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Influência do português brasileiro sobre a prosódia do neerlandês falado por imigrantes holandeses no Brasil

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Estudos da Linguagem

Beatriz Funayama Alvarenga Freire

INFLUÊNCIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

SOBRE A PROSÓDIA DO NEERLANDÊS

FALADO POR IMIGRANTES HOLANDESES NO

BRASIL

CAMPINAS

2020

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INFLUÊNCIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

SOBRE A PROSÓDIA DO NEERLANDÊS

FALADO POR IMIGRANTES HOLANDESES NO

BRASIL

Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de mestra em linguística.

Orientadora: Profa. Dra.Livia Oushiro

Co-Orientador: Prof. Dr. Plinio Almeida Barbosa

Este trabalho corresponde à versão final da dissertação defendida pela aluna Beatriz Funayama Alvarenga Freire e orientada pela

Profa. Livia Oushiro e co-orientada pelo Prof.

Plinio Almeida Barbosa

Campinas 2020

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BANCA EXAMINADORA:

Livia Oushiro

Emilio Gozze Pagotto

Luciana Lucente

IEL/UNICAMP 2020

Ata da defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria de Pós Graduação do IEL.

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Dedicatória

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Agradecimentos

A ideia para realização do presente estudo surgiu do desejo de manter a mente acadêmica ativa após minha aposentadoria como docente da Faculdade de

Medicina de Botucatu – UNESP em 2015. A vontade de desbravar novos,

desconhecidos, mas extremamente atraentes campos da ciência, como se apresentava a linguística para mim, foi decisiva para que eu decidisse enfrentar todas as dificuldades que sabidamente encontraria. Iniciei fazendo contato virtual com o docente do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), Prof. Dr. Plínio Barbosa, que enviou os primeiros textos os quais me proporcionaram a fantástica descoberta do mundo da linguística.

Tomada a decisão de sair da posição à frente da lousa e voltar às carteiras de uma sala de aulas, iniciei a jornada que ora chega ao fim. Esse caminho, não percorri sozinha. Devo muito a muitos.

Gostaria de agradecer imensamente a todos que estiveram direta ou indiretamente ligados ao meu período de pós-graduação na Unicamp que se tornou, além de um desafio, um grande prazer.

Agradeço em especial ao meu filho Leonardo A. F. Cazzuni que sempre apoia as ideias da mãe, por mais malucas que possam parecer. Por ter compartilhado seu novo habitat universitário e ter se tornado meu assessor para assuntos acústicos e de programação durante esse mestrado.

Ao Plínio A. Barbosa, agradeço do fundo do meu ventrículo esquerdo! Esse docente que me impressionou tanto pela inteligência, paciência, bondade e amizade. Foi ele que abriu as portas da linguística e de seu coração para mim. Gratidão eterna!

Lívia Oushiro, minha orientadora, além de agradecer todo o conhecimento

e orientação que me proporcionou, gostaria de parabenizá-la por ser uma pessoa tão dinâmica e produtiva como poucas que conheci durante minha vida acadêmica.

Completando o quadro de docentes maravilhosos que encontrei no IEL, agradeço também Filomena Sandalo, Wilmar D'Angelis e Emílio Pagotto,

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responsáveis pelas disciplinas que cursei como aluna especial e posteriormente como regular. Docentes de alto nível com os quais aprendi tanto!

Durante os anos cursando disciplinas conheci colegas que me ajudaram muito a entender esse mundo complexo das exatas e humanas. Agradeço Victor

Carreão, Julio Cesar Cavalcante, Felipe Modesto, Renata Passetti, Paulo Henrique de Felipe, Daniela Seabra, e Mariany de Alencar Couto pela paciência,

acolhimento, cumplicidade e amizade.

Agradeço profundamente aos amigos que indicaram e participaram do recrutamento de voluntários para a formação do corpus da pesquisa.

Para a coleta de dados na Holanda, foram fundamentais os contatos de minhas amigas holandesas Harmke de Vries-Huiges, Birgita Endert, Grietje

Couperus e minha ex-professora Berna de Boer da Faculdade de Letras da

Rijksuniversiteit Groningen.

Para a coleta de dados no Brasil, agradeço muitíssimo aos então graduandos da Unicamp Paulo Sérgio Piva, Gabriela Antunes e Patricia Strasser

Scheltinga. Do mesmo modo, agradeço ainda minha prima Maria da Glória Yamasaki Centofanti e a holambresa Stella Niens van der Geest.

A vida burocrática da Unicamp foi facilitada pelos atenciosos funcionários da secretaria de pós-graduação, em especial Cláudio Platero. Agradeço por todas as orientações, explicações e também pela paciência.

Deixei a Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp, mas dois amigos e ex-colegas continuam fazendo parte da minha vida acadêmica pós-aposentadoria daquela instituição. São eles o Prof. Dr. José Eduardo Corrente docente do Departamento de Estatística do Instituto de Biociências de Botucatu e Mario Augusto

Dallaqua funcionário da sessão de informática do Departamento de Clínica Médica

da Faculdade de Medicina de Botucatu. Agradeço a ambos pela ajuda durante a preparação do projeto a ser submetido ao processo de seleção para este mestrado, na conclusão de uma das disciplinas cursadas e na finalização do texto da qualificação e da dissertação.

Por fim, agradeço aos voluntários brasileiros e holandeses que prontamente aceitaram o convite para participar deste estudo.

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Dankwoord

Het idee voor deze studie kwam voort uit de wens om de academische geest actief te houden na mijn pensionering als professor aan de Botucatu Medical School - UNESP in 2015. De wens om een nieuwe uitdaging aan te gaan, onbekende maar uiterst aantrekkelijke wetenschapsgebieden, zoals ongetwijfeld de taalkunde, was voor mij doorslaggevend om te beslissen om alle moeilijkheden te overwinnen die ik zou tegenkomen. Ik begon virtueel contact te maken met de professor van het Institute of Language Studies (IEL), Prof. Dr. Plínio Barbosa, die de eerste teksten stuurde die me de fantastische ontdekking van de wereld van de taalkunde gaven.

Ik wil iedereen enorm bedanken die direct of indirect verbonden waren met mijn master periode bij Unicamp, die behalve een uitdaging, een groot plezier is geworden.

Speciale dank aan mijn zoon Leonardo A. F. Cazzuni die altijd de ideeën van zijn moeder ondersteunt, hoe gek ze ook mogen lijken. Ondanks dat hij zich nu in een nieuwe universitaire habitat bevindt toch mijn adviseur is geworden voor akoestische en programmeervakken tijdens deze master.

Plínio A. Barbosa, dank uit de grond van mijn hart! Hij was de professor

die zoveel indruk op me maakte vanwege zijn intelligentie, geduld, vriendelijkheid en vriendschap. Hij was het die de deuren van de taalkunde en zijn hart voor mij opende. Eeuwige dankbaarheid!

Lívia Oushiro, mijn adviseur, naast het bedanken voor alle kennis en

begeleiding die ze me heeft gegeven, wil ik haar complimenteren met het feit dat ze zo'n dynamische en productieve persoon is.

Tevens bedank ik het geweldige docenten dat ik bij IEL heb ontmoet en bedank ook Filomena Sandalo, Wilmar D'Angelis en Emilio Pagotto, die verantwoordelijk zijn voor de vakken die ik als speciale student en later als vaste student heb gevolgd. Leerkrachten op hoog niveau van wie ik zoveel heb geleerd!

In de loop van de jaren dat ik disciplines volgde, ontmoette ik collega's die me veel hebben geholpen deze complexe wereld van exact en menselijk te begrijpen. Ik dank Victor Carreão, Julio Cesar Cavalcante, Felipe Modesto, Renata Passetti,

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Paulo Henrique de Felipe, Daniela Seabra en Mariany de Alencar Couto voor hun

geduld, bejegening, medewerking en vriendschap.

Ik dank de vrienden die hebben meegewerkt en hebben deelgenomen aan de werving van vrijwilligers voor de vorming van de onderzoeksgroep.

Voor gegevensverzameling in Nederland waren de contacten van mijn Nederlandse vriendinnen Harmke de Vries-Huiges, Birgita Endert, Grietje

Couperus en mijn voormalige docent Berna de Boer van de Faculteit der Letteren -

Rijksuniversiteit Groningen cruciaal.

Voor het verzamelen van gegevens in Brazilië, veel dank aan de toenmalige studenten van Unicamp Paulo Sérgio Piva, Gabriela Antunes en Patricia Strasser

Scheltinga. Op dezelfde manier bedank ik ook mijn nicht Maria da Gloria Yamasaki Centofanti en de Holambranse Stella Niens van der Geest.

Het bureaucratische leven van Unicamp werd mogelijk gemaakt door het attente personeel van het postdoctorale secretariaat, met name Claudio Platero. Bedankt voor alle begeleiding, uitleg en ook voor je geduld.

Ik verliet Botucatu Medical School - Unesp, maar twee vrienden en voormalige collega's maken nog steeds deel uit van mijn academische leven na mijn pensionering bij die instelling. Zij zijn Prof. Dr. José Eduardo Corrente professor aan de Afdeling Statistiek van het Botucatu Biosciences Institute en Mario Augusto

Dallaqua medewerker van de informatiesessie van de Afdeling Klinische

Geneeskunde van de Botucatu Medical School. Ik dank u beiden voor uw hulp tijdens de voorbereiding van het project dat zal worden voorgelegd aan het selectieproces voor deze master, de voltooiing van de onderzochte onderwerpen en de afronding van de kwalificatie- en proefschrifttekst.

Tot slot wil ik de Braziliaanse en Nederlandse vrijwilligers bedanken die de uitnodiging om aan dit onderzoek deel te nemen zonder meer hebben aanvaard.

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Resumo

O presente estudo avaliou a Influência linguística entre línguas em contato através do parâmetro prosódico da entoação. A comunidade alvo foi Holambra-SP onde imigrantes holandeses foram assentados há 72 anos. Parâmetros acústicos e a avaliação da identidade referida pelos participantes foram analisados. A investigação acústica baseou-se em dados da frequência fundamental (f0) enquanto a identidade foi avaliada por questionário que assinalou o uso funcional do português brasileiro (PB) e do neerlandês (NL), as crenças em relação às duas línguas, a aquisição e fluência nas duas línguas, a percepção da própria fala e de outros de mesmo convívio, as relações linguísticas entre as gerações de falantes e as perspectivas de futuro do NL na comunidade. Os participantes foram divididos em três grupos: grupo de imigrantes; grupo NL de holandeses moradores da Holanda; grupo controle-PB de brasileiros. Foram incluídos 21 voluntários (sete cada grupo), ambos os sexos e média de idade 77 anos. Realizou-se gravação da leitura de texto para análise de f0 e entoação. Aos imigrantes foi aplicado o questionário de orientação étnica adaptado de Hoffman & Walker (2010). As gravações foram analisadas no programa PRAAT. Nove parâmetros estatísticos de f0 foram extraidos através de script (Barbosa, 2012). Os parâmetros revelaram tendências centrais (média e mediana de f0), variabilidade de tons ocorridos (desvio padrão de f0), distribuição de tons mais graves ou mais agudos que fugiram da média (assimetria da curva de f0), variabilidade de tons ascendentes e descendentes (médias e desvios padrão das derivadas de f0), ênfase espectral e frequência de picos de f0 por segundo (taxa de f0). A notação dos tons foi realizada no sistema DaTo (Lucente, 2012). Proporções relativas de ocorrência de cada tom foram calculadas. Um índice de identidade foi elaborado a partir do questionário e correlacionado aos achados acústicos. Os resultados mostraram que seis parâmetros de f0 foram significativos para ambos os sexos na comparação entre os três grupos. Os imigrantes (ambos os sexos) diferem dos brasileiros em oito dos nove parâmetros avaliados e difere dos holandeses em seis. O teste de proporções mostrou diferença significativa para os tons >LH (late low high) e L (low) entre as mulheres imigrantes e holandesas. Para os homens, nenhum tom foi significativo entre imigrantes e holandeses. Entre imigrantes e brasileiros, o tom H (high) foi significativo para os homens. O comportamento das mulheres imigrantes

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difere dos homens imigrantes em todos os tons analisados e significativos. O tom >LH difere das holandesas e o tom L difere dos dois outros grupos de mulheres. A relação índice de identidade e parâmetros de f0 e índice de identidade e proporção de tons não revelou correlação linear. Existe evidência da influência do PB na entoação do NL falado pelos imigrantes, mas não houve correlação entre grau de identidade e entoação. O comportamento diverge entre os sexos quanto à proporção de tons. As mulheres estão se aproximando da entoação das brasileiras, pois o tom >LH é característico de marcação de proeminências no PB. Os homens tendem a se aproximar dos holandeses.

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Abstract

This study aims to analyze the linguistic influence between languages in contact, specifically in intonation prosodic parameter. Holambra, a town in São Paulo state, where Dutch immigrants were settled 72 years ago was the target. Acoustic parameters analysis and participants referred identity were analysed. Acoustic investigation was based on fundamental frequency data (f0) while identity information by a questionnaire with questions to point out Brazilian Portuguese (BP) and Dutch (NL) functional use, beliefs related to both languages, acquisition and fluency in both languages, perception of their own speech and others in the same community, linguistic relations between generations of speakers and NL future perspectives in the community. Participants were divided into three groups: study group composed of Dutch immigrants, NL and BP speakers; NL-control group of Dutch individuals, residents in The Netherlands, NL speakers with no fluency level in BP; BP-control group of Brazilians, BP speakers and no fluency level in NL. In total, there were 21 volunteers (seven for each group) of both sexes, with an average age of 77 (70-91) years. A text were read by all paticipants and recorded for f0 and intonation analysis. Ethnic questionnaire adapted from Hoffman & Walker (2010) was applied to immigrants. Recordings were analysed in PRAAT program. Nine f0 statistical parameters were obtained using a script (Barbosa, 2012): central trends (f0 mean and median), occurred tones variability (f0 standard deviation), distribution of lower or higher tones that escaped from the mean (f0 curve asymmetry), rising and falling tones variability (mean and standard deviations of f0 derivatives), emphasis and f0 peaks frequency per second (f0 rate). Tones notation was performed in DaTo system (Lucente, 2012). Relative proportions of each tone occurrence were calculated. An identity index was elaborated through the analysis of the questionnaire and correlated with acoustic findings. Results showed that six f0 parameters were significant for both sexes comparing three groups. Immigrants (both sexes) differs from Brazilians in eight of nine parameters evaluated and differs from Dutch in six. The test of proportions between tones showed a significant difference for >LH (late low high) contour and L (low) tone between immigrants and Dutch women. Men showed no tone significant difference between immigrants and Dutch. In comparison between immigrants and Brazilians, H (high) tone showed a significant difference for men. The data revealed

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that immigrants women behavior differs from immigrants men in all analyzed tones that showed some significant difference. The >LH tone differs from Dutch and L tone differs from the two other groups of women. The relationship between identity index and f0 parameters and identity index and tone proportion did not reveal a linear correlation. There is evidence that BP influenced Dutch immigrants NL intonation, but there was no correlation between identity degree and intonation. The behavior differs between sexes regarding to proportion of tones. Those results suggest that women are approaching Brazilian women intonation, because >LH tone is a characteristic marking for BP prominences. Men tend to approach Dutch.

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Samenvatting

Deze studie heeft tot doel het fenomeen van de taalkundige beïnvloeding tussen talen die met elkaar in contact staan te analyseren, met name de intonatieprosodische parameter. Holambra, een stad in de staat São Paulo, waar 72 jaar geleden Nederlandse immigranten werden neergezet, was het doelwit. Akoestische parameters en identiteit van deelnemers werden geanalyseerd. Het akoestisch onderzoek was gebaseerd op fundamentele frequentiegegevens (f0) en gegevens over de identiteit werden verkregen door van een vragenlijst over het functionele gebruik van Braziliaans Portugees (BP) en Nederlands (NL), overtuigingen met betrekking tot beide talen, verwerving en vloeiendheid in beide talen, perceptie van hun eigen spraak en van anderen in dezelfde gemeenschap, taalkundige relaties tussen de generaties van sprekers en Nederlandse toekomstperspectieven. Deelnemers werden verdeeld in drie groepen: studiegroep immigranten; NL-controlegroep van Nederlanders, inwoners van Nederland; BP-NL-controlegroep van Brazilianen. In totaal waren er 21 vrijwilligers (zeven per groep) van beide geslachten, met gemiddelde leeftijd van 77 jaar. Alle deelnemers hebben een tekst voorgelezen en opgenomen voor f0 en intonatieanalyse. De etnische vragenlijst die is aangepast door Hoffman & Walker (2010) is afgenomen bij studiegroep. Opnames werden geanalyseerd in programma PRAAT. Met behulp van een script (Barbosa, 2012) werden negen f0 statistische parameters verkregen. Van de parameters was het mogelijk om trends central (f0 gemiddelde en mediaan) te evalueren, opgetreden toonverschillen(f0 standaardafwijking), verdeling van lagere of hogere tonen die afwijken van het gemiddelde (f0 curve asymmetrie), verschillen in stijgende en dalende tonen (gemiddelde en standaardafwijkingen van f0 afgeleiden), nadruk en f0 piekfrequentie per seconde (f0 rato). Notatie van tonen werd uitgevoerd in systeem DaTo (Lucente, 2012). Vervolgens werden de verhoudingen tussen elke toon berekend. Van een analyse van de vragenlijst werd een identiteitsindex opgesteld en een correlatie met de akoestische bevindingen mogelijk te maken. De resultaten toonden aan dat zes parameters van f0 significant waren voor beide seksen in drie groepen die met elkaar werden vergeleken. Immigrantengroep (beide geslachten) verschilt van Brazilianen in acht van negen geëvalueerde parameters en verschilt van Nederlanders in zes. Test met toonverschillen toonde een significant verschil voor >LH

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(late lage hoge) en L (lage) tonen tussen immigranten en Nederlandse vrouwen, terwijl voor mannen geen enkele toon een significant verschil tussen immigranten en Nederlanders liet zien. In een onderlinge vergelijking tussen immigranten en Brazilianen liet de H-toon (hoog) een significant verschil zien voor mannen. Het gedrag van vrouwelijke immigranten in alle geanalyseerde tonen verschilt van dat van mannelijke immigranten en dat er sprake is van een fors verschil. De >LH-contour verschilt van het Nederlands en de L-toon verschilt van de twee andere groepen vrouwen. Er is geen lineaire correlatie te bestaan tussen identiteitsindex en f0-parameters en tussen identiteitsindex en toonverschil. Er zijn aanwijzingen dat BP de intonatie in het Nederlands van Nederlandse immigranten heeft beïnvloed, maar er is geen correlatie gevonden tussen identiteitsindex en intonatie. Er is een toonverschil tussen beide geslachten. Deze resultaten suggereren dat vrouwen meer naar de intonatie van Braziliaanse vrouwen neigen, omdat >LH-contour een kenmerkende markering is voor de toonhoogte accent. Mannen neigen meer naar het Nederlands.

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Lista de Figuras

Figura 1. Localização da antiga fazenda Ribeirão, hoje município de

Holambra... 31

Figura 2. Contorno padrão de f0 da frase declarativa ‘Declarativas são

caracterizadas por uma queda final.’... 59

Figura 3. Contorno padrão de uma f’rase interrogativa iniciada por

pronome interrogativo ‘Como ela jogava?’... 60

Figura 4. Contorno padrão de f0 da frase interrogativa ‘Os rapazes

compraram lâminas?’... 60

Figura 5. Contorno padrão de f0 da frase ‘Ela foi ver o mar?’... 61 Figura 6. Contorno padrão de f0 da frase imperativa ‘Destranca a gaveta’

em atitude de comando... 62

Figura 7. Contorno padrão de f0 da frase imperativa ‘Destranca a gaveta’

tipo pedido... 63

Figura 8. Contorno de f0 da frase do tipo vocative chant ‘Antonio’... 63 Figura 9. Contorno padrão de f0 para o vocative chant sem material

pós-tônico... 64

Figura 10. Contorno padrão de f0 do vocativo ‘Antonio’ tipo low call... 65 Figura 11. >LH na marcação do movimento inicial f0 e LH marcado após

fronteira H... 66

Figura 12. Contorno LHL, que se inicia no movimento de descida do

contorno >LH e culmina na vogal tônica da palavra “acabar”... 66

Figura 13. Contorno HL... 67

Figura 14. Condomínio dos imigrantes holandeses pioneiros no município

de Holambra... 68

Figura 15. Entrada do “Centro Social” no município de Holambra... 69 Figura 16. Detalhes do “Centro Social” no município de Holambra... 69 Figura 17. Exemplo de segmentação das frases do texto em PB lido por um

brasileiro... 74

Figura 18. Exemplo de segmentação das frases do texto em NL lido por um

holandês... 74

Figura 19. Exemplo de divisão em camadas para notação entoacional DaTo

(17)

Figura 20. Exemplo de divisão em camadas de uma falante holandês... 77

Figura 21. Rótulos do sistema DaTo de acordo com padrão de movimento e alinhamento com a vogal tônica, ilustrada pelo retângulo azul... 79

Figura 22. Localização das províncias na Holanda... 85

Figura 23. Diferença entre os níveis de f0sd nas mulheres... 100

Figura 24. Diferença entre os níveis de df0sd nas mulheres... 101

Figura 25. Diferença entre os níveis de f0mean para as mulheres e para os homens... 102

Figura 26. Diferença entre os níveis de f0med para as mulheres e para os homens... 103

Figura 27. Diferença entre os níveis de f0sd para as mulheres e para os homens... 103

Figura 28. Diferença entre os níveis de f0sk para os homens... 104

Figura 29. Diferença entre os níveis de df0mean para as mulheres e para os homens... 104

Figura 30. Diferença entre os níveis de df0sd para as mulheres e para os homens... 105

Figura 31. Diferença entre os níveis de ênfase espectral para as mulheres.... 105

Figura 32. Diferença entre os níveis de f0r para as mulheres e para os homens... 106

Figura 33. Proporções de tons para os três grupos de mulheres... 110

Figura 34. Proporçoes de tons para os três grupos de homens... 111

Figura 35. Correlação entre índice de identidade e os parâmetros de f0 da primeira etapa... 114

Figura 36. Correlação entre índice de identidade e os parâmetros de f0 da segunda etapa... 115

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Lista de Quadros

Quadro 1. Domínios e questões consideradas para cálculo do índice de

identidade... 73

Quadro 2. Dados pessoais dos imigrantes... 85

Quadro 3. Respostas dos participantes do Grupo I às perguntas do Domínio

1 – Identificação ética... 87

Quadro 4. Respostas dos participantes do Grupo I às perguntas do Domínio

2 – Linguagem... 89

Quadro 5. Respostas dos participantes do Grupo I às perguntas do Domínio

3 – Escolha da língua... 91

Quadro 6. Resposta dos participantes do Grupo I às perguntas do Domínio 4

– Herança cultural... 93

Quadro 7. Respostas dos participantes do Grupo I às perguntas do Domínio

5 – Pais... 94

Quadro 8. Respostas dos participantes do Grupo I às perguntas do Domínio

6 – Cônjuge... 95

Quadro 9. Respostas dos participantes do Grupo I às perguntas do Domínio

7 – Cultura holandesa... 96

Quadro 10. Respostas dos participantes do Grupo I às perguntas do Domínio

8 – Discriminação... 97

Quadro 11. Províncias de origem dos imigrantes (grupo I) e holandeses (grupo

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Índice de identidade por domínios... 98

Tabela 2. Comparação em semitons entre as médias de f0sd entre os grupos 101 Tabela 3. Comparação em semitons entre as médias de df0sd entre os grupos... 101

Tabela 4. Comparação em semitons entre as medidas dos parâmetros de f0 e em decibéis da ênfase espectral entre os grupos... 107

Tabela 5. Frequência e proporção de tons para as mulheres, por grupo... 108

Tabela 6. Frequência e proporção de tons para os homens, por grupo... 109

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Lista de Anexos

Anexo 1. Texto em NL lido pelos holandeses e imigrantes... 135

Anexo 2. Texto em PB lido pelos brasileiros... 136

Anexo 3. Parecer consubstanciado do Comitê de É tica em Pesquisa da Unicamp... 137

Anexo 4. Termo de consentimento livre e esclarecido do grupo I... 141

Anexo 5. Termo de consentimento livre e esclarecido do grupo III... 143

Anexo 6. Dados pessoais... 145

Anexo 7. Questionário de identidade... 146

Anexo 8. Figuras do livro cujo texto foi usado para leitura... 149

Anexo 9. Script ProsodyDescriptorPerUttterance (Barbosa, 2014)... 150

Anexo 10. Quadro de marcação ASCII para o português brasileiro... 152

Anexo 11. Quadro de marcação ASCII para o neerlandês... 153

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Sumário

Capítulo 1 – Introdução ... 22

Capítulo 2 – A Comunidade Holandesa em Holambra ... 29

2.1 Breve histórico da imigração holandesa em Holambra ... 29

2.2 Situação do neerlandês na comunidade ... 33

Capítulo 3 – Influência Linguística e Identidade ... 35

Capítulo 4 – Entoação ... 42

4.1 Entoação do neerlandês ... 44

4.2 Entoação do português brasileiro ... 58

Capítulo 5 – Metodologia ... 68

5.1 Trabalho de campo ... 69

5.2 Corpus ... 70

5.3 Procedimentos ... 70

5.3.1 Questionário de identidade e índice de identidade ... 71

5.3.2 Análises acústicas ... 73

5.3.2.1 Extração de parâmetros de f0 – primeira etapa ... 74

5.3.2.2 Notação Da To ... 76

5.3.3 Relação índice de identidade, parâmetros acústicos e tons ... 80

5.3.4 Análises estatísticas ... 81

Capítulo 6 – Resultados ... 82

6.1 Observação da comunidade ... 82

6.2 Descrição do perfil do Grupo I ... 84

6.3 Descrição dos perfis dos grupos II e III - controles ... 98

6.4 Resultados dos parâmetros acústicos de f0 – primeira etpa ... 99

6.5 Resultados dos parâmetros acústicos de f0 – segunda etapa ... 102

6.6 Resultados das proporções relativas de tons ... 108

6.7 Resultados da relação identidade/f0 e identidade/tons... 113

Capítulo 7 – Discussão e Conclusão ... 117

Referências Bibliográficas ... 129

(22)

Capítulo 1

Introdução

O presente estudo visa descrever e analisar a presença do fenômeno de Influência linguística (Odlin 2012) entre duas línguas em contato, o neerlandês (NL) e o português brasileiro (PB). O parâmetro prosódico estudado foi a entoação e para isso, a comunidade alvo escolhida foi o município de Holambra no estado de São Paulo, onde imigrantes holandeses foram assentados há 72 anos, em 1948. Trata-se de um estudo linguístico sociofonético (Hay & Drager 2007) pois fornece uma análise de parâmetros acústicos em relação à avaliação da identidade referida pelos participantes. A investigação acústica inicial foi baseada em dados da frequência fundamental (f0), enquanto os dados sociolinguísticos foram obtidos através de um questionário com perguntas que objetivam assinalar o uso funcional do PB e do NL, as crenças em relação às duas línguas, a identidade referida dos falantes, a aquisição e a fluência nas duas línguas, a percepção da própria fala e de outros de mesmo convívio, as relações linguísticas entre as gerações de falantes e as perspectivas de futuro do NL na comunidade.

O termo sociofonética, por muitos anos, foi usado para descrever áreas de estudo dentro da linguística aparentemente pouco conectadas. Os foneticistas usavam o termo para se referir a estudos experimentais que envolviam variação dialetal ou social. Os sociolinguistas raramente usavam o termo. Era entendido como análise instrumental e de percepção que complementavam o trabalho sociolinguístico. Até o início dos anos 1990, a maioria dos trabalhos sociofonéticos dentro da sociolinguística foi realizada por William Labov e seus alunos. Desde então, e após a publicação de livros como o de Thomas (2011), Di Paolo e Yaeger-Dror (2011) e Preston e Niedzielski (2010), a diferença entre os valores fonéticos e as concepções sociolinguísticas da sociofonética diminuíram. A análise sociofonética iniciada pelo estudo das vogais por Labov foi seguida por estudos que envolviam várias outras variáveis. A análise prosódica também despertou grande interesse e estudos com entoação, ritmo, tom lexical e velocidade da fala foram realizados. Entretanto, ainda há muitos campos a serem explorados (Thomas, 2013).

(23)

O presente estudo, na área da sociofonética e que investiga a influência prosódica de uma terceira língua (L3) sobre a segunda língua (L2), é inédito. As antigas colônias holandesas no Brasil, riquíssimo cenário linguístico, foram alvo de investigações linguísticas em somente três oportunidades acadêmicas. Verburg (1980) e Fraga (2008) fizeram análises sociolinguísticas nas antigas colônias holandesas de Castrolanda e Carambeí, respectivamente, ambas no estado do Paraná. Em Holambra, tem-se notícia somente do estudo de Codina Bobia (2017). Desse modo, esta dissertação intenta acrescentar dados e entendimento sobre o comportamento linguístico de imigrantes holandeses no Brasil e despertar futuras investigações na área de prosódia.

O texto inicia-se pela descrição, no Capítulo 2, da comunidade através de sua história desde a chegada em 1948 até os dias atuais, incluindo as mudanças sociais e políticas que influenciaram o desenvolvimento do atual município de Holambra.

A segunda seção do Capítulo 2 descreve de maneira sucinta como e por onde circula o NL na comunidade. Será possível notar a diminuição dessa circulação por vários motivos e situações que incluem a morte dos falantes e o não uso do NL pela terceira geração, netos brasileiros dos imigrantes.

Este estudo buscou analisar a situação de contato linguístico na comunidade, uma vez que os imigrantes falantes do NL convivem com os falantes do PB num mesmo espaço geográfico. Essa situação afeta todo o sistema linguístico dos imigrantes incluindo-se o nível prosódico, seja através da aquisição da língua considerada estrangeira por falantes individuais, seja da aquisição de uma segunda língua por toda uma comunidade (Thomason, 2001). Segundo Thomason (2001), nos casos de influência linguística nas situações de contato, o material estrangeiro pode ser “transferido” de uma língua para a outra nas situações de contato e que possíveis contribuições de padrões internos possam atuar nas mudanças mais relevantes. A autora considera que as causas das mudanças podem ser consequências de fatores

internos ou de uma mistura de fatores de contato. Diferentemente do que pode

supor o senso comum, o contato linguístico não se limita apenas ao empréstimo de palavras. Todos os aspectos da estrutura da língua estão, em princípio, sujeitos a mudanças dadas as circunstâncias sociais e linguísticas levando ao surgimento de novas variedades das línguas (Thomason, 2001).

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De fato, na literatura vários termos foram usados para tratar do mesmo fenômeno. No Capítulo 3, a terminologia é discutida desde sua primeira referência com Weinreich em 1953, que utilizou o termo “interferência” linguística, até as mais recentes, como transferência e influência linguística.

O fenômeno foi identificado inicialmente no processo de aquisição de uma segunda língua (L2) quando elementos da língua materna (L1) substituem elementos correspondentes na estrutura da L2. Mais tarde, Javis e Pavlenko (2008) relataram que o fenômeno da influência linguística não ocorre somente na direção de L1 para L2, que os autores denominaram forward transfer (de L1 para L2), mas também pode haver transferência de material linguístico na direção reversa, de L2 para L1. No caso de falantes de três ou mais línguas, pode ocorrer, além disso, transferência entre L2 e L3, chamada de transferência lateral. Esse fenômeno dinâmico pode ocorrer, então, em três direções.

A direção reversa (de L2 para L1) foi pouco estudada, e a maior parte dos relatos não são de investigações na área prosódica (ver, p.ex., Moattarian, 2013; Souza, 2014). Desse modo, o objetivo principal desta dissertação foi o estudo da influência linguística do PB sobre a prosódia do NL falado pelos imigrantes holandeses.

A palavra prosódia é de origem grega προσωδία em que προσ significa “em

direção a” ou “junto com” e ωδία significa “canto”. Desde que foi usado pela primeira vez por Platão, o termo mantém a ideia de “modo de falar”. Atualmente, o termo tem um significado mais amplo ao agregar conceitos fonéticos e fonológicos. Acento, entoação, ênfase, ritmo, atitudes, emoções, fatores sociais e biológicos encontram-se imbricados dentro do conceito de prosódia (Barbosa, 2019). Os principais correlatos físicos (fonéticos) mensuráveis são a frequência fundamental (f0), intensidade e duração de sons da fala. A f0 corresponde a um ciclo de vibração das pregas vocais medida em Hertz (Hz) e na percepção corresponde ao tom (pitch). A intensidade é medida em decibéis (dB) e corresponde ao “volume” audível, ou seja, quão forte é um som. A duração é o tempo decorrido dentro de uma unidade que contenha informação prosódica e é medida em milissegundos para a menor unidade prosódica, a sílaba.

A entoação da fala pode ser definida pela variação de tons altos (agudos) e baixos (graves) ao longo dos enunciados. A organização desses elementos se dá através de tons de fronteira e o acento de pitch. O estudo da entoação baseia-se essencialmente no exame da curva ou contorno entoacional de f0 ao longo do

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enunciado. A f0 é um parâmetro robusto para avaliar a entoação pois não é modificada pelo sistema articulatório acima das pregas vocais. Corresponde somente ao ar expelido pelos pulmões fazendo vibrar as pregas. O sistema articulatório molda, mas não modifica a frequência fundamental (Barbosa, 2019).

A entoação foi o parâmetro eleito para a investigação prosódica do presente estudo, cuja análise detalhada, nas duas línguas envolvidas, se encontra no Capítulo 4.

Entretanto, a influência do PB sobre a entoação do NL falado pelos

imigrantes holandeses não pode ser avaliada sob um olhar puramente físico, pois o fenômeno envolve também relações sociais. Labov (2016 [1966]) descreve o modo como faixa etária, gênero, etnia e classe social se correlacionam com a variação linguística. O estudo de Hoffman & Walker (2010), realizado na cidade de Toronto no Canadá, na qual 46% da população é composta por imigrantes e seus descendentes, mostrou a relação entre a identidade étnica e a variação linguística em grupos de imigrantes. Desse modo, dentre os vários parâmetros sociais importantes na avaliação do quadro linguístico, a identidade foi investigada no presente estudo através da adaptação de um questionário proposto por esses autores. Era de interesse conhecer o modo como se constrói a identidade dos imigrantes holandeses dentro da comunidade, de acordo com as respostas ao questionário, e se ela poderia influenciar o NL falado por eles.

Considerando-se que línguas em contato podem gerar influência linguística entre elas, foram levantadas duas hipóteses. A primeira hipótese afirma que a entoação do NL falado pelos imigrantes holandeses do município de Holambra sofreu influência do português falado pelos brasileiros e está mais próxima da entoação dos brasileiros do que da entoação dos holandeses nativos que nunca tiveram contato com o PB. A segunda hipótese afirma que os imigrantes que mais sofreram essa influência são aqueles que menos se identificam como holandeses.

O Capítulo 5 descreve a metodologia empregada para testar as hipóteses levantadas. Na seção 1 há o detalhamento do trabalho de campo realizado na comunidade sob estudo; na seção 2, a descrição da coleta de dados para obtenção do corpus junto aos três grupos de falantes: (i) imigrantes residentes em Holambra; (ii) indivíduos holandeses nativos, residentes na Holanda e sem contato com PB; e (iii) brasileiros monolíngues, residentes na região de Holambra e falantes do PB. Os dois

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últimos são grupos controle que permitem avaliar o grau de influência da L2 sobre a L1.

O procedimento de coleta de dados sobre a identidade referida no momento da abordagem, aplicação do questionário de identidade adaptado do modelo de Hoffman & Walker (2010), é descrito na seção 5.3.1. Os procedimentos para realização das análises acústicas e estatísticas encontram-se nas seções 5.3.2 e 5.3.4, respectivamente.

As análises acústicas foram iniciadas com a extração de parâmetros estatísticos de f0 realizada através de um script (BARBOSA, 2017) aplicado a enunciados segmentados da leitura de um texto. Essas análises receberam o tratamento estatístico descrito na seção 5.3.4 e são apresentadas no Capítulo 6.

A seção 6.1, observação da comunidade, destina-se ao relato observacional da investigadora que se tornou relevante para uma melhor compreensão dos diferentes aspectos da vida dos imigrantes dentro do município. As seções 6.2 e 6.3 apresentam os dados pessoais do grupo de imigrantes, com detalhes das suas províncias de origem na Holanda. Em seguida, na seção 6.4, são

apresentados os resultados do questionário de identidade, analisados

qualitativamente, em decorrência do número muito reduzido da amostra (sete participantes do grupo alvo). O perfil dos falantes dos dois grupos controle, brasileiros e holandeses nativos, é descrito na seção 6.5. Essas análises revelaram que o grupo de imigrantes possui história de vida e perfil sociolinguístico muito semelhantes.

Os resultados da extração dos parâmetros de f0 da segmentação por enunciados completos, seção 6.6, mostraram que a taxa de variabilidade de f0 dos imigrantes, tanto para os homens como para as mulheres, se aproxima daquela exibida pelos brasileiros. A segunda etapa de análise dos parâmetros de f0 foi através da extração a partir da segmentação por palavras, por meio de outro script (Barbosa, 2019). O mesmo script forneceu os dados relativos à rotulação manual dos tons feita através da notação entoacional Dynamic Tones of Brazilian Portuguese Intonation (DaTo), elaborado por Lucente (2008).

O presente estudo é o primeiro a utilizar o sistema DaTo para notação entoacional do NL. O sistema standard para notação do NL é o ToDI (Transcription of

Dutch Intonation) desenvolvido por Gussenhoven (2005) e é o sistema utilizado para

a descrição da entoação do NL apresentada no capítulo 4, seção 4.1. O sistema ToDI utiliza uma avaliação métrico-linear e representa as estruturas tonais como eventos

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isolados. DaTo avalia o conjunto de estruturas e eventos de maneira dinâmica, além de considerar o aspecto fisiológico da respiração na produção da fala e a percepção das proeminências.

Os resultados da análise entoacional, descrita na seção 6.6, foram obtidos através da frequência relativa de cada tom encontrado segundo a notação no sistema DaTo. Detalhes dessa notação podem ser obtidos na seção 5.3.2.2. A frequência de cada tom utilizado para a realização de proeminências é o dado relevante para diferenciação da entoação entre as línguas neste estudo. Assim, essas frequências foram comparadas entre os três grupos (imigrantes, holandeses e brasileiros) através de testes de proporções.

A relação entre a identidade e os parâmetros de f0 e a identidade e os tons, feita para testar a segunda hipótese, está detalhada na seção 6.7. O indivíduo “mais holandês” é aquele que apresenta contornos da curva de f0 semelhantes aos holandeses que vivem na Holanda e não tem contato com PB. Na relação entre identidade e tons, é aquele indivíduo que realiza determinado tom em frequência semelhante àquele indivíduo holandês que vive na Holanda.

A hipótese – o PB influenciou a prosódia do NL dos imigrantes – foi

parcialmente confirmada. A segunda hipótese - aquele que mais se identifica com a

Holanda sofreu menor influência – não foi confirmada. O comportamento dos

contornos de f0 e das frequências de tons divergiu de forma significativa entre os sexos. O contorno mais significativo da possível influência do PB no NL foi o >LH entre as mulheres. O índice de identidade não mostrou correlação com os parâmetros de f0 nem com a proporção de tons. Os possíveis fatores envolvidos nesses resultados

estão no Capítulo 7 – Discussão e Conclusão. Esse capítulo apresenta e discute

achados sugestivos de que a comunidade de imigrantes em Holambra esteja falando o NL numa entoação própria. As análises dos parâmetros de f0 ora se aproximam daquela dos brasileiros, ora, dos holandeses. As mulheres parecem se aproximar mais das brasileiras e os homens mais dos holandeses. Existe, ainda, uma situação intermediária em que quatro parâmetros de f0 (dois no grupo de mulheres e dois no grupo de homens) não se aproximaram nem daqueles dos brasileiros e nem dos holandeses.

A presença do contorno dinâmico >LH em frequência alta no grupo de mulheres imigrantes pode estar apontando para a presença da influência do PB no

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NL dessas mulheres, uma vez que esse tom é muito frequente no BP e de frequência muito baixa no NL.

Assim, a partir dos dados de f0 e de tons, foi possível afirmar que a primeira hipótese desse estudo foi parcialmente confirmada – há indícios de influência do PB na entoação do NL dos imigrantes em Holambra.

A segunda hipótese – indivíduos que se identificam como mais holandeses são os que sofreram menor influência na entoação do NL – não pode ser confirmada. No Capítulo 7, são discutidos os possíveis fatores envolvidos nesse resultado e são trazidas as perspectivas de investigações futuras para esclarecimento das questões levantadas nessa discussão

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Capítulo 2

A Comunidade Holandesa em Holambra

2.1 Breve histórico da imigração holandesa em Holambra

O período de maior movimento migratório europeu ao Brasil ocorreu entre os séculos XIX e XX. O principal motivo para o início da imigração holandesa foi a falta de perspectivas dos holandeses em sua terra natal, após a Segunda Guerra. Esse fato estimulou famílias inteiras a se aventurarem numa terra totalmente nova e distante (Tostes, 2004). Quanto à imigração ao Brasil, os grupos de imigrantes foram organizados pela Associação de Lavradores e Horticultores Católicos da Holanda em acordo prévio com o governo brasileiro representado pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra e o governador de São Paulo Dr. Adhemar de Barros. A escolha do Brasil por esses grupos foi a predominância da religião católica no país. Na Holanda, o Brasil era conhecido como a terra de missionários e religiosos católicos (Wijnen, 2015).

Os grupos pioneiros foram encaminhados ao estado do Espírito Santo por volta de 1860. Mais tarde, outras famílias se estabeleceram em várias outras regiões nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Em 1948, cerca de 500 holandeses foram assentados na fazenda Ribeirão, perto da cidade de Campinas, onde fundaram a cooperativa agropecuária de Holambra (junção de Holanda, América e Brasil).

Na colônia da fazenda Ribeirão, no início geograficamente isolados, os imigrantes procuraram manter seus costumes e crenças (Chaves, 2010). Todavia, as famílias eram oriundas de diversas províncias holandesas, falavam dialetos distintos e muito diferentes entre si. Para que pudessem se comunicar, foi necessário que o grupo de imigrantes adultos aprendessem o NL oficial (Souza Jr., 1998). As crianças eram as que melhor se comunicavam no idioma neerlandês aprendido nas escolas holandesas antes da imigração. No entanto, a educação formal escolar dessas crianças fora interrompida com a imigração, e na fazenda Ribeirão havia somente uma escola para crianças brasileiras. Assim, ainda em 1948, a cooperativa fundou a Escola São Paulo somente para crianças holandesas, a despeito da Campanha de

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Nacionalização do Ensino do português nas áreas de colonização estrangeira no Brasil, ocorrida em 1938 e implantada pelo Estado brasileiro (Bolognini, 2005). O corpo docente era formado pelas irmãs holandesas cônegas do Santo Sepulcro, e as aulas eram ministradas em NL. Em 1950, contudo, o estado disponibilizou professoras brasileiras para o ensino do PB e as irmãs holandesas foram proibidas de lecionar, uma vez que elas ministravam aulas em outro idioma que não o PB e não possuíam licença brasileira para lecionar. Desse modo, os imigrantes holandeses passaram a falar NL e iniciaram contato com o PB na escola e pelo convívio com alguns colonos descendentes principalmente de italianos e portugueses. Além da escola para o ensino básico (primeira à quarta série), foi fundada a Escola de Economia Doméstica e uma escola agrícola somente para imigrantes holandeses. Ambas foram criadas pela cooperativa e gerenciadas pela igreja católica responsável pela vinda dos imigrantes para o Brasil. Por vários anos, o contato entre os alunos das escolas holandesas e os alunos da escola brasileira era limitado com o objetivo de manter uma formação holandesa padrão para a juventude de imigrantes (Wijnen, 2015).

Entretanto, o contato entre holandeses e brasileiros tornou-se cada vez maior, pois a cooperativa se desenvolveu enormemente com produtos agropecuários até a floricultura ganhar o mercado exterior na década de 1980. Com essa grande expansão dos negócios não era mais possível que a mão de obra girasse em torno da economia familiar com somente alguns empregados. Houve necessidade de contratação de mão de obra não holandesa em maior número. Esse notório e promissor campo de trabalho atraiu para as propriedades dos holandeses, diversos migrantes brasileiros dos estados do nordeste, Minas Gerais e Paraná.

O aumento do número de não descendentes dos imigrantes na região foi seguido pela formação de dois grupos distintos: os “holandeses” e os “brasileiros”. Os “brasileiros” são indivíduos nascidos no Brasil e não descendentes de holandeses que assim se autodenominam e se referem a si próprios como “nós”. Os “holandeses”, por sua vez, são os indivíduos nascidos na Holanda e seus descendentes nascidos no Brasil a que os “brasileiros” chamam de “eles”. O mesmo ocorre com o grupo de “holandeses” que se autodenominam “nós” e referem-se aos “brasileiros” como “eles”. Esse comportamento foi relatado inicialmente por Verburg em 1980 na colônia de Castrolanda e por Fraga em 2009 na colônia de Carambeí, ambas no estado do Paraná. No município de Holambra, Souza encontrou o mesmo hábito em 1998. Esse último autor ainda relata, em sua dissertação de mestrado, que a bipartição fica

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explícita e é reforçada após o processo de emancipação de Holambra em 1991 e da eleição que adveio, na qual o tema de campanha foi a nacionalidade, o que pode ser mais bem compreendido a seguir.

As terras da fazenda Ribeirão pertenciam a quatro municípios: Arthur Nogueira, Jaguariúna, Cosmópolis e Santo Antonio de Posse. A Figura 1 mostra a localização atual, após emancipação, em que o município de Holambra faz divisa com seis municípios.

Figura 1. Localização da antiga fazenda Ribeirão, hoje município de Holambra.

Fonte: http://www.portaldeholambra.com.br/

Apesar dos altos valores em impostos pagos às quatro prefeituras, os habitantes não recebiam em troca qualquer benefício (Souza Jr., 1998). Não parecia haver, por parte das prefeituras, interesse em garantir infraestrutura mínima na construção de estradas, escolas ou postos de saúde. Essas tarefas haviam sido, até então, assumidas pela Cooperativa Agropecuária de Holambra e pela igreja católica.

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Desse modo, grande campanha pela emancipação da área foi realizada e em 1991 houve a decretação de Holambra como município. Na primeira campanha para prefeito, não houve um candidato “holandês”. Dois candidatos descendentes de italianos surgiram para a disputa. Um representava os interesses da cooperativa e, portanto, os dos “holandeses”. O outro representava os interesses dos “brasileiros”.

O período de campanha foi extremamente agressivo e dividiu ainda mais os grupos (Souza Jr., 1998). Por fim, o candidato dos “holandeses” foi vencido e aquilo que os imigrantes pioneiros já vislumbravam aconteceu: a perda do poder local há anos nas mãos dos holandeses e de seus descendentes via cooperativa. Vários fatores influenciaram as sucessivas derrotas dos “holandeses” nas urnas. Entre eles está a visão desse grupo sobre a política municipal como algo sujo e pejorativo, considerando a política partidária “coisa para brasileiros”, desonesta, impura e depreciativa; argumentam, ainda, que a população vende seus votos por migalhas (Souza Jr., 1998).

Cabe observar que hoje a população de Holambra é em sua maioria uma massa de trabalhadores de baixa renda e escolaridade (Souza Jr., 1998). O texto abaixo, assinado pelo editorial de um jornal local à época das eleições municipais de 1996, dá ideia da visão dos “holandeses” e o possível motivo do seu afastamento dos processos eleitorais:

(...) o voto se tornou um produto comercializável, em contexto em que o eleitor espera a abertura das urnas para garantir algumas migalhas que, na verdade, lhe são de direito, só que em outras situações, como salários dignos, educação, saúde e, sobretudo, moradia. Mas, de quem é a culpa? Com certeza, não apenas do candidato. O discurso de que o eleitor desconhece tais atos não convence. Cada povo tem o governante que merece. (...)

– Jornal da Cidade, 11/10/1996; apud Souza Jr.,1998, p.10.

A migração brasileira expressiva, associada à decretação de Holambra como município em 1991, resultou, portanto, na perda do poder político dos holandeses e de seus descendentes (Souza Jr., 1998). Atualmente, apenas 10% da população holambresa, estimada em 13.046 habitantes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2013, é de imigrantes pioneiros e seus descendentes.

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Embora hoje em franca minoria, os “holandeses” são facilmente reconhecidos tanto pelo fenótipo como pelo comportamento social, status econômico (atual e/ou histórico), cultural, religioso e linguístico. Uma fronteira étnica (Fought, 2006) é perceptível dentro do município. A bipartição em Holambra permanece após 29 anos da sua emancipação.

2.2 Situação do neerlandês na comunidade

A circulação do NL dentro da colônia holandesa em Holambra sofreu muitas mudanças com o passar do tempo. Através da coletânea de dados e depoimentos

obtidos e publicados no livro Holambra – Cidade das Flores, que é comercializado

dentro do Museu Histórico e Cultural de Holambra, é possível obter alguma informação sobre essa evolução.

No período de 1948 a 1998, o NL era falado em eventos sociais como festas, grupos de dança e musicais, missas semanais, no clube da colônia e no grupo

Ons genoegen ‘Nosso prazer’, grupo organizado para atividades sociais com idosos

holandeses com mais de 60 anos.

Ainda nesse período, o NL era usado em jornais e boletins da colônia. No início, eram totalmente escritos em NL, mas na década de 1970 passaram a ser bilíngues (NL e PB) com predominância de textos em NL. Existe uma biblioteca neerlandesa utilizada principalmente pelos imigrantes da primeira geração, uma vez que a segunda e terceira gerações não foram alfabetizadas em NL. A segunda geração é capaz de se comunicar em NL falado, mas na terceira geração essa habilidade foi perdida.

No início da colônia, a fonte mais importante de informações era através da Rádio Difusora Mundial, que transmitia diariamente em NL. A primeira geração de imigrantes não falava ou compreendia PB o suficiente para que pudessem acompanhar os acontecimentos através de jornais e programas brasileiros.

O NL era a língua utilizada durante os dois primeiros anos de atividades da escola privada, a Escola São Paulo, até a intervenção do governo brasileiro em 1950, quando o PB passou a ser ensinado na escola e o curso formal passou a ser ministrado em PB.

No período de 1999 a 2012, é possível notar a clara diminuição da circulação de NL no agora município de Holambra.

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A maioria das atividades sociais passaram a ser realizadas com o uso predominante do PB. São elas: o coral de vozes femininas, o clube, os grupos de dança, as festas e a banda. O coral de vozes masculinas, no qual a língua falada e cantada era o NL, foi desfeito.

Os jornais locais não são mais escritos em NL. Os livros da biblioteca neerlandesa são utilizados somente pelos idosos. As missas faladas em NL passaram a ser uma a cada três meses. Mais recentemente, escolas privadas de idiomas ofereciam o curso de NL. Entretanto, por falta de procura, esse curso foi extinto em 2006.

O acesso à televisão holandesa ocorreu quando se iniciou a recepção do canal Het Best van Vlaanderen en Nederland (BNV), um canal público, gratuito, em NL para o exterior. A maior adesão ocorreu entre os imigrantes mais idosos.

O único grupo que mantém o uso do NL é o Ons Genoegen para idosos que contava, em 2015, com 103 membros, a maioria com idade acima de 75 anos.

Quando assentados na Fazenda Ribeirão, dialetos eram de uso restrito a casais de imigrantes de mesma região de origem na Holanda e seus filhos. Na comunidade, à época do assentamento, a comunicação entre diferentes famílias de imigrantes era feita em NL e assim permaneceu até os dias atuais. Nunca houve circulação de material escrito ou grupos sociais em que fosse possível a comunicação em dialetos. No momento atual, os dialetos dificilmente transitam pela comunidade.

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Capítulo 3

Influência Linguística e Identidade

Considerando-se o cenário histórico, social, econômico e político descrito, é possível que essas mudanças tenham ocorrido e refletido também na língua local. A maioria dos imigrantes pioneiros ainda vivos chegaram ao Brasil durante a primeira infância e falam o dialeto da província de origem, o NL padrão e o PB. Após mais de sete décadas de contato com o PB e apesar de manterem suas identidades “holandesas”, é possível que essa população de imigrantes esteja falando NL com influência do PB em vários aspectos linguísticos.

O termo “influência linguística” é adotado no presente estudo para expressar de maneira ampla os fenômenos envolvidos nas manifestações linguísticas de uma língua sobre outras. Na literatura de investigação desse fenômeno, não existe um consenso sobre a terminologia a ser usada e tampouco sobre os mecanismos envolvidos na sua expressão. “Interferência linguística” foi o primeiro termo utilizado para identificação do fenômeno, empregado por Weinreich em 1953 em seu trabalho intitulado Languages in Contact. Depois disso, outros termos também podem ser encontrados para designar fenômenos linguísticos semelhantes que denotam a ação de uma língua sobre outra num mesmo indivíduo. A cada denominação, os autores salientam uma ou mais manifestações daquilo que possa ser o mesmo fenômeno. São eles: code-copying (Johanson, 2002 apud Zabrodskaja, 2012), Crosslinguistic

Influence (Jarvis, 2002, Odlin, 2012), transferência (Heine, 2005) e convergência

(Auer, 2005).

A maioria dos estudos avaliaram aspectos específicos do fenômeno sobre a aquisição de L2. A possível interligação entre L1 e L2 de bilíngues, no nível lexical, foi muito estudada nas últimas décadas (Kroll, 1994; De Groot, 2002 apud Oliveira, 2015; Jarvis & Pavlenko, 2007 apud Oliveira, 2015). Esses estudos apontaram a influência de L1 sobre a aquisição da segunda língua.

Cabe apontar que os termos L1 e L2 são usados na literatura para referir-se a variedades de línguas extraídas de diversas populações bilíngues, incluindo-referir-se bilíngues iniciais simultâneos ou consecutivos e bilíngues tardios para uma língua estrangeira com vários graus de proficiência na língua alvo.

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Mais recentemente, a influência linguística tem sido considerada um fenômeno bidirecional, ou seja, as influências ocorrem nos dois sentidos, tanto de L1 sobre as demais línguas (L2/L3) como de L2/L3 sobre L1 (Zabrodskaja, 2012). Jarvis e Pavlenko (2008) classificaram o fenômeno em três direções: forward transfer (de L1 para L2), reverse transfer (de L2 para L1), e lateral transfer (de L2 para L3). Para esses pesquisadores, na mente do indivíduo multilíngue, uma língua pode influenciar a outra simultaneamente (Moattarian, 2013). No entanto, poucos avaliaram as vias reversa e lateral, raros a influência de uma L3 sobre L1/L2 e ainda menos autores avaliaram parâmetros prosódicos.

No presente estudo, a influência linguística na entoação dos imigrantes em Holambra foi investigada e relacionada à identidade social. A questão fundamental foi entender como essa diferença social entre os falantes reflete no comportamento entoacional. A existência de uma relação entre o comportamento linguístico e fatores sociais foi apontada pioneiramente por Labov em Martha’s Vineyard (1963) e em Nova Iorque (1966). Categorias sociais como sexo, classe social e etnicidade foram correlacionadas a variáveis linguísticas e o papel da etnicidade, por vezes seria mais importante que o das classes sociais. Baseados naqueles primeiros estudos e categorias sociais, estudos posteriores replicaram os resultados e foi possível estabelecer algumas relações hoje bem conhecidas e consideradas “clássicas”: para variáveis estáveis, as mulheres usam mais frequentemente a forma padrão, mas são mais inovadoras nas mudanças em curso; diferenças entre grupos etários podem refletir mudança em curso; diferenças entre classes sociais refletem formas de prestígio; etnicidade é importante para manter fronteiras linguísticas e nos casos de participação ou não de mudanças em curso (Labov, 2001).

A etnicidade não significa dizer aquilo que alguém é, mais do que isso, é dizer o que alguém faz! Identidade é bastante complexa. A identidade étnica não é construída por influência ou por correlação a fatores que possam ser separados (Fought, 2013). Os falantes, segundo Barrett (1999), frequentemente indexam identidades polifônicas através do uso de linguagem de maneira que os enunciados refletem as nuances da identidade em múltiplas camadas que não podem ser quebradas em componentes menores. As identidades polifônicas são cruciais para entender como a língua reflete e estrutura o mundo social. A habilidade para indexar uma identidade étnica enquanto se fala uma variedade padrão de alguma língua é crucial por causa das ideologias complexas que circundam o conceito de “vender uma

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imagem”. Para alguns grupos, essa imagem pode ser o “passaporte” para integrar-se ao grupo sob pena de tornar-se marginalizado caso não seja aceito (Fought, 2013).

Entretanto, as demais categorias sociais tradicionais também necessitam ser redefinidas. Atualmente, sexo não pode mais ser categorizado levando-se em conta somente o aspecto biológico. É relevante considerar o gênero e a identidade sexual. Idade foi associada a estágios de vida. Classes sociais, uma categoria sociológica de larga escala, foram subdivididas em grupos menores e podem ser redefinidas por teorias sociológicas alternativas. Da mesma forma, a identidade deve ser sempre reavaliada, pois é por si mesma inconstante, mutável e incompleta. É fundamentalmente estabelecida por pressões sociais, resultante da interação entre o indivíduo e o mundo social. A identidade não é fixa e pode, a depender da situação de interlocução, mudar numa espécie de negociação. Portanto, é indiscutível que o processo de mudanças históricas causa mudanças na conjuntura social, cultural e, em consequência, na identidade. Novos papéis e valores sociais são agregados e o indivíduo, para se adequar, assume diferentes comportamentos, inclusive linguísticos (Hall, 2006).

As considerações acima deixam claro que tanto a definição, como a avaliação da identidade de indivíduos é complexa. A definição de Kiesling (2013) propõe que a identidade é um estado ou processo de relacionamento entre o “eu” e o “outro”, a maneira como os indivíduos definem, criam ou pensam a si próprios em termos de suas relações com outros indivíduos e grupos, sejam esses outros reais ou imaginados. A abordagem científica para acessar dados de identidade é, em sua grande maioria, de base antropológica e etnográfica, o que leva a análises qualitativas de pequeno tamanho amostral. Entretanto, alguns estudos, como o de Hoffman & Walker (2010), combinaram a avaliação quantitativa em amostras grandes com a avaliação qualitativa. Os autores utilizaram duas abordagens de modo complementar para avaliação de etnicidade e identidade: de um lado, medidas externas objetivas, e de outro, subjetivas. Consideraram a definição de Isajiw (Isajiw, 1985 apud Hoffman & Walker, 2010) para etnicidade: “um grupo involuntário de pessoas que compartilham a mesma cultura ou descendentes dessas pessoas que se identificam e/ou são identificadas por outros como pertencentes ao mesmo grupo involuntário”. Há dois pontos a serem discutidos a partir dessa definição: (i) a percepção da diferença vista por indivíduos considerados “de dentro” e “de fora” do grupo que levam em consideração nomes, estereótipos e rótulos; e (ii) o compartilhamento de qualidades

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e valores como língua, religião, raça, país de origem, cultura, interesses e objetivos por membros do mesmo grupo. Para aqueles autores, os indivíduos de um mesmo grupo também compartilham atividades que envolvem tais valores como celebrações culturais ou religiosas, reuniões públicas e outros eventos. Acreditam que a etnicidade deva ser considerada em graus que variam de individuo para indivíduo e de situação para situação (Hoffman & Walker, 2010).

Outros aspectos da pesquisa em etnicidade e identidade a serem considerados são a menor homogeneidade linguística de grupos baseados em raça como categorizado por Labov (1972) e as situações de contato entre etnias nas quais grupos raciais podem convergir (Wolfram, 1974) ou podem adotar as características linguísticas do outro grupo (Cutler, 1997 apud Hoffman & Walker, 2010). Em grupos sem uma fronteira linguística ou racial bem definida, a religião frequentemente torna-se um critério a defini-la (Labov, 1966). Nas comunidades em que língua, raça ou religião não podem ser acessadas, os estudos tendem a usar os critérios de linha de descendência ou herança familiar. Então, a etnicidade passa a ser uma característica transmitida pelos pais (Labov, 2001 apud Hoffman & Walker, 2010).

O papel da relação entre prosódia e identidade nas relações entre diferentes grupos sociais é importante porque, além das características físicas, o sotaque é a manifestação mais imediata da identidade dos falantes. O sotaque estrangeiro foi apontado como sendo a característica mais comumente associada à discriminação nos Estados Unidos da América (Lippi-Green, 1997 apud Hoffman & Walker, 2010).

O mesmo fenômeno foi identificado em estatísticas realizadas no Canadá em 2003 e apontado por Hoffman e Walker (2010). Os traços suprassegmentais da prosódia, como entoação, duração e ritmo da fala são usados, metaforicamente, para caracterizar aqueles indivíduos considerados diferentes, p. ex., “aquele da fala cantada” ou “aquele da fala arrastada”.

Considerando-se a situação de contato e a variável identidade comentadas acima, o estudo de Hoffman & Walker (2010) será agora detalhado por fornecer importantes aspectos tanto em relação à identidade como ao contato linguístico. Além disso, trata-se de um estudo feito sobre a população de imigrantes em Toronto que compartilha aspectos sociolinguísticos semelhantes com o presente estudo na população de imigrantes holandeses no Brasil.

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Os autores elegeram para a pesquisa a cidade de Toronto devido a características muito peculiares desse local e que propiciam uma situação de contato linguístico bastante intenso e complexo. O censo de 2006 revelou que 46% da população não são de origem canadense e 56% tem etnia diferente de britânica, irlandesa, francesa ou norte americana. A diversidade linguística local fornece ainda mais dados impressionantes: 42% relataram língua materna diferente de inglês ou francês (os dois idiomas oficiais do Canadá); mais de 70 línguas são representadas por pelo menos 1.000 requerentes de língua materna, com números menores para dezenas de outros idiomas. Essas línguas coexistem em uma área urbana densamente povoada (5.113.149 habitantes em 2006), com o inglês como língua franca. Em Toronto, os padrões de imigração levaram à formação de bairros que compartilham diferentes culturas e grupos linguísticos. Com isso, um indivíduo pode viver, trabalhar e interagir quase exclusivamente com pessoas de mesma língua, cultura e etnia. Essa segregação voluntária tem consequências linguísticas tais como a dificuldade na aquisição do inglês canadense padrão ou mesmo o surgimento de variedades do inglês. Já é possível identificar a formação de dialetos étnicos que os autores chamam de “etnoletos”. Esses novos dialetos, resultado da transferência de substratos linguísticos, podem ser transitórios, uma vez que as gerações subsequentes se tornam falantes nativos, ou podem persistir como uma marca étnica do modo de falar nas gerações futuras.

Assim, o objetivo principal dos autores foi identificar as características linguísticas associadas com o inglês de diferentes grupos étnicos e o modo como essas características são usadas não somente por aqueles não falantes do inglês, mas também por falantes nativos que expressam etnicidade, em parte, pela maneira de falar.

Dentre as várias etnias, escolheram as duas com representação demográfica mais robusta na cidade, chineses e italianos. As duas etnias foram divididas em dois subgrupos: a primeira geração e segunda/terceira geração num total de 60 indivíduos. Os falantes da primeira geração eram bilíngues, tendo o inglês como língua minoritária. Os subgrupos segundas/terceiras gerações tinham o inglês como língua dominante ou mesmo eram monolíngues em inglês. Essa estratificação pelas gerações propiciou a comparação entre os grupos para determinar se havia transferência da língua minoritária para as gerações seguintes.

Referências

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