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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA - 3ª REGIÃO

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APELAÇÃO CÍVEL nº 0007033-40.2009.4.03.6100/SP APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL APELADO: UNIÃO FEDERAL

RELATORA: Desembargadora Federal CECÍLIA MARCONDES TERCEIRA TURMA

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER A SER IMPOSTA À UNIÃO CONSISTENTE EM NÃO DETERMINAR OU DE QUALQUER FORMA IMPÔR AOS FABRICANTES E FORNECEDORES DE VEÍCULOS, OU CONSUMIDORES DESSE BEM A INSTALAÇÃO OBRIGATÓRIA DE EQUIPAMENTO QUE INCLUA A FUNÇÃO DE RASTREAMENTO E/OU LOCALIZAÇÃO, ATIVO OU INATIVO. SENTENÇA PARCIALMENTE PROCEDENTE. PARECER PELO PROVIMENTO DA APELAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.

Eminente Relatora Colenda Turma

I – DOS FATOS

1. - Trata-se de apelação interposta em face da r. sentença a fls. 1414/1431v, retificada a fls. 1456/1458 pela oposição de embargos de declaração, proferida nos autos da ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal.

O objeto da referida demanda diz respeito à concessão de tutela jurisdicional que condene a União à obrigação de não fazer consistente em não determinar ou por qualquer forma exigir dos fabricantes de veículos ou de qualquer fornecedor ou consumidor desse bem a instalação obrigatória de equipamento que inclua a função de rastreamento e/ou localização, ativo ou inativo, sob pena de multa diária. Solicita-se, ainda, a declaração de nulidade da

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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Resolução nº 245, de 27 de julho de 2007, do CONTRAN e das Portarias nº 47, de 20 de agosto de 2007 e 102, de 30 de outubro de 2008, do DENATRAN, suspendendo-se a eficácia desses atos administrativos.

A r. decisão guerreada reconheceu apenas parte do pedido veiculado na ação civil pública, pois entendeu que com a revogação da Resolução nº 245/07 pela Resolução nº 330/09, do CONTRAN, e com a edição da Portaria nº 253/09, que alterou a Portaria nº 102/08, houve o reconhecimento tácito de parte do pedido, uma vez que as inovações trazidas por esses atos administrativos eliminaram a possibilidade de haver qualquer espécie de armazenamento de informações, inviabilizando o rastreamento do veículo. Ainda, o Magistrado considerou que a manutenção da função localização do dispositivo antifurto, a ser instalado nos veículos automotores, ainda que permaneça inativa, é de intervenção mínima, pois a tecnologia presente no sistema resguarda a intimidade e a privacidade do cidadão, sendo a sua existência razoável diante do contexto em que será utilizado.

O Ministério Público Federal interpôs recurso de apelação (fls. 1461/1475) pugnando pela reforma da r. decisão, ao alegar que a União, ao editar a Resolução nº 330/09 e a Portaria nº 253/09 apenas substituiu o termo rastreador por localizador e, com isso, determinou às montadoras de veículos a instalação de uma peça única, que acopla duas funções, ou seja, a do equipamento antifurto e de rastreador. Aduziu que os novos atos administrativos determinaram, nos veículos, a inclusão obrigatória de um equipamento que, ainda que permaneça inativo, possui a função de identificar a posição, para o Poder Público ou empresa por esse autorizada, do deslocamento de qualquer condutor nesse meio de transporte. Por fim, afirma que a manutenção do equipamento antifurto, mesmo com a função inativa, representa uma imposição de uma funcionalidade não consentida pelo consumidor, ofende a privacidade do indivíduo, estabelece o controle de um sistema nacional de informação sobre o exercício do direito de liberdade do cidadão e importa em uma inversão de valores (obrigatoriedade de uma compra privada e privatização ou transferência

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para o particular de um serviço público estatal, que é o serviço de segurança pública).

A União ofereceu contrarrazões, requereu o improvimento da apelação do Ministério Público Federal e aduziu que restou demonstrado que apenas quando o consumidor puder voluntariamente contratar as funções de localização, haverá a possibilidade de se identificar o local onde o veículo se encontra. Ainda, alegou que a função de localização apenas poderá se dar com a autorização do proprietário e com a instalação de um software, o que afasta a ocorrência de venda casada (fls. 1485/1492).

Vieram, então, os autos ao Ministério Público Federal para parecer.

É o relatório.

2.- O objeto da ação civil pública consiste na obtenção de provimento jurisdicional, a fim de que seja determinada à União a obrigação de não fazer consistente em não exigir dos fabricantes, fornecedores e consumidores a instalação obrigatória do equipamento antifurto nos veículos saídos de fábrica no território nacional.

Registre-se inicialmente, por necessário, que a Lei Complementar nº 121/2006, que criou o Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo de Veículos e Cargas estabeleceu em seu artigo 7º que compete ao CONTRAN dispôr acerca dos dispositivos antifurto obrigatórios nos veículos novos, saídos de fábrica, que sejam produzidos no país ou no exterior.

Em seguida, foi aprovada pelo CONTRAN a Resolução nº 245/07, que estabeleceu a obrigatoriedade de que todos os veículos novos comercializados no território nacional estivessem equipados com um dispositivo antifurto que permitisse o bloqueio e o rastreamento do veículo.

Posteriormente, foram editadas as Portarias nº 47, de 20 de agosto de 2007, e 102, de 30 de outubro de 2008, ambas do DENATRAN,

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de funcionamento e operação do dispositivo antifurto e do sistema de rastreamento previsto na Resolução nº 245/07 do CONTRAN e a segunda Portaria dispôs que o equipamento antifurto teria todas as funções testadas independentemente da ativação dos serviços de monitoramento e rastreamento.

Esses atos normativos foram modificados pela Portaria nº 253/09 do DENATRAN e pela Deliberação nº 82/09 do CONTRAN, que alteraram o termo rastreador para localizador e determinaram à montadoras de veículos a instalação de um único aparelho que acopla duas funções, o equipamento antifurto e o rastreador.

O item 2.2 do Anexo II da Portaria nº 253/09 do DENATRAN traz a seguinte redação:

O equipamento antifurto trata-se de um único equipamento com as funções obrigatórias de bloqueio autônomo (local) e remoto. Os módulos da figura 1 são funcionais e não dispositivos separados com exceção do módulo de bateria auxiliar...; o módulo de comunicação bi-direcional deverá sair da fábrica testado e totalmente integrado aos outros módulos funcionais descritos na figura 1 (...) Este módulo tem como função enviar e receber informações de uma central de serviços. Informações de eventos, definidos na estratégia de proteção ao veículo, deverão sempre ser enviadas à central. Comandos de bloqueio e desbloqueio deverão ser recebidos e processados pelo equipamento antifurto, assim como a ativação e desativação do alerta (...)

Ainda, a Deliberação nº 82/2009 do CONTRAN dispõe:

Caberá ao proprietário decidir sobre a aquisição da função de localização de veículo e posterior habilitação do equipamento junto aos prestadores de serviço de localização, definindo o tipo e abrangência do mesmo.

Observa-se, todavia, que com a edição da Portaria nº 253/09 e da Deliberação nº 82/09, não ocorreu a implantação separada do sistema antifurto do rastreador, sendo que as duas funções permanecem no

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equipamento, o que viola o direito à privacidade, à liberdade de escolha e à propriedade.

Da redação da Resolução nº 253/09 do DENATRAN e pela Deliberação nº 82/09 do CONTRAN, bem como dos esclarecimentos prestados pelas montadoras de veículos (1003/1004, 1014, 1032, 1043/1044, 1050/1052, 1070, 1085/1086, 1096/1097), extrai-se que foi mantida a composição física do equipamento, de modo que a função localização sairá de fábrica, a qual, integrada a outros módulos, não impedirá a localização ou rastreamento do veículo, mas virá inativa, podendo ser acionada por opção do particular.

Sendo assim, verifica-se que o modo como o sistema foi concebido permite a localização de todos os veículos novos produzidos, com a captação de informações sobre as últimas localizações do veículo, bem como seu potencial destino.

Como se vê, a adoção do sistema ofenderá direitos fundamentais como o direito à liberdade, à privacidade, à propriedade e à defesa do consumidor.

Ademais, a instalação obrigatória do equipamento antifurto viola a liberdade de escolha do consumidor nas contratações, já que os atos normativos em questão impõem um sistema de rastreamento pelo qual os consumidores não puderam optar. Além disso, é imposto um custo ao consumidor, pois a instalação do equipamento representa um acréscimo no valor do veículo, já que os gastos com a instalação do novo sistema serão repassados ao consumidor.

Ainda, a implantação obrigatória do dispositivo também importa na estatização da venda casada, que é vedada pelo artigo 39, I, do Código de Defesa do Consumidor.

Digno de realce que as normas do Código de Defesa do Consumidor são de ordem pública (conforme artigo 1º) e elas não podem, em hipótese alguma, ser derrogadas (ou revogadas) por legislação inferior, no caso, Resoluções e Deliberações do CONTRAN e Portarias do DENATRAN. A partir de

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descumprir os ditames da legislação consumerista. Vale transcrever o mencionado dispositivo:

“O presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos artigos 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e artigo 48 de suas Disposições Transitórias”.

Registre-se, ainda, que a autonomia do proprietário restará violada, à medida que a instalação dos dispositivos antifurto e rastreador, em um mesmo mecanismo, retira do proprietário a possibilidade de tomar decisões, no sentido de utilizar seus bens da forma que melhor lhe aprouver.

A implantação do sistema representa um desvio de finalidade, pois a instalação obrigatória do equipamento antifurto transfere para o particular os encargos de um serviço público, impondo ao cidadão o ônus da preservação da segurança pública, que constitui função precípua do Estado.

A Resolução nº 253/09 do DENATRAN e a Deliberação nº 82/09 do CONTRAN também impõem um ônus desproporcional ao particular, já que a adoção e utilização do sistema em questão competem exclusivamente ao cidadão que adquirir o veículo, como decisão a ser tomada individualmente e não como submissão a uma obrigação autônoma imposta a todos adquirentes de veículos. Ademais, afronta a proporcionalidade a determinação de um sistema nacional, obrigatório, custoso e geral de monitoramento de veículos, sem levar em consideração o contexto da segurança em cada local do território nacional, os gastos e a deliberação dos consumidores.

Por fim, a imposição à União da obrigação de não exigir dos fabricantes, fornecedores e consumidores a instalação obrigatória do equipamento antifurto nos veículos saídos de fábrica no território nacional não acarretará prejuízo financeiro relevante à apelada a ponto de prevalecer sobre a defesa dos direitos fundamentais da privacidade, propriedade, liberdade e tutela do consumidor.

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Ante o exposto, opina o Ministério Público Federal pelo provimento da apelação e reforma da r. sentença, para que seja julgada totalmente procedente a presente ação civil pública.

São Paulo, 16 de janeiro de 2012.

SANDRA AKEMI SHIMADA KISHI Procuradora Regional da República

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