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PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, GESTÃO DEMOCRÁTICA E A FUNÇÃO POLÍTICA E SOCIAL DA ESCOLA

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Academic year: 2021

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FUNÇÃO POLÍTICA E SOCIAL DA ESCOLA

PARRA, Silvia1 - SEEDPR

Grupo de Trabalho - Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação. Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

A organização do trabalho educativo é fundamental para o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem. O caráter político do ato de ensinar e de aprender se manifesta nas relações que se materializam a partir do projeto político pedagógico. O projeto político pedagógico é a expressão da sociedade e das relações sociais e políticas que, a partir do contexto social específico determina a organização do trabalho educativo. Os elementos constitutivos e articuladores que estruturam o trabalho educativo e o próprio projeto político pedagógico têm por base e referência a compreensão de que a educação é um processo que se constrói historicamente dentro de um contexto ampliado das relações sociais. Esse processo apresenta-se como expressão das contradições que a própria sociedade produz no âmbito de seu desenvolvimento histórico, gestão da educação tem uma função social e política. A gestão da educação refere-se aos mecanismos que, fundamentados numa política de estado, governo e de sociedade materializam o desenvolvimento do processo educativo. Discute-se o caráter social e político desse processo, que se articula ao desenvolvimento e materialização da gestão democrática que, no âmbito deste trabalho de comunicação, tem no projeto político pedagógico a possibilidade de efetivação do trabalho educativo. O sentido do trabalho educativo e sua articulação com o projeto político pedagógico estão fundamentados nas relações sociais e políticas da sociedade capitalista. É importante destacar que o projeto político pedagógico é construído a partir das relações sociais e políticas que exigem do trabalho educativo uma prática docente orientada pela gestão democrática. É nesse aspecto que a função social e política do trabalho educativo e do projeto político pedagógico são consideradas como fundamentais para a efetivação da gestão democrática.

Palavras-chave: Educação. Gestão democrática. Projeto político pedagógico. Política. Social.

1 Mestre e Especialista em Educação: Universidade Federal do Paraná. Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná (SEED). Professora do Ensino Superior e Pós graduação em Educação - E-mail: silviaparra@seed.pr.gov.br.

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Introdução

A organização do trabalho educativo exige da gestão escolar uma ampla estrutura que envolve diversos processos internos e externos da escola. Ao mesmo tempo em que se evidencia a necessidade de se estabelecer uma relação com o contexto social e político da sociedade, no aspecto interno da instituição escolar e sua gestão, deve-se reconhecer o projeto político pedagógico como instrumento do coletivo da comunidade educacional. Nesse sentido os mecanismos de participação são imprescindíveis para essa construção, tendo destaque o projeto político pedagógico.

O debate sobre o projeto político pedagógico tem se fundamentado na organização do trabalho educativo, dessa forma há que se considerar a natureza da sociedade capitalista naquilo que se refere ao processo de desenvolvimento das relações sociais e políticas.

Construir o projeto político-pedagógico para a instituição educativa significa enfrentar o desafio da inovação emancipatória ou edificante, tanto na forma de organizar o processo de trabalho pedagógico como na gestão que é exercida pelos interessados, o que implica o repensar da estrutura de poder. (VEIGA, 2003, p.277)

Considera-se que a função da educação escolar deve ser estruturada na superação das relações de poder presentes na sociedade de classes, isso quer dizer que a natureza do projeto político pedagógico está no seu caráter emancipatório. Vincula-se a educação escolar aos processos de transformação social que compreendem a apropriação de um conhecimento e de uma prática pedagógica estruturada numa perspectiva crítica. A perspectiva crítica refere-se ao fato de que os estudos e análises que recaem sobre o processo do trabalho educativo sustentam-se numa base de pensamento possui como referência principal a crítica à sociedade capitalista.

Essa perspectiva insere-se como dimensão histórica e política da educação, deve-se destacar o papel da crítica como elemento indispensável para a efetivação da gestão democrática. Essa efetivação somente poderá obter resultado a partir do momento em que a organização do trabalho educativo estruturar-se a partir do princípio do coletivo, ou seja, que haja uma participação efetiva de todos os envolvidos no desenvolvimento do educando, e que ao mesmo tempo tenham uma observação e uma prática educativa crítica da realidade educacional.

A consideração sobre a função política e social da educação a partir do projeto político pedagógico busca evidenciar a necessidade de se compreender a gestão escolar como um

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processo que se burocratiza. Isso significa que as relações sociais capitalistas reproduzem na educação escolar valores, técnicas, concepções teóricas e práticas que a todo o momento legitimam e naturalizam as relações de poder e de construção hierárquica.

Gestão democrática e projeto político pedagógico: limites e possibilidades.

A gestão democrática da educação mais que um princípio ou uma concepção refere-se ao contexto da formação e organização da sociedade. Ela não está circunscrita unicamente no âmbito da escola, está relacionada ao desenvolvimento do trabalho educativo com base em processos de construção de espaços nos quais a democracia ocupa um espaço importante e de destaque. O desenvolvimento das relações democráticas na escola compreende a especificidade histórica na qual é construída, a partir das contradições sociais que também estão presentes na educação escolar.

No setor educacional, a descentralização, a democratização da gestão escolar e a autonomia da escola aparecem muitas vezes de forma correlata, inclusive sendo encontradas como “sinônimas”, tanto em documentos oficiais como na literatura que aborda o tema. Os instrumentos de construção de uma escola pública democrática, segundo esses documentos, são os projetos político-pedagógicos e os Conselhos Escolares. (MARQUES, 2003, p. 580)

A luta contra as relações autoritárias na sociedade é um fenômeno histórico, ou seja, está presente de forma permanente nas relações sociais e na organização dos diversos grupos sociais.

A democracia refere-se ao desenvolvimento das relações sociais na esfera política, na relação entre sociedade e Estado que de forma geral é estabelecida nos conflitos históricos, políticos e sociais. Os conflitos na relação entre sociedade e estado estruturam-se no desenvolvimento histórico da humanidade. As relações sociais e políticas compõem um quadro no qual a liberdade e a luta por direitos passam a compor e a fundamentar a vida social.

A previsão da gestão democrática na Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) expressa uma característica fundamental para o desenvolvimento da educação escolar, ou seja, há que se privilegiarem aspectos da educação escolar que são indispensáveis para a formação do educando.

Entre outros, os princípios da igualdade, da liberdade e da inclusão compõem o núcleo da educação escolar, nesse caso a formação do educando transcende às relações

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especificas da escola. Há que se considerar a natureza política da educação escolar, na medida em que o desenvolvimento do educando contextualiza-se a partir da realidade social e suas contradições histórico-sociais. A gestão escolar democrática tem como base educativa a efetivação e desenvolvimento das relações internas do trabalho educativo, nesse caso pode-se considerar que o trabalho educativo é um fenômeno histórico e social.

Sem o trabalho, a autoposição do eu carece de efetividade. Na produção da interação definitiva da consciência-de-si, a exterioridade é fundamental – ou o tem de ser também ele, no sentido de si-próprio, na relação imanente com o outro exterior. O não eu tem de ser, ao mesmo tempo, idêntico a mim, externo a mim e independente de mim – a posição da dupla independência só pode instaurar-se a partir disso. Se a natureza se porta como o outro do pensamento, o trabalhar se apresenta como o pensamento efetivado, a materialização da ideia, a objetividade posta e também a condição de garantia da liberdade a ser conquistada. (RANIERI, 2011,p.105)

O trabalho educativo é pensado a partir da condição de prática pedagógica que se efetiva nas relações entre o caráter externo e sua concretização, é no trabalho que se apresentam as condições materiais de superação das relações de poder e mesmo de emancipação. As relações internas que se apresentam na gestão escolar são processos que se fundamentam nas contradições da própria sociedade, deve-se considerar que as relações de poder e os mecanismos hierárquicos de dominação estão presentes.

Pode-se afirmar que esses processos são inerentes ao caráter específico e histórico do trabalho, ao mesmo tempo em que constituem-se como natureza do trabalho, são também mecanismos de negação da própria formação humana pela educação escolar. A necessidade da emancipação decorre da existência dos meios ideológicos e afirmativos na efetivação da gestão escolar, não há possibilidade de se considerar a democratização das relações internas da escola a partir da materialização das relações de poder e de hierarquização.

Como processo de exteriorização do sujeito, o trabalho caracteriza se, concomitantemente, como separação e fusão, negação e negação da negação. De um lado, o homem afirma-se ontologicamente por sua capacidade de recusa (separação, negação). De outro, ele atinge a plena e inteira satisfação na sua condição de trabalhador, uma vez que, pelo resultado de seu labor e pelas interações que este último promove, constrói um universo comum que unifica as coisas e os homens (fusão, negação da negação).(CARDOSO, 2011, p.267)

A natureza do trabalho educativo tem como principal pressuposto a condição de formar o sujeito histórico, e principalmente incorporar a esse sujeito um complexo processo de humanização. Trata-se de uma tarefa das mais complexas de se realizar, haja vista que o

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educando é um sujeito de vontade e geralmente sua individualidade choca-se com a prática pedagógica que por si só é socializante.

A função do projeto político pedagógico nesse processo de emancipação e superação das relações de poder no âmbito da educação escolar merece atenção, na medida em que a organização do trabalho pedagógico e as práticas docente e discente estão inseridos numa mesma realidade, fundadas pelas contradições sociais. Há que se considerar como e de que forma o projeto político pedagógico insere-se na contradição histórica de uma educação escolar com fundamentação crítica. Como ele se coloca diante dos processos de constituição das relações de poder e de hierarquização? Deve-se considerar a dimensão das funções política e social da educação escolar, na medida em que estabelecem uma conexão com o seu devir emancipatório.

Ao mesmo tempo, por contraste, as forças sociais engajadas na luta por emancipação do domínio do capital não podem abrir mão do projeto de “fazer história” ou da ideia de instituir uma nova ordem social. Não por causa de uma perversa inclinação em direção a um “holismo” messiânico, mas apenas porque a realização até mesmo de seus mais limitados objetivos imediatos – tais quais comida, abrigo, assistência médica básica e educação, no que se refere à maioria esmagadora da humanidade – é bastante inconcebível sem desafiar de forma radical a ordem estabelecida cuja natureza mesma relega-os, por necessidade, à sua posição impotente de subordinação estrutural na sociedade. (MÉSZÁROS, 2009, p.102)

O projeto emancipatório na perspectiva da educação se constitui como a busca de uma condição que supere o processo de subordinação. A gestão escolar e o projeto político pedagógico devem ser pensados e efetivados a partir da crítica radical ao modelo de sociedade que se institui no domínio do capital. Reconhecer a possibilidade da crítica a partir da função social e política da educação escolar pode ser considerado o primeiro processo de insubordinação à gestão escolar que legitima e efetiva a subordinação.

Função política e social da educação escolar: contradições e contexto da sociedade capitalista no projeto político pedagógico.

A educação escolar como fenômeno específico com o objetivo de promover a humanização, tem como pressuposto estabelecer a emancipação. A emancipação nesse sentido é pensada a partir do trabalho educativo, ou seja, da materialidade da ação pedagógica na qual docente e discente estabelecem vínculos permeados pela organização do trabalho

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pedagógico. O trabalho educativo para ser efetivado deve ser pensado a partir da crítica ao modelo de subordinação definido pela hierarquia e relações de poder na gestão escolar.

A relação entre educação e sociedade envolve relações de poder que se constituem a partir da natureza do estado e da sociedade capitalista. O caráter político do estado estrutura-se na dimensão de clasestrutura-ses que define a sociedade capitaista, ou estrutura-seja, há limites para a conformação do público dentro da relação educação e sociedade. Isso significa que o papel do estado não está diretamente relacionado a efetivação do público, mas necessariamente à efetivação daquilo que a sociedade compreende como políticas de governo.

Aos detentores do poder político e econômico, interessa, obviamente, que a política não escape a seu domínio, restringindo-se aos políticos profissionais e aos mecanismos formais de representação (partidos políticos, poder executivo, Congresso Nacional e outros órgãos legislativos, etc.). (PARO, 2002, p.13)

A função política e social da educação refere-se ao processo de crítica e negação às relações de poder ligadas à gestão escolar, deve-se considerar o papel da educação escolar como processo de negação das condições materiais que efetivam essas relações. Com base nas contradições da sociedade capitalista, torna-se possível compreender a necessidade de se estabelecer a crítica ao modelo de gestão escolar pautada pelas relações capitalistas de trabalho. A efetivação de uma gestão escolar fundada na natureza do trabalho capitalista estabelece uma contradição entre o que se propõe enquanto democratização e conservação e/ou reprodução das relações de poder e hierarquia no âmbito da educação escolar.

A democratização da gestão escolar refere-se ao processo de construção de uma prática pedagógica e de um trabalho educativo sustentados na efetiva emancipação da sociedade diante das relações de poder.

Para pensar a democratização da educação na sociedade capitalista, algumas considerações acerca da organização desse modo de produção fazem-se necessárias. A premissa fundamental dessa investida é a de que a compreensão das relações que se dão no âmbito da superestrutura, e a educação é um dos componentes dessa esfera, não de dá a partir dela mesma. (SILVA, 2006, p.13)

A democratização ocorre a partir das relações materiais da vida humana, ou seja, pelo trabalho. Essas relações podem ser compreendidas de forma ampla a partir da superestrutura jurídica e das formas de Estado, nessa condição a democratização da gestão escolar independe exclusivamente da prática pedagógica e do trabalho educativo. No quadro histórico do capitalismo pode-se localizar as bases para a efetivação da democratização ou da reprodução

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dos processos formadores e legitimadores das relações de poder. O capitalismo é caracterizado como um processo histórico imanente às relações sociais de produção social, entre eles a educação. “O capitalismo pode ser definido como o modo de produção do reino das mercadorias. Estas são os vetores das relações sociais e expressão da riqueza da sociedade.” (SILVA, 2006, p.14)

Ao mesmo tempo, há um processo interno no qual o trabalho educativo constitui-se como reprodução das relações sociais capitalistas, nesse caso ele satisfaz aos mecanismos de burocratização do projeto político pedagógico. Nesse sentido o projeto político pedagógico se constitui como o documento principal da educação escolar, como a expressão da gestão democrática.

Essa relação não pode ser garantida somente a partir da concepção de gestão democrática da educação, é necessário compreender o caráter político da gestão das práticas escolares. Ao analisar a dimensão política das práticas escolares, Paro (2006), relaciona essa dimensão à disputa pelo poder na sociedade, referindo-se aos interesses antagônicos de classes que se apresentam também na escola. Ao mesmo tempo, é fundamental estabelecer um nexo entre gestão democrática e trabalho coletivo como processos inerentes.

Ao analisar a relação entre gestão democrática e trabalho coletivo, parte-se da compreensão de que a democracia moderna é resultado das contradições históricas trazidas pelos movimentos sociais. A democracia é um processo que se constituiu no desenvolvimento histórico, “chamo a atenção para o fato de que, conforme a observação do filósofo-marxista Georg Lukács, a democracia deve ser entendida como um processo, não como um estado.” (COUTINHO, 2002, p. 16).

O projeto político pedagógico não tem relevância apenas como expressão da democracia na educação escolar, ele deve extrapolar a compreensão da democracia como um conjunto de atos e práticas que promovam a participação efetiva da comunidade escolar. A democratização da gestão escolar no sentido histórico deve ser compreendida como a negação do projeto político pedagógico, ou seja, ele é um meio e não um fim em si mesmo.

Torna-se importante compreender esse processo, pois a chamada gestão democrática, ao se constituir como princípio ou valor para o Projeto Político Pedagógico, tem, no trabalho coletivo, uma das formas imprescindíveis para o desenvolvimento de uma educação crítica e histórica. Pode-se considerar que o “avanço da democratização política é, ao mesmo tempo, condição e resultado de um processo de transformações também nas esferas econômica e

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social.” (COUTINHO, 2002, p 17) A gestão escolar deve extrapolar a mera organização do trabalho pedagógico, ou seja, a distribuição dos papéis de cada membro da comunidade escolar na estrutura hierárquica da escola. Deve-se proporcionar a conexão com os processos históricos, políticos e sociais que permeiam o trabalho educativo e seus desdobramentos no âmbito do espaço escolar.

O aspecto da participação política surge como uma dimensão constitutiva da gestão democrática e do Projeto Político Pedagógico, uma dimensão articula-se à outra. O caráter da participação torna-se uma conquista dos movimentos sociais ligados à escola; não pode ser minimizado, pois significa afirmar que as relações de poder que a instituição escolar desenvolve devem ser criticamente compreendidas. A superação das relações de poder no âmbito do trabalho educativo supõe a efetivação da democratização da gestão escolar, ou seja, o desenvolvimento da crítica à sociedade capitalista naquilo que a legitima historicamente como expressão de classe dominante e que reduz ou inibe a natureza emancipatória da educação escolar.

O processo de gestão democrática vai além da simples participação mecânica dos membros da comunidade escolar, refere-se sim, a um processo que significa pensar a própria sociedade e a questão do Estado a partir de suas contradições históricas. Ao mesmo tempo, remete ao papel da educação escolar numa sociedade marcada pelos processos de dominação e legitimação das relações de poder, ou seja, como superar os processos históricos e sociais que reduzem a humanidade.

Projeto político pedagógico e trabalho educativo: limites e efetivação da gestão democrática.

O projeto político pedagógico possui como referência a organização do trabalho educativo, nesse sentido ele expressa todo o processo de efetivação e desenvolvimento do ensino e aprendizagem. A relação entre trabalho educativo e a relação de ensino aprendizagem é tomada como ponto central para refletir a gestão democrática, o exercício da democracia no espaço escolar tem como perspectiva a superação dos processos de hierarquização e poder presentes na estruturação da organização do trabalho pedagógico.

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A organização do trabalho pedagógico tem como referência a efetivação do trabalho coletivo, tornando-se necessário discutir essa especificidade. Concebe-se inicialmente a educação como processo histórico, social e político.

A educação não é, em si, um ato neutro. Nesse campo encontram-se diferentes pressupostos ideológicos, filosóficos, culturais e políticos. Na verdade, ela não é um produto pronto e acabado, mas algo que se constrói paulatinamente, a partir das relações e dos embates dos sujeitos entre si. (OLIVEIRA, 2006, p.79)

Ao pensar o trabalho educativo deve-se considerar sua objetividade e sua constituição histórica, articuladas a uma realidade social. Democratização da educação e trabalho docente estão relacionados. Para Pimenta (1986), o trabalho docente é considerado como instrumento para democratização da educação e da sociedade pela democratização do saber. Ainda de acordo com Pimenta, a discussão sobre a democratização do saber aparece como forma de pensar as relações de poder na sociedade.

A escola, na sociedade capitalista, é definida como tendo a função de manter a hegemonia das camadas dominantes em detrimento da maioria dominada, “os conhecimentos são produzidos à custa do trabalho da maioria, que permanece alijada dos benefícios da ciência, da técnica e da arte” (PIMENTA, 1986, p. 29). Para as camadas dominadas o acesso ao conhecimento significa a possibilidade de questionamento das relações de dominação, e de “superação do estado de sobrevivência” (p. 30).

A escola assim compreendida, torna-se um espaço de contradições no qual há o desenvolvimento social do trabalho — o trabalho educativo ou escolar. O trabalho educativo é um trabalho organizado a partir de uma lógica e de uma intencionalidade. “Assim, o trabalho como atividade proposital, orientado pela inteligência, é produto especial da espécie humana. Mas esta, por sua vez, é produto especial desta forma de trabalho.“ (BRAVERMAN, 1987, p. 52)

Esta dimensão é de fundamental importância antes mesmo de dar início à compreensão do trabalho educativo, ou seja, deve-se discutir a própria essência do trabalho na dimensão do seu caráter histórico. “O trabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva é assim a força que criou a espécie humana e a força pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemos.” (BRAVERMAN, 1987, p.53).

Considera-se o trabalho como um processo de superação da condição humana instintiva, ou seja, o trabalho cria um mundo essencialmente humano, uma realidade em que o ser humano atua e transforma no seu cotidiano histórico. “O trabalho humano, seja

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diretamente exercido ou armazenado em produtos como ferramentas, maquinaria ou animais domesticados, representa o recurso exclusivo da humanidade para enfrentar a natureza”. (BRAVERMAN, 1987, p. 54)

Nesse sentido a gestão democrática pode ser considerada como um processo de efetivação do trabalho educativo a partir do desenvolvimento de mecanismos de transformação. O processo de organização do cotidiano escolar, como trabalho coletivo, é um mecanismo social que se desnaturaliza, ou seja, que se humaniza permanentemente no interior das contradições sociais e históricas. O trabalho coletivo torna-se um processo inerente à superação do próprio projeto político pedagógico enquanto expressão burocrática da participação democrática.

Do ponto de vista do cotidiano e da efetivação do trabalho educativo, as existências de hierarquia e dos mecanismos de poder são expressão da negação da gestão democrática. Os processos de efetivação da gestão democrática devem levar em consideração os processos internos do trabalho educativo, ou seja, deve-se refletir a própria relação entre trabalho e educação.

Retoma-se nesse sentido a importância do projeto político pedagógico como eixo central para o desenvolvimento do trabalho educativo, levando-se em consideração que é necessário compreender que a educação escolar não é um fenômeno isolado, ela está inserida num contexto social e político, por isso a necessidade de se discutir no âmbito do próprio projeto político pedagógico.

Assim, compreende-se o processo coletivo de politização do trabalho educativo como fundamental para a construção teórica e prática do Projeto Político Pedagógico. Pensar a escola a partir da democratização da gestão escolar, é elemento fundamental para contextualizar a política no espaço escolar.

Na maioria das vezes a escola e todos os sujeitos participantes do processo pedagógico não se dão conta das contradições inerentes ao caráter e à relação entre o Estado e a própria política pública. Tem-se como referência que a dimensão política constitui-se a partir de relações de poder no trabalho educativo e ainda no caráter e na necessidade de promover a participação dos sujeitos na organização escolar. A dimensão política do projeto pedagógico consubstancia-se na relação entre o que é a exigência de um direito enquanto dimensão individual e aquilo que é intrínseco à natureza do trabalho escolar, que é a necessidade de constituir um processo participação (política). A participação aqui é

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compreendida como mecanismo de transformação das condições materiais do trabalho educativo. Ao mesmo tempo deve-se assegurar o papel da educação escolar numa perspectiva crítica e emancipatória, nesse caso busca-se materializar a apropriação da cultura humana.

Quando nos referimos às aquisições da cultura humana, falamos não só dos conhecimentos científicos e sistematizados, mas de todos os conhecimentos produzidos pela humanidade, ou seja, os valores, as técnicas, a arte, os comportamentos, enfim, todo o saber historicamente produzido.(ASBAHR, SANCHES, 2006, p.66)

O Projeto Político Pedagógico ganha relevância no sentido de que ele torna-se uma forma de pensar e explicitar as próprias relações políticas do Estado no âmbito da escola. Essa perspectiva tem como característica desencadear um processo pedagógico que é político por excelência e, ao mesmo tempo, revela as contradições sociais que penetram no Estado. Significa considerar que o Projeto Político Pedagógico é uma política pública que possibilita à escola refletir sobre os aspectos contraditórios do Estado de direito e do próprio Estado social a partir de suas contradições.

Considerações Finais

A função social e política da educação vincula-se ao desenvolvimento e efetivação de um projeto político pedagógico fundado na natureza do trabalho educativo, isso significa compreender que há nesse processo uma dimensão histórica e social presentes na gestão escolar.

A discussão sobre gestão democrática aparece intrinsecamente vinculada à discussão sobre a construção do Projeto Político Pedagógico, por meio do reconhecimento do caráter político da educação. A gestão democrática é considerada articuladora entre poder e saber, sendo imprescindível, para tanto, o estabelecimento de uma organização coletiva do trabalho pedagógico.

A análise da função política e social da escola destaca o Projeto Político Pedagógico como a concretização de um contexto político da educação, tornando-se necessário o estabelecimento de um compromisso político com vistas à ação transformadora da escola. Sob esse contexto ao se falar de participação considera-se como o trabalho coletivo, enquanto responsabilidade coletiva das pessoas que integram a escola em relação às suas práticas escolares específicas, se efetiva no interior da escola por meio da relação entre o discurso e

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ação, tendo por base a exigência de competência técnica, política e ética de todos que compõem a escola.

A autonomia, ou seja, a possibilidade de decisão sobre as questões pedagógicas e administrativas tendo como foco a função educativa da escola, é também definida a partir do desenvolvimento de uma consciência crítica e definição de responsabilidade coletiva da comunidade escolar.

A organização do trabalho pedagógico se relaciona com a gestão democrática por meio da articulação de seus elementos: planejamento, currículo e avaliação, considerados como instrumentos para orientar as tomadas de decisão em relação ao processo de gestão escolar. É esse processo que vai definir o projeto educacional adotado pela escola tendo em vista a emancipação humana e política.

A análise do Projeto Político Pedagógico como instrumento de política pública, remete à necessidade de conceituar políticas públicas e Estado, relacionando os dois conceitos numa perspectiva histórica. Deve-se ter claro que a concepção de Estado e as políticas que este implementa são referenciadas historicamente, trata-se de um processo que se desenvolve sob circunstâncias históricas concretas.

O Projeto Político Pedagógico passa a ser um mecanismo de conversão instrumental de política pública, ou seja, é a presença do Estado, na escola, enquanto ordenamento jurídico. A relação entre Estado e política pública (social) adquire dessa forma o caráter explícito da conversão de uma política pública voltada para o sistema educacional. Nesse sentido compreender o papel e a natureza do Estado a partir da política pública significa considerar que as contradições que se apresentam no Projeto Político Pedagógico têm origem na relação entre o próprio Estado e a política pública.

A educação escolar fundada na gestão escolar democratizante surge como uma espécie de contraponto aos mecanismos de efetivação da estrutura social que institui e reproduz as relações de poder e de hierarquização. Busca-se legitimar a construção de um processo de emancipação e transformação a partir da educação escolar inerente à uma formulação e ação crítica diante das relações de poder presentes tanto na gestão escolar quanto no projeto político pedagógico.

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ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira. SANCHES, Ydeliz Coelho de Souza. Transformação social: uma possibilidade da educação escolar? In: PARO, Vitor Henrique. A teoria do valor em Marx e a educação. São Paulo: Cortez, 2006.

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