• Nenhum resultado encontrado

A PESQUISA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A PESQUISA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

A PESQUISA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO

Daisi Teresinha Chapani1 (UESB), dt.chapani@gmail.com

Dekarla Xisto Oliveira Nascimento2 (UESB), karla_xisto@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho pretende discutir a pesquisa no processo formativo do

professor de educação básica, a partir da compreensão de como o conceito de professor-pesquisador foi incorporado por um curso de licenciatura em exercício destinado a professores da rede estadual da Bahia. Para tanto, realizamos a análise do Projeto do Pedagógico do Curso e os resumos dos Trabalhos de Conclusão de Curso dos professores-cursistas que o concluíram. A visão de formação centrada na pesquisa que defendemos está em consonância com a de pesquisadores como Carr e Kemmis (1988), André (2001), Ludke (2002), Pimenta (2002) que entendem a pesquisa em educação como um processo sistematizado sobre problemas educacionais, que é forjado pela maneira investigativa e reflexiva de conduzir sua prática e todo o ato educativo. A partir da análise documental, percebemos a falta de clareza em relação à pesquisa no curso investigado, posto que o seu fundamento epistemológico não se evidencia no conteúdo dos textos, permitindo-nos inferir uma precária aproximação entre investigação e a ação pedagógica nesse processo formativo.

PALAVRAS-CHAVE: Licenciatura, Concepção de Pesquisa, Professor-Pesquisador. INTRODUÇÃO

A formação do professor-pesquisador tem sido bastante enfatizada na literatura, porém, como apontam diferentes autores (CONTRERAS, 2002; PIMENTA, 2002; LUDKE, 2002), há uma diversidade de interpretações e usos desses conceitos, sendo necessário especificar a que perspectiva estamos nos referindo quando abordamos aquestão. Para nós, a formação pautada na pesquisa apresenta-se como uma possibilidade de implementar uma nova racionalidade que supere o reducionismo epistemológico, em que há uma supervalorização dos conteúdos disciplinares em detrimento da busca, da indagação e do questionamento que levam à construção do conhecimento e à educação crítica e emancipadora em que é preconizada.

A pesquisa em educação constitui-se em uma atitude que deve fazer parte do cotidiano do professor, sendo importante para o seu desenvolvimento profissional, bem como para o enriquecimento de pesquisas no campo da educação que expressem as necessidades sentidas por esses educadores (LUDKE, 2002; ANDRÉ, 2001). Porém, a

(2)
(3)

suficiente a respeito de como esses princípios têm sido incorporados pelos cursos de licenciaturta, particularmente aqueles destinados a professores em exercício.

Assim, essa pesquisa buscou compreender como foi incorporada a concepção de professor-pesquisador em um curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, ligado ao Programa Especial de Formação de Professores do Estado da Bahia (PROESP), realizado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus VII, localizado ano município de Senhor do Bonfim- BA.

METODOLOGIA

Tomando a educação a partir de seu aspecto complexo e dinâmico, elegemos como base metodológica uma pesquisa de cunho qualitativo, dado o seu alcance e propensão de abranger sentidos mais contextuais e polissêmicos.

Os documentos analisados foram o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e os resumos dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). Esses registros escritos são fonte de informações que podem apresentar-se como objeto de investigação, possibilitando serem interpretados, analisados. O tratamento analítico dado às informações contidas no documento foi realizado por meio da Análise de Conteúdo de Bardin (1977).

RESULTADO E DISCUSSÃO

Evidentemente a base legal do PPC é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96) e as Resoluções CNE/CP 01/2002 e 02/2002. Fundamentado nessas normativas, o PPC propõe que durante o processo formativo ocorra a reflexão crítica e atuação em pesquisa, no entanto, o documento não traz como ocorrerá tal reflexão crítica, como serão criados os espaço de reflexão, socialização de experiências e construção de saberes, se haverá participação em grupos de pesquisa ou colaboração dos professores formadores para pesquisarem conjuntamente.

Desse modo, pode haver múltiplas interpretações do que vem a ser a reflexão e a

pesquisa mencionadas no PPC, podendo estas serem compreendidas no sentido de

refletir sobre uma infinidade de coisas de modo introspectivo e pessoal, e não no sentido de um pensamento analítico, ou seja, quando se faz uma reflexão sobre o papel social, cultural e político da educação e da ação pedagógica empreendida pelo docente junto a sua turma.

Reconhecer a complexa dimensão do ato educativo constitui o cerne da reflexão que defendemos como uma ação pedagógica emancipadora que provém de uma postura investigativa e verdadeiramente crítica de Educação (FREIRE, 1996; CARR; KEMMIS, 1988).

(4)

Apesar do PCC indicar que a metodologia de ensino terá um embasamento teórico-prático, o documento não indica em que pressupostos epistemológicos fará a fundamentação desta práxis, tampouco inclui a pesquisa como uma estratégia para essa aproximação.

Sendo a formação pela pesquisa, uma maneira de ampliar a concepção de formação, de modo que não se restrinja as práticas de ensino e as práticas pedagógicas repassadas durante a formação universitária, faz-se necessário que tal modelo de formação agregue aspectos para uma formação crítica reflexiva, como defendem Carr e Kemmis (1988), um processo formativo em que os professores sejam capazes de produzir novos conhecimentos que emergem da reflexão, bem como de promover a comunicação entre teoria e prática, levando em conta que esses docentes são sujeitos científicos no processo educativo.

Da análise dos resumos dos TCC emergiram as seguintes categorias Negação

da Docência e Concepção de Pesquisa como Produção de Trabalho Final.

Negação da docência: Ao analisarmos as temáticas, os resumos e as

justificativas dos TCC, percebemos que eles não giram em torno da articulação entre ensino e pesquisa e dos contextos peculiares da sala de aula. Ao nos debruçarmos sobre esses documentos foi notório que as temáticas não versavam sobre as problemáticas da sala de aula, apenas um grupo pesquisou nessa perspectiva, como podemos ver nos temas a seguir: a) Lixo: Uma porta aberta para doenças; b) Produção orgânica de hortaliças em Euclides da Cunha; c) Educação Ambiental e vida sustentável; d) O Ensino de Ciências da Natureza nas séries iniciais: relação entre teoria e prática; e) Agricultura e alimentação alternativa como desenvolvimento sustentável; f) Parasitoses que afetam crianças e adolescentes do distrito de Igara; g) O uso das plantas medicinais pela comunidade indígena de Massaracá- Etnia Kaimbé, no município de Euclides da Cunha -BA e h) Produção de Mel de abelha do gênero Mandaçaia na comunidade de Diogo, no município de Jaguarari-BA.

Não estamos afirmando serem os temas tratados irrelevantes, ao refletirmos acerca deles, vimos que são de interesse científico, contudo, quando analisamos os resumos, fica claro que esses trabalhos não problematizam a ação pedagógica, demonstrando uma negação da docência evidenciada pela falta de interesse sobre as questões e desafios inerentes ao cotidiano escolar, o que, de certo modo, pode ser o reflexo de uma concepção de formação docente, preocupada em formar um especialista

(5)

em uma dada área. Por exemplo, um dos trabalhos cujo tema: O uso de plantas medicinais pela comunidade indígena de Massaracá- Etnia Kaimbé, no município de Euclides da Cunha- Bahia, traz a seguinte justificativa:

[...] levantamento etnobotânico das plantas nativas, visando o resgate e registro dos conhecimentos tradicionais e posteriormente subsidiar elementos que possam promover estudos biológicos, farmacêuticos, através da realização de coleta, catalogação, identificação botânica, bem como analisar se existe diferença das espécies vegetais nativas usadas pelas duas comunidades (BAHIA, 2012, p.196).

Diante dessa justificativa, percebemos que as temáticas dos TCC do curso posto em análise aproximam-se mais de cursos de bacharelado do que de uma licenciatura, o que se revela como um problema a ser superados nos cursos de formação docente.

A proposta apresentada nos TCC do curso sinalizou uma concepção equivocada de pesquisa para um curso de licenciatura, haja vista que a investigação realizada pelas professoras-alunas apresentam características de natureza técnica. Havendo um distanciamento dos TCC com o fazer pedagógico de modo a evidenciar seu entrosamento com uma racionalidade que inviabiliza o exercício da autonomia e de engajamento sobre os desafios inerentes ao ato educativo.

Concepção de pesquisa como produção de um trabalho final: A concepção

de pesquisa mais como produto e menos como processo, ou seja, a pesquisa entendida como resultado de uma investigação pontual e não como forma de aprender e construir novos saberes, a partir de uma prática organizada e sistematizada que leva a desenvolver o pensamento e a constituição de um profissional “epistemologicamente curioso”, como defende Paulo Freire (1996).

O trabalho de conclusão do curso deve ser resultado de uma atividade processual e contínua que se estabelece na trajetória do curso, (ANDRÉ, 2001; LUDKE, 2002; CARR e KEMMIS, 1988) defendem que a pesquisa não deve ser tomada como um fim em si mesma, mas uma atitude cotidiana que foi internalizada e que surge de necessidades do próprio professor. Portanto, percebemos que a pesquisa não ficou clara como uma atividade que perpassa os componentes curriculares que compõem o currículo do curso, sendo apenas citada no componente curricular metodologia da pesquisa como podemos ver na ementa:

Estuda a teoria da ciência e os métodos de análise na construção do pensamento científico. Domínio das normas técnicas do trabalho científico: fichamento, resumo, resenha e referência. Prioriza a elaboração e apresentação do projeto de pesquisa, voltado para elaboração da monografia (BAHIA, 2012, P. 148).

(6)

A elaboração do TCC em um curso de licenciatura é um momento importante para refletir e exercitar a dimensão da pesquisa na prática docente e deve ser pensada e construída durante todo o curso, constituindo-se como uma das formas de introdução para a atividade investigativa. Dando, portanto, um indício que possibilita expressar o entendimento das questões pedagógicas traçadas no currículo, que foram trabalhadas e problematizadas no seu percurso formativo.

CONCLUSÃO

A partir da análise do PPPC não foi possível identificar quais as bases epistemológicas que o curso pretendeu estabelecer e se existe uma preocupação com a formação centrada na pesquisa. Já a análise dos resumos dos TCC nos deu indicações de que a pesquisa foi trabalhada ao longo do curso numa perspectiva instrumental, com características bacharelescas.

A proposta de formação pela pesquisa é inovadora e tem sido amplamente discutida pela academia como um caminho em construção, de maneira que, conjuntamente, professores acadêmicos e professores da Educação Básica possam estabelecer uma ponte entre a universidade e a escola, em que o professor passe a ser participante e não mero objeto de estudo. Porém, como mostram os resultados dessa pesquisa, há ainda muito o que se discutir e o que se fazer até que a pesquisa seja incorporada de maneira crítica nos cursos de formação.

REFFERÊNCIAS

ANDRÉ, M. E. D. Pesquisa, formação e prática docente. In. ANDRÉ, M. (org.). O

papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 5 ed. Campinas:

Papirus, 2001.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977.

CARR, W. & KEMMIS, S., Teoria Crítica de la Enseñanza. La investigación-acción en la formación del profesorado., Barcelona: Martinez Roca, 1988.

CONTRERAS, J. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LUDKE. M. A complexa relação entre o professor e a pesquisa. In: ANDRÉ, M. (Org.).

O papel da pesquisa a formação e na prática dos professores. (Série Prática

Referências

Documentos relacionados

Portanto, percebe- se que uma prática voltada para construção do conhecimento reflexivo exige do professor um exercício de avaliação constante às suas ações, de modo que

De seguida, vamos adaptar a nossa demonstrac¸ ˜ao da f ´ormula de M ¨untz, partindo de outras transformadas aritm ´eticas diferentes da transformada de M ¨obius, para dedu-

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

Imagens do (Ensino) Português no Estrangeiro – Projeto Formação Contínua EPE.. Estugarda | 25 a 27 de março

I – formular e zelar pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica;.. II –

procedimentos para o uso científico de animais, e dá outras providências. 1 o As atividades e projetos que envolvam a criação e utilização de animais de laboratório

Apesar da longa distância dos grandes centros urbanos do país, Bonito destaca- se, regionalmente, como uma área promissora dentro do Estado de Mato Grosso do Sul. Bonito,

Aplicando essa característica do Nível de Maturidade 2, cujo objetivo é “Divulgada: A organização disponibiliza e fornece acesso à informação ao ambiente externo Divulgada”