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O FENÔMENO DO DESEMPREGO CRÔNICO EM FACE DA CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL

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Academic year: 2021

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O FENÔMENO DO DESEMPREGO CRÔNICO EM FACE DA CRISE

ESTRUTURAL DO CAPITAL

Angélica Luiza Silva Bezerra1

Resumo: Este texto contém uma reflexão sobre o fenômeno do desemprego crônico em face da crise do capital. Tomamos como fundamentação teórica os argumentos de István Mészáros ao tratar das contradições do sistema do capital e seu agravamento ao longo dos anos, provocando limitações no desenvolvimento produtivo e trazendo serias conseqüências para a sobrevivência da humanidade. Palavras-chave: Crise estrutural do capital, produção destrutiva, desemprego crônico.

Abstract: This text contains a reflection on the phenomenon of the chronic unemployment in face of the crisis of the capital. We take as theoretical recital the arguments of István Mészáros when dealing with the contradictions of the system of the capital and its aggravation throughout the years, provoking limitations in the productive development and bringing you would be consequences for the survival of the humanity.

Key words: Structural crisis of the capital, destructive production, chronic unemployment.

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1. INTRODUÇÃO

Os impactos do desenvolvimento capitalista, através da reestruturação produtiva, intensificam uma série de contradições, tais como: o aumento cada vez mais acentuado do desemprego em massa, da precarização e da flexibilização do trabalho, da intensificação da miséria até mesmo a destruição do meio ambiente. Esta é uma realidade presente nos dias de hoje que afeta toda a humanidade gerando transtorno e insegurança para a vida humana

.

É neste contexto determinado pela reestruturação produtiva, a partir da crise do capital, que marca o período de ideais neoliberais2, como forma de remediar a crise do capital, com restrições de intervenção do Estado, estabelecendo novas relações de produção ou simplesmente trabalhos precários, terceirizados ou flexíveis. Mas tais medidas não foram capazes de resolver a crise do capital que perdura até hoje, pois a crise do capital desde a década de 70 é estrutural não havendo solução imediata, ela é intrínseca as contradições do sistema capitalista.

Hoje com as transformações no mundo do trabalho o desemprego torna-se crônico, pois alcançou uma escala mundial, atingindo jovens, adultos, mulheres e até mesmo os que estão inseridos no mercado de trabalho gerando a insegurança de a qualquer momento serem substituídos pela máquina ou simplesmente serem expelidos com o enxugamento da empresa. É neste contexto que o capital impulsiona o destino da classe trabalhadora de forma embrutecedora, ora absorvendo-a, ora expulsando-a do processo produtivo. Esta condição tende a piorar, pois faz parte da contradição do capital na sua forma capitalista de ser3.

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Sobre o Neoliberalismo Teixeira (1998) esclarece que: “O neoliberalismo nasceu logo depois da Segunda Guerra Mundial, nos principais países do mundo do capitalismo maduro. Nasceu como uma reação teórica e política ao modelo de desenvolvimento centrado na intervenção do Estado, que passou a se constituir, desde então, na principal força estruturadora do processo de acumulação de capital e de desenvolvimento social (p.195). Neste sentido, o neoliberalismo ganha terreno no período da crise do capital, logo após a década de 1970, como uma reação ao Estado intervencionista no propósito de reduzir as altas taxas de inflação.

3De acordo com Mészáros (2000): “Os elementos constitutivos do sistema do capital (como o capital monetário e

mercantil, bem como a originária e esporádica produção de mercadorias) remontam a milhares de anos da história. Entretanto, durante a maioria desses milhares de anos, eles permaneceram como partes subordinadas de sistemas específicos de controle de metabolismo social que prevaleceram historicamente em seu tempo, incluindo os modos de produção e distribuição escravista e feudal. Somente nos últimos séculos, sob a forma do capitalismo burguês, pôde o capital garantir sua dominação como um ‘sistema social’ global” (p.7). Neste sentido o capital sempre existiu independentemente do sistema do capitalismo. Todavia, somente na forma capitalista é que o capital ampliou sua dominação de um modo que nunca houve igual na história da humanidade, pois é nesse estádio que é gerada a intensificação das contradições, com a sujeição do trabalho ao capital.

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Desta forma, como assevera Mészáros, estamos diante dos limites absolutos do

capital4, pois o aumento das contradições geram situações catastróficas para a

sobrevivência da humanidade. Esta lógica do sistema do capital nutre a ordem capitalista. Por essa razão é que Mészáros diz que o desemprego crônico é a forma mais explosiva do capital. Assim, com base em István. Mészáros buscamos apreender os efeitos da crise estrutural do capital nas condições de existência da humanidade através do desemprego crônico.

2. A CRISE ESTRUTURAL E A DRODUÇÃO DESTRUTIVA DO CAPITAL

A crise estrutural do capital que experimentamos hoje é segundo Mészáros (2000) a mais severa da história da humanidade. Seu caráter destrutivo impõe para o homem uma série de mudanças fundamentais na luta pela sobrevivência. Para Mészáros, a crise estrutural do capital é um fenômeno inédito na história da humanidade, pois nas diferentes formas de produção do capital nunca houve uma mudança tão trágica, sobretudo por desencadear sérios problemas para a vida dos homens nessa sociabilidade. É neste sentido que a crise estrutural impõe novas alternativas para a classe trabalhadora sobreviver, alternativas que degradam ainda mais a humanidade e que tendem a piorar, pois a crise que já afetou o capital global é insuperável no sistema capitalista.

Para continuar atingindo seus objetivos, quais sejam: expandir e acumular, o capital exerce o seu domínio através da exploração da força de trabalho, tratando o homem como mercadoria. Essa condição de tornar-se mercadoria coloca para os trabalhadores uma insegurança no trabalho, pois a qualquer momento, dependendo das necessidades do capital, podem ser expulsos do processo de produção, passando à condição de desempregados e caindo nas malhas da pauperização.

Assim, para remediar a crise do capital e garantir sua expansão a forma de extração do sobretrabalho é mais intensifica. Esta expansão do capital que se torna mundial é vista como indestrutível, como se o sistema do capital não tivesse fim na história da humanidade. Entretanto, Mészáros afirma que

a absoluta necessidade de atingir de maneira eficaz os requisitos da irreprimível expansão – o segredo do irresistível avanço do capital – trouxe consigo, também,

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Segundo Mészáros em Para além do capital, [...] “a expressão ‘limites absolutos’ não implica algo absolutamente impossível de ser transcendido, como os apologistas da ‘ordem econômica ampliada’ dominante tentam nos fazer crer para nos submeter à máxima do ‘não há alternativa’. Esses limites são absolutos apenas para o sistema do capital, devido às determinações mais profundas de seu modo de controle sociometabólico” (p.250).

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uma intransponível limitação histórica [...]. Pois este sistema de controle do metabolismo social teve de poder impor sobre a sociedade sua lógica expansionista cruel e fundamentalmente irracional, independentemente do caráter devastador de suas conseqüências; ou teve de adotar algumas restrições racionais, que diretamente contradiziam suas mais profundas determinações como um sistema expansionista incontrolável (p.9).

Com a incessante necessidade de expansão, o próprio capital gerou limitações históricas, impondo sua lógica desumanizadora e cruel sobre a vida humana. Assim, no século XX o capital tentou “superar as limitações sistêmicas do capital”, no entanto, foram tentativas malsucedidas visto que: “Tudo o que aquelas tentativas conseguiram foi somente a ‘hibridização’ do sistema do capital, comparado à sua forma econômica clássica” (p.9). Com as limitações impostas pela crise que desencadeou duas guerras mundiais, o capital é forçado a controlá-la, gerando uma instabilidade em relação à empregabilidade. Para que os objetivos do capital sejam alcançados ele se torna destrutivo a partir da reestruturação produtiva5. Neste novo estádio, o capital se expande de forma destrutiva, pois se o consumo permanecer estável o capital não acumula, por isso é necessária a taxa de uso decrescente do capital já que este altera a relação entre produção e consumo.

Neste sentido, o desenvolvimento do sistema do capital se apóia no uso decrescente do capital, um tipo de produção centrado no complexo militar/industrial, pois é mais vantajoso e lucrativo para o capital que o consumo seja rápido na mesma proporção da produção, assim, o capital precisa destruir para alcançar seus objetivos produtivos e neste processo imensos recursos materiais e humanos são dissipados.

Nas palavras de Mészáros (1989), podemos destacar as conseqüências desse novo processo do capital ao ampliar o uso decrescente do capital:

Assim, como resultado da absurda reversão dos avanços produtivos em favor dos produtos de rápido consumo e da dissipação destrutiva de recursos, o “capitalismo avançado” tende a impor à humanidade o mais perverso tipo de existência imediatista, totalmente destituída de qualquer justificativa em relação com as limitações das forças produtivas e das potencialidades da humanidade acumuladas no curso da história. (p.20).

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No que diz respeito à reestruturação produtiva como determinante do capital destrutivo, podemos identificar que para o desenvolvimento do capitalista “torna-se necessário adotar a forma mais radical de desperdício – isto é, a destruição direta de vastas quantidades de riquezas acumuladas e de recursos elaborados – como meio dominante de ordenamento do capital superproduzido. A razão pela qual tal mudança é possível, nos parâmetros do sistema estabelecido, é porque consumo e destruição são equivalentes funcionais do ponto de vista perverso do processo de ‘realização’ capitalista. [...] Isto é, o consumo humano de valores-de-uso correspondente às necessidades – ou o ‘consumo’ através da destruição, é decidido com base na maior suscetibilidade de um ou de outro para satisfazer o conjunto dos requisitos da auto-reprodução do capital sob circunstâncias variáveis” (p.60). MÉSZÀROS, Istvan. Produção destrutiva e Estado capitalista. São Paulo, Ensaio. Série pequeno formato 5. 1989.

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O capital ao desenvolver suas forças produtivas de modo cada vez mais destrutivo coloca para a humanidade um novo tipo de existência na qual sua adequação é subordinada aos ditames do capital; este, por sua vez, coloca também para a sociedade necessidades que são criadas a partir dos interesses do capital e não da humanidade. Assim, nas palavras do autor, “o sistema como um todo é absolutamente dissipador, e tem de continuar a sê-lo em proporções sempre crescentes.” (p.27).

Como podemos perceber, a taxa de uso decrescente do capital tanto modifica as relações no interior do trabalho ao reduzir o trabalho necessário, com ganhos crescentes para o capital, quanto a viabilização da produção de excedentes e o uso cada vez mais dissipador das mercadorias. Deste modo, o capital sempre monta estratégias para remediar as crises que são intrínsecas a ele, e o complexo militar-industrial passa a ser um instrumento do processo da crescente acumulação. A atuação do Estado também favorece os objetivos do capital ao proporcionar a expansão capitalista, pois o

desperdício [...] encontra sua automática justificativa e legitimação no apelo da ideologia do ‘interesse nacional’ e da ‘segurança nacional’, sob a ação combinada dos poderes legislativo, judiciário e executivo, em uníssono com os complexos militares-industriais correspondentes. Dessa maneira, não somente deixam de ser imediatamente sentidas as conseqüências negativas da taxa de uso decrescente, mas, ao inverso, graças à direta sustentação institucional proporcionada pelo estado em escala massiva e virtualmente em todas as áreas da atividade econômica, por um período histórico determinado essas conseqüências podem ser transformadas em poderosas alavancas da expansão capitalista, anteriormente inimagináveis, como pudemos testemunhar nas décadas do pós-guerra (p.45).

Assim, o complexo militar-industrial e sua expansão reproduz as alterações irremediáveis do sistema do capital, através do desperdício com a produção destrutiva do capital. Para Mészáros (2003), com estas alterações na reprodução expansiva do sistema do capital, a partir da produção destrutiva a questão do desemprego foi alterada para pior. Para nosso autor:

Ele já não é limitado a um “exercito de reserva” à espera de ser ativado e trazido para o quadro da expansão produtiva do capital, por vezes numa expansão prodigiosa. Agora a grave realidade do desumanizante desemprego assumiu um caráter crônico, reconhecido até mesmo pelos defensores mais acríticos do capital como “desemprego estrutural”, sob a forma de autojustificação, como se ele nada tivesse que ver com a natureza perversa do seu adorado sistema (p.22).

Além do desemprego crônico os homens têm que suportar as mais degradantes situações na luta pela sobrevivência. Para responder aos seus antagonismos o sistema do capital agrava ainda mais os problemas, pois sua forma de dominação põe dificuldades para a sobrevivência da humanidade. “As tendências atuais são nefastas e o aprofundamento da crise é um agravante ainda maior” (p.62).

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Assim, a produção destrutiva do capital, através da expansão pelo desperdício, é uma condição do um novo estádio do sistema, na qual manipula as relações de trabalho em meio à expansão cada vez mais intensificada do desemprego em massa.

3. O DESEMPREGO CRÔNICO NA PERSPECTIVA DE ISTVÁN MÉSZÁROS

Para Mészáros (2006) vivemos a problemática do desemprego em todo o mundo, o que preocupa até mesmo alguns defensores do sistema do capital, pois este fenômeno já alcançou a totalidade dos trabalhadores, qualificados ou não-qualificados além da sua presença nos países avançados com altas taxas de desenvolvimento. Entretanto, conforme adverte nosso autor, há aqueles que “exaltam as virtudes desse sistema e idealizam o modelo norte-americano como a solução para o desemprego e para os males sociais” (2006, p.28). Mas, para aniquilar essa hipótese de que o modelo americano é a referência, Mészáros constata que as condições de trabalho estão camufladas e “nem mesmo a falsa idéia sobre a ‘flexibilização’ como saída redentora pode esconder as sérias implicações decorrentes da expansão e da acumulação do capital” (p.29). O desemprego é tão evidente em nossos dias que não se podem mais esconder os verdadeiros efeitos causados pela contradição entre capital e trabalho. Conforme afirma nosso autor:

Atingimos uma fase do desenvolvimento histórico do sistema capitalista em que o desemprego é a sua característica dominante. Nesta nova configuração, o sistema capitalista é constituído por uma rede fechada de inter-relações e de interdeterminações por meio da qual agora é impossível encontrar paliativos e soluções parciais ao desemprego em áreas limitadas, em agudo contraste com o período desenvolvimentista do pós-guerra, em que políticos liberais de alguns países privilegiados afirmavam a possibilidade do pleno-emprego em uma sociedade livre (p.31).

Assim, compreendemos que chegamos ao limite da contradição gerada pelo sistema do capital, pois este antagonismo estrutural do capital provoca instabilidade no emprego como a flexibilização e desregulamentação do trabalho, além da expansão do desemprego em massa.

Sobre a flexibilidade e a desregulamentação do trabalho, Mészáros afirma que:

Os obstáculos reais enfrentados pelo trabalho, no presente e no futuro próximos, podem ser resumidos em duas palavras: “flexibilidade” e “desregulamentação”. Dois dos slogans mais apreciados pelas personificações do capital nos dias atuais, tanto nos negócios como na política, soam interessantes e progressistas. E muito embora sintetizem as mais agressivas aspirações antitrabalho e políticas do neoliberalismo, pretendem ser tão recomendáveis, para a toda criatura racional, como a maternidade e a torta de maçã, pois a “flexibilidade” em relação às práticas de trabalho – a ser facilitada e forçada por meio da ‘desregulamentação’ em variadas formas -, correspondentes, na verdade, à desumanizadora precarização da força de trabalho. [...] E as mesmas pessoas que chamam de “flexibilidade” universalmente

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benéfica a difusão das mais precárias condições de trabalho também ousam chamar de ‘democracia’ a prática dessa autoritária legislação antitrabalho (p.34).

A flexibilização do trabalho como uma das conseqüências geradas pelo processo produtivo também gera insegurança. Esta é uma estratégia do capital com vistas a diminuir os custos e assegurar uma maior produtividade, explorando ainda mais os trabalhadores em todos os setores através do prolongamento do tempo de trabalho, precarizando-os cada vez mais. Por isso, como afirma Mészáros: “A verdadeira preocupação das personificações do capital é promover a ‘flexibilidade do trabalho’ e combater todas as formas possíveis dos ‘mercados rígidos de trabalho’” (p.34). Pois é uma nova necessidade do capital para continuar acumulando tornar a produção de modo flexível.

Para Mészáros, essas transformações no processo de trabalho são “o retorno da

mais-valia absoluta, em uma extensão crescente nas últimas décadas, nas sociedades de ‘capitalismo avançado’” (p.38). Para o autor, a mais-valia absoluta pode ser identificada através do

rebaixamento das condições de trabalho de pessoas de todas as idades em inúmeros locais de trabalho degradante [...] é mais que suficiente para falar sobre o reaparecimento do impulso à mais-valia absoluta, uma das mais retrógradas tendências do desenvolvimento do capital no século XX, em um dos mais privilegiados países de “capitalismo avançado” (p.38).

A exploração do capital se expandiu de tal forma que ocorre o retorno da mais-valia

absoluta, que se materializa com a exploração total do trabalho por parte do capital. A crise estrutural do capital intrínseca a este sistema ocasiona uma das maiores contradições que o capital já alcançou em toda a história da humanidade, o desemprego em massa.

Nesta nova fase, o capitalismo propiciou o agravamento da expansão de um número cada vez mais crescente de trabalhadores, cujo determinante não é inédito, mas que intensificou ainda mais as contradições entre capital e trabalho, acarretando a “explosão

populacional6,” que Mészáros (2002) associa ao desemprego crônico.

6 [...] a “explosão populacional” sob a forma do aumento do desemprego crônico nos países capitalistas mais

avançados representa um perigo sério para a totalidade do sistema, pois acreditava-se no passado que o desemprego maciço fosse algo que só afetasse as áreas mais “atrasadas” e “subdesenvolvidas” do planeta. Na verdade a ideologia associada a este estado de coisas poderia ser – e, com um toque de cinismo, ainda o é – usada para acalmar o operariado dos países “avançados” com relação à sua suposta superioridade concebida por deus. Entretanto, como uma grande ironia da história, a dinâmica interna antagônica do sistema do capital agora se afirma [...] como uma tendência devastadora numa força de trabalho crescentemente supérflua (p.341). Assim, a explosão populacional é entendida como algo externo a este sistema, com a qual os homens devem se conformar, pois, afinal, o emprego vitalício ou pleno-emprego não iria durar por muito tempo. Agora o que resta para os homens é uma autonomia para sair ou se livrar do desemprego, aceitando empregos precários, temporários, para garantirem a sua subsistência. Os homens, ao serem responsabilizados por sua condição, são submetidos às determinações e ao novo modo de vida imposto pelo capital.

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Assim, a resistência do capital ante as suas contradições acarreta grandes problemas para o trabalho. Podemos então mencionar as palavras do autor ao referir que:

Os limites desse movimento de recuo, com graves implicações para a permanência do desemprego crônico, não são definidos pela “sensibilidade política das sociedades democráticas”, como postulavam no passado os apologistas do sistema, ao prever confiantemente a eliminação até mesmo de “pequenos bolsões de desemprego”. Ao contrário, estão limitados pelo nível de instabilidade tolerável que acompanha as pressões econômicas e políticas criadas pelo processo inevitável de ajustamento estrutural do capital que se desenrola perigosamente diante de nossos olhos – e que incluem, em lugar de destaque, a tomada de muitos dos ganhos passados do trabalho e o crescimento inexorável do desemprego – ameaçando com a implosão do sistema, não a periferia, mas a região avançada (p.330).

Como podemos perceber, foram várias as alternativas para o enfrentamento do desemprego, no entanto, todas estão distantes de até mesmo amenizar as catástrofes mediadas pelo fortalecimento do desemprego nessa fase do processo de produção capitalista.

O pior é que por mais que se atribuam milagres de crescimento econômico em determinados países a faísca incandescente do desemprego sempre irá perdurar, tanto nos países de Terceiro Mundo como nos países de altas taxas de desenvolvimento, pois esse fenômeno está associado às contradições intrínsecas do capital na busca incessante da acumulação e do lucro. Esta fase do capital de expulsar quantidades ainda maiores de trabalhadores enquanto uma minoria é favorecida, coloca para o excedente da população “privações extremas, mostra que os problemas do sistema do capital hoje, em todas as suas variantes, são tão difíceis que a proposta de remediá-los por meio da ‘racionalidade econômica’ do desemprego em massa não consegue nem mesmo arranhar a superfície” (p.332). Assim, não há solução para o desemprego crônico, pois é da natureza do capital explorar os trabalhadores.

Deste modo, o desemprego crônico se tornou um perigo para o sistema devido aos sérios desdobramentos negativos que afetam a humanidade em termos de instabilidade e falta total de emprego para grande massa da população mundial, acarretando assim o aumento do pauperismo. Assim, a forma como se configura o desemprego hoje é evidenciada como forma de estratégia para atenuar a crise. A cada dia a instabilidade crescente e o desemprego crônico aumentam em proporções maiores conforme a necessidade do capital; assim, as fileiras do desemprego condenam a humanidade à população supérflua.

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Com a intensificação da crise estrutural do capital em decorrência das transformações geradas pelo capital como forma de continuar sua expansão e acumulação, ocorre a diminuição da demanda de trabalho. É assim que o capital alicerça seu domínio apoderando-se do trabalho alheio para continuar com seus lucros crescentes. Esta condição de aumento da exploração do trabalho materializado, sobretudo na população redundante, é conveniente para o livre desenvolvimento do capital. A tendência mais assustadora da contradição capital e trabalho é o aumento da população supérflua, pois grandes camadas humanas ficam à mercê do sistema do capital. Neste sentido, as conseqüências devastadoras do desemprego crônico passam a ser um dos mais brutais acontecimentos da historia da humanidade, pois põe em risco a sobrevivência dos homens em todo o mundo. Nesse percurso constatamos que o desemprego crônico não tem solução imediata no sistema do capital, pois as raízes que mantêm o desemprego não são superadas, mas pelo contrário, se agravam com a expansão destrutiva do capital. Como a tendência de contradições que se coloca para esta sociabilidade é o agravamento dos problemas estruturais, a alternativa para solucionar o problema que a humanidade enfrenta encontra-se

para além do capital, conforme propõe István Mészáros.

REFERÊNCIAS

MÉSZAROS, Istvan. Produção destrutiva e Estado capitalista. São Paulo, Ensaio. Série pequeno formato 5, 1989.

_________________. A Crise Estrutural do Capital. In Outubro nº04, São Paulo, 2000. _________________. Para além do capital: Rumo a uma teoria da transição. Trad. Paulo César Castanheira e Sérgio Lessa. 1ªed. São Paulo, Editora da UNICAMP/Boitempo Editorial, maio de 2002.

_________________. O século XXI socialismo ou barbárie? Boitempo editorial. Coleção Mundo do trabalho. 2003.

_________________. Desemprego e precarização: um grande desafio para a esquerda. In:

Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. Tr. Claudete Pagotto, São Paulo, Boitempo, 2006.

TEIXEIRA, F. J. S.; OLIVEIRA, e outros autores. M. A. de. O neoliberalismo em debate. In:

Neoliberalismo e reestruturação produtiva as novas determinações do mundo do trabalho.

Referências

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