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A INTERVENÇÃO DO AMICUS CURIAE: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

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I Salão de Extensão e I Mostra Científica http://ojs.fsg.br/index.php/pesquisaextensao

A INTERVENÇÃO DO AMICUS CURIAE: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Luana Bonamigoa, Andréia Lisângela Rexb.

a Estudante do Sexto Semestre do Curso de Bacharelado em Direito; Faculdade da Serra Gaúcha (FSG);

lu_bonamigo_14@hotmail.com.

b Mestre em Direito; Professora Orientadora do Artigo Científico; Faculdade da Serra Gaúcha (FSG);

andreia.rex@fsg.br.

Informações de Submissão Luana Bonamigo, Rua Eduardo Mosele, 2192 - Caxias do Sul - RS - CEP:

95096-180

Resumo

A efetividade dos trâmites processuais civis necessita de instrumentos que tenham cunho apoiador, eficiente e produtivo, desse modo o sistema atingirá êxito em seu curso. O Novo Código de Processo Civil, publicado no dia 16 de março de 2015, elencou em seu texto legal diversos mecanismos para garantir a celeridade processual e o devido processo legal de maneira a demonstrar rendimento e maior aplicabilidade no cotidiano forense. Um dos elementos processuais que sofreram acréscimo foi à intervenção de terceiros. A modalidade amicus curiae foi adicionada como meio de garantir função intervencional no processo como sujeito representativo, necessário para acrescentar informações pertinentes à matéria do objeto da ação, cuja modalidade é o tema do presente artigo.

Palavras-chave: Constituição Federal Intervenção de Terceiros. Amicus Curiae. Novo Código de Processo Civil

1 INTRODUÇÃO

A tutela efetiva dos princípios do devido processo legal e da celeridade processual necessita de diversos mecanismos, como forma de garantir o adequado rito processual. Um dos componentes indispensáveis para a efetivação dos processos judiciais é a averiguação de todos os fatos para se chegar ao objetivo de reconhecer a verdade real.

Um dos instrumentos utilizados na legislação infraconstitucional processual é a intervenção de terceiros, que tem como objetivo trazer ao rito processual pessoas físicas ou jurídicas que tornem o sistema completo para garantir que não haja carência de informações.

O Novo Código de Processo Civil trouxe em seu texto legal uma nova modalidade de intervenção de terceiros: o amicus curiae. O objetivo geral do presente artigo é demonstrar de forma clara os antecedentes históricos, a presença na legislação vigente, o texto acrescido pela nova lei e a base doutrinal nacional e internacional.

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A elaboração do presente artigo tem como justificativa a importância da modalidade de intervenção do amicus curiae nos ritos processuais. A metodologia de estudo utilizada é a exploratória e bibliográfica. Ainda, os instrumentos utilizados para a explanação de ideias serão a conceituação, a análise dos argumentos do anteprojeto do novo código de processo civil e a doutrina acerca do tema.

2 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

No âmbito processual são necessários diversos instrumentos para efetivação do procedimento civil. Em um processo existem diversos sujeitos integrantes: aquele que propõe a ação, aquele que foi chamado para responder o fato alegado e aquele que julga o processo. Contudo, é facultada a participação de terceiros sendo qualquer pessoa que, além das partes litigantes, participa de certa demanda ou nela tem interesse próprio ou direito a ser defendido.

Para José Frederico Marques, a intervenção de terceiros é o ingresso de alguém, como parte, em processo pendente com previsão legal na legislação processual civil1. As hipóteses de intervenção de terceiros, conforme classificação adotada por Humberto Theodoro Junior2, de acordo com a lei processual civil de 19733, são descritas como:

a) ad coadjuvando: quando o terceiro procura prestar cooperação a uma das partes primitivas, como na assistência;

b) ad excludendum: quando o terceiro procura excluir uma ou ambas as partes primitivas, como na oposição e na nomeação à autoria;

c) espontânea: quando a iniciativa é do terceiro, como geralmente ocorre na oposição e na assistência;

d) provocada: quando, embora voluntária a medida adotada pelo terceiro, foi ela precedida por citação promovida pela parte primitiva (nomeação à autoria, denunciação da lide, chamamento ao processo). (grifo nosso)

As hipóteses de intervenção de terceiro previstas pelo Código de Processo Civil de 19734 são: assistência (arts 50 a 55), oposição (arts 56 s 61), denunciação da lide (arts 70 a 76) chamamento ao processo (arts 77 a 80) e recurso do terceiro prejudicado (art. 499).

1 MARQUES, José Frederico, Manual de direito processual civil, vol. 1. Campinas: Millenium. 2001, p. 358. 2 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de direito processual civil, vol. 1, Rio de Janeiro: Forense. 2014. p.

114-115.

3 BRASIL, Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Código de Processo Civil. <Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm> Acesso em 02 jun 2015.

4 BRASIL, Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Código de Processo Civil. <Disponível em:

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Contudo, no dia 16 de março de 2015, com a Lei 13.105, o Novo Código de Processo Civil5 elencou uma nova modalidade de intervenção de terceiros, no capítulo V, intitulado como amicus curiae com previsão legal no art. 138, §§ 1º, 2º e 3º.

3 AMICUS CURIAE

A modalidade de intervenção de terceiros, amicus curiae, surgiu no direito romano e o sujeito tinha a função de ser um colaborador neutro do magistrado e envolvia-se em diversas questões jurídicas tendo como dever principal lealdade ao juiz. O instituto desenvolveu-se nos Estados Unidos através da rule 376 e está diretamente associado com o controle de constitucionalidade7.

A expressão amicus curiae provem do latim e significa “amigo da cúria”, ou seja, amigo da corte ou amigo da justiça, para os norte-americanos friend of the court. Na doutrina norte-americana, o amicus curiae é o individuo que não é parte em processo judicial, contudo peticiona à corte ou é convocado por ela para apresentar um parecer em virtude de possuir um forte interesse no assunto em pauta8. A doutrina brasileira não diverge da doutrina norte-americana, pois considera o amicus curiae um terceiro, todavia acrescenta-se o termo “enigmático” em seu conceito principal9

. Milton Pereira conceitua o instituto como sendo, também, um terceiro especial, de natureza excepcional, desinteressado no sentido jurídico, ou ainda, sui generis10, o qual pratica intervenção atípica em processo alheio como forma de

diferenciá-lo dos outros sujeitos arrolados11. Portanto, trata-se de um terceiro que busca intervir no processo judicial como um portador de conhecimento, de opiniões e informações

5 BRASIL, Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Novo Código de Processo Civil. <Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm> Acesso em 02 jun 2015.

6

THE UNITED STATES, Supreme Court. Amicus Curiae. <Disponível em: http://www.supremecourt.gov/ctrules/tocounsel_07rulesrevisions.aspx> Acesso em 02 jun 2015.

7 BUENO, Cassio Sacapinella. Amicus curiae no processo civil brasileiro:um terceiro enigmático. São Paulo:

Saraiva, 2006.p. 88.

8

PEDROLLO, Gustavo Fontana. Amicus curiae: elemento de participação política nas decisões judiciais-constitucionais. Revista da Ajuris: doutrina e jurisprudências, Porto Alegre,v. 32, n. 99, set. 2005., p. 162.

9 BUENO, Cassio Sacapinella. Amicus curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático. São Paulo:

Saraiva, 2006., p. 419.

10 Incomum, Descomunal, Particular, Peculiar, O Único de Seu Gênero, Algo que não tem correspondência igual

ou mesmo semelhante.

11 PEREIRA, Milton Luiz. Amicus curiae: Intervenção de terceiros. Revista de processo, São Paulo, v. 28, n.

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úteis ou indispensáveis com o objetivo de conferir ao magistrado atuante melhores formas de realizar a hermenêutica jurídica12.

Acerca do amicus curiae, Marcus Destefenni13 doutrina em excepcional síntese:

A expressão completa, amicus curiae, significa, literalmente, amigo da corte. No sistema judicial norte-americano,uma pessoa, diferente das partes, que possua forte interesse no processo ou opiniões acerca de seu objeto, pode postular uma permissão para formular uma peça processual, aparentemente no interesse de uma das partes, mas, na verdade, para sugerir um posicionamento compatível com suas próprias opiniões. Essa peça do amicus curiae, normalmente, traz questões de amplo interesse público. Ela pode ser apresentada por particulares ou pelo governo. Dessa forma, a função do amicus curiae é chamar a atenção da corte para questões que eventualmente não tenham sido notadas, fornecendo subsídios para uma decisão apropriada. (grifo nosso).

Anteriormente ao Código de Processo Civil de 201514, não havia dispositivo com tal nomenclatura, contudo a Lei nº 9.86815, que tem como escopo as Ações Diretas de Inconstitucionalidade e Ações Declaratórias de Constitucionalidade, trata do amicus curiae no art. 7º, §2º: “o relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades”. E, também, no art. 543-A16

, que exige a repercussão geral como requisito de admissibilidade do recurso extraordinário permitindo a manifestação de terceiros.

O amicus curiae pode também ser admitido no processo de construção de súmula vinculante, conforme dispõe na Lei nº 11.41717, de 19 de dezembro de 2006, que regulamenta o art. 103-A da Constituição Federal, disciplinando a edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal, e dá outras providências18.

12 BUENO, Cassio Sacapinella. Amicus curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático. São

Paulo: Saraiva, 2006. p 125.

13

DESTEFENNI, Marcos. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento Convencional e Eletrônico. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 241.

14 BRASIL, Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Novo Código de Processo Civil. <Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm> Acesso em 02 jun 2015.

15 BRASIL, Lei 9.868, de 10 de novembro de 1999. <Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9868.htm> Acesso em 02 jun 2015.

16Art. 543-A da Lei 9.868-99: O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso

extraordinário, quando a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo. [...] § 6º O Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (grifo nosso).

17BRASIL, Lei 11.417, de 19 de dezembro de 2006. <Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11417.htm> Acesso em 2 jun 2015.

18

Art. 3º, §2º da Lei 11.417/06: No procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado da súmula vinculante, o relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a manifestação de terceiros na questão, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (grifo nosso).

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Outrossim, o instituto está previsto no art. 6º, §1º da Lei nº 9.882, de 03 de dezembro de 1999, que trata do processo e julgamento da arguição de descumprimento de preceito fundamental. O instituto, ainda, está presente na Lei nº 6.385, de 07 de dezembro de 1976, art. 31, que induz: “nos processos judiciários que tenham por objetivo matéria incluída na competência da Comissão de Valores Mobiliários, será esta sempre intimada para, querendo, oferecer parecer ou prestar esclarecimentos, no prazo de quinze dias a contar da intimação”.

Ainda, cabe citar o art. 14, §7º da Lei nº 10.259, dos Juizados Especiais Federais, permitindo a participação de eventuais interessados no julgamento do pedido de uniformização de interpretação de lei federal, quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito material, e, por fim, no Código de Processo Civil de 1973, no art. 482, §3º, quanto ao incidente de declaração de inconstitucionalidade, “o relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades”.

Assim sendo, o amicus curiae possui função intervencional no processo como sujeito representativo necessário para acrescentar informações pertinentes à matéria do fato do objeto da ação.

3.1 NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

No ano de 2009, através do Ato do Presidente do Senado Federal nº 37919, José Sarney instituiu a Comissão de Juristas destinados a elaborar o Anteprojeto de Novo Código de Processo Civil. Os membros da Comissão indicados foram Presidente José Sarney, Ministro Luiz Fux, do Superior Tribunal de Justiça, a Doutora Teresa Wambier e os Doutores Adroaldo Fabrício, Benedito Pereira Filho, Bruno Dantas, Elpídio Nunes, Humberto Teodoro Júnior, Jansen Almeida, José Miguel Medina, José Roberto Bedaque, Marcus Vinícius Coelho e Paulo Cezar Carneiro. Na exposição de motivos é evidenciado:

Um sistema processual civil que não proporcione à sociedade o reconhecimento e a realização dos direitos, ameaçados ou violados, que têm cada um dos jurisdicionados, não se harmoniza com as garantias constitucionais de um Estado Democrático de Direito. Sendo ineficiente o sistema processual, todo o ordenamento jurídico passa a carecer de real efetividade. De fato, as normas de direito material se transformam em pura ilusão, sem a garantia de sua correlata realização, no mundo empírico, por meio do processo. Não há fórmulas mágicas. O

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BRASIL, Código de Processo Civil. Anteprojeto. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010.<Disponível em: http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf> Acesso em 02 jun 2015.

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Código vigente, de 1973, operou satisfatoriamente durante duas décadas. A partir dos anos noventa, entretanto, sucessivas reformas, a grande maioria delas lideradas pelos Ministros Athos Gusmão Carneiro e Sálvio de Figueiredo Teixeira, introduziram no Código revogado significativas alterações, com o objetivo de adaptar as normas processuais a mudanças na sociedade e ao funcionamento das instituições20.

Desse modo, com base na sintonia constitucional e processual, nas melhores condições para que o juiz possa proferir decisão rente à realidade fática subjacente à causa, na simplificação dos problemas reduzindo a complexidade de subsistemas, na melhoria do rendimento dos processos e na geração de maior grau de organicidade ao sistema, dando-lhe mais coesão, a Lei nº 13.105, o Novo Código de Processo Civil21, foi sancionada no dia 16 de março de 2015.

A nova lei processual trouxe diversas transformações ao processo. Uma das principais modificações foi à inclusão do rol principiológico processual, que no antigo código não havia. Os primeiros dispositivos são no sentido de afirmar quais são os princípios que regem a lei, segundo Instituto de Direito Contemporâneo22. Nesse rumo, importa trazer à baila a seguinte consideração:

A par de consagrar o modelo constitucional do processo civil, repetindo normas constitucionais que tratam, por exemplo, da inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV e NCPC, art. 3º, caput), da razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII e NCPC, art. 4º, caput), do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5º, LV e NCPC, art. 7º), da proteção à dignidade da pessoa humana e dos princípios da legalidade, publicidade e eficiência (CF, art. 1º, III e 37, caput, e NCPC, art. 8º) e da fundamentação das decisões judiciais (CF, art. 93, IX e NCPC, art. 11).

Um dos acréscimos à legislação foi à conceituação direta do instituto amicus curiae. Na exposição de motivos no Novo Código foi ressaltada a importância do preceito23:

Levando em conta a qualidade da satisfação das partes com a solução dada ao litígio, previu-se a possibilidade da presença do amicus curiae, cuja manifestação, com

20 BRASIL, Código de Processo Civil. Anteprojeto. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010.<Disponível em: http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf> Acesso em 02 jun 2015.

21

BRASIL, Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Novo Código de Processo Civil. <Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm> Acesso em 02 jun 2015.

22 BRASIL, Instituto de Direito Contemporâneo. Parte Geral e Princípios Constitucionais no CPC 2015.

<Disponível em: http://www.cpcnovo.com.br/blog/2015/04/01/parte-geral-e-principios-constitucionais-no-cpc-2015/ > Acesso em 05 jun 2015.

23

BRASIL, Código de Processo Civil. Anteprojeto. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010.<Disponível em: http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf> Acesso em 02 jun 2015.

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certeza, tem aptidão de proporcionar ao juiz condições de proferir decisão mais próxima às reais necessidades das partes e mais rente à realidade do país. Entendeu-se que os requisitos que impõem a manifestação do amicus curiae no processo, se existem, estarão presentes desde o primeiro grau de jurisdição, não se justificando que a possibilidade de sua intervenção ocorra só nos Tribunais Superiores. Evidentemente, todas as decisões devem ter a qualidade que possa proporcionar a presença do amicus curiae, não só a última delas. (grifo nosso)

A nova legislação24 traz previsão expressa quanto ao instituto no capítulo V25. O art. 138, também traz, em seus parágrafos que “caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes no amicus curiae” (§2º) e o amicus

curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas

(§3º). Portanto, a intervenção deve ser legitimada e esclarecida pelo magistrado bem como deverá ser arbitrado ao amicus curiae o possível recurso.

Portando, além de haver regulamentação deste como uma espécie legítima de intervenção de terceiro, haverá, também a possibilidade do amicus curiae atuar nos processos de primeiro grau de jurisdição. Desse modo, essa importante modalidade não terá limitação de participação apenas nos processos em trâmites em tribunais superiores, como também será incorporado aos processos de menor repercussão.

Para Cassio Scarpinella Bueno o instituto é uma modalidade interventiva com a finalidade de permitir que um terceiro intervenha no processo para a possibilidade de defesa de interesses institucionais tendentes a serem atingidos pela decisão26. Ainda, para o autor, a nova modalidade visa maior legitimação na decisão tomada, inclusive perante os indivíduos que não possuem legitimidade para intervir no processo de acordo com as modalidades tradicionais de intervenção27.

Alexandre de Freitas Câmara28 fundamenta que:

24 BRASIL, Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Novo Código de Processo Civil. < Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm> Acesso em 02 jun 2015.

25 Art. 138 da Lei 13.105/15: O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema

objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. (grifo nosso)

26 BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. 1ª ed. São Paulo: Saraiva. 2015, p.

23.

27 BUENO, Cassio Scarpinella. Amicus Curiae no direito brasileiro: um terceiro enigmático. 3ª ed. São

Paulo: Saraiva, 2012, p. 143-333 e 554-559.

28 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 19ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009,

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Considera-se provocada à intervenção do amicus curiae quando esta é determinada pelo juízo da causa (ou relator, quando se tratar de processo em trâmite, originariamente ou em grau de recurso, em tribunal). A intervenção provocada pode se dar por determinação ex officio ou a requerimento de alguma das partes, sempre que ao juízo parecer que a participação do amicus curiae seja capaz de trazer subsídios relevantes para a formação de seus convencimento acerca das matérias de direito cuja apreciação lhe caiba. De outro lado, nada impede que a pessoa – natural ou jurídica – que pretenda intervir no processo na qualidade de amicus curiae requeria seu ingresso no feito.

Com a presença do amicus curiae o processo civil reconhece a legitimação das decisões através da participação de um terceiro, seja pessoa física ou jurídica, trazendo assim maior aplicação dos princípios democráticos. Ainda, impõe que o sistema não pode continuar enclausurado num modelo obscuro de regras jurídicas. Deve, portanto, garantir a comunicação direta com a sociedade para alcançar uma decisão mais justa, razoável, igualitária e eficiente para todo o corpo social.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O amicus curiae, portanto, é indispensável para as ações processuais civis para garantir a celeridade processual e o devido processo legal. A nova modalidade de intervenção de terceiros garante ao processo acesso a informações pertinentes para a decisão final.

Os princípios democráticos, com o novo modelo de intervenção, terão maior aplicabilidade, pois a nova lei reconhece e certifica a participação de terceiros na intervenção dos processos. Desse modo, a participação de pessoas físicas ou jurídicas será validada no sentido de trazer maior aplicabilidade nos princípios constitucionais processuais.

O Supremo Tribunal Federal já havia legitimado a participação do amigo da corte nas decisões da Excelsa Corte. Ainda, para o STF o amicus curiae tem como objetivo maior visar o enriquecimento do veredicto final e, também, ampliar o resultado de forma trazer indiscutível significado na área social, econômica, jurídica, cultural e política.

Desse modo, com a consolidação do amicus curiae, como meio de intervenção de terceiros, o instituto passará a ser utilizado nas primeiras instâncias do Judiciário e não apenas nas instâncias superiores conforme legislação anterior. A relevância do amigo da corte não está relacionada à participação dos sujeitos interessados na resolução da lide processual para uma parte em específico, mas sim em um terceiro, seja ele indivíduo, empresa ou órgão, motivado em garantir que o processo tenha todas as informações necessárias para a resolução do conflito.

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5 REFERÊNCIAS

BRASIL, Código de Processo Civil. Anteprojeto. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal,

Presidência, 2010.<Disponível em:

http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf> Acesso em 02 jun 2015. BRASIL, Instituto de Direito Contemporâneo. Parte Geral e Princípios Constitucionais no CPC 2015. <Disponível em: http://www.cpcnovo.com.br/blog/2015/04/01/parte-geral-e-principios-constitucionais-no-cpc-2015/ > Acesso em 05 jun 2015.

BRASIL, Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Novo Código de Processo Civil. <Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm> Acesso em 02 jun 2015.

BRASIL, Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Código de Processo Civil. <Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm> Acesso em 02 jun 2015. BRASIL, Lei nº 11.417, de 19 de dezembro de 2006. <Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11417.htm> Acesso em 2 jun 2015.

BUENO, Cassio Sacapinella. Amicus curiae no processo civil brasileiro:um terceiro enigmático. São Paulo: Saraiva, 2006.p. 88.

BUENO, Cassio Scarpinella. Amicus Curiae no direito brasileiro: um terceiro enigmático. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 143-333 e 554-559.

BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. 1ª ed. São Paulo: Saraiva. 2015, p. 23.

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 19ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 207.

DESTEFENNI, Marcos. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento Convencional e Eletrônico. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 241.

MARQUES, José Frederico, Manual de direito processual civil, vol. 1. Campinas: Millenium. 2001, p. 358.

PEDROLLO, Gustavo Fontana. Amicus curiae: elemento de participação política nas decisões judiciais-constitucionais. Revista da Ajuris: doutrina e jurisprudências, Porto Alegre,v. 32, n. 99, set. 2005., p. 162.

PEREIRA, Milton Luiz. Amicus curiae: Intervenção de terceiros. Revista de processo, São Paulo, v. 28, n. 109, jan./mar. 2003.p. 109.

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THE UNITED STATES, Supreme Court. Amicus Curiae. <Disponível em: http://www.supremecourt.gov/ctrules/tocounsel_07rulesrevisions.aspx> Acesso em 02 jun 2015.

THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de direito processual civil, vol. 1, Rio de Janeiro: Forense. 2014. p. 114-115.

Referências

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