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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

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Registro: 2018.0000183957

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1030137-33.2015.8.26.0224, da Comarca de Guarulhos, em que é apelante TAM - LINHAS AÉREAS S/A, é apelada VALDRIANE DOMINGUES COSTA BRESSAN.

ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto da Relatora, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SIMÕES DE VERGUEIRO (Presidente sem voto), COUTINHO DE ARRUDA E JOVINO DE SYLOS.

São Paulo, 13 de março de 2018.

DANIELA MENEGATTI MILANO

RELATORA

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Apelação nº 1030137-33.2015.8.26.0224

Apelante: Tam - Linhas Aéreas S/A

Apelado: Valdriane Domingues Costa Bressan Comarca: Guarulhos– 8ª Vara Cível

Juíza de Primeira Instância: Márcia Blanes

Voto nº 2207

APELAÇÃO CÍVEL Transporte aéreo Ação de reparação de danos morais por overbooking Passageira que foi impedida de embarcar em voo Confissão pela companhia aérea da prática de venda excessiva de assentos (overbooking) - Prevalência do Código de Defesa do Consumidor sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica Responsabilidade da companhia aérea nos termos dos artigos 6º, inciso VI e 14 do Código de Defesa do Consumidor Dano moral caracterizado – Sentença que condenou a companhia aérea no pagamento de R$ 15.760,00 (quinze mil setecentos e sessenta reais) à passageira a título de indenização por dano moral Valor fixado de forma adequada em vista do caso concreto Sentença mantida

Recurso não provido.

Trata-se de recurso de apelação interposto pela ré contra a r. sentença de fls. 128/133, cujo relatório transcrevo:

“Vistos.

VALDRIANE DOMINGUES COSTA BRESSAN ajuizou ação de reparação de danos morais e de indenização por danos materiais contra TAM LINHAS AÉREAS S/A. Alegou que, em 17.11.2014,

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quando ao tentar embarcar juntamente com sua família para retorno de uma viagem ao Estado do Rio Grande do Norte, a ré lhe informou que não havia mais lugares no voo. Aduziu que informou à ré que as passagens haviam sido adquiridas há mais de 30 dias, mas mesmo assim o problema não foi resolvido. Disse que, não restando alternativa, aceitou que o retorno fosse realizado noutro voo marcado para as 21h45, cerca de nove horas de diferença do voo inicial. Seguiu narrando que estava acompanhada de toda a sua família, que era composta por duas crianças pequenas. Disse que a ré apenas lhes ofereceu um ticket para alimentação na casa do pão de queijo, única opção no aeroporto. Alegou que o problema ocasionado por culpa da ré lhe trouxe extremo sofrimento, pois alegou ter sido tratada com descaso pela companhia aérea. Com base em tais alegações e invocando a legislação consumerista, pediu a condenação da ré no pagamento do valor equivalente a 20 salários mínimos como forma de reparar os danos morais experimentados. Juntou documentos e requereu a gratuidade processual.

Houve o recolhimento de custas (fls. 27/34).

Realizada audiência de conciliação, esta restou infrutífera (fls. 38 e 126/127).

A ré apresentou resposta (fls. 58/73). Em suma, disse que ofereceu acomodação no primeiro voo disponível, o que demonstra observância às regras da agência reguladora da atividade. Ainda, disse que a prática de 'overbooking' não se mostra ilegal, pois visa equilibrar outra prática constante no transporte aéreo, a saber, o 'no show', que ocorre quando o passageiro efetua a reserva, bloqueia o assento, e não comparece para embarque. No mais, disse que prestou todo o auxílio necessário à autora, de maneira que não há que se falar em ato ilícito ensejador de reparação. Juntou documentos.

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Réplica (fls. 117/125).

Vieram-me estes autos conclusos.”

A ação foi julgada procedente conforme dispositivo que transcrevo:

“Ante o exposto, e com base no artigo 487, I, do CPC, JULGO PROCEDENTE o pedido que VALDRIANE DOMINGUES COSTA BRESSAN move contra TAM LINHAS AÉREAS S/A, e assim o faço para condená-la a pagar à autora o valor equivalente a R$15.760,00, valor que deverá ser corrigido a partir desta data (STJ 362) tomando-se como índice de correção o índice divulgado através da Tabela Prática do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. O valor será acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação, por se tratar de responsabilidade civil contratual.

Por força da sucumbência, condeno a ré no pagamento de custas, despesas processuais e de honorários advocatícios, estes fixados em 10% do valor da condenação.

P.R.I.”

A apelante sustenta, preliminarmente, que agiu no exercício regular de direito nos termos do artigo 188, inciso I do Código Civil. Alega que a relação jurídica com a apelada é regida pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, segundo o qual responde apenas por danos resultantes de dolo ou culpa grave (artigo 248) e sua responsabilidade é limitada a patamares máximos (artigos 246, 261 e 262). Aduz que o Código de Defesa do Consumidor não se aplica em vista da existência de legislação especial. Argumenta que o overbooking é uma prática que visa a compensar a prática de não comparecimento de

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passageiros, causando prejuízo à companhia aérea. Afirma que o

overbooking é lícito, aprovado pela Agência Nacional da Aviação Civil

(ANAC) e conta com o aval de órgãos de defesa do consumidor. Sustenta que prestou assistência material à apelada e realizou sua realocação para outro voo. Alega que o dano moral não foi comprovado, que houve mero aborrecimento, que não praticou ato ilícito e que a indenização fixada é excessiva. Pleiteia a reforma integral da r. sentença ou, subsidiariamente, a redução de sua condenação no pagamento de indenização por dano moral. Requer o recebimento do recurso nos efeitos devolutivo e suspensivo.

Recurso tempestivo e custas processuais recolhidas. A apelada apresentou contrarrazões requerendo seja negado provimento ao recurso (fls. 164/180).

É o relatório.

Inicialmente, observo que os efeitos devolutivo e suspensivo pleiteados pela apelante operam por força de lei. Nos termos do artigo 1.013, caput do Código de Processo Civil, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. Ademais, nos termos do artigo 1.012, caput do mesmo Código, a apelação tem efeito suspensivo, visto que o caso não se subsume a nenhuma das hipóteses do § 1º do mesmo dispositivo legal.

No mérito, o recurso não merece prosperar.

Conforme documentos juntados aos autos, a apelada e seus familiares adquiriram da apelante voo de ida e volta de

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São Paulo a Natal, sendo que deveriam retornar no dia 17/11/2014 às 14h35 (fls. 19/22), mas embarcaram em voo que partiu apenas às 21h45 (fl. 23).

A negativa de embarque da apelada e de seus familiares em virtude de overbooking não é contradita pela apelante. Pelo contrário, a apelante sustenta que o overbooking é uma prática legítima. Entretanto, conforme entendimento firmado pelo E. Superior Tribunal de Justiça, esta prática é condenável por priorizar os interesses econômicos da companhia aérea em detrimento do consumidor:

“INDENIZAÇÃO. ATRASO. VÔO. OVERBOOKING. (...) Anotando que o overbooking é prática condenável e intolerável, pois só leva em conta o interesse da companhia aérea, que assume o risco de deixar viajantes em terra por sua mera conveniência administrativa, em franco desrespeito ao consumidor, a Turma entendeu que, nesse caso, a aflição causada aos passageiros excede substancialmente o mero percalço comum na vida das pessoas, gerando o direto à indenização.” (STJ, REsp. nº 211.604/SC, Quarta Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. 25/03/2003.)

Além disso, a apelante afirma que o

overbooking é lícito, aprovado pela Agência Nacional da Aviação Civil

(ANAC) e conta com o aval de órgãos de defesa do consumidor, mas não traz nenhuma documentação que o demonstre.

O Código Brasileiro de Aeronáutica, invocado pela apelante, é aplicável ao caso vez que se trata de transporte aéreo

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doméstico. Nos termos do seu artigo 215, caput, é regido pelo Código

“todo transporte em que os pontos de partida, intermediários e de destino estejam situados em Território Nacional”.

Com efeito, o artigo 257 do Código Brasileiro de Aeronáutica limita a responsabilidade da companhia aérea no caso de atraso em transporte de pessoa a 150 (cento e cinquenta) Obrigações do Tesouro Nacional (OTNs).

Entretanto, prevalece sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica o Código de Defesa do Consumidor, que estabelece como direito básico do consumidor a efetiva reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (artigo 6º, inciso VI).

Conforme entendimento do E. Superior Tribunal de Justiça:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TRANSPORTE AÉREO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. ATRASO NO VOO E

EXTRAVIO DE BAGAGEM. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICAÇÃO. DECISÃO MANTIDA.

1. Sendo a relação entre as partes regida pelo Código de Defesa

do Consumidor, a jurisprudência deste STJ entende que 'a responsabilidade civil das companhias aéreas em decorrência da má prestação de serviços, após a entrada em vigor da Lei 8.078/90, não é mais regulada pela Convenção de Varsóvia e

suas posteriores modificações (Convenção de Haia e Convenção de Montreal), ou pelo Código Brasileiro de Aeronáutica,

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subordinando-se, portanto, ao Código Consumerista' (AgRg no

AREsp n. 582.541/RS, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 23/10/2014, DJe 24/11/2014). 2. Incidência da Súmula n. 83/STJ.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ, AgRg no

AREsp no 661.046/RJ, Quarta Turma, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, j. 17/09/2015).

Assim, aplica-se ao caso o Código de Defesa do Consumidor, não sendo caso de aplicação da Convenção de Montreal, conforme recente julgamento conjunto do Recurso Extraordinário nº 636.331 e do Recurso Extraordinário com Agravo nº 766.618, o E. Supremo Tribunal Federal determinou a prevalência da Convenção de Varsóvia, complementada pela Convenção Montreal, sobre o Código de Defesa do Consumidor nos casos de extravio de bagagem e de prescrição de demandas relativas a transporte aéreo internacional de passageiros.

No Recurso Extraordinário nº 636.331, apreciando-se o tema 210 da repercussão geral, fixou-se a seguinte tese:

“Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor.” (STF, RE no 636.331/RJ, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 25/05/2017).

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Porém, no caso dos autos, que trata de

overbooking, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor.

A prestação de serviços deficitária pela companhia aérea foi causa direta dos transtornos experimentados pela apelada, de sorte que o nexo causal está configurado, ensejando a responsabilização da apelante nos termos dos artigos 6º, inciso VI e 14 do Código de Defesa do Consumidor.

O dano moral sofrido pela passageira está caracterizado, sendo que a impossibilidade de embarque lhe gerou frustração e atrasos, tendo permanecido por diversas horas no aeroporto com crianças pequenas. Os transtornos sofridos ultrapassam o mero aborrecimento e o dissabor quotidiano. Assim, é devida indenização nos termos do artigo 5º, inciso X da Constituição Federal.

O valor da indenização por dano moral deve atender à sua dupla função jurídica, que é a reparação da dor sofrida pela vítima e o desestímulo da reiteração da prática pelo causador. Além disso, a indenização deve guardar proporção com a natureza da ofensa, sua gravidade objetiva e a repercussão subjetiva do fato para a vítima. Por fim, deve ser analisada a situação econômica das partes.

Considerando os parâmetros citados, as circunstâncias do caso concreto e suas consequências, entendo que a indenização foi fixada de forma adequada no valor de R$ 15.760,00 (quinze mil setecentos e sessenta reais).

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sentença, não tendo a apelante deduzido argumentos capazes de infirmar a sua conclusão, nos termos do artigo 489, § 1º, inciso IV do Código de Processo Civil.

Por fim, nos termos do artigo 85, § 11 do Código de Processo Civil, majoro os honorários advocatícios fixados em Primeiro Grau em favor dos patronos da apelada no montante de 10% (dez por cento) do valor da condenação, para 12% (doze por cento), em vista da natureza e da complexidade da causa, do zelo dos profissionais e do trabalho realizado (artigo 85, § 2º do Código de Processo Civil).

Ante o exposto, pelo meu voto, NEGO

PROVIMENTO ao recurso, nos termos da fundamentação supra.

DANIELA MENEGATTI MILANO Relatora

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