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PERSPECTIVA ETNOMATEMÁTICA NA APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA COM UTILIZAÇÃO DOS BRINQUEDOS DE MIRITI

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Academic year: 2021

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PERSPECTIVA ETNOMATEMÁTICA NA APRENDIZAGEM DA

GEOMETRIA COM UTILIZAÇÃO DOS BRINQUEDOS DE

MIRITI

638364322-34

Eixo Temático: Etnomatemática e Educação dos Povos da Floresta

Resumo: Este trabalho visa contribuir para a prática pedagógica de professores e alunos na aprendizagem das geometrias plana e espacial na disciplina matemática. Utiliza-se dos brinquedos de miriti como meio concreto para visualização, manipulação, observação e identificação das formas geométricas moldadas nesse artesanato, com intuito de resgatar conceitos geométricos já concebidos pelos alunos e introduzir outros, considerados elementares. O trabalho está fundamentado numa pesquisa com 30 alunos da 2ª etapa do Ensino Médio da Educação de jovens e adultos (entre 19 e 35 anos) – EJA, da Escola Estadual em Regime de Convênio Cristo Redentor, no município de Abaetetuba – PA, no ano de 2009. Houve expressiva melhoria das percepções referentes à geometria plana e espacial, com o desenvolvimento das atividades utilizando os brinquedos de miriti. Esse trabalho sugere indicadores relevantes na aprendizagem da geometria de forma significativa e agradável, buscando um ensino de melhor qualidade. Palavras-chave: Etnomatemática; educação matemática; geometria; brinquedos de miriti.

1. Introdução

Nossa contribuição para a formação de novas gerações passa por um fortalecimento da educação institucional, e isso se dá na busca de propostas que nos garantam uma melhoria eficaz no processo ensino-aprendizagem. É por isso que este trabalho visa discutir e contribuir, de uma forma bem peculiar, as dificuldades que os alunos da disciplina matemática sentem na aprendizagem da componente curricular geometria.

Por não relacionar o conhecimento que está sendo transmitido em sala de aula com a realidade, não conseguem encontrar neste saber nenhum vinculo com a prática, não vêem relação com o cotidiano e por isso tampouco se interessam em aprender seus conceitos, que, por essa ótica, apresentam-se completamente abstratos e fora de contexto, em contrapartida, os professores não encontram métodos que proporcionem aos alunos conhecer o saber matemático de forma a identificar-se com ele, relacioná-lo, causando assim uma antipatia pela disciplina. De acordo com Lorenzato: “Essas dificuldades se dão em virtude da forte resistência no ensino da geometria e deve-se também, em grande parte, ao pouco

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acesso pelo professor aos estudos dos conceitos geométricos na sua formação ou até mesmo pelo fato de não gostarem de geometria”. (LORENZATO, 1995, p.7).

O estudo da geometria nos proporciona conceitos fundamentais para compreendermos o universo material em nossa volta, estando presente no cotidiano de qualquer individuo.

A Geometria tem função essencial na formação dos indivíduos, pois lhes possibilita uma interpretação mais completa do mundo, ativa as estruturas mentais na passagem de dados concretos e experimentais, para os processos de abstração e generalização. No entanto, é abordada, na maioria das vezes, como tópico separado dos demais conteúdos. (LORENZATO, 1995, P. 7).

Faz-se necessário, então, investigar o universo cultural, o cotidiano do alunado, meios e condições que proporcionem ao aluno visualizar, interagir, e participar da construção do saber matemático em sua concretude, ou seja, fazer com que o aluno reconheça na realidade em que vive que a matemática sistematizada, não se faz apenas de formas e números abstratos, mas é um reflexo de toda uma cultura já existente, presente em cada espaço e tempo que se possa imaginar.

Numa tentativa de tornar a aprendizagem da geometria mais atrativa e significativa para o aluno, este artigo aponta uma alternativa interessante e inovadora, possibilitando o trabalho desse conteúdo em sala de aula com situações do dia a dia do aluno. Utiliza-se do artesanato de miriti, ou brinquedo de miriti, como modelo alternativo e concreto para uma abordagem culturalmente significativa desse conteúdo apontando, assim, para uma holística etnomatemática.

A proposta pedagógica da Etnomatemática é fazer da matemática algo vivo, lidando com situações reais no tempo(agora) e no espaço(aqui). E, através da crítica, questionar o aqui e agora. Ao fazer isso, mergulhamos nas raízes culturais e praticamos dinâmica cultural. Estamos, efetivamente, reconhecendo na educação a importância das várias culturas e tradições na formação de uma nova civilização, transcultural e transdisciplinar. (...) Por tudo isso, eu vejo a Etnomatemática como um caminho para uma educação renovada, capaz de preparar gerações futuras para uma civilização mais feliz. Para se atingir essa civilização, com que sonho e que, acredito, pode ser alcançada, é necessário atingir a paz, nas suas várias dimensões: individual, social, ambiental e militar. A Organização das Nações Unidas proclamou, através da Unesco, a década que se inicia como a Década para uma Cultura de Paz e de Não - Violência. Todos os esforços educacionais devem ser dirigidos para essa prioridade. A Etnomatemática é uma resposta a esse apelo. (D'AMBRÓSIO, 2001, p. 46-47)

O programa de etnomatemática vinculado à realidade cotidiana dos alunos tem papel bastante significativo na formação do saber que está sendo construído, pois a forma como se constrói o conhecimento é a base para a eficácia do processo ensino/aprendizagem, promovendo resgate de culturas e tradições, desenvolvendo

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integração, dinâmica e incentivando os alunos a reflexão da própria realidade. Se nossa sociedade é multicultural e plurirracial, que se possam respeitar todas as culturas, mesmo porque não existe uma fórmula educativa pronta para combater os males educacionais, cabe, apenas, apontar desafios e provocações na educação, como estratégia de luta contra a exclusão.

Muito mais que conhecer a realidade em que vive, é importante para o aluno saber relacionar o conhecimento que está sendo construído, e se reconhecer parte integrante nesse processo, pois, interagindo com o meio se desperta o interesse no que tange o processo de construção do conhecimento.

2. O Artesanato de Miriti e a Etnomatemática

Esse trabalho assume uma postura de chamar a produção artístico-cultural, natural do município de Abaetetuba-PA, utilizada nesta pesquisa, de “artesanato de miriti”, e não “brinquedo de miriti”, como são mais popularmente conhecidos/re-conhecidos, pelo fato de o trabalho realizado com o artesanato não enfatizar o “brincar”, ou o uso do objeto como brinquedo, e sim como um adorno, aqui utilizado como material didático, que, em hipótese alguma, desmerece o produto dos artesãos.

O brinquedo tem sua função sócio-educativa, do lazer e religião, como adorno, objeto decorativo para os turistas ou coisas de agrado para uma pequena parcela de admiradores. Na religião como voto do promesseiro que conseguiu adquirir sua própria embarcação pelo sacrifício, suor e fé, do náufrago que sobreviveu ao acidente (MORAIS, 1989, p.21).

Esse fato é caracterizado pelo tipo de clientela ao qual a pesquisa foi realizada, uma turma de 2ª etapa do Ensino médio da Educação de Jovens e Adultos – EJA, 30 alunos com idade entre 19 a 35 anos, no ano de 2008, na Escola em Regime de Convênio Cristo Redentor no município de Abaetetuba.

Vários são os motivos que levam os alunos a não estar em uma escolarização “adequada” a sua idade, dando destaque aos casos, principalmente em áreas rurais, em que a falta de escolas de Ensino Fundamental maior e Ensino Médio dificulta o acesso, porém, as situações levantadas nesta pesquisa como mais preocupantes, são aquelas em que o aluno desiste por achar que não tem capacidade para adquirir aquele determinado conhecimento, e essas acontecem em grande parte na disciplina matemática. Fernanda Wanderer (2001, p.2) chega a questionar: “Se muitos estudantes foram evadidos em função do ensino que receberam, poderão ter o mesmo ensino, a mesma matemática, o

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mesmo conteúdo nesta volta à escola?”. Na busca por um trabalho diferenciado para atender esses regressos é que se chegou ao artesanato de miriti.

A produção do artesanato de miriti é uma atividade artesanal tradicional do município de Abaetetuba, transmitida de uma geração a outra. Tombado como patrimônio histórico cultural de origem imaterial em junho de 2010, os brinquedos são fabricados durante todo ano e comercializados principalmente nos meses de junho e outubro onde acontecem respectivamente o festival do miriti no município de Abaetetuba – MIRITIFEST – e o círio de nossa senhora de Nazaré na capital Belém, organizados pela Associação dos Artesãos de Miriti de Abaetetuba – ASAMAB - contando com apoios das prefeituras municipais, onde os eventos ocorrem, e do SEBRAE.

Antes da implementação das atividades em sala de aula buscou-se referências de trabalhos em educação matemática relacionados com a cultura de grupos sociais, e esse “casamento” acontece de forma bastante consistente quando trabalhados com princípios etnomatemáticos. A Etnomatemática revelou-se graças aos trabalhos de pesquisa de Ubiratan D’Ambrósio, no início da década de 70. O programa em etnomatemática busca o saber fazer matemático de grupos sociais que não se enquadram na matemática escolarizada, de grupos periféricos ou marginalizados por preconceito racial, social ou de cunho econômico. Para Tereza Vergani (2007) “a etnomatemática compreende o estudo comparativo de técnicas, modos, artes e estilos de explicação, compreensão, aprendizagem, decorrentes da realidade tomada em diferentes meios naturais e culturais" (VERGANI, 2007,p.25).

Foi neste campo semeado de saberes e fazeres culturais e matemáticos que este trabalho desenvolveu-se, em um estudo de produção de conhecimentos, reconhecimentos, construção e reconstrução de conceitos das formas geométricas no plano e no espaço.

3. Atividades desenvolvidas em sala de aula

Após um minucioso levantamento bibliográfico e uma árdua pesquisa de campo envolvendo: visitas e entrevistas a Associação de Artesãos do município de Abaetetuba – ASSAMAB, e a MIRITONG, as atividades com os alunos tiveram início, todas ocorreram no horário de aula dos alunos no turno da noite.

Inicialmente, por uma questão de sensibilização e motivação as próximas atividades, os alunos assistiram a um vídeo de vinte e cinco minutos produzido pelo “Ponto de Cultura

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Mestre Cambota”, localizado no Centro Profissionalizante Cristo Trabalhador, ao lado da Escola onde foi desenvolvido este trabalho. Neste momento conheceram todas as fases de produção do artesanato de miriti, desde a poda do miritizeiro (mauritia flexuosa), que fornece a matéria prima para a construção do objeto, até a fase de acabamento e pintura.

Na próxima etapa os alunos assistiram a uma breve palestra com um artesão da MIRITONG, convidado para contribuir neste, e nos dois momentos seguintes desse trabalho. O mesmo já trabalha a mais de seis anos com o artesanato de miriti, de onde tira o sustento da família. Os alunos escutaram algumas considerações e puderam tirar muitas dúvidas referentes ao artesanato.

Como todos os alunos envolvidos na pesquisa nasceram e moram no município de Abaetetuba (pelo menos moravam na época da pesquisa), já tinham um conhecimento prévio do artesanato de miriti, haja vista que o referido município é conhecido internacionalmente como capital mundial dos brinquedos de miriti, superando inclusive o título de “terra da cachaça”, marcada pela produção artesanal da bebida há dezenas de anos atrás, a aceitação pelo trabalho foi unânime.

Partimos então para a fase considerada mais importante desse trabalho, momento em que desenvolvemos uma oficina de construção de uma peça do artesanato de miriti, a casa ribeirinha (ver figura 1), realizada no pátio central da escola.

Figura 1: Casa ribeirinha feita de miriti.

A Oficina foi conduzida pelo artesão e pelo professor de matemática da turma, de forma que a cada etapa da produção do artesanato, proferida pelo artesão, era comentada pelo professor, que fazia ligação da peça, hora entalhada, com os conceitos (quando existiam, já que se trabalhou com ponto e reta) relacionados à geometria plana e espacial, onde foram possíveis as identificações de formas mais primitivas como: ponto, reta e plano, como a

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identificação e construção/reconstrução de conceitos de formas no plano e no espaço como: quadrado, retângulo, triângulo, trapézio, cubo, paralelepípedo retângulo e cilindro.

Para o trabalho da oficina, não foi suficiente o tempo de aula da disciplina matemática, sendo necessária a utilização do período de aula das disciplinas ministradas por outros professores, com prévia autorização.

A penúltima fase a que esse trabalho se propôs, foi realizada em sala com utilização de quadro branco, marcador e livro didático, onde, inicialmente, os alunos foram provocados a relembrar os conceitos trabalhados na fase da oficina, e em seguida trabalharam cálculos de área das figuras planas e o volume dos sólidos geométricos.

Por fim foi efetuada a avaliação do trabalho. Esse processo teve início desde a primeira atividade desenvolvida com os alunos e acompanhou todas as etapas subseqüentes, através de: observação dos alunos durante as aulas e uma ficha avaliativa contendo três questões a serem respondidas, entregues e recolhidas na penúltima fase das atividades. As observações foram registradas em diário de classe e tiveram o objetivo de avaliar a freqüência e participação dos alunos nas atividades, enquanto a ficha avaliativa era uma análise dos alunos acerca do trabalho desenvolvido, onde os discentes contribuíram comentando com suas próprias palavras as seguintes questões: o que você gostou? O que você não gostou? O que você sugere?

4. Resultados

Apresentamos aqui algumas respostas levantadas da ficha avaliativa preenchida pelos alunos ao final do trabalho realizado em sala de aula, e alguns relatos feitos de forma oral:

O que você gostou?

1ª) Eu nunca tive uma aula de matemática desse tipo. Achava que brinquedo de miriti só dava pra dá aula de arte. Agora acho que dá pra aprender matemática com qualquer coisa.

2ª) Assim dá gosto aprender matemática, nunca vou esquecer esses assuntos. Acha que já estudei essas geometrias alguma vez, lembro vagamente do nome geometria, mas dos assuntos mesmo só lembrava o quadrado e do triângulo, o resto aprendi agora.

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3ª) Falei pro meu marido que agente tava aprendendo matemática com brinquedo de miriti, ele me disse que na época dele era na “sabatina”, assim é muito melhor, e espero que quando meu filho crescer seja melhor ainda.

4ª) Só lendo uma questão eu não conseguia imaginar do que se trava, quando agente pega em um objeto que tenha a forma do que a questão está falando fica muito mais fácil imaginar.

5ª) Em qualquer trabalho tem muita matemática, tenho certeza que esse fazedor de brinquedo de miriti não imaginava isso. Na bicicleta que eu batalho (taxiclista) tem muita matemática também.

6ª) Quando agente conhece mais a nossa cultura agente sabe dar mais valor, eu não acreditei quando o professor de matemática veio falar de trabalho com “bichinhos” de miriti, achei logo que era enrolação, mas foi ver para crer.

7ª) Foi muito interessante conhecer mais da nossa cultura e aprender matemática. Se é tão legal aprender matemática utilizando materiais que nós já conhecemos, por que os professores de matemática só dão aula copiando no quadro e falando?

8ª) Foi muito legal, adorei!Acho que os artesãos que fazem os brinquedos de miriti poderiam fazer brinquedos mais específicos pra gente aprender matemática, ou nas outras matérias também.

9ª) Gostei muito porque o professor não se limitou só em mostrar o artesanato pra gente, ele também se preocupou em ensinar matemática, o artesanato serviu pra gente fixar melhor as idéias das formas e das fórmulas.

10ª) Se a matemática fosse sempre ensinada desse jeito eu não estaria aqui estudando a noite, teria concluído meus estudos quando era mais jovem e estudava de dia, eu chego muito cansado na escola porque trabalho de dia, então os professores tem fazer atividades que nos deixem espertos pra gente não dormir na sala.

O que você não gostou?

11ª) Foi só uma semana agente deveria ter aula diferente assim o ano todo, em todas as disciplinas, principalmente em física.

12ª) Não gostei de o professor não ter avisado com antecedência que as aulas seriam assim, legais, se eu soubesse não teria faltado no primeiro dia.

O que você sugere?

Este campo não foi preenchido por nenhum aluno, eles justificaram que as sugestões já estavam incluídas nos dois campos anteriores.

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5. Discussão dos resultados

Analisando as respostas referentes a “o que você gostou?” pôde-se constatar que todos os alunos tiveram pontos a comentar nesse sentido, e nas dez respostas selecionadas para publicação neste artigo, todas ressaltam uma melhora qualitativa no aprendizado da geometria com utilização do artesanato de miriti, bem como nos conhecimentos culturais referentes ao artesanato local.

Muitos deles notaram uma mudança no ensino da matemática, e uma mudança positiva. Essa referência a mudança é fruto de princípios etnomatemáticos, que, desde suas raízes, trazem descontentamentos com a forma tradicionalista, amedrontadora e totalmente desvinculada da realidade que ensino da matemática tomou.

Percebe-se também que o trabalho ultrapassa limites que a pesquisa, de certa forma, não almejou. Como na 5ª resposta onde um trabalhador que ganha a vida transportando pessoas em sua bicicleta deduz que em seu veículo de trabalho também podem ser feitos estudos no campo do ensino da matemática.

A 7ª resposta traz o seguinte questionamento “Se é tão legal aprender matemática utilizando materiais que nós já conhecemos, por que os professores de matemática só dão aula copiando no quadro e falando?”, essa questão remete a mesma reflexão que a pergunta da professora Fernanda Wanderer (2001, p.2) “Se muitos estudantes foram evadidos em função do ensino que receberam, poderão ter o mesmo ensino, a mesma matemática, o mesmo conteúdo nesta volta à escola?”. A 10ª resposta talvez se encaixe ao questionamento da professora Fernanda, onde o mesmo relata “Se a matemática fosse sempre ensinada desse jeito eu não estaria aqui estudando a noite, teria concluído meus estudos quando era mais jovem e estudava de dia”. Trabalhos como este se aproximam de responder tais questões, e indicam resultados bastante satisfatórios dentro do programa de etnomatemática.

Nota-se na análise das respostas do campo “o que você não gostou” que, mesmo utilizando-se desse campo, os alunos fizeram críticas sugestivas a continuação e aprimoramento do trabalho desenvolvido. Na 12ª resposta fica evidente que ir à escola, não é algo prazeroso ao aluno, muito pelo contrário, é uma obrigação, cumprido apenas por uma questão de necessidade de ter uma escolarização.

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Com a realização deste trabalho podemos verificar quão grande é a carência de nossos alunos por trabalhos diferenciados em sala de aula, que fujam ao tradicionalismo condenado pela educação matemática, onde o professor é o único detentor do conhecimento e os alunos reprodutores de tarefas, que muitas vezes não fazem o mínimo sentido para ele. Este foi o principal objetivo desta pesquisa, mostrar aos alunos que não precisam ter medo da matemática, que não é o professor o único capaz de criar e recriar conhecimentos, que grandes nomes da matemática como Pitágoras e Galileu se embasaram em técnicas bem simples de medir, contar e calcular, como as utilizadas por artesãos na produção do artesanato de miriti para atingirem outros níveis de abstração.

Este artigo não tem a intenção de anunciar que a matemática desenvolvida pelos artesãos é melhor que a matemática acadêmica, mas que as duas foram construídas em contextos diferentes, por grupos que desenvolveram culturas diferentes, e que é possível fazer uma relação entre elas utilizando a etnomatemática como elo, respeitando valores, saberes, fazeres e tradições de grupos sociais que não encontram-se descritos na matemática escolarizada.

As atividades desenvolvidas com esta pesquisa também podem ser adaptadas a outros níveis de ensino, não se restringindo apenas com a Educação de Jovens e Adultos, tampouco, apenas com o artesanato de miriti, haja vista que o público alvo não está apenas nos discentes, mas também na sensibilização aos docentes da disciplina matemática, e áreas afins, no desenvolvimento de trabalhos com práticas inovadoras.

Portanto, espera-se que esse trabalho possa contribuir, direta ou indiretamente, no processo de ensino/aprendizagem da matemática de outros professores e alunos, como contribuiu no aprendizado daqueles que participaram dessa pesquisa, para tanto ressalto o valor de uma pesquisa baseada em princípios etnomatemáticos como um suporte fundamental para o êxito deste trabalho, respeitando culturas e valores, e, conseqüentemente respeitando a vida e cultivando a paz.

Referências

D’AMBROSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

LORENZATO, S. Por que não ensinar Geometria? In: Educação Matemática em Revista – SBEM 4, 1995.

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MORAIS, L. C. Aprendendo com o brinquedo popular na arte com o miriti: um estudo do brinquedo popular através de seus elementos fundamentais aplicados na educação. Belém, SECULT/FCPTN, 1989.

VERGANI, Tereza. Educação Etnomatemática: o que é? Natal: Flecha do tempo, 2007.

WANDERER, Fernanda. Educação de Jovens e Adultos e produtos da mídia: possibilidades de um processo pedagógico etnomatemático. In: Reunião anual da associação nacional de pós-graduação e pesquisa em educação, 24, 2001, Caxambu (MG). CD-ROM... São Paulo: ANPEd, 2001, p.1-17.

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