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Um pequeno memorial do preconceito. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Memória. Preconceito. Africanidade.

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Academic year: 2021

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Um pequeno memorial do preconceito

Marcelle Aguiar - marcelle24@gmail.com Licenciada em Letras (FIS)Mestranda (PPGEB/Cap-UERJ) Docente de Língua Inglesa (SME-Magé/Rio de Janeiro)

Gilberto Hora - hora.g@outlook.com Licenciado em Educação Artística (EBA/UFRJ), Discente (PPG/IFRJ/Nil[oplis) Docente de Artes Visuais (CAp-UFRJ)

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo levantar possíveis entraves sobre a aplicação efetiva

da Lei 10.639, que implementa o ensino de cultura e história da áfrica na educação básica em relação a história de vida e formação de dois docentes negros no caso específico, visando novas possibilidades e reflexões para uma atuação pedagógica que valorize a humanidade e a diversidade. Foi utilizado para esse levantamento a elaboração de memoriais, inspirados em memoriais de formação docente com referências em tópicos da análise de conteúdo. É relevante no trabalho o registro e a utilização das experiências de vida dos autores como instrumento de reflexão para transformação de preconceitos instituídos vivenciados e praticados, que infelizmente ainda se fazem presentes na sociedade e nas comunidades escolares.

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Memória. Preconceito. Africanidade.

1. INTRODUÇÃO:

A cultura brasileira é demasiadamente heterogênea e diversificada; comidas, cheiros, manifestações, festas, vestimentas, palavras, danças, locais entre diversos outros elementos que a constituem e a tornam extremamente rica. O Brasil como um país de dimensões continentais com influências de várias origens apresenta manifestações condizentes com as questões regionais.

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Muito foi inventado aqui a partir da fusão de concepções trazidas pelos diversos indivíduos que integraram e integram nossa matriz cultural caoticamente frutífera.

Este trabalho porém se debruça sobre as questões de uma das vertentes de nossa cultura, muitas vezes esquecida, negada, silenciada e ocultada por séculos, porém extremamente significativa: A influência da cultura negra, de origem africana em nosso país.

Os negros foram trazidos de maneira forçada, em condições precárias, para terem sua força de trabalho convertida aos interesses dos colonizadores desta terra, os europeus, portugueses em sua maioria. Uma parte considerável, senão majoritária do país deve sua existência ao trabalho destas pessoas, que durante gerações constituiram significativamente, nas costas e nos braços e nas coxas aquilo que hoje chamamos de Brasil. Mesmo com toda essa influência no cerne social, cultural, econômico do País, os negros e seus valores foram renegados durante séculos, na terra que forçadamente, construíram.

Junto com eles vieram suas concepções de mundo, danças, modos de agir, vestir entre outros que constituíram bases para o que hoje chamamos de cultura nacional, porém este valor, durante muito tempo foi vetado pelos colonizadores, com a intenção de enfraquecer estes povos e assim manipulá-los mais facilmente. Estas culturas sobreviveram a duras penas e chegaram até o nosso tempo, de outras formas, sempre se modificando, porém ainda hoje, apesar de entranhados na naturalidade brasileira, os elementos relativos a africanidade ainda necessitam de extrema discussão em nosso país. Ainda hoje, mesmo séculos depois da legalização da liberdade, vivemos o preconceito, a estigmatização, a discriminação, as ações pejorativas muito presentes para com a o negro e sua origens culturais, mesmo após a criminalização do racismo. Aparentemente, cem anos não foram suficientes para sanar o ferimento simbólico e físico.

Diante disso, temos alguns pontos afirmativos como a Lei 10.639, de 2003 que obriga o ensino de cultura e história da África na Educação Básica, transitando por todos os conteúdos, principalmente Artes, Literatura e História.

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Essa Lei é um marco histórico para a educação e a sociedade brasileira por criar, via currículo escolar, um espaço de diálogo e de aprendizagem visando estimular o conhecimento sobre a história e cultura da África e dos africanos, a história e cultura dos negros no Brasil e as contribuições na formação da sociedade brasileira nas suas diferentes áreas: social, econômica e política. Colabora, nessa direção, para dar acesso a negros e não negros a novas possibilidades educacionais pautadas nas diferenças socioculturais presentes na formação do país. Mais ainda, contribui para o processo de conhecimento, reconhecimento e valorização da diversidade étnica e racial brasileira. (KI-ZERBO, 2010, pg.9)

Porém mesmo diante de medidas como esta, ainda é grave a ausência de conteudo africano na escola, de maneira desvelada para a promoção de identidades e e apresentam o memorial como um estopiam para pensar reflexoes sobre o negro e sua historia pensando de maneira inicial em suas historias a partir do memorial. Na formação profissional, independentemente da disciplina a ser lecionada o professor não é confrontado academicamente com questões que possam contribuir para a reflexão e aplicabilidade desta medida. Considerando as vivências escolares dos autores, podemos constatar que poucos são os docentes de outras disciplinas fora do campo de linguagens que se interessam em trabalhar o assunto, e mesmo assim os docentes interessados enfrentam diversos entraves em relação a gestão e mesmo a comunidade escolar, que devem ser considerados. Entendemos que o professor, principalmente o professor negro, deve conhecer suas origens de maneira qualitativa. O memorial se apresenta como recurso para o docente considerar suas vivencias e assim constritui

Este trabalho tem por objetivo investigar através do memorial histérias de preconceito vividas e presenciadas como fator de reflexao para a vida e para a pratica docente. Utilizando os pontos de SEVERINO trazidos por PEREIRA, de maneira adaptada, a intenção é pensar o memorial como um registro reflexivo dos atos de preconceito vivenciados pelos docentes autores, para a proposição de debates e mudanças nas práticas pedagogicas de maneira efetiva.

Segundo Severino (2000, p.175) “o Memorial se constitui numa autobiografia, histórica e reflexiva. Deve ser composto sob a forma de relato histórico, analítico e crítico, que dê conta dos fatos e acontecimentos que constituíram a trajetória acadêmico-profissional de seu autor”. (PEREIRA, 2005)

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2. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO:

Foi utilizado o formato de memorial acadêmico utilizado geralmente em cursos de formação de professores, com adaptações, pois o foco não foi a academia em si, mas toda a experiência de vida dos redatores, tendo como foco os preconceitos vividos em relação a africanidade de nossas origens.

Cada um dos docentes redigiu seu depoimento paralelamente, sem acesso prévio ao conteúdo escrito pelo outro. É interessante perceber as semelhancas entre os depoimentos, que nos ajudam a constatar um quadro clínico crônico quanto as posturas construídas em relação ao negro no Brasil.

2.1. - Marcelle, 34 anos, Mulher, Negra.

Nascida no Rio de Janeiro, filha de um homem Negro nascido em Salvador, que veio para o Rio de Janeiro através da Marinha do Brasil e aqui conheceu uma “mulata” neta de Português e pai mestiço que casou com uma negra que é minha avó. Enfim, essa mistura de raças resultou nesta pessoa que vos conta a história.

Minha avó dizia que o que estragava em meu rosto tão bonitinho era o nariz ser tão largo igual ao do seu pai, dizia: “ela tem nariz de preto”. Dona Yolanda, negra, neta de escravos, afirmava que havia uma simpatia com cuspe para afinar o nariz e desde bem pequena usava pregador e movimentos apertando o nariz várias vezes com cuspe para ver se conseguia disfarçar minha nareba como chamava (antes de compreender a história da minha origem meu maior sonho era fazer plástica em meu nariz).

Tudo começou em relação a preconceitos quando o Pai Militar e mãe professora meus pais decidiram colocar-me na melhor instituição católica da região na Pavuna, Suburbio da cidade e logo, me percebi “diferente” das demais colegas do antigo CA (classe de Alfabetização) , logo vieram os apelidos, meus cabelos eram na época aloirados pelo sol , mas crespos, então com a ajuda do samba enredo da escola Unidos da Ponte , cujo o tema era a natureza, Vida que te quero viva, com uma das partes do enredo que dizia :Mico Leão, não pare de pular, Mico Leão, querem

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te pegar….com esse trecho da música, os alunos brancos, cantavam e escarneciam dos meus cabelos, da minha raça, com fotos de macacos que vinham no chocolate surpresa. Começou desta forma pra mim o entendimento de que eu era menos que as demais colegas brancas, loiras e de cabelos lisos.

“Mulata tem que saber sambar”, dizia minha mãe me levando para o barracão da sua escola de samba do coração, sambava até o pé doer, “ foi assim comigo minha filha… não é a toa que me tornei passista do bloco aqui da Pavuna Paz e amor, agora é a sua vez de brilhar, frequentávamos aos ensaios técnicos da Mocidade independente de Padre Miguel, Unidos da Tijuca e Beija flor, sambando até tarde, quando um dia surgiu o convite para eu ser passista mirim, foi a glória, felicidade total da família, iria desfilar nos herdeiros da Vila Isabel, mas , no dia de buscar a fantasia, houve uma confusão entre a polícia e uns baderneiros nas proximidades da quadra da escola que rapidamente fechou e quem ainda não tinha pego suas fantasias ficaram sem porque o desfile seria no dia seguinte. Entrei em profunda tristeza e pedi pelo amor de Deus pra minha mãe me tirar da vida de passista mirim, então ela percebeu que não estava me fazendo bem com esse desejo dela e parou de me levar para as escolas de sambas e blocos. Ao então minha mãe me matriculou na aula de ballet clásssico.

Meus pais se divorciaram eu tinha 7 anos, minha mãe era feminista demais pra aceitar o conservadorismo militar do meu pai, terminou a graduação em pedagogia e começou a fazer algumas pós graduações, dizia não ter nascido pra fazer comida e lavar farda, ele não aceitava a separação , mas foi inevitável . Ela foi conquistar o mundo e outros conhecimentos e ele casou-se novamente com uma pessoa que conheceu no Nordeste, mas precisamente no Recife quem até hoje se enquadra no perfil de esposa ideal estipulado por ele.

Mulher divorciada na década de 80 era muito mal vista, filha da mulher divorciada então nem se fala, na escola os pais das outras crianças diziam para que não fizessem amizade comigo porque minha mãe era “largada” como se ei tivesse uma doença infectocontagiosa ou algo parecido,a garota problema e pra completar negra.

Com o divórcio, minha mãe não tinha a princípio dinheiro para pagar a escola católica que eu estudava, então foi me deixando por lá e transmitido à situação difícil para a direção do colégio, um dia, a freira do financeiro me chamou no corredor, me tirou de dentro da sala de aula e falou a

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seguinte frase : “fala pra sua mãe que vai começar a semana de provas, se ela não pagar as mensalidades, semana que vem você não fará as avaliações” .

Entrei triste pra sala quando a menina que sentava na cadeira colada a porta olhou pra mim e falou: “Além de mico leão dourado é caloteira, a mãe não paga escola, aqui não é pra você não!”. A menina tinha ouvido a fala da freira e reproduziu o preconceito me humilhando na frente da turma, lembro-me que a professora repreendeu naquele momento a fala da garota, mas essa fala se propagou nos corredores, recreios, entradas , formas, durante o hino nacional , até a hora da saída por todos os dias, até à semana acabar, eu não aguentar mais de tristeza, minha mãe perceber que tinha alguma coisa de errado com o meu comportamento e eu contar tudo pra ela.

Com isso dona Marilza, professora , deixou a diplomacia de lado e foi a escola em rítmo de guerra, e fui convidada a ser retirada do recinto no mês de Outubro de 1991 ,Minha mãe conseguiu vaga quase no final do ano em uma escola municipal próxima a minha casa que hoje sou professora nela. Cheguei na escola, me sentia um extraterrestre porque os meus costumes eram diferentes, eu não tinha amigos e as pessoas me achavam metida, patricinha, tudo era novo pra mim, não estava acostumada a fazer refeições na escola, eu levava a minha merenda, o sistema público era diferente e a adaptação foi muito ruim.

Com o tempo as pessoas que em sua maioria era negras como eu iam me acolher, sonho meu! isso não aconteceu, as meninas não gostavam de mim eu acho. As questões judiciais da separação se resolveram minha mãe começou a receber minha pensão alimentícia e meu estojo era diferente, minhas canetinhas, minha mochila e isso causava raíva nos outros do grupo e ai neste momento da minha vida ainda abalada com a ausencia do meu pai, engordei, desenfrenadamente e por isso começaram a me chamar de Baby da família dinossauro, não sabiam nem o meu nome, todos os alunos me chamavam assim e falavam “ não é a mamãe” , frases do desenho animado.

Eu não conseguia rebater ou sequer brigar pelos meus direitos, aceitava calada todas as ofenças, sempre triste e apática. Foi quando minha mãe arrumou um namorado, que tinha um filho negro e alto , fora da minha faixa etária mas matriculado na mesma escola que eu e ele virou uma espécie de defensor,um irmão, ameaçando bater nas outras crianças que me ofendessem e por isso as agressões foram diminuindo, eu torcia pra ele não faltar, porque o dia que ele não estava era complicado conviver com as agressões. Fiz inscrição para um colégio de nome que não irei citar

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qual é, e fui discriminada e perseguida pelo professor de matemática a ponto de retirar pontuações da minha prova para me reprovar, “eu ,não gosto de você garota, tem cara de sonsa , pelo simples fato de existir, não tem motivo” Minha mãe decidiu me trocar de escola novamente, outro colégio particular , escola que fui bolsista porque ela dava aula na escola, o apelido me acompanhou porque parece que alguém que era da escola pública que eu estudava, foi para esse colégio em meu bairro e conclui a 8° série sob o apelido de baby e sem nenhuma popularidade na escola, na verdade, pra ser percebida eu era a boba da corte do recinto.

Adolecência, vamos alisar os cabelos? claro… de todas as formas, bob, dedinho, henê, alisantes de todas as marcas, vezes careca, porque a quimica não era compativel com a anterior, meu Deus, como exigem de nós mulheres negras! as ditas “ gostosas” olhadas como objeto de desejo pelos seios fartos e curvas acentuadas. Não me resumo a isso que dizem e pensam sobre nós.

Contando um pouco sobre essa minha fase, meu pai foi contemplado com uma viagem de ouro pela Marinha, o único negro a trabalhar como Auxiliar de Adido Naval na Embaixada do Brasil em Washington D.C . A família (como a madrasta e filha do segundo casamento) foi com ele para os Estados Unidos em 1996 , eu tinha 15 anos e matriculada pelo consulado brasileiro em um colégio público Americano, passei por situações preconceituosas e humilhantes. Lembro me de uma aula de artes, quando eu já sabia falar Inglês fluente, quando a professora me endagou a falar para a classe um pouco sobre o meu País , “ Fale Marcelle sobre sua origem” , quando cheia de orgulho, iria começar a relatar as riquezas do meu Brasil, um americano branco me interrompe e diz: “Eu sei professora, ela morava em uma oca”.

,Achei que o meu Inglês estivesse falhado, que eu não estava ao certo compreendendo a linguagem, mas foi exatamente o que ele quis dizer , oca de índio, pensava que o brasil se resumia a Floresta Amazônica, desconcertada e ofendida tentei argumentar, quando outro aluno disse para o primeiro, “ deixa de ser estupido, o Brasil é o País das mulheres mais quentes do mundo, elas tem uns biquinis de arrasar, eu vi nas fotos de copacabana” . Depois desses argumentos me limitei a dizer que eles não sabiam nada sobre a minha origem e resolvi me calar. Após a aula chorei muito pois os meninos passaram a me olhar diferente, pareciam que tinham perdido o respeito e faziam insinuações ofensivas achando que por eu ser negra e brasileira era obrigada a aceitar as

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atrocidades propostas, até mesmo por acharem que eu era imigrante ilegal em busca do visto de permanêncial.

Queria muito saber nos Estados Unidos, qual era a minha tribo, os Afro Americanos diziam que eu não pertencia aquele grupo, mesmo quando eu tentava imitar a fala e os trejeitos deles, para me sentir acolhida, eles mandavam eu ir procurar os hispânicos. Adolescentes tem dessas coisas, querem ser aceitos, ter a sensação de pertencimento. No grupo dos hispânicos diziam que eu não poderia ficar com eles por não falar Espanhol fluentemente, mandavam eu procurar, os brasileiros e os brasileiros que moravam nos Estados Unidos, pareciam que perdiam a identidade verde e amarela, queriam falar em Inglês o tempo todo, esquecendo da sua língua materna. A questão foi muito complicada para eu caber em algum espaço.

Algo que eu muito admirei pelos 3 anos que estive em Maryland era o cuidados das mulheres negras com sua aparência, unhas e cabelos, os produtos vendidos , cosméticos normais,na época eram anos luz na frente do Brasil. Me cuidei, mas a auto estima era muito baixa, voltei dos Estados Unidos para o Brasil, para ver minha avô que estava com cancer e resolvi entrar na faculdade o curso, claro Relações Internacionais, com o Inglês que aprendi, poderia e queria trabalhar no Itamaraty como diplomata, mas como? um curso caro (em faculdade particular) excludente, porque as atividades eram em congressos e palestras pagos por nós, lembro-me de um que foi no museu da américa latina em São Paulo, a turma toda foi, menos eu porque não tinha dinheiro para as despesas e por isso me dei mal em algumas provas pois os relatos dos ministros neste congresso , faziam parte da matéria que estaria na prova, em um ano de curso, vi que o Inglês somente não daria conta , precisava do Chinês, Alemão, enfim, não me sentia parte do grupo e desisti deste curso.

Para aproveitar o Inglês entrei no curso de licenciatura em Letras Português , Inglês, durante a faculdade, não me recordo de vivenciar preconceitos mas, porque eu era boa em Inglês e as pessoas queriam aulas de reforço porque sabiam que eu tinha vivido no Exterior e sabia falar bem. Tentando arrumar estágios ou trabalhos, tive dificuldades, não acreditavam no meu Inglês pois perguntavam qual curso eu tinha feito e eu respondia que nenhum , que havia ído com meu pai estudar lá fora, (Era como se eu sentisse que as pessoas não acreditavam que eu poderia ter morado mesmo nos Estados Unidos) e algumas vezes nem a prova me davam pra me candidatar.

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Cabelos alisados então escova quase que todos os dias, inconscientemente eu precisava “ me branquear” para que às oportunidades chegassem a mim, negar as origens, negra eu? sou morena clara, bem clara, tonalidades de pele muda a origem? nada contra as pessoas que alisam ou colorem os cabelos, temos o direito de fazermos o que quisermos com o nosso corpo, mas a conciência negra que deveria vir através da escola, eu infelizmente não tive a oportunidade cedo de estar em contato com a minha cultura. Ao contrário tudo o que eu sabia sobre os negros, era nos menosprezando, diminuindo e escravizando cada vez mais , por intermédio da mídias, das reproduções preconceituosas e a falta de valorização de tantas ou quisá dizer de todas as coisas que nós negros fizemos em prol da nossa nação e do mundo.

Acabei faculdade , meu primeiro emprego de carteira assinada tinha haver com a marinha mercante,eu daria aula de inglês para pessoas que iriam embarcar nos navios como trabalhadores, todos os alunos me tratavam com muito respeito apesar dos meus 22 anos, achavam muito bonito uma moça como eu formada pela faculdade. Alguns deles taifeiros, não tinham nem o ensino médio e eram amáveis alunos, mas o comandante com o passar do tempo começou a ameaçar me mandar embora se eu não saisse com ele, no começo deu um tom de brincadeira, mas com o tempo fui percebendo que era sério e como não cedi, me mandou embora com quase dois anos lecionando. Meus alunos ficaram muito tristes, fizeram abaixo assinado e tudo mas comecei a compreender que nem sempre as pessoas eram éticas.

A frase da minha mãe “ negro só vence se estudar e muito” veio a calhar , todos os empregos particulares que tive me via como uma das únicas professoras de inglês negra, e sofria com isso e por isso , penso que o preconceito já está tão enraizado nas pessoas que elas nem percebem que estão praticando. Meu objetivo tornou-se meta de vida, passar em concursos públicos, estava tão focada que quando passei para dar aulas de Inglês na prefeitura do Rio escolhi as favelas Comecei a estudar sobre esse espaço de pertencimento dentro da minha realidade e uma das escolas que atuo como disse antes foi a que eu sofria preconceito, entrei de cabeça erguida e hoje sou colega de trabalho de alguns professores que me deram aula.

Passei para outros concursos públicos mas escolhi permanecer como professora de Inglês na prefeitura do Rio na Pavuna e em Acari e no município de Magé que fui professora até esse ano quando fui convidada pela secretaria de educação para atuar como coordenadora de Língua Inglesa

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nos anos finais do ensino fundamental , junto ao departamento pedagógico da secretaria de educação. Foi neste ano também que ingressei no mestrado profissional em ensino de educação básica no Cap-UERJ depois de um ano como aluna especial cursando disciplinas isoladas.

Nesta busca por mais saber, conheci o Gilberto, no Museu de Arte do Rio , onde no ano passado tivemos o previlégio de apresentamos um trabalho escrito por nós e mais dois parceiros, sobre uma exposição que tratava sobre a temática da nossa raça “ do Valongo a favela” nos conhecemos na exposição e escrevemos sobre ela. Iniciamos uma parceria de estudos e trocas que é essencial para a vida de todo ser humano.

Sou mãe, casei com Denilson um homem negro que é neto de português por parte de pai e neto de escrava por parte de mãe. Nosso filho disse em uma certa feita que na escola dele que é um dos colégios católocos mais conceituados da baixada fluminense que os meninos dizem que esses meninos de pele amarela e cabelo duro que raspam a cabeça com a máquina, parecem crianças com cancêr.Não sei se foi por esta razão mas meu filho de 08 anos,então me pediu pra que eu parasse de cortar o cabelo dele, queria assumir o black power. Tem um grupo na escola de negros que deixaram o cabelo crescer e os chamam carinhosamente de “o bonde da cabeleira”. Fiquei feliz com a compreensão de um conceito tão complexo para uma criança que cortando ou não o cabelo tem orgulho de ter o cabelo crespo.

Pois bem falando sobre preconceito, cabelo, cor, tonalidade, diferenças, igualdades, direitos, quanta coisa nos torna seres únicos ,excentrícos e ao mesmo tempo tão iguais em nossas fragilidades, sentimentos, emoções. O que fazer com o turbilhão de sensações que passamos ao longo da vida? usamos para nos fortalecermos, erguer a cabeça e seguir seguindo para sermos exemplo a outros, ou permitimos que as falácias histórias predizam e escrevam o destino fadado a nós negros?

Lutar é preciso, estudar, sair da posição de agredido para formador , mediador e escritor de novas etapas em outras vidas. Quando converso com meus alunos daqui da região , eu que ainda moro na Pavuna , falo de cada espaço desse território, conto como era antes, das festas da igreja de Santo Antonio, tento mostrar que nós podemos mudar realidades. Eles dizem : “ A senhora fazendo mestrado morando aqui perto da favela? mete o pé professora!”. Alguns ainda não entendem que às universidades são pra eles, que o mestrado também é pra eles, doutorado e até

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mesmo estudar no exterior. Quebrar paradigmas, diminuir as distâncias postas para que dissessem para nós que não era possivel.

Mas é praticável sim, somos prova disso, hoje com as conquistas que nós negros estamos buscando espaços, que no mundo sempre foi tão fechado para nós, mas que é nosso por direito, por intelectualidade, por esforço, por estudo, por legitimidade, por suor, enfim por sermos seres humanos dotados da mesma competência que qualquer outro ser humano de outra etnia.

Triste é pensar que estou com 34 anos e as abordagens preconceituosas que eu sofri entre os anos 80 e 90 hoje em dia no ano de 2015, pelas escolas, pelas ruas, pelas universidades, pelas empresas, pelos órgãos públicos, continuam a acontecer. O que me alivia é saber que as famílias, as pessoas, os pesquisadores, os negros, estão abertos a dialogos e estamos dispostos a lutarmos para que a mesmíce da segregação não se perpetue pela eternidade. Conhecer a sua história para escrever novas histórias, um exemplo fala mais do que muitas palavras.

2.2. - Gilberto, 29 anos ,Homem, Negro.

Me chamo Gilberto, nasci no Rio de Janeiro em 1986. Sou fruto da união de pais negros, com origens heterogêneas. Meu Pai, advogado, formado em universidade pública e minha mãe, servidora pública da mesma universidade. Fui praticamente criado pela minha avô e por minha família materna por conta da separação precoce do casal, fato que traz para a minha formação diversos bônus e ônus.

Como fruto de um casal financeiramente estruturado, sempre estudei em colégios particulares, onde geralmente fazia parte de um grupo seleto de iguais, negros que frequentavam estas unidades de ensino, gerando conflitos, esperados.

Retomando minhas memórias de infância não consigo lembrar de muita coisa em relalção a discriminação. Talvez por ser muito pequeno não notasse, mas certamente era existente Lembro-me mais de fatos em relação a terceira infância, a partir dos seis anos onde as disputas e uso das palavras se tornam mais claras. Colocações sobre a cor da pele, a forma do rosto, começaram a aparecer, e é nesse momento você começa a receber uma carga, muito forte contra a sua estima, carga esta que muitas vezes você não compreende a origem.

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Minha avó sempre falava que nós deveriamos fazer as coisas muitos melhor que os brancos para sermos valorizados no mundo, fato que aceitava mas nunca entendia. Talvez, pensando hoje, ela pregasse isso como uma fórmula para superar o preconceito. Um negro com grande competência técnica não sucumbiria fácil as violências simbólicas e muitas vezes físicas, fundamentadas no brasil-colônia e que mesmo diante de legislações afirmativas, resistem até hoje.

Muitas vezes, na infância, ficava pensando sobre o porque eu era negro, sobre o porque eu era assim e porque sofria constantes agressões, enquanto as crianças mais claras as não sofriam. Nunca vi ninguém gritar branco para agredir um branco, ou mesmo quando isso acontece o efeito não era o mesmo, por mais que fosse associado a adjetivos como azêdo. Algumas vezes xinguei isso como resposta, orientado por minha avó ou parentes, mas nunca me senti confortável, apesar de descarregar a adrenalina da agresão de volta, aparentemente.

Lembro-me também de comparações que me deixavam triste, como por exemplo Jorge Lafond, do programa de humor, A praça é nossa ou mesmo Cirilo, da Novela Carrossel, ambos do SBT. Entre outros diversos personagens negros caricaturizados, que geralmente os agressores se utilizavam para referir ou apelidar. Cirilo era um personagem secundário da novela, de origem humilde que sempre era escurraçado por uma personagem loira, pelo qual este era apaixonado. Citações como macaco, preto também eram comuns. Eu não entendia aquilo e também não sabia como reverter aquilo, como responder aquelas pessoas. A escola também não ajudava. Sempre existe aquele “não pode fazer isso com o colega” e pronto. Uma ação estilo “cala a boca” muito comum na educação, decorrente da falta de ambientes de diálogo, de discussão franca e do protecionismo vivenciado pela escola, até hoje. Talvez porque dê trabalho, talvez porque não se deseja reverter esse quadro e propor novos caminhos.

Eu mesmo pouco falava disso em casa. Muitas vezes quando era aparente ou mesmo meus parentes tomavam conhecimento, me orientavam a se defender, a agredir de volta, situação que nunca me agradou. Diante disso sempre sucumbi com essas agressões, corriqueiras no ambiente escolar. Em quem e como eu poderia me valorizar ?

Na adolescência, estas questões só se agravam. Talvez o pior preconceito seja o velado; velado em brincadeira, em falso elogio. Muitas vezes, aquele que nem nós mesmos percebemos, estruturado, enraizado. Alguém já viu um branco ser chamado de Brancão ? Soa estranho não ?

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Pois é, por que negão não soa ? Muitas vezes fui chamado por este termo ou variantes e pouco me tocava do tom pejorativo ennvolvido nisso. Até os próprios negros reproduzem isto sem conhecimento. Adjetivos como negrinha para referir-se a baderneira são comuns, mesmo nos núcleos negros. De tanto ouvir como os outros acham que você é, você acaba por reproduzir e assimilar estes valores pejorativos e jogar com eles, mesmo que invisivelmente.

No ônibus, pessoas que evitam sentar ao seu lado, com medo de serem abordadas por você. Comecei a vivenciar questões de insatisfação com a minha presença simplesmente. Desconfianca em lojas e questões do tipo. Uma vez minha mãe foi seguida por uma lojista, orientada apoteóticamente pelo dono da loja, que assoviou e apontou para o grupo de negros, no caso, nossa família, que estava entrando na loja. Minha avó ficou indignada com a situação, e lembro que na ocasião virou o assunto do dia.

Na escola, estudo que os negros foram escravos, fato que acaba sendo utilizado como elemento pejorativo por agressores, vulgo colegas, dentro da unidade escolar. Os negros foram escravos e foram libertados pela Princesa Isabel. Parece tudo muito romântico. Hoje penso o grande deserviço prestado pela escola ao trazer esta sem dar amplitude para discussão. Fornece aos agressores mais recursos, para a promoção de segregação racial e preconceitos. É importante sinalizar que preconceitos também emanam de gestores e docentes. O aluno negro muitas vezes é visto com descrença pelos gestores e docentes. Pelo menos era o que eu sentia. Gosto muito de desenho, pintura e artes e muitas vezes percebia que por ter essa habilidade despertava a perturbação de alguns, sendo que outros que também tinham esta habilidade não o despertavam. A descrença em relação a capacidade de um jovem negro, de família humilde, sempre se fazia presente. Apesar disso nunca senti que o meu lugar não era ali, mesmo que muitos insistissem em manifestar essa opinião indiretamente.

Tal conjuntura não poderia ser diferente, considerando que a escola se apresenta como celeiro de reprodução das regras do mundo dominante, masculino, branco, heterossexual, europeu, conservador.

No ensino superior escolhi estudar educação artística altamente influenciado pelo desenho oriental e bases de desenho clássico. Na universidade não vivenciei discriminação aparente em

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relação a minha pessoa, pelo menos no ambiente do curso. Os alunos eram todos muito heterogêneos e creio que isso foi positivo.

Para mim, o que era considerado arte estudável era a arte européia, aquela das estátuas brancas de mármore, as quais pouco vi de perto mas são idolatradas na história da arte. É o que esperava abordar no decorrer do curso. Praticamente, é isso mesmo que se aborda. Até mesmo quando se faz a da arte nacional, se cria uma ponte com algo que de fora que veio antes ou tinha relação “direta”, de modo a valorizar. No ensino fundamental, lembro de algumas aulas de folclore, que falavam de festas folguedos, sempre visando aquelas festas de final de ano que servem na maioria das vezes, somente para agradar os pais pagantes. Posso resumir as aulas de arte que tive a arte européia lá e arte européia aqui, praticamente. Quando aborda questões nacionais, sempre a coloca de maneira folclorizada, sem profundidade de assunto. Se estuda mais as coisas de lá do que aqui, tanto na escola como na universidade.

Outros pontos importantes a serem considerados são as vertentes religiosas dos meus pais. Minha família materna é de origem cristã, batista, religião de praticamente todo este lado da família. Uma grande parte frequentava durante décadas a mesma igreja até pouco tempo atrás, ou igrejas próximas. Não conheco com profundidade as raízes espirituais de meu pai, porém até onde tenho conhecimento ele era ligado a religiosidades como umbanda, candomblé e espiritismo. Acho que muito das impressões que temos do mundo adquirimos dos outros. Minha família materna sempre falou disso como muito temor, inclusive minha avó. Palavras como macumba, diabo, sempre foram proferidas, associações que também adquiri em relação a africanidades. Meu pai tinha uma “tia” que creio que era mãe de santo ou algo parecido. Ela morava longe da cidade, em um sítio de terra batida, em outro município da área metropolitana.

Minha avó se referia a ela com ares de medo, como se ela tivesse alguma má intenção, tivesse poderes. Várias vezes ouvi que ela matava animais e fazia macumba. Adquiri isso para mim, e transferia para a relação com a tal mulher. Tinha horror da mesma, achando que esta poderia fazer algo comigo, fato que nunca aconteceu. A mesma ação pejorativa era feita, de maneira comum, desintencionada, em relação as religiosidades de meu pai. Absorvi também, quando mais jovem, as mesmas desconfianças em relação as religiosidades de meu pai., por mais que nunca vi nenhuma ação negativa efetiva deste.

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Sempre tive medo e esquiva de negras de renda, achando que elas pudessem fazer algo ruim contra mim ou algo parecido. Penso que é ensinado a ter medo e temor destas pessoas, e a escola, a sociedade e as famílias respondem por grande parte desta ação. Acabo sendo fruto disso. Minha relação com cultura e religiosidade africana sempre foi aparentemente zerada. Minha mãe praticou capoeira durante um tempo e minha avó gostava de samba, mesmo sendo da igreja, aparentes dualidades que nunca entendi.

Vale aqui pontuar o evento que marcou minha mudança de pensamento em relação a cultura afro-brasileira. Em meados de 2010, cursei uma matéria de intruso na faculdade. A matéria se chamava arte africana e nem mera da minha grade curricular. Cursei de intruso, por não querer cursar Folclore II por conta de indicações negativas em relação ao professor, assim como vivências pessoais negativas com o mesmo. Diante disso fui fazer a disciplina, original da grade de história da arte. Não sei explicar agora o que me motivou a fazer tal disciplina. Por um lado eu tinha temor em debater sobre este assunto, por outro eu tinha uma grande curiosidade sobre o assunto, aparentemente inexplicado e místico.

O ponto chave do curso foi a visita ao Museu Afro Brasil em São Paulo. Realmentea visita ao museu alterou de maneira significativa a minhavisão sobre este setor da arte, do qual nunca tive muito conhecimento. Os valores inestimados e contribuições de extrema qualidade ali apresentados, de maneira sequencial, mudaram minha forma de olhar para a arte afro-brasileira. Revelou-se a mim o valor oculto por séculos. Vi referências, vi iguais, vi a dor e a alegria. No mesmo dia também fui a uma expo de Andy Warhol, famoso artista norte-americano, em outro centro cultura paulista, porém certamente a experiência do museu afro brasil foi para mima mais marcante em décadas.

Outro evento importante a se marcar em relação a isso foram as aulas de Lingaugagens artístias como dispositivos de educação que presenciei, em 2015, na pós graduação que estou cursando. Pude perceber que a maneira respeitosa de se falar de algo é transferida do docente para o aluno muitas vezes. O professor propôs uma desconstrução dos lugares comuns, vigentes na escola formal, a partir da discussão. A maneira respeitosa e densa com que o professor comunicava sobre questões afro, como artes, esculturas, religiosidade, manifestações foi fundamental para despertar também o meu respeito para com estas manifestações. Entendo diante desta experiência

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recente que o respeito e o conhecimento que o professor tem pelas questões trazidas por ele, são de influência direta na construção de uma boa relação do aluno com o assunto, rompendo assim preconceitos históricos.

Hoje como docente elocubrando sobre minhas vicências pessoais e as ações docentes, vejo como reproduzo estas esperiências em sala de aula, novamente, por mais reflexivo que possa me apresentar. É algo que se apresenta entranado as nossas ações cotidianas.

Fico triste ao ver alunos que vivem a minha história novamente, por que a escola, aparentemente, muda pouco, ou não muda. Quando isso será transformado ? Como professor de arte, vejo como tenho conhecimento insuficiente de cultura popular brasileira como resultado de uma formação não voltada a estas questões. Também vejo parcialmente os enfrentamentos simbólicos que tenho que promover para promover alguma mudança. Busco um ensino de arte significativo, porém ainda utilizo como referência mental a arte européia, a priori, como algo de excelência. Isso foi construido em mim. Como se livrar disso para constutir ensinos mais significativos de maneira a ajudar negros e não-negros e pensarem diferentemente sobre questões enraizadas ?

Diante de todas as aulas que dei, vejo que caminhei muito pouco nessa direção, promovendo novamente a minha concepção de mundo para os alunos. Ao menos, neste momento tenho conhecimento disso, e vejo que tenho de mudar, e estudar mais sobre o assunto. Pequenos passos foram dados, talvez insuficientes.

Tolerância e diversidade são competências pouco desenvolvidas por uma comunidade doentia, na qual me incluo, que promove de volta aquilo que vive, sem espaço reflexão, sem promoção de mudanças em direção a humanização do estudante-cidadão. Promove um mesmo lugar, parado no tempo, conservador de violências simbólicas, de sempre, que não inclui ou transforma seu modo de ser ou agir.

Considerando minha vivência em diferentes espaços de ensino, vejo que muitas vezes as próprias gestões ou mesmo os docentes, grupo no qual me incluo, preferem não abordar questões que possam provocar a comunidade escolar, como os pais ou mesmo os alunos. Em alguns casos, a reação a essa discussão é imediata. Em relações a cultura afro, religiosidade, , sexualidade entre outros principalmente. É interessante ver a ambiguidade de avaliação em relação a abordagem

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religiosa em relação ao ensino de arte, principalmente ao considerarmos que parte considerável da história da arte tem relação direta com os valores religiosos judaico-cristãos e povoam os livros, as teses entre outros, com extrema naturalidade. Enquanto isso abordar patuás e balangandãs nos mesmos locais pode causar furor e revolta.

Existe muita intolerância e falta de abertura, o que faz com que mesmo o docente interessado muitas vezes seja ceifado pela ocasião, evitando represálias. Assumo que assumi este lugar diversas vezes e ainda assumo, para meu próprio desespero.

Como lidar com comunidades escolares conservadoras, intolerantes e anestasiadas? De que vale promover uma educação que não emancipa, que não transforma, que não humaniza plenamente ?

Após tudo isso e todas essas vivências, acho que o mais triste é vivenciar as mesmas coisas, ouvir as memas questões. O racismo permanece, segregando, marcando internamente os novos nascidos da mesma maneira como eu fui marcado, no passado. Não marca a fogo, mas marca conceitualmente, que acaba levando a violência, a falta de acesso, a segregação. A imagem construída é tão forte que o preconceito existe entre os iguais pela cor.

Não nego que já recolhi o celular na bolsa ao ver um grupo grande homens negros entrarem no ônibus no qual estava. De onde provém este reflexo ?

Das minhas relações com o mundo e com os conceitos e preconceitos que vi manisfestados nas falas, nas ações, no cotidiano, na mídia entre outros, relações estas que me moldam como ser humano-desumano. Preconceitos vividos, internalizados, externalizados, durante grande parte de minha existência. Creio que este pequeno relato, editado, me auxilie a repensar minhas relações para com estas questões.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Através da escrita destes relatos evidenciamos nossas experiências de e com o preconceito. Não podemos esquecer que o docente também é um promotor de preconceitos. Neste caso, a redação das experiências vividas se tornam auxiliares de mudanças de posturas e condutas em relação a atuação docente e também a vida cotidiana.

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Foram emancipados diversos assuntos como as origens, história escolar, história de vida, vivências, os aspectos e relações emocionais entre outros. É interessante pensar nesse processo de escrita como ação primária para uma ação parecida para com os alunos. Através de ações como esta, os alunos, de outras maneiras como gravação e transcrição de áudio.

A escola, não considera as vivências dos alunos como conteúdo. Através de escritas como essa os alunos podem emancipar relações cotidianas com a cultura negra do Brasil, como ritmos, palavras, elementos diversos, que estão impregnados em cada canto de nosso país, criando diálogos entre os integrantes da comunidade escolar, como emancipa PEREIRA.

O Memorial é um motivo de diálogo entre os agentes do processo educativo. Deve ser entendido como a verbalização de uma aventura social, entre os que dela participam." (PEREIRA, 2005)

Após a experiência do seminário, compreendemos que a análise de conteúdo direta esvaziaria o processo de significações possíveis a partir da leitura do mesmo. Compreendemos que estes textos autobiográficos podem gerar discussões diversas, que possam ser mais interessantes que qualquer análise particularizada. Além disso, como já foi dito, esperamos que este trabalho contribua incentivando outros docentes a construírem seus próprios textos, incentivando posteriormente ou paralelamente processo parecido para com os alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Casa Civil, Lei nº10.639, de 9 de janeiro de 2003. Brasília, DF Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm>. Acesso em 19 set. 2015.

KI-ZERBO, J (Org). História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África – 2.ed. rev. – Brasília : UNESCO, 2010.

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Acesso em 19 set. 2015

PEREIRA, L.T.C. O memorial como prática interdisciplinar na formação docente.

UNICAMP/PUC, Campinas, 2005. Disponível em: <http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem13/ledapereira.htm>.

Acesso em 19 set. 2015

MORAES, R. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 7-32, 1999.Disponível em: <http://cliente.argo.com.br/~mgos/analise_de_conteudo_moraes.html>. Acesso em 20 set. 2015

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