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PESSOAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) NAS NARRATIVA CINEMATOGRÁFICAS

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Academic year: 2021

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PESSOAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) NAS NARRATIVA CINEMATOGRÁFICAS

Bruna Joanna Menegazzo da Silva 1

O termo Transtorno do Espectro Autista (TEA), vem sendo cada vez mais discutido e debatido na sociedade, visto a grande incidência de pessoas com tal diagnóstico. O assunto também evidencia sua relevância por meio de fatos como a aprovação da Lei nº 12.764/12, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, a conquista de direitos a exemplo da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, aprovada através da redação da Lei nº 13.977/20, sendo a mais recente conquista desse público.

Viver em uma sociedade que padroniza pessoas, ações e comportamentos, pode ser um grande desafio para pessoas com autismo, pois o ser diferente pode gerar dificuldades, que no campo educacional vem sendo discutidas. Sob esse olhar, Silva (2014, p. 73), esclarece que “Na perspectiva da diversidade, a diferença e a identidade tendem a ser naturalizadas, cristalizadas, essencializadas. São tomadas como dados ou fatos da vida social [...]”.

Importante destacar que dentre o público que constitui o TEA, este estudo prioriza pessoas com autismo. Dessa forma, os termos “autismo” ou “autista” serão adotados, especialmente quando referem a contextos específicos, coexistindo com o termo TEA.

A Política Nacional de Educação Especial, bem como o recente Decreto 10.502/20, entendem a pessoa com transtornos globais do desenvolvimento, aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluindo nesse grupo estudantes com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Este campo ainda é muito marcado pelo olhar clínico, e nesta perspectiva a própria Lei 12.624/12, admite uma visão clínica, assim como no Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (5 ª ed.) – DSM -5, o qual classifica o TEA como um transtorno neurológico caracterizado por

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comprometimento da interação social, comunicação verbal e não verbal e comportamento restrito e repetitivo. (DSM-5, 2014).

Este transtorno afeta muitas pessoas, que hoje graças a pesquisas nas diferentes áreas são diagnosticadas com maior amplitude. Contudo, mesmo com tantas pesquisas voltadas à compreensão das pessoas com TEA, ainda há muitas dúvidas envolvendo esse assunto, o que torna suas definições insuficientes para englobar as diversidades que o TEA apresenta, pois cada indivíduo é único, com características próprias, o que evidencia a impossibilidade de uma classificação generalizante.

Em meio a esse cenário a mídia tem sido grande responsável, em destacar as pessoas com TEA em vários meios de comunicação, gerando maior interesse da população em se apropriar de informações a respeito do assunto. A citação de Rios et al. (2015, p. 326) em artigo intitulado “Da invisibilidade à epidemia: a construção narrativa do autismo na mídia

impressa brasileira”, vem ratificar essa afirmativa, quando diz que é possível compreender

que “não foi a epidemia que fez o autismo visível, mas a visibilidade do autismo que fez a epidemia”. A exemplo disso temos que, tanto na mídia imprensa quanto na audiovisual o tema do TEA está cada vez mais presente e na ficção é possível observar crescentes exemplos de personagens de livros, seriados, na dramaturgia, em filmes, entre outros meios de telecomunicação. (RIOS et al., 2015).

Dessa forma, questionamentos que expressam diálogo com esse tema, movem o interesse desta pesquisa, evidenciando os discursos cinematográficos que criam efeitos de verdades acerca das pessoas com Transtorno do Espectro Autista. Rios et al. (2015), destacam que um problema, quando é tido em um sentido mais amplo, pode apenas informar seus leitores acerca do assunto, mas também, pode incluir um juízo de valor a respeito desse mesmo assunto. Ou seja, “ [...] seria então o problema que torna a narrativa necessária como uma forma de regra da realidade, que por merecimento deve ser relatada e compartilhada pela mídia, gerando uma ideia de que poderia interessar aos seus leitores, ou que também possa interessar a seus telespectadores, em se tratando da mídia televisiva”. (RIOS et al., 2015, p. 326).

Partindo desse entendimento, este trabalho, que está relacionado à pesquisa para a dissertação de Mestrado em Educação, visa compreender como o discurso cinematográfico

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cria efeitos de verdade acerca das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Dessa forma o problema de pesquisa que orienta este trabalho assim se constitui: Como as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são narradas nos discursos cinematográficos e como esses discursos produzem efeitos de verdade acerca desse público?

Do problema de pesquisa derivam as seguintes perguntas de estudo: Como historicamente as pessoas com TEA foram apresentadas? Como se caracterizam as pessoas com Transtorno do Espectro Autista? Como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem ganhado visibilidade social nos últimos anos? Como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é apresentado no discurso cinematográfico? Que efeitos de verdade são produzidos pelos discursos cinematográficos acerca de pessoas com Transtorno do Espectro Autista TEA? Assim, o objetivo da pesquisa é compreender como o discurso cinematográfico cria efeitos de verdade acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O estudo apresenta caráter qualitativo, seguindo a perspectiva pós-estruturalista, em que Meyer e Paraíso (2014, p. 17), contribuem dizendo que: “ [...] Trata-se de caminhos a percorrer, de percursos a trilhar, de trajetos a realizar, de formas que sempre têm por base um conteúdo, uma perspectiva ou uma teoria ”. “[...] Uma metodologia de pesquisa é pedagógica, portanto, porque se trata de uma condução: como conduzo ou conduzimos nossa pesquisa”.

Meyer e Paraíso (2014, p. 31), contribuem dizendo que: “[...] trabalhamos em nossas pesquisas pós-críticas com o pressuposto de que o sujeito é um efeito das linguagens, dos discursos, dos textos, das representações, das enunciações, dos modos de subjetivação, dos modos de endereçamentos, das relações de poder-saber.”

A pesquisa se ampara na etnografia de tela, para a geração das materialidades empíricas, e, por meio da análise de três (3) filmes, os quais apresentam a temática do autismo como centro do enredo. Os objetos de análise foram selecionados por critérios de agrupamentos temáticos que poderão sofrer mudanças no decorrer da pesquisa. Tal objeto de análise foi escolhido dentre nove (9) filmes, que foram selecionados e abordam pessoas com autismo como elemento central.

O termo etnografia de tela para Rial (2005), pode ser explicado por ser uma metodologia que transporta para o estudo do texto da mídia, e acontece por meio de

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procedimentos próprios da pesquisa antropológica, como a imersão do pesquisador no campo de estudo, ou a observação de forma sistemática, também os registros nos cadernos, entre outros, aliando a isso, as ferramentas advindas da crítica cinematográfica, que podem ser representadas como a análise de planos, com a movimentação das câmeras, as montagens, linguagens, etc.

Os filmes estão em processo de análise, destacando as narrativas mais relevantes para a pesquisa, e, por meio da perspectiva da Análise do Discurso, amparada nas leituras de Michel Foucault e Rosa Maria Bueno Fischer, busco a sustentação nas interlocuções entre o objeto da presente pesquisa e as compreensões das noções foucaultianas de discurso e verdade, com o intuito de responder o problema de pesquisa apresentado, bem como as questões que regem esse estudo.

Nessa perspectiva, evidencio uma citação de Rosa Maria Fischer, quando afirma que, no estudo de um discurso “[...] precisamos antes de tudo recusar as explicações unívocas, as fáceis interpretações e igualmente a busca insistente do sentido último ou do sentido oculto das coisas práticas bastante comuns quando se fala em fazer o estudo de um discurso.” (FISCHER, 2001, p. 198).

Foucault (2019, p.52), contribui nesse sentido, quando, trás a noção de verdade, em que o autor explica que “A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder”. E continua dizendo que cada sociedade tem seu regime de verdade e “[...] os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; [...]”. (FOUCAULT, 2019, p. 52)

É com base nesses entendimentos que esse trabalho se justifica, e por meio dessas construções que se debruçará na linha condutora do estudo, almejando compreender as representações existentes no discurso cinematográfico acerca das pessoas com transtorno do espectro autista. Por se tratar de um estudo ainda em andamento, o presente trabalho apresenta resultados parciais da pesquisa.

A partir da análise inicial dos (9) filmes, foram estabelecidos agrupamentos temáticos para a observação e destaque das unidades de sentido em cada mídia analisada, ou

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seja, foram apontados os critérios que se apresentavam como destaques principais em cada narrativa fílmica, acerca das características que eram evidenciadas nas pessoas com TEA. Por meio da análise mais aprofundada, puderam ser destacadas as seguintes unidades de sentido: a

presença de apego a rotinas, a imprevisibilidade, o comportamento social atípico, a ausência ou restrição de comunicação verbal, a dificuldade em demonstrar sentimentos, a hipersensibilidade sensorial e as grandes habilidades cognitivas.

Com esses destaques foi possível chegar à seleção dos seguintes filmes: Mary e

Max: uma amizade diferente, Tão forte e tão perto e Farol das orcas. A seleção destes filmes

ocorreu pela proximidade e semelhança das características que foram apresentadas nos filmes, podendo ser elencadas entre elas: 1) o apego a rotinas; 2) a dificuldade em lidar com imprevisibilidades; 3) o comportamento social restritivo e atípico; 4) a comunicação verbal restrita; 5) a dificuldade em demostrar os sentimentos; 6) a hipersensibilidade sensorial; e 7) a presença de alguma habilidade extraordinária.

O estudo até o presente momento apresenta conclusões parciais, e delas é possível destacar elementos importantes para apontar como as pessoas com autismo são apresentadas pela mídia, que de forma sensacionalista evidencia e generaliza o lado incrível das pessoas com TEA, gerando uma falsa impressão ao público telespectador, de que, as pessoas com autismo, de maneira geral, possuem um lado exótico, que sobressalta aos olhos, demonstrando habilidades incríveis, sendo dotados de uma genialidade fantástica, mascarando suas maiores dificuldades, gerando uma falsa sensação de que estas dificuldades são ínfimas se comparadas as suas genialidades apresentadas. No entanto, o que os manuais da área clínica nos mostram, bem como os conceitos trazidos pela área da educação, é de que não há a presença da genialidade como uma das características predominantes do TEA.

A indústria cinematográfica demonstra através de suas produções, que a pessoa com autismo é genial do ponto de vista de habilidades extraordinárias apresentadas, como a matemática, memorização, habilidades esportivas, construções ou montagens de objetos, etc. Essa imagem genial construída, gera ibope na indústria cinematográfica, mostra aquilo que o publico consumidor quer assistir, ampliando o consumo por parte dos telespectadores.

No entanto, o que se percebe, é que as produções midiáticas desenvolvem um poder quando usam da articulação de discursos a respeito do TEA, disseminando verdades

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construídas através de informações que gerem maior visibilidade, maquiando dados e articulando saberes a favor de suas produções. No cinema, isso pode ser visualizado, quando personagens são construídos com uma visão romantizada, na intenção de sensibilizar o público criando uma espécie de falsa visão, construindo efeitos de verdade acerca do TEA, pois, por vezes, essas produções mascaram realidades vividas, que são de difícil enfrentamento, pelas famílias e pelas pessoas com o transtorno.

PALAVRAS-CHAVE: Transtorno do Espectro Autista. Discurso cinematográfico. Efeitos de verdade.

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.

BRASIL. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012 “Lei Berenice Piana” . Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3o do art. 98 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 dez. 2012, seção I, p. 2.

BRASIL. Lei nº 13.977, de 8 de janeiro de 2020 “Lei Romeo Mion”. Altera a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012 (Lei Berenice Piana), e a Lei nº 9.265, de 12 de fevereiro de 1996, para instituir a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), e dá outras providências.

BRASIL. Decreto n 10.502, de 30 de setembro de 2020. Institui a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 01 out. 2020, seção I, p. 6.

FISCHER, Rosa. Maria. B. Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de pesquisa, Porto Alegre: UFRGS, n. 114, p. 197-223, nov. 2001.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 9ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019. ISBN: 978-85-7753-296-4

MEYER, Dagmar Estermenn; PARAÍSO, Marlucy Alves. Metodologias de Pesquisa Pós-Críticas em Educação. 2.ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014.

RIAL, C. S. Mídia e Sexualidade: breve panorama dos estudos de mídia. In: GROSSI, Miriam et al. (Org.) Movimentos sociais, educação e sexualidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.p.107-136.

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RIOS, C; ORTEGA, F; ZORZANELLI, R; NASCIMENTO, LF. Da invisibilidade à epidemia: a construção narrativa do autismo na mídia impressa brasileira. Interface (Botucatu). 2015; 19(53):325-35.

SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org); HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 15 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 73-102.

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