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Aula 02. O furto privilegiado tem natureza jurídica de causa de redução ou de substituição de pena.

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Curso/Disciplina: Crimes contra o patrimônio

Aula: Furto (Parte II).

Professor (a): Marcelo Uzeda

Monitor (a): Felipe Ignacio Loyola

Aula 02

1. Furto privilegiado:

CP. Art. 155 (...) § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

O furto privilegiado tem natureza jurídica de causa de redução ou de substituição de pena.

Observação! O agente será considerado primário quando não for reincidente

1

(art. 63 do CP), pouco

importando para isso, o fato do sujeito possuir ou não maus antecedentes

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.

CP. Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por

crime anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Atenção! O art. 64 do CP estabelece algumas ressalvas acerca da reincidência. Segundo o dispositivo, os

crimes políticos, os crimes propriamente militares e as condenações anteriores ocorridas em lapso temporal

superior a 05 (cinco) anos não serão computadas para efeito de reincidência.

1 ““Reincidência” significa voltar a incidir. É um conceito jurídico, aplicado ao direito penal, que significa voltar a praticar um delito havendo sido anteriormente condenado por outro, de igual natureza (reincidência específica) ou não (reincidência geral). A reincidência é circunstância agravante, analisada pelo Magistrado na segunda fase da aplicação da pena, nos termos do artigo 61 do Código Penal. Logo, é reincidente aquele que tendo uma ou mais condenações criminais irrecorríveis, pratica outro crime, obedecido o lapso temporal de cinco anos, previsto no artigo 64 do mesmo Diploma.” (William Garcez em: http://delegados.com.br/noticias/reincidencia-e-maus-antecedentes-diferenca-conceitual-e-consideracoes-juridicas)

2 ““Maus antecedentes” são tudo o que remanesce da reincidência. Ou seja, decorrido o prazo de cinco anos, por exemplo, do cumprimento da pena (período no qual há reincidência, como acima se demonstrou) deixa o indivíduo de ser considerado reincidente, mas carregará ele em sua ficha o gravame de maus antecedentes. Esse instituto é considerado circunstância judicial, a ser analisada pelo Magistrado na primeira fase da dosimetria da pena, nos termos do artigo 59 do Código Penal.” (William Garcez em: http://delegados.com.br/noticias/reincidencia-e-maus-antecedentes-diferenca-conceitual-e-consideracoes-juridicas)

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Art. 64 - Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer

revogação; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos. (Redação dada pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984).

Contravenção penal e a reincidência:

Lei 3.688/41) Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

Posição da Doutrina quanto à reincidência:

"Quem é condenado por um crime e depois pratica uma contravenção é reincidente (art. 7º da LCP). No entanto, quem pratica uma contravenção e depois um crime não é reincidente (art. 63 do CP)." (BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 278-279)

"(...) se a infração anterior for uma contravenção penal, teremos a seguinte situação: (a) Condenado definitivamente pela prática de contravenção penal, que venha a praticar crime, não é reincidente (CP, art. 63). (b) Condenado definitivamente pela prática de contravenção, que venha a realizar nova contravenção, é reincidente, nos termos do art. 7º da LCP. Se, no entanto, for condenado definitivamente por crime e vem a praticar contravenção penal, é considerado reincidente, nos termos do art. 7º da LCP." (CAPEZ, Fernando; PRADO, Stela. Código Penal Comentado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 155) "(...) admite-se, para efeito de reincidência, o seguinte quadro: a) crime (antes) – crime (depois); b) crime (antes) – contravenção penal (depois); c) contravenção (antes) – contravenção (depois). Não se admite: contravenção (antes) – crime (depois), por falta de previsão legal." (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 453).

Quadro comparativo para efeito de reincidência:

Infração penal anterior

Infração penal posterior

Resultado

Crime

Crime

Reincidente

Contravenção

Contravenção

Reincidente

Crime

Contravenção

Reincidente

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Posição da Jurisprudência quanto à reincidência:

STJ-RHC 20.951/RJ: IMPOSSIBILIDADE DE CONSIDERAR CONDENAÇÃO PRETÉRITA POR CONTRAVENÇÃO PENAL PARA CARACTERIZAR A REINCIDÊNCIA.

"Vale dizer, a condenação definitiva anterior por contravenção penal não gera reincidência, caso o agente cometa um delito posterior (até porque o artigo 63 do Código Penal é expresso em sua referência a novo crime)."

Coisa de valor ínfimo vs. Coisa de pequeno valor:

Para efeito de comparação, é preciso analisar a natureza do termo “ínfimo” e a do termo “pequeno valor”.

Para o STJ, em jurisprudência consolidada, o ínfimo é aquilo que caracteriza a inexpressividade da lesão

jurídica provocada, é menos que pequeno valor. É preciso analisar a repercussão do objeto no patrimônio da

vítima e, a partir dessa análise, verificar se a repercussão é inexpressiva.

Observação! Presentes a inexpressividade da lesão, a mínima ofensividade da conduta, a inexistência de

periculosidade social e o reduzidíssimo grau de reprovabilidade é possível a aplicação do princípio da

insignificância. Assim, se o bem jurídico tem valor ínfimo, e a conduta praticada atende aos outros vetores,

aplica-se o princípio da bagatela e o fato é atípico (causa supralegal de atipicidade).

Coisa de pequeno valor caracteriza uma lesão de pouca repercussão ao bem jurídico. Pela

jurisprudência, pequeno valor seria menos de um salário mínimo.

A doutrina e a jurisprudência têm admitido como “coisa de pequeno valor” aquela que não ultrapassa o

valor de até 1 (hum) salário mínimo. Nessa situação, se a coisa furtada é considerada de pequeno valor

(critério objetivo) e o agente é primário (critério subjetivo), tem-se o furto privilegiado, que é uma causa de

redução ou de substituição de pena.

Benesses do § 2º do art. 155 do CP:

 A pena de reclusão pode ser substituída pela de detenção;

 A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3; ou

 A aplicação exclusiva da pena de multa.

O furto privilegiado pode ser qualificado?

Até 2009, por conta da posição topográfica dos institutos, a jurisprudência dos tribunais superiores não

admitia a figura do furto privilegiado qualificado, divergindo da doutrina, que entendia pela possibilidade do

furto privilegiado e qualificado. A partir de 2009, acompanhando o entendimento doutrinário, os tribunais

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superiores passaram a admitir a figura do furto privilegiado qualificado. Em 2014, o STJ editou a súmula 511

e pacificou o entendimento.

STJ. Súmula 511. É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.

A lógica da súmula 511 do STJ tem fundamento no homicídio privilegiado (§ 1º do art. 121 do CP) c/c o

homicídio qualificado (III e IV do § 2º do art. 121 do CP).

CP. Art. 121 (...) § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

CP. Art. 121 (...) § 2º (...) III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

CP. Art. 121 (...) § 2º (...) IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

Crítica do Professor: o STJ adota um critério (qualificadora de ordem objetiva) que a rigor não está previsto

em lei.

Observação! se o furto privilegiado é simples, é possível a aplicação exclusiva da pena de multa; se o furto

privilegiado é qualificado, é possível a aplicação da redução de 1/3 a 2/3 com a substituição da pena de

reclusão para a pena de detenção, mas não é possível a aplicação exclusiva da pena de multa ( em

observância ao princípio da proporcionalidade).

2. Furto qualificado:

CP. Art. 155 (...) § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

Furto qualificado por destruição ou rompimento de obstáculo:

CP. Art. 155 (...) § 4º I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

Obstáculo é tudo aquilo que tenha a finalidade precípua de proteger a coisa e que não seja

ela inerente; deve ser exterior à coisa.

Romper é eliminar o obstáculo sem destruí -lo. Ex: Desarmar o sistema de alarme; deslocar

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Destruir o obstáculo é usar de violência contra a coisa, eliminando ou fazendo desaparecer

aquilo que o impedia de levar a efeito a subtração.

Furto de coisa alheia móvel no interior de veículos automotores:

1ª corrente: se o agente quebra o vidro do veículo para subtraí-lo é considerado furto simples, porque o

vidro é inerente à essência do carro e tem como função precípua a proteção dos usuários contra o ambiente

externo. Mas, se o agente quebra a trava de segurança ou o alarme do carro (que têm a função de proteger

o bem em si), o furto será qualificado pelo rompimento ou destruição de obstáculo.

2ª corrente: com base no princípio da proporcionalidade, seria um contrassenso considerar como

qualificado, após a quebra do vidro, o furto de um objeto do interior do veículo e, ao mesmo tempo,

considerar como furto simples se o mesmo agente levar o veículo. Assim, para essa corrente, é qualificado

tanto o furto de um objeto quanto o furto do veículo em si, após a destruição do obstáculo (vidro).

REsp. 982895/RS: PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE

OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA. MOMENTO CONSUMATIVO DO DELITO. PENA AQUÉM DOMÍNIMO, EM RAZÃO DA OCORRÊNCIA DE ATENUANTES. IMPOSSIBILIDADE. (...) IV - A subtração de objetos situados no interior do veículo mediante rompimento de obstáculo, como na hipótese, com rompimento do vidro traseiro direito de automóvel e destruição da máquina elétrica, qualifica o delito. (Precedentes)

REsp. 743615/RS: EMENTA CRIMINAL. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE

OBSTÁCULO. LAUDO PERICIAL FEITO POR PESSOAS INABILITADAS. CONDENAÇAO COM BASE EM OUTROS ELEMENTOS. OBSTÁCULO INERENTE À COISA FURTADA.QUALIFICADORA. NAO INCIDÊNCIA. DOSIMETRIA. REDUÇAO DA PENA. REINCIDÊNCIA EXCLUÍDA. IMPROPRIEDADE. RECURSO PARCIALMENTECONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.

(...) II. Esta Corte já firmou posicionamento no sentido de que o rompimento de obstáculo inerente ao objeto do furto não caracteriza a circunstância qualificadora. Precedente. (...)

Questão de concurso:

O sujeito adentra à residência, sem romper ou destruir qualquer obstáculo, e subtrai um cofre. De posse do

cofre, ele vai até um local deserto, rompe a fechadura do cofre para alcançar o que poderia haver no seu

interior.

Nesse exemplo, a banca considerou que a conduta deveria ser tipificada como furto simples, porque o objeto

primário do furto era o cofre e não o que estava no interior dele. Caso houvesse algo que pudesse locupletar

o agente, seria considerado mero exaurimento da conduta de furtar o cofre.

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Furto qualificado com abuso de confiança:

CP. Art. 155 (...) § 4º II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

O abuso se verifica quando há um especial vínculo subjetivo de confiança depositado pela vítima do agente.

Furto qualificado com abuso de confiança vs. Peculato furto:

Peculato

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

No peculato furto o funcionário não tem a posse do objeto, mas tem facilidade de acesso ao objeto (posse

desvigiada) e, valendo-se dessa condição, subtrai ou concorre para que outro subtraia. No peculato

apropriação o funcionário tem a posse desvigiada e inverte o título da posse.

Exemplo:

Por exemplo, uma pessoa inscrita em biblioteca, cujo acervo raro é disponibilizado aos usuários registrados

para consulta local, que se aproveita dessa condição para subtrair uma dessas obras raras, comete o crime

de furto qualificado com o abuso de confiança. (Não tem a posse do objeto, mas o acesso por conta da

confiança). Por outro lado, se a mesma pessoa toma emprestado um livro da biblioteca e, invertendo o título

da posse, vende esse livro em um sebo, comete o crime de apropriação indébita, porque, num primeiro

momento, essa pessoa tinha a posse de boa-fé do bem e, num segundo momento, valendo-se dessa

condição, inverte a posse, agindo como se proprietário fosse.

Abuso de confiança vs. Relação de emprego:

A mera relação de emprego não caracteriza confiança, mas pode incidir a agravante

genérica das relações domesticas de coabitação ou de hospitalidade (art. 61 II “f” do CP).

CP. Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou

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(...) II - ter o agente cometido o crime:

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

(...) f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação

ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica;

(Redação

dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

Observação! A relação de confiança na relação de emprego deve ser analisada a partir do caso concreto.

Furto qualificado mediante fraude:

A fraude é o ardil, a dissimulação, a insídia, utilizada pelo agente para distrair a atenção da vítima a fim de facilitar a subtração. Ela é empregada para iludir a vigilância do ofendido, que não tem conhecimento de que o objeto material está saindo da esfera do seu patrimônio.

No estelionato, a fraude faz com que a vítima incida em erro e é empregada para obter o seu consentimento.

Golpe do Test Drive:

Usar o Test Driver como meio para furtar um automóvel, segundo o STJ, em decisão de turma cível, incorre

na prática de furto qualificado mediante fraude. O agente que abusa da confiança da vítima por meio

fraudulento para subtrair um bem sem que seja percebido, deve sofrer as consequências estabelecidas no

inciso II do § 4º do art. 155 do CP.

Observação! Em sentido contrário, há aqueles que entendem que tal conduta caracteriza o estelionato, pois

o sujeito não tem a intenção de comprar o bem e usa da fraude para que a vantagem lhe seja entregue pela

vítima.

Importante! Julgando o caso concreto, o STJ entendeu que a questão deve ser tipificada como furto

qualificado mediante fraude, uma vez que as seguradoras não cobrem o sinistro resultante de estelionato.

Furto qualificado mediante fraude

A fraude é utilizada pelo agente para distrair a atenção da vítima a fim de facilitar

a subtração.

A fraude é empregada para iludir a vigilância da vítima que não percebe que a coisa está sendo retirada.

Estelionato

A fraude é utilizada para viciar a vontade

da vítima.

A fraude é empregada para viciar a vontade da vítima, que entrga a

vantagem ao estelionatário.

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Furto qualificado mediante escalada:

A escalada é o ingresso no local do furto, por uma via de acesso que normalmente não é utilizada. Há a utilização de meio artificial, incomum (não violento, ex. escada corda) ou a demanda de um esforço extraordinário (saltar, rastejar). Pode ser por meio de túnel, subterrâneo ou não, e não precisa ser necessariamente no sentido ascendente.

Furto qualificado mediante destreza:

O agente se vale de uma especial habilidade manual para retirar a coisa da vítima sem que ela perceba (“mão-leve”). Se a própria vítima perceber a subtração, não há que se falar em destreza. Não há tentativa de furto qualificado por destreza se o agente é surpreendido pela própria vítima. Mas há a tentativa de furto qualificado pela destreza, quando um terceiro impede a consumação.

Furto mediante fraude vs. Furto mediante destreza:

Quando o agente, utilizando-se de fraude, substitui o cartão bancário de uma vítima e efetuar saques na

contracorrente, essa prática caracteriza o furto qualificado mediante fraude.

Caso esse mesmo agente, usando da destreza, subtraia o cartão da bolsa da vítima sem que ela perceba,

incide na capitulação do furto qualificado mediante destreza. Aqui, o agente não está usando de fraude para

iludir a vigilância, ele subtrai sem ser percebido.

Importante! Caso a vítima, percebendo a ação do agente, impeça a consumação do fato delituoso, tem-se a

figura da tentativa de furto simples, pois, se a vítima percebeu a ação, o agente não tem destreza. Mas se

um 3º percebe a ação e impede a consumação, há a tentativa de furto qualificado pela destreza.

Furto qualificado com emprego de chave falsa:

CP. Art. 155 (...) § 4º III - com emprego de chave falsa;

Chave falsa é qualquer instrumento ou engenho que sirva para abrir uma fechadura, sem

danificá-la. Não há furto qualificado se a chave verdadeira que foi achada ou furtada ou se encontra na fechadura. Se o sujeito consegue ardilosamente apanhar a chave verdadeira ou faz uma cópia, trata-se de furto qualificado pelo emprego de fraude. A qualificadora só se verifica quando a chave falsa é utilizada externamente à “res furtiva”, vencendo o agente o obstáculo propositadamente colocando para protege-la.

REsp. 284385/DF: Ementa: PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO. QUALIFICADORA DO

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no crime de furto, incide se a chave for utilizada para a subtração no sentido de alcançar a coisa, pois o fundamento dessa causa refere-se ao acesso do agente ao objeto material, não alcançando, portanto, o resultado final do crime. - Recurso especial conhecido e desprovido.

REsp. 43047/SP: Ementa: PENAL. FURTO QUALIFICADO. EMPREGO DE CHAVE FALSA. 1. A

UTILIZAÇÃO DE CHAVE FALSA DIRETAMENTE NA IGNIÇÃO DO VEICULO PARA FAZER ACIONAR O MOTOR NÃO CONFIGURA A QUALIFICADORA DO EMPREGO DE CHAVE FALSA (CP, ART. 155, PAR. 4. III). A QUALIFICADORA SO SE VERIFICA QUANDO A CHAVE FALSA E UTILIZADA EXTERNAMENTE A "RES FURTIVA", VENCENDO O AGENTE O OBSTACULO PROPOSITADAMENTE COLOCADO PARA PROTEGE-LA. 2. RECURSO PROVIDO.

Atenção! No julgamento desses casos, o STJ entendeu que a utilização de “chave falsa”, para qualificar o

furto, tem que ser para acessar a coisa e não para deslocá-la.

REsp.: 906685/RS: o conceito de chave falsa abrange todo o instrumento, com ou sem

forma de chave, utilizado como dispositivo para abrir fechadura, incluindo gazuas, mixas, arames, etc. II. O uso de mixa, na tentativa de acionar o motor do automóvel, caracteriza a qualificadora do inciso III do § 4º do art. 155 do CP.

Atenção! Há decisões no STJ nos dois sentidos: (1) chave falsa na ignição do veículo qualifica o furto; (2)

chave falsa na ignição do veículo não qualifica o furto.

Observação! Caso o agente danifique a fechadura com a “chave falsa”, fica caracterizado o furto qualificado

mediante rompimento de obstáculo.

Furto qualificado mediante concurso de pessoas:

CP. Art. 155 (...) § 4º IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Segundo o entendimento doutrinário, para que haja a qualificadora do furto mediante concurso de duas ou

mais pessoas, deve haver o efetivo concurso e a efetiva subtração da coisa por dois ou mais agentes. Não há

a qualificadora se o crime é praticado mediante participação.

Quando o agente toma emprestada uma chave falsa para realizar o furto, o agente que emprestou a chave

responde como partícipe e o agente que realizou o furto com a chave falsa responde pela qualificadora

prevista para o tipo.

Atenção! A doutrina utiliza o conceito restritivo de autor, que é aquele que executa a conduta.

STJ Súmula 442: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.

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Observação! Segundo o entendimento sumulado do STJ, mediante concurso, o furto é qualificado e a pena

vai de 2 (dois) a 8 (oito) anos; no roubo (157 do CP), o concurso de agentes é mera majorante.

Furto de veículo automotor:

CP. Art. 155 (...) § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo

automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

(Incluído

pela Lei nº 9.426, de 1996)

Atenção! O entendimento dominante é no sentido de que a qualificadora do § 5º do art. 155 do CP só será

aplicada quando efetivamente o veículo cruzar a divisa do estado ou a fronteira do país.

Nova figura qualificada: furto qualificado de semovente domesticável de produção:

CP. Art. 155 (...)§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de

semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da

subtração.

(Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

Quadro comparativo:

Tipo Pena Tempo Ação penal Requisitos

Furto simples (caput 155

do CP) Reclusão De 01 a 04 anos e multa

Pública incondicionada

Durante o repouso noturno (§ 1º do 155 do

CP)

Reclusão Aumento de 1/3 Pública

incondicionada De acordo com o costume do lugar Furto privilegiado (§ 2º do 155 do CP) Reclusão por detenção Diminuição de 1/3 a 2/3 ou apenas multa. Pública incondicionada

Até 1 salário mínimo e réu primário

Furto qualificado (§ 4º do

155 do CP) Reclusão De 02 a 08 anos e multa

Pública incondicionada Hipóteses nos incisos Furto de veículo motorizado (§ 5º do 155 do CP)

Reclusão De 03 a 08 anos sem multa

Pública incondicionada

Transportado para outro estado ou país

Furto de semovente domesticável de produção (§ 6º do 155 do

CP)

Reclusão De 02 a 05 anos Pública

incondicionada

Imunidade absoluta (Escusa absolutória)

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

Imunidade relativa

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

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Referências

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