famosos depois da pesquisa re-alizada por McCombs e Shaw, em 1972, sobre a influência dos meios de comunicação na decisão do voto dos eleitores (TRAQUINA, 2001). Várias hipóteses surgiram, entre elas a de que os meios de comunicação pautam os assuntos que são debatidos na esfera pública. Sousa (2008) resume que a teoria do agendamento “demonstra que a mídia pode ter efeitos directos (não mediados) sobre as pessoas, tendo, nomeadamente, o poder de ‘dizer’ às pessoas sobre o que pensar (Cohen, 1963: 120)” (SOUSA, 2008, p. 8). Desta forma, os meios direcionam o assunto que as pessoas devem pensar e/ou debater, mas não possuem o poder de dizer como devem refletir sobre determinado tema. Colling (2001), baseado em Wolf (1982), defende que a compreensão que as pessoas têm da realidade social é, em grande parte, for-necida pela mídia, principalmente em épocas eleitorais. Nestes períodos, os eleitores recebem através dos veículos de comunicação a maior parte das in-formações sobre a campanha, mas nem todos são capazes de interpretar de maneira satisfatória os pontos de vista apresentados (MCCOMBS e SHAW, 1972 apud SOUSA, 2008). – já que isso depende da formação individual de

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cada um. No caso dos jornais, como coloca Wolf (2009), as notícias são sele-cionadas sob diferentes critérios até chegarem a ser publicadas. A teoria do agendamento se aplica no sentido de que o que está estampado nos jornais será aquilo em que as pessoas vão refletir - pelo menos num determinado tempo (o que é chamado na literatura por time frame), pois a mídia é uma das fontes de informação a que as pessoas mais têm acesso1.

A partir da teoria do agendamento podemos concluir que os assuntos que estão na mídia são privilegiados, já que passaram por todas as barreiras propostas pelos jornalistas, como o gatekeeping (PENA, 2005) e os critérios de noticiabilidade (WOLF, 2009; SILVA, 2005). No entanto, a maneira como essas notícias são abordadas e dispostas nos jornais são diferentes e refletem o atributo que este fato possui. Cada fato é abordado de maneira distinta pelos jornalistas, e interpretado sob diferentes pontos de vista pelos leitores, mas não é algo voluntário, e sim inconsciente (KOENIG, 2004 apud LEAL, 2011). Deste modo, o tratamento, o enquadramento, que o jornalista dá aos fatos é involuntário, mas é a partir desta pequena realidade e ponto de vista que o leitor vai ter acesso ao mundo lá fora (LEAL, 2011). Carvalho (2009) defende que o enquadramento está “centrado em reflexões acerca dos mo-dos como é possível, a cada indivíduo, identificar a situação diante da qual se encontra em presença” (p. 4). Isso reflete no modo como o jornalista escreve e, conseqüentemente, no atributo que esta notícia leva. De acordo com a metodologia utilizada pelo grupo de pesquisa Mídia, Política e Ato-res Sociais, da UEPG, os textos jornalísticos podem ser classificados em textos com valência positiva, negativa ou neutra2. Influi ainda na

hierarqui-zação das notícias (SILVA, 2005), a disposição dos textos nas páginas dos jornais, ou seja, em lugares que possuem mais visibilidade. Bezerra (2005) argumenta que os meios de comunicação podem dar ou não visibilidade aos candidatos de uma eleição, e informar de acordo com várias possibilida-des discursivas, entre elas acusar, interrogar, elogiar, lamentar, vetar, julgar, sensibilizar a esperança e o medo. Isso caracteriza o atributo de tal jornal dado àquele acontecimento.

Como se sabe, o contexto das eleições presidenciais de 2010 foi conturbado. Um dos maiores jornais do país declarou apoio a um dos candidatos e o outro se manteve neutro – pelo menos no discurso. No próximo tópico tra-çaremos um panorama geral sobre o cenário político das eleições de 2010. Cenário Eleitoral Brasileiro em 2010

Em 2010 nove candidatos disputaram o cargo de presidente da República. Os três principais – que tiveram votação expressiva no pleito – foram Dil-ma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). Até as eleições daquele ano, Dilma nunca havia disputado nenhum cargo eletivo, embora já houvesse ocupado cargos importantes na administração pública, como o de ministra de Minas e Energia e posteriormente o de ministra-chefe da Casa Civil. O candidato do PSDB, José Serra, ao contrário, já possuía vasta trajetória política, pois já havia ocupado o cargo de prefeito de São Paulo e governador do mesmo estado. Em alguns momentos da campanha Serra afirmou que era mais bem preparado que Dilma para assumir o cargo de 1Apesar de este estudo ser sobre jornais impressos,

vale lembrar que quase 94,8% dos lares brasilei-ros possuem pelo menos um televisor, de acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra de Domi-cílios (PNAD) de 2007. Assim, para ter acesso a notícia basta ligar a televisão Dados disponíveis em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/condicaodevida/indicadoresmini-mos/sinteseindicsociais2007/default.shtm

2Os três tipos de valência existentes serão

melho-res apmelho-resentados no tópico cinco, que diz melho-respeito à metodologia e descrição das variáveis.

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presidente3. Em dezembro de 2009, algumas pesquisas de opinião

indica-vam que Serra estava à frente de Dilma quanto às intenções de votos da população, possuindo uma vantagem de 14 pontos percentuais, de acordo com dados do Datafolha. Em março de 2010, esta diferença caiu dez pontos, já indicando a virada da candidata petista. Quando a campanha começou oficialmente, apesar da inexistente experiência eleitoral, Dilma liderou as pesquisas de opinião, e algumas indicavam a possível vitória da petista no primeiro turno. A pesquisa divulgada em 27 de outubro de 2010 revela que Dilma possuía 55% dos votos válidos4. No entanto, a vitória no primeiro

turno não aconteceu, já que Marina Silva (PV) conseguiu um número ex-pressivo de votos, 19,33%. Dilma conseguiu 46,91% dos votos válidos no primeiro turno, contra 32,61% de Serra, de acordo com dados do Tribu-nal Superior Eleitoral (TSE). Vale lembrar que José Serra perdeu em esta-dos significativos, onde se acreditava que o PSDB ganharia com folga. Um exemplo disso foi Minas Gerais, já que o ex-governador do estado, Aécio Neves, é do PSDB. No entanto, no primeiro turno Serra perdeu em Minas, obtendo 30,76% dos votos válidos, contra 46,98% de Dilma. No segundo turno o PT também ganhou no estado com 58,45% dos votos, enquanto que o PSDB obteve 41,55%.

Situação parecida também foi verificada no estado de São Paulo, onde está o maior colégio eleitoral do país. Por Serra já ter ocupado vários cargos pú-blicos no estado – como o de governador e prefeito da capital, acreditava-se que a vitória se daria com uma ampla vantagem em relação à candidata do PT. Contudo, os percentuais de Serra e Dilma ficaram muito próximos, tan-to no primeiro quantan-to no segundo turno, embora o candidatan-to tucano tenha saído vitorioso neste estado. No primeiro turno Serra conseguiu 40,66% dos votos válidos contra 37,31% de Dilma. Já no segundo turno a diferença de percentual foi maior, porém a candidata do PT ainda assim conseguiu um percentual expressivo no estado paulista, reduto de Serra. No estado de São Paulo, o PSDB somou 54,05% dos votos válidos enquanto que o PT totalizou 45,95%. O gráfico a seguir ilustra as intenções de votos dos dois principais candidatos ao longo da campanha.

3Fonte: http://revistaepoca.globo.com/

Revista/Epoca/0,,EMI132500-15223,00- JOSE+SERRA+ESTOU+MAIS+ PREPARADO.html

4As pesquisas de intenção de voto podem ser

encontradas em http://datafolha.folha.uol.com. br/

Gráfico 1: Pesquisa de intenção de voto ao longo da campanha de 2010 entre PT e PSDB

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Como se pode observar, a candidata do PT manteve-se à frente nas pesqui-sas durante toda a campanha. Ao final do segundo turno, o favoritismo foi confirmado. Dilma saiu vencedora em 16 estados brasileiros, enquanto que Serra conseguiu a vitória em 11. O resultado final da eleição foi de 56,05% dos votos válidos para a candidata do PT, Dilma Rousseff, contra 43,95% para José Serra, do PSDB.

Um fator que influencia bastante a cobertura jornalística da campanha elei-toral é a posição política do veículo de comunicação. É de praxe que os jornais se auto-intitulem como neutros e imparciais dentro de uma cam-panha, embora estudos mostrem que sempre há uma tendência a favor de determinado candidato. Nas eleições de 2010 foi diferente. O jornal Estado de São Paulo declarou apoio a José Serra (PSDB) abertamente5, enquanto

que a Folha de S. Paulo não se manifestou a favor de nenhum candidato, mantendo o discurso da imparcialidade. Contudo, isso não significa que a Folha não possa ter favorecido algum candidato. Isso é o que veremos nos próximos tópicos, quando será apresentada a análise sobre cobertura de ambos os jornais, comparando a visibilidade e valência dada aos principais candidatos à presidência de 2010.

Metodologia e descrição das variáveis

A utilização do método quantitativo nas pesquisas sobre cobertura jornalís-tica de temas políticos tem por objetivo identificar como o assunto aparece nos jornais por meio de uma série de características que podem ser medidas e contabilizadas. A pesquisa quantitativa oferece a possibilidade de correla-cionar as variáveis e fazer análises multivariadas, por isso coletam-se uma série de características, desde o número de entradas até o enquadramento dos textos sendo que posteriormente utiliza-se a estatística para correlacio-ná-las. Para a produção deste artigo, a cobertura será analisada a partir de algumas categorias: o tamanho dos textos, a localização na página, o for-mato das notícias, a temática e o enquadramento. Já o tratamento dado aos candidatos será medido por meio da valência, da visibilidade e do número de aparições nas notícias.

O formato das entradas inclui a categorização desde “entrada de primei-ra página”, que é o formato de maior visibilidade, até “coluna do leitor” e “editorial”, que representam formatos de menor visibilidade. Tal categori-zação é relevante, pois também contribui para compreender a importância que o assunto recebe. Chamada de capa, por exemplo, é o espaço de maior visibilidade do jornal e segundo Ferreira Júnior (2002), a primeira pági-na é a expressão imagética que impacta o leitor. Além disso, é importante contabilizar o espaço que o jornal destina para o assunto, assim como para os candidatos. A pesquisa categoriza o espaço em centímetro quadrado e esse indicador pode ainda ser categorizado através da Fórmula de Sturges, o que permite agrupar os textos, transformando uma variável contínua em categórica, possibilitando posteriormente a criação de um índice de visibi-lidade.

5O editorial d’O Estado de S. Paulo onde o

jornal declara apoio a Serra pode ser acessa-do em http://www.estadao.com.br/noticias/ geral,editorial-o-mal-a-evitar,615255,0.htm

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Para compreender a visibilidade que o assunto recebe também é observada a localização do texto na página por meio dos quadrantes. A posição da no-tícia nos quadrantes está relacionada com as zonas de visualização. “Quan-do alguém recebe uma comunicação escrita, instintivamente sua visão se fixa no lado superior esquerdo do papel, uma vez que estamos culturalmen-te condicionados a saber que o início do culturalmen-texto está ali” (SILVA, 1995). A po-sição de um texto indica se ele tem potencial para ser lido por um número maior ou menor de pessoas (CERVI, 2003).

Outra característica identificada é o tema predominante do texto, sendo que essa variável é categorizada de acordo com a literatura sobre o assunto. Para a análise das entradas sobre eleições categorizou-se nos seguintes assun-tos: Campanha eleitoral, Político Institucional, Economia, Política Social, Infra-estrutura, Violência e segurança, Ético-moral, Política para Esporte, Cultura/variedades, Política Estadual/Nacional, Política/Internacional e a categoria Outros, que engloba assuntos que não dizem respeito aos demais. Essa divisão possibilita a análise dos temas específicos, mas que estão rela-cionados com os candidatos.

Na tentativa de identificar como a mídia aborda o tema eleições, a análise observa o enquadramento das reportagens e notas informativas, pois al-guns autores consideram o framme como fundamental para a formação da opinião do público. As notícias enquadradas como ‘corrida de cavalos’ mos-tra a relação de disputa entre os candidatos, principalmente em textos sobre pesquisas de intenção de voto. Na medida em que a notícia aparece enqua-drada como ‘temático’ significa que sua ocorrência não depende exclusiva-mente de um fato específico e que a cobertura apresenta interpretações e é mais ampla. Já quando é enquadrada como ‘factual’, o assunto depende de um fato específico para ganhar visibilidade e relata brevemente o assunto. ‘Personalista’ caracteriza um texto quando seu foco é uma personalidade, mais do que o tema.

Mais especificamente para medir o tratamento dos candidatos, a primeira variável identifica a presença ou ausência deles nos textos. A quantidade de entradas que cita determinado candidato é o primeiro passo para observar se ele aparece ou não no jornal. A ausência na cobertura pode significar distanciamento do público, que terá menos informação sobre um ou outro candidato. E para verificar o tipo de informação que está sendo veiculado sobre os candidatos, analisa-se a valência dos textos. Esta variável está divi-dida em quatro categorias: positiva, negativa, equilibrada e neutra. A valên-cia positiva é atribuída a textos que abordavam de maneira positiva ações de sua iniciativa, auto-declarações, avaliações de suas propostas de governo. Já a valência negativa caracteriza textos que reproduziam críticas ou ataques sobre a atuação do candidato, de suas propostas, da sua campanha. A va-lência neutra é atribuída aos textos que não apresentam pontos positivos ou negativos do candidato e é onde os jornais demonstram melhor a sua im-parcialidade. Os textos enquadrados com valência equilibrada para o can-didato são aqueles em que aparecem pontos favoráveis e desfavoráveis sobre ele. Em seguida apresenta-se a análise dos dados a partir desses elementos.

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Cobertura sobre as eleições presidenciais de 2010

O período compreendido entre julho e outubro de 2010 foi decisivo para determinar o destino do Brasil pelos próximos quatro anos. Analisar de que forma a impressa aborda o tema que é de interesse público é primordial para entender qual a valoração dada pelos jornais em relação ao assunto. No que concerne às características dessa análise, fatores como espaço disponi-bilizado ao tema, enquadramento, temática e visibilidade são de extrema importância para que se possa chegar a algumas conclusões. Para iniciar o estudo é interessante começar olhando para o espaço que o tema eleições tem dentro dos jornais. A seguir a tabela demonstra o espaço total em cm² disponibilizado por cada jornal.

Tabela 1: Espaço ocupado pelo tema eleições

Fonte: Espaço ocupado pelo tema eleições.

1º Turno 2º Turno Total

FSP ESP FSP ESP FSP ESP

Número de entradas 2390 1713 809 775 3199 2488 Média (N) 15,9 11,4 19,7 17.9 16,8 13,4 Mediana (N) 14 10 17,1 14 14 11 Espaço total (cm2) 431.786 349.698 189541 212.523 621.328 562.220 Média (cm2) 180,6 204,1 234,2 274 194,2 225,9 Mediana (cm2) 117 147 156,7 210 133 162

Analisando a tabela infere-se que, comparativamente, o jornal Folha de S. Paulo (FSP) apresentou uma média de entradas maior que o jornal Estado de S. Paulo (ESP). Enquanto o FSP obteve uma média de 16,8 entradas por dia, o ESP ficou na média de 13,4 noticias diárias que abordavam o tema eleições. Contudo quando se olha para o espaço disponibilizado, verifica-se que o jornal Estado concedeu mais espaço, ou seja, os textos eram maio-res. O que demonstra que esse, apesar de apresentar menos chamadas, deu maior espaço para que os jornalistas discorressem sobre o assunto já que, enquanto a média de espaço ocupada por matéria no ESP é de 225,9 cm², no FSP é de 194,2 cm². É importante analisar também a localização desses textos, o que implicará na visibilidade do tema. Pois, como lembra Morei-ra (2004), “a hieMorei-rarquização das notícias (edição) é uma forma de o jornal apontar o que considera mais importante em determinado dia.” (p. 34).

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Cervi (2010) afirma que cada local da página tem visibilidade distinta. Par-tindo-se disso, é possível compreender que quanto maior e mais próxima da ‘cabeça’ da página a matéria está, maior sua relevância. Analisando a localização das chamadas nos jornais é possível perceber que mais de ¼ do total está localizada no quadrante superior esquerdo em ambos os peri-ódicos. Além disso, percebeu-se que o tema apareceu em páginas inteiras na FSP e somando-se os percentuais e dividindo-os em primeira e segunda dobra, em ambos os jornais o tema ocupa mais a primeira dobra do que a segunda. Essa escolha implica automaticamente no grau de visibilidade do tema eleições nos jornais, que tende a aparecer mais em espaços mais lidos. Além de analisar o espaço onde se localizam as chamadas, é preciso verifi-car sob que formato estão apresentadas, e sob que gênero. Medina (2001), partindo dos conceitos de Marques de Melo, subdivide o Jornalismo em quatro grandes grupos baseados nas características da forma de apresen-tação do conteúdo. Para Medina os Gêneros são: Informativos (notícia, re-portagem, entrevista, título e chamada); Opinativos (editorial, comentário, artigo, resenha ou crítica, coluna, carta, crônica); Utilitários (obituário e indicadores); e Ilustrativos (tabelas, ilustrações e fotografia). Partindo-se disso foi construída a seguinte tabela que demonstra a divisão das entradas por formatos.

Tabela 2: Distribuição dos textos nos quadrantes

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

1º Turno 2º Turno Total

ESP FSP ESP FSP ESP FSP

N % N % N % N % N % N % Pág.Inteira 12 0,7 46 1,9 6 0,8 21 2,6 18 0,7 67 2,1 Metade Superior 238 13,9 188 7,9 96 12,4 64 7,9 334 13,4 252 7,9 Metade Inferior 120 7,0 42 1,8 21 2,7 11 1,4 141 5,7 53 1,7 Metade Direita 23 1,3 31 1,3 1 ,1 13 1,6 24 1,0 44 1,4 Metade Esquerda 18 1,1 45 1,9 - - 16 2,0 18 0,7 61 1,9

Quadrante Sup. Dir. 240 14,0 505 21,1 89 11,5 130 16,1 329 13,2 635 19,8

Quadrante Sup. Esq. 417 24,3 649 27,2 211 27,2 206 25,5 628 25,2 855 26,7

Quadrante Inf. Dir. 246 14,4 372 15,6 146 18,8 170 21,0 392 15,8 542 16,9

Quadrante Inf. Esq. 399 23,3 512 21,4 205 26,5 178 22,0 604 24,3 690 21,6

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Tabela 3: Distribuição das entradas conforme os formatos jornalísticos

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

Percebe-se que o Estado de S. Paulo optou por abordar o tema eleições, em grande medida, sob o formato de reportagem com uma média de quase 49% do total de suas entradas apresentadas dessa forma. No jornal Folha de S. Paulo também foi o maior percentual com quase 35% do total de textos sobre eleições. Ou seja, a cobertura foi em grande medida informativa. Ou-tro grande grupo de entradas foi apresentado sob formato de coluna assina-da, com média de 11,5% e 27,4% pelos jornais ESP E FSP, respectivamente. Segundo Melo (1985) a reprodução do real, através do jornalismo informa-tivo, significa descrevê-los a partir do atual e do novo, ou seja, a observação da realidade e a descrição do que é apreensível à empresa jornalística; já o jornalismo opinativo, identifica o valor do atual e do novo e apresenta a sua versão dos fatos, construída por meio de argumentações, em favor de determinadas idéias e valores. Infere-se assim que houve a opção por uma cobertura predominantemente informativa - de reportar apenas fatos - no ESP, e um pouco mais dividida entre informativa e interpretativa - reportar e apresentar a visão do veículo - na FSP. Destaca-se ainda para a presença de charges políticas na FSP e de um alto número de comentário dos leitores no Estadão. Para complementar, a tabela a seguir, expressa o nível de visi-bilidade que é um índice composto pela soma dos dados de três varáveis: tamanho, formato e localização na página. Ele permite dados mais exatos quanto à visibilidade que os textos possuem levando em consideração esse três elementos.

1º Turno 2º Turno Total

ESP FSP ESP FSP ESP FSP

Chamada de 1ª página N% 1116,5 3,788 5,039 5,141 1506,0 1294,0 Reportagem N 821 781 395 336 1216 1117 % 47,9 32,7 51,0 41,5 48,9 34,9 Charge Infográfico N 66 255 30 49 96 304 % 3,9 10,7 3,9 6,1 3,9 9,5 Foto N 192 290 54 58 246 348 % 11,2 12,1 7,0 7,2 9,9 10,9 Coluna Assinada N 220 657 65 221 285 878 % 12,8 27,5 8,4 27,3 11,5 27,4 Artigo Assinado N 113 164 124 63 237 227 % 6,6 6,9 16,0 7,8 9,5 7,1 Editorial N 18 64 9 13 27 77 % 1,1 2,7 1,2 1,6 1,1 2,4 Carta do leitor N 172 91 59 28 231 119 % 10,0 3,8 7,6 3,5 9,3 3,7 Total N 1713 2390 775 809 2488 3199 % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

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Ambos os jornais apresentaram a maioria das chamadas com visibilidade média (ESP- 42,6% e FSP- 50%), no entanto há algumas diferenças entre eles quanto às demais. Embora haja um número residual de textos em visi-bilidade muito alta, os números de entradas em alta visivisi-bilidade estão pró-ximos nos dois jornais (12,9% e 8,8%) sendo que o mesmo ocorre com os textos de baixa visibilidade. A maior diferença está para os textos de visi-bilidade muito baixa que tem um percentual de quase o dobro no ESP em relação à Folha. Sendo que esse dado pode ser explicado pela presença de mais comentários dos leitores no Estadão, sendo que este formato possui um peso muito pequeno na visibilidade, além de tudo são geralmente textos muito curtos. Como eles aparecem mais neste jornal, esse fator “puxa” os dados para essa categoria da visibilidade. No entanto, os demais dados en-tre os dois jornais são próximos. Após a analise do espaço, da localização, e do tema ‘eleições’ de um modo geral, subdivide-se o assunto em sub-temas para aprofundar o estudo do conteúdo apresentado pelas chamadas. A ta-bela a seguir mostra as entradas segundo a subdivisão.

Tabela 4: Visibilidade da Cobertura

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

1º Turno 2º Turno Total

ESP FSP ESP FSP ESP FSP

N % N % N % N % N % N % Muito Baixa 234 13,7 178 7,4 135 17,4 66 8,2 369 14,8 244 7,6 Baixa 526 30,7 834 34,9 210 27,1 214 26,5 736 29,6 1048 32,8 Média 747 43,6 1172 49,0 313 40,4 427 52,8 1060 42,6 1599 50,0 Alta 206 12,0 197 8,2 116 15,0 85 10,5 322 12,9 282 8,8 Muito Alta - - 9 0,4 1 0,1 17 2,1 1 0,0 26 0,8 Total 1713 100,0 2390 100,0 775 100,0 809 100,0 2488 100,0 3199 100,0

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A partir da tabela, percebe-se que as eleições foram majoritariamente abor-dadas sob seu aspecto de campanha eleitoral e os demais temas apareceram muito pouco. Ou seja, em ambos os jornais as eleições foram apresentadas a partir dos fatos de campanha dos candidatos. As reportagens, que foi o formato que mais apareceu, traziam as eleições sob a ótica dos fatos que es-tavam ocorrendo ligados aos candidatos e não sob discussão das propostas ou temas em pauta na sociedade. Essa abordagem fica mais clara quando se analisa de que forma os conteúdos foram enquadrados e percebe-se que fo-ram, predominantemente, trazidos sob o enquadramento do tipo episódico. Enquadrar para Entman (1993) é selecionar alguns aspectos da realidade e torná-los mais evidentes na comunicação. Mauro Porto sugere a divisão em quatro principais tipos de enquadramento: o primeiro é a ‘Corrida de ca-valos’- no qual há o enfoque em pesquisas eleitorais; o segundo é “Persona-lista”, que coloca em destaque a figura da pessoa do candidato, valorizando qualidades ou julgando defeitos; o terceiro tipo é o “Temático” em que há o destaque para o tema das propostas e posições dos candidatos. Por último tem-se o “Episódico”, em que a ênfase descritiva está no fato descontextua-lizado. Para observar como essa categorização aparece, as chamadas foram classificadas e obteve-se o seguinte quadro:

Tabela 5: Temas das entradas que abordavam eleições

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

1º turno 2º turno Total

ESP FSP ESP FSP ESP FSP

N % N % N % N % N % N % Campanha Eleitoral 1414 82,5 1883 78,8 728 93,9 664 82,1 2142 86,1 2547 79,6 Político-institucional 124 7,2 247 10,3 10 1,3 59 7,3 134 5,4 306 9,6 Economia 32 1,9 24 1,0 6 0,8 10 1,2 38 1,5 34 1,1 Política Social 21 1,2 17 ,7 4 0,5 4 ,5 25 1,0 21 0,7 Infra-estrutura 4 0,2 28 1,2 6 0,8 30 3,7 10 0,4 58 1,8 Violência e segurança 4 0,2 5 0,2 - - 5 ,6 4 0,2 10 0,3 Ético-moral 54 3,2 33 1,4 18 2,3 32 4,0 72 2,9 65 2,0 Política para Esporte 4 0,2 2 0,1 - - 3 ,4 4 0,2 2 0,1 Cultura variedades 2 0,1 11 0,5 - - - - 2 0,1 14 0,4 Política Estadual-Nacional - - 2 0,1 - - - 2 0,1 Política vvInternacional 12 0,7 5 0,2 - - 1 ,1 12 0,5 6 0,2 Outros 42 2,5 133 5,6 3 0,4 1 ,1 45 1,8 134 4,2 Total 1713 100,0 2390 100,0 775 100,0 809 100,0 2488 100,0 3199 100,0

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Verifica-se que o enquadramento adotado é majoritariamente episódi-co, ou seja, os jornais tenderam, em ambos os turnos eleitorais, abordar o tema sob o aspecto de fatos, sendo apenas reportados sem maior análise ou contextualização. A FSP apresentou a média de 60,2% de entradas desse tipo, sendo 57,9% no primeiro turno e 65,5% no segundo. O ESP adotou o enquadramento episódico, em média, em 55,4% de suas chamadas, sendo 60% no primeiro turno e 45,8% no segundo. Destaca-se, porém, algumas diferenças: a corrida de cavalo predomina no ESP, assim como o enquadra-mento temático; já o personalista aparece mais na FSP. O gráfico a seguir ilustra a diferença entre a distribuição das matérias entre os quatro tipos de enquadramento.

Tabela 6: Enquadramento das eleições nos jornais

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

1º turno 2º turno Total

ESP FSP ESP FSP ESP FSP

N % N % N % N % N % N % Corrida de Cavalos 88 10,7 86 11,0 100 25,3 23 6,8 188 15,5 109 9,8 Personalista 26 3,2 97 12,4 - - 14 4,2 26 2,1 111 9,9 Temático 214 26,1 146 18,7 114 28,9 79 23,5 328 27,0 225 20,1 Episódico 493 60,0 452 57,9 181 45,8 220 65,5 674 55,4 672 60,2 Total 821 100,0 781 100,0 395 100,0 336 100,0 1216 100,0 1117 100,0

Gráfico 2: Gráfico com o Enquadramento das eleições

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

A ilustração torna visível a disparidade na forma de cobertura e como o enquadramento episódico se sobrepõe aos demais. Houve uma leve queda, no jornal O Estado S. Paulo, no 2º turno e em contrapartida, o aumento do enquadramento “Temático” e “Corrida de cavalos” neste jornal, o que pode estar diretamente relacionado a temas polêmicos que foram levantados

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nes-se período (corrupção na Casa Civil e aborto) e a divulgação dos resultados das pesquisas de intenção de voto que mostram o acirramento da disputa. Nota-se que no segundo turno não houve chamadas enquadradas como personalista no ESP e poucas na FSP, já que este tipo de enquadramento é mais presente no início da campanha. De modo geral os demais enquadra-mentos aparecem mais no Estadão, já que há um pouco menos de entradas episódicas que na FSP.

Partindo-se disso, percebe-se o quão complexo é a analise da cobertura eleitoral, sendo que os critérios acima citados não são absolutos para re-presentar a eleição em sua totalidade, mas já podem are-presentar algumas caracterizações do tipo de cobertura feita pelos veículos, já que estes se con-figuram como importantes no processo da formação da opinião pública, a partir dos conteúdos que veicula sobre os políticos. Dessa forma, com base nessa parcela de dados é possível inferir que os jornais brasileiros dão gran-de enfoque ao processo eleitoral, inclusive gran-de uma forma bastante próxima quanto à visibilidade, localização na página e temáticas, mas apresentando alterações significativas quanto à inversão entre quantidade de entradas e o espaço médio ocupado pelos textos nos jornais, a preferência por determi-nados formatos e enquadramentos. De maneira geral, outro ponto que deve ser considerado é que os jornais abordam as eleições sob seu aspecto de mero fato. Ou seja, há o espaço destinado, o tema está presente, porém ele é apenas ‘contado’ e não discutido, não conduzindo os leitores e eleitores ao debate, apenas os informando dos fatos de campanha, já que em ambos os jornais o que predomina é o enquadramento episódico.

Visibilidade dos principais candidatos: Dilma Rousseff e José Serra

Depois de identificada a cobertura geral das eleições pelos dois jornais, o objetivo é identificar como que os dois veículos trataram os dois principais candidatos – Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) – ressaltando que o Estado de São Paulo declarou abertamente apoio a candidatura de Serra, diferente da Folha de São Paulo que manteve seu discurso de imparcialida-de perante seus leitores. Aqui será analisada a presença do candidato nos textos e nos títulos – visto que o título tem destaque – assim como a valência dos textos para os candidatos e distribuição ao longo do tempo. A tabela seguinte mostra o percentual do total de textos em que os candidatos foram citados.

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Sobre o percentual de aparição dos candidatos destaca-se que ambos foram mais citados na cobertura feita pela Folha de São Paulo do que pelo Estado de São Paulo. Dilma aparece em 71,5% sobre eleições no Estadão e em 75% na Folha. Já José Serra aparece em 39,5% e 61,3%, respectivamente. O per-centual dos dois é maior para a Folha de São Paulo. Mas, embora ambos te-nham sido mais citados na Folha de São Paulo, destaca-se a maior aparição para a candidata do PT, pois nos dois jornais houve mais aparição para ela do que para seu adversário se comparados os percentuais entre os candida-tos. Mesmo que o Estado de São Paulo tenha se posicionado favorável ao candidato do PSDB, este não foi o que mais obteve visibilidade, em termos de aparição na cobertura feita pelos jornalistas e colunistas do jornal. Destaca-se ainda que a presença de Dilma cresce quando comparados os dois turnos, chegando a 82% de aparição nos textos sobre eleições publi-cados pela Folha e a quase 70% no Estado de São Paulo. Ou seja, no mês de outubro a candidata tende a aparecer mais nos dois jornais. No entanto o mesmo não corre para o seu adversário. Serra mostra crescimento no percentual de citação na Folha de São Paulo se comparados os dois turnos, mas há um processo inverso no Estadão: enquanto apareceu em 51,1% das matérias no primeiro turno, no segundo o número foi de apenas de 107 entradas, o que equivale a 13,8% dos textos sobre o processo eleitoral. Isso significa que o candidato José Serra (PSDB) teve menor visibilidade neste jornal com proximidade do período eleitoral. De modo geral, percebe-se maior presença dos candidatos na Folha, Dilma aparece em mais textos do que Serra em ambos os jornais; enquanto Dilma aparece mais com a pro-ximidade das eleições, o processo inverso ocorre com Serra no Estadão, que aparece menos conforme o dia da votação vai se aproximando. Para complementar essas informações, a tabela seguinte apresenta o percentu-al de aparição dos dois candidatos no título das matérias, que é um locpercentu-al

Tabela 7: Presença dos Candidatos nas notícias

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

Turno Candidato Jornal EntradasNo de aparição% de

1º Turno Dilma Rousseff Estado de SP 1235 42,1

Folha de SP 1728 72,3

José Serra Estado de SP 876 51,1

Folha de SP 1425 59,6

2º Turno Dilma Rousseff Estado de SP 542 69,9

Folha de SP 671 82,9

José Serra Estado de SP 107 13,8

Folha de SP 537 66,4

Total Dilma Rousseff Estado de SP 1777 71,4

Folha de SP 2399 75,0

José Serra Estado de SP 983 39,5

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de maior visibilidade, pois embora os leitores não leiam todas as matérias, geralmente obtém as informações presentes nos títulos, dessa forma a pre-sença neste espaço é estratégica.

Tabela 8: Presença dos Candidatos nos títulos das notícias

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

Turno Candidato Jornal EntradasNo de aparição% de

1º Turno Dilma Rousseff Estado de SP 253 14,8

Folha de SP 489 20,5

José Serra Estado de SP 225 13,1

Folha de SP 435 18,2

2º Turno Dilma Rousseff Estado de SP 120 15,5

Folha de SP 141 17,4

José Serra Estado de SP 98 12,6

Folha de SP 119 14,7

Total Dilma Rousseff Estado de SP 373 15,0

Folha de SP 630 19,7

José Serra Estado de SP 323 13,0

Folha de SP 554 17,3

Da mesma forma que na tabela anterior, destaca-se maior aparição no título das notícias da Folha de São Paulo – 19,7% para Dilma e 17,3% para Serra – do que no Estadão – 15% para Dilma e 13% para Serra. Mas observa-se que nos títulos há uma diferença menor entre os dois candidatos, ou seja, os percentuais de presença são mais próximos, não acompanhando as dife-renças maiores entre os dois candidatos quanto à presença deles nos textos. Já que esse é o espaço mais visível se comparado com o corpo do texto, identifica-se que a diferença entre os candidatos quanto à visibilidade não é tão grande e isso vale para os dois jornais. Quando a comparação entre os dois turnos, os dados indicam para uma diminuição da presença de Dilma e Serra nos títulos das notícias da Folha de São Paulo, passando de 20,5% para 17,4% no caso da candidata do PT e de 18,2% para 14,7% para seu ad-versário do PSDB. No Estado de São Paulo as diferenças entre os períodos são muito pequenas, embora tenha havido um leve aumento de Dilma e uma queda de Serra.

Os dados apresentados até aqui, que medem a presença dos candidatos na produção do jornal, mostram que não há grandes diferenças no compor-tamento dos dois jornais, visto que se esperava que pelo alinhamento do Estado de São Paulo com a candidatura de Serra, houvesse maior desta-que para este do desta-que para a candidata Dilma. No entanto, ambos os jornais dão mais destaque para Dilma Rousseff e há um declínio da cobertura de Serra no próprio Estadão durante o segundo turno, ou seja, Dilma tende a aparecer mais que seu adversário. Isso significa que apenas observando o número de aparição dos dois candidatos não é possível concluir que, por

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ter tomado posição em favor do candidato do PSDB, o Estadão tenha feito uma cobertura favorável ao candidato. Para avançar esta análise, a próxima tabela apresenta os dados referentes às valências – positiva, negativa, neutra e equilibrada – para os candidatos em cada um dos jornais. Dessa forma é possível perceber, para além da simples presença ou ausência dos candi-datos, qual foi o tratamento que eles receberam por parte dos jornalistas e colunistas que produziram o conteúdo das notícias.

Tabela 9: Valência dos textos para os candidatos

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

Turno Candidato Jornal % de Valência

Positiva Negativa Neutra Equilibrada

1º Turno Dilma Rousseff Estado de SP 5,8 18,5 72,5 3,2

Folha de SP 10,6 18,2 64,4 6,7

José Serra Estado de SP 0,8 0,9 97,7 0,4

Folha de SP 1,1 2,5 95,6 0,9

2º Turno Dilma Rousseff Estado de SP - 0,2 99,8

-Folha de SP 5,1 18,0 68,7 8,2

José Serra Estado de SP - - 100

-Folha de SP - 0,4 99,6

-Total Dilma Rousseff Estado de SP 4,1 12,9 80,8 2,2

Folha de SP 9,1 18,2 65,6 7,1

José Serra Estado de SP 0,7 0,8 98,0 0,5

Folha de SP 0,8 1,9 96,7 0,7

Observando-se a relação dos candidatos com a valência dos textos, iden-tificam-se algumas diferenças entre eles, embora ambos os jornais estives-sem mais próximos da imparcialidade com índices de mais de 80% de tex-tos com valência neutra, o que significa que ambos tentaram produzir as notícias sobre as eleições a partir do princípio da neutralidade quanto aos candidatos. No entanto houve também aparições de textos com valências positivas e negativas, onde se podem notar diferenças entre Serra e Dilma. Sobre o tratamento dado à candidata Dilma, percebe-se que a produção foi mais tendenciosa na Folha de São Paulo do que no Estadão, diferente do que se imaginava anteriormente, pois se acreditava que por apoiar o candidato do PSDB, haveria um descrédito para a candidata do PT. O que ocorreu foi o contrário, pois enquanto no Estadão mais de 80% dos textos tiveram va-lência neutra para Dilma, na Folha foram apenas 65,6%. Além disso, tanto a valência positiva (9,1%) e negativa (18,2%) esteve mais presentes na Folha do que no Estadão também. Isso mostra que a Folha de São Paulo, embora tenha um discurso de imparcialidade, produz determinadas imagens sobre a candidata a partir da produção que faz sobre os fatos do processo eleitoral. Já no caso de Serra, os dados mostram para um posicionamento muito pró-ximo entre os jornais. Embora eles não tenham feito uma produção positiva

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em relação ao candidato, há um percentual bem maior de textos neutros: 98% no Estado de São Paulo e 96,7% na Folha. Os percentuais para as de-mais valências ficam quase próximos de zero nos dois veículos, diferente do tratamento dado à candidata do PT, que obteve altos percentuais, se compa-rado a Serra, de valência negativa. Dessa forma destaca-se que o tratamento dado a candidata do PT foi mais tendencioso do que aquele feito sobre José Serra, pois a candidata obteve percentuais de valência negativa, o que pode ter impacto na construção da sua imagem. No entanto isso não está relacio-nado com o fato de o Estadão ter se mostrado favorável a Serra, já que essa construção negativa estava mais presente na Folha de São Paulo.

De maneira geral, ambos os jornais tenderam a apresentar valências neu-tras, no entanto elas apareceram mais no Estadão do que na Folha de S. Paulo. Analisando a posição dos jornais para cada candidato, identifica-se que tanto um quanto outro foram mais tendenciosos na cobertura de Dil-ma, apresentando altos percentuais de textos negativos para a candidata do PT, o que não tende a ocorrer com o seu principal adversário, José Serra. Esses dados mostram que embora a Folha de São Paulo tenha se posicio-nado imparcial quanto à disputa eleitoral, nota-se que a forma com que o jornal aborda os candidatos – neste caso, a candidata do PT – é diferente do discurso do veículo. Já o Estado de São Paulo, mesmo apresentando aos leitores sua posição favorável a Serra, teve uma produção neutra para esse candidato – muito próxima daquela feita pela Folha de São Paulo – o que demonstra que mesmo tomando posição é possível demonstrar certa neu-tralidade para tratar do candidato. De fato, nesta análise, os dados mais em-blemáticos estão relacionados à candidata do PT. Para complementar esses dados e finalizar a análise, a tabela que segue mostra a reação das valências com a visibilidade dos textos, já que dependendo da visibilidade a notícias pode ser mais ou menos lida. Sendo assim, o impacto maior é quando as valências positivas ou negativas, por exemplo, aparecem em textos de alta visibilidade.

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A tabela acima apresenta, além dos percentuais, os resíduos padronizados. O objetivo de acrescentar esse dado estatístico é que ele mostra as relações mais fortes de tendência, o que é medido pelos valores que estão acima ou abaixo de +- 1,96. Embora estejamos trabalhando com o total de dados do período, os resíduos mostram também essa relação entre as categorias das variáveis. O teste de Q-quadrado foi significativo – abaixo do limite crítico de 0,05 – em todos os casos exceto na relação entre a distribuição das valên-cias de Serra e a visibilidade dos textos na Folha de São Paulo. Observado então os dados significativos, identifica-se que na Folha de São Paulo há relação significativa entre a valência negativa de Dilma e com várias catego-rias da visibilidade como mostram os valores altos dos resíduos. Destaca-se que há tendência na valência negativa aparecer ora em textos de pouquís-sima visibilidade, ora em textos de alta visibilidade, não havendo tendência de aparecerem em textos de baixa ou média visibilidade (os valores são ne-gativos). Esses dados mostram que, embora muitos textos negativos sobre a candidata apareçam em baixa visibilidade, também há um bom percentual (16,7) que aparece em textos de alta visibilidade.

Tabela 10: Relação entre Valência e Visibilidade dos Candidatos

Fonte: Grupos de Pesquisa UEPG/UFPR

M baixa Baixa Média Alta Total

% R.P % R.P % R.P % R.P % Folha de São Paulo Dilma Positivo 5,00% -1,3 38,10% 2,0 43,60% -1,6 13,30% 1,1 100,00% Negativo 15,10% 5,9 24,00% -2,5 44,20% -2,0 16,70% 3,8 100,00% Neutro 5,90% -2,1 32,10% 1,0 53,70% 1,4 8,30% 0,3 100,00% Equilibrado 4,20% -1,5 25,00% -1,3 55,40% 0,8 15,50% 1,9 100,00% Total 7,4% - 30,70% - 51,2% - 10,8% - 100,00% Serra Positivo 0,0% -1,1 53,3% 1,4 33,3% -0,9 13,3% 0,4 100,00% Negativo 18,9% 2,3 24,3% -0,9 51,4% 0,1 5,4% -0,9 100,00% Neutro 7,8% -0,3 32,3% 0,0 49,8% 0,0 10,0% 0,1 100,00% Equilibrado 15,4% 0,9 23,1% -0,6 53,8% 0,2 7,7% -0,3 100,00% Total 8,0% - 32,3% - 49,7% - 9,9% - 100,00% Estado de São Paulo Dilma Positivo 2,80% -2,5 23,60% -0,7 59,70% 2,0 13,90% -0,2 100,00% Negativo 44,30% 12,7 15,70% -3,5 30,00% -3,2 10,00% -1,9 100,00% Neutro 9,50% -4,2 29,80% 1,4 45,20% 0,8 15,50% 0,7 100,00% Equilibrado 2,60% -1,9 33,30% 0,7 46,20% 0,2 17,90% 0,5 100,00% Total 13,6% - 27,80% - 43,90% - 14,80% - 100,00% Serra Positivo 42,9% 3,0 28,6% 0,0 28,6% -0,7 0,0% -1,0 100,00% Negativo 50,0% 3,9 37,5% 0,4 12,5% -1,4 0,0% -1,1 100,00% Neutro 8,3% -0,6 29,1% 0,0 47,0% 0,1 15,6% 0,3 100,00% Equilibrado 0,0% -0,7 ,0% -1,2 100,0% 1,7 ,0% -0,9 100,00% Total 8,9% - 29,0% - 46,9% - 15,3% - 100,00%

Serra: Estado de São Paulo (Q-quadrado 35,513/ sig. 0,000) Folha de São Paulo (Q-quadrado 12,654/ sig 0,179) Dilma: Estado de São Paulo (Q-quadrado 222,324/ sig. 0,000) Folha São Paulo (Q-quadrado 98,882/sig. 0,000)

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Uma possível hipótese para esses dados é que grande parte das entradas de pouca visibilidade para textos negativos de Dilma se deve aos textos do lei-tor, que geralmente são críticas à candidata. Pode-se citar como exemplo o texto “Eleições” (FSP – 4 de outubro de 2010), escrito por um leitor fazendo crítica a candidatura de Dilma. Isso ocorreu com freqüência, pois dos 71 textos dos leitores, 29 tinham valência negativa para a candidata. E para os textos de alta visibilidade e negativos uma possível explicação é o conteúdo escrito pelos convidados do jornal, que tenderam a criticar a candidata em seus artigos assinados. Os artigos ocupam espaço grande na página, são bastante lidos pelos leitores e estão quase sempre nos quadrantes superio-res. Exemplo disso é o texto da Eliane Castanhêde, “Um dia, a Casa Civil cai” de 16 de setembro de 2010. Dos 182 artigos assinados, 55 continham conteúdo negativo para Dilma, o que significa mais de 30%. Embora não seja conteúdo jornalístico informativo, mas sim opinativo, é um espaço re-levante do jornal. Já o candidato Serra não apresenta relação significativa das valências com determinadas visibilidades.

No caso do jornal Estado de São Paulo, identifica-se relação significativa para ambos os candidatos, mas com diferenças para a Folha. No Estadão as valências positivas de Dilma tendem a estar em textos de média visibilidade (geralmente em colunas assinadas), enquanto os textos negativos só apre-sentam relação significativa com a baixa visibilidade. Ou seja, a formação negativa da imagem da candidata do PT não é tão visível quanto na FSP. E isso também é resultado dos textos dos leitores criticando a candidata, pois 77 dos 167 possuem críticas à Dilma, como o exemplo “Vamos ter de engo-lir” (FSP – 20 de setembro de 2010), onde o leitor insinua que a candidata e Lula sabiam dos problemas envolvendo o Ministério da Casa Civil. Percebe--se que nos dois jornais há tendência de criticas à Dilma pelos leitores dos dois jornais. Mas ressalta-se que no Estadão as críticas à Dilma estão mais restritas aos leitores e não aos convidados a escreverem artigos no jornal. Já no caso de Serra, as valências positivas e negativas ficaram em textos de vi-sibilidade bem baixa, além de terem sido em pequena quantidade, diferente da candidata do PT.

Em resumo, os dados mostraram que a candidata Dilma apareceu mais ve-zes na cobertura feita pelos dois jornais, quando comparado a seu adversá-rio. No entanto, embora haja maior presença da Dilma nas matérias e nos títulos das notícias, isso não significa que é positivo para a candidata, já que ela aparece de forma negativa em muitos casos nos dois jornais, mas em maior quantidade na Folha de S. Paulo. Serra aparece menos, mas em com-pensação não leva muitas críticas. Destaca-se que comparando os jornais, o Estadão, embora tenha tomado posição política, não significou prejuízo de informação para o leitor. Pelo contrário, as notícias do Estadão foram mais “imparciais” do que aquelas produzidas pela Folha de São Paulo, embora essa última mantenha nos seus manuais de redação o discurso de neutrali-dade e imparcialineutrali-dade na produção noticiosa. Além disso, na FSP as valên-cias negativas de Dilma se concentram em textos mais visíveis do que no Estado de São Paulo.

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Considerações Finais

Apesar de determinados meios de comunicação terem como pressuposto nas suas redações os princípios de neutralidade e imparcialidade, estes con-ceitos não são observados na prática diária do jornalismo, principalmente se tratando de temas políticos, como a campanha eleitoral de 2010, tema deste artigo. Com esta análise foi possível apresentar um panorama da co-bertura que os dois principais jornais que circulam no Brasil fizeram du-rante o período eleitoral, principalmente observando o tratamento dado ao tema eleições e aos principais candidatos em disputa – Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) – identificando diferenças na cobertura dos dois jornais e também no tratamento dado aos dois candidatos.

Com base nos dados é possível inferir que os jornais brasileiros deram grande enfoque na corrida eleitoral que estava ocorrendo no país, inclusive de uma forma bastante próxima levando-se em consideração a visibilidade dada ao tema (tab. 3), localização na página (tab. 2) e temáticas (tab. 5). No entanto, os jornais apresentam alterações significativas quanto à quantidade de entradas, espaço ocupado pelos textos (tab. 1), a preferência por deter-minados formatos (tab. 4) e enquadramentos (tab. 6). Nota-se que os jor-nais priorizam a cobertura factual (ou episódica) que tem como foco apre-sentar os fatos sem contextualização ou discussão temática, mas ressalta-se que isso ficou mais evidente na cobertura da Folha de São Paulo, em 60,2% dos textos. Percebe-se ainda o foco em temas estritamente de campanha eleitoral nos dois veículos, sem discussão de outros assuntos que normal-mente seriam assuntos de interesse público, como saúde, educação, meio ambiente, entre outros. Embora se reconheça que as notícias são moldadas de acordo com fatores internos e externos que interferem na produção jor-nalística (SHOEMAKER e VOS, 2009), os textos muito factuais, focados apenas em assunto de campanha (agenda dos candidatos, por exemplo) não contribuem de forma efetiva para o debate público que se dá na sociedade. Destaca-se ainda que enquanto o Jornal O Estado de São Paulo tomou posi-ção e declarou apoio ao candidato do PSDB, a Folha de São Paulo manteve seu discurso de imparcialidade durante a disputa eleitoral. No entanto, o que se observou a partir da análise das notícias é que a cobertura do pri-meiro jornal esteve mais próxima dos conceitos de imparcialidade e neu-tralidade do que do segundo, conforme mostrou a tabela 9, mesmo a FSP declarando esses pressupostos como ponto de partida da sua produção. En-quanto o Estadão apresentou 80% dos textos com valência neutra para Dil-ma, na Folha esse percentual foi de apenas 65%, – o que não se esperava, já que o primeiro jornal expressou sua posição política publicamente. Já para o candidato Serra esse percentual foi de 98% para o Estadão e 96,7% para a Folha. Isso significa que veículos que declaram posição política podem fazer a cobertura de todos os candidatos de forma mais equilibrada e que nem sempre declarar-se imparcial significa que é esse tipo de informação que se está oferecendo ao leitor.

Os estudos que analisam a cobertura eleitoral sobre as eleições partem do pressuposto que os meios de comunicação ocupam um papel relevante na

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esfera pública, pois se considera que eles são as principais fontes de infor-mação a que os indivíduos têm acesso. E a partir do processo de agenda-mento os meios oferecem aos eleitores os assuntos e também os atributos destes fatos, principalmente porque ao produzir seus textos, tendem a apre-sentar determinadas abordagens e tratar os candidatos de forma diferencia-da. E por meio dessas características presentes na produção é que a mídia tem a possibilidade de influenciar na formação da opinião dos indivíduos a respeito dos candidatos.

De maneira geral, partindo-se das informações apresentadas no texto sobre o tratamento dos candidatos, ambos os jornais tenderam a apresentar uma cobertura mais imparcial sobre a candidata Dilma Rousseff (PT), embora com maior quantidade de textos negativos quando comparado aos seu opo-nente (12,9% no ESP e 18% na FSP). Já Serra apareceu menos nos dois jor-nais, mas também não teve muitos textos negativos (0,8% no ESP e 1,9% na FSP). Os dados tornam-se ainda mais claros quanto ao tratamento negativo da candidata do PT quando observada a relação da valência com a visibi-lidade dos textos. As notícias de alta visibivisibi-lidade na Folha tenderam a ser negativas para a candidata, sendo que isso não ocorre com o outro candi-dato, em que poucas foram negativas ou positivas e ficaram restritas à baixa visibilidade, principalmente em textos com a opinião do leitor, uma coluna diária no jornal, mas que é pouco lida e aparece na parte inferior da página. Ou seja, os textos que a partir das suas características tendem a ser mais lidos, tiveram mais informações negativas sobre Dilma, o que demonstra um tratamento desigual entre os dois candidatos nesses jornais analisados. Mesmo que a candidata Dilma tenha vencido as eleições no segundo turno, isso não significa que não tenha havido impacto da cobertura, mas mos-tra que para além das informações presentes nos jornais, outros fatores in-fluenciaram no voto dos eleitores. E embora este trabalho apresente apenas a análise dos dados coletados nos jornais, diversas pesquisas (McCOMBS, 2009) já mostram que a cobertura que os jornais fazem tem efeito na opi-nião do público, principalmente dos eleitores em períodos de campanha. A análise da cobertura demonstra como que os meios de comunicação, que ocupam espaço de destaque nos governos democráticos (DAHL, 2009), têm produzido informações imparciais sobre os candidatos. Isso não condiz com os princípios jornalísticos que deveriam nortear a produção e demons-tra uma relação de aproximação entre determinados atores políticos com os veículos de comunicação, enquanto outros tendem a ser “desqualificados” a partir do tratamento que recebem na cobertura.

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