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Conjugalidade em questão: casais que procuram atendimento psicológico

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Conjugalidade em questão: casais que procuram atendimento psicológico

Fernanda Braga Fanani

Universidade Metodista de São Paulo - Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia

INTRODUÇÃO

O interesse por esta temática surgiu a partir de um levantamento empírico acerca das

implicações no relacionamento de casais que procuram atendimento psicológico. Para

contextualizar o enfoque deste estudo foi necessário conhecer o sentido dos vínculos que

se constituem no decorrer da existência humana. Partimos da constituição da família

como sendo o início de tudo, os desdobramentos sociais como casamento com vigência

legal e considerado também a união estável entre duas pessoas sem a proposição da

comunhão cível.

Para Costa e Katz (1992), a necessidade de formar vínculos é uma condição intrínseca do

ser humano e se faz presente desde seu nascimento. Durante todo ciclo vital, homens e mulheres encontram-se e estabelecem trocas afetivas, e, por conseguinte, estão sempre

em busca de um parceiro que lhes proporcione bem-estar e harmonia, constituindo assim, uma família.

A respeito da formação da estrutura familiar, Engels (1884-2005), elaborou

considerações mostrando que esta passou por várias transformações até chegar à

chamada família monogâmica. A tradição judaico-cristã apresenta a família como uma

instituição alicerçada nos laços de sangue e na relação harmônica entre pai, mãe e filhos.

Entretanto, as mudanças ocorridas ao passar dos séculos provam que este é um padrão

que já não se sustenta mais, uma vez que há distintas formas de se formar um núcleo

familiar (pais separados e sozinhos, pais separados e com outros companheiros, casais homossexuais).

A relevância do casamento para os indivíduos na sociedade contemporânea é discutida

historicamente por Foucault (1977 -1985), que estuda a articulação do papel da aliança e

do papel da sexualidade e suas implicações institucionais. Foucault formula o conceito de

"dispositivos" para explicar como a aliança e a sexualidade se articulam em aparelhos e

instituições. Para ele, que estuda, sobretudo a constituição do modelo burguês de

casamento, a produção da sexualidade está ligada a dispositivos de poder. Num primeiro

momento, a sexualidade fez parte de uma técnica de poder centrada na aliança, onde

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ficou estabelecido todo um sistema de casamento, de fixação e desenvolvimento de

parentescos, de transmissão de nomes e bens. Coube a este dispositivo de aliança

ordenar e manter a homeostase do corpo social. Ao mesmo tempo, se fixou a partir daí, o

dispositivo da sexualidade, não mais referido à lei, mas ao próprio corpo, à qualidade dos

prazeres, à própria sexualidade no seio familiar. Assim os pais tornam-se, na família, os

principais agentes deste dispositivo, e o sistema de aliança passa então para a ordem da

sexualidade. A função do dispositivo de sexualidade na forma de família permite, segundo

Focault (1977-1985), compreender por que a família, além de manter a homeostase do

corpo social, se tornou lugar obrigatório dos afetos, dos sentimentos, do amor, sendo

também o principal ponto de eclosão da sexualidade.

O conceito de família nuclear e a instituição casamento estão intimamente ligados à

família e passaram por transformações, conforme Goldemberg (1991). A expressão mais

marcante dessas transformações, segundo o autor, ocorreu no final da década de 60,

com o crescente número de separações e divórcios; a religião foi perdendo sua força, não

mais conseguindo segurar casamentos nos quais as relações eram consideradas

insatisfatórias. A igualdade passou a ser um pressuposto importante em muitas relações

matrimoniais. Ainda segundo o autor, a capacidade de se ajustar às novas exigências do

meio vem garantindo a família sua sobrevivência, sendo ainda, considerada a matriz mais

importante do desenvolvimento humano e também a principal fonte de saúde de seus

membros.

Nesse panorama, Minuchin (1990), considera que as transformações ocorridas sobre o

conceito de família ao longo dos tempos, estão ligadas as mudanças econômicas e

sociais e estas vêm promovendo alterações nas atribuições e nos papéis, especialmente

paterno e materno, e, sobretudo nas relações familiares. No entanto, a família é um grupo

social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições, e desse

modo, sendo considerada como uma unidade social enfrenta uma série de tarefas diante

do desafio do desenvolvimento, diferindo dos parâmetros culturais, mas possuindo as

mesmas raízes universais.

Uma reflexão mais crítica sobre a família permite descobrir que, ela não é apenas uma

instituição social capaz de ser individualizada, mas constitui um valor. Assim a família é

um grupo social e uma rede de relações. Funda-se na genealogia e elos jurídicos

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Assim uma família começa com o casamento e este é considerado como uma instituição

muito valiosa, na medida em que oferece grande potencial para o desenvolvimento da personalidade de seus participantes, bem como na ajuda diante dos problemas emocionais passados. Sob o aspecto jurídico, destacamos que, segundo o Novo Código

Civil (art.1.511); “O casamento é uma instituição antiga, nascida dos costumes e

incentivada pelo sentimento moral e religioso e na atualidade completamente incorporada ao direito pátrio. Sendo assim, o casamento é condição jurídica para existência de certos

direitos e, no sentido social, pode ser entendido como uma manifestação de vontade

conjunta, subordinada a inúmeros pré-requisitos e a uma cerimônia civil que, cumpridas

certas formalidades legítimas de uma união conjugal. Outra situação que poderá é

considerada é a união sem condições jurídicas tidas como uniões estáveis”.

Sob o ponto de vista legal (jurídico) o casamento é um "contrato civil" entre duas pessoas,

conforme Genofre (1997). Em outras palavras, é na verdade uma forma de “sociedade

limitada” entre dois sócios, onde cada um deles é proprietário de 50% das ações. No

entanto, as origens do relacionamento conjugal, para Pincus e Dare (1987), estão ligadas à satisfação sexual, ao desejo de ser atendido, admirado bem como o temor do

envelhecimento. Segundo os autores, o que motiva uma pessoa a casar com outra chega a ser quase um processo inconsciente. As experiências da infância estão relacionadas

por satisfações, frustrações conflitos, sendo que o conflito edípico é um dos mais

importantes para a “desvinculação” da tríade e a formação de relações diádicas.

A afirmação acima pode ser compreendida quando recorremos a Freud, em 1914, em seu

texto "Sobre o narcisismo: uma introdução" postula que existem dois tipos básicos de

escolha amorosa: a escolha anaclítica, baseada na busca de apoio mútuo, na qual o

parceiro representa o pai ou a mãe da infância e, a escolha narcisista, baseada na própria

imagem do sujeito, guardando estreita relação com o que o sujeito é, foi, gostaria de ser

ou mesmo parte de si próprio. Nesse sentido, a conjugalidade é um amor revivido,

acalentado pela esperança de elaboração do romance familiar.

Sobre essa questão, Pincus e Dare (1987) afirmam que o que leva uma pessoa a

escolher a outra como parceira, seja qual for à natureza do casamento, são motivações

inconscientes. O fato de deixar a casa dos pais implica na independência, envolvendo

também um processo de emancipação psicológica importante para a pessoa que se

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grau, a pessoa precisa transferir seu apego mais central dos pais a um ou mais companheiros, iniciando-se a busca da conjugalidade com a individualidade.

Cerveny e Berthoud (1997) denominam como fase da Aquisição a escolha do parceiro, a

formação de um novo casal e a chegada do primeiro filho o que, segundo as autoras,

transformam o jovem casal em nova família. O termo aquisição corresponde a um

movimento complexo de dar e receber, conquistar e ceder, ser e vir a ser, e essa nova fase será um processo de transição que exige destas pessoas que se vincularam

maturidade que demandara de um tempo, para a resolução de conflitos típicos que

surgirão com a convivência e as fases que se seguirão estando unidos.

No entanto a constituição e a manutenção do casamento contemporâneo são muito

influenciadas pelos valores do individualismo, discute Féres- Carneiro (1998). Os ideais

contemporâneos da relação conjugal enfatizam mais a autonomia e a satisfação de cada

cônjuge do que os laços de dependência entre eles. A autora entende que, constituir um

casamento demanda a criação de uma zona comum de interação, ou seja, de uma

identidade conjugal. Assim, o casal contemporâneo é confrontado, o tempo todo, por duas

forças paradoxais, a individualidade com a conjugalidade. Se por um lado, os ideais

individualistas estimulam a autonomia dos cônjuges, enfatizando que o casal deve

sustentar o crescimento e o desenvolvimento de cada um, por outro, surge a necessidade de vivenciar a conjugalidade, a realidade comum do casal, os desejos e projetos conjugais.

Féres- Carneiro (1998) entendem por conjugalidade ou identidade conjugal a maneira única e ímpar que o casal escolhe de ser, de interagir e que, conseqüentemente define a

existência conjugal, suas características e seus limites. Ainda segundo a autora o

casamento caracteriza-se por ser uma das instituições mais antigas e tradicionais da

civilização ocidental. É considerada uma relação importante para ambos os sexos, uma

vez que implica em compartilhar a intimidade com grande investimento emocional e afetivo.

A conjugalidade no casamento é como um ato dramático, dois estranhos, portadores de

um passado individual diferente, se encontram e se ajustam para viver como uma unidade, formada por dois na relação. As expectativas individuais projetadas que cada um

traz mediante ao processo de desenvolvimento, a criação de vínculos maduros ou não, e

principalmente a formação de uma personalidade capaz de atender as necessidades do

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legalmente ou não, ou mantenham uma relação amorosa tendem a conjugar em

determinado momento da relação. Para alguns o melhor é deixar a relação e para outros

tentar manter a relação mediante a uma assistência psicológica buscando uma

compreensão de conflitos individuais e conflitos advindos da própria relação. (BERGER e

KELLNER 1970, apud, FÉRES- CARNEIRO,1998).

As relações conjugais, segundo Costa e Katz (1992), tem como base as primitivas

relações de objeto que cada cônjuge leva para o casamento, em uma tentativa de repetir

essas relações e resolver conflitos a elas relacionados. Assim sendo, existe um contrato

secreto que se mantém as custas do interjogo de identificações projetivas. Quando essas

identificações projetivas ocorrem numa atmosfera amorosa, o casamento tende a

enriquecer afetivamente os cônjuges, porém quando ocorrem numa atmosfera hostil, o

casamento estrutura-se num nível patológico, cuja tendência é o empobrecimento afetivo

do casal.

Ainda segundo os autores o conflito é inerente a todo e qualquer relacionamento conjugal

podendo contribuir tanto para o fortalecimento quando ambos tentam ajustar suas necessidades as necessidades do outro, quanto para a dissolução, entretanto antes que a

dissolução seja consumada. O conflito conjugal seria uma quebra de interação e

estabilidade da relação determinada pelo surgimento de novas ou maiores exigências, e

esses desajustes seriam explicados pela dificuldade e um dos cônjuges ou de ambos de

reconhecer sua participação no conflito, buscando responsabilizar integralmente o outro

pelo seu sofrimento. Alguns casais procuram um entendimento sobre esses conflitos e alguns destes chegam a consultórios em busca de atendimento para restabelecer a

conjugalidade, complementaridade e reciprocidade, como pretende investigar o presente estudo.

Sobre a idéia de tratar a família, para Ramos (1992) surgiu nos EUA por volta de 1950,

com estudos de pequenos grupos, orientados para a observação de famílias inteiras e

para a ampliação do conhecimento dos problemas humanos, com importantes

conseqüências em termos de intervenções terapêuticas. Ainda para o autor em nossa

sociedade vem sendo observada uma crescente necessidade de procura ajuda por parte dos cônjuges, o que acentua a importância de um conhecimento profundo ao nível da

conjugalidade, sobretudo com finalidades de intervenção, visando à resolução das suas

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O autor ainda afirma que geralmente um casal busca à terapia com a intenção de resolver

problemas factuais de sua convivência e em função disto tentará impor ao terapeuta a

consideração de que não existem problemas de desenvolvimento pessoal. Os casais em

consulta procuram descrever para o terapeuta o seu modo de conviver (conjugalidade), acreditando que este irá intervir, seja, por julgamento ou por atitude diretiva, mas

baseando-se nos fatos.

E em situações de crise, raiva e violência, infidelidade, rompimento do relacionamento

contra a vontade de um dos cônjuges e o momento de terminar o relacionamento podem

ser alguns dos motivos pelos quais o casal procura a terapia conjugal (PINCUS e DARE, 1987). Os autores afirmam que a projeção de impulsos, desejos e necessidades

inconscientes no parceiro, além de processos de mútua destruição que isso pode

acarretar, constitui-se na dinâmica básica de grande número de problemas familiares e

conjugais.

Desta forma Gomes (1998) destaca que uma das formas do casal entrar em contato com alguns de seus conflitos é através do sintoma de seus filhos, que denuncia a dinâmica do

casal. O sintoma do filho se constitui em um meio auxiliar para os pais chegarem à clínica

e se voltarem para o entendimento da dinâmica conjugal. Em muitos casos, esse sintoma

pode expressar um conflito conjugal e/ ou familiar ou ainda uma desestruturação destas

relações. As crianças, neste caso, funcionam como bodes expiatórios. O autor sugere

uma ampliação do olhar do clínico para o entendimento desses sintomas, englobando

uma outra forma de encaminhamento para o caso, no qual toda a família seja envolvida e

cuidada; por exemplo, escolhendo uma terapia familiar.

Tais estudos nos permitem observar que a meta principal da terapia de casal seria favorecer o desenvolvimento de comportamentos que conduzam a um melhor relacionamento interpessoal. Para tanto, faz-se necessário buscar a história individual e

familiar dos cônjuges, além da história do relacionamento conjugal. A partir do

conhecimento das preferências, dos desejos, dos sonhos e das necessidades individuais

e do casal, podem ser traçados objetivos comuns para os parceiros que pretendem se

engajar de forma mais satisfatória em seu relacionamento. O que de certa forma,

entendemos que as questões da conjugalidade estariam associadas à saúde e à

qualidade de vida dos cônjuges, principalmente nos anos de maturidade e velhice,

embora o fato de um casamento ter vida longa, não necessariamente significa que o

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Entendemos que a ajuda psicológica proporciona ao casal o resgate da relação, muitas

vezes sofridas e conflituosas, sobre um mesmo assunto, sob prismas diferentes, ampliando a compreensão da história de vida de cada um, das expectativas criadas antes

e no decorrer do casamento, buscando a resolução do próprio conflito.

Portanto essa modalidade de psicoterapia é indicada quando os sintomas e o sofrimento

tem sua origem na dinâmica, ou seja, na relação de um casal. Neste tipo de atendimento,

o casal é o cliente e são trabalhadas questões como a história do casal, os valores das

famílias de origem de cada um, os lugares e funções que cada cônjuge ocupa na relação,

as crises pontuais (infidelidade, problemas sexuais ou financeiros, nascimento de filhos, saída de filhos da casa), entre outras.

O presente estudo tem como objetivo identificar e analisar as queixas apresentadas pelos casais que procuram atendimento psicológico na Clínica-Escola do Núcleo de Estudos,

Pesquisa e Atendimento em Psicologia (NEPAP) da Universidade Metodista de São Paulo

e relacioná-las ás questões de conjugalidade. Portanto, a importância deste estudo

assume relevância social se tivermos em conta que a insatisfação conjugal tem

repercussões em vários níveis, para além do familiar: biológico, psicológico, social,

profissional.

MÉTODO

Para a realização do presente estudo utilizou-se prontuários de atendimento psicoterápico

de casais da Clínica–Escola de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo,

durante o ano de 2005. Diante da totalidade dos prontuários identificados, foram

selecionados dois, e escolha destes se deu por tratarem de relatórios completos, ou seja,

estes continham a ficha de triagem com dados sócio-demográficos, a queixa inicial, e os

relatos na íntegra e os encaminhamentos decorrentes destes atendimentos.

Trata-se de um estudo do tipo documental e de caráter exploratório, que segundo Gil

(1995), caracteriza-se pela coleta de dados que tem como fonte “papéis”, ou seja,

pesquisa documental diferenciando-se da pesquisa bibliográfica, que também os utiliza,

por servir-se de materiais que ainda não foram analisados ou que podem ser

reelaborados de acordo com o objetivo da pesquisa. Conforme o autor, o primeiro passo para o desenvolvimento do estudo documental é a exploração das fontes documentais.

Foram selecionados apenas alguns trechos (recortes) dos relatos que fizessem menção às questões de conjugalidade que impulsionaram estes casais a procurarem atendimento

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psicológico. Tendo como base o referencial psicanalítico, procedemos à análise destes

recortes por meio da investigação qualitativa das queixas apresentadas, bem como dos

respectivos encaminhamentos sugeridos aos casais.

Segundo Zimerman (1999), usar o referencial psicanalítico nas pesquisas sobre casais

significa tomar seus conceitos de empréstimo para entender um objeto: a relação

simbólica indivíduo dentro de uma relação com o outro e a dinâmica em que esse objeto

está inserido. Já ao que se refere à pesquisa qualitativa, Cervo e Bervian (1996) afirmam

que não se empregam dados estatísticos na análise do problema. Seu interesse não é

medir categorias ou variáveis. Seu interesse é descrever a complexidade de um

fenômeno, compreender, interpretar ou classificar processos, fenômenos,

comportamentos, entre outros.

DISCUSSÃO

Nos casos aqui analisados foi possível verificarmos que o relacionamento marital foi

apontado como um fator preponderante para a qualidade de vida das famílias,

particularmente no que tange às relações que pais e mães mantêm com suas crianças.

Observamos que, o ajustamento conjugal, as formas de comunicação e as estratégias de

resolução de conflitos empregadas pelo casal influenciam o desenvolvimento de padrões

de cuidado dos filhos e a qualidade das relações entre todos da família.

O estudo nos possibilitou concluir que casamentos não saudáveis não proporcionam

suporte aos cônjuges que as relações maritais satisfatórias e o apoio emocional dos pais às mães favorecem o desenvolvimento saudável dos filhos, podendo ser perpetuado entre

as futuras escolhas destes filhos.

Nos casos estudados, assim como relata Freud (1914-1980), o processo de instauração

da conjugalidade é geralmente discutido a partir da reatualização da trajetória edípica dos

parceiros e do compromisso inconsciente que sustenta a escolha amorosa.

Nos relatos registrados nos prontuários tanto dos homens quanto das mulheres,

observamos diferenças em relação à valorização de atributos determinantes da escolha

amorosa. Enquanto os homens tenderam a enfatizar qualidades de suas parceiras que os complementavam no terreno da sociabilidade, em primeiro plano, e que lhes proporcionava preenchimento afetivo e "apoio pessoal", em segundo plano, como

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motivadores do engajamento amoroso, as mulheres tenderam a enfatizar "carência

afetiva, em primeiro lugar, e” afinidades”, em segundo plano”.

Concluímos que tais dados realçaram a idéia de prevalência da tendência masculina a

realizar escolhas amorosas de acordo com a modalidade anaclítica ou de apoio e da

tendência feminina a realizar suas escolhas em conformidade com o modelo de escolha

narcísica. As mulheres tenderam a enaltecer o sentimento amoroso como motivador do

engajamento conjugal e a manifestar uma maior idealização de seus parceiros. Assim,

este estudo sobre a conjugalidade ressalta a estrutura que se forma a partir das constituições individuais dos parceiros e do interjogo dinâmico inconsciente que ocorre no

par conjugal. Contudo, consideramos que o encontro amoroso e a conjugalidade que evolui desse encontro, através da recordação, da repetição e da elaboração dos “Édipos”

dos parceiros, exerce influências estruturantes ou desestruturantes para cada um deles.

Giddens (1992) denominou que um relacionamento só se mantém se for capaz de

proporcionar satisfação ambos parceiros, nos dois casos estudados, percebeu-se que

apesar da insatisfação, mantiveram essa relação, o que pode-se questionar seria qual o

grau de satisfação que estes casais compreendem para manterem o relacionamento.

Desta forma a vivência da conjugalidade e o interjogo de identificações mobilizadas no

enquadre conjugal, produzem efeitos sobre a constituição da subjetividade, num processo

dinâmico que se desenvolve por toda a vida. Os casos apresentados evidenciam que as

conjunções sintomáticas que foram estabelecidas e os seus desdobramentos individuais,

permeavam de modo latente, o que não permitia de forma explícita que as queixas

manifestas fossem tratadas adequadamente e conseqüentemente comprometiam a

conjugalidade aceita e estabelecida pelos cônjuges.

Assim este estudo teve como pretensão compreender as queixas de casais que se

propuseram a um atendimento psicoterápico, e destas queixas levantar alguns

questionamentos de como o casal assume e define o modo de viver em comunhão com

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REFERÊNCIAS

CERVENY, C. M. BERTHOUD. O.; Família e ciclo vital: nossa realidade em pesquisa.

São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

CERVO, A. L., BERVIAN, P. A.; Metodologia científica. São Paulo: Makron Books, 1996.

COSTA P.G. e KATZ G. E COLABs.; Dinâmica das relações conjugais. Porto Alegre:

Artes Médicas, 1992.

ENGELS, F. (1884) A origem da família, da propriedade privada e do estado. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

FÉRES – CARNEIRO,T.; Casamento Contemporâneo: o difícil convívio da individualidade

FREUD, S. (1914). A História do Movimento Psicanalítico, Arquivos sobre Metapsicologia

e Outros Trabalhos. Tradução de T.O. Brito; P.H. Britto; C.M. Oiticica. In:______ Versão

Eletrônica da Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund

Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980. V.14.

FOUCAULT, M. (1977); História da sexualidade I: o uso dos prazeres. Rio de Janeiro:

Graal, 1985.

GENOFRE, R. M.; Família: uma leitura jurídica. A família contemporânea em debate. São

Paulo: EDUC/Cortez, 1997.

GIDDENS, A.; A Transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas, São Paulo, UNESP, 1992.

GIL, A.C.; Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995.

GOMES, I. C.; O sintoma da criança e a dinâmica do casal. São Paulo: Escuta, 1998.

GOLEMAN, D.; Inteligência Emocional:a teoria revolucionaria que redefiniu o que é ser inteligente. 4º ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996.

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MINUCHIN, S.; Famílias : Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre : Artes Médicas,

1990.

PINCUS,L e DARE, C.; Psicodinâmica da Família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

RAMOS, M.; Terapia de Casale Família -o lugar do terapeuta. São Paulo: Ed. Brasiliense,

1992.

ZIMERMAN, D.E.; Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clinica. Uma abordagem

Referências

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