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O REPERTÓRIO CULTURAL COMO POTENCIALIDADE EDUCATIVA

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Academic year: 2021

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O REPERTÓRIO CULTURAL COMO POTENCIALIDADE EDUCATIVA

Cecília Doracy Ulrich Regis1; Drielly Lima Do Nascimento2; Yara Nathália Ribeiro De Lima3;

Scarlet Karen Buzzi4

¹ Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES), Santos, São Paulo, Brasil. Discente. ceciliaregis32@gmail.com

² Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES), Santos, São Paulo, Brasil. Discente. limadrielly90@gmail.com

³ Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES), Santos, São Paulo, Brasil. Discente. yaranathalia19@gmail.com

4 Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES), Santos, São Paulo, Brasil. Docente.

scarlet.buzzi@unimes.br

RESUMO

O presente artigo relaciona a formação do professor e a construção de seu Repertório Cultural, apontando as implicações dessa ligação com o processo de ensino e aprendizagem. O objetivo principal é ampliar o Repertório Cultural no currículo do Professor Pedagogo, para que este possa assumir uma prática educativa capaz de identificar o potencial cultural local partindo do contexto onde a comunidade escolar está inserida, usufruindo da diversidade cultural e individual de cada educando. Inicialmente, o texto aborda rapidamente o conceito de Cultura e, depois, estabelecemos um diálogo sobre a formação docente na construção de seu Repertório Cultural. Em seguida, compreendemos que o professor que assume uma postura investigativa e consciente valida suas práticas educativas, respeitando e acompanhando as mudanças sociais em constante transição.

Palavras-chave: Repertório Cultural; Práticas Educativas; Formação Docente. Área do conhecimento: Humanas.

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INTRODUÇÃO

Este artigo refere-se a uma pesquisa bibliográfica que teve como aporte teórico-metodológico os estudos de Paulo Freire, que já em 1967, em sua primeira obra “Educação como prática da Liberdade”, expressa a transformação que se faz necessária em um modelo da educação como agente conscientizador social. Foram construídos conhecimentos associados às pesquisas, que a princípio foram motivadas pelas práticas inovadoras de formação extracurricular do Professor José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte em Portugal, sobre o método “Aprender em Comunidade”. Que coloca o professor como sujeito ativo produtor do próprio conhecimento. Buscamos também sustentação na teoria da Arte como mediação cultural e social de Ana Mae Barbosa, que pretende um ensino mais crítico e significativo tanto para educadores quanto para educandos, abrindo caminhos para uma prática dialógica, flexível de acordo com o contexto do indivíduo.

Pensamos na formação do professor pedagogo, como uma forma que ele possa assumir a responsabilidade sobre o seu próprio saber, consciente que ampliando seus conhecimentos numa postura investigativa, ele potencializa a sua prática de ensino, se tornando assim, mais adequado às transformações sociais que decorrem das novas gerações. A construção do currículo é estabelecida a partir das raízes da Identidade Cultural do educando permeando a expansão de suas perspectivas. Queremos também identificar as possibilidades de ampliação do seu Repertório Artístico e Cultural e analisar as consequências dessa ligação no processo de ensino e aprendizagem, pois acreditamos que quanto maior o Repertório Cultural do professor, mais dinâmico se torna esse processo de aprendizagem.

Abordaremos a seguir as diversas concepções de Cultura e a sua trajetória de acompanhar as transformações sociais. Dedicamo-nos em definir o que é Identidade Cultural e qual a sua relevância na formação do indivíduo, para então, compreender a relevância que o Repertório Cultural possui sobre o potencial transformador educacional quando aplicado de modo significativo no ambiente escolar. Acreditamos que por meio dessas reflexões o professor é provocado a assumir uma

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postura autônoma, estabelecendo uma aprendizagem significativa, rompendo o paradigma da pedagogia tradicional de aulas expositivas e explorando o próprio contexto artístico e cultural local transformando em produção de conhecimento.

CULTURA

A Cultura pode ser descrita como tradições e conhecimentos de um determinado grupo social, incluindo a língua, comidas, religiões, pinturas, manias, entre outros. Por esses e outros motivos a Cultura não é estática, ela está sempre em constante mudança de acordo com os acontecimentos vividos na época. Valores que possuíam força no passado se enfraquecem no novo contexto vivido pelas novas gerações, a depender das novas necessidades que surgem, já que o mundo social também não é estático.

Cultura é o conhecimento que vivenciamos cheio de significados que um grupo conjuga e com o qual diferenciam seus componentes, as linguagens com as quais se manifestam, os identificadores e as técnicas significativas, os valores, a fé e o gosto com os quais se encaixam e a história que coletivamente se unem entre si. Desta forma, a Cultura não se confunde com as competências que alguns têm e outros não têm, nem com descrições culturais resguardadas, muitas vezes, erroneamente.

A Cultura, igual à formação ética é vasta e diversa, pode ser definida como comportamentos que são práticas sociais consideradas importantes para a identidade de um grupo, adquirida e transmitidas através de gerações, tornando-se então um termo muito pesquisado pela Antropologia, Ciência que estuda o ser humano, suas origens, evolução, desenvolvimento físico, transformação material e de hábitos.

Em o Mundo Líquido Moderno, Bauman (2012) explica sobre os seus conceitos mais populares, principalmente no que se refere a Cultura, afirma que o termo surgiu na França e está ligado com o aprendizado onde era interpretada como uma “missão proselitista” pelas classes instruídas. Logo, a aristocracia que tinha

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condições de financiar uma educação aos seus sucessores, desejava que estes possuíssem todo conhecimento que, na época, julgava-se primordial, em que o valor se encontrava mais no comportamento.

De acordo com Bauman (2012), o primeiro câmbio semântico na noção de cultura aconteceu entre as décadas 1960 e 1970, assim defende que a imediata recepção de cultura instiga a deslocação de mudança, a diminuição da fase de contrair, de câmbio e descarte. Por conseguinte, é preciso acompanhar o ritmo de transformações cada vez mais apressadas e intensas.

O conceito de Cultura torna-se então “subjetividade objetivada”2. Um esforço

para entender o modo como as ações individuais podem ter validez coletiva e como as múltiplas interações entre indivíduos podem construir “uma realidade dura e implacável”. Bauman (2012) diz que, por meio da Cultura, o homem se encontra “em um estado de revolta constante, uma revolta que é uma ação” contra o estado paralisador voltado unicamente para si próprio.

Cabe ao educador, portanto, manter-se atualizado na busca por novas práticas dedicadas em alcançar o interesse do educando, compreender que faz parte dessa sociedade em constante transformação e que sendo a escola incumbida de transformar a informação em produção de conhecimento, deve então reconhecer a importância dessa dinâmica intercultural tornando-se um importante mediador desse processo, assim quanto maior o Repertório Cultural do professor, maior o alcance dos interesses individuais do educando potencializando seu envolvimento no processo da construção da própria aprendizagem de modo significativo, partindo sempre do âmbito da comunidade escolar para a esfera global, da consciência humana para a dimensão de humanidade.

Por menor que seja uma cidade, há de se preservar suas memórias e materiais disponíveis, aguçar o olhar sobre sua diversidade cultural, perceber as características da arquitetura, artesanato, músicas e costumes, com a finalidade de firmar sua identidade para que essa não seja prejudicada ou diminuída em

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detrimento da cultura global homogênea, caindo assim, na disputa desenfreada sem fim, citada por Bauman (2012).

Para Freire (1996) cultura é tudo o que acrescenta a natureza. Sendo assim, o homem se torna produtor de sua própria cultura, das suas ideias, das suas transformações de vida. Para o professor desenvolver um trabalho voltado para a cultura dentro da sala de aula, é preciso que o mesmo atue nesse cenário, que ele seja tanto produtor de cultura, quanto também um consumidor de cultura. Dessa forma, compreendemos que essa formação cultural se torna bem mais ampla e voltada para as nossas vivências diárias nas quais estamos inseridos.

REPERTÓRIO CULTURAL

Repertório cultural compreende o nível de cultura ou a formação que um indivíduo abrange, todo o conhecimento que uma pessoa possui armazenado no decorrer de sua vida. É um dispositivo importante de ser estimulado para o processo criativo e artístico, visto que estão relacionadas às expressões de ideias, emoções e percepções. A arte nos humaniza, é essencial que os educandos tenham contato com a maior diversidade de manifestações artísticas e culturais produzidos pela comunidade onde está inserido, para que valorizem a cultura e as referências da sociedade em que vivem, promovendo maior sensação de pertencimento em relação à construção de sua história.

Tal sensação de pertencimento denomina-se “Identidade Cultural”. O termo refere-se à essência, a identificação com a cultura de um povo, é um padrão que identifica a produção cultural, linguística, artística, científica e moral de determinado grupo. Persiste em criar laços através de seus hábitos culturais tradicionais, que caracterizam as particularidades que fazem com que um povo se diferencie de outros.

A Identidade Cultural não nasce com o indivíduo, ela é construída através do convívio social ao longo da vida e também varia de acordo com as relações e

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vivências. Sendo assim, a Identidade Cultural serve para unir diferentes pessoas em torno de uma representação de sua cultura.

É no diálogo com o outro e com a cultura que cada um é constituído, desconstruído, reconstruído cotidianamente. O acesso aos bens culturais é meio de sensibilização pessoal que possibilita, aos sujeitos, apropriar-se de múltiplas linguagens, tornando-o mais aberto para a relação com o outro, favorecendo a percepção de identidade e alteridade. (LEITE, 2005, p. 23)

O ambiente escolar é onde o indivíduo desenvolve uma maior capacidade de perceber o mundo, e cresce a necessidade pela identificação dentro desse círculo. Podemos observar que as crianças se agrupam em torno de interesses em comum, alguns se reúnem em torno do futebol, outros em torno de brincadeiras como pega-pega e assim as escolhas começam a ser feitas, na adolescência os critérios de convivência se tornam mais complexos como gosto musical, estilo de roupa, livros que lê. Portanto, ao longo da nossa vida em sociedade, buscamos pertencer a grupos com algumas características em comum.

A escola deve assumir uma postura de facilitador, na qual o intercâmbio cultural seja apresentado como uma oportunidade de transitar entre múltiplas culturas, que a inter-relação cultural possa ser transformada em produção de conhecimento e administrada para que todos os grupos possam contribuir de algum modo livre de rótulos e estereótipos. O educador é todo aquele que faz parte da comunidade escolar, do diretor ao zelador e se faz necessária à inclusão desses educadores também no que se refere à preparação para a função que se aplica na realidade de chão da escola dia a dia, ampliando esse olhar para formação da comunidade como um todo pensando no educando como ser integral e sua interação social com o meio.

Segundo Paulo Freire (2020), muito se aprende com o compartilhamento das vivências, cabe às instituições de ensino disponibilizar cada vez mais recursos que promovam a interação com a arte e múltiplas culturas, tais como: visitas em museus, teatros, cinemas, filmes, música, todas as artes quanto forem possíveis, colaborando para a aprendizagem diversificada oxigenando os currículos para uma educação integral. A arte deve ser trabalhada no contexto do educando na comunidade

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escolar, e assim progressivamente até um contexto global. Certamente, a globalização possibilita uma maior troca de informações entre pessoas de grupos diferentes, é indispensável promover debates que favoreçam o respeito com quem é diferente, trabalhando a diversidade, não para uma cultura homogênea, mas sim para a valorização das múltiplas culturas.

É fundamental ultrapassar os muros da escola, o professor pedagogo que explora os recursos culturais locais e vai a campo desperta o interesse dos educandos, amplia sua potência em sentir o mundo contribuindo para seu sucesso pessoal no processo da construção da aprendizagem. A cultura precisa ser vivida, e não introduzida de forma passiva, ela precisa estar sendo construída a todo momento. Para Freire (2020, p.137) não é apenas estar no mundo, mas com ele: “A de travar relações permanentes com este mundo, que decorre pelos atos de criação e recriação.”

Segundo Pacheco (2019), a prova não prova nada no processo avaliativo, apenas provoca um ciclo vicioso da educação bancária, na qual o professor deposita o conteúdo programado e o educando memoriza objetivando uma boa nota e assim

que o professor aplica a prova, todo o conteúdo acaba sendo esquecido. Essa

metodologia não funciona porque o professor não desperta para o que o educando quer aprender e não atinge assim o entusiasmo necessário para que o indivíduo se torne sujeito ativo de sua própria aprendizagem.

Em pleno século XXl, o profissional da educação precisa reconfigurar práticas educativas, através do desenvolvimento profissional, criar condições de reformular sua cultura pessoal e profissional, é imprescindível que esteja disposto a criar condições para uma formação permeada por princípios éticos que contemple a multidimensionalidade do ser humano.

A Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017) é um documento que pretende padronizar a educação básica no Brasil, ela foi dividida em 10 competências gerais a serem desenvolvidas pelos educandos ao longo da educação de base no intuito de direcionar as escolhas curriculares nas escolas. Essas competências são conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver

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necessidades cotidianas. Numa formação para a cidadania, todas são indissociáveis e indispensáveis nas práticas educativas.

A competência de número três se refere a “valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas na produção artístico-cultural” (BRASIL, 2017, p.9)

A BNCC propõe uma valorização da fruição de diversas manifestações culturais e artísticas, desde as locais para as mundiais. Aborda também que o aluno tenha participação em práticas artísticas e culturais diversificadas estabelecendo a importância dessas manifestações tornando o aluno sujeito ativo no seu processo de aprendizagem, desenvolvendo senso crítico e isso só será capaz quando ele vivencia a sua identidade, a sua comunidade e a sua cultura.

Dessa forma, consideramos indispensável que o professor pedagogo construa o seu próprio Repertório Cultural a partir de uma postura investigativa, pois quando este percebe que seus conhecimentos potencializam sensivelmente suas práticas pedagógicas, passa a articular com maestria e segurança todas as demais competências de modo interdisciplinar, podendo introduzir uma maior variedade de ilustrações na contextualização histórica e social do âmbito regional ao global criando condições de garantir o direito à educação para todos. É difícil de imaginar que o professor possa fazer diferente se ele mesmo não se permite conhecer o diferente. Não podemos ampliar o Repertório Cultural de nossos alunos, se antes o professor não vivência, não experimenta outras formas de aprender, se ele não busca acrescentar em nada no seu repertório. Acreditamos num caminho para se fazer educação por meio das vivências que estabelecemos no mundo afora.

Frequentar os diferentes espaços de cultura e expressar-se culturalmente é direito de todo cidadão, mais do que tornar-se melhor professor/educador, todos têm o direito de aceder ao conhecimento. Sem dúvida, um sujeito com experiências mais variadas, mais plurais, terá também possibilidades de oferecer/favorecer experiências diversas às crianças com as quais convive. (LEITE, 2012, p.42-43)

A criança precisa aprender desde cedo a estimar suas vivências, sua cultura. A escola tradicional baseia-se na cultura teórica, a qual é, por muitas vezes, limitada a um conhecimento científico, porém deve ser aberta para receber uma diversidade cultural de alunos e funcionários e, ainda, reconhecer o Repertório Cultural de cada

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membro que compõe a comunidade escolar. Somos, simultaneamente, resultados e realizadores da cultura, sujeitos ativos da produção de conhecimento.

Faz-se necessário que todos conheçam sua cultura originária, é dever do professor considerar as diversas manifestações artísticas e culturais, para que, assim, os alunos possam se sentir inseridos naquela realidade e despertar seus próprios interesses culturais. O professor deve despertar no aluno sua consciência, inicialmente, individual, para que ele possa, mais tarde, ampliar-se em escala coletiva. Contudo, o mais importante é que o aluno se reconheça e comece a reproduzir essa cultura que faz parte da sua realidade, que possa expressar e atuar através das artes e das relações interculturais ampliando a sua percepção.

O professor se torna capaz de aplicar uma proposta transformadora de ensino por meio de seus conhecimentos teóricos, acrescidos de um amplo Repertório Cultural, adotando assim novas práticas educativas, respeitando e acompanhando as mudanças sociais em constante transição.

As qualidades ou virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e o que fazemos. Este esforço, o de diminuir a distância entre o discurso e a prática, é já uma dessas virtudes indispensáveis – a da coerência. Como, na verdade, posso continuar falando a respeito da dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com a minha arrogância. Como posso continuar falando em meu respeito ao educando se o testemunho que a ele dou é o da irresponsabilidade, o de quem não cumpre o seu dever, o de quem não se prepara ou se organiza para a sua prática, o de quem não luta por seus direitos e não protesta contra as injustiças? (FREIRE, 1996, p.72)

Com olhar freiriano, o Professor Pedagogo precisa aprofundar-se nos saberes e vivências de seus educandos, com humildade de ser um mediador na busca pelo conhecimento. Não se deve impor uma cultura de valores gerais e relativos à qual fomos condicionados desde os tempos da colonização.

A falta de um Repertório Cultural no currículo de formação do professor é um problema que leva à improvisação. Segundo Barbosa (2009), “não podemos conhecer a cultura de um país sem conhecer sua arte, reforçando e ampliando seu lugar no mundo. É preciso conhecer toda diversidade”. Quando reconhecemos as diferenças das possibilidades de troca de saberes, é quando aprendemos a respeitar

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a diversidade, a riqueza está na partilha entre o que eu posso ensinar e o que eu quero aprender com a cultura do outro.

Requer o desenvolvimento de competências para aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades. (BRASIL, 2017, p.13)

A leitura e o estudo científico ampliam a capacidade do professor em adquirir conhecimento para conseguir exercer a sua profissão com segurança, porém são as vivências práticas, o estudo de campo, que de fato, levam o professor ao centro da

sua aprendizagem. As práticas pedagógicas deixam de ser, então, uma mera

atividade, e parte para uma prática significativa, a qual transforma a visão do professor sobre o processo de ensino e aprendizagem.

A participação em ações educativas em consonância a processos formativos constantes, abrem oportunidades para conhecer novos territórios, participar de grupos dialógicos e manter-se atualizado sobre metodologias, novas tecnologias e interações, agentes dispositivos despertando interesse e encantamento por parte de seus educandos. Provoca-se, então, envolvimento no processo da produção de conhecimento.

As potencialidades da formação docente com base no programa de formação do Professor José Pacheco, promove uma educação em que todos possam ser agentes de transformação, leva em consideração o aprofundamento no universo artístico e cultural, tendo em vista uma prática pedagógica interdisciplinar, no formato de projetos pedagógicos construídos a partir de um tema de interesse do educando, estimulando o pesquisador instintivo desde a educação de base.

E realizar a reconfiguração de práticas escolares, através do desenvolvimento de novas competências profissionais, bem como criar condições de reelaboração da cultura pessoal e profissional. Basta que professores competentes decidam ser éticos. Isto é: que decidam criar condições de a todos garantir o direito à educação. (PACHECO, 2019, p. 20)

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Portanto, o professor deve assumir o papel de mediador, compartilhar seus valores e saberes ampliando o seu próprio repertório e visão de mundo para multiplicar em cada educando. Para tanto, é preciso que este professor seja formado por um currículo além dos muros da Universidade, que esteja disposto a explorar, pesquisar e aprender a ensinar o que vê, ensinar o que é.

Ana Mae Barbosa (2009) diz que compete aos professores que levem seus alunos aos museus, expandir em oficinas o que foi aprendido. Ver arte, consumir cultura para ler criticamente este novo repertório proposto.

Nesse panorama, o professor precisa dar o seu melhor, transitar entre as classes sociais dialogando sem distinção, possibilitando contextualizar, sem influenciar na leitura do educando, pois nas artes não há certo ou errado, não convém aceitação ou desaprovação.

É fundamental um plano de formação que compreenda vivências artísticas e culturais capacitando professores para uma postura reflexiva, possibilitando no âmbito da Universidade métodos e procedimentos impulsionadores de uma formação sensível e da cidadania crítica e consciente. Reconsiderar espaços de convivência para compartilhar experiências culturais, momentos de construção de conhecimento, provocar necessidade de expandir referências literárias, midiáticas, artísticas e culturais.

Se a escola é instrumento poderoso para formar o gosto e estimular a apreciação e o uso de bens simbólicos de forma duradoura e estável, então, é urgente uma revisão curricular da formação magisterial e políticas públicas para formação cultural e estética de docentes atuantes na educação básica do Brasil. Não uma “política de eventos”, mas uma política que crie um programa educativo a ser desenvolvido em longo prazo e abarque educação escolar, estudos superiores e formação continuada; um programa em que as instituições formadoras sejam espaços não só de produção e difusão cultural, como também – e sobretudo – de mediação cultural; um programa em que – dadas as condições atuais de trabalho e salário de professores e professoras – haja uma democracia cultural que lhes possibilite consumir outros bens culturais além dos que são oferecidos pela indústria cultural (ALMEIDA, 2007, p. 19)

A Universidade precisa inserir dentro de seu currículo a construção do Repertório Cultural na formação e o professor ao sair dessa universidade precisa encarar sua instrução como contínua e permanente dentro da sua trajetória

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profissional assumindo uma postura investigativa culminando em uma prática pedagógica eficaz, capaz de acompanhar as transformações sociais do âmbito local para o globalizado. Assumir a responsabilidade sobre a sociedade que está sendo formada consciente, crítica e reflexiva.

A participação em ações educativas em consonância a processos formativos constantes, abrem oportunidades para conhecer novos territórios, participar de grupos de dialógicos e manter-se atualizado sobre metodologias, novas tecnologias e interações, agentes dispositivos para despertar interesse e encantamento por parte de seus educandos. Provoca-se, então, envolvimento no processo da produção de conhecimento.

A leitura e o estudo científico ampliam a capacidade que favorece a compreensão e dá segurança necessária para estabelecer a consideração que a profissão do professor exige. As vivências práticas e estudo de campo, numa proposta de formação com aprofundamento das linguagens artísticas, na qual a pesquisa é o método de investigação privilegiado, leva o professor ao centro da aprendizagem. Deixa de ser, então, uma mera atividade, e parte para a ação, elevando, assim, a potência da prática ativa, a qual transformará sua visão sobre a importância de o centro do processo de ensino e aprendizagem ser o educando, é o aprender fazendo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Formação Cultural do professor é uma tarefa em longo prazo, que muitas vezes passa pelo processo de um reencontro consigo mesmo, desafiando a sua forma de se expressar no mundo. Acreditamos que quando o professor se percebe como um indivíduo responsável e capaz de aprender e estabelecer relações com a sua própria Cultura, ele toma consciência de suas limitações, tanto culturais quanto artísticas, e parte em busca de ampliar essa defasagem. O professor precisa agir como um mediador de Cultura dentro da sala de aula, promovendo aprendizagens,

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cumprido o seu papel social de formar sujeitos capazes de interferir de forma crítica no mundo em qual vivemos.

Percebeu-se que é na postura ativa investigativa que o professor pedagogo assume o comando na construção do seu próprio Repertório Cultural. Através das vivências e experiências, que o professor consegue quebrar com o paradigma da educação tradicional, provocando reflexões, rompendo barreiras hierárquicas e assumindo o papel de mediador, trabalhando a teoria e a prática, uma vez que são indissociáveis e em constante atualização. A educação precisa acompanhar as transformações sociais.

Sabemos das disponibilidades dos professores, do seu ofício, muitas vezes árduo de se ter horas e horas de trabalho na escola e em casa também. Mas precisamos criar condições para que possamos ser inseridos nos espaços culturais, tanto em nossa cidade, valorizando a Cultural Regional, quanto em outros espaços e em outras cidades. Hoje a tecnologia nos permite estar do outro lado do mundo, adquirindo conhecimento.

O setor Cultural passou a migrar para a esfera digital, abrindo um leque inimaginável de possibilidades no que se refere ao acesso à Cultura, tornando-se uma poderosa ferramenta disponível de atualização para que o professor possa potencializar seu Repertório Cultural. A partir de tecnologias que possibilitaram a digitalização de acervos museográficos, livros, filmes, músicas que proporcionam também inúmeras atividades interativas como passeios virtuais pelos corredores de galerias em exposições ao redor do mundo todo, sendo possível vivenciar experiências interativas com as mais variadas manifestações Artísticas e Culturais.

É perceptível a importância de repensar a tecnologia como instrumento de partilha do conhecimento, fonte de pesquisas de interesse do educando, projetos construídos por ele a partir do tema gerador escolhido, seguindo uma visão de mundo do seu próprio universo cultural, para fazer parte central da construção seu próprio projeto de aprendizagem.

Queremos reiterar também o papel da universidade de estar enriquecendo o Repertório Cultural de seus docentes, tratando dessas lacunas na formação, compartilhar experiências culturais, referências literárias, articular um plano de

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formação capaz de provocar tal necessidade em “aprender a aprender”, dando autonomia investigativa. A formação do professor deve ser humanizada e continuada através da experiência na prática, possibilitando reflexões sobre novas práticas coerente com as novas gerações que vem se formando dentro dessa relação entre Cultura e produção de conhecimento, descoberta, pesquisa, curiosidade e elaboração, o professor bem preparado é decisivo. Deve aprender a construir o saber, para então, ensinar a aprender.

Não é possível uma educação plena nas escolas sem um professor qualificado capaz de dialogar sobre a Cultura e a diversidade de seus educandos, assumindo uma prática interdisciplinar e significativa de uma formação integral para a cidadania. O educador torna-se mediador neste processo, favorece hábitos de pesquisa, estabelece metas e estimula a perseverança na busca pelo sucesso dos objetivos planejados. Paulo Freire (2011, p.95-101) diz que “Ninguém ensina ninguém, e que ninguém aprende sozinho, aprendemos uns com os outros mediatizados pelo mundo", desta forma o educador já não é mais aquele que educa, mas em diálogo com educando crescem juntos.

REFERÊNCIAS

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cultural de professores/as da educação básica de Uberaba e Uberlândia, MG.

Relatório de pesquisa, 2007.

BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos; COUTINHO, Rejane Galvão. Arte/Educação

como mediação cultural e social. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de cultura. 1° ed. São Paulo: Editora Zahar, 2012.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ Acesso em: 18 dez. 2020.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 46° ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2020.

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_______. Professora sim, tia, não. Cartas para quem ousa ensinar. 30° ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2020.

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GARCIA, Sandra; MEIER, Marcos. Mediação da Aprendizagem. 7° ed. Curitiba, Editora: Grafiven, 2011.

LEITE, Maria Isabel. Museus de arte: espaços de educação e cultura. In: LEITE, Maria Isabel; OSTETTO, Luciana E. (Org.) Museu, educação e cultura: encontros de crianças e professores com a arte. Campinas: Papirus, 2005.

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