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Modelo para análise das relações interfirmas dentro da concepção das cadeias globais de valor: aplicação na indústria automobilística

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1 Modelo para análise das relações interfirmas dentro da concepção das cadeias globais de

valor: aplicação na indústria automobilística

Autoria: Vanessa da Silva Cabo, Raphael J. C. Lima, Cristiano F. Monteiro Email: nessacabo@hotmail.com

Resumo:

Este artigo descreve um modelo para a análise das relações interfirmas, dentro da concepção das cadeias globais de valor (CGV), entre uma indústria automobilística, que utiliza o arranjo produtivo do consórcio modular em uma de suas operações, e seus fornecedores. Baseando-se em tentativas anteriores de análise das relações e governança interfirmas das indústrias automobilísticas dentro da concepção das CGV, observou-se a falta de um modelo que propusesse a obtenção dessas informações de modo que explorasse os conceitos desenvolvidos pelos estudiosos da área. Este artigo, além de propor um modelo para a obtenção de dados para a análise das relações interfirmas da indústria automobilística, também dá subsídios para a classificação da governança dentro da concepção da CGV desenvolvida por Gereffi et. al (2005). Na finalização do artigo apresentam-se benefícios que podem ser obtidos com a aplicação do modelo desenvolvido.

Palavras-Chave: Cadeias Globais de Valor, Governança, Indústria Automobilística, Relações interfirmas.

1. Introdução

Com a integração das firmas e economias, após a globalização, formaram-se redes de produção globais que, com uma maior conexão geográfica e mais complexa, conectaram os territórios através das operações na produção de bens e serviços (DICKEN, 2010). Os países emergentes viram a necessidade estratégica de colaboração entre as firmas para conciliar a cooperação e competição ao longo da cadeia global de valor.

Segundo Gereffi (1994), a cadeia de valor é orientada sobre as estratégias da empresa e, em muitas cadeias mercantis, a firma-líder denominada como dominante, coordena e moderniza a cadeia. Gereffi et. al (2005) abordou a concepção do termo “valor” capturando o conceito “valor adicionado” nos diversos elos ao longo da cadeia de suprimentos evidenciando a necessidade de uma governança eficiente e incorporada em contextos maiores.

A governança da cadeia de valor tornou-se importante para a coordenação dos diversos processos no contexto global e em escala regional, pois ela determina o acesso ao mercado, é uma via para aquisição de capacidade de produção, ajuda a compreender a distribuição dos ganhos ao longo da cadeia e podem oferecer pontos de alavancagem para iniciativas governamentais (HUMPREY, J.; SCHMITZ,H., 2001).

No Brasil, o processo de reestruturação produtiva ganhou força com a abertura comercial no início dos anos de 1990, que fez com que as regiões elaborassem políticas públicas para a atração de investimentos externos, apoio a empresas locais e geração de empregos e renda. Com a abertura do Regime Automotivo Brasileiro (RAC) no ano de 1995, as indústrias automobilísticas (IA´s) tradicionais se reestruturaram e novas montadoras ingressaram no mercado interno de veículos, levando a modernização de toda sua cadeia produtiva.

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2 Novos arranjos produtivos foram implementados nas indústrias automobilísticas, levando a formação de redes globais de produção entre empresas que, impulsionadas pelas especializações regionais, se integraram. A integração global também fez com que as empresas líderes formassem uma rede de empresas subcontratadas, pois com a ascensão dos fornecedores globais, as montadoras desverticalizaram e transferiram parte de seu processo produtivo (Gereffi et. al, 2005).

Diante do contexto, o capital privado foi direcionado aos territórios com potencialidade de lucro, gerando novas fontes de renda e emprego, e este processo contemplou a mesorregião Sul Fluminense/RJ. Desde os anos de 1990 a região tem sido alvo da inserção das indústrias automobilísticas e conta com a presença de grandes montadoras como a MAN/VW (1999), PSA Peugeot (2001), Nissan (2013) e Jaguar Land Rover (2016) que em conjunto com outras grandes empresas como a Michelin e a Hyundai Heavy industries se tornou um dos principais pólos industriais do país.

A aglomeração de empresas automotivas do Sul Fluminense é caracterizada pela existência de firmas líderes, atuantes regionalmente, com fornecedores geograficamente próximos para a geração de atividades produtivas. Com o surgimento do Cluster Automotivo Sul Fluminense (CASF) no ano de 2013, as empresas iniciaram um processo de cooperação e competitividade que, em conciliação e apoio de instituições públicas e privadas, tem o objetivo de acelerar o crescimento da indústria automotiva da região (CASF, 2013).

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é a elaboração de um modelo para a avaliação das relações interfirmas entre uma indústria automobilística (IA) e seus fornecedores, ambos situados no pólo automotivo de Sul Fluminense/RJ. O modelo de avaliação foi elaborado para aplicação em uma das indústrias automobilísticas da região, que possui o arranjo produtivo do consórcio modular.

A opção por elaborar o modelo para este tipo de arranjo produtivo justifica-se pela interação intensa e de extrema importância entre os fornecedores e a montadora neste tipo de arranjo, pois as atividades de montagem e produção são realizadas pelos fornecedores, que ficam instalados dentro da planta da montadora. Este modelo de arranjo produtivo traz a perda do controle direto da produção por parte da montadora, tornando-se necessário uma governança eficiente para o acompanhamento e garantia da qualidade no atendimento da produção (RAMALHO, 1999).

Com isso, torna-se pertinente o estudo para avaliar as relações interfimas entre a montadora e seus fornecedores com o intuito de avaliar o tipo de governança aplicada ao cenário. Segundo Pegler (2011) tem-se reconhecido a necessidade de integração mais completa das atividades dentro da cadeia de suprimentos, pois elas são determinantes-chave da distribuição de valor e dos resultados sociais.

A presente pesquisa poderá contribuir para discussões teóricas sobre as relações interfirmas das montadoras e poderá auxiliar outros pesquisadores que têm se dedicado a investigar as transformações estruturais e relacionais entre a indústria e fornecedores do ramo automotivo. Já para o campo empírico, espera-se contribuir para a identificação das características desta relação e a aplicação da teoria da governança (Gereffi et. al. 2005) em um contexto Brasileiro, através do levantamento e análise dos dados obtidos com o modelo proposto.

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3 2. Fundamentação Teórica

2.1. Cadeia Global de Valor

O conceito de cadeia global de valor (CGV) originou- se da concepção das cadeias globais de commodities (CGC), desenvolvida por Hopkins e Wallerstein (1986), no qual analisavam as atividades envolvidas na produção de bens e serviços finais em conjunto com a influência do governo na definição de tarifas, travessias das mercadorias pela fronteira e nos sistemas de produção globais.

Posteriormente, Gereffi (1994) retornou os estudos sobre as CGC definindo-as como sendo um conjunto de redes interconectadas em torno de um bem ou serviço específico que ligam todos os agentes dentro da economia.

Os autores enfatizaram a importância na formação de redes de produção, a distribuição global e a organização fragmentada, considerando a firma como o principal ator na cadeia e as firmas líderes como as responsáveis pela coordenação e controle da produção, atividade denominada pelos autores como “governança”.

Dentro do conceito, desenvolveu-se a classificação da governança das CGC em dois tipos: as comandadas por “compradores” e as comandadas por “produtores”. As cadeias comandadas por “compradores” são caracterizadas pelos grandes fabricantes no qual a produção é feita em países periféricos e exportada para os compradores estrangeiros.

As cadeias comandadas pelos “produtores” são caracterizadas por empresas transnacionais que atuam na coordenação da produção de fornecedores subcontratados para o atendimento do mercado global. Posteriormente, observou-se a necessidade da evolução do conceito bimodal da governança das CGC com o intuito de fazer com que a teoria pudesse ser aplicada a um leque maior das cadeias mercantis.

Com isso, surgiu a teoria da cadeia global de valor (CGV) que, com a alteração do termo “commodity” para “valor”, abordou todas as atividades necessárias para a produção e disponibilização de um produto ou serviço, incluindo as estruturas, sequências, elos e elementos necessários e adicionando valor ao processo como um todo, através de estágios ao longo da cadeia (GEREFFI ET AL., 2005).

Para Henderson et al. (2011), este conceito é um pouco limitado, pois a teoria das CGC aborda a ligação das firmas com diferentes localizações geográficas e não considera a influência dos contextos sociais nacionais ou regionais em que elas estão inseridas. Para os autores, a análise das CGC deve abordar a ligação das sociedades e seus contextos sociais nas relações interfirmas e na distribuição da geração de valor ao longo da cadeia.

Com a globalização, as empresas se estruturaram em redes de produção dispersas geograficamente para o atendimento global. Diante do contexto, Gereffi e Fernandez-Stark (2011) apresentaram quatro dimensões básicas de exploração da metodologia da CGV possibilitando a exploração de novos tópicos como “questões de regulamentação trabalhista, desenvolvimento da força de trabalho, fortalecimento das cadeias de valor e o gênero” (2011, p. 04).

Os autores exploraram essas dimensões com o intuito de “melhorar” a descrição da dinâmica dentro da cadeia global de valor já que as dimensões sociais e ambientes foram recentemente incorporadas. As quatro dimensões apresentadas por Gereffi & Fernandez-Stark (2011) são:

Tabela 1. Quatro dimensões de exploração da metodologia da CGV

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4 Estrutura de

entrada-saída

Identificar as principais atividades em uma cadeia global de valor, que mostre o fluxo de bens e serviços, sejam eles tangíveis ou não, com o intuito de mapear o valor adicionado nos elos da cadeia, já que os mesmos variam de acordo com o setor. Análise do âmbito

geográfico

Para a “identificação das empresas líderes em cada segmento da cadeia de valor” (2011, p.07) com o intuito de verificar as contribuições dos países nos diversos elos da cadeia, a hierarquia de poder, capacidade produtiva, classificação das atividades que compõe as cadeias entre outros.

Análise da Governança da cadeia

de valor

Para o entendimento de como ela é coordenada e controlada, hierarquia de assimetria de poder que variam conforme segmento para a compreensão do desenvolvimento das empresas em um nível global.

Análise do contexto Institucional

Para identificar como eles moldam os diversos estágios e elos das cadeias globais de valor através de condições locais, sociais, institucionais, políticas, legislativas, entre outros.

Gereffi (1999) mostra que a análise das CGV deve constituir também o poder das firmas líderes que ganham vantagem competitiva ao coordenar toda cadeia global de valor, através da detenção de atividades-chaves como tecnologia e inovação, além das patentes de marcas. Com o intuito de aprimorar a análise das cadeias globais de valor, Gereffi et. al (2005) desenvolveram um modelo mais complexo, através da definição de cinco tipos básicos de governança da cadeia de valor (mercado, modular, relacional, cativa e hierárquica).

2.2. Governança das CGV

A governança é um conceito fundamental para a abordagem da Cadeia global de Valor e é utilizada em sua coordenação, por meio de definição de parâmetros de produção a serem cumpridos pelos agentes da cadeia (HUMPHREY & SCHMITZ, 2001).

Segundo os autores, os principais parâmetros são: I. Design e especificação do produto; II. Definição do processo de produção (incluindo tecnologias, padrões de trabalho, entre outros); III. Programação da produção e Logística. A definição desses parâmetros é feita pelas firmas-líderes, para que eles sejam cumpridos pelas demais empresas inseridas na cadeia.

Dentro do contexto, surge a necessidade da governança na cadeia, pois ela determina o acesso ao mercado, é uma via rápida para aquisição de capacidade de produção, ajuda a compreender a distribuição dos ganhos ao longo da cadeia e podem oferecer pontos de alavancagem para iniciativas governamentais (HUMPREY,J.; SCHMITZ,H., 2001).

Henderson et al. (2010) mostram que as questões de governança surgem dentro das redes de produção, pois existem variações na exerção do poder que são específicas entre as firmas e ao setor, podendo estas exercer autonomia em firmas secundárias visando atividades de maior valor agregado. Com o intuito de identificar e classificar a governança nas redes e CGV, Gereffi et al. (2005, p. 85) mostraram que o tipo de governança alterna conforme a atuação de 03 variáveis principais que levam aos padrões relacionais:

Tabela 2. Principais variáveis para a classificação da governança da CGV

Variáveis Descrição

Complexidade das transações e informações

Relacionada a complexidade do tipo de produção de um bem ou serviço, podendo ser maior (ex. diferenciação de produtos ou serviços) ou menor (transações simples).

Habilidade de codificar as transações:

Relacionada a capacidade de transferir o conhecimento e a transação específica através da codificação das informações, independente da complexidade do processo, seja ela alta ou baixa.

Capacidade da base de fornecimento

Relacionada a capacidade de fornecimento dos fornecedores para o atendimento dos requisitos específicos da operação de produção, sejam eles complexos ou codificáveis.

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5 Os cinco tipos básicos de governança das atividades da cadeia de valor são de mercado, modular, relacional, cativa e hierárquica (Gereffi et al., 2005), e podem ser mais facilmente analisados na figura 01:

Figura 1. Determinantes-chave da Governança

Os autores mostram que as relações interfirmas precisam de um maior grau de coordenação por parte das firmas líderes na CGV quando as transações são mais complexas e os fornecedores não possuem uma alta capacidade de fornecimento.

Os autores mostram que as relações interfirmas precisam de um maior grau de coordenação por parte das firmas líderes na CGV quando as transações são mais complexas e os fornecedores não possuem uma alta capacidade de fornecimento.

A governança de mercado tem uma baixa complexidade de suas transações, porém uma alta habilidade de codificação das transações e capacidade de fornecimento na cadeia. Nesse tipo de governança, os preços definem as relações de compra e venda.

Uma governança é considerada modular quando possui uma alta complexidade em suas transações e na transmissão e codificação da informação, trazendo dificuldades em encontrar fornecimento no mercado, devido ao fato de possuir uma demanda customizada que necessita de uma flexibilidade da produção.

Na governança relacional, as cadeias têm uma baixa codificação da informação e alta capacidade de atendimento dos fornecedores e da complexidade das transações, pois eles têm uma parte importante do conhecimento que é dificilmente transferido, criando assim uma dependência entre o comprador e o fornecedor.

Na governança cativa há uma alta complexidade das transações e da transferência das informações para os fornecedores, porém por eles terem uma baixa capacidade de fornecimento, não conseguem atender rapidamente o comprador necessitando assim, a governança para a garantia do atendimento dos prazos.

A governança hierárquica é caracterizada pela alta complexidade das transações e uma baixa facilidade de transferência da informação e capacidade de atendimento dos fornecedores no que, geralmente, faz com que a indústria internalize essas funções de alta complexidade. A indústria automobilística é um exemplo de cadeia comandada pelo produtor, pois após a sua reestruturação, as montadoras formaram uma rede de subcontratação que era responsável pelo processo produtivo. A governança dessa rede era feita pela montadora que precisava garantir que o veículo fosse montado dentro das especificações necessárias.

Cada vez mais, os fornecedores têm desempenhado um papel crescente visando o atendimento da demanda de seus clientes, investindo em unidades produtivas locais, atuando

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6 na fabricação e desenvolvimento de peças para novos veículos. Diante do exposto, questiona-se os tipos de governança prequestiona-sentes diante deste novo modelo de relação entre fornecedor e montadora.

3. Metodologia da Pesquisa

A presente pesquisa é de natureza aplicada, com abordagem qualitativa. Quanto aos objetivos, segundo Silva e Menezes (2001), a pesquisa é descritiva, pois propõe um modelo para a descrição das relações interfirmas entre duas empresas através da elaboração de técnica padronizada de coleta de dados, como um questionário. Quanto aos procedimentos técnicos, segundo Gil (1998), a pesquisa é bibliográfica, pois está sendo elaborada com a revisão de materiais já publicado, e experimental, pois propõe um modelo para ser aplicado em uma montadora e seus fornecedores (objeto de estudo), identificando possíveis variáveis que podem influenciar esta relação.

4. Análise dos Resultados

O modelo proposto para análise das relações interfirmas entre uma montadora e seus fornecedores, foi elaborado a partir da teoria das cadeias globais de valor apresentada por Gereffi et. al (2005), observando também algumas considerações importantes apresentadas por Henderson et. al. (2011) e Humphrey & Schmitz (2001).

Gereffi e Stark (2011) apresentaram quatro dimensões básicas de exploração da metodologia da CGV, detalhadas no referencial teórico, que são: estrutura de entrada-saída, análise do âmbito geográfico, análise da governança da cadeia de valor e análise do contexto institucional.

O modelo de análise das relações interfirmas entre a montadora e seus fornecedores proposto no trabalho, foi desenvolvido no formato de um questionário. Para a elaboração do questionário, utilizou-se principalmente da dimensão “análise da governança da cadeia de valor” apresentada por Geeffi e Stark (2011), com o intuito de ir além da análise da captação de valor entre as firmas. Essa dimensão também possibilita a identificação do tipo de governança realizada pela montadora em seus fornecedores e, consequentemente, a aplicação da teoria de Gereffi et. al. (2005) referente aos cinco tipos de governança das cadeias globais de valor.

As perguntas descritas no questionário foram desenvolvidas separadamente, dentro das 03 categorias principais para a identificação da governança interfirmas, que são: complexidade das transações e informações, habilidade de codificar as transações e capacidade de fornecimento. Também foi desenvolvida uma categoria denominada como “características de valor” que preocupou-se em avaliar e elaborar questionamentos que estivessem voltados para as características de valor dentro da cadeia.

A aplicação do questionário fornecerá informações relacionadas às relações interfirmas entre a montadora e seus fornecedores, a identificação da captação e transferência de valor dentro da cadeia e a interpretação do tipo de governança utilizada pela montadora sob seus fornecedores. A classificação das perguntas, separadas pelos determinantes-chave da governança, facilitará a análise do pesquisador, que poderá mais facilmente classificar as respostas com o tipo de governança exercida pela montadora.

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7 Na figura 2 apresenta-se o questionário de análise das relações interfirmas proposto no estudo:

Figura 2. Questionário para análise das relações interfimas

Dentro da categoria “complexidade das transações” as perguntas descritas têm como objetivo identificar o serviço prestado pelo fornecedor e a sua complexidade. Conforme Gereffi et. al (2005), a complexidade das transações pode ser maior (ex. entrada de novas demandas,

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8 diferenciação de produtos ou serviços, customização no atendimento, etc.) ou menor (transações simples, especificações do produto ou serviço relativamente simples e fáceis de serem transmitidas).

Dentro da categoria “codificação da informação”, as perguntas descritas estão relacionadas à capacidade do fornecedor e da montadora em transferir o conhecimento e a transação específica através da codificação das informações, independente da complexidade do processo. Quando o produto ou serviço não pode ser codificado, surge uma dependência mútua entre as partes, pois o conhecimento é tácito e de propriedade intelectual (GEREFFI ET. AL, 2005).

Dentro da categoria “capacidade de fornecimento”, as perguntas descritas estão relacionadas com a capacidade de fornecimento dos fornecedores para o atendimento dos requisitos específicos do serviço, sejam eles complexos ou codificáveis.

Segundo Gereffi et. al (2005), quando o fornecedor tem uma baixa capacidade de fornecimento em relação às especificações de produção, é necessária uma intervenção maior da empresa líder para a garantia do atendimento da produção. Com o questionário, será possível avaliar a capacidade de fornecimento e a influência da montadora sobre os fornecedores.

As perguntas desta categoria também questionam os parâmetros de governança apresentados por Humprey e Schmitz (2001). Segundo os autores, parâmetros como design, especificação do produto, definição do processo de produção (incluindo tecnologias, padrões de trabalho, entre outros) e programação da produção e Logística, são estipulados pela firma-líder, no caso, a montadora.

As perguntas desta categoria poderão verificar a atuação dos fornecedores de forma a avaliar a teoria apresentadas pelos autores. Ainda nessa categoria, as características de poder apresentadas por Henderson et. al. (2011) também serão testadas.

Segundo os autores, o poder corporativo se expressa nas relações sociais e políticas entre os agentes da rede e tem a capacidade de influenciar as decisões corporativas dos demais agentes. Diante do exposto, o questionário visa avaliar a influência da firma líder nas decisões coorporativas dos fornecedores como: a influência sobre investimentos, opções técnicas, distribuição de ganhos, decisões corporativas, entre outros.

Dentro da categoria “características de valor”, as perguntas descritas estão relacionadas às características de captura e ampliação de valor apresentadas por Henderson et. al. (2011). Segundo os autores, a criação de valor em uma firma incorporada a uma cadeia específica é possível através das possibilidades e circunstâncias de emprego, condições de trabalho e de tecnologia de produção, formas alternativas de renda, entre outros, que podem ser desfrutadas pela firma.

Os autores também mostram que a ampliação do valor entre as firmas pode ocorrer quando as principais firmas dentro da rede, incluindo as líderes, atuam com parceria e colaboração junto aos demais fornecedores e firmas menores, com o intuito de aumentar a qualidade de seus serviços ou produtos, seja por transferência de tecnologia ou de habilidades nos processos que ampliam as possibilidades de valor.

O aumento do valor depende da influência institucional sobre as relações entre os agentes, nível de cooperação, nível de transferência de tecnologia e de autonomia das firmas (HENDERSON ET. AL., 2011). Diante do exposto, observa-se no questionário perguntas que abordam essa afirmativa, com o intuito de verificar a captação de valor e a relação entre as firmas estudadas.

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9 5. Conclusões

A presente pesquisa tinha como objetivo a elaboração de um modelo para a avaliação das relações interfirmas entre uma indústria automobilística (IA) e seus fornecedores, ambos situados no pólo automotivo de Sul Fluminense/RJ. O modelo de questionário desenvolvido possibilita a identificação das relações interfirmas entre as empresas estudadas dentro da teoria das CGV desenvolvida por Gereffi et al (2005) e Gereffi & Stakr (2011), conforme proposta da pesquisa. O modelo apresentado também possibilita testar os estudos desenvolvidos por Henderson et. al. (2011) e Humphrey & Schmitz (2001), quanto às características de valor e poder exercidas pelas firmas líderes dentro da cadeia e poderá auxiliar outros pesquisadores que têm se dedicado a investigar as transformações estruturais e relacionais entre a indústria e fornecedores do ramo automotivo.

Já para o campo empírico, espera-se contribuir para a identificação das características desta relação e a aplicação da teoria da governança (Gereffi et. al. 2005) em um contexto Brasileiro, através do levantamento e análise dos dados obtidos com o modelo proposto.

Propõe-se para estudos futuros a aplicação do questionário, para a avaliação de sua eficácia e identificação de pontos de melhorias ou novos questionamentos pertinentes ao assunto.

A escolha desta teoria, para a elaboração do modelo de análise, irá contribuir também para a identificação do tipo de governança realizada pela montadora sob seus fornecedores, pois o questionário dá subsídios para que o pesquisador possa testar o modelo de análise da governança proposto por Gereffi et. al. (2005), através da avaliação dos determinantes-chave da governança.

6. Referências

Cluster Automotivo Sul Fluminense. Reunião Mensal do Cluster Automotivo de 09 de

outubro de 2013. Disponível em:

http://www.sr2.uerj.br/inovuerj/wcti_pdf/cluster_Automotivo_Sul_Fluminenses.pdf Acesso em: Junho 2017.

CASTELLS, Manuel. In: A Sociedade em Rede. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1999.

DICKEN, P. In: Questionando a globalização; Corporações transnacionais: principais acionadores e formadores da economia global. In: Mudança Global: mapeando as novas fronteiras da economia mundial. Porto Alegre: Bookman, 2010. p. 23-51; 125-157.

GEREFFI, G. The organization of buyer-driven global commodity chains: how U.S retailers shape overseas production networks. In: GEREFFI, G.; KORZENIEWICZ. Commodity chains and global capitalism. Westport, CT: Praeger, 1994, p.95-122.

GEREFFI, G. International trade and industrial upgrading in the apparel commodity chain. Journal of International Economics, n. 48, p. 37-70, 1999.

GEREFFI, G.; HUMPHREY, J.; STURGEON, T. The governance of global value chains. Review of international political economy, v. 12, n. 1, p. 78-104, 2005.

GEREFFI, G. e Fernandez-Stark, K. Global Value Chain Analysis: A Primer. Center on Globalization, Governance & Competitiveness (CGGC) Duke University. 2011.

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10 GIL, A. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Atlas, p.45-60, 1998.

HENDERSON, J. et al. Redes de produção globais e a análise do desenvolvimento econômico. Revista Pós Ciências Sociais, v. 8, n. 15, p. 143-170, 2011.

HUMPHREY, J. and SCHMITZ, H. Governance and Upgrading: linking industrial cluster and Global Value Chain Research. Ids Working Paper 120, 2001.

PEGLER, Lee. Sustainable Value Chains and Labour – Linking Chain and “Inner Drivers”. From Concepts to Practice, Working Paper Series, ISS, nr 525, ISS, ISSN 0921-0210, The Hague, 2011. Disponível em: http://repub.eur.nl/pub./25874. Acesso em: Julho 2017.

RAMALHO, J.R. Organização sindical e a instalação de novas fábricas do setor automotivo: o caso do sul fluminense. In: Rodrigues, I. (Org.). Novo sindicalismo vinte anos depois. Petrópolis: Vozes; São Paulo: educ; unitrabalho, 1999. p. 90-115.

RAMALHO, J. R. Automatización, processos produtivos e empleo. In: OEA-Oficina de Educación, Ciência e Tecnologia/Secretaria Técnica de la Conferencia Interamericana de Ministros de Trabajo–CIMT. 2005.

RAMALHO. J. R.; SANTANA, M. A. Trabalho e Desenvolvimento Regional: efeitos sociais da implantação do pólo automotivo Sul Fluminense. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006.

SILVA, E.L. DA; MENEZES, E.M.; Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertações. Florianópolis, Laboratório de Ensino a Distancia da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. 2001.

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