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AméliaMarikoKubota

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ANÁLISE DA DIFUSÃO ESPACIAL DE ÁREAS URBANIZADAS NO CORREDOR DA RODOVIA DOS BANDEIRANTES (SP -348) ENTRE 1962 E

2009, EM CAMPINAS (S.P.) A PARTIR DA APLICAÇÃO DE IMAGENS ORBITAIS

Amélia Mariko Kubota1, Marcos César Ferreira2

Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP / IG Caixa Postal: 6152 – CEP 13083-970 - Campinas - São Paulo

E-mail: {ameliakubota, macferre}@ige.unicamp.br RESUMO

Este trabalho tem como proposta analisar a difusão espacial e a configuração de áreas urbanizadas a partir do uso de imagens orbitais. Propõe-se comparar as transformações de um espaço predominantemente rural para um espaço urbano em um período de tempo, de 1962 a 2009, assim como as transformações decorrentes da instalação de objetos de grande porte, neste caso uma rodovia. Para realizar este estudo foi feito uma análise do uso e ocupação do solo em períodos anteriores e posteriores à construção da Rodovia dos Bandeirantes (SP-348) – inaugurada em 1978 - na área sudoeste do município de Campinas, no Estado de São Paulo, utilizando-se fotografias aéreas e o Sistema de Informação Geográfica (SIG) como ferramentas de análise do espaço geográfico. Considera-se para esta análise a produção do espaço urbano da cidade capitalista a partir de diversos agentes e interesses. Nesse sentido, a partir da propriedade privada são definidos os vários usos do espaço urbano, determinados por disputas entre os vários segmentos urbanos, disputas estas baseadas no preço da terra e o acesso diferenciado à propriedade privada. Leva-se em conta o tempo como fator importante que permite a análise das transformações na configuração dos elementos no espaço geográfico.

Palavras-chave: Campinas, expansão urbana, uso e ocupação do solo, Sistema de Informação

Geográfica (SIG), dinâmica espaço temporal.

INTRODUÇÃO

O município de Campinas localiza-se no estado de São Paulo a menos de cem quilômetros da cidade de São Paulo. Trata-se de uma cidade que definitivamente consolidou-se como pólo de atração no interior paulista devido ao seu dinamismo econômico por apresentar uma estrutura industrial bastante diversificada, comércio e serviços de alto padrão e centros de pesquisa de importância nacional. Conta ainda com infra-estruturas de grande porte como um integrado sistema viário e o Aeroporto Internacional de Viracopos, projetos resultantes de políticas de níveis estadual e nacional, no esforço de interiorizar o desenvolvimento.

1

Mestranda do curso de Pós Graduação em Geografia, do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

2

Professor Doutor do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

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Porém, esse dinamismo econômico não atingiu toda a cidade, nem toda a população, beneficiando apenas alguns agentes e pontos localizados na cidade. A expansão urbana, principalmente após a década de 1960 se deu de maneira desordenada, sem regulação pelo poder público, ocorrendo de forma rápida e intensa e trazendo diversos problemas de ordem ambiental, social e econômica.

O corredor da Rodovia dos Bandeirantes (SP-348) e seu entorno foi escolhido como objeto de estudo por localizar-se na região sudoeste de Campinas, área com terras de baixa fertilidade, se comparada a outras da cidade e, portanto, de terras mais baratas, e que sofreu um processo de urbanização recente, caracterizado por grande adensamento populacional. A instalação da rodovia em 1978 consolidou processos que já estavam em andamento nas décadas anteriores, a construção de inúmeros loteamentos para população de baixa renda. Porém, essa rodovia foi construída para atender um contexto maior da economia e ela aparece como uma barreira física aos moradores da área.

Para realizar este estudo, as imagens orbitais (fotografias aéreas e imagem de satélite) e o Sistema de Informação Geográfica (SIG) foram utilizados como ferramentas para a análise do espaço urbano. O SIG, pela sua capacidade de manipular grandes quantidades de dados e realizar análises espaciais tem um caráter inter e multidisciplinar. Seu uso aliado a concepções teórico metodológicos da Geografia traz grandes benefícios ao estudo e compreensão do espaço geográfico.

Serão apresentados a seguir, um breve histórico da formação e estruturação do espaço de Campinas, em seguida os materiais e métodos utilizados, os resultados parciais, as devidas discussões e as considerações finais.

O MUNICÍPIO DE CAMPINAS E A ÁREA DE ESTUDO

Para entender as transformações que ocorreram no município de Campinas, é necessário apresentar brevemente o processo histórico de sua formação.

O processo de uso e ocupação do solo no município de Campinas se inicia a partir do século XVIII, como uma área de pouso para tropeiros e viajantes a caminho da região das minas de Goiás. Em pouco tempo a notícia da produtividade das terras nessa região chama atenção e dessa forma, as antigas sesmarias começaram a ser vendidas, em lotes, aos agricultores que se mudavam para a região. Em 1774 é fundada a Freguesia Nossa Senhora de Conceição de Campinas. Na última década do século XVIII, em 1797, a produção canavieira chega ao auge, destacando-se economicamente, o que confere à Freguesia a elevação à categoria de Vila, denominada São Carlos e

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consegue sua emancipação política, desmembrando-se de Jundiaí. Os senhores de engenhos açucareiros demonstram nesse período uma importante representatividade política, constituindo assim, uma elite que comandava a política da região. Em 1842 a Vila de São Carlos torna-se Cidade, já com o nome de “Campinas”.

No final do século XVIII já era notável a vocação agrícola da área, iniciando-se com o cultivo de cana, mas que logo é substituído pela produção de café, produto que se valorizava no mercado internacional. Parte do lucro obtido com o café foi investido em melhorias da cidade, como a instalação de linha ferroviária para o escoamento da produção, energia elétrica, bancos, num esforço de adaptar o espaço urbano à produção capitalista. Além disso, já se investia em indústrias, mas ainda de uma forma modesta. Para a elite campineira vigente era importante organizar o espaço para obter renda e para isso as famílias pioneiras da cidade operavam setores estratégicos da economia como transportes, iluminação, serviços de água e saneamento. Nessa época, Campinas mostrava um crescimento acelerado. A população já havia alcançado os 33 mil habitantes, superando a cidade de São Paulo com seus 26 mil habitantes, como ressalta Caiado et al. (2002).

Mesmo após a crise cafeeira, Campinas conseguiu diversificar a sua economia, com a produção de algodão e posteriormente com o processo de industrialização.

O rápido e intenso crescimento urbano-industrial do município que ocorreu a partir de meados do século XX, foi fruto das políticas de modernização e industrialização nacional. Além disso, a desconcentração industrial da Região de Metropolitana de São Paulo deu um grande impulso ao crescimento do interior, especialmente em Campinas, que recebeu dessa forma, muitas indústrias que viam maiores vantagens econômicas no interior paulista. O Estado também estimulou a desconcentração das indústrias ao investir maciçamente em infra-estrutura (rodovias, universidades e centros de pesquisa), com o objetivo de estimular a industrialização em diferentes partes do país, além de políticas municipais como subsídios fiscais, criação de distritos industriais e infra-estrutura local e regional. Conforme destacam Caiado et

al (2002), a infra-estrutura, para atrair novos empreendimentos no município de

Campinas, foi montado pelo poder público federal e estadual, principalmente entre 1970 e 1985. Uma das mais importantes nesse sentido foi a construção de rodovias formando uma rede articulada, dentre elas, a Rodovia dos Bandeirantes (SP 348), inaugurada em 1978.

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Todas essas transformações configuraram em usos e ocupações do solo desigual e contraditório. A lógica do capitalismo impôs a diferentes pontos da cidade formas diversificadas de uso e produção do espaço.

O crescimento da área urbana e das atividades industriais em Campinas fez a especulação imobiliária ganhar força e o lote urbano torna-se a principal mercadoria. Como bem lembra Corrêa (2000), os promotores imobiliários tentam obter ajuda do Estado para tornar viável a construção de moradias para a população de baixa renda. A criação de órgãos e mecanismos jurídicos e financeiros pelo poder público visa permitir a acumulação do capital por meio de habitações.

Nota-se uma intensa fase de expansão urbana com o surgimento de novos bairros periféricos que abrigarão populações de baixa renda, além da construção de vários conjuntos populacionais. Kowarick (2000) analisa que se o Estado favorece a acumulação de capital, ele beneficia as camadas mais privilegiadas da sociedade e as camadas populares permanecem excluídas de melhorias referentes aos bens de consumo coletivo.

Em 1965 inicia-se a implantação de conjuntos habitacionais financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e de loteamentos populares destinados à população de baixa renda na região sudoeste de Campinas. A industrialização crescente atraiu milhares de migrantes à cidade, especialmente a partir da década de 1970, período em que dois grupos distintos vieram para a região: o primeiro constituído por mão de obra com ensino superior, e o segundo constituído de mão de obra com pouca escolaridade. É nessa época que a expansão urbana é marcada pela crescente horizontalização e periferização.

Em 1974 a prefeitura define a implantação do Distrito Industrial de Campina (DIC) na região sudoeste do município, área até então pouco ocupada, próximo à Rodovia dos Bandeirantes, de terras baratas. Define-se também a construção de conjuntos de bairros habitacionais próximos a este distrito, denominados de DICs Habitacionais (hoje são seis DICs), planejados para servirem de moradia aos trabalhadores das indústrias instaladas no DIC.

A área sudoeste de Campinas foi escolhida por apresentar características bem distintas de outras partes da cidade. Considerada distante do centro, trata-se de uma área com terras de baixa fertilidade, e dessa forma, de terras mais baratas, e que desde o início da história do município, teve importância secundária para a economia local e regional.

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Desde o final do século XIX e início do século XX, a área central da cidade já era evitada pelas indústrias e a população operária, por serem mais valorizadas. A procura por terrenos e aluguéis mais baratos propiciou o desenvolvimento na periferia (daquela época), principalmente ao longo das saídas da cidade. A estrada de ferro foi um fator importante para a constituição de uma área industrial e operária. Nesse contexto, surge a Vila Industrial, do outro lado dos trilhos, na saída em direção a Itu, local escolhido pelos ferroviários e seu desenvolvimento ultrapassou para os terrenos baixos, alagadiços e desvalorizados, que o cercavam e que eram ocupados pelo Matadouro Municipal, Cortume Campineiro e Asilo de Morféticos, acabando por direcionar a vocação proletária da área sudoeste da cidade (BADARÓ, 1996, p. 29). Já havia desde o início do processo de industrialização e urbanização, um direcionamento da ocupação dessa área, e que se confirmou em décadas posteriores.

O predomínio de áreas rurais era evidente até meados dos anos de 1960. Concentravam-se aí basicamente, pequenas e médias propriedades rurais, sítios e chácaras, além que pequenas olarias e granjas. A expansão urbana, a industrialização e a especulação imobiliária, principalmente a partir de meados dos anos de 1960, fizeram com que as propriedades rurais fossem parceladas e a partir daí, diversos loteamentos fossem abertos a fim de atender uma demanda de moradia crescente, de uma população constituída por milhares de migrantes atraídos pela oferta de emprego nas indústrias. Assim como muitas cidades brasileiras, Campinas sofreu em pouco tempo, transformações intensas e rápidas na estruturação do espaço, porém, de maneira desordenada. A abertura de novas rodovias, dentre elas a Rodovia dos Bandeirantes, trouxe uma aceleração em processos que já ocorriam na área, como o parcelamento de propriedades rurais e a conseqüente expansão da periferia. Esta se deu em grande parte apenas pelas mãos do mercado imobiliário, altamente especulativo, sendo que a regulamentação pelo poder público só deu mais tarde, quando boa parte dos loteamentos já se encontrava em construção. Desta maneira, em um curto período de tempo, a área estudada consolidou-se como a parte da cidade onde predominam bairros bastante adensados, de loteamentos e conjuntos habitacionais voltados para a população de baixa renda.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais utilizados para esta pesquisa são: seis cartas topográficas IGC na escala de 1:10.000, cópias digitais de fotografias aéreas de 1962, na escala de 1:25.000,

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obtidas no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), 1972, na escala de 1:25.000, obtidas na Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), 1982, 1994 e 2005, nas escalas de 1:8.000; 1: 5.000, 1:2.000 respectivamente, obtidas na Prefeitura Municipal de Campinas, uma imagem do satélite ALOS, pancromático, de resolução espacial 2,5 m, de 08/08/2009 para verificar e comparar com os dados de 2005 e o uso SIG ArcGIS versão 9.3. Definiu-se como escala de trabalho de 1:10.000.

Fig.1- Município de Campinas e a área de estudo. Org. Kubota, A. M.; 2011

Delimitou-se uma área de um quilômetro a partir de cada margem, ao longo da rodovia considerando-o como parte de uma rede rodoviária em forma de circuito, como ressaltam Hagget e Chorley (1969). As delimitações para a área de estudo foram os nós (vértices) dessa rede: ao sul o entroncamento com a Rodovia Santos Dumont em direção ao Aeroporto de Viracopos e à sudoeste a Avenida John Boyd Dunlop, importante via de circulação da cidade. Foi feito um buffer3 de um quilômetro de cada margem da rodovia, sendo esta medida a mais adequada para se estudar as transformações mais

3

Em análise espacial, buffer é uma zona ao redor de uma feição no mapa (ponto, linha ou polígono) medido em unidades de distância. Disponível em http://support.esri.com/en/knowledgebase/GISdictionary/popup/buffer.

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recentes da área (Fig. 1). Parcelas maiores do município foram consideradas, porém abrangeria áreas urbanas consolidadas mais antigas, o que não é objetivo deste trabalho. Foi feito o georreferenciamento das fotografias aéreas com base na carta topográfica do IGC. Posteriormente, realizou-se uma classificação e a digitalização do uso e ocupação do solo da área. A análise das fotografias aéreas permitiu verificar a predominância dos seguintes usos: loteamento em implantação; loteamento em construção; fragmentos florestais (mata, mata secundária); áreas de várzea; indústria, áreas de uso rural e área urbana consolidada. A partir dessa classificação foi feito a digitalização desses usos nos cenários descritos (1962, 1972, 1982, 1994 e 2005) no

software ArcGis versão 9.3. A imagem de satélite ALOS foi utilizada para se comparar

com o cenário de 2005. Neste ano é possível observar que as transformações mais significativas já estavam praticamente consolidadas.

Para essa análise foi utilizada a metodologia de trabalho para a variável “tempo” na Geografia a partir do trabalho de Peuquet (1994). A autora considera que se deve fazer uma relação entre o movimento do objeto e/ou localização através do espaço e do tempo (prisma espaço-tempo). Trata-se de uma relação entre o objeto estudado, a sua localização e o tempo, em outras palavras, o estudo de cada uso e ocupação do solo nos permite ver para onde se expandiu no decorrer de um dado tempo.

RESULTADOS PARCIAIS E DISCUSSÃO

Ao analisar os principais usos e ocupações do solo, o que se destaca é a rápida e intensa urbanização de toda uma área que era predominantemente rural em um período relativamente curto de tempo.

As áreas rurais eram bastante numerosas em 1962 e 1972. Com o passar dos anos, principalmente durante a década de 1980, a urbanização e a especulação imobiliária fizeram com que grande parte dessas áreas se transformasse em loteamentos. Apesar da visível diminuição das áreas rurais, ainda em 2005 e mesmo na imagem de satélite ALOS de 2009, ainda permanecem algumas poucas áreas com essas características.

As áreas de cobertura vegetal foram uma das que mais sofreram diminuição em decorrência dos avanços da urbanização no sentido sul e sudoeste do município. Se em 1962 havia áreas consideravelmente amplas de cobertura vegetal, estas já quase não existem mais a partir de 1994, diminuindo ainda mais em 2005. Pode-se ainda perceber

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que em algumas pequenas áreas do local estudado que houve um pequeno aumento de áreas florestais, mas em decorrência de leis federal e notadamente municipal que normatiza as Áreas de Preservação Permanente (APP).

Em relação às indústrias cabe destacar que em 1962 e 1972 predominavam indústrias relacionadas à mineração de argila e areia, olarias, ao longo do Rio Capivari, importante rio para o abastecimento de água da cidade. A atividade mineradora tem se mantido até os dias atuais. Em 1962, 1972 e 1982 observou-se uma quantidade considerável de cavas alagadas, comprometendo a mata ciliar e acelerando o assoreamento e processos erosivos. Ainda em 1994, 2005 e 2009 observou-se que as cavas continuam. É importante salientar que em 1982 já se encontra instalado o Distrito Industrial de Campinas, ao sul da Rodovia dos Bandeirantes, junto ao entroncamento com a Rodovia Santos Dumont e o acesso ao Aeroporto de Viracopos.

É uma área de urbanização recente. Tanto que as áreas urbanas consolidadas só aparecem a partir de 1982, já com a Rodovia dos Bandeirantes construída, sendo que em décadas anteriores, os loteamentos ainda se encontravam em construção ou implantação (Fig.2).

A Rodovia dos Bandeirantes, ao ser construída, acabou reorganizando os usos do solo do seu entorno. Alguns loteamentos que estavam em fase de implantação e construção foram desapropriados. Se eles existiam em 1962 e 1972, já não existem mais de 1982 em diante.

A maior transformação que ocorreu na área estudada ao longo dos tempos considerados foi a implantação e construção dos loteamentos (Fig.3). Observou-se que se em 1962 havia apenas um loteamento em construção e poucos em implantação, já em 1972 esse número aumenta e 1982 ocorre uma verdadeira explosão desse tipo de ocupação, movidos em parte pela especulação imobiliária, em parte pela chegada de migrantes à cidade e pelo próprio crescimento do município. A ocupação é predominantemente popular compreendendo conjuntos habitacionais da COHAB (Companhia de Habitação Popular), loteamentos em áreas impróprias, além de favelas e ocupações. A oferta de infra estrutura básica é deficitária, sendo em muitos desses loteamentos ainda não possuírem asfalto nas ruas, por exemplo.

O período entre 1965 e 1979 marca a formação de uma nova periferia, ainda mais distante do centro urbano, com a construção de conjuntos habitacionais financiados pelo SFH (Sistema de Financeiro de Habitação) e abertura de loteamentos populares com pouca ou nenhuma infra-estrutura. Em geral, a compra do lote incluía 1

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ou 2 milheiros de tijolos para o cômodo que, em poucas semanas, serviria de moradia para a família (diferente da formação da primeira periferia na década de 1950, quando os lotes foram adquiridos pela classe média de Campinas e de outros lugares).

Fig.2- Evolução da área urbana consolidada, de 1962 a 2005. Org. por Kubota, A.M., 2011.

A falta de infra estrutura básica também é constante em esse tipo de ocupação. Santos (2008) destaca que “quem consegue pagar pela moradia em áreas mais periféricas terá de se organizar e lutar para conseguir infra-estrutura e serviços.

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Normalmente, trata-se de quem foi morar em loteamentos populares desprovidos de tudo” (SANTOS, 2008, p. 119).

Carlos (2008) ressalta que o espaço urbano se constrói e se reproduz de forma desigual e contraditória e, portanto, “a desigualdade espacial é produto da desigualdade social” (CARLOS, 2008, P. 23).

Fig.3- Evolução dos loteamentos em construção, de 1962 a 2005. Org. por Kubota, A.M., 2011

As transformações da área de estudo podem ser consideradas a partir do que Carlos (1994) considera a cidade como “a expressão mais contundente do processo de produção da humanidade sob o desenvolvimento da reprodução das relações

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capitalistas” (p.182). A autora ainda afirma que é a partir da propriedade privada que são definidos os vários usos do espaço urbano. Os usos por sua vez “são determinados por disputas entre os vários segmentos urbanos. Na base destas disputas estão o preço da terra e o acesso diferenciado à propriedade privada (...)” (p.188). Para a autora, a análise urbana não permite a separar o natural e o social, “mas uma articulação dialética entre sociedade e espaço, mesmo porque o homem no seu cotidiano multiplica e aprofunda seus laços com a natureza, e esta tende a ganhar uma dimensão social e histórica” (p.193). A análise do espaço urbano passa a ser vista como “produto histórico e social, desigual e contraditório, lugar privilegiado das lutas de classe e dos movimentos sociais, enquanto unidade do diverso” (p.193).

Na área sudoeste de Campinas aqui estudada percebe-se claramente que a propriedade privada de parcelas do espaço aparece como uma das bases fundamentais do processo de apropriação dentro do sistema capitalista de produção. “O modo pelo qual o indivíduo terá acesso à terra na cidade enquanto condição de moradia, vai depender do modo pelo qual a sociedade estiver hierarquizada em classes sociais e do conflito entre parcelas da população” (CARLOS, 2008, P. 53-54). Para se ter acesso à terra, é preciso pagar por ele. Assim, à população mais pobre, resta procurar áreas mais distantes do centro, onde os terrenos são mais baratos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O rápido e intenso processo de urbanização por qual passou o município de Campinas é uma realidade da maioria das grandes cidades brasileiras. O aumento da população demanda novas áreas de moradia, muitas vezes concebido sem o devido planejamento e movido pela especulação imobiliária.

Em menos de cinqüenta anos, o entorno do corredor da Rodovia dos Bandeirantes, na região sudoeste do município se transformou de uma área rural para uma área altamente urbanizada, dentro de um processo intenso de expansão da periferia. Essa expansão, porém, se deu de maneira desordenada, comandado muitas vezes pelo mercado imobiliário, e resultando hoje em carências de infra estrutura básica.

A Rodovia dos Bandeirantes, importante elemento da região tem uma função de barreira física à ocupação de seu entorno, já que ela foi construída para a circulação de mercadorias regional, e não para atender a população que reside ali perto. A rodovia tem um papel estruturador e desestruturador da circulação interna da cidade já que bairros

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aparentemente próximos no mapa, não são tão próximos na realidade se estão em lados opostos da rodovia.

Sem dúvida, é notável a transformação a qual passou a paisagem da área estudada, imprimindo características bem distintas de outras áreas do município. O adensamento de loteamentos trouxe e ainda traz diretrizes de planejamento urbano, pois trata-se de uma área ambientalmente degradada, de alta densidade demográfica e de pouca infra estrutura para a população. Não é por acaso que essa região é considerada uma “área prioritária de requalificação” pela prefeitura municipal (2006), o rápido crescimento trouxe problemas de ordem ambiental e social. O uso de imagens orbitais e o Sistema de Informação Geográfica trouxeram contribuições importantes para o entendimento dos processos, pois permitiu a manipulação dos dados de maneira ágil assim como a espacialização dos fenômenos.

REFERÊNCIAS

BADARÓ, Ricardo de S. C. Campinas: o despontar da modernidade. Campinas: Área de publicações CMU/UNICAMP, Campinas, 1996.

CAIADO, Aurílio S.C., PIRES, Maria C.S., SANTOS, Sarah M.M., Miranda, Zoraide A.I. Município de Campinas. In: CANO, W.; BRANDÃO, C.A. (coord.). A Região Metropolitana de Campinas – Urbanização, economia, finanças e meio ambiente. Campinas, Editora da Unicamp, Volume 1, 2002.

CAMPINAS (Prefeitura Municipal). Plano Diretor do Município de Campinas, Campinas, Prefeitura, 2006. Disponível em: http://2009.campinas.sp.gov.br/seplan/publicacoes/planodiretor2006. Acesso em 09/07/2011.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade (Repensando a Geografia). São Paulo, Editora Contexto, 8ª edição, 2008.

___________________________. Repensando a Geografia Urbana: uma nova perspectiva se abre. In: A cidade e o urbano. São Paulo, Editora da USP, 1994.

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo, Editora Ática, 2000.

HAGGET, Peter.; CHORLEY, Richard. J. Network analysis in geography. London, Edward Arnold, 1969.

KOWARICK, Lúcio. Lutas urbanas e movimentos populares. In: Escritos Urbanos. São Paulo, Editora 34, 2000.

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PEUQUET, Donna. J. “It´s about time: a conceptual framework for the representation of temporal dynamics in geographic information systems”. Annals of the Association of American Geographers, vol. 84 (3), p. 441-461, 1994.

SANTOS, Regina Célia Bega. Movimentos sociais urbanos. Coleção Paradidáticos. Série Poder. São Paulo, Editora UNESP, 2008.

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