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Fatores de riscos psicossociais e aspectos ergonômicos no trabalho de professores de educação especial

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Letícia Rios Dias

Fatores de riscos psicossociais e aspectos ergonômicos no trabalho de professores de Educação Especial

Florianópolis - SC 2019

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Letícia Rios Dias

Fatores de riscos psicossociais e aspectos ergonômicos no trabalho de professores de Educação Especial

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção

Orientador: Prof.ª Lizandra Garcia Lupi Vergara, Dr.ª

Florianópolis - SC 2019

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Letícia Rios Dias

Fatores de riscos psicossociais e aspectos ergonômicos no trabalho de professores de Educação Especial

O presente trabalho em nível de mestrado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Roberto Moraes Cruz, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina

Prof. Antonio Renato Pereira Moro, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de mestre em Engenharia de Produção.

____________________________ Prof. Enzo Morosini Frazzon, Dr.

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção

____________________________ Prof.ª Lizandra Garcia Lupi Vergara, Dr.ª

Orientadora

Florianópolis – SC, 2019. Documento assinado digitalmente Lizandra Garcia Lupi Vergara Data: 16/02/2020 20:19:15-0300 CPF: 934.705.419-49 Documento assinado digitalmente Enzo Morosini Frazzon Data: 17/02/2020 13:33:24-0300 CPF: 014.696.429-21

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Este trabalho é dedicado à minha querida e amada família, base de tudo.

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AGRADECIMENTOS

Só tenho a agradecer, pois muitos contribuíram para que eu chegasse até aqui. Aprendi muito nesta jornada, e como aprendi.

Primeiramente, toda a gratidão a Deus, por me permitir que eu trilhasse esse caminho.

À minha orientadora prof.ª Lizandra Vergara, pela oportunidade concedida, com toda a paciência e compreensão, por possibilitar a realização deste trabalho.

Aos professores Antonio Renato Moro e professor Roberto Cruz, por aceitarem participar da banca examinadora. Os ensinamentos que me passaram durante suas disciplinas tiveram enorme contribuição na elaboração deste trabalho.

Ao CNPq, pelo auxílio financeiro, extremamente importante para alicerçar a continuidade da pesquisa acadêmica.

Aos meus colegas de curso, em especial ao grupo GMETTA e do LABERGO, que sempre compartilharam dicas para que eu pudesse me ambientar novamente à vida acadêmica. Às servidoras da equipe do DAS/UFSC – Fabiana, Lúcia e Celi, pela gratificante parceria na execução deste projeto. Suas participações foram essenciais!

Ao Bruno Pires, pelo apoio e acompanhamento na aplicação dos questionários, assim como nas diversas orientações na elaboração de planilhas e interpretação de dados.

Aos colegas - Bruna do DAS e Lucas Dias do GMETTA, pelo apoio prestado na transcrição das entrevistas, muito obrigada pela disposição!

Aos compadres Juliete Schneider e Aírton Ruschel, pelo incansável incentivo para que eu entrasse no Mestrado. Assim como os compadres Lília e Damian, pelo auxílio nas revisões dos textos. Meu muito obrigada à essa “família” que formamos aqui em Florianópolis. Vocês moram no meu coração.

À nossa amiga Cida, que tanto me apoia em diferentes momentos.

Aos meus amados pais, Maria Jurema e João, que SEMPRE deram muito valor aos nossos estudos, vocês são meu porto seguro.

À minha querida irmã Janaína, pela compreensão e incentivo de sempre! Aos meus sogros Noemia e Nestor, por todo o apoio dado!

Aos demais familiares, por todo o carinho de sempre. Agradeço a todos pelas horas viajadas até aqui para nos darem suporte e amparo para que eu pudesse realizar mais esse sonho.

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Ao meu esposo Alfran e ao meu filho Vítor, amores da minha vida! Por vocês e com vocês, sempre! Durante o Mestrado, veio também, a minha princesa Júlia! Obrigada por todo o ensinamento que tens nos trazido - muita paciência, perseverança, e acima de tudo, muito amor! Amo muito vocês!

Só tenho a agradecer, enfim, por tudo que aprendi e pelo que ainda poderei aprender...

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“Se a educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. (FREIRE, 2000)

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RESUMO

A educação inclusiva trouxe profundas alterações na estrutura das escolas regulares, desde a formação dos profissionais envolvidos até no modo como eles se enquadram no ambiente de sala de aula. Além dessas adequações às necessidades especiais dos alunos, os professores de educação especial tendem a ter muitas responsabilidades, o que pode resultar em sobrecarga de trabalho. Essas alterações são muito recentes, mas podem ser analisadas sob a perspectiva da Ergonomia para que se possa contribuir na estruturação desse contexto, ao se considerar as questões cognitivas e organizacionais envolvidas nessa relação escola-professor-aluno especial. O objetivo deste estudo foi identificar os principais riscos psicossociais relacionados à atividade de trabalho dos professores de Educação Especial de uma escola pública de ensino regular, para que se pudesse realizar a proposição de recomendações sob a perspectiva ergonômica para a promoção da melhor saúde ocupacional desses profissionais. Trata-se de uma pesquisa com abordagem mista (quantitativa e qualitativa), do tipo descritiva- exploratória, sendo um levantamento. A coleta de dados da pesquisa foi realizada em dois momentos, por meio do instrumento de avaliação COPENHAGEN PSYCHOSOCIAL QUESTIONNAIRE – COPSOQ, e da realização de entrevistas semiestruturadas com os

professores de Educação Especial. A análise dos riscos psicossociais mostrou os pontos críticos que envolvem exigências cognitivas, exigências emocionais e estresse, assim como os conflitos laborais e apoio de superiores, o que veio corroborar com o que foi identificado nas falas dos professores de educação especial. A verificação dos riscos psicossociais pode contribuir para a identificação de possíveis fontes de estresse, que podem ser pontos gatilho para o desenvolvimento de doenças relacionadas ao trabalho. Assim, evidencia-se a importância da intervenção ergonômica, através de orientações e recomendações que possibilitem melhorias e adaptações nas relações entre os educadores e o seu contexto laboral.

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ABSTRACT

Inclusive education has made profound changes in the structure of regular schools, since the training of the professionals involved until the way they promote this into the classroom environment. In addition to these adjustments to students' special needs, special education teachers have many responsibilities, which can result in work overload. These changes are very recent but can be analyzed from a perspective of Ergonomics, so it can contribute to the structuring of this context, considering the cognitive and organizational issues involved in this special school-teacher- special student relationship. The aim of this study was to identify the main psychosocial risks related to the work activity of the Special Education teachers of a public regular school, allowing an orientation proposal under an ergonomic perspective for proposing the necessary recommendations, consequently to promote a better occupational health for these professionals. It is a research with mixed search (quantitative and qualitative), of the descriptive-exploratory type, being a survey. The research data was performed in two moments, through of the evaluation instrument COPENHAGEN PSYCHOSOCIAL QUESTIONNAIRE - COPSOQ, and a semi-structured interview with teachers of Special Education. The analysis of psychosocial risks showed the critical points involving cognitive

demands, emotional demands and stress, as well as labor conflicts and support from superiors, which corroborated what was present in the speeches of special education teachers.

Verifying psychosocial risks can help identify possible sources of stress that may be trigger points for the development of work-related illnesses. Thus, the importance of an ergonomic intervention is evidenced, through guidelines and recommendations that enable improvements and adaptations in the relations between educators and their work context.

Keywords: Psychosocial Risks 1. Ergonomic Assessment 2. Special Education 3.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Etapas para a escolha dos artigos ... 25

Figura 2 – Classificação Hierárquica Descendente: questão 1 ... 68

Figura 3 – Classificação Hierárquica Descendente: questão 2 ... 69

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Descrição dos estudos ... 25 Quadro 2 – Natureza dos fatores de risco psicossociais ... 34 Quadro 3 – Descrição geral com os principais aspectos citados nas entrevistas ... 71

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Afastamentos de servidores (em números) ... 51 Tabela 2 - Perfil dos participantes quanto ao gênero e idade ... 60 Tabela 3 – Caracterização dos participantes quanto à função exercida ... 61 Tabela 4 - Valores da consistência interna, média e desvios-padrão das dimensões avaliadas ... .62 Tabela 5 - Dimensões avaliadas que apresentaram situação de risco para a saúde dos servidores em geral ... 63 Tabela 6 - Dimensões avaliadas que apresentaram situação de risco para a saúde dos docentes de educação especial ... 64 Tabela 7 - Dimensões avaliadas que apresentaram situação favorável ou intermediária de risco para a saúde dos servidores em geral... 65 Tabela 8 - Dimensões avaliadas que apresentaram situação favorável ou intermediária de risco para a saúde para os docentes de educação especial ... 66 Tabela 9 - Dados obtidos com a análise do software IRAMUTEQ ... 67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CA Colégio de Aplicação

COPSOQ Copenhagen Psychosocial Questionnaire CPVS Coordenação de Promoção e Vigilância em Saúde DAS Departamento de Atenção à Saúde

DSST Divisão de Saúde e Segurança do Trabalho

GMETTA Grupo Multidisciplinar de Ergonomia do Trabalho e Tecnologias Aplicadas

IRAMUTEQ Interface de R pour lês Analyses Multidimensionnelles de Textes et de

Questionnaires

MEC Ministério de Educação e Cultura

NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health OIT Organização Internacional do Trabalho

OMS Organização Mundial da Sáude

OSHA Occupational Safety and Health Administration

PRODEGESP Pró Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas SB Síndrome de Burnout

TDAHTranstorno do déficit de atenção e hiperatividade UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

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LISTA DE SÍMBOLOS

 alpha de Cronbach X2 qui-quadrado

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 15 1.1 JUSTIFICATIVA ... 18 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ... 20 1.3 OBJETIVOS ... 22 1.3.1 Objetivo Geral ... 22 1.3.2 Objetivos Específicos ... 22 1.4 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ... 22 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ... 23 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 24 2.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA... 26

2.1.1 Sistema educacional inclusivo no Brasil ... 26

2.1.2 O papel do educador especial ... 27

2.1.3 Organização do espaço educacional ... 29

2.2 FATORES PSICOSSOCIAIS NO TRABALHO DE PROFESSORES ... 31

2.2.1 Riscos Ocupacionais e riscos psicossociais ... 33

2.2.2 Riscos Psicossociais no trabalho docente ... 37

2.2.2.1 Sobrecarga de Trabalho ... 37

2.2.2.2 Sentimento de auto eficácia do professor ... 37

2.2.2.3 Conflito e ambiguidade de papel ... 38

2.2.2.4 Relação com o aluno e o atendimento às diferentes necessidades... 39

2.2.2.5 Estresse ... 40

2.2.2.6 Síndrome de Burnout ... 42

2.2.2.7 Suporte e apoio dos colegas e pais de alunos ... 43

2.2.3 Aspectos ergonômicos que podem ser considerados na atividade docente .... 45

3 METODOLOGIA ... 49

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3.1.1 Instituição de pesquisa ... 49

3.1.2 Contexto escolar ... 51

3.1.3 Instrumento e técnica de coleta de dados ... 52

3.1.3.1 Escolha dos procedimentos ... 52

3.1.3.2 Instrumento de pesquisa e técnica de coleta de dados ... 54

3.1.4 Procedimentos ... 56

3.1.4.1 Aplicação do questionário ... 56

3.1.4.2 Realização das entrevistas ... 57

3.1.4.3 Participantes do preenchimento do instrumento ... 58

3.1.4.4 Participantes das entrevistas ... 58

3.1.4.5 Procedimentos estatísticos ... 58

4 RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES ... 60

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES ... 60

4.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO - ENTREVISTAS ... 67

4.3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 71

4.4 PROPOSIÇÕES - LITERATURA ... 82

4.5 RECOMENDAÇÕES PROPOSTAS ... 87

5 CONCLUSÃO ... 89

REFERÊNCIAS ... 90

ANEXO A – Questionário COPSOQ de avaliação de riscos psicossociais ... 97

APÊNDICE B – Análise do software IRAMUTEQ para a primeira questão das entrevistas...105

APÊNDICE C - Análise do software IRAMUTEQ para a segunda questão das entrevistas. ... 106

APÊNDICE D - Análise do software IRAMUTEQ para a terceira questão das entrevistas. ... 107

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1 INTRODUÇÃO

A ergonomia é uma ciência ou um conjunto de ciências que possui uma diretriz ética e técnica fundamental: adaptar o trabalho ao ser humano (RIO; PIRES, 2001). Possui caráter interdisciplinar, ao amparar-se por diversas áreas do conhecimento humano; assim como um caráter aplicado, que se evidencia pela adaptação do posto de trabalho e do ambiente de acordo com as características e necessidades do trabalhador. O foco da Ergonomia está no homem, desde o projeto de trabalho quanto nas situações cotidianas - as condições de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência podem ser eliminadas quando adequadas às capacidades e limitações físicas e/ou psicológicas do homem. (WEERDMEESTER; DUL, 1995).

O trabalho tem sido descrito como importante fator de adoecimento, de desencadeamento e de crescimento de distúrbios psíquicos (BRASIL, 2001). Segundo a OIT (2011), as profundas transformações que aconteceram no mundo do trabalho nas últimas décadas resultaram em riscos emergentes no campo da segurança e saúde ocupacional e levaram para além de riscos físicos, químicos e biológicos ao surgimento de riscos psicossociais. Estes têm sido identificados como um dos grandes desafios contemporâneos para a saúde e segurança e estão ligados a problemas nos locais de trabalho, tais como o estresse, violência, assédio e intimidação no trabalho.

Pesquisas sugerem que as pessoas podem sofrer de angústia em praticamente todos os aspectos de suas vidas, desde o local de trabalho até a família e a sociedade, o que pode afetar diretamente o sistema imunológico, desencadeando diferentes condições médicas. Nas aflições relacionadas ao trabalho, os trabalhadores expostos mais frequentemente a este tipo de angústia precisam de tempo extra fora do trabalho por condições médicas, o que pode trazer um aumento nas despesas de saúde. Além dessas despesas, o sofrimento relacionado ao trabalho pode levar a várias despesas secundárias para as organizações devido ao absenteísmo e mau desempenho, diminuição da produtividade, além de transtornos de ansiedade e de humor (UGWOKE et al., 2018).

Ensinar é uma prática multifacetada, e esta profissão torna-se mais desafiadora quando um professor está lidando com alunos com necessidades diversas. Sendo assim, considera-se que, além de forte base na pedagogia, muitas vezes as características dos professores de educação especial também desempenham um papel importante na educação de alunos com deficiência (SHAUKAT, 2019). A educação especial é uma disciplina que perpassa todos os

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níveis, etapas e modalidades, ao realizar o atendimento educacional especializado, ao oferecer os recursos e serviços e servindo como orientação quanto à sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns de ensino regular (BRASIL, 2008).

Segundo uma pesquisa americana, os professores de educação especial têm um dos mais desafiadores e estressantes trabalhos da educação pública. Em comparação com professores de educação geral, os docentes de educação especial experimentam mais estressores devido à alta demanda de desafios acadêmicos dos alunos, além comportamentos desafiadores dos alunos e as crescentes responsabilidades nas escolas (aumento do número de alunos especiais, maior responsabilização e documentação). Alguns professores podem prosperar com seus papeis sob as pressões do trabalho, mas muitos estão em risco de burnout (GARWOOD et al., 2018).

Faz parte da função do docente de Ensino Especial lidar diariamente com alunos difíceis, conseguindo pequenos sucessos, que, ademais, quando ocorrem, usualmente são pouco percebidos e reconhecidos. Os professores enfrentam no seu cotidiano uma prática que não se associa aos resultados escolares concretos obtidos, o que os leva a desenvolver um conjunto cognitivo negativo e a percepção de que são inaptos para lidar com a demanda de aprendizagem. Sendo assim, alguns optam por aposentar-se e outros diminuem a interação e o investimento no trabalho. Pesquisas desenvolvidas com o objetivo de comparar Burnout em professores do Ensino Especial e do ensino regular têm identificado maiores níveis de

Burnout no Ensino Especial (BRAUN; CARLOTTO, 2014).

A frustração de um professor com o trabalho é comum e até mesmo uma emoção esperada; entretanto, quando esses sentimentos negativos começam a habitar dentro dos professores, a exaustão ultrapassa a energia, e a eficácia é diminuída. Aproximadamente 13% dos professores de educação especial deixam a força de trabalho a cada ano, produzindo impacto negativo sobre os alunos com deficiência, pois há um comprometimento do ensino com a alta rotatividade de professores. Em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos com mais de 200 professores de educação, 42% dos professores relataram planos de deixar educação especial nos próximos 5 anos e aproximadamente um terço deles citou o burnout como a razão (GARWOOD, 2018).

Na Alemanha, estudos mostram que apenas 65% dos professores alemães atingem a idade legal de aposentadoria antes de se aposentarem, enquanto a maioria dos professores se aposentam precocemente devido a doença psiquiátrica. Ou seja, a instabilidade psiquiátrica tem sido responsável pela aposentadoria antecipada de uma parte significativa de professores.

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Este cenário piorou desde a ratificação pela Alemanha da convenção da ONU sobre o Direitos das Pessoas com Deficiência em 2009, o que embora esteja promovendo uma transformação no sistema educacional da Alemanha, também está se tornando responsável por criar ambiente estressante para os professores (PÜLSCHEN; PÜLSCHEN, 2015).

O constante desafio que caracteriza a prática educacional dos portadores de deficiência ocorre, em parte, pelo fato desta população possuir limitações que podem afetar a sua integridade e trazer prejuízos à locomoção, à coordenação de movimentos, à fala, à compreensão de informações, à orientação espacial ou à percepção e ao contato com as demais pessoas. Destas, as deficiências físicas, mentais, visuais e auditivas são as que demandam novos reposicionamentos, procurando reconstruir e melhorar as práticas pedagógicas oferecidas e, principalmente, a reconstrução dos referenciais educativos dos próprios professores. Esses alunos precisam assim da construção de programas adequados de intervenções, de acordo com as suas necessidades (CARLOTTO et al., 2012).

Os fatores psicossociais são sensações psicológicas ou experiências que se relacionam com o status físico e social do indivíduo. Podem consistir, por exemplo, em sobrecarga, sentimento de tensão, ajuda social, baixo controle do trabalho, realização de trabalho e trabalho repetitivo, os quais podem também ser relacionados aos distúrbios musculoesqueléticos entre professores. Os fatores psicossociais que ocorrem no trabalho podem ter efeito sobre o bem-estar e a saúde dos empregados, tanto o nível psicológico e físico (NG et al., 2019). Podem gerar um desequilíbrio individual e organizacional, que a longo prazo, associada à ausência de estratégias de controle, prevenção e ação, poderá pôr em risco a saúde dos trabalhadores (CHAGAS, 2015). As principais consequências destes riscos são a fadiga, o risco de ocorrência de mais acidentes e o estresse relacionado com o trabalho (OSHA, 2014).

Para a realização do Ensino Especial, métodos, técnicas, currículo, recursos educativos e organização diferenciada devem ser aplicados em sala de aula para atender às necessidades específicas destes alunos (MEC, 2001). Todo este envolvimento possui algumas peculiaridades, como aprendizado heterogêneo dos alunos e necessidade de atender demandas diferenciadas em sala de aula, que são fatores de estresse, além de aspectos que demandam alta carga de emocional para o desenvolvimento do trabalho. Além do lugar ocupado pelo professor no Ensino Especial, muitas vezes ele exerce também a função de cuidador, o que exige responsabilidade dobrada e atenção constante, resultando num intenso envolvimento do professor com seus alunos (BRAUN; CARLOTTO, 2014).

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A educação inclusiva promoveu profundas alterações na estrutura das escolas regulares, desde a formação dos profissionais envolvidos até no modo como eles se enquadram no ambiente de sala de aula. Essas mudanças são muito recentes, mas podem ser analisadas sob a perspectiva da Ergonomia para que se possa contribuir na estruturação desse contexto, levando em consideração as questões cognitivas e organizacionais envolvidas nessa relação escola-professor-aluno especial.

1.1 JUSTIFICATIVA

Nos últimos anos a política de educação especial no Brasil passou por mudanças e ganhou contornos que merecem ser analisados por conta de suas alterações conceituais e estruturais (GARCIA, 2013). O propósito da inclusão escolar exige ações práticas e viáveis, que tenham como fundamento uma política específica, de abrangência nacional, direcionada para a inclusão dos serviços de educação especial na educação regular. Tornar operacional a inclusão escolar - de maneira que todos os alunos, seja qual for a classe, raça, gênero, sexo, características individuais ou necessidades educacionais especiais, possam aprender juntos em uma escola de qualidade – é o grande desafio a ser superado, numa clara demonstração de respeito à diferença e compromisso com a promoção dos direitos humanos (BRASIL, 2001).

O trabalho do professor de Educação Especial ainda é pouco pesquisado, especialmente enquanto ofício, atividade humana ligada às possibilidades e às condições materiais de existência. Desse modo, na ocorrência dessas mudanças é fundamental que se avalie as condições em que o trabalho de Educação Especial é executado nas escolas regulares de ensino (PADILHA, 2012).

Há estressores comuns no trabalho de docentes em geral e outros específicos, no caso de professores de educação especial, tendo em conta a especificidade de suas tarefas (CARLOTTO et al., 2012). De acordo com Weber et al. (2015), diferentes autores apontam a carência de estudos sobre o estresse ocupacional entre docentes, sugerindo a importância da realização destas pesquisas sobre o tema por sua estreita relação com a saúde do profissional da educação e com a qualidade do processo de ensino e aprendizagem.

Segundo Kiel et al. (2016), há estudos comparativos internacionais que evidenciam níveis mais altos de estresse em professores de Educação Especial do que em professores de educação geral. Os docentes da Educação Especial apresentavam um risco de 1,3 vezes maior

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de sofrimento e transtornos mentais quando comparados aos professores de educação geral. Os educadores especiais reclamam sobre conflitos de papeis, interações interpessoais difíceis, alta carga de trabalho e imensa responsabilidade pelas necessidades das crianças com deficiência - que são fatores indutores de estresse. Um dos principais fatores que desencadeiam o estresse é o mau comportamento dos alunos desafiadores, que pode ser manifestado em alunos com Transtorno do Espectro do Autismo, distúrbios emocionais e dificuldades comportamentais. Os professores que dão aulas para esses alunos estão especialmente em alto risco de desenvolver burnout.

De acordo com Cancio (2018), em um estudo realizado com professores iniciantes, a capacidade de gerenciamento da carga de trabalho influenciou as intenções de carreira dos professores e previu exaustão emocional, indicando uma relação entre o compromisso de trabalho e estresse. Além disso, sugeriu que a excessiva carga de trabalho pode reduzir o nível de energia de novos professores, podendo diminuir o envolvimento destes em responsabilidades, deixando-os exaustos e menos comprometidos com a profissão. O estudo de Boe et al., 1997 (apud KIEL, 2016), mostrou que a rotatividade escolar é de até 20% para os professores de Educação Especial em comparação com 12% para professores de educação geral. Professores principiantes sem experiência, em particular, têm maior risco de abandonar a profissão, principalmente durante os primeiros três anos de trabalho.

Situações agressivas ou de risco no ambiente de trabalho, poderão levar a um trabalhador a se afastar do seu local de trabalho devido a acidentes, doenças ocupacionais ou ao absenteísmo planejado, trazendo prejuízos para as empresas, para o governo e para os trabalhadores (ABRANTES, 2004). Quando educadores especiais estão sobrecarregados com os estressores que enfrentam, eles podem optar por deixar o campo de atuação, o que pode ser entendido como uma forma de evitar a sobrecarga. Atualmente, os pesquisadores estão interessados na avaliação das maneiras como os educadores especiais se envolvem em atividades ativas e o modo como enfrentam as dificuldades, enquanto eles estão na profissão (CANCIO et al., 2018).

A seleção de um método para lidar com o estresse depende do fato de uma situação ser considerada estressante. Assim, é importante identificar os fatores que contribuem para o estresse. Ensinar é uma profissão ligada a altos níveis de estresse. Um número crescente de estudos aponta para os níveis de estresse na força de trabalho da escola, trazendo como possíveis desencadeantes a alta carga de trabalho, ruído, barreiras de comunicação com alunos, pais, outros professores ou o diretor. Perfis de trabalho vagos ou aversivos,

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abrangentes e tarefas altamente complexas, assim como conflitos de funções também caracterizam situações estressantes (PÜLSCHEN; PÜLSCHEN, 2015).

A percepção dos professores sobre o cumprimento da satisfação profissional, do dia-a-dia, é altamente correlacionada com o seu desempenho no trabalho. Desse modo, a satisfação profissional torna-se um "elemento decisivo", pois influencia as atitudes e o desempenho dos professores. Os docentes podem obter satisfação no trabalho enquanto realizam atividades diárias de ensino, ao trabalhar com os alunos, monitorar o progresso da aprendizagem destes, assim como ao atuar com colegas compassivos e num clima escolar inclusivos (SHAUKAT et al., 2019).

Sendo assim, chega-se ao seguinte problema de pesquisa: “Quais são os riscos

psicossociais envolvidos na atividade de professores de Educação Especial em uma escola regular de ensino?”

1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A natureza do ensino de educação especial exige pleno uso de habilidades e recursos especializados para atender a diferentes níveis de habilidades e atender necessidades socioemocionais e de aprendizagem por parte dos estudantes (STASIO et al., 2017).

Muitas vezes os professores de educação especial enfrentam situações mais desafiadoras do que os professores em geral. São muitos os desafios e diferentes expectativas, sendo as demandas complexas e os fatores indutores de estresse muito presentes nessa ocupação, pois os alunos com necessidades especiais frequentemente exigem apoio constante. Os docentes de educação especial tendem a experimentar variados comportamentos desafiadores dos alunos, os quais podem ser mais ativos ou mais facilmente distraídos do que outros estudantes, exigindo uma maior atenção para alcançar objetivos educacionais e muitas vezes, expressando uma conduta agressiva ou hostil. Além disso, os professores de educação especial encontram muitos paradoxos e contradições no seu cotidiano, pois experimentar o fracasso e atuar como uma tentativa sem garantia de sucesso são características presentes na sua realidade ocupacional. Dessa forma, seu sentimento de incerteza na ação educacional e interação é particularmente reforçado, resultando em alto estresse que podem levar a diferentes consequências. Cerca de dois em cada três professores que largam a profissão declaram como principais motivos o excesso de documentação a ser preenchido, falta de

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apoio administrativo, falta de suprimentos, muitos alunos e escassa colaboração com colegas. Somando-se a esses motivos, a pressão dos pais pode ser significativamente intensa, devido aos estados emocionais complexos e confusos que eles também passam ao lidar com a saúde física e emocional de seus filhos, muitas vezes tendo expectativas irreais ou, ao contrário, subestimando os bons resultados de seus filhos na escola (LANGHER et al., 2017).

Além dessas adequações às necessidades especiais dos alunos, os professores de educação especial tendem a ter muitas responsabilidades, o que pode resultar em sobrecarga de trabalho. Por exemplo, muitos docentes de educação especial têm que realizar instrução de conteúdo, ensinar habilidades sociais e/ou vocacionais, avaliar alunos, ensinar em contextos inclusivos, promover consultoria para professores de educação geral e também para os pais, gerenciar comportamentos desafiadores de alunos, assim como fazer adaptações e modificações para testes padronizados (GARWOOD, 2018).

Os principais fatores de risco para professores são lidar com dificuldades de aprendizagem e comportamento agressivo por parte de seus alunos, conflitos entre colegas, relações problemáticas com os pais, pressões de tempo e turmas grandes. Professores que estejam com altos níveis de burnout, apresentam menos simpatia pelos seus alunos, são menos tolerantes à perturbação na sala de aula, assim como mais suscetíveis a ter problemas de saúde, bem-estar e comprometimento com o trabalho (STASIO et al., 2017).

Os estudos mais recentes enfocam nas novas exigências colocadas para o trabalho docente em função das mudanças que vêm ocorrendo na economia, na sociedade e no Estado. Entretanto, os fatores ligados às enfermidades profissionais geradas pelas condições de trabalho estão sendo mascarados como doenças comuns, o que contribui para que o ônus recaia sobre o próprio professor (PADILHA, 2012).

Sendo assim, frente a todas às exigências que a atividade do professor de educação especial impõe, torna-se muito relevante identificar os fatores de risco psicossociais presentes em seu contexto de trabalho, para que, ao abordar um tema de grande importância para a sociedade contemporânea, permita-se a reflexão sobre a forma em que a educação inclusiva está sendo alicerçada.

A partir disso, elaborou-se a seguinte hipótese de pesquisa:

Os riscos psicossociais relacionados à atividade de professores de educação especial de uma escola pública de ensino regular estão correlacionados à organização da atividade.

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1.3 OBJETIVOS

A seguir estão descritos o objetivo geral e os objetivos específicos desta pesquisa.

1.3.1 Objetivo Geral

Identificar os principais riscos psicossociais relacionados à atividade de trabalho dos professores de Educação Especial de uma escola pública de ensino regular de Santa Catarina.

1.3.2 Objetivos Específicos

- Caracterizar o contexto de trabalho dos professores de Educação Especial;

- Caracterizar os riscos psicossociais no trabalho de professores de Educação Especial; - Identificar os principais aspectos ergonômicos no trabalho dos docentes de Educação Especial relacionados aos riscos psicossociais encontrados;

- Propor recomendações que possam contribuir na melhoria das condições de trabalho.

1.4 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Considerando o número total de professores da instituição analisada, que possuía no momento da coleta de dados 119 docentes, sendo que destes 14 eram professores de educação especial, o número de participantes foi considerável para a pesquisa, o correspondente a 92,86%. Uma das limitações que pode ser destacada no estudo foi a impossibilidade de identificação de diferenças no atendimento dos tipos específicos de deficiência dos alunos (como por exemplo, Transtorno do Espectro Autista, Síndrome de Down, Paralisia Cerebral), para determinar se esses docentes apresentam diferentes níveis de estresse ou estratégias de enfrentamento para as variadas situações encontradas na atividade profissional, tendo em vista que esta divisão não é permanente, já que os professores atendem diferentes alunos a cada ano.

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Cabe ressaltar ainda, que o estudo foi realizado apenas em uma instituição de ensino, delimitada ao ensino público, conforme projeto político pedagógico específico do colégio analisado, o que retrata especificamente a atividade destes professores de educação especial, não podendo ser generalizado para as demais disciplinas e outras instituições de ensino.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

Visando responder ao problema de pesquisa e atingir os objetivos propostos pelo estudo, esta dissertação foi organizada em cinco capítulos:

Capítulo 1: Apresenta uma introdução ao tema de pesquisa, para contextualizar e justificar a realização desta, assim como sua relevância, e expõe os objetivos do trabalho.

Capítulo 2: Traz o Referencial Teórico sobre a Educação Inclusiva e aspectos relacionados à atividade dos professores de Educação Especial. Nesta parte descreve-se também os fatores psicossociais no trabalho de professores, assim como os aspectos ergonômicos que podem ser considerados na profissão docente.

Capítulo 3: Caracteriza a metodologia adotada para a realização desta pesquisa, descrevendo os procedimentos, instrumento e técnica de coleta de dados.

Capítulo 4: Apresenta os resultados encontrados, onde considera-se as referências bibliográficas para a discussão destes, assim como as proposições existentes. Com base nestas, faz a apresentação das recomendações propostas nesta pesquisa.

Capítulo 5: Coloca os principais achados da pesquisa, avalia o atendimento aos objetivos propostos e faz considerações acerca do tema explorado.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta parte, faz-se uma descrição mais detalhada do caminho percorrido para a elaboração deste estudo. Inicialmente buscou-se fazer um delineamento de pesquisa e da atividade docente pesquisada, para levantar dados que justificassem sua escolha, assim como a verificação dos instrumentos que seriam aplicados. Na sequência, tem-se um detalhamento da metodologia empregada, entre amostra, procedimentos e aplicação dos instrumentos. Segue-se com a apresentação dos resultados, discutidos posteriormente a este tópico. Como toda pesquisa, foram evidenciadas algumas limitações presentes neste estudo. Por fim, faz-se algumas recomendações e considerações através da conclusão.

Para este referencial teórico foi realizada uma revisão sistemática de artigos que abordassem a atividade dos professores de Educação Especial, buscando estudos com uso de medidas quantitativas; amostras com professores de Educação Especial trabalhando em escola pública ou privada; pesquisas envolvendo professores de educação geral e de Educação Especial; apresentação de dados e discussão de resultados de modo claro e que possibilitassem interpretação.

A revisão sistemática dos artigos foi desenvolvida com uma busca exploratória em três bases de dados: Scopus, EBSCOhost (MEDLINE) e Web of Science. Inicialmente realizou-se a pesquisa com as palavras-chave no idioma inglês: “psychosocial risks” AND “special

education teachers” – onde obteve-se apenas 1 artigo. Procurou-se então pelas palavras:

“hazard risks” AND “special education teachers” – sem nenhum resultado.

Sendo o estresse um dos fatores de risco psicossocial presente nos ambientes de trabalho contemporâneos, pesquisou-se então os termos “stress” e “special education

teachers”. Os resultados encontrados passaram por um filtro onde selecionou-se apenas os

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Figura 1- Etapas para a escolha dos artigos

FONTE: A autora

Com base nos estudos encontrados, elaborou-se o quadro 1, onde foram agrupados os artigos conforme os temas abordados em relação aos professores de educação especial.

Quadro 1 - Descrição dos estudos

ABORDAGENS DOS ESTUDOS AUTORES E ANO

Intervenções realizadas para o estresse em professores de Educação Especial

Ugwoke et al. (2018); Donahoo et al. (2017); Onuigbo et al. (2018); Harrison (2016)

Empatia e Estresse Plastidou e Agaliotis (2016)

Percepção de estresse e estratégias de enfrentamento Ji Eun et al. (2018); Hopman et al. (2018); Kebbi e Al-Hroub (2018); Cancio et al. (2018); Kiel et al. (2016); Pülschen e Pülschen (2015)

Saúde dos professores em ambientes inclusivos Hadon et aç. (2018); Hedderich (2015) Papel dos estressores e comportamento dos

educadores na Síndrome de Burnout

Garwood et al. (2017); Stasio et al. (2017); Langher et al. (2017); Carlotto e Braun (2014); Brunsting et al. (2014)

Agressões físicas contra os professores Tiesman et al. (2014)

Características individuais e satisfação no trabalho Shaukat et al. (2018); Kim e Lim (2016) FONTE: A autora

Busca com palavras-chave nas bases de dados SCOPUS: 57 estudos

MEDLINE: 12 estudos WEB OF SCIENCE: 47 estudos

Filtro para estudos que fossem artigos

Eliminação de artigos com conteúdo textual não compatível Eliminação de artigos com publicação anterior a 2014 Verificação de artigos disponíveis em mais de uma base

Elaboração do estudo com base nos artigos disponíveis encontrados  36 estudos

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Assim como a análise destes estudos, procurou-se referências em artigos acerca dos fatores e riscos psicossociais que podem estar presentes nos ambientes de trabalho, especialmente na atividade docente. Com isso, fez-se a elaboração dos tópicos aqui descritos.

2.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA

2.1.1 Sistema educacional inclusivo no Brasil

O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, que ocorre em defesa do direito de todos os estudantes estarem juntos, para aprender e participar, sem nenhum tipo de discriminação (BRASIL, 2008). Nos últimos anos, “Inclusão social” e “educação inclusiva” são expressões que cresceram e se tornaram recorrentes no discurso de diferentes correntes político-ideológicas e nas discussões desenvolvidas no campo teórico (GARCIA, 2004). O professor de educação especial enfrenta hoje um processo de mudança paradigmática. Assim, tem como desafio atuar ativamente no processo de transformação do modelo de ensino tradicional, baseado no modelo médico-psicológico, para uma “nova abordagem” (BRASIL, 2001).

Com a Declaração de Salamanca (1994), assinada por 88 governos e 25 organizações, muitos países começaram a implantar políticas de inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular, por considerar ser esta a forma mais democrática de proporcionar oportunidades educacionais para estes alunos. Para tanto, é necessário que se pense a aprendizagem de forma coletiva e diferenciada de modelo de escola existente. A abordagem histórico-cultural da aprendizagem e do desenvolvimento mostra a heterogeneidade como característica de qualquer grupo humano e fator essencial para as interações em sala de aula. A diversidade de experiências, trajetórias pessoais, contextos familiares, valores e níveis de conhecimento de cada membro do grupo viabilizam, no cotidiano escolar, a possibilidade de trocas, confronto, ajuda mútua e consequente ampliação das capacidades individuais e coletivas (SANTA CATARINA d, 2019).

O professor de educação especial enfrenta hoje um processo de mudança paradigmática. Assim, tem como desafio atuar ativamente no processo de transformação do modelo de ensino tradicional, baseado no modelo médico-psicológico, para uma “nova abordagem” (BRASIL, 2001).

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A atual legislação educacional brasileira prevê as adequações necessárias nos sistemas de ensino para que a inclusão seja implementada efetivamente. Assim, a LDBEN (Lei n° 9394/96) e o Decreto nº 3298/99 (que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), a Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001 (que institui diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica), no seu art. 3°, diz que “Por educação especial, modalidade da educação escolar, entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica”. Sendo assim, a educação especial está legalmente inserida na educação infantil, educação fundamental e ensino médio. O Relatório do Parecer nº 17/2001 do Conselho Nacional de Educação deixa claro que a política de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, na rede regular de ensino não se resume à permanência física desses alunos junto aos demais, mas representa a ousadia de rever concepções e paradigmas que possibilitem desenvolver o potencial dessas pessoas, respeitando-se as diferenças e as diferentes necessidades. Portanto, não é o aluno que se molda à escola, mas é ela que, consciente da sua função, coloca-se à disposição do aluno, tornando-se um espaço inclusivo. Desse modo, a educação especial é concebida para possibilitar que o aluno com necessidades educacionais especiais alcance os objetivos da educação geral (SANTA CATARINA d, 2019).

2.1.2 O papel do educador especial

A inclusão de alunos com deficiência em classes comuns, exige que a escola regular se organize de forma a oferecer possibilidades objetivas de aprendizagem, a todos os alunos, principalmente aos que possuem necessidades educacionais especiais (BRASIL, 2001).

A educação tem hoje, assim, um enorme desafio: garantir o acesso aos conteúdos básicos que a escolarização deve proporcionar a todos os indivíduos (até mesmo àqueles com necessidades educacionais especiais, tais como alunos que possuem altas habilidades, precocidade, superdotação; condutas típicas de síndromes/quadros psicológicos, neurológicos

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ou psiquiátricos; portadores de deficiências, isto é, alunos que possuem significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, advindos de fatores genéticos, inatos ou ambientais – de caráter temporário ou permanente) e que, em interação dinâmica com questões socioambientais, resultam em necessidades muitos diferentes da maioria das pessoas (BRASIL, 2001).

O professor do Ensino Especial pode se identificar mais com o papel de educador. Uma motivação fundamental das pessoas que trabalham em profissões de ajuda é o desejo pessoal de cuidar dos demais. Os professores de educação especial possuem senso de idealismo e creem na sua capacidade de trabalhar arduamente na busca da realização de seus objetivos (BRAUN; CARLOTTO, 2014).

O trabalho do educador especial é difícil, exigente e mais estressante do que o dos educadores gerais. Educadores especiais enfrentam um número crescente ou grande de casos, falta de clareza nos seus papeis, falta de apoio administrativo, excesso de papelada, sentimentos de isolamento e solidão, assim como mínima colaboração dos colegas (CANCIO et al., 2018).

Ensinar os alunos com deficiências é mais exigente comparado aos alunos sem deficiências, pois eles tendem a buscar mais atenção. Os docentes da educação especial costumam avaliar necessidades e pontos fortes dos alunos antes de projetar as tarefas para ensiná-los habilidades básicas, como conhecimento e comunicação interpessoal. Professores profissionalmente comprometidos mostram mais disposição para fazer esforços extras para garantir que os alunos tenham sucesso. A auto eficácia do professor é um dos indicadores do grau de determinação do professor, compromisso e satisfação no trabalho (SHAUKAT et al., 2019).

O docente de educação especial passa por uma “angústia”, ao ter que realizar o “avanço contínuo do saber”, não sendo apenas uma atualização contínua, mas a renúncia dos conteúdos e das práticas de um saber que vinha sendo praticado há anos, baseada numa perspectiva mais construtivista, embora distante, das práticas educativas convencionais (CARLOTTO et al., 2012).

O sistema e as demandas educacionais estão em constantes mudanças, sendo necessária uma boa habilidade relacional do professor. Se a adaptação às transformações ocorre de modo mais lento em relação à velocidade em que elas ocorrem, surgem situações conflituosas e de desequilíbrio que podem favorecer o surgimento do estresse (WEBER et al., 2015).

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2.1.3 Organização do espaço educacional

A educação especial insere-se nos diferentes níveis da educação escolar: Educação Básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e Ensino Superior, assim como na interação com as outras modalidades da educação escolar, como a educação de jovens e adultos, a educação profissional e a educação indígena (BRASIL, 2001).

A política de educação inclusiva também deve focar na discussão da função social da escola. É no projeto pedagógico que a escola demonstra seu compromisso com uma educação de qualidade para todos os seus alunos. Desse modo, a escola deve assumir a função de mediar ações que favoreçam determinados tipos de interações sociais, estabelecendo, em seu currículo, uma opção por práticas heterogêneas e inclusivas. De acordo com o artigo 13 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seus incisos I e II, salienta-se a importância do papel do professor no processo de construção coletiva do projeto pedagógico. Sendo assim, não é o aluno que se amolda ou se adapta à escola, mas é ela que, sabendo de sua função, posiciona-se à disposição do aluno, tornando-se assim um espaço inclusivo (BRASIL, 2001).

Professores especializados em educação especial são aqueles que desenvolveram competências para identificar as necessidades educacionais especiais, assim como definir e implementar respostas educativas para essas necessidades; apoiar o professor da classe comum; atuar nos processos de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos – promovendo estratégias de flexibilização, adaptação curricular e práticas pedagógicas alternativas. Para tanto devem possuir: (a) formação em cursos de licenciatura em educação especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de modo concomitante e associado à licenciatura para educação infantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental; e (b) estudos complementares ou pós-graduação em áreas específicas da educação especial, posterior à licenciatura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação nos anos finais da educação fundamental e no ensino médio (BRASIL, 2001).

Para que seja possível responder aos desafios da educação inclusiva, é preciso que os sistemas de ensino constituam e façam funcionar um setor responsável pela educação especial, que possua recursos humanos, materiais e financeiros que viabilizem e atuem como base no processo de construção da educação inclusiva (BRASIL, 2001).

Relatórios de altos níveis de estresse para professores de educação especial que ensinam alunos com necessidades especiais dentro das configurações da sala de aula convencional são comuns. Os resultados de um estudo realizado em 2003 mostram que o

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grande número de alunos com dificuldades de aprendizagem sendo integrados em classes traz desafios adicionais e enfatiza também para os professores de educação geral. Esses professores terão cargas de trabalho aumentadas porque eles são obrigados a modificar cada avaliação, dependendo das necessidades especiais individuais de todo estudante. Os professores muitas vezes precisam reexplicar um conceito usando diferentes estratégias de ensino para que estudantes com diferentes necessidades possa entender. Para cada termo, os professores precisam rever o Plano Educacional de cada aluno com necessidades educacionais especiais e avaliá-lo dependendo seu sucesso comportamental e acadêmico passado. Esses fatores de estresse também precisam ser considerados. As conclusões de um outro estudo feito em 2010 mostram que a baixa satisfação no trabalho de professores de educação especial que pode surgir em algum momento de sua carreira é passível de prevenção, se estão lidando com o estresse. Desse modo, os professores de educação especial e os professores gerais encontram-se sob tremendo estresse ao responder a alunos com necessidades especiais e usar o currículo prescrito pelo governo (KEBBI, 2018).

Segundo Shaukat et al. (2019), estudos realizados sugerem que a carga de trabalho docente substancial e as atitudes dos alunos contribuem para o estresse no trabalho, o que pode resultar em estados de saúde indesejáveis, nível inferior de auto eficácia, exaustão emocional, menos realização pessoal e níveis mais baixos de satisfação no trabalho.

Além de ministrar as aulas, o professor ainda tem que fazer, ao mesmo tempo, os trabalhos administrativos, planejar as suas atividades letivas, reciclar-se, orientar os alunos e prestar atendimento aos pais. Também tem que organizar atividades extraescolares, participar em reuniões de coordenação, seminários, conselhos de classe, preenchimento de relatórios individuais referentes às dificuldades de aprendizagem de alunos, assim como também, cuidar do patrimônio, material, recreios e locais de refeições (CARLOTTO et al., 2012).

De acordo com Garwood et al. (2018), dois tipos de estressores são particularmente prejudiciais para o bem-estar dos professores: conflito de papeis e ambiguidade de papel. Há conflito de papeis quando as responsabilidades dos professores incluem demandas concorrentes, de modo que não se consegue cumprir todos os seus deveres; a ambiguidade de papel ocorre quando descrições de cargo ou responsabilidades dos professores não são bem delineados, gerando insegurança nos professores em relação ao seu papel na escola.

Langher et al. (2017) citam diversos estudos que afirmam que o apoio dos professores de educação geral de uma escola é elemento-chave para que os professores de educação especial se sintam como parte do ambiente escolar e experimentem maior realização pessoal,

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aceitação e participação. E mostram também que, sem apoio, muitos professores de educação especial tendem a sentir-se isolados e solitários, o que pode contribuir para serem afetados por níveis mais elevados de burnout. Mostrou-se, também, que os professores de educação especial são mais positivos quanto à inclusão quando recebem apoio de alta qualidade. Ainda de acordo com uma revisão realizada por Brunsting et al. (2014), mais do que o alto risco de

burnout em professores de educação especial, evidenciou-se que os profissionais que

trabalhavam com alunos com distúrbio emocional experimentavam esgotamento em proporções às crises apresentadas pelos alunos em sala de aula.

2.2 FATORES PSICOSSOCIAIS NO TRABALHO DE PROFESSORES

O ambiente psicossocial do trabalho geralmente é considerado uma das questões mais importantes dos ambientes de trabalho nas sociedades atuais e futuras (KRISTENSEN et al., p. 438, 2005). Engloba a cultura organizacional, assim como atitudes, valores, crenças e práticas cotidianas da empresa que podem interferir no bem-estar mental e físico dos trabalhadores. Fatores que podem causar estresse emocional ou mental geralmente são denominados como “estressores” do local de trabalho (OMS, 2010).

O modo como estes fatores estão associados com a concepção, organização e gestão do ambiente de trabalho, considerando também o seu contexto econômico e social, contribuem de maneira significativa para a perda de qualidade de vida, gerando sofrimento e incapacidade, aumentam o risco de exclusão social e a mortalidade – sendo uma das grandes ameaças contemporâneas para a saúde dos trabalhadores (CHAGAS, 2015).

Fatores do trabalho que podem gerar ou desencadear distúrbios psíquicos: condições de trabalho (características físicas, químicas e biológicas, vinculadas à execução do trabalho) e organização do trabalho (estruturação hierárquica, divisão de tarefa, jornada, ritmo, divisão em turnos, intensidade, monotonia, repetitividade, responsabilidade excessiva, entre outros). Na suspeita de distúrbio psíquico relacionado ao trabalho, o trabalhador deverá ser encaminhado para atendimento especializado em saúde do trabalhador e para assistência médico-psicológica (BRASIL, 2001).

A importância a respeito dos fatores de riscos psicossociais vem de estudos feitos em locais de trabalho em diferentes países. Na Europa, onde os números regionais estão disponíveis, tem-se o estresse / tensão como segundo problema de saúde relacionado ao

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trabalho mais frequente (CHIRICO, 2019). O aumento do número de casos e dos custos decorrentes dos transtornos mentais na população ativa são as principais preocupações em países industrializados, sendo que o risco de transtornos mentais é particularmente alto entre profissões de serviços humanos, tais como assistentes sociais, psicólogos e professores. Estressores relacionados ao trabalho, especialmente o estresse no trabalho, estão relacionados com maior risco de transtornos mentais (RANTONEM et al., 2017).

Os trabalhadores sentem estresse quando as exigências do seu trabalho são excessivas, estando acima de sua capacidade de lhes fazer face. Além de problemas de saúde mental, os trabalhadores afetados por estresse prolongado podem acabar por desenvolver graves problemas de saúde física, como doenças cardiovasculares ou lesões musculoesqueléticas (OSHA, 2020).

Ainda existem muitos mal-entendidos acerca do tema dos riscos psicossociais nos ambientes laborais, e continua a haver um estigma relacionado com a saúde mental. Os fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho dizem respeito a aspectos da organização e gestão do trabalho que em interação com os seus contextos sociais e ambientais, possuem potencial para causar dano físico, psicológico ou social (CHAGAS, 2015).

É importante não confundir riscos psicossociais, tais como a carga de trabalho excessiva, com as solicitações profissionais de um ambiente de trabalho construtivo, que muitas vezes podem ser estimulantes e até desafiantes, onde os colaboradores são preparados e motivados para dar o seu melhor. Assim, um ambiente psicossocial positivo pode proporcionar um bom desempenho e desenvolvimento pessoal, favorecendo o bem-estar geral dos trabalhadores (OSHA, 2020).

Provavelmente um trabalho saudável seja aquele em que as pressões sobre os funcionários sejam adequadas, considerando suas habilidades e recursos, à quantidade de controle que eles têm sobre seu trabalho e ao apoio que recebem das pessoas que são importantes para eles. Como a saúde não é apenas a ausência de doença ou enfermidade, mas um estado positivo de completo bem-estar físico, mental e social (OMS, 1986), um ambiente de trabalho saudável é aquele em que não há apenas uma ausência de condições prejudiciais, e sim uma abundância de promotores de saúde (WHO, 2010).

Uma pesquisa realizada na Europa pela EU-OSHA mostrou que cerca de metade dos trabalhadores considera comum o estresse laboral no seu local de trabalho. As causas mais citadas para o estresse no ambiente de trabalho são a reorganização ou a insegurança laboral,

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as jornadas longas ou a carga de trabalho excessiva, assim como o assédio e a violência no trabalho. Portanto, considera-se que uma abordagem preventiva, integrada e sistemática da gestão dos riscos psicossociais poderá ser a mais eficaz (OSHA, 2020).

2.2.1 Riscos Ocupacionais e riscos psicossociais

De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2001), as doenças do trabalho referem-se a um conjunto de danos ou agravos que influenciam a saúde dos trabalhadores, causados, desencadeados ou agravados por fatores de risco presentes nos locais de trabalho - os riscos ocupacionais. Podem se apresentar de forma lenta, insidiosa, podendo levar anos, para se manifestarem - o que, na prática, acaba sendo um fator dificultador no estabelecimento da relação entre uma doença sob investigação e o trabalho. Também são consideradas as doenças oriundas de contaminação acidental no exercício do trabalho e as doenças endêmicas contraídas por exposição ou contato direto, determinado pela natureza do trabalho realizado. Os riscos presentes nos locais de trabalho são classificados em:

• Agentes físicos - ruído, vibração, calor, frio, luminosidade, ventilação, umidade, pressões anormais, radiação etc.;

• Agentes químicos - substâncias químicas tóxicas, presentes nos ambientes de trabalho nas formas de gases, fumo, névoa, neblina e/ou poeira;

• Agentes biológicos - bactérias, fungos, parasitas, vírus etc.;

• Organização do trabalho - divisão do trabalho, pressão da chefia por produtividade ou disciplina, ritmo acelerado, repetitividade de movimento, jornadas de trabalho extensas, trabalho noturno ou em turnos, organização do espaço físico, esforço físico intenso, levantamento manual de peso, posturas e posições inadequadas, entre outros.

Os riscos psicossociais ocorrem por deficiências na concepção, organização e gestão do trabalho, na existência de um contexto social de trabalho problemático, acarretando efeitos negativos a nível psicológico, físico e social tais como estresse relacionado com o trabalho, esgotamento ou depressão. Como alguns exemplos destas condições, podemos ter: cargas excessivas de trabalho, exigências contraditórias e falta de clareza na definição de funções, má gestão de mudanças organizacionais, insegurança laboral, comunicação ineficaz, falta de apoio de superiores e colegas, e assédio (EU-OSHA, 2020).

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Há um razoável consenso na literatura sobre a natureza dos riscos psicossociais, de acordo com a tabela a seguir, mas deve-se considerar que novas formas de trabalho geram novos perigos - nem todos ainda serão representados em publicações científicas (WHO, 2010).

Quadro 2 - Natureza dos fatores de riscos psicossociais

CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO

FATORES DE RISCO

Conteúdo do trabalho Falta de variedade ou ciclos de trabalho curtos, trabalho fragmentado ou sem sentido, alta incerteza, exposição contínua às pessoas

Sobrecarga e ritmo de trabalho Sobrecarga de trabalho ou sob carga, ritmo da máquina, altos níveis de pressão de tempo, sujeito continuamente a prazos

Horário de trabalho Turno de trabalho, turnos noturnos, horários de trabalho inflexíveis, horas imprevisíveis, horas longas ou não sociáveis

Controle Baixa participação na tomada de decisões, falta de controle sobre carga de trabalho e ritmo

Ambiente de trabalho e equipamentos

Disposição, adequação ou manutenção inadequada de equipamentos; pobre condições ambientais como falta de espaço, pouca iluminação, excesso de ruído

Cultura organizacional Fraca comunicação, baixos níveis de suporte para solução de problemas e desenvolvimento pessoal, falta de definição ou acordo sobre objetivos da organização

Relações interpessoais Isolamento social ou físico, falta de apoio de superiores, conflitos nos relacionamentos interpessoais, falta de apoio social, assédio moral, assédio

Papel na organização Ambiguidade de papel, conflito de papéis e responsabilidades

Desenvolvimento na carreira Estagnação e incerteza na carreira, falta de progressão, pobre remuneração, insegurança laboral, baixo valor social para o trabalho

Relação trabalho - família Exigências conflitantes de trabalho e casa, baixo suporte familiar FONTE: WHO - Adapted from Leka, Griffiths & Cox (2003)

Os dez principais riscos psicossociais, referidos pela OSHA (2007), estão agrupados em cinco principais áreas, que são: novas formas de contrato, insegurança no trabalho, mão-de-obra em envelhecimento, intensificação do trabalho, exigências emocionais elevadas no emprego e difícil conciliação entre a vida profissional e familiar. Segundo a OIT (2010), os riscos psicossociais podem levar a consequências muito negativas para as organizações, para a saúde do trabalhador e para a sociedade em geral - que podem ocorrer a nível individual e organizacional.

Para a organização, os efeitos negativos envolvem um fraco desempenho geral da empresa, aumento do absenteísmo, "presenteísmo" (trabalhadores que comparecem ao trabalho doentes e incapazes de funcionar eficazmente) e das taxas de acidentes e lesões. Os

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períodos de absenteísmo tendem a ser maiores em relação aos que ocorrem por outros motivos, bem como o estresse relacionado com o trabalho pode influenciar para um aumento da aposentadoria antecipada (EU-OSHA, 2020).

Para o trabalhador, pode-se ter consequências psicológicas e/ou mentais – tais como: irritação, cansaço, dificuldade de concentração, insônia, agressividade, aumento dos níveis de violência, aumento do consumo de álcool, tabaco e, drogas, tensão ao nível familiar e pessoal, incapacidade de fazer face às exigências do trabalho, dificuldade de concentração, dificuldade em tomar decisões e problemas de memória; assim como fisiológicas – surgimento de transtornos musculoesqueléticos, cardiovasculares e digestivos, aparecimento de sintomas psicossomáticos como dores de cabeça, problemas de estômago e queda de cabelo. Para a saúde mental, pode-se considerar também depressões, esquizofrenias e paranoias (OIT, 2010).

Torna-se importante considerar também que os determinantes do trabalho que desencadeiam ou agravam distúrbios psíquicos irão, geralmente, se articular a modos individuais de responder, interagir e adoecer - as cargas do trabalho vão incidir sobre um indivíduo que possui uma história singular preexistente ao seu encontro com o trabalho. O processo de sofrimento psíquico não é, na maioria das vezes, imediatamente perceptível, tendo um desenvolvimento "silencioso" ou "invisível", embora também possa eclodir de forma aguda por desencadeantes diretamente ocasionados pelo trabalho (Brasil, 2001).

Como exemplo, pode-se citar a Síndrome de Burnout (SB). Esta é um fenômeno psicossocial que surge como resposta a estressores crônicos no trabalho, em profissionais que lidam com clientes de forma emocional, direta e constante (BRAUN; CARLOTTO, 2014). No Brasil, desde 1999 a SB é reconhecida como doença profissional, pelo Decreto-Lei 6042/07, da Previdência Social, incluída na lista B do grupo V, do CID 10. Mesmo sendo uma doença investigada em diferentes atividades profissionais, cresce nos últimos anos o reconhecimento de que a SB na categoria docente é um problema de saúde pública.

Segundo Cancio et al. (2018), burnout é frequentemente considerado resultado do estresse crônico. Ao operacionalizar as medidas destes termos, o estresse é um efeito imediato de estressores específicos (por exemplo, estudante), enquanto burnout é uma consequência natural a longo prazo. Há três dimensões de estresse/burnout: (1) exaustão emocional, que ocorre quando um indivíduo esgotou seus recursos emocionais e apresenta uma falta de energia e fadiga; (2) despersonalização, caracterizada por um distanciamento dos outros, particularmente de alunos com quem os professores deveriam interagir no seu trabalho; e (3) falta de realização pessoal, onde o indivíduo sente um sentido reduzido de eficácia e

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desvalorização do seu trabalho. Sobrecarga de trabalho, conflito social e insuficiente recursos pessoais, incluindo habilidades de enfrentamento, estão associados com essas dimensões de

burnout.

Burnout é caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e redução de

realização e causada por estresse ocupacional a longo prazo (Kristensen et al., 2005). Em professores, o burnout é um processo dinâmico que afeta a vida pessoal, o contexto de trabalho e as relações com os alunos. Burnout pessoal é o cansaço físico e psicológico e exaustão experimentada por um indivíduo - independentemente de seu trabalho ou status ocupacional. O burnout relacionado ao trabalho, abrange o grau de fadiga física e psicológica e exaustão percebido pelo professor especificamente em relação ao seu trabalho. Finalmente, o burnout relacionado ao estudante refere-se à fadiga física e psicológica pelo professor em relação ao seu trabalho com os alunos (STASIO et al., 2017).

Um dos maiores problemas dos trabalhadores modernos é o do estresse, que ocorre principalmente pelas competições, exigências e conflitos. Estes, até certo ponto, podem ser reduzidos pela correta definição e atribuição de tarefas, seleção e treinamento, estabelecimento de planos salariais e de carreira e, principalmente, por um relacionamento franco, sincero e saudável entre os trabalhadores e a administração da empresa (IIDA, 2005).

As relações entre condições psicossociais no trabalho e os resultados do estresse no trabalho muitas vezes podem ser difíceis de avaliar pela influência de diferentes variáveis, o que pode levar a correlações errôneas entre resultados e condições, porque influenciam a medição de ambos (VELDHOVEN, et al., 2002). O estresse leva a conflitos internos que podem se manifestar de modos muito distintos de uma pessoa para outra. Trabalhadores submetidos a constante estresse no trabalho podem apresentar pressão arterial instável, aumento dos níveis de colesterol, tensões musculares, dentre outros problemas. O estresse é uma condição ou evento externo que pode afetar nosso corpo e mente negativamente. Pesquisas sobre a eficiência dos professores indica que as opiniões dos professores, comportamentos e valores influenciam as decisões que eles tomam, assim como a forma que eles interagem com o processo de ensino-aprendizagem nas discussões em sala de aula (KEBBI, 2018).

Segundo Pülschen e Pülschen (2015), os elementos-chave do estresse foram divididos em três categorias distintas, baseadas em pesquisas relacionadas ao estresse feitas ao logo dos anos: ambiental, psicológico e fenômenos biológicos - que são considerados fatores decisivos no campo do estresse, e que levaram ao surgimento de visões diferentes sobre o tema.

Referências

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