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JUSTIÇA LENTA, JUSTIÇA DISTANTE, JUSTIÇA CARA. A - Especialização para qualidade da Justiça e reforma do mapa judiciário?

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Academic year: 2021

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JUSTIÇA LENTA, JUSTIÇA DISTANTE, JUSTIÇA CARA…

A - Especialização para qualidade da Justiça e reforma do mapa judiciário?

A realidade tornou-se demasiado complexa para que a dominemos por completo, tornando a especialização judiciária inevitável: há demasiadas lacunas em novas áreas como ciência, informática, etc…

Porém, mesmo acreditando na necessidade de especialização como forma de promover a qualidade judiciária, é inegável que a mesma tem sido potenciada e empolada:

A – Desde logo, se existem temas e realidades novas, sabemos também que existem muitas

outras que deixam de existir.

“Águas”, “limites de propriedade”, “servidões”, são meros ex. de áreas do Direito que reclamam cada vez menos tempo judiciário. As regras e hábitos hoje existentes (de ordenamento imobiliário e registo, p. ex.) minimizaram tais problemas. Os institutos e realidades jurídicas assim como nascem… também morrem.

B - Por outro lado, assistimos hodiernamente a um aumento desmedido de produção

legislativa geradora de instabilidade. Vemos, não raro, como as Leis se tornaram fonte de “realidade”.

De facto, nem toda a produção legislativa tem nascido de novos institutos e realidades juridicamente relevantes. Ao invés, tem-se centrado consecutivamente nos mesmos campos

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habituais: trabalho, fiscalidade, obrigações e regras de processo. Ano após ano mudamos a forma de ser e pensar o Direito e a Justiça e sempre com a justificação de que a própria realidade muda continuamente. Ora, a realidade muda, é certo. Mas não tão rapidamente… Na verdade, são as próprias alterações legislativas que obrigam às mudanças societárias, gerando instabilidade. O que se verifica é que essa produção legislativa advém unicamente de opções governativas e políticas que se teimam consecutivamente em alterar, sem pensar nas consequências, no tempo e esforço dispendidos na adaptação quer dos agentes judiciários, quer dos agentes económicos, quer ainda dos próprios cidadãos que, não raro, não conseguem acompanhar, planear e realizar estratégias e projectos por desconhecerem continuamente as “regras do jogo”.

Por outras palavras, a génese da necessidade da especialização está sobretudo na excessiva produção legislativa, fonte de instabilidade, desconfiança dos agentes judiciários e dos próprios cidadãos e causa da complexidade dos campos normativos.

C – Tendo ainda presentes os dados estatísticos do relatório de 2006, vemos ainda que a

grande maioria das pendências estão relacionadas com “Dívidas”.

Desde logo, não compreendemos como se possa dar a mesma importância aos n.os de pendências sem distinção da natureza processual. Como comparar o tempo dispendido com 1 injunção ou 1 execução (que, hoje, mal “passam” pelo Juiz) com 1 acção de responsabilidade civil extracontratual? Este é apenas um dos típicos erros de análise estatística que minarão qualquer organização judiciária.

Na verdade, a própria estatística estará até desactualizada, já que vimos assistindo (principalmente nos 2 últimos anos, fruto do fenómeno do crédito “mal-parado”) a um autêntico “boom” de procura da justiça com litígios ligados às Dívidas, devendo já aproximar-se dos 75%.

Por outras palavras, o próprio incremento da procura judiciária não reclama especialização porque o “tema” é quase sempre o mesmo: dívidas.

Por estes (e outros) motivos, ver na necessidade de especialização, uma justificação para uma reforma territorial é desvirtuar a realidade, é inverter as premissas e chegar a conclusões erradas.

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- promoção do encontro de profissionais (física e/ou não física) para troca aberta de ideias tendo em vista a resolução facilitada de problemas e a uniformização de procedimentos e jurisprudência.

- união das varas, juízos e juízos de pequena instância: Ainda que os procedimentos sejam diferentes, a matéria utilizada para resolver um processo grande também se deve aplicar aos processos pequenos: especialização pela natureza e não pelo mero valor processual.

E - Não se vê como pode a especialização da Justiça impedir a sua proximidade.

Não apenas porque um modelo baseado no afastamento destrói a confiança dos cidadãos na justiça. Não apenas porque a especialização não precisa ser levada a extremos, bastando que se produzam menos leis e melhores agentes judiciários e não apenas porque a maioria das pendências, afinal, resumem-se ao mesmo tema…:

A especialização deve operar-se em cada comarca, dentro de cada núcleo de produção judicial. Cada comarca deverá providenciar essa especialização.

Tal opção não será impossível nem economicamente inviável, se considerarmos os pontos já analisados. Não, se enveredarmos por uma reforma que verdadeiramente maximize os recursos de forma racional mas sem afastar a Justiça dos cidadãos.

Concentração de tribunais e racionalização de recursos.

Outro ponto que tem justificado a reforma é a concentração de Tribunais para assim se racionalizem recursos. Mais uma vez, um falso problema:

A - Desde logo, porque afastar a Justiça do cidadão é anular a própria Justiça.

B - Por outro lado, a solução para se poupar recursos não é criar um Tribunal maior. Não

esqueçamos que construir, equipar, manter um tribunal grande é excessivamente caro (tão caro que até, nos tempos “troikanos” em que hoje vivemos, não nos poderemos dar sequer ao luxo de aplicar tal tipo de reforma).

Um moderno “pólo de Justiça” não gasta menos do que os Tribunais que ele visa substituir. Os Tribunais não são Hospitais. Não reclamam máquinas de diagnóstico e tratamento dispendiosas. Um tribunal resume-se a recursos humanos (juízes e funcionários) e a um

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conjunto de computadores, fotocopiadoras e material de escritório… Não se pense que a racionalização desses recursos humanos passa indiscutivelmente pela sua concentração. Na verdade, se um tribunal pequeno precisa de, por hipótese, 1 funcionário para cada 500 processos, um grande, com 2000 processos precisará certamente de 4 funcionários… Onde está a maximização?

De facto, a racionalização de recursos deve ser aprofundada… mas deverá ser realizada em cada Tribunal: pequeno ou grande.

C - Por outro lado, além da concentração judiciária não produzir benefício real como factor

de maximização de recursos, não poderemos esquecer o enorme prejuízo económico (além de confiança) para o cidadão comum.

Se é verdade que Portugal está cada vez mais próximo em tempo de deslocação, não poderemos esquecer os acrescidos gastos que essa deslocação acarreta (tempo, paciência, combustível, portagens, etc…): quer para aquele que procura a Justiça (Autor ou Réu), quer para aqueles que indirectamente participam no processo judiciário (testemunhas, peritos), quer ainda para os próprios mandatários que se vêem obrigados a maiores e mais caras deslocações, igualmente imputadas aos clientes/cidadãos.

CONCLUSÕES

1ª - A especialização deverá ser fomentada mas não empolada. Devemos produzir menos leis, apostar numa preparação técnica verdadeiramente eficaz de todos os agentes judiciários e cuidar devidamente as questões de Dívidas: o único campo que hoje verdadeiramente reclama especialização e celeridade.

2ª – Necessitamos de um sistema judiciário com menos leis e melhores agentes, reduzindo assim a necessidade de especialização.

3ª - A racionalização do sistema judiciário não pode basear-se num modelo de afastamento da Justiça dos cidadãos por isso anular a função da Justiça; por não ser verdade que um tribunal centralizado (grande) gaste menos do que vários Tribunais menores; por encarecer brutalmente a já elevada despesa judicial que os cidadãos têm

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com a Justiça (tempo e custo de deslocações)…

4ª – A racionalização deve procurar-se de outras formas: renegociação de contratos de fornecedores e cálculos precisos de despesas; revisão e recolocação de recursos humanos; recolocação de Tribunais em locais arrendados para outros locais próximos que sejam do estado e/ou município; eliminação de procedimentos processuais inúteis…

Pedro Ferreira – Advogado/Del. Vila do Conde

Largo de São Domingos, 14 – 1º 1169-060 LISBOA-PORTUGAL Tel. +351 21 8823556 | + 351 236 209 650

congressoadvogados@cg.oa.pt

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