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ARRANJOS PRODUTIVOS NO RIO SOLIMÔES ECONOMIC NETS IN THE SOLIMÕES RIVER

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Academic year: 2021

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ARRANJOS PRODUTIVOS NO RIO SOLIMÔES

ECONOMIC NETS IN THE SOLIMÕES RIVER

Máximo Afonso Rodrigues Billacrês Universidade Federal do Amazonas maximo_billacres@hotmail.com

Tiago Maiká Müller Schwade Universidade Federal do Amazonas maikaschwade@yahoo.com.br

Resumo

A pesquisa buscou compreender as diferentes redes econômicas existentes nas cidades de Codajás e de Tefé, que estão situadas no médio curso do rio Solimões, Estado do Amazonas. Priorizaram-se os arranjos produtivos locais que se destacavam por apresentarem singularidades. Para tanto, fixou-se no levantamento de dados em campo e evitamos discussões bibliográficas preliminares.

Palavras-chave: cidade de Tefé, cidade de Codajás, redes econômicas.

Abstract

The aim of this research is comprehend the variety of economic nets which exist in Codajás and Tefé cities. These cities are situated in the medium watercourse of Solimões River, Amazonas State - Brazil. The priority of these studies was the nets of local products which presented important singularities. Because of this, data searches in field were made; however, preliminary bibliographic discussions were not pointed out. Key words: Tefé city, Codajás city, economic nets.

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INTRODUÇÃO

Chegamos a estas cidades transpondo rios onde elas surgem emolduradas pela floresta. Estas cidades vistas uma vez nunca mais serão esquecidas, não porque deixem, como outras cidades memoráveis, uma imagem extraordinária nas recordações. A cidade na Amazônia, ou a maior parte delas, tem a propriedade de permanecer na memória rua por rua, casa por casa, apesar de não possuir particular beleza.

Oliveira e Schor (2008).

Uma particularidade de cidades, como Tefé e Codajás, é o aspecto ribeirinho. Costuma-se dizer que os primeiros núcleos de cidades, na Amazônia, surgem ao longo de grandes rios (CORRÊA, 2006; TRINDADE JR, 2006; OLIVEIRA, 2006). Acrescenta-se a isso o fato, não menos importante, de em geral estabelecerem-Acrescenta-se em aldeias indígenas ou próximos delas - embora fossem a negação destas1 - diga-se de passagem, por um processo pouco respeitoso. A esses dois fatos julgamos importantes, porque são eles que dão os traços capazes de destacar as espacialidades chamadas cidades, vilas ou povoados ribeirinhos (SCHWADE, 2007).

A cidade ribeirinha da Amazônia é em geral uma pequena cidade que se destaca do urbano das demais regiões brasileiras. São características da região e são assim chamadas por possuírem uma relação de dependência muito forte com o rio que banha sua margem e, por vezes, seu próprio centro.

O enraizamento cultural dessas pequenas espacialidades urbanas é muito forte, e traduz-se na presença efetiva do rio na “interação funcional (a exemplo da circulação fluvial e uso para atividades domésticas), de subsistência material (fonte de recursos alimentares), lúdica (uso do rio para lazer) e simbólica (imaginário sócio-cultural)” (TRINDADE JR., 2006, p. 5). Trata-se da presença herdada principalmente de populações indígenas. Nelas, urbano e rural se confundem por meio de uma dinâmica econômica que retoma as espacialidades oriundas das populações tradicionais (TRINDADE JR., 2006). A produção agrícola na cidade ou uma espécie de base/refúgio (os sítios) na zona rural são extremamente comuns na relação intrafamiliar. Desta

1 Muitas cidades da Amazônia se estabeleceram em áreas de antigas aldeias indígenas, contudo várias já se encontravam desabitadas por conta da fuga desses povos para as cabeceiras dos rios. Mesmo as que estavam ainda habitadas, eram forçadas a um modo de vida estranho onde, entre outras coisas, as casas coletivas foram proibidas (SCHWADE, 2007).

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maneira, se consolidou certa quantidade de núcleos populacionais na Amazônia, que resistem às novas formas de produção do urbano na região (SCHWADE, 2007).

As espacialidades existentes na Amazônia central se articulam em redes principalmente por meio dos grandes rios. Neste sentido, a pesquisa buscou compreender diferentes redes comerciais que envolvem os arranjos produtivos locais no rio Solimões, por meio do estudo dos municípios de Codajás e Tefé. Isso porque se entende que a compreensão das redes é fundamental para a compreensão da dinâmica dessas especialidades o que, por sua vez, deve ajudar a reduzir os mitos que envolvem a Amazônia contribuindo para implementação de políticas públicas adequadas à região. Para tanto, tem-se como base principal os dados coletados em campo que foram cotejados com revisão teórica e análise em laboratório.

De acordo com a metodologia escolheram-se as cadeias produtivas não apenas por sua importância comercial, mas pelas singularidades envolvidas em sua comercialização e consumo local. Assim, em Codajás estudou-se as redes do açaí, farinha de mandioca, espeto de churrasco, malva, peixes, banana, maracujá e camas do tipo beliche. Em Tefé estudou-se as redes de troca da farinha de mandioca, castanha, gelo, peixe e rapadura.

Os resultados apresentados fazem parte do Programa de Pesquisa da Rede Urbana da Calha do Rio Solimões-Amazonas coordenado pelo NEPECAB, que teve financiamento do subprojeto "Interações Sociais e Mudanças do Uso da Terra", do Projeto Milênio LBA2 "Integração de Abordagens do Ambiente, Uso da Terra e Dinâmica Social na Amazônia: as Relações Homem-Ambiente e o Desafio da Sustentabilidade" e do projeto "Dinâmica das Cidades Amazônicas, Globalização e Desenvolvimento Regional" (Edital MCT/CNPq Universal 2007).

Finalmente, é importante destacar que os nomes dos indivíduos citados no texto foram modificado para resguardar a identidade dos envolvidos.

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CODAJÁS

Codajás, pequena cidade do médio Solimões, é conhecida pela produção de açaí, “caixa forte” na economia do município. Possui a fama de nunca faltar açaí. A safar desse produto se inicia em dezembro e se encerra em junho. E na entressafra, Codajás é abastecida pelo açaí proveniente de comunidades dos rios Puarini (interior do mesmo município), nesse período o preço do açaí comercializado é de R$ 2,00 o litro (em 2008), esse açaí de entressafra não chega a abastecer outros municípios, é somente comercializado no mercado local.

Existe na cidade uma agroindústria (Figuras 1 e 2) que é administrada pela Cooperativa Mista de Produtos e Frutas Regionais, com nome fantasia de “Açaí de Codajás”. No período de safra do açaí há o maior funcionamento da agroindústria, um dos caminhos para a exportação do produto. O açaí processado na agroindústria é levado até lá pelos próprios agricultores, que podem ser ou não associados à cooperativa. São 130 pessoas associadas à cooperativa, mas possui a meta de atingir 400 pessoas em 2010. No período de safra a agroindústria chega a contratar de 40 a 50 funcionários, quando processa por volta de quatro toneladas de açaí por dia. No ano de 2006 a agroindústria processou 380 toneladas e no ano seguinte processou 266 toneladas.

Figura 1: Equipamento para Processar Açaí

Codajás, agosto de 2008. Foto: Acervo NEPECAB.

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Figura 2: Equipamento para Pasteurizar o Açaí

Codajás, agosto de 2008. Foto: Acervo NEPECAB.

Todo o açaí da agroindústria já sai embalado e em forma de “vinho” (forma como é conhecido o produto que está proto para o consumo), que segue em diferentes direções atendendo o mercado regional e internacional. Dependendo do mercado envolvido, o produto tem preços diferenciados. No mercado regional, o principal comprador é o Governo do Estado, que nesse ano comprou 120 toneladas ao preço de R$ 3,50/kg, destinadas à merenda escolar em outros municípios. No mercado internacional os principais compradores são os Estados Unidos, que no último ano importou 120 toneladas, e a Holanda, que importou 24 toneladas, exportados em tambores de 200 kg dentro de contêineres refrigerados. Mas o preço pago no mercado internacional é menor (de R$ 2,50/kg), diferença que não pode ser explicada simplesmente por leis de mercado, permanecendo obscura.

Ainda em relação aos preços, a mesma mercadoria produzida no Estado do Pará é vendida a R$ 1,60/Kg. Uma explicação para a valorização do açaí de Codajás é que o Pará produz a maior parte do açaí consumido no Brasil e no exterior, cobrindo em torno de 80% da oferta, e Codajás produz na entressafra do Pará, quando a oferta do produto é menor.

Os usos do produto também variam de localidade para localidade. Enquanto que na região amazônica o açaí é item indispensável na culinária e é consumido principalmente na forma de vinho, no restante do Brasil não tem um peso tão grande na culinária e é consumido como energético ou em sorvetes. O açaí exportado para a

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Europa é utilizado na indústria farmacêutica e o que segue para os Estados Unidos é consumido nas praias em bebidas geladas.

No entanto, nem todo o açaí produzido em Codajás passa pela agroindústria. O consumo local absorve em torno de 40% de todo o açaí produzido no município, dando maior dinamicidade à economia, seja na comercialização ou nas trocas diretas e indiretas entre famílias. Outro caminho é marcado pela figura do atravessador. Os agricultores levam o açaí in natura, até os atravessadores nos flutuantes (edificações assentadas em grandes toras de arvores que flutuam, são encontradas nas margens dos grandes rios e funcionam principalmente como comércios e atracadouros). O destino desse açaí é quase que exclusivamente a capital do Estado, Manaus, vendido em sacas de 50 kg.

Codajás produz e também exporta outros artigos, que não vão somente para a capital, mas que abastecem uma rede de localidades. É o caso da farinha, espeto de churrasco, malva, peixes, banana, maracujá e camas do tipo beliche. O maracujá abastece o município de Coari, subindo o Rio Solimões. O município de Coari (município vizinho de Codajás) vem sofrendo intensas modificações em sua dinâmica econômica interna por conta da exploração de gás e petróleo na bacia do Rio Urucu, sendo a segunda maior economia do Estado do Amazonas. Por conta dessa nova realidade importa diferentes produtos de municípios próximos, como no caso do maracujá de Codajás. São principalmente produtos consumidos em outras partes do país, devido à composição da cidade que recebeu forte fluxo migratório ocorrido a partir da intensificação da exploração do gás e petróleo, nos últimos cinco anos.

A malva produzida em Codajás desce o rio com destino a Manacapuru, municipio que nesse ano de 2008 importou 760 toneladas da mercadoria utilizada na produção de sacas de fibra de 50 kg. O destino mais provável das sacas é a Colômbia, que as utiliza para embalar os grãos de café torrado.

A banana que codajás produz é exportada somente para Manaus. O tipo mais procurado é a pacovão, muito consumido como fritura. Os principais compradores são grandes redes de supermercados como Carrefour e DB. Esse ano a capital importou aproximadamente 406 mil caixas dessa banana.

O caso da farinha de mandioca aparenta ser contraditório. Existe uma produção local de farinha, Miruá e Badajós são as comunidades rurais que se destacam com essa atividade no município. Grande parte do consumo local é atendida com essa farinha que também é exportada. Segundo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário de Estado do Amazonas (IDAM), Codajás exportou, de janeiro a agosto de 2008, 4.500

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toneladas de farinha para Manaus. Contudo, alguns comerciantes importam farinha de outras localidades onde os preços são mais atrativos. Isso porque o preço da saca de 50 kg de farinha pode variar entre 30 e 90 reais.

Uma produção que despertou atenção por sua singularidade é a produção de espetos de churrasco, que são pedaços de madeira de aproximadamente 40 cm e pontiagudos, a sua comercialização é somente no município. Todavia é uma produção recente desse artigo na cidade de Codajás está ligada a chegada de uma família proveniente do município de Novo Airão. Novo Airão está localizado no baixo curso do rio Negro é foi uma referência na produção dessa mercadoria. Porém é no rio Negro onde ocorrem as mais intensamente atividades de instituições ambientalistas no Estado do Amazonas, com isso, a produção de espetos foi restringida por entender-se que era impactante ao ambiente natural. Essa decisão mexeu com a rede comercial do produto, que deixou de atender parte do mercado do Estado. Mas, a família que migrou nesse período para Codajás, começou a produzir espetos no município, que não chega a esportar, mas tornou a cidade alto-suficiente nesse produto.

A produção moveleira não é algo que chama a atenção quando se vai desprevenido à cidade de Codajás. Não são grandes as marcenarias e nem incluem muita gente na atividade. O que se fez pensar na atividade foi o fato de produzir apenas um item voltado à exportação, é a cama, predominantemente do tipo beliche. Isso porque está ligada a lojas de Manaus que encomendam esse produto em escala.

Outra rede que chama muito a atenção está ligada à comercialização do peixe (MORAES, 2008). Tradicionalmente se consome muitos peixes nas cidades ribeirinhas da Amazônia e mesmo em outras localidades na beira das estradas ou nas grandes cidades da região. No entanto, as áreas produtoras de peixe têm consumo interno bem seletivo. Algumas espécies de bagres, especialmente, inexistem na culinária local, a importância desses se restringe ao mercado. De Codajás esses bagres pescados são enviados para Manacapuru, de onde são enviados para os estado de São Paulo ou exportados para os Estados Unidos e países da Europa. Na entressafra do açaí, essa é das atividades mais importantes no município, pois coincide com a vazante do rio, período de fartura para os pescadores.

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TEFÉ

O município de Tefé está situado no médio curso do Rio Solimões, a 636 Km de Manaus por via fluvial. Tefé é conhecido pela festa da castanha, mas o produto mais significativo na economia é a farinha de mandioca (muito diferente, porém, da consumida em outras regiões do país). Produz mensalmente 900 toneladas de farinha de diversas qualidades, principalmente em localidades rurais situadas na estrada da EMADE e em torno do lago Tefé.

Em Tefé se produz ao menos três tipos principais de farinha: farinha d’água (mais grossa ou “caroçuda” e com formas irregulares), farinha amarela (relativamente fina com formas irregulares) e a farinha da ova (bem arredondada). O tipo mais conhecido é a farinha ova que foi popularizada com o nome de farinha do Uarini, que é o nome do município vizinho. Uarini é também produtor de farinha, mas a fama se da porque é lá que se embala boa parte da produção de Tefé, por conta da festa da farinha e porque Uarini era parte do município de Tefé, desmembrado a poucos anos.

Em Tefé ocorre o monopólio da comercialização da farinha feita por Sebastião, um atravessador que compra a farinha dos agricultores. A compra é feita diretamente nos flutuantes do Sebastião, independentemente da distância são os agricultores que arcam com os custos de transporte. O preço varia bastante ao longo do ano e chega a atingir preços entre 30 e 50 Reais a saca de 50Kg nos períodos de maior produção. Isso significa que, o preço da farinha, chega a apenas R$0,30/Kg. Preço muito baixo se comparado com outras localidades onde uma saca de 50Kg de farinha pode ser vendida pelo agricultor a até R$ 90.

Para acabar com esse monopólio a prefeitura tentou por duas vezes montar uma cooperativa, mas nenhuma das vezes criou-se efetivamente. A secretaria de produção, para fazer o controle da farinha que é produzida e exportada de Tefé, possui um cadastro de agricultores. Tefé além de abastecer a capital do Estado abastece outros municípios como Maraã e Fonte Boa. No período de vazante do rio a comercialização da farinha tem uma baixa, não por conta de intempéries ligadas diretamente à produção, mas sim na circulação devido às dificuldades de transporte nesse período mais seco.

Em Tefé ocorre outro tipo de monopólio, dessa vez feita por Reinaldo, empresário que possui uma fábrica de gelo onde produz dez toneladas de gelo por dia, usado principalmente para estocar o peixe no período da pescaria, que pode levar até mesmo mais de duas semanas. Para acabar com o monopólio do gelo o projeto da

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colônia de pescadores Z4 está implantando uma fábrica de gelo com capacidade de produzir 16 toneladas diárias.

Reinaldo também compra peixes em seu flutuante frigorífico, onde os peixes populares (de escama, a maioria) são vendidos no comercio local e os bagres serão filetados e preparados para a exportação. Diferentemente dos bagres de Codajás (que são enviados à Manacapuru), esses peixes filetados são enviados rio acima com destino à Colômbia de onde são também exportados. Outra questão envolvendo o comércio de peixes é que, ao serem tratados no flutuante, tem causado um impacto no lago de Tefé, por deposição de resíduos nas margens do mesmo.

A castanha, que deu nome a festa cultural do município, tem o período de safra de quatro meses, entre janeiro e final de abril. A produção de Tefé foi 800 toneladas em 2008. Parte dessa foi exportada para a capital do Estado e parte foi enviado ao Estado Pará.

A comunidade de Santo Isidoro, situada na margem esquerda do rio Solimões, se destaca das demais comunidades de Tefé. Recentemente introduzida, a produção de derivados da cana de açúcar despertou atenção na economia da localidade. Uma tonelada de rapadura é produzida a cada mês, que equivale a 25 mil unidades de 40 gramas. Cerca de 60 sócios fazem parte da cooperativa PROCANSI e trabalham com a cana. Além dos sócios muitos jovens trabalham na atividade, principalmente embalando o produto. Toda a rapadura produzida na comunidade já vai para Tefé com o selo da comunidade no fardo.

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ASPECTOS RELACIONADOS À PRODUÇÃO DE FARINHA

A família é base dos principais arranjos produtivos encontrados nas cidades de Tefé e Codajás. O caso da farinha é emblemático, pois toda família se envolve na atividade, que ainda conta com a colaboração de visinhos e amigos, remunerados ou não. Na rodovia conhecida como estrada da EMADE (município de Tefé), grande parte da renda das famílias se relaciona com a produção e escoamento da farinha. A atividade dos membros da família geralmente se divide a partir do sexo e da idade. As etapas da produção são as seguintes:

Primeiro – Arranca-se a mandioca da terra (atividade principalmente desenvolvida pelos homens adultos);

Segundo – Coloca-se a mandioca de molho durante aproximadamente três dia; Terceiro – Descasca-se a mandioca que é depositada em seguida em uma gamela (atividade geralmente desempenhada por mulheres e jovens);

Quarto – Em seguida, a mandioca vai para a “prensa” para tirar mais água da mandioca;

Quinto – A mandioca volta para a gamela onde será peneirada (serviço predominantemente feminino);

Sexto – Depois de peneirarda coloca-se numa maquina manual de enrolar a farinha;

Sétimo – finalmente vai para o forno por certo tempo, quando deve ser constantemente mexida em movimentos singulares (trabalho masculino);

Durante o trabalho de produção todos os membros da família vão para a casa de farinha. Na propriedade da dona Maria (que se especializou nessa atividade), para se plantar a mandioca utilizam seis quadras de roça, somente nesse primeiro serviço é necessário mais de 60 pessoas diariamente, nesse caso ocorrem contratações de vizinhos e amigos ou troca de serviços (mutirão). Muitas outras pessoas ainda se envolvem em outros serviços relacionados, como por exemplo, na alimentação e transporte. É um processo que movimenta as comunidades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os arranjos produtivos nas cidades de Tefé e Codajás, e provavelmente em toda a calha do rio Solimões, se dão em redes que se articulam com inúmeras outras espacialidades, compondo uma ampla diversidade de fluxos e nodosidades. Esse fato elimina, portanto, qualquer hipótese de isolamento, estando articuladas por redes locais, regionais e mesmo mundiais de comercio. Mas a forma como se dão as relações de trabalho, nesse meio, é um ponto polemico.

O atravessador é uma figura presente na maioria das redes comerciais dos municípios ribeirinhas do Estado do Amazonas. É ele quem faz a ligação das redes locais e regionais de troca. Mas sua atuação é, em primeira análise, exploratória em relação aos agricultores e pescadores. A exploração se dá no ato da troca, pois os preços pagos aos trabalhadores garantem autos lucros que atingem porcentagens elevadíssimas em relação ao valor inicial da mercadoria.

No entanto, se por um lado, o papel privilegiado do atravessador nas trocas comerciais traz prejuízos aos produtores, por outro lado, a produção organizada em formas diferenciadas deve levar em consideração as necessidades de consumo das populações local e regional, que se apresentam como demanda fiel a esses gêneros.

Atualmente, em Tefé e Codajás, os arranjos produtivos que ocorrem em torno de organizações, como as cooperativas, geralmente privilegiam a exportação de seus produtos. Atender apenas as necessidades de preços justos para os trabalhadores tende a não resolver plenamente o problema dos produtores e ainda pode criar outros, pois a exportação amplia o mercado do produto e não responde às demandas locais e regionais. Dessa maneira, os gêneros de consumo local e regional continuam sendo produzidos por trabalhadores nas periferias dos sistemas mais organizados, ressurgindo o problema da exploração dos trabalhadores.

A PROCANSI, da comunidade Santo Isidoro, é uma cooperativa que conseguiu associar a produção sem as típicas relações de exploração, presentes no sistema do atravessador, e atender, ao mesmo tempo, a demanda local por seus produtos. Não se teve elementos para analisar profundamente o sistema adotado pela comunidade, mas esse aspecto sem duvidas permite pensá-la como modelo possível em outras localidades da calha do Rio Solimões.

Deve-se pensar que as populações locais não são apenas produtoras, mas consumidoras também. Nesse sentido, pode-se fazer uma analogia às idéias de Henry Ford, que montou mecanismos para que seus trabalhadores pudessem comprar

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também os carros produzidos em suas fábricas. Não se trata de fazer apologia ao sistema criado pelo Ford, mas refletir sobre a questão. É preciso lembrar que açaí, farinha, peixe, banana e muitos outros produtos, são produtos indispensáveis na mesa de milhares de famílias amazonenses.

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REFERÊNCIAS

CORRÊA, Roberto Lobato. A Periodização da Rede Urbana na Amazônia. Estudos sobre rede Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

MORAES, Andre de Oliveira. Caiu na Rede é Peixe: um estudo sobre a rede urbana da calha do rio Solimões a partir do mercado de peixes em Tabatinga, Tefé e Manaus. Relatório de pesquisa. Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Apoio a Pesquisa, 2008.

OLIVEIRA, José Aldemir de. Cidades, Rios e Floresta: paisagens de cultura e natureza amazônicas. In: ENG (Encontro Nacional de Geógrafos), XIV, 2006, Anais, Rio Branco, 2006.1 CD-ROM.

OLIVEIRA, José Aldemir de; SCHOR, Tatiana. Das cidades da Natureza à Natureza das Cidades. In: TRINDADE JR, Saint-Clair Cordeiro da; TAVARES, Maria Goretti da Costa (Orgs). Cidades Ribeirinhas na Amazônia: mudanças e permanências. Belém: Editora Universitária UFPA, 2008.

TRINDADE JR, Saint-Clair Cordeiro da. Cidades na Amazônia: Compreendendo Sua Diversidade e Complexidade. In; ENG (Encontro Nacional de Geógrafos), XIV, 2006, Anais, Rio Branco, 2006.1 CD-ROM.

SCHWADE, Tiago Maiká Müller. Dinâmica Urbana da Cidade de Presidente Figueiredo. Relatório de pesquisa. Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Apoio a Pesquisa, 2007.

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