Prurido urêmico
Michael J Germain
Professor de Medicina, Tufts University of Medicine
Springfield Ma.
• Informação geral
• A fisiopatologia do prurido urêmico (PU) • Tratamento do PU
• Prevalência
A Prevalência de Sintomas na Doença Renal Terminal: Uma Revisão Sistemática
Um Estudo Cruzado da Prevalência de
Sintomas na DRC Estágio 5 Manejada Sem Diálise
Sintoma Prevalência
Prurido urêmico 40,6 %
Distúrbios do sono 60,1 %
Síndrome das pernas inquietas 10 % - 20 %
Anorexia 56 %
Náuseas 46 %
Dor 58 %
Depressão 21 % - 23 %
Quadro 1. Prevalência de sintomas associados à doença renal crônica
PREVALÊNCIA DOS SINTOMAS
Diálise Tratamento farmacológico
FADIGA/CANSAÇO 71 % 75 % PRURIDO 55 % 74 % PRISÃO DE VENTRE 53 % ANOREXIA 49 % 47 % DOR 47 % 53 % DISTÚRBIO DO SONO 44 % 42 %
Associações
Pisoni RL, Wikstrom B et al. Neprol Dial Transplant 2006; 21: 3495-3505.; Mathur V.S. Clin J Am Soc Nephrology 2010;5: 1410-1419.
• Distúrbio do sono • Depressão
• QdV
A patogenia do prurido em geral, e do prurido urêmico em particular, segue sendo pouco
Há uma grande variedade de tratamentos disponíveis
Conhecer a patogenia é fundamental para trazer clareza ao tratamento
A adequação da diálise (medida pelo Kt/V) não teve correlação com a frequência de PU em
estudos epidemiológicos grandes
Pisoni RL, Wikstrom B et al. Neprol Dial Transplant 2006; 21: 3495-3505.
Narita et al. Kidney Int 2006;69; 1626-32.Duque et al. Clin Nephrology 2006; 66: 184-191.
• Não há correlação entre os níveis de PTH e o PU
Resultados contraditórios sobre cálcio sérico e PU
Um estudo encontrou uma maior quantidade de íons de cálcio extracelular na camada mais profunda da epiderme em pacientes com PU que recebem hemodiálise
No estudo DOPPS II,
apenas em um produto muito alto em cálcio-fosfato (i. e. > 80 mg2/dL2)
foi registrada uma correlação com a frequência de PU
Outras causas prováveis
• Anomalias em fibras aferentes da dor • Hipervitaminose A
• Sensibilização alérgica • Ácidos biliares
• Alumínio
• Magnésio sérico elevado • Histamina
Patel TS et al. Am J Kidney 2007; 50(1): 11-20
“Apesar da ampla gama de possíveis
explicações, não foi demonstrado claramente que nenhuma seja a causa subjacente do
prurido associado à doença renal crônica. Os estudos epidemiológicos de grandes
dimensões podem nos ajudar a entender o esquivo processo fisiopatológico deste
O que sabemos acerca do meio imunoquímico na pele dos pacientes com PU?
Nos pacientes com PU, há um aumento substancial da quantidade de mastócitos dérmicos presentes
Os pacientes com PU apresentam uma
diferenciação mais pronunciada de Th1 que os pacientes sem PU
Nos pacientes com PU, aumentam os níveis de IL-2
TNF a
IL-2 = Prurido ++
Mastócito
Nos pacientes com PU, aumenta o leucotrieno 4
Os anti-histamínicos não são eficazes no PU. É quase certo que o PU não é mediado pela histamina.
Alteração do equilíbrio dos ácidos graxos essenciais na epiderme
Ácidos graxos essenciais ômega 6
Ácido linolênico (LA)
Ácido gamalinolênico (GLA)
Ácido di-homo gamalinolênico (DGLA)
Ácido araquidônico (AA)
Ácido adrênico
A teoria indica que em um estado urêmico há um déficit dos primeiros ácidos graxos
essenciais nesta cascata,
o que leva a uma mudança mais marcada ao ácido araquidônico.
Ácidos graxos essenciais ômega 6
Ácido linolênico (LA)
Ácido gamalinolênico (GLA)
Ácido di-homo gamalinolênico (DGLA)
PGE2 Ácido araquidônico (AA) Leucotrieno B4
Ácido adrênico
Tanto a PGE2 como o leucotrieno B4
são agentes pró-inflamatório e causam prurido ++
•A PGE2 de maneira indireta ao sensibilizar os
receptores
Nos pacientes que recebem hemodiálise, a PGE2 aumenta
Isto contrasta com um estado equilibrado, no qual certos ácidos graxos essenciais ao
começo desta cascata produzem substâncias anti-inflamatórias.
Ácidos graxos essenciais ômega 6
Ácido linolênico (LA)
Ácido gamalinolênico (GLA)
PGE1 Ácido di-homo gamalinolênico (DGLA) 15-OH-DGLA
Ácido araquidônico (AA)
Ácido adrênico
El 15-OH-DGLA
é um potente inibidor
das 5- e 12-lipoxigenases
Doenças dermatológicas primárias
1. Hipersensibilidade induzida por fármacos e outras alergias
2. Dermatite de contato 3. Psoríase
4. Xerose 5. Urticária
6. Dermatofitose (tinha crural, tinha do pé, tinha corporal)
7. Penfigoide bolhoso
8. Doença de Kyrle (dermatose perfurante adquirida) 9. Líquen simples crônico
10. Infestaçõs * Percevejos * Sarna * Piolhos Doenças sistêmicas 1. Estados hipercalcêmicos 2. Coléstase * Hepatite viral
* Cirrose biliar primária
* Coléstase induzida por fármacos 3. Neoplasias hemáticas
* Linfoma de Hodgkin
* Linfoma cutâneo de linfócitos T * Mieloma múltiplo
* Policitemia vera
* Tumores sólidos com síndrome paraneoplásica
4. Neuralgia pós-herpética
5. Vírus da imunodeficiência humana
Que tratamentos têm uma base mais sólida na prática baseada na evidência?
• Medicamentos orais • Preparações tópicas • Tratamento UV
Em 3 (três) estudos de ensaios clínicos
controlados randomizados, demonstra-se que a gabapentina tem uma importante eficácia no tratamento do prurido urêmico
Ensaio randomizado controlado com placebo, duplo cego com grupos cruzados.
25 pacientes que recebem hemodiálise
300 mg de gabapentina após a hemodiálise vs. placebo por 4 semanas, período wash-out de 1 semana e posterior inversão.
Índice inicial médio de prurido = 8,4 +/- 0,94 Com gabapentina = 1,2 +/- 1,8
Placebo = 7,6 +/- 2,6 p < 0,0001
Naini et al (2007)
Ensaio randomizado controlado com placebo, duplo cego
34 pacientes que recebem hemodiálise
400 mg de gabapentina após a hemodiálise duas vezes por semana
Índice inicial de prurido = 7,2 +/- 2,3 Queda média no índice –
•Gabapentina = 6,7 +/- 2,6 •Placebo = 1,5 +/- 1,8
Razeghi et al (2009)
• Ensaio randomizado controlado com placebo, duplo cego
• 34 pacientes que recebem hemodiálise
• 100 mg de gabapentina após a hemodiálise por 4 semanas, período de wash-out de 1 semana e depois 4 semanas de placebo
Índice inicial médio de prurido
(de 100)
• Gabapentina = 6,44 +/- 8,4 • Wash-out = 15 +/- 11,2 • Placebo = 81,11 +/- 11,07 • p < 0,0001Condução do chifre dorsal
Canais de cálcio Subunidade alfa 2
Membrana pós-sináptica
Em 2011, Koga et al. Demonstraram que o glutamato atua como “o principal
neurotransmissor” para o receptor do peptídeo liberador de gastrina na medula espinhal dos mamíferos.
Em diálise
100 mg de gabapentina depois de cada diálise e aumentar até fazer efeito
Em diálise
100 mg de gabapentina depois de cada diálise e aumentar até fazer efeito
Em tratamento farmacológico
Velocidade de filtração glomerular estimada > 15:
100 mg de gabapentina à noite e aumentar até fazer efeito
Vários estudos prospectivos de coortes mostraram eficácia.
Aperis. J Renal Care 2010; 36(4): 180-185; Shavit L. J Pain Symptom Management 2013; 45(4): 776-781.
Ácidos graxos esssenciais ômega 6
Ácido linolênico (LA)
Ácido gammalinolênico (GLA)
PGE1 Ácido dihomo-gamalinolênico (DGLA) 15-OH-DGLA
PGE2 Ácido araquidônico (AA) Leucotrieno B4
Ácido adrênico
Ácido docosapentanóico
PGE1
Dois ensaios clínicos controlados randomizados mostraram eficácia: 1. Oral
Yashimoto- Fururie K. Nephron 1999;81:151-160.
2. Tópica
100 mg duas/três vezes ao dia = Óleo de prímula Blackmores
cada cápsula contém 100 mg de ácido gamalinolênico (GLA)
100 mg de talidomida à noite
TNF a
IL-2 = Prurido ++
Mastócito
O TNFa sensibiliza os nociceptores e aumenta seu grau de resposta
Antagonista do receptor NK-1 - Aprepitanto
NK-1
Substância P
Sinal de prurido
R NK-1
Membrana pós-sináptica
SP
Não há estudos sobre o uso de Aprepitanto em PU.
Uso eficaz em outras formas de prurido
Agonistas de receptor opioide k (KOR)
MOR KOR
Membrana pós-sináptica
Evidência limitada
• Sertralina
Outros medicamentos orais
Murtagh FEM, Weisbord D . Symptom management in Renal Failure. In :
Chambers EJ et al (eds). Supportive Care for the Renal Patient. 2nd ed. 2010. OUP. p. 120
• Anti-histamínicos – a evidência não respalda o uso.
• Ondansetron – resultados discordantes. Não recomendado.
• Cimetidina – não recomendada.
• Naltrexona – resultados discordantes. Não recomendada.
Breneman DL et al. J Am Acad Dermatol 1992; 26: 91-94. Tarng D-C et al. Nephron 1996; 72: 617-622; Maklough A. Iranian J Kid Dis 2010;4(2): 137-140.
Em três estudos de ensaios clínicos
controlados randomizados se demonstra a eficácia da capsaicina no prurido urêmico
Desnuda as terminações nervosas da substância P e evita seu reacúmulo em terminações nervosas sensoriais
Capsaicina
Receptor de potencial transitório V1 (TRPV1)
Substância P
Sinal de prurido
O problema com a capsaicina é que provoca uma sensação de ardência na pele – creme a 0,025 %.
- em um estudo sobre capsaicina tópica em outra causa de prurido, foi utilizada uma
Pomada de tacrolimus/pimecrolimus
- suprime a produção de IL-2 por parte dos linfócitos Th1
IL-2
Resultados de eficácia contraditórios em ensaios
Si Não
• Tratamento UV
• UVB de banda larga
Apoptose de mastócitos dérmicos
Fototerapia ultravioleta B de banda estreita para pacientes com PU refratário – ensaio cclínico controlado randomizado.
Não mostrou um benefício importante na redução do PU.
UV – Um tratamento – não eficaz
Acupuntura
Isto se deve a que o tacrolimus suprime os linfócitos Th1 e,
História do prurido
-Duração
-Extensão (generalizado/localizado) -Presença de exantema
-Fatores de exacerbação/melhoria -Antecedentes de alergias e fármacos
Exploração clínica
-Exantema compatível com outras doenças dermatológicas diferentes do PU
-Presença de lesiones de coceira
Bioquímica
-Ca/PO4/PTH
-BUN/creatinina sérica
Causas não urêmicas do prurido
Tratamento de doença cutânea específica e/ou causa sistêmica subjacente do prurido
Prurido urêmico
Qualidade da diálise (Kt/V); se Kt/V ˂1,4, considere teste do aumento da dose de diálise; considere teste de diálise diário para alguns pacientes selecionados
Se houver xerose, aplique hidratantes duas ou três vezes ao dia, especialmente depois do banho; recomende o uso de um
sabonete suave
Gabapentina
Para pacientes em diálise - 100 mg depois da diálise;
ajustar a dose em função da eficácia e dos efeitos colaterais
Se aplicar tratamento farmacológico com velocidade
de filtração glomerular estimada > 15 – 100 mg em noites alternadas
Boa opção se o paciente tem PU e síndrome das pernas inquietas
Outras intervenções a considerar
-Pregabalina
-Creme de capsaicina
-Ácido gamalinolénico (GLA) -Sertralina
-Doxepina
-Agonistas de receptor opioide k (KOR) -Acupuntura
Diagrama 2. Tratamento do prurido em pacientes com doença renal crônica. 72-74, 77-80, 82, 85-93, 95, 96 BUN,
nitrogênio ureico sanguíneo; GFR, velocidade de filtração glomerular; PTH, paratormônio; PU, prurido urêmico.
Conclusões
• O prurido urêmico é um dos sintomas mais prevalentes da insuficiência renal terminal • Pode causar um enorme sofrimento aos
pacientes por um longo período de tempo
• A patogenia do prurido urêmico segue sendo pouco clara
Apesar de muitas estratégias de tratamento serem sugeridas, poucas contam com altos níveis de evidência.
Na última década, foram registrados grandes avanços na neurociência do prurido e no
Muitas destas pesquisas provêm de áreas da literatura muito diversas e é necessário uma síntese deste material.