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OS RASTROS POÉTICOS DO SERTÃO: A EXPRESSÃO DO REGIONAL NOS POEMAS CATEDRAL E PORTO SUBMERSO, DOS TOCANTINENSES CÉLIO PEDREIRA E PEDRO TIERRA.

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Academic year: 2021

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OS RASTROS POÉTICOS DO SERTÃO: A EXPRESSÃO DO REGIONAL

NOS POEMAS CATEDRAL E PORTO SUBMERSO, DOS TOCANTINENSES

CÉLIO PEDREIRA E PEDRO TIERRA.

Nome do Aluno1: Kárittas Alves Barbosa

Nome do Orientador2: Viviane Cristina Oliveira

RESUMO

Esse trabalho visa apresentar algumas reflexões geradas a partir do projeto de pesquisa, amparado pela UFT (bolsa Pibic), sobre a importância de traços regionais nos poemas Catedral, de Célio Pedreira e Elizeu Lira, e Porto Submerso, de Pedro Tierra. O regional, como menciona Antonio Candido, estaria intimamente ligado à descrição de tipos e fatos enquadrados no campo ou ainda, no sertão. Considerando que o antigo norte goiano, atualmente Tocantins, era considerado o sertão de Goiás e, como tal, era representado na literatura de autores goianos, como Bernardo Élis, pensar os traços desse local na literatura que se produz hoje no Estado se torna relevante e pertinente não somente em termos estéticos, mas culturais, sociais e políticos. Foi nesse sentido que buscamos identificar a importância do regionalismo, dos traços regionais presentes nas duas obras, nas quais os autores recompõem fragmentos desse espaço considerado sertão, rememorando fatos e tradições que constituem uma memória coletiva. Neles, a catedral e o rio tornam-se metáfora e caminho para acessar os múltiplos sentidos de um sertão que recria poeticamente sua identidade e história. Para compor a pesquisa foram realizadas leituras de textos sobre os autores das obras e textos sobre o regionalismo. Após as análises feitas, percebe-se que o regionalismo pode ser compreendido de várias maneiras, quanto ao assunto e quanto à linguagem. Apesar deste caráter amplo, o regionalismo é uma forma literária que problematiza a realidade local, algo importante para regiões como o Tocantins em que ainda se busca uma identidade cultural.

Palavras-chave:Identidade cultural; Regionalismo; Sertão.

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Aluno do Curso de Letras; Campus de Porto Nacional/To; e-mail:kakaespanhol@hotmail.com “PIBIC/UFT”.

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa pautou-se na reflexão sobre a importância da literatura regional, especialmente da literatura realizada no Tocantins, em que os traços regionais são intensos, perceptíveis na composição de obras como as enfocadas neste estudo, Catedral, de Célio Pedreira e participação de Elizeu Lira, e Porto Submerso de Pedro Tierra.

Na composição da pesquisa foram feitas análises dos poemas e diversas leituras, pelas quais traçamos reflexões sobre o regionalismo como vertente fundamental de nossa literatura brasileira no processo de formação de uma identidade cultural. Nesse sentido, foram tecidas reflexões sobre o regionalismo que se apresenta nas referidas obras tocantinenses, obras em que percebemos o esboço de uma identidade regional.

De acordo com vários autores lidos, foi observado que o regionalismo suscita muitas discussões em relação à sua definição. O regionalismo, conforme Afrânio Coutinho (1986), está ligado à existência na obra de arte de peculiaridades locais das quais retira sua substância real, bem como os traços que irão distingui-la de outras obras. Para Antonio Candido, o regionalismo, como tendência fundamental de nossa prosa, pode ser compreendido em três faces: o regionalismo pitoresco, representado pela literatura de alguns românticos; o regionalismo crítico, germinado da contestação política da década de 30, e o super-regionalismo, encarnado pela prosa de Guimarães Rosa. O regionalismo em suas diversas faces conteria a representação de tipos humanos, a descrição das particularidades de cada região, a problematização da condição humana a partir de seu pertencimento a um local específico.

Apesar de possuir uma rica representação a partir de produções de autores consagrados, como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, o regionalismo é, às vezes, considerado via estreita, em que se confinariam obras menores, restritas a particularidades. Assim, um dos espaços privilegiados da literatura regional, o sertão, é visto como interior desconhecido, sinônimo de mato, terra distante. O atual Tocantins emancipado era considerado sertão goiano, um espaço pouco desenvolvido economicamente, buscando ainda hoje, a afirmação de uma identidade cultural que nada deve aos centros culturais de poder.

Os autores tocantinenses das obras em estudo alinham-se a essa tendência de afirmação de uma identidade cultural, vislumbrada a partir de fragmentos de uma história e de uma memória que não é somente individual, mas coletiva: a história da Catedral e as memórias do rio. A partir do estudo destes elementos, foi possível perceber que o espaço reconstruído poeticamente nas referidas obras não é a via estreita das particularidades, mas a

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via que se abre para a universalidade de temas que dizem respeito ao homem de qualquer tempo e lugar. Bem sucedidos esteticamente, os poemas cumprem a função de obras de arte, sem deixar de lado a face social e política que costumeiramente dão vida às obras regionalistas.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização do projeto foram feitas leituras de textos literários e teóricos. Por ser uma pesquisa teórica na área de literatura, de caráter bibliográfico, não foi realizada nenhuma atividade fora do câmpus, como entrevistas e estudo de campo.

Foram lidos textos sobre o próprio fazer poético, de teoria da lírica, tais como Poesia Resistência, de Alfredo Bosi; O Estudo Analítico do Poema, de Antonio Candido e textos dedicados à discussão do regionalismo, como A Formação da Literatura Brasileira e o Regionalismo, de Juliana Santini, Anotações à margem do regionalismo de Walnice Nogueira Galvão, Do Beco ao Belo:dez teses sobre o regionalismo na literatura, de Ligia Chiappini, Provincianismo e Literatura Mundial, de Luís Bueno, A literatura no Tocantins de Ana Braga, Porto Submerso: O des-encantar do Rio, de Olívia Aparecida.

Foram realizadas pesquisas em bibliotecas, sites, além disso, foram buscados textos dedicados às obras de Pedro Tierra e Célio Pedreira, bem como dedicados à biografia dos autores. Foram realizados encontros quinzenais com leituras e discussão dos textos literários e teóricos. Foi elaborado e entregue em Março o relatório parcial da pesquisa. Após recebimento do parecer, foram acatadas as sugestões feitas e, nesse sentido, foram acrescentadas leituras e discussões sobre o regionalismo em termos locais e universais.

Os textos teóricos, e especialmente os poemas estudados, foram lidos e discutidos passo a passo, de forma a refletir as marcas e expressões do regionalismo nas obras, indícios de sua identidade cultural. Fez parte do trajeto metodológico a participação de eventos como ouvinte e como participante em apresentação oral.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do estudo das obras Catedral e Porto Submerso, foi possível perceber que a representação de uma identidade regional não exclui o caráter universal e atual das mesmas. Os poetas, na composição dos seus versos, atravessam a cidade recriando poeticamente lugares marcantes e históricos da cidade natal. Catedral, de Célio Pedreira e participação de

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Elizeu Lira, é um livro em que os autores fazem uma homenagem ao maior patrimônio histórico da cidade, a “Catedral das Mercês”, de Porto Nacional.

Os versos de Catedral vêm com marcas do regionalismo dessa terra firme e sofrida. No poema III lemos “Enxuga/ o sol nos ombros/ quem labora/ a pedra” (PEDREIRA, Célio; LIRA, Elizeu, 2003, p19); nesse verso o eu- lírico sugere o trabalhador a enxugar a sua dor, o seu sofrimento; um homem lutador do sertão que tem como material de trabalho a pedra. Simbolicamente, a pedra sugere aspereza, barreira a ser vencida; nos versos, é uma dificuldade no caminho do construtor, que procura trabalhar com a pedra, fazendo de um elemento de dureza um monumento histórico que é hoje a bela Catedral, lugar para o consolo de orações.

A pedra tem seu lado poético: a pedra, justamente por ser imagem, tem o poder de construir, como criação poética, um monumento e uma história para o homem do sertão. “Acredita/que é verbo/a pedra/pois encerra/tempo presente/e passado” (PEDREIRA, Célio; LIRA, Elizeu, 2003, p.20). Expressando o sertão, ou ainda o encarnando, a pedra torna-se no poema verbo, palavras, o que fica sugerido pela forma curta, concisa e áspera dos versos. A obra Porto Submerso é composta por 43 poemas e vai articular a saudade, as lembranças, a memória dessa terra considerada um sertão esquecido. No seu poema Nascentes, o eu lírico sugere o sertão como um “quintal de esquecidos”, (TIERRA, 2005, p.9), ou seja, um chão esquecido, visto por muitos como um espaço de tristeza, miséria, onde um eu lírico solitário passa a tecer suas memórias, criando para sua companhia o personagem Mastruz, o qual ganha corpo a partir de fragmentos de objetos, alguns tipicamente regionais.

No decorrer dos seus versos, o autor vai mostrar que o sertão não é só algo negativo, e sim algo que traz recordações positivas, como um sertão calmo, prazeroso para se lembrar do passado em que moram também belezas. O próprio título do livro nos demonstra essa beleza – “O Porto Submerso”; as águas do Rio Tocantins que vão e vem são como as lembranças que vão mais deixam marcas de saudades. A partir da leitura dos poemas, percebemos que o regionalismo não é só seca, miséria, tristeza e sofrimento, como alguns críticos tendem a frisar em relação ao regional; o regionalismo é também um marco das lembranças que merecem ser recordadas e, de fato, reconhecidas por homens presentes em cada região. Com os estudos e leituras feitas, afirmamos que as duas obras em estudo não ficam presas na cor local, na paisagem e nas suas particularidades. O regionalismo nas obras vai muito além do localismo, uma vez que atinge o universal.

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LITERATURA CITADA

BRAGA, Ana. A Literatura no Tocantins. Disponível em http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=11976&cat=Ensaios&vinda=S.

BOSI, Alfredo. O Ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

BUENO, Luís. Uma história do romance de 30. São Paulo: Edusp; Campinas: Editora da UNICAMP, 2006.

BUENO, Luís. Provincianismo e Literatura Mundial. In SALES, Germana, SOUZA, Roberto Acízelo de. (org). Literatura Brasileira: Região, Nação, Globalização. Campinas: Pontes Editores, 2013.

CANDIDO, Antonio.Formação da literatura brasileira.São Paulo: Cultrix,1989.

CANDIDO, Antonio. O estudo analítico do poema. São Paulo: Humanitas,1996.

CHIAPPINI, Lígia. Do Beco ao Belo: dez teses sobre o Regionalismo na Literatura. Disponível em http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewArticle/1989.

CRISTÓVÃO, Fernando. A transfiguração da realidade sertaneja e a sua passagem a mito: A Divina Comédia do Sertão. Revista USP, n.20-Dossiê Canudos, 1993-1994, p.43-53. GALVÃO,Walnice Nogueira. Anotações à margem do regionalismo. Revista Literatura e Sociedade. São Paulo, v.5, 2000, p.44-55.

PEDREIRA, Célio; LIRA, Elizeu. Um poema CATEDRAL uma canção. Porto Nacional: Pote, 2003.

SANTINI, Juliana. A formação da literatura brasileira e o regionalismo. Revista de Literatura Brasileira, Volume 20, n. 1 . jan/jun 2011, p. 169. Faculdade de Letras, UFMG, Belo Horizonte.

SILVA, Olívia Aparecida. Porto Submerso:O des-encantar do rio. In MAGALHÃES, Hilda Gomes Dutra.Leituras de textos de Autores Tocantinenses.Goiânia:Kelps, 2008, p.79.

TIERRA, Pedro. O Porto Submerso. Brasília, DF: Editora Brisa, 2005.

VICENTINI, Albertina. Regionalismo literário e sentidos do sertão. Revista Sociedade e Cultura, v. 10, n. 2, JUL./DEZ. 2007, p. 187-196.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha orientadora Viviane Cristina Oliveira pela paciência que demonstrou para a composição do projeto. Agradeço ao pibic pela oportunidade, pela qual pude estar adquirindo novos conhecimentos.

Referências

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