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Palavras-chave: Capoeira. Social. Cultural. Quilombo. 1 INTRODUÇÃO

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ISSN online: 2447-6498 ISSN impresso: 2594-4231

“CAPOEIRA ANGOLA NA TERRA DE QUILOMBOLA”:

a capoeira angola como veículo sociocultural no Quilombo de

Santa Maria dos Pretos em Itapecuru Mirim-Maranhão

Cindia Brustolin Adriana Costa Rêgo

RESUMO

A Capoeira Angola é uma das manifestações afro-brasileiras que foi utilizada na resistência ao sistema escravista pelos africanos escravizados. Na contemporaneidade, continua sendo praticada e mantém seu caráter emancipador. É importante compreendermos a capoeira em seus diversos aspectos de forma a enxergá-la como uma prática corpórea que agrega dimensões sociais e culturais importantes na trajetória de libertação. O presente estudo apresenta uma pesquisa sobre a Capoeira Angola no Quilombo de Santa Maria dos Pretos no interior de Itapecuru Mirim. O objetivo dessa pesquisa foi analisar as contribuições socioculturais da Capoeira Angola através das aulas de capoeira do Projeto Marakizomba que atua desde 2013 nessa comunidade. Os instrumentos de pesquisa foram observações e entrevistas. Constatou-se que nas aulas de capoeira prevaleceram o ensino e a valorização da Capoeira Angola e das demais culturas afro-brasileiras, reafirmando a importância da ancestralidade, resultando na elevação de sua estima e pro-movendo o respeito da sua cultura, tornando esse respeito um manifesto vivo de sua cidadania.

Palavras-chave: Capoeira. Social. Cultural. Quilombo.

1 INTRODUÇÃO

A capoeira é uma manifestação cultural que durante muitos anos foi proibida e marginalizada. Na contemporaneidade, passa a ser reconhecida e legalizada. Alcançando magnitude popular sendo difundida mundialmente. Surgida nas senzalas e nos quilombos a capoeira faz parte da memória de lutas e da história do povo negro pela busca por liberdade e proteção dos territórios, estando ligada aos processos de aquilombamentos. Dessa maneira, é importante compreendermos a capoeira em seus diversos aspectos de forma a enxergá-la como uma prática corpórea que agrega dimensões so-ciais e culturais importantes na trajetória de libertação.

Neste artigo, apresentamos uma discussão sobre o ensino da Capoeira Angola no Quilombo de Santa Maria dos Pretos no interior de Itapecuru Mirim - Maranhão. O objetivo central foi analisar as contribuições socioculturais da prática da Capoeira Angola através das aulas de capoeira do Projeto Marakizomba que atua desde 2013 nessa comunidade. Os instrumentos de pesquisa utilizados foram observações e entrevistas com abordagem qualitativa. As entrevistas foram realizadas entre janeiro de 2015 a fevereiro de 2016. Com crianças e adolescentes de 10 a 18 anos e outros moradores da comu-nidade (líder da comucomu-nidade, moradores mais velhos, diretora da escola e professores.).

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Durante a pesquisa foi possível notar que mesmo a Capoeira Angola tenha feito parte da formação desse quilombo, e que apesar de possuir uma prática cultural muito forte e muito intensa, essa manifestação estava relegada aos mais velhos e que a intervenção do Projeto Marakizomba por meio das aulas de capoeira foi crucial para despertar nas crianças e adolescentes desse quilombo a valorização da capoeira e, por conseguinte, a revalorização das outras manifestações culturais dessa comunidade que entre os mais jovens estava sendo renegadas. E que também a prática da capoeira no ambiente escolar favoreceu a aproximação e o retorno desses alunos e da comunidade à escola desse quilombo.

2 BREVE HISTÓRIA DA CAPOEIRA

A capoeira foi inicialmente praticada nas senzalas em resistência aos sofrimentos da escra-vidão, e contra os açoites de feitores e de senhores de engenho. Consolidou-se como forma de luta pela busca da dignidade e da liberdade de um povo. É hoje uma das manifestações da cultura afro--brasileira mais difundida no mundo. É uma manifestação cultural de múltiplas facetas: luta, música, dança, jogo e religiosidade. Por tanto, rica e complexa. Ao longo dos tempos, surgiram diversas versões relacionadas à sua origem. De acordo com Barros e Lopes Filho (2015, p. 17), “há estudos e teorias de escritores sagrados como Câmara Cascudo e Gilberto Freire, que discorrem sobre a origem africana da capoeira e outros defendem sua origem brasileira”. A complexidade de suas raízes reflete na ausência de um consenso entre pesquisadores e praticantes, resultando em várias controvérsias. Rego (1968, p. 31) afirma que “no caso da capoeira, tudo leva a crer que seja uma invenção dos afri-canos no Brasil, desenvolvida por seus descendentes afro-brasileiros”. No Brasil, os escravizados desenvolveram formas de proteção contra opressão dos colonizadores e lutas emancipatórias. Nesse sentido, a história da capoeira perpassa pelas lutas do povo negro em busca da liberdade e proteção dos territórios, estando ligada aos processos de aquilombamentos. Com base em Couto (1999 apud MENEZES, 2008, p. 12)

A capoeira foi ao longo dos séculos uma arte discriminada e reprimida, sendo luta, jogo e dança devido à sua expressão coreográfica e rítmica. Considerada uma forma de luta em referência à defesa da liberdade de fato e de direito do negro no período escravista, antes, a capoeira era ostensivamente reprimida pela polícia. No entanto, novas condições sociais fizeram com que há meio-século, se tornasse um jogo, e hoje, é definitivamente incorporada à ginga e cultura.

A capoeira passou por um longo período de repressão, foi registrada como crime no Código Penal de 1890. Mesmo com as punições previstas, a capoeira continuou a ser praticada. Segundo Palhares (2007, p. 13) “na Bahia a capoeira sobreviveu às perseguições devido a suas conotações lúdicas, associadas à cultura popular. A prática da capoeira era denominada de vadiação”.

3 OS MESTRES E AS VERTENTES DA CAPOEIRA

Ao longo da história da capoeira nos deparamos com o surgimento de duas vertentes: a Capoeira Angola e a Capoeira Regional. Cada uma com suas características e histórias. A Capoeira Angola recebeu este nome devido ao país de Angola, do qual a maioria dos escravos eram provindos.

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[...] a Capoeira Angola ganhou este nome também para se diferenciar da Capoeira Regional criada por Mestre Bimba. Como a maioria dos negros escravos eram oriundos de Angola, a capoeira era praticada por seus descendentes no Brasil recebendo este nome (ALMEIDA; CYPRIANO; PIMENTA, 2009, p. 37).

Pires (2002, p.84) corrobora essa perspectiva ao se referir sobre os aspectos tradicionais pre-sentes na Capoeira Angola que a aproxima da capoeira praticada pelos escravos “Essa capoeira é tida como tradicional, não por que obedeça a uma lógica da capoeira exercida pelos predecessores diretos de Mestre Pastinha, mas sim pelo fato da Capoeira Angola ter algo a ver com a praticada pelos africanos”.

O principal precursor da Capoeira Angola foi Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, o “Mestre Pastinha”, nascido em 5 de abril de 1889, em Salvador Bahia. Em 1940, foi fundado o primeiro cen-tro de capoeira com sede no Pelourinho, liderado pelo guarda civil Amorzinho. Depois da morte de Armozinho, Pastinha passou a dirigir o centro, dando-lhe o nome de “Centro Esportivo de Capoeira Angola”. Alguns intelectuais da época, tal como Jorge Amado, aproximaram-se da Capoeira Angola por julgá-la como a capoeira mais próxima daquela praticada pelos negros escravizados. Pastinha jul-gava a capoeira não somente como uma luta de ataque e de defesa, mas uma tradição e uma sabedoria, Pastinha tinha então rompido com a perspectiva da capoeira arruaceira, reinventando uma capoeira menos violenta, criando o método de ensino para a luta de forma mais lúdica, conciliando a ela a ética e a disciplina de seus alunos, respeitando a teatralidade, a mandinga, a ancestralidade, princípios estes pregados em sua academia (MATTEZ, 2007).

Mestre Pastinha morreu no dia 13 de novembro de 1981, aos 92 anos. Antes de morrer, Pasti-nha se viu em uma situação de abandono, tiPasti-nha como única renda a venda de acarajé de sua esposa. O escritor Jorge Amado, conseguiu junto ao governo da Bahia, uma pensão vitalícia para Pastinha. Cinco anos depois, já deprimido, Pastinha sofreu um acidente vascular cerebral, e por consequência da catarata ficou cego. Sem condições, sua esposa deixou-lhe no abrigo Dom Pedro II, onde ficou por um bom tempo até falecer devido a outro acidente vascular cerebral (PASTINHA, 1988).

Mestre Pastinha sem dúvida foi um dos ícones da cultura brasileira, defendeu a Capoeira An-gola com toda a força que pôde. Dedicou sua vida inteira a tirá-la da ilegalidade e a colocá-la no lugar de reconhecimento, preservou a versão mais clássica, divulgando-a até fora do país, ensinou jovens e adultos a importância de valorizar a Capoeira Angola. Apesar das dificuldades enfrentadas, o brilho do Mestre Pastinha não se apagou, continua a brilhar em cada roda de Capoeira Angola.

A Capoeira Regional é representada pelo seu precursor Manoel dos Reis Machado, o Mestre “Bimba”, nascido em Salvador, em 23 de novembro de 1900. Mestre Bimba estava insatisfeito com o julgamento que faziam sobre a capoeira, vista como luta marginalizada. Em 1928, Mestre Bimba para romper com esse julgamento, desenvolveu uma variação da capoeira; criou um método de ensino com regras, acrescentou na capoeira novos elementos de outras lutas como o “Batuque”1 tornando-a uma prática sistematizada para dar à luta um caráter mais esportivo, para romper com esse julgamento de capoeira desordeira e marginalizada. Essa capoeira foi chamada por Bimba de “Luta Regional Baia-na”, porque na época ainda ser proibida. E mais tarde ela recebeu o nome de “Capoeira Regional” devido ter nascida na região da Bahia (MENEZES, 2008).

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Em 1932, Bimba fundou o “Centro de Cultura Física e Regional”, nessa época a capoeira ain-da era proibiain-da. O Mestre então criou um código de ética que impedia a violência, instituiu o unifor-me branco, fez a exigência que todos os alunos tinham que ter docuunifor-mentos e possuir uma ocupação. Por conseguinte, a capoeira foi atraindo a atenção de pessoas de vários grupos e classes sociais. A presença de pessoas da classe média baiana e intelectuais reforçou a valorização da importância da capoeira pela sociedade. Após uma apresentação da Capoeira Regional, à convite do governador da Bahia, Bimba fez uma apresentação no palácio do governador onde estavam presentes autoridades e o presidente da república Getúlio Vargas, que na época mergulhado pelo espírito do ideal populista de modernidade brasileira representada pela nova forma de governo o Estado Novo, viu na capoeira um símbolo de nacionalidade. Nessa mesma oportunidade Getúlio declarou: “a capoeira é a única luta genuinamente brasileira”. A capoeira então seria a representatividade de uma arte marcial brasileira, visto que, já vinha recebendo um formato de luta, expressando uma maneira mais esportiva. Houve então, a liberação da capoeira na Era Vargas. Em 1953, a capoeira deixa de ser uma luta marginalizada para seguir em direção ao caminho da legalidade e do reconhecimento (BOAS, 2011).

Conforme Palhares (2007, p. 6)

O momento político era favorável às manifestações populares devido à política populista do Presidente Getúlio Vargas que, dentre outras atitudes, liberou a prática da capoeira. Aquele momento representou a retirada da capoeira da ilegalidade, excluindo-a do Código Penal e legitimando sua prática, que ficou condicionada a recintos fechados e com alvará de funcio-namento expedido pela polícia.

Portanto, é somente no século XX que a capoeira passou a ser legalizada e reconhecida. Em 1972, o Ministério da Educação e Cultura reconheceu a capoeira, oficialmente, como esporte. Em 15 de julho de 2008, a capoeira foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Alguns anos depois, a UNESCO declarou a roda de capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Dessa forma, deixou de ser criminalizada e passou a ser reconhecida com patrimônio imaterial, incumbindo à sociedade, à escola e ao Estado a responsabilidade de manter esse patrimônio através de políticas públicas e educacionais voltadas para a cultura popular.

O processo de reconhecimento da capoeira e de outras práticas culturais que se referem aos legados afro-brasileiros estão relacionados ao avanço e às conquistas da luta negra no Brasil pela emancipação. Apesar da escravidão brasileira ter sido abolida em 1888, um cenário complexo de re-lações raciais hierarquizadas continuou sendo reproduzido. A expansão da prática da capoeira precisa ser entendida dentro desse cenário. Nesse sentido, podem assumir significados específicos e gerar processos distintos de reconhecimento, de folclorização, etc.

4 A CAPOEIRA NO MARANHÃO

No Maranhão o registro da capoeira se fez presente em alguns documentos desde o século XIX. O autor ao analisar o trecho da obra “Os degraus do Paraíso”, de 1863, de autoria de Josué Montello, que tratou da vida e dos costumes da sociedade ludovicense, identifica um dos primeiros relatos registrados sobre a capoeira em São Luís, quando nesta obra, Montello se referiu a capoeira

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ao falar sobre a inauguração da iluminação pública na cidade, com as ruas mais claras durante: “Nin-guém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz e nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão”. Em 1884, na cidade de Turiaçú, é proclamada a Lei de nº. 1.341 que proibia a prática do brinquedo denominado jogo da capoeira, conhecido também como ‘carioca’ (VAZ, 2013).

Na década de 60 em São Luís surgem Na década de 60, em São Luís, surgem vários pratican-tes de capoeira que se tornaram cruciais para a divulgação e o fortalecimento dela. Um dos nomes im-portantes foi o capoeirista chamado Robeval Serejo, que estava de volta a São Luís, depois de passar muito tempo trabalhando para a Marinha do Rio de Janeiro, onde aprendeu a capoeira com o Mestre Arthur Emilio. Chegando a São Luís, Serejo reuniu amigos e admiradores e formou em 1968 a acade-mia de capoeira “Bantu” que funcionava no Sítio Veneza. Depois da morte do Mestre Serejo, poucos alunos continuaram a treinar. Outra referência da capoeira no Maranhão foi Firmino Diniz “Mestre Diniz”. Ele se destacou por se dedicar a organizar a capoeira em terras maranhenses. Em 1966, um grupo formado por quatro capoeiristas chamados “O quarteto Aberrê” veio se apresentar em São Luis, um deles era o capoeirista Anselmo Barnabé Rodrigues, o “Mestre Sapo”. Em 1970, o mestre inicia a formação de seu grupo de capoeira, muito de seus alunos eram frequentadores das aulas de capoeira de Mestre Serejo, entre os alunos destacam-se Antonio José de Conceição Ramos, o “Mestre Patinho”. Em 1971, a convite da Secretaria de Educação e Cultura do Maranhão, “Mestre Sapo” passa a ensinar capoeira para um projeto realizado no Ginásio Nina Rodrigues, devido a exigência do pro-jeto, ele passou a ensinar uma capoeira menos lúdica e mais esportiva. Em 1978 “Mestre Sapo” criou a “Associação Ludovicense de Capoeira Angola”. “Mestre Sapo” contribuiu significativamente para a capoeira maranhense, faleceu em 1982. Daí em diante, a capoeira prosseguiu com os seus alunos, sendo que um deles é atualmente um dos mestres mais antigos em atividade no Maranhão o “Mestre Patinho” (VAZ, 2015).

5 O QUILOMBO DE SANTA MARIA DOS PRETOS

O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, por sua vez, isso contribuiu para a permanência de relações fortemente desiguais e hierarquizadas. Durante o sistema escravista, uma série de processos de resistência foram empreendidos pelos negros escravizados: boicotes, barganhas, fugas, suicídios. A busca incansável pela liberdade fez com que formassem comunidades de negros revoltos que receberam, no período colonial, a denominação quilombos. Segundo Freitas (1994), a palavras KILOMBU significa arraial ou acampamento, chegando ao Brasil essa palavra foi aportu-guesada recebendo outros significados, como o de reduto de negros fugidos. Que foi ressemantizada após à Constituição Federal de 1988, quando passou a expressar os processos de resistência de grupos negros contra a opressão do sistema escravista e de suas consequências no pós-abolição.

Assunção (1996) mostra que os quilombos clássicos (formados a partir da fuga) se estenderam por várias regiões maranhenses durante o sistema escravista. Cita também que isso contribuiu para a grandeza cultural e histórica do Maranhão, que recebeu influências culturais dos negros escravizados que aqui viveram e que contribuíram para a economia, diversidade étnica, credos, ritmos e traços. Nos primeiros séculos da escravidão no Brasil, o Maranhão não possuía uma grande quantidade de escravos, como a Bahia e o Rio de Janeiro. Somente a partir do século XVIII, quando o Maranhão passou a ter

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uma economia fundada no algodão, com base na mão de obra de escravos, foi iniciada uma entrada mais intensa do trabalho escravo. No final do período escravista, a província possuía o maior contingente de escravizados no Brasil. Com a falência desse modelo econômico, os fazendeiros tiveram que abandonar suas propriedades, onde as famílias negras se estabeleceram usando as terras de forma coletiva.

O Quilombo de Santa Maria dos Pretos está localizado há 20 quilômetros de distância do centro do município de Itapecuru Mirim no Estado do Maranhão. Esse quilombo é formado por cin-co povoados: Pequi, Mandioca, Morros, Santa Joana e Santa Maria. A cin-comunidade dispõe de ricas manifestações culturais, como o tambor de crioula, tambor de mina, dança do coco, terecô e o bumba meu boi que possuem elementos particulares presentes apenas na localidade. Há também, na comu-nidade, o ritual do choro que é um ritual fúnebre de lamento a morte de um membro. Os mais velhos dispõem de conhecimentos sobre plantas e rezas para o tratamento de doenças através de rituais das benzedeiras. Conhecimento milenar utilizado também pelas parteiras e parteiros dessa comunidade.

Foto 1- Casas do Quilombo de Santa Maria dos Pretos

Fonte: Arquivo pessoal de Adriana Rego (2015).

Foto 2 - Seu Benedito Ferreira, 55 anos, mostrando-nos o forno deixado pela Dona Rita Belfort

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As famílias negras de Santa Maria dos Pretos vivem no território há mais de 150 anos. A per-manência no local foi assegurada na luta contra constantes perseguições de grileiros e de fazendeiros que tentaram tomar as terras. Em 1838, Maria Rita Silva Gomes Belfort, fazendeira, dona de terras localizadas em Itapecuru Mirim, fez a doação de parte de suas terras e equipamentos de sua fazenda aos escravos de sua posse: Pociano de Souza Gomes, Julião e mais oitenta e um escravos. Seu Fran-cisco um dos quilombolas mais velhos da comunidade, diz que as terras do quilombo na verdade não foram doadas. Considera ser uma forma de pagamento pelo trabalho de seus ancestrais:

Nós tínhamos a consciência que nossos antepassados eram escravos. Quando eu era mais novo meus pais contavam que quando eles eram crianças, meus avós contavam que ficavam na senzala, nessa época eles eram conscientes que seus pais formavam um quilombo [...]. E de lá para os dias de hoje, ainda houve outros conflitos. Eles enfatizavam que as terras não foram doadas, a “doadora” pagou a mão de obra escrava com terras. Só que a comunidade não conhecia seus direitos. (Fala de Seu Francisco, 89 anos - entrevista realizada em janeiro de 2015).

Durante entrevista, Seu João Batista, líder da comunidade de Santa Maria dos Pretos, disse que várias pessoas provocaram conflitos, dizendo serem donos das terras. Afirma que não foi à doa-ção da terra que a garantiu (ou seja, os possíveis direitos que um testamento poderia assegurar), mas a força da resistência herdada de seus ancestrais:

Nossa terra passou por um conflito muito grande, invadiram nossa terra, nós nos unimos e vencemos, e Deus ajudou, e conseguimos tirar os fazendeiros, eram quatro fazendeiros dentro da nossa terra. [...] Nós fomos mais resistentes do que eles, aquilo que é nosso, outra pessoa não toma. Nós temos consciência que nosso antepassado vieram de outros país, pra cá. E foram escravizados e mantemos nossa resistência. Essas pessoas achavam que a gente não tinha esse conhecimento, mas nós tínhamos esse conhecimento. Só não sabemos dirigir à escrita e a leitura. Mais com nossa força e energia, lutamos por nosso direito a terra. (Seu João Batista - entrevista em janeiro de 2015).

Seu José Souza 79 anos, também um dos moradores mais antigos relatou:

Eles ainda gostam de chamar a gente de remanescentes como se fossemos o restante de um povo desocupado, que só quer terra pra plantar maconha, não somos desocupados, não! Nem somos sobras do passado, somos a perseverança de um povo guerreiro. Não sou sobra de um povo guerreiro eu sou a continuidade. Me respeite! Me chame pelo meu nome quilombola!. (Relato de seu José Souza, sobre a discussão que tivera com invasores da terra - entrevista em janeiro de 2015).

A comunidade se autodefine como quilombola a partir das discussões sobre identidade e direi-tos territoriais com o movimento negro, já na década de 1980. É a trajetória histórica de luta contra a opressão que é acionada na afirmação identitária, importante na busca por uma afirmação territorial formal do grupo. A busca por direitos foi constante em sua trajetória, pois na maioria das vezes, mes-mo com o testamento, terras foram perdidas e direitos não foram respeitados.

6 A CAPOEIRA NO QUILOMBO

Depois de um longo processo de resistência e luta pela afirmação territorial, os moradores de Santa Maria dos Pretos conseguiram o processo de titulação de suas terras. A vitória, mesmo que

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parcial, da luta pela terra, trouxe novos desafios. Uma das preocupações centrais está na juventude que parece desgarrar-se das importantes heranças culturais. Um projeto de capoeira começa a ser exe-cutado nesse cenário, o projeto Marakizomba. A capoeira já estava presente nas memórias dos mais velhos, como algo do passado que estava se perdendo.

A capoeira já era praticada neste quilombo, no período em que Dona Maria Rita Belfort era viva, os escravos que aqui viviam já a praticavam e continuou assim, se mantendo entre os mais velhos. Assim dizia nossos avós até nossos pais. Os mais novos daqui, devido às outras coisas novas, não tiveram muito interesse pela capoeira. Queriam é tá de conversa por aí. Assistir televisão, de aprender coisa errada na rua, influências erradas. Não tinham interesse de ir pra escola. A gente tentava despertar essa conscientização neles. Pela falta de abandono de melhorias aqui na comunidade, ficávamos esquecidos, acho que ficaram sem motivação. (Benedito Rodrigues - entrevista realizada em janeiro de 2015).

Como relatou Senhor Benedito Ferreira, a capoeira está presente na memória remota do pe-ríodo em que seus antecedentes eram escravizados. A prática permaneceu viva entre os mais velhos, que de algum modo tentaram transmitir para os mais novos, mas que não conseguiram vencer o de-sinteresse pelas heranças da comunidade. A falta de recursos, a necessidade de sair para fazer o ensino médio na cidade (hoje a comunidade conta com uma escola de ensino médio fundada, inaugurada em 2016), a chegada das drogas, a desmotivação, levaram a falta de afirmação e de perspectiva de vida.

O projeto Marakizomba (que significa festa do povo) foi organizado pelos Mandingueiros do Amanhã.2 Os coordenadores e educadores do projeto iniciaram suas atividades no quilombo em 2013. Preocuparam-se em despertar nos jovens o aprendizado e a valorização da capoeira. Capacitaram dois jovens da comunidade para serem monitores durante as aulas de capoeira, com o objetivo de per-manecer viva a prática no quilombo, mesmo após a finalização das atividades do projeto. O projeto também trabalhou com temas transversais durante as rodas de capoeira: sobre os direitos humanos e reflexões sobre a cultura ancestral, a história do quilombo, artes e danças. Promoveu debates, rodas de diálogo e despertou a reflexão durante as rodas de capoeira de forma a trabalhar o desenvolvimento pessoal, a valorização da cultura local e a sua importância na construção da cidadania. A Capoeira Angola foi recebida pela comunidade com muita alegria e teve a parceria da Escola São Sebastião, localizada no território, que cedeu seu espaço nos finais de semana para que as aulas de capoeira ocorressem. Posteriormente foram construídos pelos moradores da comunidade barracões para a re-alização das aulas.

2 É um Centro Cultural e Educacional Mandingueiros do Amanhã, localizado em São Luís no Maranhão, que oferece aulas de Capoeira Angola e cultura popular maranhense. Que fundou o projeto Marakizomba.

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Foto 3 - As Aulas do Projeto Marakizomba no Quilombo

Fonte: Arquivo pessoal de Adriana Rego (2015). Foto 4 - Aulas de Capoeira Angola no Barracão do Quilombo

Fonte: Arquivo pessoal de Adriana Rego (2015).

A maioria dos jovens que participaram do projeto destacaram mudanças que ocorreram sobre as relações e novas concepções acerca das manifestações culturais do quilombo e com a própria es-cola. A participação na capoeira e em todas as discussões proporcionadas revela uma integração com um modo de vida que parecia desmerecido pelo grupo de jovens quilombolas:

Para mim a capoeira e tudo. Ela e muito importante para minha vida. Para ela sair seria difí-cil e ficar sem ela seria mais difídifí-cil ainda. Trouxe-me benefícios na escola, me fez respeitar as pessoas, é um esporte que trabalha o respeito e que nos educa. Sou mais comunicativo. (Raimundo Moreira Ferreira, 20 anos, capacitado para ser monitor das aulas de capoeira pelo Projeto – Entrevista realizada em outubro de 2015).

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A capoeira aqui na comunidade ela incentivou muito nossas vidas. Aqui as crianças e os ado-lescentes para como eles eram antigamente... Eram rebeldes, sabe? Não gostavam de fazer nada, era um desinteresse... Quando estou ministrando aula de capoeira é uma troca de ideia com eles. Eu passo uma ideia para um e ele passa para mim também. Então nós somos uma família. Todo mundo tá seguindo o mesmo rumo. A capoeira juntou todos nós, pra dá uma educação melhor... A importância de nós mesmo, do nosso povo e de nossa cultura. E um brilho lá mais na frente! Que a gente vai precisar desse brilho. Então esse projeto trouxe isso aí para nós. E eu tenho certeza que vai ficar na nossa mente para o resto da nossa vida.( Jean Pereira, 18 anos, jovem capacitado para monitor– entrevista realizada em outubro de 2015). A capoeira é para mim compreensão... É liberdade de expressar minhas ideias. É a arte de viver. Ela é importante para o futuro. Antes eu era tímida e hoje sou mais participativa. (Erica Cristina Nunes Rabelo, 14 anos, estudante, 9º ano do fundamental – entrevista realizada em outubro de 2015).

É liberdade, harmonia... É dança que se torna luta no momento de dor. Sandro da Conceição Rodrigues, 18 anos, 1º ano do ensino médio – (entrevista realizada em outubro de 2015). Eu estava indo para o caminho errado da malandragem e a capoeira proporcionou oportu-nidade de pensar sobre minha vida e buscar melhorias. Deu-me oportuoportu-nidades. Se a gente caminhar nesse caminho... A gente só melhora cada vez mais. Meu sonho é ser um professor de capoeira, desde pequeno tenho esse sonho de ser um professor de capoeira. (Denílson da Conceição Mendes, 16 anos – entrevista realizada em outubro de 2015).

A minha participação na capoeira me tornou mais sociável, não brigo como brigava com os outros meninos. Eu até pensava que a capoeira era pra violência, mas não é. (Zé Augusto, 17 anos, entrevista realizada em outubro de 2015).

A capoeira é um movimento que ajuda na saúde e tira a pessoa de pensar o mal. E ajuda o pai de família porque a gente já pode sair e deixar nosso filho nas aulas. Permitindo aos filhos a conhecerem outros lugares e evita eles irem para as drogas e de algo ruim, os professores ficam junto com eles dando conselhos. Antigamente estes meninos não queriam participar de nada daqui ficavam desmotivados. Hoje não, já participam. (Benedito Ferreira, 55 anos, entrevista realizada em janeiro de 2015).

A relação com o projeto provocou mudanças na percepção sobre as práticas culturais exis-tentes no próprio quilombo. Durante os finais de semana em que ocorriam as aulas do projeto na escola, ocorriam na comunidade também tambores, festejos, etc. A metodologia de imersão na comunidade utilizada pelo Marakizomba, ou seja, o fato dos instrutores do grupo ficarem alojados durante final de semana numa casa da comunidade, locada pelo projeto, e se inserirem nas ativida-des ativida-desenvolvidas no quilombo durante praticamente todos os finais de semana, durante dois anos, permitiu uma interação com a cultura local e a revalorização, pelos jovens, a partir da valorização dessas práticas pelos educadores, de atividades que vinham perdendo interesse. Conforme Barros e Brustolin (2015) o projeto foi pensado para dar conta de demandas levantadas a partir do diálogo entre os coordenadores e lideranças comunitárias. As lideranças haviam destacado que “já enfren-tava problemas como a falta de interesse das crianças e adolescentes pelas manifestações culturais locais, o envolvimento de adolescentes e jovens com drogas e gravidez na adolescência”. Somada a essas preocupações também “problemas estruturais, a exemplo de falta de água encanada, transpor-te escolar e oferta de ensino médio”. A conquista da transpor-terra precisava ser somada a outras conquistas em prol de uma vida digna.

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No sentido do que era esperado provocar nos jovens em relação à valorização da cultura local, as narrativas dos praticantes revelam que houve uma mudança de perspectiva em relação às práticas culturais no quilombo. Segundo os relatos:

Antes desse projeto vim pra cá, eu convidava uma criança ou um adolescente para ir participar de uma dança ou outra coisa aqui, isso era maior trabalho. Não queriam... Eles se escondiam... Às vezes, era obrigado a chamar outros de outra comunidade pra bater o tambor, onde os próprios da comunidade estavam rejeitando a sua própria cultura. Então, foi assim... Depois que este projeto de capoeira veio nós passamos a refletir sobre nós mesmos. Pois, largar o que é nosso outro vem e toma. Ai pra resgatar de novo, vai dá trabalho. E durante as aulas de capoeira, antes sempre paramos para conversar sobre a nossa comunidade, sobre nós. Então, hoje em dia não se tem uma manifestação que estas crianças e adolescentes não estejam todos juntos lá compartilhando, parti-cipando. Ajudou muito na questão de valorizar nossa a cultura negra, aqui tem várias, tem a mina, tambor de crioula, tem o coco, o bumba meu boi, então isso aí a galera começou a valorizar a cultura dos nossos antepassados. [...] o coco, tambor de crioula nós treinamos, passamos semanas e semanas treinando coco para não acabar. Os adolescentes passaram a valorizar a nossa cultura... A do povo negro. (Jean Pereira, 18 anos, Monitor – entrevista realizada em outubro de 2015). O projeto trouxe de volta aquilo que a comunidade estava esquecendo. Os professores me ensinaram a tocar o tambor de crioula, ensinaram toque de gunga e viola. Eles renovaram aquilo que a galera estava esquecendo e trouxe de volta. (Denilson Gomes, 18 anos,

entre-vista realizada em outubro de 2015).

Estes meninos não queriam nem ir para escola e nem as danças daqui eles não gostavam de participar, e hoje não, ele já bate tambor, falam com todos da comunidade sem timidez. O comportamento melhorou. (Dona Honorata Ferreira, 45 anos, mãe de Raimundo – entrevista realizada em novembro de 2015).

Eram assim... Tristes, sabe? Era assim... Chamavam eles para o tambor, pra dança no festejo e eles não queriam... Eram envergonhados... Não gostavam das danças, ficavam só a gente que é mais velho ficava dançando e os novos não queriam, eles tinham vergonha. (Seu Benedito Ferreira, 55 anos – entrevista realizada em novembro de 2015).

Hoje eu danço e jogo capoeira. Aprendi muito sobre a história do nosso quilombo e do povo negro pelo projeto de capoeira. (Taynara Gomes, 11 anos – entrevista realizada em outubro de 2015).

Eu mesmo participava das danças daqui... Mas muito dos meus amigos não. Meu pai bate tambor e ele me ensinou a participar também. Hoje, a capoeira é um orgulho para mim e despertou a valorização das nossas danças. (Tamires Pereira Souza, 14 anos – entrevista realizada em outubro de 2015).

7 O SOM DO BERIMBAU EMBALANDO O CAMINHO DA ESCOLA

A Escola Municipal São Sebastião é a única escola que existe no Quilombo de Santa Maria dos Pretos. A escola é parceira de todas as atividades da comunidade. Antes da atuação do projeto na comu-nidade, a escola passava por dificuldades quanto à presença dos alunos, havia muitas desistências. Com o projeto, aos poucos, a relação cindida entre escola e comunidade foi sendo reatada. Uma nova diretora, moradora do quilombo, foi crucial no empenho em retomar a importância da escola e a partir do apoio ao projeto aproximar famílias e escola. As crianças e adolescentes destacam a relação positiva entre a escola e capoeira com um novo encantamento pela escola e pelas possibilidades de vida.

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As crianças falavam assim: eu não vou para escola, vou estudar pra quê? Preferiam ajudar os pais na roça, pois eles mesmos os alunos julgavam que isto sim lhes seriam mais proveitoso. Íamos até a casa destas crianças para tentar trazê-las de volta, mas não adiantava. Ana Aline Lima Rocha, Professora – (entrevista realizada em novembro de 2015).

Hoje nós percebemos que estes alunos despertaram, agora eles gostam de falar de esta se expressando. Hoje eles já falam e comentam algumas coisas na sala de aula, hoje eles já dizem professora não entendi isso! É uma coisa que eles não faziam e acabava prejudicando o rendimento escolar deles. E com a vinda do projeto eu comecei a observar junto com os outros professores essa melhora na participação dos alunos e o retorno deles para a escola.( Nilzia, diretora da escola – entrevista realizada em novembro de 2015).

Na sala de aula nós falávamos pouco, agora na explicação de uma aula perguntamos agora, a gente participa das brincadeiras, das danças da comunidade, agora já perguntamos para o professor sobre algo que não entendemos. (Evilson Gomes Pereira, 17 anos. 1º ano do ensino

médio – entrevista realizada em maio de 2015).

Quando era pra fazer uma apresentação das danças da comunidade eles não queriam, ficavam com vergonha, era uma luta fazer esses meninos participarem das atividades do colégio. E muitos deles voltaram a estudar porque eles viram a importância do estudo, antes não es-tavam nem aí, eles não tinham esperanças.(Rosilene Mendes Silva, professora – entrevista realizada em outubro de 2015).

Através desses relatos foi possível compreender que: antes das intervenções do projeto a maioria dos jovens não estava frequentando a escola; julgavam a escolarização como algo não rele-vante para suas vidas; apresentavam bastante timidez e pouca perspectiva de vida. Os mais jovens não tinham interesse nas manifestações culturais devida à falta de perspectiva de vida no quilombo. Ficando sua prática para os mais velhos ou pessoas das comunidades vizinhas.

Após a intervenção do projeto foi perceptível a sua contribuição para despertar o interesse nos estudos o que resultou no retorno dos alunos as aulas, os mais tímidos tornaram-se mais participativos, passaram a ter uma visão melhor do futuro resultado de um trabalho de conscientização da valorização do quilombo e de suas manifestações culturais. Hoje, as crianças e adolescentes reconhecem a importância da Capoeira Angola e das outras manifestações culturais da comunidade. Isso tudo foi resultado do uso das aulas de Capoeira Angola como veículo para despertar a conscientização entre os mais jovens sobre a importância do quilombo, de suas manifestações e do pertencimento como quilombola. Pois, um dos pontos trabalhados durante as aulas de Capoeira Angola foi à importância da educação para suas vidas, foi também transmitida à história e a cultura afro-brasileira e seus valores, despertando neles a autoestima.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intervenção do Projeto Marakizomba foi crucial para despertar nas crianças e adolescentes quilombolas a valorização da capoeira e, por conseguinte, a revalorização das manifestações culturais locais. A capoeira já estava presente entre os antepassados, mas perdia espaço, bem como as danças tradicionais, para outras atividades entre os mais jovens. A luta empreendida pelos negros precisava dar conta das estigmatização das heranças culturais, constantemente atacadas como “feitiços” ou fol-clorizadas, que refletiam no descaso dos jovens da comunidade com os legados culturais.

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As aulas de capoeira permitiram uma formação com diversas dimensões históricas e políticas, revelando seu importante papel sociocultural. Portanto, o debate, o diálogo e a reflexão nas rodas de capoeira foram importantes para possibilitar a abordagem de temas que em outros formatos poderiam parecer desinteressantes. Os praticantes mostram-se engajados e se referem ao desenvolvimento da confiança, da autoestima, da valorização da cultura ancestral e da história do quilombo.

O projeto conciliou o ensino da capoeira com ações voltadas para o desenvolvimento social dos alunos, adaptando as práticas de capoeira para a realidade dos mesmos, trazendo para as aulas os manifestos culturais da própria comunidade, as discussões sobre as relações étnico-raciais, a vida na comunidade, direitos, deveres, história e cultura afro-brasileira. Esses ensinamentos, juntamente com o convívio semanal, permitiram que a capoeira fosse veículo de socialização e de desenvolvimento sociocultural, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e reflexivos. E reabrindo um diálogo entre jovens e lideranças mais velhas que vinha sendo desestimulado.

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“CAPOEIRA ANGOLA IN LAND OF QUILOMBOLA”:

the capoeira angola as a social and cultural vehicle in Quilombo of Santa Maria

of the Pretos in Itapecuru Mirim - Maranhão.

ABSTRACT

The capoeira angola is one afro-brazilian manifestations that was found in the resistance to slavery of enslaved African scandals in contemporaneity, it continues to be practiced and maintains its eman-cipatory character. It is important to understand capoeira in its various aspects in order to see it as a corporeal practice that aggregates important social and cultural dimensions in the path of liberation. The present study presents a research about Capoeira Angola in Quilombo of Santa Maria the of Pre-tos in the interior of Itapecuru Mirim – Maranhão. The objective of this research was to analyze the social and cutural contributions of Capoeira Angola through the capoeira classes of the Marakizomba Project that has been working in this community since 2013. The research instruments were observa-tions and interviews. It was verified that in capoeira classes the teaching and appreciation of Capoeira Angola and other Afro-Brazilian cultures prevailed, awakening in the students the importance of ancestry, resulting in the elevation of their esteem and promoting the respect of their culture, making this respect a living manifest of his citizenship

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MINIBIOGRAFIA Cindia Brustolin

Doutora em Sociologia pela UFRS. Professora do Departamento de Antropologia e Sociologia (DE-SOC/UFMA). Tutora do Grupo Pet Conexões Pesquisa e Extensão em Comunidades Populares – UFMA. Professora do Grupo Gedmma.

Adriana Costa Rêgo

Graduada em Educação Física pela UFMA. Graduanda em Ciências Sociais pela UFMA. Pós- gradu-anda em Educação Física Escolar pela UNINTER.

Referências

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