O TURISMO NO MEIO RURAL COMO FORMA DE COMPLEMENTAÇÃO DE RENDA: ESTUDO DE CASO DO RECANTO PEREHOUSKI
Área Temática: Ciências e Tecnologias Ambientais
Autor(es): Julio Henrique Fernandes1 (USF-SETI), Viviane Ap. Schoab2 (USF-SETI), Vanessa Alberton3 ( USF-SETI), Ronaldo Ferreira Maganhotto4 (Coordenador do projeto).
RESUMO: O turismo tem apresentado crescimento em todo o mundo. O município
de Prudentópolis, a cerca de 207 km da capital Curitiba apresenta uma vasta área rural, com potencial para a prática de ecoturismo, turismo de aventura e atividades afins. A presente pesquisa é resultante de um projeto de extensão desenvolvido entre setembro de 2015 e agosto de 2016, em parceria com a Universidade Estadual do Centro-oeste (UNICENTRO), Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) e Programa Universidade Sem Fronteiras (USF) e se justifica pela necessidade de investigar se o desenvolvimento de atividades turísticas em uma propriedade rural auxilia na complementação da sua renda. Têm- se como objetivo diagnosticar a atividade turística no Recanto Perehouski, através de pesquisa qualitativa, com estudo de caso, pesquisa bibliográfica, documental, observação in loco e entrevista semiestruturada aplicada à proprietária do estabelecimento. Entre os resultados, embora o turismo não seja a única fonte de renda da família, destaca-se que a propriedade possui trilhas, cachoeiras, opções de alimentação, hospedagem, é sinalizada e possui uma paisagem de interesse turístico. Além disso, o local possui o básico de infraestrutura para os visitantes, como banheiros, estacionamentos, quiosques e lixeiras.
PALAVRAS-CHAVE: estruturação; atividades não-agrícolas; atendimento. 1. INTRODUÇÃO/CONTEXTO DA AÇÃO
A atividade turística é uma das áreas que mais cresce no mundo e o Brasil é considerado pelo Fórum Econômico Mundial como o país com “maior potencial turístico em recursos naturais no mundo” (BRAGA, 2015, s. p.). A demanda das áreas naturais no Brasil se eleva nos períodos de dezembro a fevereiro, mas há também uma grande demanda nos meses de abril maio setembro e outubro, por conta de viagens escolares (EMBRATUR, 2002). Além disso, “a procura pelo Brasil como destino de ecoturismo e de turismo de aventura subiu de 12,8%, em 2014, para 15,7%, no ano passado. […], o percentual reforça a posição do País como um dos principais destinos para os estrangeiros” (PORTAL BRASIL, 2016).
O ramo turístico se divide em vários segmentos e dentre eles, o turismo em áreas rurais vem se destacando. O município de Prudentópolis, no interior do estado do Paraná, tem a maior parte de sua área territorial localizada entre o segundo e terceiro
1 Acadêmico do 2º ano do curso de graduação em Turismo da UNICENTRO. juliohjulio@hotmail.com 2 Acadêmica do 2º ano do curso de graduação em Turismo da UNICENTRO. vivischoab1304@hotmail.com 3 Egressa do curso de graduação emTurismo da UNICENTRO. valbertontur@gmail.com
planalto paranaense, apresentando o relevo ondulado, onde são encontrados cânions, cachoeiras e formações rochosas características, cujo valor e interesse turísticos são consideráveis.
Entre os atrativos e recursos turísticos encontrados no município, têm-se museus, igrejas, festas e gastronomia típicas, vestimentas, grupos de dança e dezenas de cachoeiras, muitas delas com mais de cem metros de altura. Dentre elas, destacam-se algumas que possuem infraestrutura para atendimento ao turista, como o Salto Sete, Salto São Francisco, Salto São Sebastião, Cachoeira Ninho do Corvo e o Recanto Perehouski.
Considerando a formação e o potencial do município, foi desenvolvida uma pesquisa com o objetivo diagnosticar a atividade turística no Recanto Perehouski, de forma a identificar os serviços e produtos ofertados na propriedade, levantar a demanda turística e averiguar a principal renda da propriedade e o processo de implantação do turismo.
Diante do exposto, parte-se da seguinte problemática: O turismo é uma alternativa de complementação de renda para pequenas propriedades rurais do município de Prudentópolis?
2. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES E/OU DA METODOLOGIA
Esta pesquisa é resultante do projeto de extensão intitulado “Roteiro turístico no meio rural: uma alternativa não agrícola para complementação de renda de pequenas propriedades no município de Prudentópolis”, no estado do Paraná. Vinculado ao Programa Universidade Sem Fronteiras e em parceria com a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), foi desenvolvido entre 1º de setembro de 2015 a 31 de agosto de 2016, com a colaboração de uma equipe interdisciplinar, contendo acadêmicos dos cursos de: Engenharia Ambiental, Geografia e Turismo.
De caráter qualitativo, que de acordo com Giacaglia (2006) tem como papel analisar todos os serviços e atividades exercidas em um local. Tem como procedimento, o estudo de
caso, que para Gil (2007), estuda profundamente um ou mais objetos, permitindo o amplo e
detalhado conhecimento.
Por meio da pesquisa bibliográfica, foi possível compreender os temas envolvidos. Segundo Gil (2007) se utiliza materiais elaborados e publicados como livros, artigos, necessários para a formação de um trabalho e que contribuirão com o mesmo. Foi feita uma pesquisa documental, que de acordo com Marconi e Lakatos (2011, p. 48-49) “está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois”. Portanto, foi coletado dados do livro de presença da propriedade.
A pesquisa de campo segundo Marconi e Lakatos (2011, p. 69) pode ser conceituada como “aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese que se queira comprovar, ou, ainda descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles”.
Para a coleta de informações foram utilizadas fontes de dados primários e secundários. Os dados secundários foram levantados por meio de pesquisas bibliográficas para embasar, aprimorar conceitos e aumentar conhecimentos sobre o tema. Foram utilizados livros, artigos científicos, internet, entre outros recursos que abordem assuntos
relacionados ao turismo em áreas rurais. Já os dados primários foram levantados com a observação in loco e a aplicação da entrevista semiestruturada com a proprietária, contendo 20 perguntadas relacionadas com a propriedade, infraestrutura, demanda, renda e atividades
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO
Localizado na área rural do município de Prudentópolis, a cerca de 24 km do centro, o Recanto Perehouski oferece uma trilha que passa por formações rochosas e áreas de banho, dando acesso à parte alta e baixa da cachoeira de 8 metros. Faz divisa com a RPPN Ninho do Corvo, mais precisamente com a corvolesa (tirolesa em que o condutor controla a velocidade da descida do visitante, de forma que o percurso se dá sobre o Cânion Barra Bonita).
Figura 1 – Localização do Recanto Perehouski Figura 2 – Formações rochosas
Fonte: Google Earth Fonte: acervo pessoal
Possui área de camping com capacidade para 50 pessoas próximo aos quiosques com churrasqueiras, 5 quartos com banheiros coletivos e serve alimentação. Possui um espaço para venda de bolachas, mel e outros produtos artesanais fabricados na própria cozinha, além de produtos industrializados. Possui sinalização no percurso até o local, na recepção e no decorrer da trilha. O local possui horta orgânica que fornece verduras para o consumo dos turistas, além de plantas frutíferas, vacas para a produção de leite, galinhas, perus e porcos.
Imagem 3 – Recepção e estacionamento Imagem 4 – Área de banho e
quiosques ao fundo
Fonte: acervo pessoal Fonte: acervo pessoal
Durante a entrevista com a proprietária, perguntou-se sobre como a propriedade se tornou um local turístico e constatou-se que foi por intermédio de um membro familiar que divulgou junto à Prefeitura Municipal, despertando o interesse da proprietária de um hotel localizado no centro de Prudentópolis, que conduziu várias pessoas até o local. Nessa época, o Recanto Perehouski não dispunha de nenhuma infraestrutura para receber os turistas e nem os moradores possuíam conhecimentos sobre como receber estes visitantes. Antes de trabalhar com o turismo, a renda da propriedade era oriunda da agricultura, por meio do plantio e colheita de grãos como feijão e milho, e com a produção de cachaça artesanal. Atualmente, além do turismo, a família obtém renda de aposentadoria, arrendamento de terras e locação de imóvel urbano. Depois de cerca de 18 anos trabalhando com o turismo, hoje ela tem uma outra visão do que é a atividade.
Para a adaptação e reformas na propriedade, a entrevistada conta que não teve auxílio de projetos e nem de órgãos públicos, apenas conseguiu financiamentos na agência bancária para melhorar a estrutura do local. A Prefeitura Municipal, enquanto órgão público, não pode realizar melhorias diretamente nas propriedades particulares, porém ela contribui por meio da manutenção das estradas, instalação de sinalização turística, divulgação em conjunto com os demais atrativos do município, etc.
Em relação à capacitação e conhecimentos técnicos sobre a atividade turística, a proprietária fez cursos específicos, como de atendimento ao cliente e culinária e sempre que possível, realiza atividades de aperfeiçoamento. Desde o mês de maio, a propriedade conta com a colaboração de um casal de sobrinhos, auxiliando no planejamento, organização e execução das atividades. Esse incremento de funcionários é fundamental, visto que é um conjunto de novas ideias, pontos de vista e força de trabalho que ficam disponíveis para melhorar ainda mais o atendimento, a qualidade e a diversidade dos serviços ofertados.
A propriedade tem uma demanda considerável de visitantes na alta temporada, muitas vezes passa de cem pessoas por semana, porém, no inverno a procura diminui. Pode-se dizer que conta com um público bem variado, desde jovens até idosos. Por meio da análise do livro
de registro de visitantes, foi verificado que o Recanto recebeu pessoas de vários países como: Austrália, Eslováquia, Holanda, Itália, Suécia, entre outros.
Em relação ao marketing, a propriedade possui um blog, uma página no facebook, cartão de visitas e faz parte de materiais de divulgação da Secretaria de Turismo. A proprietária comenta que os visitantes reclamam da pouca divulgação e que essa é uma dificuldade do município como um todo. Atualmente, o empreendimento participou de um projeto de extensão via UNICENTRO e foi incluso em um folder, um mapa, um site e aplicativo para celular.
De modo geral, acredita-se que toda a promoção realizada, seja por meios próprios, através de projetos, do poder público e principalmente pelo marketing boca a boca feito pelos turistas, contribui com a divulgação do empreendimento e, consequentemente, do município e os demais atrativos naturais, culturas e religiosos que possui.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito deste trabalho foi mostrar que há a atividade turística nesta propriedade e que este mesmo local possui demanda e também infraestrutura para os turistas, fazendo com que o turismo seja uma forma de complementar a renda da família. De modo geral, o empreendimento possui uma alta demanda no período da alta temporada, com um público diversificado, incluindo pessoas de outros países.
Este trabalho também serviu como um aprimoramento nos estudos para os acadêmicos, pois foi possível verificar como pode ser desenvolvido o turismo em áreas rurais, as atividades que podem ser exercidas nesses locais e a diferença entre turismo rural com turismo em áreas rurais.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa Universidade Sem Fronteiras (USF) e à Universidade Estadual do Centro-oeste (UNICENTRO), à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) e ao Recanto Perehouski que permitiu nossa presença e auxílio.
REFERÊNCIAS
BRAGA, Gustavo Henrique. Turismo de natureza ganha força no Brasil. 2015. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/%C3%BAltimas-not%C3%ADcias/5526-turismo-de- natureza-ganha-for%C3%A7a-no-brasil.html>. Acesso em 24 de agosto de 2016.
EMBRATUR – INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO. Estudo sobre o turismo
praticado em ambientes naturais conservados. São Paulo, 2002. Disponível
em:
<http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/export/sites/default/dadosefatos/demanda_turistica/ p arques_naturais/downloads_parques_naturais/relatorioparques_29_06_06.pdf>. Acesso em 25 de agosto de 2016.
GIACAGLIA, Maria Cecília. Organização de eventos: teoria e prática. São Paulo: Thomson Learning, 2006.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2007. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de
Pesquisa:
planejamento e execução de pesquisas, amostragem e técnicas de pesquisa, elaboração,
análise e interpretação de dados. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
PORTAL BRASIL. Busca por turismo de aventura cresce mais de 15% no Brasil. 2016.
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/turismo/2016/07/busca-por-turismo-de-aventura- cresce-mais-de-15-no-brasil>. Acesso em: 25 de agosto de 2016.
